Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 5
Interesses




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O Museu Imperial de Kyoto era como um grande palácio de época. Localizado no centro da cidade, recebia visitantes do mundo todo. Todos os estudantes das universidades ao seu redor tinham o maior prazer de abrigar em sua cidade o maior museu da época imperial do Japão. Com mais de 8000 peças em exposição, era como adentrar um portal do tempo e cair na era dos xoguns, ninjas e dos imponentes samurais, que tinham suas espadas expostas na parte onde os adolescentes mais gostavam de visitar.

      Ao adentrar o museu o professor Shouji Yagiri se sentia mais que confortável. O senhor de 54 anos de cabelos esbranquiçados pelo tempo, parecia rejuvenescer toda vez que entrava naquele local. Acompanhado pela sua pequena turma de sempre, agora recebia a graça de um dos alunos mais falados no colégio. A presença de Sato Ryozaki ali, mesmo sabendo que aquilo fazia parte de um castigo, não parecia desagradá-lo. Talvez o ar do passado épico de nosso país, mude um pouco esse garoto. Ele prosseguiu com a turma até a ala que estava marcada para hoje. Como todos os adolescentes entediados que entrava no museu, Ryozaki parecia sempre olhar interessado para os contos épicos dos samurais e as grandes batalhas expostas através de espadas, armaduras e brasões. Os adolescentes e a violência gratuita. Um interesse previsível. Mas aonde iam não teriam muito da ação dos governos antigos por meio da guerra, mas sim o conhecimento dos grandes cientistas da antiguidade. Entrando na ala reservada do museu, os alunos se impressionaram. A clarabóia feita em forma de espiral iluminava aquele local magicamente. Ao seu redor a maioria das peças era diferente das que passaram até chegar ali. Em vez de espadas e adagas havia peças de granito, relógios de sol e vários papiros exibidos em cúpulas de vidro. O professor foi até o centro como se tivesse indo ao seu palco.

      - Muito bem, quem sabe qual foi uma das ciências mais famosas praticadas no tempo imperial? – pergunta o professor.

      - A alquimia? – arriscou um dos alunos.

      - Era importante também. Mas não se comparava a que está exposta nesta sala. – disse o professor ajudando o aluno.

      - A astrologia! – disse uma voz feminina atrás da turma.

      - Muito bem. A astrologia no nosso país pode ser considerada uma das pioneiras. Até hoje no mundo os mistérios das estrelas instigam o homem a procurar mais e mais pelo conhecimento para entender o céu. – ele faz uma pausa vai até uma das cúpulas onde estava um pergaminho escrito a pena. – Aqui, por exemplo, temos um texto de Ling Shan Yao. Mesmo naquela época ele escreveu um conceito sobre as fases da lua e a convergência de algumas constelações.

      - Mas esse nome não é chinês? – exclamou um aluno lá atrás. O sorriso do professor se abriu ao ver que era Ryozaki que havia perguntado.

      - Boa percepção. Em tempos como aqueles alguns estrangeiros adentravam nosso país apenas por liberação dos imperadores. A maioria deles eram Astrólogos ou filósofos de outros países. Alguém sabe o porquê disso?

Houve um silêncio no local.      

- Conhecimento, meus caros alunos. Na época os imperadores prezavam pelo conhecimento trazido por essas pessoas. Para eles quanto mais conhecimento eles tivessem, mais poderosos eles seriam. Muito diferente dos dias atuais, onde os artistas e imagens pop parecem ter mais influência sobre a nação do que nossos filósofos.

      Os alunos riram do comentário. O professor havia conseguido a atenção deles. Ele continuou falando da astrologia como uma ciência promissora da antiguidade e como ela sobrevivia até hoje pelos meios de comunicação como em previsões do tempo na televisão e horóscopos na internet. Logo os alunos foram examinando as peças no local. O que parecia um tédio se tornou bem interessante. Aquela sala gerava dúvidas, que geravam perguntas, que gerava interesse. Chegando próxima a hora do almoço, Ryozaki e Hikari pararam em frente a um artefato muito interessante sobre o qual o professor havia mostrado. Uma pedra de granito circular com quase um metro de diâmetro. A borda da pedra estava dividida em 12 partes como um relógio. Gravadas cada uma com os animais do Zodíaco chinês, exibiam o conto do milenar do Zodíaco chinês. Ao centro, estava a imagem de Buda em meditação emanando luz em todas as direções. Estranhamente aquela foi a peça que mais chamou a atenção dos alunos. Ryozaki olhou seu relógio de pulso. Faltavam cinco minutos para meio-dia. Ele se lembrou do Takoyaki que Hikari havia lhe contado.

[...]

      Do alto de um prédio, aquele homem fitava as pessoas andando por uma das ruas mais movimentadas do Japão. Com seu terno preto, impecavelmente arrumado, ele checou seu relógio de bolso. Apenas cinco minutos. Ele ligou o fone Bluetooth em seu ouvido e discou um número em seu Black Berry. O número chamou apenas uma vez e foi atendido rapidamente.

      - Como estão os preparativos? - disse a voz grave do homem de terno.

      - Todos os esquadrões foram posicionados, senhor. – respondeu o outro homem do outro lado da linha. – Estamos aguardando.

      - Perfeito. – disse o homem. – Quando acharem algo me comuniquem imediatamente.

      - Entendido. – o outro homem respondeu prontamente e desligou.

      O homem de terno parecia confiante. Ele andou até o centro na sala enquanto checava seu relógio novamente. Apenas dois minutos. Ele olhou a luz vinda do sol batendo na clarabóia e refletindo os desenhos do vidro ornamentando em cristal refletirem uma imagem no piso da sala. Ele olhou para cima e riu da ironia da imagem. Acima dele estava uma clarabóia redonda com a borda dividida em 12 imagens. Os 12 animais do Zodíaco contornavam uma imagem central de um gato que concentrava toda a luz dos animais ao seu redor.

      - Apenas 60 segundos. – pensou o homem.

Logo começaria.

A décima segunda hora.

Do décimo segundo dia.

Do décimo segundo ciclo de 12 anos.

O ano do dragão.

O ano da libertação.

[...]

      Os relógios do museu baldaram. Era um sinal de que a hora de visitas estava temporariamente sendo substituída pela do almoço. Hikari segurou a mão de Ryozaki e o puxou com pressa de conseguir um lugar no restaurante de Takoyaki, afinal era muito disputado. Porém sua mão foi puxada de volta. Quando se deu conta, estava caindo junto com o corpo de Ryozaki, que com os olhos vazios tinha seu corpo sendo puxado livremente pela gravidade. Os dois foram ao chão e a consciência de Ryozaki havia se perdido. Ela não estava mais ali. Estava em outro lugar.


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