Hontou Seishin escrita por Der Kaiser


Capítulo 14
Rotina


Notas iniciais do capítulo

Inicio do segundo Arco da história.
Promete ser um pouco mais interessante, mas com certeza mais revelador quanto ao enrredo.



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O que é normal para você? Essa era a pergunta que passava pela cabeça dos dois jovens durante as ultimas semanas. Os dias no colégio Hanamori pareciam mais longos para Sato Ryozaki e Mika Hikari. Há duas semanas os dois passaram por conflitos, momentos de tensão extrema, fugas e encontros com pessoas e fatos até hoje desconhecidos para os dois jovens estudantes. Tudo em apenas um único dia. Aquele dia intenso tornou os dias normais mais lentos. A aula do professor Shouji Yagiri seguia. A aula sobre os fatos históricos que sucederam a Restauração Meiji faziam desse professor de mais de meio século de vida agir como uma criança. Ele apresentava seu ponto de vista através do conteúdo fazendo observações e comparações sobre a atualidade com algumas piadas em meio tempo. Isso chamava atenção de seus alunos e ainda os faziam se interessar um pouco mais pela matéria que lecionava com orgulho. Porém Ryozaki e Hikari não foram pegos por esse esquema.

Ryozaki era um aluno problemático desde seus 13 anos quando entrou chegou a cidade e, na época, seu novo colégio. Adquiriu esse fama após alguns incidentes envolvendo brigas, destruição de patrimônio escolar, entre outras coisas. Quando ele era irritado, ele perdia o controle de suas ações. Muitos não o julgavam uma má pessoa, mas tinham receio de conversar com ele. Nunca se sabia quando aquela “bomba humana” iria explodir. Já sua melhor amiga era totalmente o oposto. Hikari foi uma doce menina desde pequena. Era esforçada, amável e estava sempre sorrindo. Mesmo nos piores momentos de sua vida, ela preferia sempre sorrir ao derramar uma lágrima. Nascida e criada na cidade de Kyoto estudou no colégio Hanamori desde o primário. Quando se encontrou com Ryozaki pela primeira vez sentiu algo diferente nele. Após alguns anos ele decidiu se aproximar ele e o conheceu melhor. Logo percebeu que aquele menino que todos preferiam manter certa distância era uma pessoa muito companheira e amigável. Sendo uma leitora compulsiva, principalmente de mangás, ela às vezes o via como um herói incompreendido. E depois daquele dia, ela sabia que estava certa. Ryozaki era diferente sim, mas para uma boa causa. Ryozaki tinha algo especial dentro de si. Após o encontro com um estranho estrangeiro conhecido agora como Tatsuma Kaito, os dois descobriram um novo jeito de ver o mundo. Uma guerra silenciosa acontecia entre as Doze famílias que representavam os doze signos do Zodíaco Chinês e seu eterno rival, o espírito do animal renegado por Buda, o Gato. Ryozaki era uma das peças para essa guerra, já que possuía o espírito desperto do Dragão Chinês. Aqueles que seguiam o rancor do Gato tinham a missão de eliminar as Doze famílias conquistando seus pilares, os guardiões dos Doze espíritos. Ryozaki e Hikari, com a ajuda de Kaito, conseguiram escapar das garras da organização que lutava pelo objetivo do Gato. Pelo menos por um período de tempo. Kaito os alertou que isso era apenas o começo. Eles não descansariam até conseguirem cumprir seus objetivos. Como um guerreiro experiente que treinou sua vida em função da família do Dragão, Tatsuma Kaito prometeu proteger Ryozaki com todos seus esforços. Porém, o próprio Ryozaki teria que aprender a se controlar. Após os acontecimentos daquele dia, Kaito iniciou um treinamento com o garoto mostrando-o a arte milenar do Neikaishi, também conhecido apenas como Nekai. Conhecida como a “arte primordial” o Nekai é um estilo de luta que usava o controle da energia espiritual contida em todos os seres vivos conhecida como Chi. O controle do Chi por meio dessa arte semelhante ao Kung fu e Tai Chi Chuan foi criada há décadas pelos fundadores das Doze Famílias, proporcionava ao usuário autocontrole, força e prosperidade. Essa força pode ser usada através do principio de Ying e Yang, as energias opostas que se equilibram para evitar o Caos. A desordem nessa energia aplicada em um dos dois caminhos gera uma força sobre-humana e habilidades únicas. Sendo para Ying ou para Yang, tudo dependia do caminho escolhido a trilhar e do intento da pessoa. Mas mesmo com todas essas informações na mente ainda limitada dos dois garotos em um curto período de tempo, não era isso que os distraíam hoje.

Há um dia, os dois estavam no intervalo, comendo algo sobre o terraço. Muitos jovens disputavam lugares por ali. A quem chegava ao colégio, nada de mais acharia daquele local. Mas subindo as escadas era como entrar em outro num local totalmente inesperado. Uma idéia do fundador da escola e preservada por sua diretora até hoje, o terraço havia um pequeno jardim. Um trabalho único feito por um arquiteto e paisagista amigo do fundador. Era um local com uma ótima vista e com clima agradável, ainda possuía algumas pequenas mesas para o conforto dos alunos na hora de sua refeição. Mas foi nesse momento agradável que os dois ouviram os boatos.

- Você ficou sabendo sobre o Yagami? – uma das meninas cochichou para outra.

- Sim. Parece que está no hospitalizado. – outra respondeu.

- É! Eu também não acreditei quando ouvi isso. – um menino que ouviu ao lado se exaltou, entrando na conversa.

- Parece que a gangue inteira dele sofreu um ataque e ficou assim.

- O que? A gangue Hanamori inteira?

- Sim, sim. Parece que foi ele novamente. – a menina parecia assustada ao dizer isso.

- Ele? Foi apenas uma pessoa? – o menino pareceu surpreso.

- Pessoa não. Dizem que ele é um demônio... – citou outro menino que se reunia com um olhar sombrio.

- Kyaah! D-Demônio? – gritou algumas meninas.

- Exatamente. Vocês não conhecem a lenda do aluno demônio do colégio Moritaka? – ele parecia conhecer bem do assunto.

- Não. Como é? – Hikari havia se aproximado para ouvir surpreendendo a todos.

- Bem aconteceu há quase cinco anos. Dizem que nesse colégio havia um grande lutador que ganhava todas as competições de luta no colégio. Porém, ele era muito sombrio e arrogante em suas vitórias. Então um dia alguns alunos dos clubes de artes marciais aramaram para ele. Convidaram para uma luta especial na quadra abandonada do colégio. Ao chegar lá ele foi surpreendido por uma armadilha dos alunos que o prenderam na quadra e depois fugiram. O rapaz desesperado para sair tentou arrombar a porta, porém... – o menino fez uma pequena pausa.

- O que aconteceu depois? – todos pareciam assustados.

- Dizem que seus golpes fizeram a estrutura ceder, pois estava bem velha e que parte da parede desabou e matou o rapaz. – ele fez aquele olhar sombrio novamente.

Os outros alunos ficaram apreensivos, pois sabiam o que viria depois.

- Depois de alguns dias do acontecido, ninguém achou os culpados. Porém... Algum tempo depois pessoas dos clubes de luta começaram a desparecer misteriosamente. Posteriormente as pessoas com medo, destituíram esse tipo de clube do colégio. Porém os alunos continuavam desaparecendo, deixando sempre um rastro de sangue. Devido aos incidentes e a morte do diretor aquele colégio foi abandonado depois de um ano. No ano passado, alguns alunos de outro colégio começaram a usar aquilo como um teste de coragem após uma pessoa ter dito que entrou e não encontrou nada mais lá. Mas há quase três meses algumas pessoas entraram e chamaram por ele apenas por diversão. No dia seguinte todos que estavam lá conseguiram sair apavorados e muito machucados. Eles afirmaram que o viram, o legítimo demônio!

Todos pareciam no ápice de sua emoção com a história, até que da outra mesa Ryozaki os interrompeu.

- Vocês realmente acreditam nesse tipo de coisa? – ele disse sem olhar para eles.

Os alunos o fitaram.

- Mas os fatos são verídicos! Yagami foi até lá e depois acabou no hospital! – exclamou o rapaz que contava a história.

- Aposto que aquele idiota apenas se cagou de medo e acabou se machucando sozinho. – ele disse dando uma pequena risada imaginando a cena.

- Se acha tão bom, porque não vai lá desafiá-lo? – disse o rapaz com um sorriso sarcástico no rosto.

Ryozaki se levantou bruscamente e fez aquele olhar. Todos ficaram apreensivos. Ele também parece um demônio. Mas ele apenas recolheu suas coisas e jogou no lixo próximo a mesa. Hikari riu da reação das pessoas. Ela já sabia que ele não iria fazer nada.

- Porque eu realmente não quero perder meu tempo com isso. Se esse demônio quiser uma luta, ele que venha até mim. – Ryozaki saiu andando enquanto se espreguiçava.

Quanto mais ele se afastava, mais as pessoas relaxavam e continuavam a conversa. Depois de um tempo, Hikari foi atrás dele pelo corredor. Ela se aproximou dele. O olhar dele era distraído e pensativo.

- Tem certeza que está tudo bem com essa história? – ela o instigou.

- Do que está falando? Sabe que eu odeio o Yagami. Bem feito por dar uma de superior aos outros. – ele virou o rosto e fez uma pausa. – Porém...

- Porém? – ela abriu um sorriso.

- Fico me perguntando quem conseguiria dar uma surra naquele idiota...

- Eu sabia! Você está preocupado com ele! – ela apontou e começou a cutucar a barriga dele.

- Cale a boca! Eu apenas estava querendo saber quem é para eu poder agradecer a essa pessoa por ter dado uma boa lição naquele idiota.

- Sei... – ele ria enquanto entravam na sala.

Foi quando o sinal tocou naquele instante e os pensamentos de Ryozaki ele voltou de seus pensamentos. Mesmo assim... Quem poderia ter feito aquilo com ele? Ele se levantou, sacudiu a cabeça e tentou se concentrar em outra coisa. Ele tinha combinado com Kaito de encontrá-lo depois da aula, afinal ele tinha algo com que realmente deveria se preocupar.

Quando Ryozaki saiu pelo portão principal Hikari estava a sua espera. Eles andaram em direção a estação enquanto ela estava falando sobre ir amanhã ao Kyoto International Manga Museum e vir uma nova exposição de mangás até que um rapaz os abordou no meio da conversa.

- Ei, Ryozaki-san... – ele se aproximou.

Era um rapaz relativamente pequeno e franzino. Tinha o cabelo esverdeado como alga marinha e olhos pequenos, por trás dos óculos fundo de garrafa. Ao ver sua camisa vermelha escrita “We make it worst!” Ryozaki logo percebeu de quem se tratava. Seu nome era Watanabe Houshi, um aluno da mesma sala dos dois. Ryozaki falava um pouco com ele quando havia entrado no colégio, já que os dois eram os novatos na época. Mas depois de um tempo os dois tomaram rumo diferentes. Ryozaki continuou sendo, bem, ele mesmo. Mas Houshi era inseguro sobre tudo e acabou entrando na gangue de Yagami para tentar ser mais sociável. Ele ficou conhecido como o gênio pro trás da gangue, já que era o mais esperto entre os membros e ajudava aquela turma de vagabundos despreocupados o tempo todo. Desde então, Ryozaki nunca mais falou com ele. Afinal ele odiava Yagami e sua gangue.

- O que você quer? – Ryozaki perguntou friamente.

- Bem, eu... – o rapaz parecia tímido e inseguro para dizer algo concreto. Na verdade era algo mais como medo.

- Se não quer nada, estou indo. – Ryozaki saiu andando, deixando Hikari olhando para ele sem entender.

Hikari se curvou e pediu desculpas pelo amigo e logo o seguiu. Mas antes que os dois se afastassem de mais, ele gritou.

- Por favor, me ajude! – ele exclamou.

Ryozaki parou por um instante e ouviu.

- Eu sei que você não fala mais comigo desde aquele dia, mas... Eu preciso de sua ajuda. Se puder pelo menos me ouvir...

- Por quê? Porque Yagami está no hospital? Agora tem medo de receber punição pelas suas ações sem receber proteção dele?

- Você não entende. É justamente sobre Yagami estar no hospital que eu...

- Você é um covarde. – ele se virou e usou aquele olhar. – Sempre quer se safar sem esforço algum. Não consegue encarar seus problemas sozinhos. Foi isso que eu te disse, lembra. Pensei que tivesse se conformado com isso. Afinal, você disse isso pra mim quando tentei te impedir de entrar para essa gangue idiota.

- Ryo-kun! – Hikari o cutucou com o ombro como um sinal de “já chega”.

- Você tem razão, eu sou um covarde... Você está sempre certo, sempre. Mas eu preciso mesmo da sua ajuda. Eu vim te avisar, antes que seja tarde

- “Traga... Traga o mais forte para mim. Aquele que chamam de demônio... Aquele que possuí o Dragão... Traga Sato Ryozaki.” – ele repetiu as exatas palavras.

Dragão...Quando Ryozaki ouviu aquilo ele gelou. Seja o que for que aquele rapaz viu, sabia da existência dele. E pior, talvez soubesse da outra existência dentro dele.


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Notas finais do capítulo

NOTA:
Para efeito de curiosidade, alguns lugares como o Kyoto International Manga Museum, Museu Imperial e o Konchi-in Zen Garden são reais. Foi por ter essa vasta gama de lugares e cenários interessantes que eu escolhi Kyoto como a cidade principal do enrredo, em vez de simplesmente inventar uma cidade qualquer.



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