Save You escrita por Mrs Neko


Capítulo 5
Capítulo 5 - Save You


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez obrigada! Obrigada aos seguidores misteriosos, não-identificados como OVNIs (Arquivo X feelings), à marianamarycollins pelo comentário, e pelo like. Vocês me fazem muito feliz!


E agora um song-chapter, porque sim!


Só quero fazer um parêntese inútil para dizer que conheci esta banda aos 12 anos - a mesma idade em que li O Arquivo Secreto de Sherlock Holmes e tive o gosto de ser apresentada ao único detetive consultor do mundo.

Save You pertence à banda Simple Plan, à gravadora Warner Music e está disponível para ouvir em https://youtu.be/SywgDfYoROE.



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Mycroft já tinha terminado de limpar do rosto os sinais do pranto recente, muito antes de descer do Jaguar preto. Recebido pela garoa fria da madrugada, ele analisou as proximidades com os sábios olhos aquilinos e viu o detetive-inspetor Lestrade, que lhe dera o funesto aviso, fumando sob o toldo de uma lanchonete fechada, diante do hospital.



O abatimento do policial, na postura rígida, nas lágrimas mal secas sobre as olheiras enormes e profundas, e nos inchados olhos vermelhos que o encaravam com revolta, era mais uma prova da bondade que aquele homem carregava na alma, a bondade que o levou a fazer muito mais que o dever pudesse ordenar que fizesse por Sherlock.



Ele adotou seu irmão caçula, salvou sua brilhante cabeça oca e sua vida diversas vezes, e agora se enfurecia por acreditar que o primogênito dos Holmes era insensível ao fato de seu único irmão estar numa UTI, mais morto do que vivo.



O titereiro do Governo Britânico sentiu seu coração se encolher com ternura e dor por ambos os detetives. Mas aquele não era o momento para admirar-se em como o oficial da New Scotland Yard era lindo, por dentro e por fora, e muito menos para expor qualquer reação emocional. Não importava o quanto sofresse e estivesse apavorado, aquela não era hora para expor fraquezas.



Era hora de vestir a armadura que quase lhe facilitava a vida, e que lhe rendeu o apelido de Homem de Gelo.



Greg viu o irmão do amigo descer de um luxuoso carro preto, ignorar o usual guarda-chuva, e atravessar a rua, em sua direção.



– Boa noite, inspetor. - saudou-o com a voz tranquila, agradável e elegante, a perfeita quintessência de um cavalheiro. - Como está Sherlock?



Nem no dia em que se conheceram Gregory sentiu tanta vontade de socar o aristocrata. Como ele se atrevia a falar daquele jeito, como se quem estivesse entre a vida e a morte fosse um desconhecido?! Estreitou os olhos e respirou fundo, tentando direcionar a força para a voz, ao invés dos pulsos já fechados no ato de se prepararem para o golpe.



– Ele teve uma parada cardiorrespiratória, parece que o quadro dele é bastante grave. Os médicos não quiseram me dizer nada...



Mycroft agradeceu brevemente a atenção do oficial, e entrou no hospital. As enfermeiras e recepcionistas já o conheciam - não era a primeira vez que Barts servia de hospedagem ao mais jovem, após os seus excessos e maluquices. - e se abstiveram de abordá-lo, exigir documentos, assinaturas, questionar horários, ou quaisquer outros procedimentos padrão.



Porque fora bastante fácil enviar,durante o percurso de carro, as mensagens certas para as pessoas certas, a fim de isolar Sherlock, não apenas devido à necessidade de tratamento intensivo, mas também para a confortável privacidade de uma ala particular.



E, mais fácil ainda, enfrentar a fúria de Gregory Lestrade. Por mais que ele o odiasse, era bondoso demais para agredir o irmão da criança que tentava, desesperadamente, salvar da morte.



No entanto, tudo que ele precisava naquele momento era ter forças para abrir a porta que parecia ter todo o peso do Universo, e deparar-se com o caçula inconsciente, preso à vida por um fio frágil, fino e quebradiço.



Take a breath
I pull myself together
Just another step
Until I reach the door


Respiro fundo
E tento juntar minhas forças
Só falta um passo
Para alcançar a porta



Na verdade, eram vários, fios, sondas, máquinas e intravenosas. Sherlock já parecia, infelizmente, acostumado às últimas...



Como era possível que uma criança tão alegre, viva e inteligente, tivesse crescido para se transformar no homem decadente, na sombra pálida e frágil que jazia naquela cama?



A visão do irmãozinho, naquele estado de precária animação suspensa, era infinitamente pior que todas as palavras cruéis que ele lhe dissera sob o efeito dos narcóticos. Afinal, a língua afiada com elegância e sarcasmo era um traço da família.



E aquelas cenas que se repetiam sempre que ele fugia de casa eram gestos da culpa, da carência e do desespero que ele carregava inutilmente, e emergiam à superfície pela influência daqueles venenos.



When I hear your voice
It's drowning into whispers
You're just skin and bones
There's nothing left to take
And no matter what I do
I can't make you feel better
If only I could find the answer
To take it all away...!



Quando ouço sua voz
Ela está afogada em sussurros
Você é apenas pele e ossos
Parece que não resta mais nada
E não importa o que eu faça
Não consigo te fazer se sentir melhor
Se eu pudesse obter a resposta
Que acabasse com tudo isso...!



Um pesadelo, apenas um maldito pesadelo avisou-o do horror que estava próximo, da última tentativa de fuga desesperada daquele menino. E nenhum plano ou dedução, nenhum esforço de seu palácio mental podia restabelecer-lhe o estado de saúde, paz e felicidade que ele tinha antes de fugir de casa.



Tudo que Mycroft podia fazer era seguir o exemplo do mais jovem, e entregar-se, apenas naquele instante, às emoções que lancetavam seu coração pulsante e dolorido. Estava isolado do resto do mundo, sozinho com sua única fraqueza. E era inútil desejar ser, como todos acreditavam que ele era, feito de gelo. Pois mesmo que fosse esculpido no elemento congelado, derreteria, exatamente naquele momento, nas lágrimas salgadas em que sua dor se diluía.



You'll never know the way
It tears me up inside to see you
I wish that I could tell you something
To take it all away



Você nunca saberá
Como me sinto despedaçado, ao te ver assim
Como eu desejo ser capaz de fazer algo
Para acabar com tudo isso!



Já fazia quase um ano que não fumava. Um esforço hercúleo pelo qual seus nervos, depois de terminar o cigarro, o traíram da pior forma possível, desvanecendo a necessidade de desfigurar o maldito lindo rosto aristocrático de Mycroft Holmes, que o cumprimentara com aquela impassibilidade gelada, antes de dispensar o motorista e entrar no hospital.



Greg não se lembrava onde tinha conseguido o cigarro, ainda mais àquela hora da madrugada. Suas últimas ações estavam embebidas numa estranha névoa de semi-inconsciência, causada pelo pânico da situação do amigo.



A momentânea onda de tranquilidade trouxe a lógica e a serenidade de volta à sua mente, com a preocupação pelo estado do teimoso e felino parceiro civil. Depois de perguntar pelo paradeiro do menino, o policial seguiu rumo à única unidade de tratamento intensivo na ala privativa do hospital.



Os passos do moreno de cabelos grisalhos ecoavam com uma força inesperada. A exaustão tornava seu caminhar tão pesado quanto o retorno de um exército derrotado do campo de batalha. O silêncio e a absoluta ausência de funcionários, médicos, enfermeiras, ou guarda-costas, que possivelmente deveriam acompanhar o aristocrata Holmes, devido aos riscos ocupacionais de seu cargo no governo, intrigavam Lestrade.



Um retângulo alongado de luz, no fim do corredor, chamou a atenção do inspetor detetive, que se aproximou com o estranhamento de quem caminha na casa silenciosa de uma família adormecida, no meio da madrugada.



E a cena que ele viu, sob a forte luz artificial do ambiente hospitalar, fez seu coração falhar uma batida, com a sensação de invadir um lar de civis indefesos, as pessoas inocentes que ele prometera servir e proteger quando, em sua distante juventude, adquirira o distintivo.



Uma lágrima solitária deslizava no rosto pálido de Mycroft Holmes, que afagava os desordenados cachos negros do irmão menor, com a ternura dolorosa da última vez que se vê a pessoa amada, e o cuidado de quem toca em vidro frágil e quebradiço. Um momento de intimidade, amargura e luto. Apenas o deslizar suave e silencioso de um fio de pérola numa escultura de alabastro, que fez cair a máscara de insensibilidade do Homem de Gelo.



A consciência de que aquele homem também tentava desesperadamente salvar a vida daquele garoto tocou, intimamente, a alma ferida de Greg.



E ele prometeu a si mesmo que faria qualquer coisa para salvar aqueles irmãos.



Sometimes, I wish I could save you
And there are so many things that
I want you to know
I won't give up 'till it's over
Even it takes 'till forever,
I want you to know...



Às vezes, tudo que eu desejo é ser capaz de te salvar
E há tantas coisas que eu queria que você soubesse!
Não desistirei, irei com você até o fim,
Mesmo que isso dure eternamente
Só quero que você saiba...



E Gregory Lestrade era um cavalheiro à moda antiga, um homem de honra, que nunca quebrava uma promessa.


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Notas finais do capítulo

Peço perdão pela demora, mas acontece que, se eu não estivesse vegetando devido à enxurrada de trabalhos de final de semestre, te abraçaria e choraria no cantinho com você agora mesmo. Peço perdão de novo, porque com essa doideira de faculdade, não sei quando terei tempo para atualizar a fic novamente.

Agora vamos dar uma pausa e fazer três vivas para esse Greg bonitão e heroico! ^^ Ele não é um amorzinho?

E o mesmo de sempre: C-O-M-E-N-T-E!!!!



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