Romione - Quando o Amor Ultrapassa os Tempos escrita por FireboltVioleta


Capítulo 1
Pré-História - A História antes da História


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Espero que gostem da minha mais nova fic Romione!
Infelizmente, a fic ficará em hiatus por algum tempo. Mas, se gostarem do primeiro capítulo, não deixem de favoritar para serem notificados quando a fic continuar!
A história será dividida em eras geológicas (Pré-História, Idade do Bronze, Egito Antigo, etc), e, coisa nova para mim, terá narração em terceira pessoa. Irá perdurar até os dias atuais, então terá um bocado de capítulos.
E sim, mesmo na Antiguidade, as reencarnações deles terão magia no sangue, então, de acordo com cada época, serão considerados de acordo com a mitologia e folclore locais.
Boa leitura, e, se gostarem, até agosto!



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O tempo estava frio e inóspito, como sempre estava durante aquela época.

O jovem hominídeo havia saído para caçar.

Numa das mãos, levava uma pedra, toscamente lascada, que usava como arma. Havia usado tantas vezes a mesma ferramenta que o sangue de suas vítimas anteriores já modificara a cor da pedra, deixando-a com uma cor marrom-avermelhada.

Há tempos não conseguia uma boa caça para a família. O pai, exímio caçador, havia sido vitimado por um tigre-dentes-de-sabre á poucos meses, fazendo com que a responsabilidade de alimentar os demais recaísse sobre o primogênito do clã.

A progenitora havia feito questão de rogar aos espíritos da floresta que vigiassem pelo jovem caçador, antes que ele saísse á procura de comida, desenhando na parede das cavernas a pequena família composta de mãe, filho e duas crianças, rodeadas pela proteção do Espírito Touro.

A roupa, feita de pele de urso, não era o suficiente para evitar que o frio castigasse os braços do caçador. Ele estremecia, com os olhos apertados, tentando enxergar em meio ao vento cortante. Contanto que conseguisse um coelho ou um esquilo, poderia adiar em mais alguns dias a fome de sua família.

Tinha esperanças de achar algo maior... talvez um pequeno mamute, ou, quem sabe, um filhote de megatério. Aquilo era uma esperança boba, mas podia ser viável, contanto que ele se aproximasse dos rebanhos que se afastavam cada vez mais do vale.

Enquanto vigiava por entre as folhagens de araucárias, visualizou algo que o surpreendeu.

Havia uma pequena aldeia em meio ás árvores, composta por duas pequenas cabanas feitas de couro, com presas de mamute fincadas nas entradas.

Ele já vira o falecido pai lhes desenhar sobre estas aldeias. Eram de hominídeos muito diferentes deles. Mais adaptados á vida em meio aos perigos do vale. Porém, nem um pouco amistosos aos que viviam em cavernas.

O rapaz parou, tentando tomar numa decisão. Podia saquear a aldeia, levando a comida que encontrasse – e talvez alguns dos moradores sobreviventes – para casa. Poderia alimentar sua família sem esforço e, de quebra, levar alguns daqueles hominídeos estranhos para servi-los.

Antes que finalmente se decidisse, porém, viu uma movimentação atrás dele.

Ele se virou, erguendo a pedra em posição de ataque, praguejando.

Mas o braço caiu ao lado do corpo assim que ele descobriu o que estava ali.

A primeira impressão dele foi deduzir que nunca havia visto nada como a jovem que o encarava.

A garota não lembrava em nada a sua espécie. Em seu clã, todas as mulheres eram troncudas e rústicas, preparadas para a vida nas cavernas e para a procriação.

Mas a jovem fêmea que ele encontrara tinha um corpo muito mais franzido, com várias curvas que, para um rapaz acostumado á fêmeas atarracadas, estranhavam á primeira vista.

Ela usava roupas muito mais leves e abertas do que as do seu clã, e tinha uma tez mais escura comparada á dele. Pernas torneadas, mas nem um pouco resistentes, e olhos escuros, da cor da madeira, saltados de medo, fitavam os seus.

Para a jovem, também era um choque conhecer um dos hominídeos que sua família representava de modo tão ameaçador, como se fossem mamutes furiosos.

Ela estranhou a fisionomia do jovem macho, que era quase pálido em comparação com a cor de sua pele. Tinha pelos incomuns, da cor das labaredas de uma fogueira, que caíam ao redor de sua cabeça, completamente diferentes dos pelos escuros de seu clã. Os olhos eram bizarramente claros, tão claros quanto a água das nascentes do vale.

Ela ergueu o olhar para a pedra na mão do caçador.

Abaixou o corpo, parecendo perceber a intenção do garoto, fitando-o de modo súplice. Não podia deixar que ele voltasse a atenção para sua casa. Tinha que impedi-lo de matar seu clã.

O rapaz franziu o cenho, parecendo confuso. Não esperava a reação da garota.

Quando os clãs estavam em guerra ou em invasões, mesmo as mulheres tomavam posições ofensivas para defender seus grupos. E ali, na frente dele, a jovem fêmea estava de bruços, pedindo clemência, arfando angustiada.

Algum instinto incomum o levou a guardar a pedra na roupa e se aproximar da espantosa exemplar que se debruçara no chão.

Os dedos rústicos passaram pelo rosto inusitadamente suave da jovem, que estremeceu com o contato inusitado do macho adversário. Ela ergueu o olhar, parecendo espantada pelo caçador ainda não tê-la degolado.

Num gesto submisso e aparentemente amistoso, ela segurou os dedos do rapaz, parecendo curiosa ao analisar a pele ligeiramente áspera do jovem caçador.

O garoto finalmente pareceu se decidir.

Ergueu-se, puxando a fêmea debruçada para cima pelo pulso. Ela se ergueu, insegura, encarando-o amedrontada.

O garoto inclinou o rosto para a aldeia e virou o queixo para ela, comunicando, por estes gestos, que pouparia a aldeia se ela fosse embora com ele.

A jovem arfou, e seus olhos brilharam, querendo verter algum tipo de líquido. Ele nunca vira aquela reação em nenhum hominídeo em seu clã, então simplesmente ignorou quando o mesmo líquido escorreu pela face da jovem que ele começara a arrastar para longe das cabanas.

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O caçador havia decidido. Usaria a sua prisioneira para arranjar comida em outras prováveis aldeias, ou até mesmo como distração para caçar.

Em meio ao caminho de volta á caverna, encontrou dois pequenos roedores, que matou com alguns golpes de sua pedra, e recolheu em seguida.

Imaginando que a jovem fêmea deveria já estar com fome, arrancou a cabeça do esquilo e a estendeu para a garota.

Ela franziu o nariz, parecendo indignada. Como comeria aquilo sem ao menos deixar no fogo? Os da espécie dele comiam carne crua?

Mas, quando ela recebeu o olhar sério e ameaçador do caçador, resolveu não discutir. Apanhou o pedaço do esquilo e começou a arrancar a carne com os dentes, desanimada, temendo caretear de nojo e despertar ainda mais a fúria do rapaz.

Em seu íntimo, enquanto o acompanhava para onde, provavelmente, seria sua nova casa, a jovem hominídea tentava amaldiçoá-lo de todas as formas, pensando em algum espírito da floresta que pudesse, por sua bondade, protegê-la do que quer que fosse enfrentar pela frente.

Porém, não podia deixar de pensar... será que os homens das cavernas realmente faziam o que faziam por maldade, como seu clã sempre enfatizava? Ou será que aquele macho estranho tinha família, como ela, e só estava fazendo aquilo para salvar o próprio clã?

Era provável... ela sabia que aquele clima, que se estendia por tantas terras, estava tornando a caça escassa. Talvez isso também estivesse atingindo os hominídeos das cavernas também.

Talvez o caçador não fosse tão cruel assim. Devia ter seus motivos, por pior que a jovem se sentisse com a perspectiva de ser raptada.

Ainda assim, a garota se sentia triste por talvez nunca mais ver a família de novo.

Porém, já sabia que a chance de conseguir voltar um dia era mínima. Então, resignada, a jovem fêmea decidiu aceitar seu futuro destino e tentar se adaptar á nova vida.

Pensou no gesto dele lhe oferecer a carne há alguns minutos atrás, e pareceu concluir que ele a achava tão estranha quanto ela se sentia ao analisá-lo. Ele podia facilmente ter ignorado sua fome, e, em vez disso, ofereceu-lhe comida – mesmo que fosse comida crua.

E – ela não podia deixar de reparar agora – ao seu modo, o macho hominídeo que a levava era curiosamente atrativo. Aparentava o vigor e a destreza que um futuro e ideal pai de família deveria ter.

O caçador ainda andava por entre as araucárias cobertas de neve, numa marcha que a jovem quase não conseguia acompanhar.

Num tropeção inesperado, no entanto, ele se desequilibrou e caiu, mergulhando o rosto na branquidão do chão.

A garota não se segurou. Um som alto, trêmulo e indiscutivelmente alegre cortou sua garganta e ressoou ao redor.

A reação da fêmea o fez levantar-se de imediato, surpreso.

Ele a olhou, sentindo algo estranho dentro do peito, como quando comia carne de iaque rápido demais. Parecia um soluço.

Mas um soluço satisfeito.

Ele balançou a cabeça. Aquilo era loucura.

Acabara de conhecer aquela hominídea incomum. Talvez ela não fosse nada do que ele podia esperar.

Por mais que fosse, talvez justamente por suas diferenças, ser uma fêmea muito atraente, com um provável potencial de ser uma ótima procriadora, o jovem caçador não queria pensar em algo assim agora.

Ainda imaginava a reação da mãe quando visse aquela nova e inusitada mulher dividindo o espaço deles na caverna. Mal conseguiam alimentar as quatro bocas do clã... como manteriam mais uma pessoa ali?

De repente, a idéia de trazê-la de volta não fora uma das melhores. Talvez ele devesse matá-la ali mesmo e fingir que nada daquilo tinha acontecido.

Mas então, por que a perspectiva de cravar a pedra na jovem ao seu lado parecia deixá-lo angustiado?

Não... ele não conseguiria fazer isso. Ainda mais como estava, completamente fascinado pela peça rara que a jovem representava.

Um som estranho veio de uma moita próxima, assustando ambos.

O caçador apanhou a pedra, os olhos arregalados de tensão.

Por puro instinto, a jovem garota se encolheu atrás dele.

Nada conseguiu avisá-los do enorme cão-urso que surgiu de dentro das folhagens, rugindo ameaçadoramente para os dois.

Num movimento rápido e completamente impensado, a jovem se postou entre o rapaz e a fera, segurando os pulsos do caçador.

Ele a encarou, atônito. O que ela pensava que estava fazendo? Não ia conseguir protegê-lo...

Uma consciência, maior do que a consciência de que não sairiam vivos dali, ameaçou engolfar o peito do jovem rapaz.

Ela o estava protegendo...

Por quê?

O impacto do animal contra eles foi tão violento que ele perdeu os sentidos antes mesmo de sequer conseguir erguer a pedra.

A garota recuou, atordoada, gritando de espanto, alheia ao cão-urso que se preparava para atacar outra vez. Correu até o caçador caído, pensando apenas encontrá-lo desmaiado.

Foi quando viu o sangue espalhado na neve.

Horrorizada, a jovem não conseguia tirar os olhos do rombo que a mordida do animal fizera no pescoço do rapaz.

Ele não podia ter morrido. Não podia...

Para sua aflição, um desespero enorme tomou conta de seu peito.

Mas não era desespero por ver a morte se aproximar.

Percebendo o avanço do cão-urso para terminar de atacá-la, ela se ajoelhou, completamente perdida, as mãos postas no corpo já sem vida de seu único protetor.

Momentos antes que a jovem sentisse as garras e os dentes da fera estraçalhando seu corpo, ela fez uma pequena prece íntima, aos soluços, pedindo á todos os espíritos que arranjassem uma forma de que aquele não fosse o fim absoluto, e que o jovem caçador pudesse sobreviver de algum modo. Não suportaria se aquilo fosse mesmo o final do que poderia ter sido uma vida completamente longa e inusitada.

Antes de tudo escurecer, antes que a dor finalmente pudesse deixá-la, ela sentiu a paz e a tranqüilidade finalmente acalmarem seu coração.

O seu desejo iria ser atendido.


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Notas finais do capítulo

APÊNDICE

Cão-urso: https://www.pinterest.com/pin/37647346858492206/
Megatério: http://pt.wikipedia.org/wiki/Megat%C3%A9rio#/media/File:Megatherum_DB.jpg

Comentários? Não deixem de colocar suas impressões e o que esperam para agosto... deem sugestões!
Kissus e - se Deus quiser - até o próximo semestre! :)



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