A morte e o que traz consigo escrita por Gaia


Capítulo 2
A ironia da palavra romã




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III

– Meu senhor, a srta. Sakura se recusa comer. Ela se tranca em seu quarto e não faz mais nada além de chorar e gritar por ajuda. Creio que não está feliz, senhor. – um servo aproximou-se com cautela do trono. – Acredito que o método que seu irmão aconselhou não foi dos melhores. Além de deixa-la infeliz, o senhor enfureceu Tsunade, a deusa que é mãe da moça.

Mas isso tudo não era novidade para Sasuke. Já havia semanas que ouvia os murmúrios e choramingos de sua amada, enquanto recebia muitos humanos que morriam cada vez mais de fome. Tsunade, que controlava colheitas e agricultura, havia tornado a terra infértil até que encontrassem sua filha perdida que amava tanto.

– Não me importo com os modos dela, trate de fazer de sua vida o mais confortável possível. – ele respondeu ao servo, que acenou e se foi imediatamente, acuado com a posição eminente de seu senhor.

Entristecido como nunca antes, percebeu que teria que deixa-la livre. Não suportava vê-la daquela forma, sem vida e sem amor, sem sua liberdade que aproveitava tanto e com tanta facilidade. Ele a queria para si como nunca quisera nada em sua vida e daria tudo para tê-la, mas era impossível para ele, que a observou em tamanha euforia, vê-la com tamanha angústia.

Logo, seu irmão mandaria um mensageiro para que libertasse a moça e ele teria que acatar com suas ordens de uma forma ou de outra. Resolveu, então, livrar-se daquilo o quanto antes, para não prolongar seu tormento. O que seria dele sem Sakura mais uma vez? Contentando-se em observá-la ser?

Achava injusto que ele, que sempre fora privado do carinho, alegria e de um lugar no Monte Olimpo com seus irmãos, era o capaz de amar mais. Como podia alguém com tantas cicatrizes e residente de um lugar tão sombrio amar com tanta ternura e profundidade?

Talvez o amor e a solidão caminhassem juntos afinal. Talvez seu destino fosse desejar e nunca ter, fosse encarar a morte para sempre e ver o fim da vida de todos os humanos, sem nunca ter uma para si.

Já fora de seu palácio, enxergou o grande jardim que tinha mandado ser feito para ela e pela primeira vez em sua vida imortal, sentiu-se impotente.

IV

Criada com bons modos, Sakura sabia melhor do que aceitar comida de um anfitrião. Entendia que se aceitasse, significaria que aceitava-se como convidada e que via-se bem-vinda ali, quando na verdade era tudo o que não sentia. Sentia-se abandonada, triste e sem vida.

Sonhava com colinas e flores, com as flores rosadas de cerejeira que combinavam com seus cabelos. Quase podia sentir o calor dos raios do sol em sua pele e a textura pinicante da grama em seus pés descalços. Mas sabia que seus sonhos nada mais eram que uma ilusão criativa de sua mente que fazia questão de manter. Nada se igualava ao refrescar real da água ou o sabor suculento de uma fruta de verdade.

Nunca esteve com tanta fome na vida e a imortalidade, que sempre agradou-lhe, agora parecia-lhe uma maldição, zombando de seu destino. Cansada de seus cômodos e práticas sufocadoras, põe-se a vagar pelo palácio, esperando encontrar alguma coisa que a divertisse. Todo ambiente que entrava, parecia-lhe ainda mais monumental que o anterior e toda a arquitetura e arte eram, de fato, deslumbrantes.

Encontrou-se, então, fora das paredes de mármore. Para a sua surpresa, o lado de fora era ainda mais sufocante que o de dentro e o ar comprimido não encontrava lugar em seus pulmões, enquanto a escuridão do céu inexistente marcava o tom mórbido do lugar. Não entendia como era possível viver daquela forma, sem aproveitar o que o mundo tinha de melhor e esbanjava sem pudor.

De tanto andar, encontrou, por fim, um jardim. Surpreendeu-se ao ver as suas plantas e flores favoritas, ao redor de árvores com frutas de todos os sabores e cores. Quando menos percebeu, um sorriso havia brotado em seu rosto e estava em casa. Sentiu vontade de cantar e dançar e abraçar a cerejeira que encontrou em sua frente. Estaria sonhando?

Não, em sonhos não havia cheiros e sensações. Seu olfato não mentia, de fato sentia o perfume terno das flores e o odor suculento das frutas. Sua barriga, clamando por comida, a levou diretamente para uma romãzeira, que zombava de sua fome e mostrava seus radiantes romãs com vaidade.

Pensou, finalmente, que talvez ficar por ali não fosse tão penoso e que podia passar a suportar a ausência do sol por alguém que não fora nada além de nobre com ela. Sakura sabia dos feitos de Sasuke e imaginou que o jardim fosse um deles. Apesar de sua inocência, conhecia bem os homens pelas histórias que sua mãe contava-lhe de violência, humilhação e estupro. Ao seu ver, o rei do Mundo Inferior não tinha violentado seu espaço ou a tratado com desrespeito e a única falha em suas atitudes foi proveniente de uma ideia de seu irmão, a quem tinha que obedecer.

– Só uma mordida não faz mal. – sussurrou, ao pegar uma das frutas com almejo. – Ninguém vai me ver.

A mordida foi vasta e proveitosa, sendo a pequena ventura depois de muito tempo naquele lugar. Se apressou em descartar a fruta pela metade e sorriu alegremente, satisfeita com sua sorte.


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Notas finais do capítulo

Oiee, "cap" novo. Espero que tenham gostado (:
Reviews? S2

:*



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