A morte e o que traz consigo escrita por Gaia


Capítulo 1
A invisibilidade e seus benefícios




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I

Seu palácio continha riquezas desconhecidas por mundanos, incontáveis cômodos, servos e confortos dignos de sua posição. Seu porte era de superioridade, enquanto exercia a posição que foi-lhe designada com maestria e até com certo contentamento.

Ao enxergar seus irmãos brigando por cada centímetro de terra e ver os humanos se matando por pedras brilhantes, ele se confortava em sua cadeira e sabia que estava em seu lugar. Parecia-lhe, logicamente, uma vida perfeita.

Mas se tudo era sublime, por que seus olhos não podiam enxergar propriamente a beleza de sua amada sem covardia? Por que suas mãos pálidas não podiam tocar a sua pele delicada e seus cabelos quase imaginários de tão deslumbrantes?

Por que tinha que se contentar em observá-la ser? Aquele ser magnífico que era, bela, irreverente, pura... Inalcançável.

Parecia-lhe patético ter que se esconder por trás de seu elmo mágico para poder subir a terra e contemplá-la, enquanto ela, tão inocente, nem sabia da existência de sua obsessão.

– Sakura, querida. – ele dizia para si mesmo. – Algum dia eis de ser minha esposa.

Como se tivesse ouvido, a moça virou-se com curiosidade, para depois sorrir novamente, colhendo flores como tanto fazia. Cercada de ninfas, estava sempre contente e possuía uma energia ilimitável que o deixava absurdamente encantado. Como podia alguém tão frágil ser tão imortal?

– Como posso ao menos pensar em te levar a um mundo tão claustrofóbico como o meu, enquanto és tão feliz aqui? – se perguntava frequentemente.

Mas sua obsessão não o deixou em paz, ele começou a negligenciar suas obrigações no Mundo Inferior por causa de suas fugas e estava a beira da loucura, seu tormento tomara conta de todo o seu ser. Seu trabalho era de suma importância, não era de bom grado parar de fazê-lo por causa de uma paixão sem limites.

Finalmente, deixou seus desejos egoístas dominá-lo e tomou a decisão de enfrentar os obstáculos necessários para conseguir o que queria. Ele falaria com o rei dos deuses e enfrentaria a mãe protetora de seu amor se precisasse, mas não descansaria enquanto tivesse Sakura consigo, reinando ao seu lado.

II

A vida de quem sempre tivera tudo não era vazia e incompleta, era soberba e meticulosa. Era fácil e simples. Para quem não precisava pensar em problemas, estes não existiam e o dia-a-dia consistia-se em fazer o que lhe fazia feliz, contentando-se com a simplicidade do que a felicidade era.

As flores nunca foram tão belas quanto eram todos os dias e o sol parecia brilhar mais a cada hora que passava. As ninfas eram belas e amigas, muitas vezes brincalhonas e divertidas, o toque certo de rebeldia para alguém tão mimada. Sendo bela e livre, Sakura não hesitava em ser simplesmente o que era.

O mundo parecia-lhe muitas vezes muito cruel para que pudesse se importar ou entender e os humanos não provocavam-lhe nenhum efeito. Mas por que provocariam? Ela tinha a natureza, tinha as cores vivas das flores e o cheiro ameno das árvores, tinha o refresco das águas e a ternura dos animais.

Até o dia em que não teve mais.

O dia em que foi violentada em sua terra, em que foi retirada a força de seus domínios, do único lugar em que se sentia ela mesma, em que sentia alguma coisa que sequer. Foi levada, sequestrada, abandonada pela sua tão cômoda vida.

O horror, sentimento novo para ela, foi tanto que sua consciência foi-se antes, acompanhada pela sua visão, que escureceu-se e voltou muito tempo depois.

– Minha querida, não queria assustar-te. – foi a primeira coisa que ouviu quando se compôs.

Era uma voz fria, de um sujeito pálido e taciturno. Como se a voz a penetrasse, seus pelos arrepiaram-se e o calor que antes sentia como se fosse parte dela se foi. O frio era-lhe desconhecido e a escuridão ainda mais. O que a contornava era o oposto de tudo o que conhecia e isso a apavorava de tamanha forma, que não tinha palavras para descrever.

Em uma cama enorme, dentro de um quarto ainda maior, Sakura se encontrou perdida de si mesma e de sua essência, procurando urgentemente por uma fresta de sol se quer, uma brisa qualquer, algum sinal de vida que não fosse a própria, que pouco a pouco ia se esvaindo.

– Onde estou? – perguntou, desnorteada. – Que lugar é esse que não se banha com a luz do sol? Onde não há vida e nem vento? Onde as ninfas não brincam e os pássaros não cantam?

– No Mundo Inferior, minha amada. Terra dos mortos e o meu reino. Temo que não verá tais coisas por aqui.

O olhar de Sakura pareceu desolado de tamanha forma, que Sasuke quase reconsiderou sua decisão tomada a partir do conselho de seu irmão. Mas o que tinha feito era irreparável, não podia deixa-la ir. Não quando finalmente a tinha ao seu alcance.


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Notas finais do capítulo

Sim, a intenção é ser curtinho mesmo. São mais passagens do que capítulos, por isso pretendo postar um por dia, com duas passagens cada, sendo 6 passagens no total e 3 capítulos (:

Cada uma passa depois de uma passagem de tempo e a ordem não é contínua. É bem diferente de tudo que eu já escrevi, mas fiquei feliz com o resultado.

Eu amo demais esse mito e espero fazer jus. (:

Enfim, gostaram? :*



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