Tobias

Passei os dois meses seguintes esperando a oportunidade de encontrar a mulher que se parece tanto com a Tris. Trabalhei dia após dia ansioso pelo dia do coquetel, olhando aquelas fotos a todo momento, tentando ter alguma esperança de que fosse mesmo ela.

Zeke acha que eu estou ficando maluco, ele concorda que existe sim uma semelhança, mas insiste que essa mulher parece mais velha e não a menina que a minha Tris era. Eu estou com a cabeça a mil, sem saber o que pensar.

Meu pai esta cada dia mais satisfeito com a minha presença na empresa, ele não sabe que meu interesse é encontrar a tal modelo em uma das reuniões, ele pensa que meu interesse é conhecer e participar mais da empresa apenas.

Hoje é o dia do coquetel e eu nem vejo a hora de chegar lá e desfazer essa dúvida que me corrói. Chamei Zeke e Shauna para irem comigo, quero que eles vejam o mesmo que eu vi.

Deixei a Sophia com o Caleb e a Susan, eles sempre pedem para ficar com ela e como essa noite eu não sei que horas vou voltar, não tenho a mínima ideia de que horas acaba esse evento, achei que seria um bom momento de deixar ela com o tio.

Chegamos no evento e andamos pelo salão, procurei o rosto dela em todos os cantos, mas não a vi.

–Cara, segura essa ansiedade – Disse Zeke.

–Não dá, só quando eu a ver e tirar essa dúvida.

–Tobias não se preocupe, se for a Tris nós vamos saber – Disse Shauna – Apesar que pra mim não faz sentido nenhum isso, a Tris jamais deixaria a filha dela. Nunca! Conheço bem minha amiga.

–Também não entendo Shauna, mas algo me diz que tem algo errado nisso tudo. Vou procurar meu pai.

–Ok, vai lá, nós vamos dar uma volta – Disse Zeke.

Andei pelo salão e logo avistei meu pai, conversando com o dono da agência de publicidade que contratamos para o lançamento, um tal de Edward.

–Tobias! Que bom que chegou, logo vamos fazer a apresentação.

–Boa noite – Disse Edward.

–Boa noite – Respondi.

–Eu estava dizendo ao Edward que estou pensando em aumentar o tempo da propaganda na televisão, ou aumentar o números de veículos de divulgação.

–É, parece um boa ideia – Respondi, sem prestar muita atenção.

Comecei a olhar em volta, procurando a mulher misteriosa, tão parecida com ela. Foi aí que eu encontrei, um pouco a minha frente, um par de olhos azuis, os mesmos olhos que eu me encantaram quando os vi pela primeira vez naquele ônibus. Ela esta diferente, o cabelo curto, a cor diferente, até mais magra, mas eu a reconheceria mesmo a quilômetros de distância. Era ela, com certeza era ela.

Fiquei olhando cada detalhe na sua nova aparência, mas Edward se aproximou dela e ela saiu andando para longe. Mas por que? Por que ela me abandonou? Por que deixou que eu pensasse que ela tinha morrido?

Fui atrás dela, mas vi não a encontrei, fiquei andando pelo salão em volta de onde eu a tinha visto, mas nem sinal dela, até que no desespero eu esbarrei em alguém e por reflexo eu a segurei, era ela! Seu corpo pequeno e delicado, sua respiração alterada, naquele momento se eu tinha alguma dúvida, ela deixou de existir, eu conhecia cada parte do seu corpo, cada expressão.

Ela se desculpou e quando ouvi sua voz fiquei paralisado, não sabia se estava tremendamente feliz por tê-la de volta, ali na minha frente, ou se ficava furioso por ela ter abandonado a mim e a Sophia.

Ela tentou sair de perto de mim, mas eu a segurei pelo braço, queria gritar com ela, pedir explicações, mas ela me olhava de um jeito estranho, com confusão no olhar, parecia não entender nada.

–Como você se chama? – Perguntei. Foi tudo o que eu consegui dizer.

–Samantha! – Ela respondeu depois de alguns segundos.

“Por que ela esta agindo assim? Mentindo? Será que ela acha mesmo que mudando o cabelo e o nome eu não a reconheceria?”

Senti meu sangue ferver, meu corpo inteiro se enrijeceu e eu não sabia como agir naquele momento, então saí de perto dela, a deixei para trás, para evitar explodir naquele momento.

Quando cheguei na mesa que estava reservada para nós e encontrei Zeke e Shauna, eles me olharam assustados, minha cara não devia ser das melhores naquele momento.

–Tobias aconteceu alguma coisa? – Perguntou Shauna.

–É ela Shauna, acabei de dar de cara com ela.

–Tem certeza? – Perguntou Zeke.

–Claro que eu tenho Zeke! Por mais parecida que fosse com ela, não poderia as duas terem até os mesmo gestos, a não ser que a Tris tivesse uma irmã gêmea e que eu saiba ela não tem.

–Vai saber – Disse Zeke. Eu ignorei, estava muito irritado e não queria discutir com ele. Naquele momento eu só queria entender tudo aquilo, o por que ela estava agindo daquele jeito.

Logo ouvi Edward fazer o lançamento do perfume e a chamou para subir ao palco com o perfume nas mãos, apresentando-a como modelo da campanha. Ele a olhava com muito mais do que admiração, sei diferenciar, não gostei disso e quando meu pai me chamou para subir ao palco eu fui, parei ao lado dela e mesmo sabendo que não devia fazer aquilo, meu corpo implorava para tocá-la de novo. Eu passei minhas mãos por trás de suas costas, pousando em sua cintura, senti na mesma hora ela se retrair, por dentro eu gritava, tinha vontade de tirá-la dali na mesma hora.

Depois das fotos intermináveis nos afastamos e vi quando Edward a pegou pela mão, meu sangue fervia de novo. Ela se sentou ao lado dele e do meu pai, de frente para mim, Zeke me cutucou quando a viu de perto, deve ter se convencido que era ela.

Meu pai estava todo sorridente, parecia encantado com ela também, além do tal Edward que agora estava me irritando com sua mão o tempo todo segurando a mão dela ou passando o braço atrás da cadeira dela.

–Samantha esse é meu filho Tobias – Disse Marcus– E esses são Ezekiel e Shauna, amigos da família – Eu nem esbocei reação, continuei encarando ela.

–Muito prazer Samantha! – Disse Shauna.

–O prazer é meu – Ela respondeu. Percebi a surpresa da Shauna e do Zeke ao ouvir a voz dela.

Depois de um tempo bebendo e conversando, meu pai chamou a mim e ao tal Edward para cumprimentar algumas pessoas, eu não estava afim de socializar, mas tinha que fazer o bom filho, interessado nos negócios da família. Nos afastamos um pouco, mas eu continuei observando ela.

Quando eu a vi se levantar e sair sozinha pela multidão que dançava eu senti que era a hora de tirar tudo a limpo, eu estava engasgado com aquela situação, eu queria saber o por que ela foi embora e agora finge não me conhecer, nem aos nossos amigos.

Alcancei ela e a puxei pelo braço, a levei para uma parte afastada do salão, onde não pudessem nos interromper, estava escuro e luzes piscavam, mas tinha que ser ali mesmo e naquela hora.

–O que esta acontecendo com você? – Perguntei, irritado e confuso.

–O quê?

–Você me ouviu, por que esta agindo assim, por que você foi embora?

–Do que você esta falando? Eu não te conheço! – Ela disse se soltando de mim. Como assim não me conhece? Será que eu me enganei e não é ela?

–Pare de mentir Tris! Eu conheço você, conheço você como ninguém! Como você teve coragem de fazer isso com a gente? – Eu estava no limite.

–Tris? – Ela me olhava confusa.

–Meu nome é Samantha! Da onde você tirou esse nome... Tris? - Ela pigarreou.

Eu estava ainda mais confuso, não conseguia ver nada, nenhum vestígio de mentira nela.

–Eu não entendo – Eu disse levando as mãos a cabeça, transtornado.

–Você deve estar me confundindo! – Ela disse e quis sair, mas eu a segurei de novo.

–Não tem como confundir você! – Eu disse me aproximando dela. Ela se afastou, dando dois passos de costas, até encostar na parede atrás dela – Você pode ter mudado seu cabelo, pode estar usando outro nome, mas é você, eu tenho certeza!
Eu segurei seu queixo e aproximei meu rosto, encarando seus olhos brilhantes, ela tremia, mas não desviou o olhar, o manteve fixo nos meus. Olhando ela assim tão de perto eu me perguntava por que vivemos desse jeito? Altos e baixos, uma montanha russa constante. Parece que quando esta tudo em paz entre nós acontece algo e desmorona tudo. Ela foi embora, me deixou com a nossa filha, me magoou profundamente com a dor de perdê-la, mas olhar pra ela apaga tudo, eu seria capaz de jurar que nunca aconteceu nada de ruim, que não houve nada quando, somos só nós dois. E então eu não me controlei, a segurei pela nuca e a beijei com toda vontade que eu sentia, ela não tentou evitar, não me rejeitou e isso meu deu ainda mais certeza de eu não estava enganado.

Depois que separei o nosso beijo em busca de ar eu a encarei e ela me olhava confusa.

–E da onde você acha que me conhece? – Ela perguntou e eu senti irritação por ela continuar negando.

–Sou seu marido! Pai da sua filha.

Ela arregalou os olhos.

–Fi..Filha?

–Sim, você já esqueceu dela? Foi tão fácil assim pra você nos deixar que você não se lembra mais dela? Ela esta com 3 meses agora, precisava de você!

Ela colocou as duas mãos na cabeça e balançou para os lados tentando não ouvir o que eu dizia.

–Não consigo... – Ela disse.

–Não consegue o que Tris?

Ela não respondeu, se afastou e dessa vez eu não evitei. Eu estava magoado por ela negar. Ela foi embora sem ao menos me dar uma resposta. Voltei para a festa e não a vi, procurei ela na mesa que estávamos antes, mas ela não estava lá.