Tris

A última coisa de que me lembrava era o vão, o buraco que me puxou e me fez girar, mas não me lembro o que era. Eu sonhei? Minha cabeça estava doendo muito, estava pesada, abri os olhos e vi uma luz fraca na minha cabeça. Aos poucos meus olhos foram se acostumando e a luz não incomodava mais, eu olhei em volta e eu estava em um quarto pouco iluminado, do lado de fora da janela estava escuro, de noite, o lugar parecia um hospital.

Um hospital? O que eu estou fazendo em um hospital? Senti medo... Minha filha!

Coloquei a mão na minha barriga como primeiro ato de tentar senti-la, mas ao invés disso eu senti uma mão grande e quente sobre minha barriga, minha bebê estava ali, eu senti, e a mão era do Tobias, ele estava dormindo com o rosto apoiado na cama, parecia ter apagado de tanto cansaço que nem se importou com a posição que dormiu, com certeza acordaria com o pescoço doendo.

–Tobias? – Chamei. Ele continuava dormindo e minha voz saiu fraca – Tobias! – Chamei novamente passando a mão no seu rosto. Ele abriu os olhos devagar, estava mesmo cansado, mas depois ele despertou e levantou o rosto sorrindo.

–Tris! Você acordou meu amor – Ele disse com os olhos em lágrimas – Fiquei tão preocupado, eu morreria se acontecesse alguma coisa com vocês.

–Eu tô bem Tobias – Eu disse – Mas e a Sophia?

–Ela vai ficar bem – Ele disse sorrindo – Vocês duas vão se recuperar.

–O que aconteceu comigo? – Perguntei.

–Você não se lembra?

–Eu...– Me sentia um pouco confusa, não sabia se tinha sido um sonho ou se foi real – Eu só me lembro de sair do elevador e... Eu não me lembro bem, só me lembro de bater forte com a cabeça na parede logo depois que eu saí do elevador, depois eu fiquei tonta e senti alguma coisa me puxando... Depois eu cai num buraco e não vi mais nada.

–Tris, você caiu das escadas da saída de emergência – Ele disse me olhando sério – Você não se lembra disso?

–Não... Eu saí do elevador e fui em direção ao meu apartamento, não me lembro de ter ido até as escadas – Tobias ficou tenso, mas não disse mais nada sobre isso.

–Descanse agora, depois falamos disso – Ele disse – Eu preciso avisar o médico que você acordou e Caleb, ele esta lá fora, vou chama-los.

Tobias saiu por uns minutos e voltou com meu irmão e um médico, Caleb ficou me olhando e sorrindo de longe, ele estava abatido e com os olhos inchados, assim como Tobias.

O médico me examinou por uns minutos.

–Como se sente Beatrice? – Perguntou o médico.

–Um pouco dolorida, minha cabeça principalmente, mas como esta minha filha Dr.?

–Ela esta bem, os batimentos estão normais, mas nós vamos fazer uma ultrassonografia só pra ter certeza ta bom? Por enquanto eu preciso que você descanse – Ele disse e saiu do quarto.

–Beatrice eu estava tão preocupado! – Disse Caleb, assim que o médico saiu ele veio me abraçar.

–Eu estou bem Caleb!

–Você quase nos matou de susto, ficou desacordada por uma semana – Ele disse.

–Uma semana?

–Sim, o médico disse que você ficaria em coma induzido até seu corpo se recuperar – Disse Tobias. Ele estava com uma expressão séria.

–Eu estou bem – Eu disse acariciando o rosto de Caleb, ele estava sentado do meu lado e Tobias em pé em frente a cama – Pode ir para casa descansar. Os dois – Terminei olhando para Tobias.

–Eu não vou embora Tris – Disse Tobias – Ainda mais agora.

–Não tente Tris, ele não saiu daqui esses dias todos – Disse Caleb sorrindo.

–Mas eu quero que vocês descansem, eu tô vendo a cara de sono dos dois – Tobias coçou a nuca e olhou de novo pra mim.

–Eu vou, mas daqui a pouco eu volto – Ele disse e veio do meu lado, me deu um beijo na testa e saiu com Caleb.

Depois que eles saíram eu dormi mais um pouco, me sentia extremamente cansada, como se eu tivesse corrido uma maratona. Tentei me lembrar do que aconteceu, mas as coisas ainda estavam confusas na minha cabeça, não sei se era sonho.

Tobias

Depois que a Tris acordou eu consegui respirar um pouco mais aliviado. Cheguei em casa, tomei um banho e me deitei, mas não consegui dormir, fiquei pensando em tudo que aconteceu e agora eu consigo pensar com calma, e pensando em tudo eu cheguei a uma pergunta. Como a Tris caiu pelas escadas do prédio se as escadas ficavam longe do elevador? Como ela foi parar lá? Eu tinha que descobrir o que aconteceu, mas de madrugada eu não conseguiria fazer nada, então tentei dormir, demorei um pouco, mas logo o cansaço venceu.

Eu estava com tanto sono acumulado que não ouvi meu celular despertar, só acordei quando senti o sol quente batendo no meu rosto, já passava das 09:00. Dei um salto da cama e fui para o hospital.

Cheguei e Tris estava dormindo tranquilamente, parecia um anjo, me sentei ao seu lado e fiquei observando ela dormir, é incrível como ela é forte, como ela aguentou tanta coisa e continua aguentando. Como eu amo essa garota, eu já sabia disso a muito tempo, mas pensar em perdê-la me fez sentir o pior dos medos, eu não suportaria.

Ela se mexeu um pouco e depois abriu seus lindos olhos azuis, estavam tão brilhantes, me perdia toda vez que olhava para eles.

–Bom dia – Eu disse.

–Bom dia, já esta aqui de volta? Achei que tivesse te mandado dormir! – Ela disse sorrindo.

–Eu já dormi e estou ótimo!

–E Caleb?

–Ele não chegou ainda, mas logo ele volta.

Uma enfermeira entrou no quarto, examinou Tris e depois trouxe uma bandeja com café da manhã.

–Coma bem Beatrice! Depois eu venho te buscar para o ultrassom – Disse a enfermeira e depois saiu.

–Eu estava morrendo de fome – Tris disse – Aposto que você também né meu amor – Ela terminou passando a mão na barriga – Estou achando ela muito quietinha.

–Calma Tris, vocês ficaram sob efeito da medicação por uma semana, ela deve estar se recuperando ainda.

–Eu queria me lembrar de tudo, não entendo o que aconteceu – Ela disse colocando as mãos na cabeça – Eu não sei se eu sonhei.

–Então me diga do que você se lembra!

–Eu me lembro de estar no elevador... Depois eu saí e fui em direção ao meu apartamento... Mas... – Ela fez uma pausa – Depois eu senti alguém puxar meu cabelo e eu bati com a cabeça na parede... E aí eu senti o puxão de novo e caí no buraco, que agora você me disse que eram as escadas, mas eu não consegui ver nada e nem ninguém, eu estava com a visão embaçada, me sentia tonta. Eu não lembro se era sonho ou se foi real. Não sei dizer se tinha alguém lá ou se eu sonhei sabe? – Ela concluiu e eu suspirei.

–Não se preocupe mais com isso – Eu disse acariciando seu rosto – O importante é que você e a nossa filha estão bem agora – Eu fiz uma pausa e depois continuei – Eu preciso passar na faculdade resolver umas coisas, depois eu volto, Caleb vai ficar com você ta bom?

–Tudo bem, não se preocupe, eu vou ficar bem!

Quando eu saí do quarto encontrei Caleb na recepção, pedi que ele tomasse conta dela e saí. Eu queria descobrir o que aconteceu, com certeza a Tris não sonhou, alguém a atacou e eu precisava tirar isso a limpo.

Fui até o prédio onde Tris mora e conversei com o porteiro, ele me levou até o apartamento da pessoa que socorreu ela. Era um senhor que aparentava ter uns 50 anos, ele me disse que escutou um barulho muito forte, uma pancada e saiu no corredor para olhar, quando ele saiu do apartamento ele viu a porta que dá na escada da saída de emergência se fechando e uma mulher entrando no elevador.

Infelizmente não havia câmeras ali, mas eu fui até a segurança pedir para ver se havia alguma câmera que pudesse ter pego alguma coisa da entrada do prédio. Eles me disseram que as imagens ficam retidas em uma empresa de segurança e eles não tinham acesso. Pedi que eles solicitassem as imagens para a empresa de segurança e me avisassem caso encontrassem algo.

Fui até a faculdade encontrar o pessoal, todos estavam ansiosos por notícias da Tris. Assim que cheguei eu encontrei Zeke e Uriah.

–E ai irmão! Como esta a Tris? – Perguntou Zeke.

–Esta bem cara, ela acordou de madrugada – Senti um alívio de lembrar que estava acabando essa tortura.

–Que ótima notícia! – Disse Uriah.

–Ela se lembra do que aconteceu? – Perguntou Zeke.

–Ela se lembra de não ter ido as escadas, o que pra mim já é muito suspeito.

–Como assim? Você acha que alguém empurrou ela? – Perguntou Uriah.

–Eu tenho certeza disso! E vou descobrir quem foi e o que aconteceu – Apertei os punhos, senti minha raiva se espalhando.

–E Clarice? Já foi ver como ela está? Eu não vi ela hoje – Disse Zeke. Eu comecei a rir.

–Eu não te contei ainda – Eu disse.

–Não contou o que? – Perguntou Zeke.

–Eu fui ontem no apartamento ver ela... Cheguei lá ela estava muito bem... Com o Peter, na cama! – Zeke arregalou os olhos e Uriah começou a rir.

–E aí? – Perguntou Uriah – O filho é dele então?

–Filho? Não tem filho. Ela estava fingindo esse tempo todo com uma barriga falsa – Respondi e meus amigos me olharam surpresos.

–Você se livrou de uma hein cara! – Disse Zeke batendo no meu ombro – Não digo pelo “bebê”, mas pela Clarice, ela passaria a vida no seu pé, você nunca mais teria paz e não poderia voltar com a Tris tão cedo... Falando nisso, ela já sabe?

–Não... Eu não quis tocar nesse assunto com ela, vou esperar ela se recuperar e depois eu converso com ela sobre isso.

–Só não espere muito Tobias – Disse Uriah – Já passou da hora de vocês se acertarem.

–É... – Respondi pensando na saudade que eu tinha de estar com ela todos os dias.
De repente meu celular tocou, me tirando dos meus pensamentos.

–Alô

–Sr. Eaton?

–Sim?

–Eu sou o Robert, segurança do prédio onde mora a Srta. Prior. Eu entrei em contato com a empresa de segurança e eles me enviaram uma imagem da câmera do elevador mais ou menos na hora que ela se acidentou.

–Estou indo! – Respondi e desliguei.

Me despedi dos meus amigos e fui até o prédio da Tris. Chegando lá havia um policial e o rapaz que me ligou, Robert.

–Que bom que chegou Sr. Eaton – Falou Robert – Nós encontramos algumas imagens. Veja.

Ele começou a rodar as imagens do estacionamento, era preto e branco, mas dava para ver bem o carro da Tris entrando no prédio, ela desceu do carro e entrou no elevador, depois que ela saí do elevador Robert avança um pouco a imagem e mostra uma mulher entrando no mesmo elevador e pelo tempo da gravação pude ver que havia se passado 5 minutos. Robert pausou a imagem e se virou para mim, o policial fez o mesmo.

–Você conhece essa mulher Sr. Eaton? – Perguntou o policial.

Eu olhei bem, ela estava de moletom e usava capuz, era magra, não dava para ver muita coisa sobre ela.

–Essa mulher se identificou na entrada como amiga da Srta. Prior – Disse Robert – Tem também a imagem da hora que ela saí do elevador e entra em um carro que estava no estacionamento – Ele diz avançado mais uma vez a imagem.

Eu continuei olhando atentamente e quando a mulher saiu do elevador, outra câmera, de frente para o elevador captou melhor o rosto dela, mesmo de longe, com a imagem não muito clara e em preto e branco eu pude ver quem era. Clarice!

Meu sangue estava fervendo. Ela andou até um carro preto e saiu do prédio.
Naquele momento eu não precisava ver mais imagem nenhuma, eu sabia o que tinha acontecido, eu não precisaria de imagem do corredor para saber que Clarice empurrou a Tris, eu jamais perdoaria isso, nunca!