Tris

Acordo com o som do despertador, ainda com os olhos fechados eu o desligo e abraço meu travesseiro me aconchegando novamente. De repente sinto um estalo em minha mente que acaba de despertar. “HOJE É O DIA”. Nem acredito que hoje eu vou começar uma nova vida, sair dessa casa onde eu tenho tantas lembranças dela, cada objeto me lembra ela, está tudo como estava a 3 anos, meu pai não mudou nada e eu também deixei como estava, ás vezes isso me dá calma, ás vezes me dá angústia.

Sento-me na cama e vejo minhas malas, prontas a quase 1 semana, minha ansiedade já dura muito tempo. Sei que meu pai me tratou muito mal nesses 3 anos, mas de alguma forma sinto que ele não faz por mal, ele também sofreu e sofre até hoje, mesmo tentando disfarçar, ainda mais quando está perto de sua namorada, praticamente esposa, pois ele passa mais tempo na casa dela do que aqui, provavelmente ele nem dormiu em casa de novo.

Passo a maior parte do tempo sozinha desde que Caleb se mudou, não que antes eu tivesse alguma companhia já que ele vivia enfiado no quarto estudando, tenho que admitir que ele fez muito por merecer estar em Harvard hoje.

Me levanto da cama, vou até o banheiro fazer minha higiene, volto e vejo que são 8:00, o meu voo é 12:00. Tenho tempo para terminar de arrumar minhas coisas.

Quando chego à cozinha pronta para começar a fazer meu café me deparo com uma cena um tanto inesperada. Meu pai está sentado à mesa, Edith (a namorada, que parece ter dormido em casa) está ao lado dele e eles fizeram café. Por um segundo penso em me virar e voltar para o meu quarto, mas Edith me vê descer as escadas e abre um sorriso feliz a me ver, ela gosta de mim, mesmo eu sendo distante. Não que eu não goste de Edith, mas para mim ainda é estranho a presença dela, ainda mais por que meu pai assumiu um namoro com ela 8 meses depois da morte da minha mãe, na época eu pensei até que eles fossem amantes a tempos, mas logo deixei esse pensamento de lado, Edith é irmã da nossa vizinha e se mudou pra Chicago 3 meses antes da morte da minha mãe, seria impossível que fossem amantes, meu pai estava arrasado nessa época, vivíamos no hospital.
O jeito é entrar na cozinha e encará-los.

–Bom dia Beatrice! – Disse Edith com um enorme sorriso.

–Bom dia Edith – respondo educadamente, mas ainda séria, Edith não estranha mais meu mau humor matinal.

–Bom dia filha – Disse meu pai virando a cadeira para me encarar. Ele nunca me chama de filha, só de Beatrice, estranhei, mas quando Edith está por perto ele é sempre diferente.

–Bom dia pai – Respondo sem olhar muito para ele, já que ele mal fala comigo, pensei em ser menos gentil, mas logo me arrependo, pois me lembro que hoje é meu último dia nessa casa e ficaremos muito tempo sem nos ver.

–Ansiosa para a viagem Beatrice? – Pergunta Edith tentando amenizar o clima e quebrar o silêncio que paira sobre a mesa.

–Sim, muito!

–Que ótimo, vocês começarão a viagem pela Grécia né? Sempre quis conhecer outro país.

–Um dia iremos querida – Diz meu pai e eu fico impressionada com suas palavras e quando percebo estou encarando ele. Ele nunca gostou de viajar, sempre reclamando que tinha muito trabalho a fazer.

Me levanto da mesa, pego uma torrada e subo ao meu quarto, estou irritada com esse comportamento do meu pai, ele muda completamente quando está com Edith, não precisava ser assim. Edith é uma ótima pessoa, já impediu várias broncas que eu provavelmente levaria por chegar muito tarde de uma festa, sempre se esforçou para ser minha amiga, sempre dizendo que não tem intenção de roubar o lugar que era da minha mãe, o que na verdade já acontece, por que ela será esposa do meu pai em breve, ele não ficará sozinho nessa casa, tenho certeza! Na verdade, admito que gosto de saber que ele terá quem cuide dele, pois conheço meu pai, ele iria beber e fazer muitas besteiras se estivesse sozinho e graças a Deus Edith é uma boa pessoa.

Pego meu celular que deixei em cima da cama e vejo 8 chamadas perdidas de Christina, “Ela com certeza está desesperada”. Quando começo a discar seu número o meu celular volta a vibrar e é ela, atendo no mesmo instante.

–Alô? – Digo.

–Até que enfim sua maluca, onde você estava? Estou te ligando há horas! – Diz Christina, minha melhor amiga dramática – Eu preciso te contar um bafão – Gelei, Christina quando vem com esses bafões tenho até medo.

–O que foi agora Chris? – Pergunto impaciente.

–Tris, o Matthew! Ele disse que vai pra mesma faculdade que nós, ele não se conforma de vocês terem terminado e disse que na faculdade ele tem certeza que vocês vão se acertar – Era só o que me faltava, saio dessa cidade em busca de paz, de uma nova vida e vem esse encosto me seguir.

Terminamos faz quase 1 mês por que peguei ele se esfregando em uma menina da nossa sala, durante uma festa de fim de ano letivo.

–Tem certeza disso Chris? – Pergunto, com esperança que seja apenas uma fofoca.

–Tenho, ele próprio me disse todo felizinho – Disse Chris, enfatizando o “felizinho”.

–Vou fazer de tudo para ficar bem longe dele, não quero mais ver ou falar com o Matthew – Disse e em seguida e Christina riu – Qual é a graça? – Perguntei irritada.

–Quem você pensa que engana com isso Beatrice? Você é doida por ele, duvido que você não esteja feliz por saber que ele vai pra Califórnia – Ela realmente me conhece melhor que qualquer pessoa.

–Chris, eu gosto do Matthew, não se deixa de gostar de alguém de um dia pro outro, ainda mais depois de 2 anos namorando. Eu planejei nossa formatura, nossa viagem e até a faculdade com ele, mas ele ter me traído não tem perdão, eu não confio mais nele – Disse e Chris fez uma pausa.

–É não sei se vocês tem futuro juntos, mas deixa o tempo dizer né? – Christina disse e logo mudamos de assunto, nem cheguei a responder o que ela disse, eu nunca gostei de ser categórica em relação ao que eu ia ou não fazer no futuro, pois eu sei melhor que ninguém que a vida dá rasteiras enormes na gente.

Gosto de pensar que um dia vou poder ser amiga de Matthew novamente, ele foi um grande amigo quando eu estive em depressão pela morte da minha mãe, ele me acalmava e até me levava pra passar mais tempo com a família dele, os pais dele sempre me trataram como filha. Mas não será nesse momento que tentarei perdoa-lo, ainda me dói muito quando me lembro da cena que eu vi na festa, procurando por ele a festa inteira e quando o encontro ele esta em um canto escuro beijando enlouquecidamente uma menina arrogante da nossa sala, tão empolgado que estava quase arrastando ela pra um quarto. Aquilo arrasou comigo. O pior foi a desculpa dele, que estava bêbado. "Desde quando bebida dá amnésia nas pessoas ao ponto de esquecer que tem namorada?". Matthew é bonito, era capitão do time de beisebol da escola, vivia rodeado de menininha dando em cima dele, inclusive essa que ele beijou e quase transou na festa, mas eu confiava nele, a gente tinha um namoro legal, perdi minha virgindade com ele. Foi demais pra mim essa traição.

Terminei minha conversa com a Chris, arrumei o que faltava das minhas coisas e fui tomar banho, a essa altura eram 10:00 e eu estava muito ansiosa pra viajar.