"We were born sick"
You heard them say it
My church offers no absolutes
She tells me, "Worship in the bedroom"
The only heaven I'll be sent to
Is when I'm alone with you

"Nós nascemos doentes"
É o que eles dizem
Minha igreja não oferece dogmas
Ela só me diz, "Louve entre quatro paredes"
O único paraíso para onde vou ser enviado
É quando estou sozinho com você

Desde o princípio, ele sabia que não era uma boa ideia. Acompanhar Sasuke em uma balada era, decididamente, algo que nunca esteve em seus planos.

Para início de conversa, ele sequer era fã daquele tipo de ambiente. A música alta e tão diferente do estilo que gostava, os corpos roçando, o cheiro de álcool, os banheiros sujos, as pessoas bêbadas... Detestável.

Mas seu irmãozinho insistira com aquele olhar que ele sempre lhe direcionava quando queria algo. Aquele olhar que conseguia arrancar tudo de si.

O resultado estava sendo desastroso.

Após perder-se do menor, acabou indo até o bar. A ociosidade fez com que pedisse doses e mais doses de vodca e tudo o que ele conseguia pensar era: Sasuke, moreno gostoso à frente, sexo. E os três pensamentos diziam respeito a mesma pessoa, porque o ser de cabelos negros e corpo esguio que dançava próximo a si era seu irmão.

Definitivamente um desastre.

Observava o corpo do mais novo, que estava colado ao de uma garota. O modo como os fios negros estavam grudados no rosto. O sorriso sacana nos lábios. A roupa suada delineando tudo o que o tecido escondia.

Queria-o. Talvez fosse o álcool nublando-lhe os pensamentos ou talvez um surto repentino cuja origem era sua carência.

Observou mais uma vez os movimentos cadenciados que o menor dava.

Ah, quem ele queria enganar? Queria-o desde sempre. Um desejo insano e um sentimento avassalado que reprimia pelo simples fato da sociedade dizer que aquilo era errado. Estabeleceu travas em sua mente e em seu coração para evitar aquele tipo de situação e conviver bem apesar de tudo.

Mas o álcool elimina rapidamente qualquer trava. E ele não conseguiria ficar longe do irmão mesmo que estivesse sóbrio. Tudo em Sasuke lhe atraía no momento.

Com passos levemente vacilantes, aproximou-se e abraçou o menor por trás. Enfiou a cabeça no vão do pescoço alvo, onde depositou uma leve mordida. Sabia que, naquela posição, o outro conseguiria sentir os sinais da leve excitação que tomava conta de si e sabia também que isso poderia assustá-lo.

Mas não assustou.

Sasuke sorriu ao sentir-se prensado ao corpo másculo e mordeu o lábio inferior ao perceber a ereção que se formava. Jogou os quadris para trás, colando-se ainda mais no desconhecido e esquecendo completamente da garota a sua frente, que afastou-se irritada.

A reação do mais novo lhe surpreendeu. Ele sabia claramente o que estava fazendo, o que denunciava que não tinha interesse exclusivo em garotas.

Roçou o nariz na pele do pescoço, aspirando o cheiro do menor com devoção. Aquele cheiro característico e que ele sempre gostou de sentir.

Impaciente, Sasuke levou uma das mãos até o quadril do homem atrás de si, fazendo com que ele colasse ainda mais contra suas costas. O atrito entre os corpos fez com que o maior suspirasse no ouvido do outro.

– Sasuke...

Ao ouvir seu nome ser pronunciado por aquele que lhe acariciava, o moreno arregalou os olhos e virou-se rapidamente, encontrando o rosto do irmão a centímetros do seu.

Seu coração batia violentamente contra o peito e ele quase não acreditava no que estava acontecendo. Ver Itachi daquela maneira consigo era mais do que ele poderia pedir... Era tudo o que mais desejou e que escondia da melhor maneira possível por saber se tratar de algo abominável para todos.

Todos, exceto ele. Afinal, o amor que sentia era genuíno demais para ele encarar como algo errado ou digno de represálias. Porém, sabia que seu irmão não pensaria assim.

Ou achava que sabia.

Itachi sorria abertamente e, inconscientemente, ele sorriu também. Aproximou-se e enlaçou os braços no pescoço do maior, tomando seus lábios com maestria.

O ósculo começou calmo, mas logo tornou-se algo mais sôfrego. A paixão que possuíam um pelo outro e que sempre contiveram coordenava seus corpos.

O maior rompeu o beijo e levou os lábios para o lóbulo da orelha de seu irmão, causando arrepios na pele clara.

– Acho que podemos ir para casa, não?

Sasuke assentiu e Itachi levou a mão até sua cintura, apertando-a de leve e fazendo- estremecer enquanto era guiado para fora do local.

Dentro do táxi, durante todo o caminho, a mão do mais velho manteve-se entrelaçada a sua. Os toques e o beijo que trocaram não foi pauta em nenhum momento, pelo contrário. O maior reclamava da quantidade de pessoas no local e do quão ruim era a música e arrancava olhares irritados do mais novo, que adorava aquela boate.

A chegada a residência foi tranquila até o momento que Sasuke trancou a porta da frente, pois foi nesse instante que foi prensado contra ela.

O corpo másculo moldou-se perfeitamente contra o seu e ele podia sentir as mãos ágeis lhe acariciarem por inteiro.

– Nii-san... – Sua voz saiu em um tom que ele julgava impossível ser de sua autoria – Como desejei isso...

Sentiu a risada abafada do maior, que girou-o de forma a ficar de frente para si. Os lábios tornaram a se encontrar, afoitos. As mãos passaram a percorrer um o corpo do outro, conhecendo, explorando.

Cada toque gerava uma série de reações que eles não poderiam sequer prever. Arrepios, gemidos, suspiros. Era mais do que prazer físico, mais do que tesão. Mais do que qualquer outra experiência que eles tiveram com outras pessoas.

Para Itachi, sentir o corpo de seu irmãozinho daquela forma era muito mais do que ele poderia supor. Era mais do que ele já tinha visto em seus devaneios durante o sono. Acariciá-lo, tomá-lo para si, fazê-lo gemer. Encarar os ônix nublados pelo prazer que ele lhe proporcionava. A satisfação de tudo aquilo era maior do que ele poderia supor.

O mesmo acontecia com Sasuke. Submeter-se ao mais velho, tê-lo junto de si, sobre seu corpo. Ele sabia que aquele tipo de contato físico era inevitavelmente prazeroso, mas aquilo superava qualquer coisa que ele já tinha sentido em vida. Era com devoção que observava e sentia cada movimento do irmão. Gemia de deleite, de paixão, de satisfação.

Os ônix se encontraram e perderam-se um no outro. E então eles entenderam o que era tudo aquilo.

Era a sensação de completude.

Completos, pela primeira vez. Físico e emocionalmente completos.

E ao perceberem isso mergulharam ainda mais naquele oceano de sensações que apenas o amor pode promover. Principalmente quando é algo que foi suprimido por tanto tempo, enclausurado por convenções sociais e que finalmente estava sendo colocado para fora.

'' '' ''

Encarou o teto branco enquanto resmungava de dor. Sua cabeça doía muito, o que já era esperado. A quantidade de bebida que ingeriu na noite anterior não seria esquecida tão cedo.

Incomodado com a posição em que se encontrava e planejando voltar a dormir, virou-se de lado, esbarrando no corpo de Sasuke que dormia tranquilamente.

Devido ao sono e ao estado de torpor em que se encontrava, havia esquecido completamente do que ocorrera no dia anterior. E, olhando-o deitado tão próximo a si, sorriu e agradeceu por não ter sofrido de nenhum tipo de amnésica alcoólica. Não se perdoaria se esquecesse da melhor noite de sua vida.

Aproximou-se do garoto adormecido, abraçando-o e deixando o rosto na curva do seu pescoço. O cheiro característico estava ainda mais intenso do que o normal e a marca arroxeada na pele pálida lhe causou um arrepio gostoso ao lembrar-se de que ele foi o autor daquela obra.

Seus dedos se moveram para os fios negros, acariciando-os com devoção e sentindo a textura macia que possuíam.

– Nii-san...

A voz embargada pelo sono ecoou pelo quarto silencioso e Itachi sorriu ao ouvir.

– Bom dia, otouto.

O menor sentou-se e logo reparou na situação em que se encontravam: totalmente nus. Um tom avermelhado tingiu suas bochechas antes que ele pudesse se pronunciar.

– Nunca pensei que seria correspondido.

O mais velho ergueu-se e entrelaçou seus dedos, enquanto acariciava novamente os fios negros.

– Esse foi o nosso problema, Sasuke. Nós pensamos demais e eu não quero mais pensar. Eu sei que te amo e para mim isso basta.

Os ônix se cruzaram e nada mais precisou ser dito. Tudo o que eles poderiam ter pensado acerca daquilo que sentiam foi pensado nos longos anos que passaram escondendo seus sentimentos.

Incesto? Sim. Pecado? Talvez.

Mas agora eles tinham uma certeza e ela era o suficiente para continuarem.

– Para mim também basta. E eu também te amo.

“There is no sweeter innocence
Than our gentle sin
In the madness and soil of that sad earthly scene”

“Não há inocência mais doce
Do que nosso suave pecado
Na loucura e imundície dessa triste cena mundana”