Por Trás da Voz escrita por Neko Kodokuna


Capítulo 8
Chuva de Vidro


Notas iniciais do capítulo

Pra quem achou que o último capitulo explicou muita coisa, segura esse aí! XD
Isso saiu totalmente diferente do que eu esperava. Até incluí um personagem que não planejava kk
Espero ter feito um bom trabalho ^^'
Boa leitura a todos!



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Por que lutamos?!

Eu cheguei aqui realmente acreditando que seria uma cantora, mas depois de tudo que sofri em minha chegada, comecei a pensar que eramos apenas armas, já que somos feitos em laboratórios e há chips de controle implantados em nós, além de recebermos treinamentos diários. Mas então, quando já não me restava dúvidas de que seria uma soldada, me colocaram em uma aula de canto. Mas que diabos esses caras da VOLCA estão pensando? 

— Guerra? Eu não sei porque lutamos! Eu não quero lutar! – digo meio irritada.

Eu fui enganada. Totalmente enganada! Arrastada para esse lugar e submetida a todas as suas sessões de tortura física e psicológica. Por que? Por que comigo? Eu sempre tentei ficar bem, mesmo que a vida não fosse muito fácil... Sempre tentei ser uma boa pessoa e me adequar ao mundo onde fui lançada, mas isso já é demais, não é?

 — Fique calma, criança. Não é como se pudéssemos escolher – Kamui poem sua mão direita em meu ombro – Desde o momento em que você pisou nesta cidade, não havia volta... Tóquio! A grande e ilustre Tóquio, sede do governo asiático. Grande parte dessa Cidade-Estado é formada por organizações do governo que são responsáveis pelo controle de todo o lado leste do mundo. E a VOLCA não é diferente.

— Você está me dizendo que nós trabalhamos para a Nação Asiática – não consigo evitar o tom de surpresa em minha voz.

— É exatamente o que estou dizendo. Que eu saiba guerras são travadas por países – ele ri como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Como me trancaram aqui sem ao menos me contarem isso? – me levanto totalmente contrariada – Mas espera, a guerra, ela não acabou?

— Bom, isso é o que eles querem que a população acredite. Estamos vivendo uma falsa paz, mas por baixo dos panos, ainda temos que lutar pra defender nossa liberdade.

— Liberdade? Você está brincando comigo? – certo, agora estou a ponto de entrar em colapso.

— Podemos escolher se ficamos nas mãos do nosso próprio governo ou do governo americano. Eles chamam isso de liberdade.

Então é isso... No fim, a guerra não mudou muita coisa... Ela se iniciou porque haviam muitos países brigando por recursos naturais e riquezas. Foram anos de dor, muita gente morrendo, não só em campo, como também nas cidades devastadas. A população passava fome em nível mundial. A maneira mais eficaz que eles acharam para resolver essa situação caótica foi se juntarem e formarem apenas um país, um país mundial, liderado por um só governo. Mas quem é que deixaria um poder desses nas mãos de um pequeno grupo de homens?! Certamente todos iriam querer estar nessa posição, isso geraria muitas rebeliões, era isso que todos pensavam. Além deste fato, ainda havia a rivalidade entre Ocidente e Oriente, que não seria facilmente resolvida. Assim, foi decidido que o mundo se dividiria em duas grandes nações, a Nação Asiática e a Nação Americana, dois enormes países. Mas ainda havia os que discordavam disso, os países que se recusaram a entrar nessa aliança tiveram grande parte de seus territórios roubados. Hoje, dizem que ainda há disputas das duas grandes nações por esses países, mas todos consideram que sejam apenas mitos... No fim, não são?!

— Todas aquelas histórias sobre as gananciosas duas grandes nações ainda estarem lutando pela dominação mundial... Não são só histórias? – digo sem coragem. Eu sei a resposta, mas não quero ouvi-la. No meu coração ainda há uma estúpida esperança de que eu esteja errada.

— Claro que não, você acreditava mesmo que “eles” se contentariam com apenas metade? – Kamui me olha como se eu fosse a criatura mais ingênua do mundo, um olhar sarcástico.

— Então é por isso que lutamos? Pela ganância deles?

— Bingo!

Não posso, simplesmente não posso acreditar em suas palavras. Todo esse esforço que tenho feito, tudo que tenho passado, é tudo por causa dessa droga de governo?! Eu luto para proteger os desejos daqueles magnatas que só ficam sentados com suas bundas gordas comendo e planejando o que fazer conosco? Como nos usar da melhor forma possível, para que possam ter vidas cada vez mais fáceis? É isso? É por isso que vivo? É pra isso que nasci?

— Não! – grito com as mãos no rosto – E está tudo bem pra você assim? – pergunto, revoltada.

— Que outro caminho eu poderia tomar? Não quero virar marionete dos americanos.

O maldito sinal que indica o fim do almoço soa mais uma vez. Seu estridente e irritante som atinge meus ouvidos como uma pedra em alta velocidade atinge uma janela de vidro, quebrando minha linha de raciocínio e adentrando minha cabeça.

Próxima aula, autodefesa, e mais tarde... canto?!

Quando o professor já estava de pé e passava por mim, de súbito levanto a cabeça, dizendo:

— Mas e a música? Porque cantamos?

O ouço sorrir. Estamos alinhados, cada um virado para um lado. Seu ombro toca o meu enquanto ele ri. Mas eu sinceramente não entendo como pode fazer piada de toda essa situação.

— Minha Flor, temos cabelos coloridos e usamos roupas pesadas e extravagantes. Como acha que andaríamos livremente pelo país sem que a população duvidasse de nada? Como artista não somos só bem vindos como idolatrados. Somos o circo que o governo oferece ao povo.

E então ele se vai. Permaneço parada, escutando seus passos se afastando lentamente. As flores do vasto jardim brilham sob a luz do sol a minha frente. Um jardim escondido. Tal beleza está apenas sendo desperdiçada em um lugar como este. Somos como elas...

Mas uma vez me forço a caminhar, mas meus sentidos estão fora de orbita...

 

Eu não sei como aquele dia chegou ao fim. Nem o resto da semana. Pareço estar flutuando por um universo paralelo onde não posso me encaixar. Eu nasci de uma incubadora... Nasci para proteger os interesses da gananciosa Nação Asiática, além de ser o entretenimento do povo que é iludido e enganado por ela todos os dias. Como devo seguir adiante assim?

Desde que descobri essas coisas, não tenho tido outras conversas. Faltei todas as aulas do professor Kamui. Não almoço mais. Choro todos os dias quando acordo, quando tomo banho, quando me forçam a comer, antes de dormir. Estou apenas sobrevivendo. Me entreguei a maré, e boio em suas águas tribuladas em destino a um futuro indesejado. Gumi também parece mais calada esses últimos dias. Está distante. Ela acorda sozinha e sempre sai bem cedo e chega bem tarde. Me sinto tão solitária...

Meu número de aulas aumentou, eles querem que eu aprenda técnicas mais avanças, eu acho. Não gravei o nome do meu novo professor. Nem seu rosto. Não sei quantas aulas já tivemos, mas ainda me surpreendo toda vez que o vejo. Sua aparência é tão... normal.

— Bom dia, Miku – diz ele me observando entrar e sentar.

— Bom dia, professor...? – dou uma pausa para que ele complete a frase.

— Kyo! Meu nome é Kyo. Quantas vezes vou ter que repetir? Fala sério, ele é tão pequeno, qual a sua dificuldade?

— Desculpe – digo por conveniência.

— Não vem com “desculpe”. Você não é nada boa, sabia?! Essa é nossa quinta aula e você não se importa nem em lembrar meu nome. Sinceramente, nunca vamos achar sua habilidade, porque ela simplesmente não deve EXISTIR. Sua inútil!

Acho que eu o irritei mesmo dessa vez, mas quem se importa?! Todos nesse lugar deveriam apenas sumir.

O vejo bagunçar seus cabelos castanhos, repicados, que se estendem até o pescoço. O estou enlouquecendo. Ele bate em minha mesa, mas eu não me assusto. Não tenho força nem pra isso. Minha alma está perdida.

— Não vai passar de hoje! Está me escutando? Aquele maldito Kiyoteru tá na minha cola por sua causa! E quem te disse que podia faltar as aulas do Gakupo? Ele está me culpando porque a aula dele é depois da minha. Não fuja, sua peste, covarde!

Sua voz começa a me irritar. Por que tenho de aguentar isso?

— A vida é minha, eu faço o que quiser – digo sem olhar em seus olhos.

— Não, a porra da vida não é sua. Quem você pensa que é? Sua abominação, já se olhou na merda do espelho? Você foi criada por eles, é propriedade deles. Aceite isso.

Cada palavra é jogada contra mim com violência e rigidez. Eu quero muito socar a cara dele. Posso ver em seus olhos castanhos o quanto ele me considera insignificante.

— Por que você não se mexe, sua merdinha? Levanta do caralho dessa cadeira e faz alguma coisa.

Eu o odeio, e odeio suas palavras. Mas por que elas parecem tão doloridas pra mim? Eu não sinto que ele esteja falando sobre essa aula. Fazer alguma coisa? Sim, eu preciso fazer algo. Estou parada enquanto minha vida passa.

— Você acha que as coisa se resolvem sozinhas? Porra, garota, você comeu merda?

Sinto a culpa me tomar. Meu corpo todo está em crise. Eu o odeio, porque suas palavras se encaixam perfeitamente em mim. Sou covarde e inútil...

— Sua vida é deles. A droga da sua existência pertence a eles! Isso não vai mudar só porque você tá revoltadinha!

Eu sei. Já sei disso. De repente sinto meus sentimentos explodirem e todas as janelas do ambiente explodem junto. Uma chuva de vidro nos engole e eu prego minhas pálpebras umas nas outras. Não sei o que está acontecendo, mas o barulho é estrondoso. Quando abro os olhos, me vejo de baixo de Kyo. Ele me envolve em seus braços. Sangue escorre por sua pele clara. Começo a tremer. Muitos cacos ainda estão cravados em seu corpo esguio. Sua camiseta está toda rasgada e manchada. Não era isso que eu queria. Não era isso.

E então escuto um sorriso sussurrado que vai crescendo lentamente.

— Finalmente, sua pirralha maldita – a voz de Kyo se esforça para sair alta o suficiente para ser ouvida.

— Kyo!

— Ah, agora você sabe meu nome – ele limpa o sangue que escorre pelo canto de seus lábios com o punho cerrado – Eu disse que seria hoje, não disse?! Eu tenho que reportar que sua habilidade finalmente despertou – diz ele orgulhosamente enquanto se levanta com dificuldade. Dá meio passo e... cai no mar de cacos de vidro que inundam o chão, desacordado.

— Kyo! Meu Deus, eu vou te ajudar! – grito aflita.

Mas o que estou fazendo? Ele precisa de ajuda, mas não da minha. Levanto aos tropeços e corro desesperada pelos corredores de ferro. É então que percebo que um caco está enfiado em meu tornozelo, que sangra, mas eu não paro, não posso. A culpa é minha.

— Ajuda! Alguém me ajude! – grito com toda a força que consigo. Mas ninguém parece me ouvir...





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Notas finais do capítulo

Miku revolts XD
Desculpem pelos palavrões em excesso pessoal, mas a cena não teria o mesmo impacto sem eles...



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