Por Trás da Voz escrita por Neko Kodokuna


Capítulo 7
Sobre Cantar e... Lutar?


Notas iniciais do capítulo

Voltei!! /o/
Esse é um capitulo importante... Eu acho kk
Então estou um pouco insegura sobre o que vocês vão pensar ><.
A "música" citada foi escrita por mim, por isso tá uma bosta kk
Ela foi inspirada(copiada ~cof ~cof) em uma música da Aoki Lapis, não estranhem se acharem alguns versos familiares! Ela não tem rimas de propósito.
Acho que é isso. Boa leitura a todos. ^^



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Minhas pernas estão bambas. Diante de mim, cadeiras e mais cadeiras se projetam. Há refletores apontados em minha direção. E o palco com um piso de madeira, muito bem encerado, agora é todo meu. Sinto como se o silêncio do ambiente me atravessasse como uma brisa de verão. Na plateia, dois pares de olhos brilhantes me observam. Não sei quais são suas expectativas sobre mim, mas quero mostrar o meu melhor. O problema é que nunca tentei algo assim antes, não sei como é o meu pior, como chegar ao melhor?

Me aproximo do microfone que descansa em seu pedestal. Meus lábios tremem um pouco enquanto abro a boca. Estou em posição, mas nenhum som sai. Eu não conheço muitas músicas. No convento cantávamos apenas louvores, e sempre em coro. É verdade que todos os dias eu escutava as músicas da VOLCA nas rádios da cidade, mas eu não tinha muito tempo para parar e ouvi-las. Havia porém, uma canção que eu nunca esqueci, não sei bem o porquê. A voz da vocaloid que a cantava parecia tão verdadeira, como se cantasse com todo o seu coração. Sem perceber as palavras foram escapando de mim.

 

[Cortei meu dedo

Nos cacos daquela antiga taça de cristal

Que você quebrou

 

O brilho me surpreendeu

"Isso já faz muito tempo"

 

O segredo que se esconde por trás dessa insistente, mas distante

Troca de olhares

Me deixa agitada

 

O que de inesperado

Eu estou te dedicando?

 

Estou ciente de que isso está te chamando

Significa que um de nós irá parar de respirar neste mundo

 

“Eu estarei sempre aqui”

“Rápido, vamos, leve-me”

 

Eu também fui enganada

E agora os ponteiros do relógio

Sempre tão indiferentes

Queimam o meu peito.

 

Sobre a minha estadia aqui

Se você não pode mudar nada...

 

“Só um pouco

Só um pouco mais”

 

Sinto tudo gelar...]

 

— PARE! – ouço Gume gritar de seu lugar.

Isso me assusta, acho que estava envolvida demais na música, acabei me desligando das coisas ao meu redor. Abro os olhos meio desnorteada e vejo que as duas garotas estão de pé.

Então a professora Mayu começa a bater palmas. 

— Uau, isso foi realmente inesperado! Foi como se eu pudesse vê-la aqui de novo. Você também sentiu, Gume? – Mayu diz sorrindo, e sem esperar uma resposta da esverdeada, continua – Mas você é horrível, novata! Não se preocupe, isso é normal. Pode deixar comigo, vou fazer de você a estrela mais brilhante – ela dá uma gargalhada orgulhosa.

Gumi, parece perturbada. Não para de fitar o chão em silêncio. Me pergunto o que está acontecendo e o que a professora quis dizer com “foi como se eu pudesse vê-la aqui de novo”. Será que falava da cantora original dessa música? Eu não me lembro de ter ouvido seu nome na rádio.

— Vamos azuladinha, pode descer do palco.

— O nome dela é Miku – Gume finalmente se pronuncia.

— Hatsune Miku, estarei em suas mãos – faço uma reverencia, e então desço do palco.

— Certo senhorita Hatsune, hoje começa sua jornada pelo estrelato.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro, querida!

— Quem canta essa música?

Houve um silêncio um tanto quanto incômodo.

— Então você não sabe? – Mayu lança um olhar para Gume, que permanece estática. Estranho...

— Não, eu não sei.

— Bom, é uma canção antiga. A cantora original não está mais entre nós...

— Por que você a escolheu? – me questiona Gumi.

— Eu não sei.

 

As horas passam rápido. Gumi estava meio estranha durante toda a aula, mas Mayu conseguiu me deixa à vontade, mesmo com esse jeito convencido e orgulhoso dela. Suas lições são valiosas. Apesar de aparentar ser jovem e imatura, ela se mostrou muito sábia. Recebi uma canção para ensaiar nos tempos vagos, foi escrita por Luka. Não sabia que ela podia compor, parece tão desligada do mundo, mas a letra é bonita.

No caminho de volta ao quarto, Gumi permanece muda. Prefiro ficar calada também, muita coisa aconteceu hoje. Talvez a cantora original daquela música fosse próxima de Gumi. Não tenho coragem de perguntar. Quando me deito para dormir, aquelas palavras dominam a minha mente. Posso ouvir claramente a voz da garota cantando como ouvia no rádio a um tempo atrás. Quer dizer que até canções antigas tocam nas rádios, mesmo nos dias de hoje?! Eu não sabia. Talvez Sakata seja tão lenta em seu desenvolvimento que até as novas músicas demoram a chegar.

Na manhã seguinte me levanto com a sensação de ter tido um longo sonho, mas não consigo me lembrar. Desligo o despertador que toca insistentemente e percebo que Gumi já não está mais em sua cama. Não é normal vê-la levantar tão cedo, geralmente tenho que sacudi-la para que acorde. Não entendo como ela não se atrasava para suas aulas quando dormia aqui sozinha.

Tomo um banho rápido no vestiário da sala de treino e visto o uniforme. Minha primeira aula hoje é com o professor Kamui, isso me deixa de bom humor.

— Bom dia, minha pequena hortência.

— Bom dia, professor!

— Bom dia, Hatsune – me assusto com a voz calma, mas ao mesmo tempo fadigada, de Luka que corre em uma das esteiras.

— Oh, bom dia.

Assim que subo na esteira ao seu lado, Luka para seu movimento e desce da sua.

— Ei, não fuja. Você não acabou ainda – Kamui diz entre risadas.

— Sim, já acabei.

— Não minta, você está com vergonha da senhorita Miku.

— O senhor pode ler pensamentos agora, Professor Kamui?! – Creio que esta frase deveria soar como uma pergunta, mas é difícil perceber alterações na voz de Luka.

— Os seus quem sabe, já que somos da mesma incubadora.

— Não, os meus não – disse a rosada por fim, saindo da sala.

Ele continua rindo enquanto a observa sair. E de novo esse assunto das incubadoras. Eu disse aquilo para Gumi, mas eu não sei realmente o que significa. Que tipo de ligação existe entre os que compartilham da mesma incubadora? E o que são realmente as incubadoras?

Dirijo meu olhar ao professor que enfim para de rir. Estou caminhando na esteira, mas não desvio dos olhos dele e nem ele dos meus. Parecemos estar em algum tipo de conversa mental, que perdura por alguns instantes. Seus olhos são penetrantes, mas eu não me intimido. Até que ele finalmente diz:

— Vamos, pergunte logo, o que quer saber? Eu não leio mentes – dá um sorriso de canto.

— Por um momento duvidei que sim.

Ele deixa escapar uma gargalhada e se apoia em minha esteira. Droga, esse uniforme realmente favorece seu corpo, chega a me deixar constrangida...

— É mesmo?! E que tipo de coisas estava me dizendo?

Opa, perto demais! Ele faz isso propositalmente, não é?!

Começo a falhar na caminhada, pois tenho a sensação de que se for mais para frente, nosso rostos colidirão.

Seus dedos rosados e esguios alcançam os controles do aparelho e ele aumenta bastante a velocidade me forçando a correr.

— Vamos, me diga – diz o professor que continua a me fitar com um sorriso nos lábios.

— E-eu... Só estava me perguntando – digo quase sem folego – sobre você – minha respiração é ofegante – e Luka... – dou uma pausa para ver sua reação, mas não há nenhuma – O que significa vocês terem vindo da mesma incubadora?

Com o dedo indicador ele pressiona o pequeno display da esteira e ela para repentinamente, me fazendo cair de joelhos. Estou arfando com as mãos nas coxas.

— Então era isso – sinto ele se agachar ao meu lado – Que chato! Mas se você se esforça no treino de hoje, respondo todas as suas perguntas no almoço.

Finalmente uma notícia boa. Me levanto com as forças revigoradas e com o rosto determinado.

Kamui ri da situação e se aproveita disso. O treino do hoje foi, com certeza, o mais puxado de todos, mas eu persisti. Sinto que todo esse esforço está dando frutos, mas não sei se devo ficar feliz com isso. Eu emagreci pelo menos 2 quilos só essa semana e ganhei alguns músculos, mesmo que eles não estejam visíveis. Sakata, apesar de ser uma cidade relativamente pobre, era farta em alimentos, e no convento não havia muito trabalho braçal a ser feito. Talvez esses fatos tenham tornado minha adaptação mais difícil, mas estou evoluindo rápido graças aos meus tutores.

Foi uma aula exaustiva até o termino, e a hora do almoço chegou se arrastando.

Tomei meu banho o mais rápido que pude e fui até o refeitório pegar uma bandeja, antes de me encontrar com o professor Kamui que me aguardava no jardim.

— Não vão sentir sua falta no refeitório?

— Eu raramente almoço lá.

— Entendo – ele ri.

Me sento ao seu lado em um dos bancos do local. O mármore do acento está frio apresar do dia ser ensolarado. A árvore que sede sua sombra a nós é uma macieira e seu cheiro é doce, mas não enjoativo, eu diria que é algo... suculento.

O professor me oferece uma tigela, e dentro posso ver uma colorida salada de frutas. Aceito sem cerimônia, pois a bandeja que trago do refeitório não contém nada que agrade minha vista, ou paladar. A deixo de lado para saborear a salada, que por sinal, está deliciosa. Sinto as frutas desmancharem devagar na minha boca.

— Então era na minha comida que estava interessada? – ouço a voz suave de kamui, zombando de mim.

— N-não! Claro que não – digo subitamente.

Ele ri, de novo. Não consigo ficar zangada, pois até o som de seu riso é encantador, mas me sinto boba por cair em todas as suas provocações.

— Diga logo, pequena hortência, o que tanto lhe aflige.

— Bem professor, eu não queria ser um incômodo, mas tenho tantas dúvidas sobre tudo nesse lugar...

— Eu entendo, a maiorias dos que aqui residem, já nasceram ou estão desde muito pequenos por aqui. E tudo que sabem, aprenderam também aqui. Mas você chegou de repente e não houve ninguém que te explicasse como as coisas funcionavam. Simplesmente te empurraram para um sistema complicado esperando que você se encaixassem sem problemas. Te falaram o mínimo, não foi?! Até mesmo sobre seu próprio nascimento.

— Sim – confirmei abaixando a cabeça. Eu já sabia disso tudo, que estava em um lugar estranho pra mim, e que era a única que me sentia assim aqui, mas ouvir de outra pessoa sempre é mais doloroso.

— Eu te recomendo a ir à biblioteca se quiser saber sobre o passado, mas posso te esclarecer algumas coisas enquanto der tempo. O que quer saber primeiro?

— Quero muito entender o que são as incubadoras, e... o que somos nós?

— É, acho que isso é o essencial mesmo – brinca ele – As incubadoras são como mães para nós. Elas que nos dão “vida”. São como úteros. Antigamente eles pegavam embriões já fecundados, blastocistos, e o modificam geneticamente ali dentro. Mas com o avanço da tecnologia, eles descobriram um modo de modificar humanos já nascidos, crianças, assim como foi comigo. Dessa forma “fabricam” pessoas mais fortes em determinadas características. Cada característica mudada tem como reação uma cor diferente de pigmento, que afeta os pelos, olhos e/ou unhas do ser modificado. A característica varia de intensidade de acordo com a variação da cor. Existem atualmente oito incubadoras: a roxa, da qual eu e Luka viemos, a amarela, a vermelha, a verde, a laranja, a branca, a preta e a sua, azul. Dizem que os que são modificados na mesma incubadora tem algum tipo de ligação, mas isso nunca foi provado. Alguns afirmam que eles podem se comunicar por lembranças e pensamentos, ou ainda que entendem os sentimentos um dos outros como ninguém.

— Quem são “eles”? E por que fizeram isso conosco?

— O que você é? Uma investigadora? Por que faz perguntas tão sérias e diretas? Normalmente as pessoas iriam querer saber mais sobre suas “características” ou quem são seus companheiros de incubadora, não?

— Eu preciso saber do conceito principal, para depois pensar nos detalhes.

— Certo – ele me olha com um rosto numa mistura de curiosidade e surpresa, e então continua –“Eles”, são os cientistas e organizadores da VOLCA, e fizeram isso por causa da guerra. Você já deve ter percebido que não somos só cantores, não é?! Por que acha que lutamos...?







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Notas finais do capítulo

Ai, me desculpem pelo final ter sido assim, meio do nada, é que achei que já estava esticando demais... Bom, espero que tenham gostado.



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