Por Trás da Voz escrita por Neko Kodokuna


Capítulo 2
Azul


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente!! o/
Então, decidi continuar na primeira pessoa ^^'
Isso faz com que o título do primeiro capítulo perca o sentido... Mas tudo bem! Haha'
O capítulo de hoje é meio parado, só desenvolvimento. Vou adicionar os personagens aos poucos!!
Espero que gostem! ^-^
Boa leitura!



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Quatro horas se passaram e ainda estou sentada.

O trem é tão rápido que tudo que posso ver por suas compridas janelas, é a paisagem borrada que se materializa por trás dos vidros. Estou tão nervosa que quando as portas se abrem, sinto que meu coração vai parar. Minhas mãos ainda tremem quando ponho os pés na estação.

Do lado de fora do vagão tudo é novo para mim, mas ainda assim, tenho a impressão de que aquilo me é muito familiar.

O que é essa sensação?

Mesmo que seja outono, o tempo está muito gelado. Às duas horas da madrugada há neblina por toda a rua. Eu não estava preparada para isso. Uso um vestido de mangas curtas, creme, simples, que me vêm aos joelhos, cobrindo minha meia-calça grossa, de cor preta. Até prendi meus cabelos, com duas fitas vermelhas, em minha habitual maria-chiquinha. Carrego também uma pequena mala roxa, onde trago apenas o essencial. Não que eu tivesse muita coisa em meu quarto no convento...

O vento é tão frio, que me abraço tentando amenizar seu efeito. Ele sacode meus fios azulados, o que me distrai um pouco, mas algo me traz de volta assustadoramente. Sinto algum tipo de tecido cobrir meus braços nus e minhas costas. Um casaco?! Isso me surpreende de tal maneira que não posso evitar uma virada brusca ao mesmo tempo que agarro minha mala. Mas o que vejo ao me virar não é nada que possa me fazer mal, muito pelo contrário, ali parado está um rapaz cuja cor dos cabelos me intriga e alegra muito.

Não fui capaz de segurar meus pensamentos em mente.

— Azul...?! – Bufo num sussurro abafado, fazendo ar quente se condensar para fora de meus lábios.

Ele me olha confuso, e então envolve meu pescoço com um cachecol rigorosamente igual ao que usa. Preto com uma listra vermelha.

— Está frio – diz, juntando as mãos e soprando-as.

Fico estática. Não posso acreditar no que meus olhos contemplam. Ouvir falar e presenciar são coisas loucamente diferentes. Existiam mesmo pessoas como eu. Não pude desviar os olhos de seus fios lisos, macios e... azuis! Mais azuis que os meus... Estou realmente feliz, apesar da expressão inerte que se instala em meu rosto.

— Algum problema...? – Questiona ele, com as mãos ainda juntas à boca.

Após alguns segundos de silêncio, passa os dedos entre os fios azulados como um pente, e é ai que percebo estar focada demais em seu cabelo. Quando finalmente fito seus olhos, que por acaso também são azuis, me sinto o ser mais idiota deste mundo destruído! Ele me observa muito contrariado. Meu rosto começa a queimar. Eu não o respondi, além de não ter dito nada a mais do que a palavra “azul”.

— Oh... Me-me desculpe! Eu só... – Não consigo formar uma única frase, mesmo que meu cérebro esteja a mil.

Mas ele apenas sorri. Literalmente. Até seus olhos sorriem. Já o achava muito simpático com aquela cara confusa, não sou capaz de achar um adjetivo a altura de seu sorriso.

— Tudo bem. Eu me chamo Kaito, vim te buscar. Seja bem vinda à Tóquio – diz sorrindo, e então começa a caminhar.

Visto rapidamente o casaco que ele havia posto sobre meus ombros. É quente e confortável, e começo a segui-lo.

Pensando melhor sobre momentos atrás, um pequeno sorriso molda meus finos lábios. Devo ter parecido-lhe uma boba, o que não deixa de ser verdade. Aperto os passos meio desajeitada para conseguir acompanhá-lo. Ele é calmo, mas rápido.

Caminhamos por volta de uns 10 minutos em absoluto silêncio, até que Kaito finalmente diz:

— Está com fome?

Faço com a cabeça que não. Uma grande mentira. Meu estomago se contorce. Faz, aproximadamente, seis horas que não como nada. E minha última refeição fora um pão dormido acompanhado de meio copo de chá verde. Saí de casa durante a noite e as pressas, não tive tempo para uma refeição decente.

— Bem... estou morto de fome. Se não se importa, vamos dar uma pequena pausa – afirma ele, coçando a nuca num sorriso brincalhão.

— Tudo bem...

Há uma loja de conveniências não muito longe. Não resisto a observar todos os detalhes. Estou fascinada. Cada letreiro, cada porta de vidro, absolutamente tudo é incrível para mim. Mas tento ser bem discreta, afinal, não quero que Kaito me ache mais idiota do que eu já mostrara ser mais cedo.

Ele compra um nikuman e duas latas de café quente. Deu uma a mim e metade de seu nikuman também. Quis muito ser educada e negar, mas a fome fala mais alto, aceito sem hesitar. E não me arrependo, está uma delícia, quentinho! Cai muito bem neste tempo frio.

Assim que terminamos de comer, Kaito se inclina para ver algo dentro da loja através da vidraça, o que suponho ser um relógio, visto que logo após quase bater de cara no vidro ele se vira a mim e diz:

— Droga, é melhor nós corrermos!

E então me puxa pela manga do casaco por um logo caminho. Aos poucos um enorme portão de metal opaco entra em meu campo de visão. Paramos frente a ele ofegantes. Kaito inspira o ar com força e se recupera em um instante. Já eu, mal consigo sustentar o peso do meu próprio corpo. Desabo no asfalto de joelhos.

— Me desculpe, eu devia ter sido mais cuidadoso com o tempo – Diz, me estendo sua mão direita.

Antes que eu possa juntar forças o suficiente para dar-lhe a minha, o portão se abre, e dele surge uma figura feminina, um tanto quanto, curiosa.

A pouca roupa que a cobre vibra num tom vermelho carmesim, tem cabelos cortados rente ao queixo e em um de seus braços estão gravados dois números zeros. Não consigo tirar os olhos deles.

— Está atrasado, idiota! – grita a mulher espremendo o rosto de Kaito contra seus seios. Não sei se continuo parada ou se cubro o rosto. Não estou acostumada com esse tipo de relação tão... explicita. Em Sakata as pessoas sempre foram muito reservadas...

— Desculpe, o trem atrasou – responde ele tentando se livrar.

— Então essa é a guria nova? – agora seu braço envolve o pescoço de Kaito, apesar dele lhe ser mais alto, e ela me fita com um sorriso rasgado no rosto.

— Po-por favor, tome conta de mim – consigo gaguejar as fracas palavras.

— Tomar conta de você?! Cê não acha que já tá bem crescidinha não? Aqui, é cada um por si! – diz entre risadas.

— Meiko, você está assustando a menina! Ela veio do interior, lembra?! Tem bons modos.

— Por enquanto... – sussurrou a mulher dando-nos as costas.

De fato estou muito assustada. Este lugar não me parece em nada com um teatro ou qualquer outro local onde possa ser realizada uma audição, de acordo com os livros que pesquisei. E essa mulher escrachada me reprimi.

Ela nos guia por caminhos cobertos de ferro do chão ao teto, adentrando portas automáticas que se abrem logo que nos aproximamos. Eu entro em estado de pleno arrebatamento diante de tudo aquilo. Até que chegamos a uma porta diferente, com luzes e uma pequena tela, Meiko aproxima o pulso da telinha e ela também se abre. Atrás, uma sala enorme se mostra, e no meio dela, uma mesa metálica com uma cadeira grande, onde se senta um homem fardado.

— Capitão, aqui está a novata.

— Olá novamente, minha jovem – diz ele com aquele sorriso firme que eu já havia conhecido.

— Se-senhor Hiyama?! – Fico tão feliz em vê-lo, mas a felicidade dura pouco.

— Fico contente que tenha aceitado meu convite pacificamente – Ele soa arrogante e prepotente.

— Hã? Como assim pacificamente...?

— Bom minha querida, sabe como as coisas são – diz levantando-se de seu assento – Agora vamos ao que interessa – Entrega algo a Meiko e diz-lhe: – Podem começar o processo.

— Sim senhor!

— Um momento, o senhor não acha mais justo contar a ela o que está acontecendo primeiro? – Tenta interferir Kaito.

— Não venha me falar de justiça, fedelho! Nenhum de vocês tem direito a isso. Apenas acatem as ordens. Agora saiam da minha frente!

Não soube como reagir a toda aquela situação. Fico mais que confusa. O homem gentil que me encheu de sonhos, agora é presunçoso e me manda para algo que eu não tenho ideia do que seja. Meu coração acelera a cada passo que nós três damos ao longo do corredor. Sem me manifestar, deixo que me levem até algum tipo de laboratório, onde um velho de aspecto rude nos espera.

— Obrigado por sua cooperação Kaito, está liberado – diz Meiko ao adentrar o local.

— O que está dizendo? Eu pretendo acompanhar to...

Sem deixar que o azulado termine sua fala, a mulher acastanhada o beija na bochecha e fecha a porta entre eles.

— Doutor, esta é...

— Zero um, quanto tempo. Pensei que nunca mais fosse te ver – Diz o homem se aproximando.

Eu entro em pânico com a cena daqueles dois. O que ela não quer que ele veja? E agora este velho acercado a mim. Dou passos para trás até ser travada por Meiko.

— Não precisa se assustar guria.

— Isso mesmo, minha criança! Não há o que temer – fala o velho, bem baixinho enquanto me estendia a mão. Fito Meiko em busca de uma resposta que me dê medo, mas ela sorri e assente com a cabeça. Então, decido segurar a mão do chamado “doutor” e ele me conduz a uma maca moderna, toda aparelhada, me entregando um roupão.

— Vista isso criança – Diz ele entrando num anexo.

A mulher carrasca me ajuda a trocar de vestimentas e quando o homem volta, me faz passar por muitas máquinas, além de coletar meu cabelo, sangue e qualquer outra coisa que pode. Ainda estou confusa e com medo, mas o velho doutor, apesar da aparência, é muito gentil. A primeira frase que ele disse quando me viu não sai da minha cabeça. Então resolvo perguntar, mesmo temendo a responta.

— Doutor, o que quis dizer com “pensei que nunca mais fosse te ver”?

— Hã? Ah, claro que não se lembra, ainda era muito pequena quando te levaram, mas você nasceu aqui, exatamente neste laboratório. Na mesma incubadora que Kaito passou muito tempo. Ah, aquela incubadora azul...







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Notas finais do capítulo

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Até o próximo!!



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