Por Trás da Voz escrita por Neko Kodokuna


Capítulo 1
As Palavras de Miku


Notas iniciais do capítulo

Olá Olá!!
Esse é o começo... O que mais eu posso dizer?! Esse capítulo está na primeira pessoa, mas como é de costume meu, devo mudar pra terceira a partir do segundo!
Faço isso pra vcs conhecerem um pouco a protagonista!! Não me batam TT^TT
Bom, tentei o meu melhor! Espero que gostem! ^^
Boa leitura!



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Yamagata – 30 de agosto de 2072

O outono já mostra suas marcas.

As árvores ficam cada vez mais manchadas em seus vermelhos e amarelados e, finalmente, a temperatura começa a cair.

Especificamente hoje, o céu é mais cinza, e as nuvens fumacentas parecem borrifadas no tecido azul desbotado.

Me pergunto se tudo foi sempre assim... Mesmo antes da guerra.

As cidades estão sendo reconstruídas aos poucos, e em Sakata não é diferente. Apesar de ser uma cidade do interior de Yamagata, com sua economia baseada na agricultura e pesca, dizem que antes da guerra ela era moderna e bem estruturada.

Tudo parece tão sombrio agora, os prédios se desfazem como bolachas no leite. Não fossem as pessoas transitando aqui e ali, eu diria que é como uma cidade fantasma. Será que as boas obras nunca irão se alastrar o suficiente para que alcancem Sakata?!

Mas ainda que seja assim, não me incomodo de morar aqui. O clima é bom e as pessoas são equilibradas e gentis, bem, pelo menos nos dias de hoje. O grande problema de Sakata é que nada nunca acontece por aqui. Nada muda, o tempo não passa. A população é sempre a mesma, ninguém nunca chega ou se vai. Os rios correm eternamente calmos em direção ao oeste. Por vezes me sinto cansada e essa sensação é sufocante, quero gritar, mas temo que toda a cidade me ouça.

Nunca fui alguém normal, se olhassem para mim parada no centro das feiras com certeza diriam que sou uma alienígena. Ao contrário do resto da população de Sakata, meus cabelos não são castanhos e não tenho olhos cinzentos, muito diferente disso. Meus longos fios azul-esverdeados ultrapassam meus quadris e os olhos acompanham o tom vibrante. Minhas unhas também são desta cor notável e, inexplicavelmente, tenho gravado em meu braço esquerdo os números 0 e 1. Já perguntei milhares de vezes à irmã Aiko o que aquilo significa, mas tudo que ela diz é: “Deus tem seus mistérios, só nos cabe confiar no seu imenso amor”, entretanto eu nunca entendi muito bem como essa coisa toda de Deus funciona. Tudo que eu sei é que apareci nas plantações de arroz ao sul de Sakata durante a terceira guerra mundial, aos meus oito anos e não lembro de nada que me aconteceu antes disso.

Vivo num convento simples próximo ao local onde fui encontrada. Aqui, minha infância foi tranquila e descomplicada. Tinha muitos pesadelos e as vezes era apontada como a menina que molhava os edredons, mas isso nunca me perturbou realmente. O que eu não aguentava era o modo como os outros me olhavam, era como se eu fosse uma aberração. Alguns evitavam me tocar ou dirigir a palavra a mim. Lembro de chorar todas as noites naquele tempo.

O Japão todo estava em crise e tínhamos que nos reunir no salão principal todas as noites antes de ir para cama para orar por nossa nação. Ninguém queria segurar minha mão e então a irmã Aiko passou a nos fazer rezar separados, mas eu chorava mesmo assim. As palavras suaves e macias que a irmã oferecia aos soldados me tocavam ao intimo. E eu me sentia horrível por chorar apenas pelo fato de as pessoas não me aceitarem, pelo menos eu tinha comida, abrigo e a irmã Aiko, enquanto eles estavam em campo lutando e morrendo por nós. Isso me fazia chorar ainda mais e só parava quando ela me cobria com cobertores felpudos e acariciava meus cabelos até que eu adormecesse.

Com o tempo fui me tornado uma cidadã de Sakata e as pessoas não me ignoram mais, como eu já citei, elas são bem gentis. Acho que só tem medo de mim.

Do mesmo modo que ficaram assustadas quando num dia de verão, um estranho chegou em um aerodeslizador prateado. Ele surgiu do nada, aterrizando nos campos de arroz.

Lembro de estar deitada naquele momento e ver a bandeira de Tóquio estampada na asa esquerda do veículo. Fiquei estupefata. Em Sakata não temos muitos meios de transporte, até porque tudo é tão perto, não costumamos nos deslocar.

O homem que saiu lá de dentro vestia um uniforme branco, óculos e tinha os cabelos bem penteados. Todos o olharam de lado.

Eles não gostam de estranhos.

E̶l̶e̶s̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶g̶o̶s̶t̶a̶m̶ ̶d̶e̶ ̶m̶i̶m̶

São gentis, mas eu sei que no fundo, eles não gostam... Isso não me incomoda, porque a irmã Aiko sempre está comigo, mas parece que aquele estranho se incomodou. Ele estava sempre ereto e começou a franzir o cenho quando as pessoas resistiram a seus cumprimentos. Pensei em ir até ele para ajudá-lo, porém não foi preciso. Logo que me viu, praticamente correu ao meu encontro. “Talvez tenha me confundido com alguém da capital” pensei.

O rapaz parecia calmo, mas seus olhos vibravam ao me fitar.

“Talvez alívio por encontrar alguém diferente em meio a todos aqueles clones”.

Ele se abaixou e disse: “Olá, eu sou Hiyama Kiyoteru. Que tal se tornar uma cantora, senhorita?”

Não entendi nada de começo, entretanto, mais tarde quando o mesmo explicou tudo, algo se agitou dentro de mim.

Ele dissera que em Tóquio havia muitos como eu. Disse que eu pertencia a VOLCA e que o número no meu braço era a comprovação. Ele sorria, e seu sorriso era diferente, não era gentil, mas firme, ele não tinha medo de mim.

Quanto mais o moreno falava da capital, mais meus olhos brilhavam. Tudo parecia tão perfeito lá.

Eu já sabia da existência da organização VOLCA, afinal, todos ao redor do mundo a conhecem, mesmo aqui onde quase não temos televisões ou computadores, sua influência é visível.

Suas músicas tocam diariamente nas rádios, e elas falam do poder de nossa nação subjetivamente, eu sei. Eles são vistos como heróis da juventude.

Mas tudo isso parece muito improvável, nem cantar eu sei.

“Como posso fazer parte de uma coisa tão grande?! Sempre vivi pacatamente sendo ignorada. É como um sonho. Como ele me achou? Quem é ele? Eu sou uma... uma vocaloid?”

O homem a minha frente disse que sim e me entregou uma carta que me convocava a uma audição em Tóquio em uma semana. Não pude acreditar.

Mesmo depois que ele se foi em seu aerodeslizador, eu continuava a observar o céu vazio com a carta junto ao corpo.

Naquela noite, irmã Aiko me disse que Sakata nunca foi o meu lugar. Ela disse que eu nasci por um objetivo maior e que meu futuro era brilhar.

Eu a abracei o mais apertado que pude e não consegui segurar as lágrimas que vazavam pelos cantos de meus olhos. Enquanto eu soluçava, ela ria e acariciava delicadamente meus cabelos.

Faltam exatamente dois dias para minha grande viagem, mal posso esperar. Minhas mãos ainda tremem e não consigo dormir.

O que será que me aguarda além dos arrozais e dos prédios se deteriorando...?










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Notas finais do capítulo

É... É só isso mesmo... kk'
Se encontrar erros ortográficos me avise por favor! Ou se gostar... Ou detestar... De qualquer forma, deixe um comentário! Obrigado por ler!! ^^



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