Eu saí do avião apressada e pedi para o segurança levar as malas para mim. Se eu fosse rápida talvez não houvesse tumulto.

– Você é Felicity Caitlin?! – Uma garota não muito velha se aproximou rapidamente. – Ah meu Deus, pode tirar uma foto comigo?

Suspirei.

– Claro. Como é seu nome?

– Eillen. – Ela sorria.

– Vamos tirar uma selfie, Eillen.

Forcei um sorriso e fiz o símbolo de paz e amor enquanto Eillen pressionava o botão para tirar a foto.

– Obrigada. – Ela tremia tanto que parecia que tinha Parkinson.

– Por nada, meu amor.

Ela saiu andando feliz.

Por sorte o aeroporto estava vazio. Ninguém veria uma atriz internacional voltar para a cidade onde... Foi adotada.

– A senhorita deve ser mais rápida. – Lembrou o segurança apelidado de Parede. Ele era bem grande e tinha ombros largos. Exibia uma careca brilhante.

Quer controlar meus passos agora, além da minha vida toda?

– Ok. Tentarei.

Ele assentiu e continuou me rodeando, mesmo sem haver nenhuma ameaça no local.

– Entre rápido. – Ele pediu/mandou ao chegar perto de um carro que chamava atenção até demais.

– Espere aí. Vocês trouxeram esse carro para uma cidade do interior da Califórnia?

– Algum problema, senhorita?

– Não. – Revirei os olhos por baixo dos óculos escuros. – Vamos logo. – O carro era extremamente chamativo! Era bem grande e bonito, mas... Eu só queria ter uma semana normal!

Após uma curta viagem, chegamos ao condomínio habitado por meus pais, sua família e amigos.

– Eu vou junto. – Citou Parede após entrarmos no território cercado por portões de ferro e cercas elétricas.

– Não, você não vai. Isso é um exagero nível máximo. Acha que vai ter algum perigo na casa dos meus pais? Poupe-me. Você vai dar uma volta pela cidade. Procure um hotel para dormir.

– M-mas senhorita...

– Eu sou sua chefe. Eu estou mandando.

– O-ok...

Ele me deixou em frente à casa azul-marinho, tirou as malas de dentro do carro, deu meia-volta e foi embora.

Toquei a campainha e vi de relance cabelos azul-royal. Meu pai pulou em cima de mim em um abraço e disse várias frases típicas, como “Você demorou”, “Sentimos saudades”, “Você comeu vegetais?”.

– Também senti saudades... E sim, eu comi vegetais. Na verdade, só tenho comido isso... O diretor do filme era rigoroso...

– Ai que horrível! Ele é um desnaturado!

– Pois é... Mas não se preocupe, eu estou bem e em forma...

– Vamos entrar. Precisa de batatas-fritas, pelo que vejo. – Ele me olhou de cima a baixo.

– Pai! Onde está o... – Pensei bem em uma forma de chamar meu outro pai. – papai?

– Trabalhando. Foi sorte eu ter tirado o dia de folga, eu ando muito ocupado...

– Muitos desfiles?

Pois é. Meu pai era estilista. Eu aprendi tudo que sei sobre moda com ele.

– Não só desfiles... Minha rotina anda uma bagunça total...

– Entendi...

– Pintou o cabelo de novo?

– Não gostou? – O vermelho foi uma escolha meio retardada. Eu deveria ter mantido o rosa, mas... Eu enjoei após terminar o filme...

– Ficou melhor que o rosa...

– Estava tão ruim assim?

Ele lançou um olhar sarcástico e assentiu.

– Poxa, devia ter me avisado...

– Concordo. – Brincou. – Porém, ainda prefiro a cor original...

– Mas preto é sem-graça!

– Por isso mantenho os meus azuis. – Ele deu uma piscada e me deu uma porção de M&M’s de amendoim. Cara, como eu amo isso... – Iremos sair mais tarde...

– Sério? – Mas que droga! Eu queria ficar em casa...

– Sim. Todos nós iremos a um jantar incrivelmente sofisticado. – Ele fez uma expressão esnobe engraçada e saiu rebolando com duas malas até meu antigo quarto.

Com “todos nós” ele deve estar se referindo a meus tios e aos amigos.

– Se importa se eu der uma volta?

– Volta onde?

– Sei lá... Talvez sem rumo...

– Não volte tarde, lembre-se do jantar...

– Tudo bem...

Troquei de roupa e simplesmente fiquei com MEU estilo próprio uma vez em meses. Eles escolhiam até meus pijamas...

Quando digo algo MEU estilo, digo um macacão confortável jeans e uma blusa simplesmente simples.

– Tchau, pai.

Saí andando para lugar nenhum. O condomínio era realmente muito bonito. Jardins cercavam as casas ricas e com piscinas de tamanhos quase olímpicos. Flores eram espalhadas em canteiros pelo território todo. Na verdade, até a visão dos muros era bonita. Eles não eram sujos nem pichados. Exibiam cores pastéis com flores rosas e roxas em seu perímetro. Bancos de madeira estavam colocados graciosamente.

Em meio à caminhada, vi rostos familiares. Grace, Logan e Rebecca, meus primos, e os amigos deles.

– OLHA! A FELICITY VOLTOU! – Grace exclamou dando uma cotovelada no irmão e em Rebecca, que quase caiu do banco onde estavam sentados.

Fui até eles sorrindo e dei um abraço em cada um.

– Pensei que nunca ia voltar! Caaaara, você demorou muito! – Grace começou a dizer rapidamente, eu quase não entendia o que ela dizia.

– Quando vai lançar o novo filme? Eu estou louca para ver! – Rebecca dizia por cima.

– Me conta o final! – Logan dizia junto.

– Esperem aí. Vocês são primos DA FELICITY CAITLIN? – Jason, Ellie e Ryan estavam boquiabertos.

– Você não sabia? – Logan respondeu Jason com outra pergunta.

Eu ri, feliz em rever todos.

– Acalmem-se! – pedi. – Contarei tudo a vocês.

Todos sorriram.

– Poxa, vocês cresceram... – Reparei na altura deles.

– Felicity, tinha algum ator bonito? – Grace perguntou baixinho.

– Tinha vários. – Ergui a sobrancelha.

– Uepa, você tem contato com eles? – Rebecca interviu erguendo a sobrancelha também.

– Tenho...

As duas pularam.

– ME PASSA! – Disseram em uníssono. Uma sincronia quase perfeita.

– Passo... Mais tarde... Eles são bem mais velhos que vocês, pode ser?

– Depende, quantos anos eles têm? – Grace perguntou.

– Minha idade ou mais, eu acho...

– Você só tem 20 anos! Eu ainda quero o contato. – Rebecca disse.

Conversamos mais um pouco, até me lembrarem de que precisávamos ir para casa, se arrumar para o jantar que envolvia todos ali.

Voltei para casa e encontrei meu outro pai, Jade.

– Pai! – Dei um abraço nele. – Que saudades de vocês. – Puxei meu pai de cabelos azuis para o abraço também.

Trocamos algumas ideias, mas logo, me disseram para eu me arrumar. O jantar ia ser fora.

Suspirei/bufei e fui até meu quarto. Ele estava exatamente do jeito que deixei. Algumas luzes pisca-pisca dando alegria as paredes. Prateleiras cheias de livros, pelúcias espalhadas, a cama em lençóis lilás e o closet semiaberto.

– Ok... Se eu fosse meu estilista, Ruppert, o que eu escolheria para ir á um jantar super-chique?

Revirei um pouco todos os vestidos. Testei diversas cores diferentes. Nenhuma ficava boa... Argh! Por que eu tinha que pintar o cabelo? Nada combinava!

Resolvi usar uma coisa simples, já que nada dava certo. Era branco, sem alças e rodado. Algumas flores de sakura enfeitavam a barra.

Algumas joias não chamativas ajudaram a me deixar menos sem-graça.

Cinco minutos depois, estávamos dentro do carro, indo em direção á um restaurante mega-chique e sofisticado. Daqueles que qualquer tossida ou espirro pode ser uma falta de educação extrema.

Sentamos na mesma mesa em que a família de Rachel, Katie, Dianne, Harriet e Christie estavam.

Enquanto todos conversavam entre si, e Rebecca estava se auto-excluindo para jogar no PSP disfarçada e secretamente, eu comecei a reparar em minha volta.

O lugar todo era pintado e decorado em mais tons pastéis. Será possível? Por que todo rico gosta de tons pastéis? Eu ia ficar feliz se algum lugar desse tipo exibisse cores neon.

As mesas eram forradas com toalhas brancas e com um pequeno vaso com uma rosa dentro.

Famílias de classes sociais altíssimas (dava para ver pela cara) estavam sentadas educadamente e conversando felizes.

Ignorei alguns olhares assustados de pessoas provavelmente percebendo que eu era eu. Pelo menos ninguém quis tirar alguma foto...

Observando minha volta, vi algo que chamara minha atenção. Uma garota lindíssima, com cabelos loiros e olhos castanhos. Ela estava meio deslocada em meio a sua família e provavelmente seu namorado. Ela não parecia feliz. Deveria ter 20 ou 19 anos.

Não faço ideia do que deu em mim, mas ela me atraiu. Eu cresci com pais homossexuais, mas nunca pensei que... Talvez EU me sentisse atraída por garotas. Ou talvez fosse apenas momentâneo. Eu poderia estar assim porque ela era extremamente bonita.

Controle-se, Felicity. Você namora. Você tem um par quase perfeito. Oliver com certeza gosta muito de você. Oliver é lindo, inteligente e demais.

Em meio a outros olhares direcionados a aquela garota, ela percebeu. Lançou-me um olhar surpreso, me fazendo disfarçar e desviar os olhos para o prato, que havia acabado de chegar.

Comi, sem prestar muito atenção nos outros. Eu estava preocupada comigo mesma. Eu me enganei! Esse tempo todo pensei que gostasse de garotos, mas...

Pedi licença e fui para fora, tomar um ar. Sentei-me no chafariz iluminado que decorava a frente do local e cobri meu rosto com ambas as mãos, pensando.

– Hum, você é Felicity Caitlin? – Aquela garota loira apareceu do nada em meu lado.

– S-sou sim...

Ela pareceu ficar surpresa.

– Eu gosto tanto do seu trabalho!

– Obrigada... – Sorri.

– Parece triste, e... Você estava olhando para mim...

– Perdão, eu não percebi que olhava em sua direção... – Menti.

– Ah... Eu pensei uma coisa...

– O que...?

– Esqueça. Não é nada. O que está fazendo nessa cidade?

– É minha cidade natal... Eu vim passar um tempo com minha família e amigos...

– Oh. Sério? Pensei que atrizes como você viviam em cidades ricas...

– Nem todas. – Sorri. – Eu tenho que voltar para lá. – Tentei cortar o amor pela raiz. Não é por causa da homossexualidade... É por causa de Oliver – Prazer em conhecer... Qual é seu nome mesmo?

– Rubie... Rubie Da Santa.

– Prazer em conhecê-la, Rubie.

E ela nem pediu uma foto.

– Espere... – Ela se levantou e foi até onde eu estava. Aproximou-se graciosamente e me deu um selinho. Foi apenas um selinho. O selinho da minha vida. Meu coração quase pulou para fora. – Desculpe, eu tive que fazer isso...

– T-tudo bem... – Gaguejei e a olhei surpresa.

Pois é. Eu definitivamente comecei a gostar da tal Rubie sem nem conhecê-la. Amor à primeira vista existe, não?