Ding-dong

Diiiing-doooong.

– Calma, eu não possuo a velocidade da luz. – Disse ao abrir a porta e encontrar Ryan. Estranho. Muito estranho.

– Desculpe, pensei que não tivesse ouvido... – Justificou. – Mas enfim, vim aqui te recordar que tinha de fazer um trabalho de biologia. Aposto que esqueceu. A professora me mandou te lembrar.

– Putz, até a professora. Obrigado. É pra quando? – Sim, eu havia esquecido completamente.

– Sexta-feira.

– E hoje é que dia...? – Perguntei confuso.

– Já procurou um médico? Isso pode ser Alzheimer... Hoje é quarta.

– Ha. Ha. Engraçadinho.

– Não é brincadeira...

– Sei. Já que está aqui... Pode me dar um conselho? – Eu disse, sem querer, apenas sendo levado pela minha extrema necessidade de falar com alguém.

Ele me olhou profundamente, em tom de “sério isso?”, afinal ele não era a melhor pessoa para dar conselhos.

– Posso, mas não garanto que vai funcionar... – Ele disse.

– Sem problemas. Entre. – Eu só queria desabafar.

– Licença. – Pediu. – Então... O que aconteceu? Não é de sua natureza ficar com essa cara...

–... Eu... Eu vi Rebecca ficando com aquele carinha de nome estranho. – Disse, finalmente.

– Tarik? Não vejo problemas. Por que está assim então?

– Não percebeu? Eu gosto dela! Eu gosto muito dela!

– Não, eu não havia percebido. Mas agora que sei vejo o problema... O que vai fazer?

– Eu só queria algo que me fizesse desistir dela! Não aguento mais pensar naquela garota!

– Desistir não é uma opção, cara. Se você tentar esquecer só vai piorar a situação. Acredite, eu já tentei.

– Mas... Mas eu estava tão perto! Tinha conseguido me aproximar o bastante! Ela tinha me notado... E então aparece aquele cara!

– Jason, ela o faz pouco tempo. Não há possibilidades de ela o amar.

– Mas então por que se beijaram com tanto gosto?! Pareciam que estavam se comendo! ELE IA ENGOLIR ELA VIVA!

– Jason, não me dê detalhes. Tenho certeza de que você é um ótimo amigo para ela.

Olhei triste para o chão. Não queria nem a amizade agora.

– Ela disse exatamente isso. Disse que se eu precisasse, estaria lá. Eu estaria lá também. Eu sinto falta das nossas conversas... Sinto falta dela.

– Vocês estão se envolvendo faz quanto tempo?

– Uns 6 meses.

– Pensei que fossem dias. Agora sim entendo a profundidade...

– Nós... Nós tínhamos tudo para nos amar. Eu tracei um mapa pensando em meu futuro com ela. Um lugar melhor. Minha vida feliz. Mas agora... Agora só sobraram ruínas...

– Jason, você e exagerado.

– Eu ouço a voz dela quando vou dormir. Não consigo a esquecer. Mas onde está ela agora? Está com Tarik, enquanto sofro. Me lamento. Enquanto eu estou me destruindo de dentro para fora.

–... Jason...

– Eu não apenas gostava dela. Eu a amava. Eu a amava muito. Gostar e amar não são palavras fortes o bastante. Eu daria minha vida por ela. Daria sem pensar.

– Então siga o mapa que traçou. Siga para outra direção. Que não seja ela.

– Não dá! O mapa só vai até ela. Não importa em que encruzilhada eu entre. Só dá nela.

– Já pensou se ela quisesse apenas ficar com Tarik? Sem mesmo ama-lo? Isso pode ter acontecido. Como se fosse mais um para a lista.

– Pensei que só garotos faziam isso...

– Eu não faço. Nem você... Logan... É, Logan faz.

– Eu poderia começar a fazer! Eu poderia tentar esquece-la assim! – Olhei, feliz finalmente, para Ryan.

– Você? – Ele riu. Não era comum ouvir a risada dele. – Você ia piorar a situação. Têm sentimentos muito fortes. Ia se apaixonar por outra garota.

– Não custa tentar! Onde se encontram garotas fáceis? – Perguntei, me sentindo estranho por dizer isso.

– Sei lá. Não costumo fazer isso.

– No parque? VAMOS PARA O PARQUE?!

– ‘Vamos’ não. Você vai. Eu vou para minha casa fazer meu trabalho de biologia.

– AH, QUAL É! VAMOS! VOCÊ PODE FICAR COM ALGUÉM TAMBÉM! – Eu estava quase gritando.

– Jason, você realmente acha que vai dar certo? – Ele perguntou sério, olhando diretamente para meus olhos.

–... SIM!... Não... Não vai.

– Que bom que admitiu. Eu vou embora agora. Tchau.

– Tchau... Obrigado... – Fechei a porta quando ele saiu.

O jeito é fazer a pesquisa de biologia.

___

– Jason parece estranho. – Ouvi minha mãe comentar do andar de baixo.

– Idem a sua opinião. Ele usualmente é tão animado... Parece que algo o abalou. – Meu pai disse.

– Falamos com ele ou o deixamos resolver os próprios conflitos?

– Bem, eu não gostaria que meu irmão se intrometesse em meus problemas pessoais. Se ele vier a falar conosco, diremos o certo. Tudo bem?

– Também acho adequado. – Ela concordou.

Eu estava preocupando meus pais também. A todos.

Eu com certeza não irei falar com eles sobre isso. Pode parecer drama, mas... São meus sentimentos... Vou falar com Rebecca sobre isso. Dizer o que eu sinto. É a melhor alternativa, deixa-la a par de tudo que sinto por ela.

Saí de casa tentando me encontrar, tentando encontrar uma solução, mas nada passava em minha mente. Nada.

– Ei! – Um casal idoso esbarrou em mim.

– Desculpe, não te vi. – Eu disse secamente. Não importaria se fosse o Superman, eu ia ser grosso.

– Não foi nada. Só preste atenção. – A mulher disse.

– Tudo bem.

– Na verdade... Pode nos ajudar? – Ele pediu.

– Como? – Perguntei, ainda seco.

– Sabe onde é a casa de... Alexy Boudreax?

Da última vez que isso aconteceu, acabou virando uma confusão maligna. Não ia dizer nada.

– Não. Não sei. Desculpe.

– Ok, ok. Vamos achar sozinhos. – Ela sorriu com um olhar maligno.

– Faça sua busca, então. – Saí andando sem rumo algum.

Eu não estava percebendo para onde estava indo, era um daqueles momentos em que seu cérebro te comanda, sem você perceber. Eu só me dei conta de onde estava quando Rebecca atendeu a porta.

MAS QUE BOSTA, JASON!

– Hm, olá, Jason. Você parece estranho, o que aconteceu?

–... Eu... Eu... – Senti meu rosto corar violentamente. Eu ainda estava me xingando.

– Quer entrar? – Ela perguntou, sem querer saber o que eu ia dizer.

– Não, não quero incomodar. Eu só queria dizer que...

– Desembucha!

– Que eu vi você beijando Tarik e que eu fiquei com muitos ciúmes. Sabe por quê? Por que eu te amo. Por isso. – Eu disse rapidamente, sem dar tempo para perguntas.

– Jason, você é uma pessoa muito brusca. Eu não entendi nada.

Jason, você é um tapado.

Eu expliquei ainda corado tudo que sentia por ela, o que a fez corar também.

No final de tudo isso, ela acabou ficando muito rosa.

Isso é bom?