Coisa de Brasileiro escrita por NamelessChick


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então pessoas, essa aqui é basicamente minha primeira one-shot e minha primeira fic yaoi também. Só vi o desafio de abril e decidi me arriscar, hehe. Enfim, espero que gostem da história, não sei se ficou interessante, mas me esforcei para que ficasse bem legal. Agora chega de papo. Boa leitura ^^

Edit (21/12/15) -> História reescrita, não sei se passei o limite de palavras do desafio, mas... Bem, se passei, que pena :P



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Já havia chegado a este maldito país uma semana antes da tal exposição que aconteceria em poucos dias. Não suportava mais o calor terrível dessa terra e essa gente tão sufocante. São Paulo ainda estava muito longe de chegar ao esplendor de Paris. Sinceramente, se a expectativa de todos quanto essa mostra artística não estivesse tão alta, dificilmente eu me daria o trabalho de vir para esse Brasil. Todos comentavam a respeito da exposição, então fui praticamente obrigado a embarcar num navio e vir aqui, nesse hotelzinho que mal beira o aceitável.


**

Quando finalmente chegou o dia da exposição, rapidamente me arrumei. Demorei poucos minutos para chegar, dada a proximidade de onde estava até o teatro e a alta velocidade da minha locomoção, e assim que cheguei fui reconhecido por algumas pessoas — confesso que sempre achei divertido notar a tensão alheia quando me aproximava —, que inclusive, vieram me cumprimentar. Perguntaram o que eu achava da exposição, e não acreditaram quando eu lhes dizia que não havia opinião formada (o que, de fato, não tinha). Até então, não havia adentrado o local e visto as tais obras. Depois de perder um tempo precioso conversando banalidades, finalmente entrei no teatro.

Admito que fiquei um tanto surpreso com o que vi ali. Contudo, permaneci em silêncio. A princípio notei que alguns encaravam-me, e cochichavam entre si. Incômodo, realmente, mas depois de um tempo passei a bloquear tudo e todos. Foquei-me tão só e unicamente nas pinturas a minha frente. O tempo discorria e eu mal notava. Já haviam se passado duas horas e não chegara à metade de tudo o que estava exposto.

Minhas pernas então começaram a sinalizar o cansaço da caminhada: foi quando decidi me sentar. Encontrei um banquinho, duro e desconfortável, mas serviria. Puxei meu bloquinho de anotações, junto com meu lápis do bolso do paletó e comecei a esboçar algumas palavras.

“Qu'en est-il de cette exposition d'art? Je suis encore sur mon premier jour et je ne peux pas empêcher de remarquer ma grande surprise et celle des autres téléspectateurs sur ces œuvres, qui sont certainement un ..." (E quanto a esta exposição de arte? Ainda estou em meu primeiro dia e não posso deixar de notar a minha surpresa e a dos demais espectadores sobre estas obras, que são, certamente, uma ...)

Uma o que?

Eu não sabia o que escrever dali em diante. Estava profundamente dividido em sentimentos. Entre o horror e a paixão de estranhos que ali se encontravam. Mas... E quanto a mim? O que eu sentia por tais obras? Qual minha opinião sobre o que havia visto? Estava prestes a mergulhar em meu mar pessoal de questionamentos quando fui acordado de meu devaneio à força, com alguém se sentando ao meu lado, perguntando que horas eram.

— Senhor? — Perguntou-me uma voz, em inglês, com um sotaque diferente e mas ainda estava um tanto atordoado e logo, ignorei-a.

— Senhor? — Senti agora, além da voz, um pequeno cutucão.

— Sim, pois não? — Respondi em inglês também, ligeiramente irritado.

— Poderia me informar que horas são?

— Ah, sim, claro. — Instintivamente puxei meu relógio de bolso e consultei o horário. "Três e meia", respondi, seco e sequer encarar o homem.

— Ah sim, muito obrigado. — Ele agradeceu com tom simpático, fez um cumprimento em agradecimento com o seu chapéu e saiu andando.

Revirei os olhos e voltei a escrever. Ou pelo menos, tentar. Não sabia o que escrever antes de ser interrompido, imagine agora. Decidi andar mais, então. Dessa vez, fui dar uma olhada nas obras nem tão prestigiadas. Elas em sua maioria eram meros reflexos dos grandes destaques, basicamente não haviam me ajudado muito no quesito "opinião".

**

Havia andado por mais meia hora e nada. Estava quase desistindo quando, de repente, deparei-me com três telas. Curiosas. Eram as coisas mais instigantes que eu já havia visto em toda a minha vida de crítico.

— Céus, que obras... — Pensei alto, tomado pela beleza exótica a minha frente.

— Que disse, senhor? — Aquela mesma voz de antes falou comigo, novamente, em inglês.

Percebendo que eu havia falado em francês, me virei para o homem, e o respondi no idioma americano.

— Ah, nada demais, meu jovem. Estou apenas impressionado com estas telas aqui.

— Jura? — Indagou surpreso e com um sorriso enorme que juro, poderia ter irradiado luz para todo o ambiente. — Eu... Eu não sei nem o que dizer.

— Como assim? — Interpelei genuinamente confuso.

— Ah, claro, sim. — Ele respondeu sem jeito, e eu não sei porque, senti uma vontade de rir de seu jeito — As obras são minhas.

Arregalei os olhos, pasmo. Não podia acreditar que aquelas obras eram daquele homem. Como não me dei conta que ele era o artista expondo-as? Aliás, que ele fazia ali? A maioria dos pintores não se encontravam nem no Brasil, muito menos presentes na exposição.

— O quê?! — Deixei escapar.

— Ei, o senhor não é aquele que acabou de dizer-me as horas? — Desviou de minha interjeição com maestria. Tinha que ser brasileiro.

— Hum... — Fiquei um tanto sem jeito quando notei seu sorriso cada vez maior se desfazer rapidamente em dúvida. Ele tinha um jeito tão diferente. E corpo agradável, esteticamente falando. Parei de analisá-lo quando notei minha demora, pigarreei e o respondi. — Sim, sou eu, mas... Que faz aqui? Não pensei encontrar nenhum expositor brasileiro aqui hoje.

— Ah, mas eu não sou qualquer expositor brasileiro, Sr. Louis — Retrucou com um tom presunçoso e sorriso malicioso. Senti um calafrio quando ele pronunciou meu nome. Ele o pronunciou de modo tão... singular. Coisa de brasileiro, é claro.

— Que quer dizer com isso? — Tentei soar mais sério e ele caminhou até meu lado, ficando frente a frente comigo.

Me perguntei o porquê da proximidade. Até mesmo aquele cutucão anterior voltara à memória. Só me responde, diabos, não precisa me encarar ou vice-versa. Ah, esses malditos brasileiros.

— Sr. Louis — Novamente pronunciou meu nome, fazendo questão de enfatizar seu conhecimento sobre mim. No mínimo foi perguntar às horas sabendo quem eu era e o que estava fazendo ali. Malandro, claro.

— Olhe para minhas pinturas... — Ele colocou sua mão sobre meu braço, senti um arrepio (não sei porque diabos), e me fez virar para os objetos de apreciação.

— O senhor realmente acha que eu seria tolo o bastante para deixá-las aqui expostas e ir embora? Sem dar a estas belezas a devida atenção? — Ele deixava sua voz cada vez mais grave a cada pergunta.

Ou será que era impressão minha? Diabos, que estava acontecendo?

— Não teme a presunção, meu caro? — Respondi de maneira deliberadamente rude, me afastando um pouco. Aquela proximidade estava ultrapassando os limites do incômodo.

— Como poderia eu ser presunçoso, quando estou meramente constatando a realidade? — Retrucou, e novamente, deu um passo ao lado, se aproximando. O que ele queria com aquilo?

— Há — Ri sarcasticamente —, admito que sua ousadia me diverte. — Creio que soei nervoso, mas talvez o sotaque disfarçasse essa pequena nuance vocal.

— O senhor realmente gostou?

— Bem, não adianta negar, uma vez que já me senti tocado por elas. — Tomei o caminho da sinceridade, afinal, seria inútil negar. Um sorriso ainda maior que os anteriores surgiu no semblante do artista.

— Ah, Senhor, isso é ótimo. — E sem que eu pudesse me dar conta, senti braços envolvendo meu corpo.

Por alguns segundos, congelei. Foi como se o tempo tivesse parado. Mas que diabos? Demorei mais do que deveria para perceber que recebia um caloroso abraço. Assim que dei por mim, dei um empurrão no brasileiro, enfurecido.

— O senhor enlouqueceu?! Não tem senso de compostura algum?!

— Oh, perdão, Senhor. — Respondeu cabisbaixo e enrubescendo. — É que pela primeira vez alguém importante gostou de minhas obras e... Deixei-me guiar pela emoção momentânea, por favor, mil perdões. — Estava com a fala um pouco atrapalhada, e o sotaque ficou mais forte, tive certa dificuldade em entendê-lo.

Fiquei um pouco sem graça, porém, quando assimilei suas palavras. Exagerei em minha reação, admito. Mas é que... Nunca antes um homem havia me abraçado assim. Nem mesmo meu pai ou irmãos. Nada além de apertos de mão ou o tradicional cumprimento francês. Esses afeto tipicamente latinos... Deixo aos latinos. Senti-me estranho. Mas... Não foi de todo ruim aquele abraço.

— Tudo bem, tudo bem, não precisa se desculpar. Sei bem como é deixar se levar pelo momento. — Relevei.

— Ah, sabe? — Agora a malícia se apoderou de seu tom. Meu Deus, como ele muda de atitude tão rápido? Que coisa mais... Brasileira? Não, não. Não pode ser. Confusa, isso sim.

— O que quer dizer com essa pergunta?

— Ora, nada, só perguntei por perguntar. Nunca vi um crítico deixar-se levar pelo momento, entende? — Perguntou segurando firmemente meu braço. Outro arrepio.

Afastei-me bruscamente mais uma vez, e vislumbrei a sombra de um sorriso no rosto do homem.

— E nem vai ver de novo. Somos quase sempre contidos.

— Mesmo? — Disse em tom desafiador.

— Está insinuando alguma coisa? — Minha irritação veio sem rodeios.

— Não, nada. É só que...

— O quê?!

— Nada, Senhor — Sorriu, resignado e simples, provocando-me.

— Me pergunto como um artistazinho como você conseguiu pintar essas obras tão brilhantes — Rebati rispidamente.

— Ora, o que te faz pensar que sou um artistazinho? — Notei uma irritabilidade recíproca

— Nada, nada. — Revirei os olhos — Licença, tenho coisas mais importantes a fazer. As obras valeram a pena, mas a concessão de suportar seus abusos é...

— Não quer ficar mais um pouco? — Me interrompeu, na maior cara de pau, e senti sua mão segurando meu braço mais uma vez, e o puxou levemente para baixo, como se tentasse me fazer ficar ali por mais tempo, o fuzilei com o olhar, mas não pude evitar aquele calafrio estranho percorrer minha espinha, acabou me soltando, mas com uma expressão tristonha. Eu estava além da capacidade humana no que diz respeito a "sentir-se confuso".

— Er... — Fiquei encabulado com a repentina tristeza. Não sabia como reagir às mudanças de atitude tão espontâneas e repentinas do homem. — É que eu tenho que começar minhas anotações, entende... — Começei a me justificar, contudo, no meio da sentença caiu minha ficha:

“Por que diabos estou me justificando para esse brasileirinho? Ora, que coisa! Só devo sair e que se dane ele!”

Pigarreei me interrompendo e mudei o que dizia:

— Ah, quer saber? Não lhe devo satisfações.

— Não pedi satisfações, só lhe perguntei se queria ficar mais um pouco — Respondeu sério e aquilo me incomodou profundamente. Senti-me ofendido pela má resposta. Quem ele estava pensando que era para me tratar daquela maneira?

— Ei, trate-me com o devido respeito!

— Perdão, Sr. Louis, em que momento lhe fui desrespeitoso? — Agora assumiu um tom irônico que me fez o sangue subir à cabeça.

— Qual o seu nome, rapaz?!

— Por que o interesse em minha graça? — Soava brincalhão. Maldita intempestividade brasileira.

— Só me diga, ora!

— Meu nome é Charles. Charles Silveira.

— Bom saber, Senhor Silveira. Agora tenho um nome a atribuir às minhas críticas — Ameacei, esperando que agora por medo, se pusesse em seu devido lugar.

— Ora, ora, sempre bom receber elogios. — Provocou.

— E o que faz pensar que irei lhe elogiar? — Perguntei perplexo com a falta de senso daquele indivíduo. Levei aquela arrogância brasileira para o lado pessoal.

Suspirou profundamente, como se estivesse entediado com toda aquela conversa. Não entendi muito bem o porquê daquela súbita mudança de atitude (de novo) mas decidi ficar calado, fitando seus olhos. Aqueles olhos negros... E nesse silêncio intenso que se propagava entre nós dois após minha pergunta, pude notar ainda mais detalhes daquele homem. Sua pele corada, sua barba bem aparada, suas sobrancelhas grossas, seu nariz ligeiramente inclinado para a esquerda... Seus lábios bem definidos... Róseos... Macios, talvez?

Quando estava quase entregue à loucura, o rapaz deu um passo a frente, invadindo meu espaço pessoal. Prendi minha respiração. Não sabia o que ele ia fazer.

— Escute bem, Senhor, pois o que vou lhe dizer só direi uma vez. — Assenti involuntariamente com a cabeça — Eu reconheço meu talento. O senhor próprio reconhece meu talento. O senhor mesmo emocionou-se com minha arte, minha querida, e amada, arte — ele dizia tudo de maneira tão rápida e em tom tão ameaçador que permaneci atônito.

Caramba, como ele fala inglês bem para um brasileiro, quer dizer, apesar do sotaque. Que voz...

Prosseguiu falando, e me arrancou da ligeira distração.

— E não vai ser o seu gênio difícil que vai fazer com que os outros não reconheçam também o meu talento, entendeu? Se o senhor tem algum problema pessoal comigo, o que, diga-se de passagem, não faz o menor sentido — Revirou os olhos, mas logo voltou a encarar-me profundamente. — Não deixe que ele interfira em nossos trabalhos, capisci?!

Petrifiquei. Nunca ninguém havia falado comigo daquela maneira antes. Nunca. Eu me sentia estranho. Não sei explicar mas... Eu gostei da ousadia do brasileirinho? Não, acho que não... Acho que só fiquei muito impressionado com a atitude do jovem. Um ultraje, sem dúvidas. Coisa de brasileiro, acho.

Capisco! — Repliquei, ainda atônito. O hálito quente daquele rapaz ainda estava intoxicando minhas narinas, era canela. E eu ainda podia sentir sua mão forte segurando meu braço com firmeza. Mais arrepios.

Aparentemente feliz com minha resposta, me soltou, e sem mais nem menos, saiu andando. Fiquei lá, parado.

“O que acabou de acontecer?!” — Meu cérebro praticamente gritava comigo, não me reconhecendo.

“Vá atrás dele, agora!” — Alguma parte minha me disse isso, e eu fiquei confuso.

“Tem que mostrar que ele não pode falar assim com você!” — Meu cérebro deu razão à ordem dada. Pois bem, vou encontrar aquele brasileiro.

**

Saí andando por toda aquela galeria atrás do pintor atrevido. Agora era minha vez de dizer-lhe poucas e boas. Ora pois, quem ele pensa que é para falar comigo daquela maneira e sair andando e pensar que vai ficar por isso mesmo? Ah, mas ele está redondamente enganado. Vou mostrar a ele quem é que manda. Ora, se eu quiser escrever que as obras dele são uma subversão à arte ou dizer que ninguém deveria se dar ao trabalho de sequer olhar para elas, eu escrevo! Não interessa se isso tudo não passa de uma grande mentira, frente tamanha genialidade do rapaz e...

Droga, me perdi novamente.

“Mas o que está acontecendo comigo?” — Me perguntei entre suspiros cansados. Não achei o pintor. Decidi ir ao banheiro passar uma água no rosto. Estava tudo tão túrbido para mim. Havia perdido totalmente o foco das pinturas, não sabia mais o que estava fazendo, ou o porquê. Só queria minha velha Paris. Um bom vinho, nada mais.

Chegando no banheiro, uma raiva tomou conta de mim quando me olhei no espelho. Soquei a pia em desgosto.

— Merde! (Merda!) — explodi, em raiva. Sem resposta alguma, olhei para baixo, para a pia, e começo a praguejar tudo que me vem a cabeça no momento, quando de repente, senti mãos em minha cintura, forçando-me a virar pra frente.

Extremamente confuso, fiquei sem saber quem me virara, e eis que me deparei com o pintorzinho... Me encarando com uma expressão indecifrável, parecia me estudar.

— Que é?! — Gritei.

Nada em resposta. Apenas silêncio. Aquilo me enlouquecia.

— Por que me encara?! — Continuei exaltado.

E ainda, silêncio. Senti uma vontade sobrenatural de socá-lo até que falasse, mas como sabia que não podia ceder a esse ímpeto animalesco, respirei fundo e decidi sair do banheiro. Mas assim que me movi um passo para a porta, o rapaz tomou-me pelos pulsos e me empurrou contra a parede.

— O que é isso?! Enlouqueceu?! — Gritei me desencostando da parede. Avancei em direção da porta, mas vi que estava fechada.

— O senhor não cala a boca nunca? — Enfim me respondeu, revirando os olhos.

— O que disse?! — Estava quase perdendo o controle e pronto para destrancar a porta, mas quando proferiu aquele isulto, me virei para encará-lo.

Estava preparado para desferir-lhe um soco, mas então, para minha surpresa, algo diferente aconteceu. Senti... Uma pressão em meus lábios.

Ele estava me beijando.

Tentei empurrá-lo, mas ele forçou seu corpo contra o meu, prendendo-me contra a parede do banheiro mais uma vez. Minhas tentativas de me soltar seriam inúteis, mas não tentei empurrá-lo novamente para testar. Simplesmente permaneci imóvel.

Ele afastou sua boca e me soltou.

Ficamos nos encarando, ele, ofegante, eu, perplexo.

Sem mais nem menos, desferi-lhe um soco no meio da face, ele cambaleou para trás, encostando-se na parede de frente para mim. Minha mão doeu, e quando nossos olhos se encontraram, me arrependi do ato quase instantaneamente. Seus eram tão indecifráveis e fascinantes quanto sua expressão.

Ficamos em silêncio, nos encarando. Ele, acariciando o queixo e eu, minhas juntas.

Por que ele não revidou?

Por que ele me beijou? Por quê?!

Caminhou até mim novamente, e colocou a mão em minha nuca. Nossos olhos se encaravam profundamente. Os dele, eu pude notar, estavam ainda mais escuros... Que era aquilo?

Senti seus dedos puxando levemente meus cabelos e desta vez, puxou minha cabeça para frente, e mais uma vez, me beijou. Só que... Desta vez, correspondi. De nada a nada, estávamos envoltos em um beijo ardente.

As mãos ávidas e fortes do homem deslizavam livremente pelo meu corpo, arrancando rapidamente meu paletó e jogando-o no chão. Eu estava completamente entregue àquilo. Sentia arrepios constantes percorrendo meu corpo. Ele beijava-me a boca, o pescoço, passando a língua, sugando e dando mordiscadas aonde bem entendia. Eu estava ofegante.

Podia sentir meu sangue ferver e meu corpo responder todos àqueles estímulos. Eu não conseguia mais pensar no que fazia. Já havia dado às favas com a razão. E então, senti quando dei por mim, estávamos ambos sem camisa naquele banheiro.

Passei minha mão pelo corpo forte e corado daquele homem. Corpo de brasileiro.

E nossos toques avançavam cada vez mais...

Arranhões, beijos, chupões... Tornavam-se cada vez mais ousados e prazerosos. Arrepios e mais arrepios se passavam pelo meu corpo. Suspiros e mais suspiros. Respirações cada vez mais ofegantes, entrecortadas, e beijos cada vez mais exigentes. Santo Deus, eu estava prestes a entrar no abismo da perdição

**

Depois do banheiro, nos vestimos e saímos em direções opostas. A exposição daquele dia terminara. Fui para meu hotel.

— O que eu fiz? — Perguntei ao nada, que como nada, permaneceu imutável.

Vi meu bloquinho de notas com o que eu havia escrito mais cedo sobre minha cama, ao lado do paletó. O cheiro de canela havia infestado o quarto. Nem mesmo meu banho conseguiu fazer com que fosse embora.

Rasguei o bloco. Comecei a escrever novamente minha crítica, dizendo a verdade sobre os brasileiros, quer dizer, sobre suas obras: São perigosas. São um insulto. São uma tentação ao erro.

“Bem como seus artistas”, meu subconsciente fez questão de ressaltar, zombeteiro.

Nunca mais mais vi o brasileiro. Sequer lembro seu primeiro nome. Minha crítica foi impressa no dia seguinte, em São Paulo e uma semana depois, em Paris.

Finalmente voltara à Paris, de onde nunca deveria ter saído, aliás, quando me perguntaram da exposição. Tudo que eu pude dizer foi:

— Ah... Coisa de brasileiro.


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