O Código Bruxo escrita por Igor Feijó
Tão rápido quanto havia iniciado, também assim se findou.
O Duque movimentou os lábios de maneira incompreensível e as mãos fizeram gestos desafiando a articulação humana, da parede sombras tomaram vida, constructos amorfos de energia escura e macilenta avolumaram-se sobre nós antes mesmo de que pudéssemos fazer algo. Meus braços doíam e algo me dizia que não estava em uma posição normal, abri os olhos lentamente e percebi que meus captores haviam me pendurado pelo pulso, uma corda de cor escura tão reforçada quanto as de um navio envolviam-me roçando e rasgando minha carne.
Dentro do recinto apenas uma mesa a minha frente, uma cadeira pesada de madeira e inúmeros utensílios que qualquer leigo saberia categorizar como de tortura. Soltei um leve riso para só então me dar conta de que meus lábios doíam, um gosto ferroso acompanhava a sensação. O cheiro de suor misturado ao sangue indicava que, minha permanência naquele ambiente passara dos 3 dias facilmente. Por mais que eu tentasse concatenar as ideias, o nada era minha melhor opção, poderia refletir por dias e mesmo assim não saberia o que estava acontecendo ou como eu não lembrava de meus próprios ferimentos, devia ser algum feitiço.
Procurei Nohx mesmo sabendo que não estaria ali, a porta se abriu e um ser de manto escuro trajando uma máscara de cerâmica brilhosa como o ônix adentrou, deveria ter pouco menos de 1,75 de altura, caminhava com leveza denotando ser uma figura feminina por debaixo da indumentária. De alguma forma o aroma exalado por ela parecia-me familiar.
– Espero que esteja gostando da estadia Lumor – soou a voz distorcida por trás da máscara.
– Hm... Confesso que esperava um pouco mais – consegui dizer abafando a dor.
– Parece que seu bom humor está retornando meu amigo – destilou docemente as palavras.
– O que a faz pensar que sou seu amigo?
– Tu me conheces bem, sempre me conheceu meu querido e doce Lumor – e ao proferir as últimas silabas, sua voz se alterou tornando tudo aquilo um pesadelo ainda maior.
– Wingardia, Wingardia é você? - A dor já não era o problema.
– Agora tu lembraste? – Brincou.
– Mas..., mas porque Wingardia? Porque foi se unir a eles? – O sentimento socava como um carrasco em um dia ruim.
– Ah, és tão divertido assumindo essa feição de incrédulo, quase consigo sentir pena – Gargalhou congelando a pouca centelha de calor que meu coração emitia – Tudo isso é culpa sua, se tivesse retornado como prometeu..., mas o que vê a tua frente é um triunfo do teu egoísmo, eu sou o troféu da tua derrota Lumor, agradeço a cortesia apesar dos pesares, sou uma mulher melhor agora.
– Não justifique sua fraqueza usando o meu erro, se adquiriu esta posição era porque no fundo a desejava – não sabia de onde tirava forças para responde-la daquele jeito.
– Em parte você pode estar certo – O rosto com a máscara roçou no meu em um gesto provocativo – Mas não sou o seu torturador, apenas vim por restar uma ínfima preocupação para contigo, dê o que eles desejam e poderá ir.
– Dar o que? – O grito fora impedido pela dor que voltara – Eu tão pouco sei o que está acontecendo aqui.
– As Páginas de Adrava.
– Eu não as tenho!
– Continue com este discurso e não saberá nem mesmo seu nome quando Senpra tiver terminado.
– Eu... eu realmente não as tenho – as forças estavam se esvaindo – Mas posso procura-las, sou o único que ainda tem contato com os Homoras.
– Sabe que eles não acreditam em lendas Lumor, está perdendo seu tempo.
– Não são lendas, eles existem e posso provar.
Nesse momento a porta se abriu novamente e de lá outra figura trajando a mesma vestimenta, porém, alta e larga veio de encontro a mim, mas seu interesse era em Wingardia.
– Temos o que queríamos – Ela falou como se ele fosse uma hierarquia acima.
– Ótimo – disse o homem com voz gutural – Desamarre-o e lhe dê comida, trate de seus ferimentos e apresente-o na sala oval.
Com um meneio de cabeça ela assentiu prontamente, meus olhos se fecharam quando a força das cordas afrouxou e eu desejei que tudo fosse apenas um pesadelo.
O único problema era que ele estava apenas começando.
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