O Código Bruxo escrita por Igor Feijó


Capítulo 13
Renascido Nas Terras Vermelhas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610228/chapter/13

Os pensamentos martelavam incessantemente como um ferreiro que trabalha de má vontade. Independente do que aconteceria eu havia feito uma promessa, se minha morte significaria o cumprimento desta, então eu terei feito o meu trabalho.

 

Escorado nas paredes frias da torre aguardava os preparativos finais da rainha, ela caminhava de um lado para o outro recolhendo coisas, recitando versos, trazendo algo que antes não estava ali. O ar ficou onusto com a estática da magia canalizada por aquele ser tão pequeno, os pelos do braço eriçavam antevendo a força que se condensava ali.

 

A rainha se ajoelhou proferindo ao que pareciam ser as últimas palavras, fez um último gesto concretizando o ato. Raízes surgiram do chão serpenteando em ascendência, lentamente deram forma a uma espécie de portal. Me aproximei admirado com o resultado, ao baixar os olhos ela estava diante de mim estendendo uma pequenina chave de prata. Era menor do que meu dedo indicador, seu toque era frio e na ponta o metal dobrava-se como asas de uma borboleta.

 

— Está feito – disse não esperando resposta.

 

Assenti guardando objeto.

 

Ensaiei os primeiros passos na direção da abertura, era possível enxergar o outro lado do salão, mas não era para lá que eu estava indo. Ao atravessar tive a sensação de forçar meu corpo através de uma camada macilenta e pegajosa, parecia atravessar um lodaçal. O ar escapou por breves segundos para logo em seguida retornar aos meus pulmões, o cheiro de carne podre invadiu a cavidade nasal sem avisar, na boca o gosto de sangue e ferro dançava na língua. A minha frente um túnel se estendia, o chão coberto de restos e ossos refletia o aspecto macabro daquele local e suas práticas.

 

Vasculhei a bolsa procurando uma erva qualquer, esfreguei o pouco que havia em meus dedos apurando o aroma, levei ao nariz esfregando logo abaixo. Isso me manteria longe do cheiro por algum momento. Cada passo marcava o são de algo se esfarelando sob os pés, ninguém precisava ser silencioso quando a morte era certa.

 

Este lugar também era conhecido como: Cemitério dos Bruxos.

 

Certamente um nome nada convidativo para uma empreitada. Um nome, algo tão poderoso que pode gerar uma lenda viva, encontre dez ou mais para espalharem o boato e isto será considerado temível, você acreditando ou não. Os que se aventuraram nunca mais retornaram, algo comum em histórias desse tipo, mas isto era real, tão real quanto a fome.

 

A Mão de Ferro não pode adentrar o local, não por estar protegido por algum feitiço ou qualquer coisa do gênero, mas porque no fundo eles temem os moradores. Todo esse poder que eles julgam ter fica enfiado entre as pernas quando se diz respeito a este local, são todos um grande monte de merda. Tenho que acreditar que meu amigo está a salvo, mas se eu houver sido enganado no final das contas por um povo pequeno de olhos brilhantes para salvar o seu lar, não estarei a altura para ensaiar um julgamento.

 

Droga.

 

A construção é larga o bastante para cinco carroças passarem emparelhadas, o teto se encontrava distante demais para uma simples conclusão. Depois de alguns passos uma bifurcação se apresentou, fechei os olhos murmurando algo conhecido, curo illuminatum, o pequeno globo de luz reluziu surgindo como um pequenino botão de rosas para depois se tornar tão grande quanto a cabeça de um homem. Ele dançou a minha frente produzindo movimentos involuntários, de alguma forma aquilo estava vivo e servia a um propósito.

 

— Guie-me até uma fonte – formulei utilizando o comando básico para se encontrar aspectos de magia condensada.

 

A criatura disparou flutuando em direções diferentes sem que precisasse manter um padrão de deslocamento. Mais a frente iluminou uma entrada a direita, o tunel se abria em uma passagem mais larga do que o habitual.

 

— Espere, não entre muito.

 

 

Mas ele já estava lá, Lumizóbolos são seres muito impulsivos para serem controlados. Ao me aproximar pude ouvir um sussurro, não era o vento, tão pouco alguém que se comunicava em voz baixa, a frente estava uma parede bloqueando a passagem gigantesca. Desci os olhos até a altura dos meus e encontrei uma porta de ferro negro, havia entalhes estranhos por toda a extensão. O ser flutuante recuou como se pudesse sentir que algo não estava certo.

 

— É, também senti.

 

Aproximei-me a passos cautelosos estudando cada parte daquela entrada. Deslizei o dedo pelos símbolos em alto-relevo, o toque do ferro produzia calafrios intensos. Mais a baixo no centro da estrutura havia a parte inferior de uma arcada dentária, os dentes pontiagudos apontavam para cima afiados como navalha. Com um gesto descuidado tive o dedo cortado enquanto analisava o formato, o sangue escorreu para dentro e um estalo aconteceu.

 

O barulho produzido assemelhava-se a metal sendo triturado, com um último estrondo a porta se abriu. O ambiente revelado era estranho, uma espécie de biblioteca esquecida no tempo, certamente de algumas eras atrás. Não havia livros, somente pergaminhos enrolados aos montes, no centro da sala sobre uma velha mesa de madeira repousava uma esfera de vidro aparada por uma garra de animal. Talvez um corvo, mesmo que o tamanho fosse desproporcional. Em seu interior circulava uma névoa acinzentada, mais uma vez pude ouvir o sussurro, eram como vozes cochichando, porém, o som era acompanhado de galhos se partindo. Atrás de mim a porta se fechou com um baque, finas camadas de poeira deslizaram do teto até o chão, antes que pudesse me aproximar do artefato algo me interrompeu.

 

— O que quer aqui? - Era arrastado e decrépito, um doente que teimava em viver.

 

— Eu… Estou procurando as páginas de Adrava.

 

— Ah, todos estão – pareceu se divertir macabramente.

 

— Isto quer dizer que vai me ajudar? Quem é você?

 

— Sou o desejo confinado, o segredo que dorme, o sussurro que cobra.

 

Virei-me rapidamente, mas não havia nada, apenas a contínua sensação de alguém me espreitava invisível. A voz parecia falar-me ao pé do ouvido a todo momento.

— Não vou lhe ajudar, pois, o que tu queres é proibido.

 

— Uma vida depende disto, não é para mim ou para os meus caprichos – rebati sem opções.

 

— Isto não muda o pensamento primeiro, escolheu o caminho errado… Lumor. - meu nome foi pronunciado de forma lenta contorcendo minhas entranhas.

 

— Leve minha vida se é este o preço, não me importo – o fato de não poder enxergar o dono daquela voz estava me consumindo.

 

— Sua vida não vale outra, isto é não é um jogo.

 

Senti algo rodopiar meu corpo para depois se afastar, golpeei o ar na esperança de acertar algo, mas nada aconteceu.

 

— Vocês se intitularam donos da magia. Se acham mestres do conhecimento e praticam a arte de maneira errada. No fim os únicos a pagarem são aqueles que jamais deveriam.

 

— Concordo com você, não temos sido um exemplo, particularmente eu. Não sei o que você é, mas existe um grupo chamado Mão de Ferro, eles estão comandado grande parte dos acontecimentos de escala destrutiva ao redor do mundo. Se não pode me ajudar a salvar uma vida, me de algo que os detenha.

 

O silêncio engoliu o cômodo de maneira voraz, o espírito pareceu se distanciar eternamente.

 

— Estas estantes estão repletas de conhecimento antigo, toda a verdade sobre a magia está nelas. Vocês são os portadores do caos, não devem possuir tal coisa, farei com que sejam castigados, uma nova era surgirá e terão que aprender tudo novamente.

 

— Que seja, só quero que paguem! - gritei sentindo a garganta arder e olhos queimarem.

 

— Tu serás a testemunha deste renascimento, também será meu único servo para reunir a cobra, o leão, a águia e o texugo. Faça com que sejam diferentes, que pensem no amanhã e que expurguem a desgraça.

 

Algo dançou entre as nuvens de poeira no interior da esfera, pude ver um olho azul brilhando intensamente, a luz irradiou de forma magistral ofuscando minha visão, quando se extinguiu um pedaço de madeira trabalhado estava sobre a mesa. Era fino na ponta e a medida que descia engrossava um pouco o tronco, terminava em uma base de metal negro. Ao simples toque pude sentir a magia invadir o meu corpo de maneira agressiva, não para me atacar, mas para dizer que estava comigo. Aquilo era uma extensão de mim, uma outra sensação dizia que jamais poderia praticar magia pelos métodos normais, somente através do objeto eu poderia alcançar meus feitos.

 

Com um pensamento instintivo levantei o artefato acima da cabeça e uma luz fantasmagórica projetou-se até o infinito. O cone luminoso começou estreito e se avolumou rapidamente engolindo todo o cenário, com isto meu corpo também recebeu o impacto.

 

Naquele dia eu não soube se Nohx estava vivo, não soube se os Homora haviam conseguido sua paz.

 

Simplesmente, não soube.

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, encerro aqui esta jornada.

Minhas memórias não estão muito boas, resultado de incessantes lutas contra as forças escuras. Elas ainda não me deixam descansar devidamente.

Aquele-que-não-deve-ser-nomeado nunca encontrará o fim que todos almejam, não se extingui as trevas derrubando um único pilar, tenham isto em mente.

Vi muitas coisas durante todo esse tempo, certamente meu corpo teima em se manter em pé devido a um propósito, um norte.

Existem outros escritos como esse, se os encontrar espalhe o verdadeiro conhecimento.

Ergam suas varinhas e façam o certo.

Ass: Lumor, O Renascido.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Código Bruxo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.