Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 9
Sentidos


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil perdões. Sério. Eu odiei esse hiato, foi horrível para mim. Final de 2015 foi um turbilhão, uma bagunça. E eu ainda passei por um bloqueio que ainda estou tentando resolver. Perdão, tentarei postar com mais frequência. Esse capítulo está mais parado, mas logo logo melhora. Espero que tenha valido a espera ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610161/chapter/9

Ao amanhecer, Sen poderia ter sentido diversas coisas. A luz do Sol tocando seu rosto, a brisa acariciando seus cabelos, a melodia dos pássaros sendo soprada para seus ouvidos. Porém, a única coisa que a moça sentiu foi o leve toque de Haku em seu braço, para acordá-la.

Como tudo naquele lugar, tal gesto fez a menina mergulhar em nostalgia. Não que as lembranças fossem necessariamente boas, muitas eram péssimas. Mas lembrar do passado trazia certo conforto. Ela sentia como se o Haku ao seu lado fosse o antigo Haku, o doce e generoso Haku que a ajudou quando mais precisava, e não aquele homem estranho e desconhecido. Vendo-o tão adulto e autoritário, não o conhecia mais.

 Naquele dia, quatro semanas se completariam desde a sua chegada e Sen estava adaptando-se muito bem, as tarefas se apresentaram mais fáceis se comparadas à antigamente. As banheiras estavam em ótimo estado, sendo necessário apenas um esforço para varrer e espanar alguns vestígios de pó antes de os clientes chegarem. O chão era lustrado duas vezes ao dia, dado o início e o fim do expediente na casa de banhos. Talvez pela prática adquirida com a adolescência, ajudando sua mãe com as tarefas domésticas, a menina trabalhava bem nessa parte, embora tenha perdido um pouco da energia que possuía quando criança, cansando-se relativamente rápido. Tal fato, porém, não era um problema. As tarefas seguintes eram básicas, como auxiliar os clientes e ajudar a arrumar qualquer coisa que estivesse bagunçada.

Entretanto, mesmo com o desempenho quase promissor, a atitude de seu mestre perante a ela não havia melhorado. Ele ainda a tratava como se fosse um estorvo e atrasasse todo o serviço. De fato, nos primeiros dias, suas quedas e derrubadas de balde foram bem inconvenientes, mas Sen se esforçou ao máximo para compensar as falhas. Tal esforço, porém, passava despercebido aos olhos frígidos de Haku.

Sen demorou alguns minutos antes de lembrar-se que o homem a esperava e despertou de seus devaneios sobressaltada. Jogou as cobertas para o lado e em segundo já estava de pé graças a um pulo extremamente exagerado e destrambelhado, parando sequer para pensar na presença do rapaz. Congelou na posição em que estava e girou em seus calcanhares em outro movimento desnecessário, mas dessa vez voltado para o exagero teatral de surpresa e medo. Quando finalizou a volta, seu olhar encontrou o de Haku, parado à porta em uma postura impassível. Revirou os olhos e bufou, desacreditado na capacidade que a jovem tinha para piorar ainda mais a imagem que ele havia formado dela. Ficou parado tentando absorver o acontecido até que, irritado, decidiu sair do quarto e espera-la do lado de fora.

Mais um dia havia começado de forma desastrosa.

Desistindo da esperança de um recomeço mais conveniente, Sen simplesmente trocou de roupa e desceu. Quando alcançou os andares inferiores, teve uma visão de desordem e caos similar àquela causada por Sem Face, anos atrás. Os funcionários corriam de um lado para o outro, desesperados para executar suas funções. Kohaku se destacava na multidão, com seu andar calmo e controlado. A imagem fria e assustadora que ele passava ainda deveria estar intacta, pois muitos giravam e caíam no chão só para evitar qualquer contato físico.

Sen procurou entre a multidão e encontrou uma das jovens que reconhecera da época de Yubaba. Naqueles tempos, as meninas tinham grande antipatia por Sen, por esta atrapalhar no serviço, atrasando-as e obrigando-as a consertar seus erros. Agora, ninguém se recordava de Sen, a jovem foi capaz de construir relações mais saudáveis com as empregadas da casa de banhos.

A multidão fez Sen perder a jovem de vista, o que a fez começar a correr também. Pelo que parecia, a garota se dirigia à cozinha, onde a aglomeração deveria estar pior. Para chegar lá, Sen teria que manobrar todos em seu caminho até a escada e depois cruzar o salão. Tal percurso tomaria um tempo absurdo, tempo suficiente para que seu objetivo fosse para outro lugar. Portanto, permaneceu no segundo andar, dirigindo-se para a parte que ficava acima da cozinha. Lá chegando, manobrou para alcançar uma das imensas pilastras circulares que cortavam o salão e escorregou por ali.

Era um trabalho difícil, já que a pilastra era completamente lisa, sem qualquer lugar para colocar pés e mãos, além de ser grande demais para que Sen pudesse abraça-la com firmeza. Mas aquele era o caminho mais rápido e ela não precisaria escorregar até o chão. O batente da porta projetava-se para fora a uma distância suficiente para que a garota se segurasse ali. Portanto, quando estava um pouco acima do portal, Sen projetou o corpo para frente, impulsionando-se em direção ao batente. Suas mãos escorregaram na hora de segurar, mas a jovem conseguiu se prender o suficiente para conseguir mais impulso e pular para dentro da cozinha.

Por sorte, havia mais gente entrando do que saindo, o que diminuía o risco de Sen acertar alguém com as mãos cheias e estragar a comida. Aqueles que estavam carregando grandes travessas conseguiram se afastar quando viram a pequena se projetando para o interior da cozinha, e tal reflexo salvou o banquete, pois Sen aterrissou exatamente onde um homem estava passando com o prato principal segundos antes. Mesmo sem ter ocorrido nenhum desastre, todos viraram-se furiosos para a garota que, com um levantar de ombros, recomeçou a procurar pela jovem.

A garota havia substituído alguém no fogão e agora estava preparando uma espécie de sopa. Sen sabia como os cozinheiros daquele lugar ficavam irritados quando eram interrompidos, o que a fez recuar. Não havia um motivo forte para atrapalhá-la.

—Fale logo o que veio fazer aqui, Sen. Está me atrapalhando.

Pega desprevenida, não foi capaz de responder. A proximidade não era suficiente para que estivesse de fato atrapalhando.

Como não recebeu resposta, a moça continuou:

—Eu vi quando você começou a correr pra cá. Como você não tem funções na cozinha e não há mais conhecidos seus por aqui, assumi que seu desejo é falar comigo. Estou errada?

—Ah, sim, está certa. —Sen não pôde conter uma risada. Meredith sempre a surpreendia das maneiras mais inusitadas. — Eu só queria entender o que está acontecendo. Haku... Mestre Haku não me falou nada sobre isso ao me acordar.

—Haku não é mesmo de falar muito, mas ele deveria ter explicado. Amanhã vai haver um festival por aqui, com todos os deuses e espíritos presentes, por isso tanta comoção. Inclusive, é melhor você correr logo pra sua atividade. Se perceberem seu atraso, estará em apuros.

—Tudo bem, vou tentar. Mas não tem como ir rápido. Com tanta gente, limpar o chão não é muito fácil.

—Limpar o chão? Ele realmente não te fala nada, não é mesmo? Você vai trabalhar no jardim, Haku selecionou algumas pessoas e as mandou pra lá.

Sen agradeceu a informação e correu para a porta nos fundos da cozinha. Indo por ali, ela sairia diretamente no lado externo do prédio. No passado, Ogino não chegou a trabalhar no jardim, fato que a fez se perder muitas vezes por desconhecer o caminho – outro motivo para a irritação insistente de Haku em relação à ela, pois precisava sair para procura-la –. Na verdade, a menina suspeitava de que os novos donos da casa haviam adicionado tal espaço no tempo em que esteve fora. Kamaji teria feito ao menos alguma menção se Yubaba possuísse um jardim. Ela possuía plantações e regiões floridas, mas nada daquilo se comparava àquele belo parque para onde se dirigia.

Assustada, a menina percebeu que parou de correr por conta da nostalgia. Tantas imagens, sentimentos e lembranças a invadiam que estava distraída a maior parte do tempo. Para piorar, ao despertar das divagações, percebeu estar na ponte onde encontrara Haku pela primeira vez.

Maldita ponte. Qualquer lugar para onde Sen deveria ir, lá estava a ponte, no meio de seu caminho. Sempre que conseguia fugir da sua mente cheia de memórias, a ponte aparecia para trazer mais uma enxurrada de emoções. Às vezes Sen sentia um desejo quase irresistível de incendiar aquele lugar.

E mais uma vez, Sen parou de correr. Xingando internamente, disparou para o outro lado e seguiu seu caminho até o jardim, não permitindo mais distrações em sua mente.

Lá chegando, a imagem era completamente diferente da vista dentro da casa. O lugar exalava tranquilidade e paz. As jovens trabalhavam com calma e maestria, sendo guiadas pelas palavras de Haku. Normalmente, o rapaz cuidava sozinho dessa seção, mas com o festival tão próximo, ele precisava de ajuda para montar ornamentos e enfeites, além de deixar o jardim preparado para visitação.

De acordo com Meredith, espíritos também namoram e gostam de fazer isso em espaços românticos. A ideia perturbou um pouco a jovem, por conta de todos os seres estranhos que já havia visto nesse mundo, mas Meredith associou tal desconforto com a idade da pequena. Por conta disso, deu-lhe um tapinha no ombro e afirmou que seria capaz de entender melhor quando crescesse. Ogino havia esquecido como era irritante ser tratada como criança, mas não podia fazer nada quanto a isso.

Haku lhe deu algumas instruções básicas e saiu para ajudar outras garotas. Era sempre assim. Ele passava as informações e ficava o mais longe dela possível. Isso fazia com que Sen o olhasse caso o tempo todo. Sentia curiosidade, se ele a ignorava completamente ou a olhava de longe. Enquanto cuidava das flores e pensava no que Meredith falara, percebeu que seu comportamento deveria ser estranho para as pessoas da casa de banhos. Afinal, naquele momento, ela era só uma menina, não havia motivos para olhar tanto para um homem como Haku. Tal ideia a fez tremer de nervoso. Era tudo esquisito demais, aquele corpo, aquela idade.

Tudo o que desejava era voltar para os seus vinte anos e abraçar Haku. Se ao menos ele não a odiasse, ela poderia fingir que o abraço era algum agradecimento ou algo do gênero. Mas a distância, tanto pessoal quanto de idade aparente, entre os dois era muito grande para qualquer abordagem mais íntima.

Algo ela não podia negar, entretanto. A nostalgia, saudade e tudo o mais ajudavam a menina a trabalhar com as flores. É como se a paz e tranquilidade das plantas equilibrasse com a confusão e o medo no coração da menina. Ela sentia o corpo e a alma mais leves e suas mãos corriam, trabalhando habilmente nos arranjos.

— Você está indo bem com isso.

A proximidade da voz de Haku a assustou. O caminhar silencioso do rapaz impedia que a jovem o ouvisse chegando. Então, para ela, era como se ele simplesmente surgisse ao seu lado. O susto fez com que a moça quase derrubasse um vaso de flores que estava preparando.

— Obrigada, mestre Haku. Acho que as flores me acalmam.

— Acredito que você precise disso.

Sen não pode deixar de ficar ofendida com o comentário. Afinal, todo o nervosismo dela era resultado da postura e comportamento dele.

— Você é destrambelhada, mas acho que seria de grande ajuda. Depois do festival, começará a trabalhar comigo aqui. Entendido.

O coração de Ogino saltou forte em seu peito. Ela trabalharia sozinha com Kohaku. Era a chance perfeita de reaver a amizade e tentar trazer as lembranças dele de volta.

— Entendido, mestre. — A jovem precisou de alguns segundos antes de responder, para controlar a voz. Sua mente estava embaralhada em um turbilhão.

O dia não havia sido tão ruim, afinal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não ia postar até completar mais uns dois capítulos, mas não aguentei skoeskoeks Até o próximo capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chihiro to Sen no Kamikakushi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.