Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 7
Planos


Notas iniciais do capítulo

Oooi galerinha! Bem, primeiramente, queria pedir desculpas por possíveis ligeiras mudanças na minha forma de narrar. Eu sou uma pessoa que meio que “absorve” experiências por um tempo, e hoje eu li Peter Pan. Então acabei pegando um pouco da forma de narrar usada no livro. Mas relaxem, no próximo capítulo estarei de volta ao normal, legítima e inalterada.
Espero que gostem



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“Inspire. Expire. Inspire. Expire. Acalme-se. Você consegue. Acalme-se.”

Por mais que repetisse isso como um mantra, a pressão de Sen sempre aumentava quando ela abria os olhos e via seu reflexo no espelho. Várias vezes a menina repetia e repetia até se sentir confiante e todo o esforço era destruído com o abrir de seus olhos. Depois do que pareceram horas de esforço e reconstrução psicológica, Sen desistiu. Afundou o rosto na água rosada de essências, deixando que o estresse desaparecesse por si só.

Quando seus dedos começaram a ficar enrugados, refletiu provavelmente ser um bom momento para sair. Secou-se e penteou-se, tudo calma e tranquilamente, pesando em músicas e desenhos. Quando finalmente retornou ao quarto, desejou poder comunicar-se com Zeniba. A bruxa havia esquecido alguns pequenos detalhes.

Entretanto, ter de lidar com tal situação foi importantíssimo para a jovem, pois percebera, afinal, não ter um plano. Estava tão focada no que fazer no presente que não pensou no futuro. Ela não poderia simplesmente aparecer lá, todos a reconheceriam. Talvez isso não fosse problema se ainda possuísse aparência adulta, mas agora era uma criança de dez anos. Precisaria se disfarçar.

Sen deitou-se na humilde cama presente no quarto e começou a refletir, sem muito êxito. Não tinha ideia do que fazer e muito menos de como fazer. Antes que pudesse se irritar com o insucesso, porém, acabou adormecendo, jogada de qualquer jeito, enrolada em sua toalha e com os cabelos molhados.

A jovem não ficou surpreendida por ter acordado gripada. Amaldiçoou sua imprudência, já que seu estado de saúde só pioraria com as viagens aéreas. Contato diário e constante com brisas e ventos não era o melhor modo de se curar de uma gripe. Mas uma gripe acaba sendo útil, de vez em quando, afinal, quando estamos doentes, dormimos bastante. E quando dormimos bastante, acabamos por sonhar, e muitos desses sonhos acabam sendo úteis, como quando montamos um exercício ou um roteiro. No caso de Sen, a jovem montara um plano.

Não sabia se haveria real utilidade para isso, mas contou seu plano para o dragão de papel. Acreditava que ele enviaria um sinal caso discordasse de algo, mas a criatura simplesmente continuou a voar sem qualquer alteração comportamental.

“Bem, é um jeito de não esquecer como se fala...”

O silêncio era aterrador. Tudo o que ouvia era seu próprio pensamento, o barulho do vento e o crepitar do papel. Às vezes pensava captar um ou outro som estranho, como algum bicho voando ou pessoas conversando, mas era questão de segundos, não valia a pena gastar tempo pensando nisso. Apesar de que tempo para pensar era o que Sen mais tinha. Portanto, sem interrupções, analisava seu plano minuciosamente, tomando cuidado para não deixar escapar detalhe algum.

Na realidade, o plano de Sen não era nada mirabolante e genial. Era incrivelmente simples, resultando em algo que não havia muita coisa para ser revista. Mas a menina precisava acreditar estar fazendo algo útil, e, por isso, continuava a estudar todas as possibilidades.

Incontáveis vezes adormeceu e outras incontáveis despertou, sempre acreditando terem finalmente alcançado o destino seguinte. Porém, finalmente avistada a parada seguinte, não houve sensação de alívio. Seu estômago doía, retorcendo-se em necessidade de matéria orgânica, mas fora isso, nada incentivava Sen a ficar. Sentia, na realidade, estar perdendo tempo. Muitos anos já se passaram, não estava apta a demorar mais. Precisava chegar à Haku o quanto antes.

Por conta disso, pediu à atendente da pequena cabana, além de seu jantar, um pouco de comida para levar consigo. Quando questionada, apenas respondeu querer partir imediatamente. Sua preocupação a fez soar um pouco fria, provocando certa mágoa na moça, que ficou a acreditar ser sua culpa e de seu estabelecimento que a jovem não quisesse ficar ali.

E um novo plano se formou: em uma parada, Sen comia e pedia comida. A seguinte era pulada, a menina comia o que havia pego na anterior, e assim sucessivamente. A viagem ficava bem mais rápida, apesar de menos prazerosa. Finalmente alcançado o destino, a menina não teve certeza se seria capaz de mexer seus músculos, tão rígidos estavam.

Na realidade, a reflexão sobre a capacidade de se locomover novamente foi feita antes de alcançarem o destino final. A jovem não poderia simplesmente descer em um dragão de papel imenso, chamaria muita atenção. Por isso, Zeniba instruiu a criatura a deixar Sen em uma distância similar à de sua casa até a casa de banhos. Tal distância se refere a quilômetros à pé, mas era o único jeito. O dragão sabia muito bem como fazer tal medição por outrora já ter feito tal viagem, mas ia além de sua capacidade fazer qualquer outra.

Delicadamente, a pequena humana desceu da criatura alva, sentindo-se um pouco melancólica. Não sabia quando e se o veria novamente. Abraçou sua enorme cabeça e a melancolia só aumentou ao recordar como abraçara Haku daquele mesmo modo anos atrás.

Não teria condições de manter o ritmo até o final, então Sen nem considerou correr. Apenas se cansaria e acabaria andando mais devagar durante a recuperação. Andou a passos rápidos e espaçados, aquele tipo de caminhar que parece estar a um fio de se tornar uma corrida, mas esse fio nunca se rompeu. Seu coração estava acelerado, sua mente mergulhada em euforia, mas suas pernas jamais avançaram ou retardaram mais do que deveriam. Manteria a compostura, mesmo na solidão.

Caminhou e caminhou por dias. E esses dias, para Sen, não duravam vinte e quatro horas e sim uma eternidade. Cada um deles. A única coisa que a mantinha de pé era sua força de vontade, sua vontade de encontrar seus amigos. De encontrar Haku. Mas até mesmo a força de vontade é capaz de fraquejar, por isso Sen quase chorou de alívio quando finalmente percebeu estar próxima de seu destino.

Logo à sua frente, um prédio antigo e aparentemente abandonado, exatamente igual ao que havia atravessado com seus pais pela primeira vez há dez anos. A mente da garota se transformou em um turbilhão de confusão e dúvida. Se o prédio estava aqui, o que eram aquelas ruínas que visitara durante tanto tempo?

Após alguns minutos, percebeu estar andando em círculos. Portanto, simplesmente entrou no prédio. Era estranho ser a mesma criança que entrou ali com seus pais, mas sua mãe não estar ao seu lado e seu pai a sua frente. Havia feito aquele percurso sozinha inúmeras vezes, porém aquela era, sem dúvida, a vez que sentiu-se mais solitária. Não havia ali o calor de seus pais nem o conforto, e não tinha a opção de virar as costas e voltar para casa. Depois de alguns minutos, teve de se forçar a interromper tais pensamentos, pois havia parado de andar e permitido que algumas lágrimas escorressem.

Caminhou pelos corredores do prédio até ver uma luz ao longe. Nesse ponto, sua paciência com caminhadas se esgotara e começou uma corrida desenfreada, que perdurou até os restaurantes. Tudo estava exatamente igual à primeira vez. Assustador, porém, impressionante. E inacreditável. Se não estivesse vendo com seus próprios olhos, não acreditaria. O problema não era nem estar tudo como antes, e sim que não deveria estar. Quando Zeniba disse que todos na casa de banho foram levados, ela não esperava que o edifício também fosse, e muito menos que seriam deixadas para trás as ruínas.

Enquanto sua mente viajava, o dia se tornava noite. Portanto, quando chegou à ponte, já estava tudo escuro. Os gerentes começaram a acender as luzes de seus restaurantes e clientes começaram a chegar, assustando Sen.

Atravessou a ponte correndo, tamanho foi o susto. Porém, esta já estava cheia de estranhos seres, todos encarando-a sem entender. Quando se dera conta da besteira que havia feito, era tarde demais. Seu plano de chegar sem fazer alardes, disfarçar-se e chegar escondida ao escritório de Yubaba estava arruinado.

Uma gritaria começou repentinamente, obrigando a menina a correr para longe dali. Fez o caminho jamais esquecido para as fornalhas de Kamaji. Ninguém deveria saber, mas acreditava poder contar com o senhor e sua ajuda. Entretanto, quando lá chegou, não havia ninguém para recebe-la. Foi obrigada a seguir sozinha.

Subir até os aposentos de Yubaba foi mais fácil do que esperava. Atendentes estavam preocupados demais com seus clientes e clientes estavam preocupados demais com os serviços para os quais pagaram tão caro. Portanto, ninguém se importou com a garotinha que corria cautelosamente de elevador em elevador. Até aquele momento, não havia avistado nenhum rosto conhecido.

Estava prestes a entrar no último elevador quando aconteceu. Uma figura imensa se postou na sua frente. Com medo, ergueu o olhar e reconheceu o senhor –se é que podia chama-lo de senhor, pois mais parecia um enorme balão inflável branco com braços e pernas– que outrora a havia ajudado. Uma tigela vermelha de salada estava posta em sua cabeça como se aquela fosse a função dela e, como “roupa”, usava algo parecido com um avental vermelho, que só cobria suas partes inferiores. Tinha um enorme bigode e uma expressão gentil, até divertida.

Apesar de soar amigável, Sen não podia encontrar ninguém, por isso, saiu correndo, rezando para que ele não a houvesse reconhecido. Quando adentrou o elevador e moveu a alavanca, arfando, relembrou a cena, e percebeu que nada havia mudado nele depois de a vir. Seria possível não ter achado estranho a ver ali? Ele estava presente quando Yubaba libertou a ela e a seus pais...

Seus pensamentos foram interrompidos quando o elevador subitamente parou e a porta se abriu. Sen se forçou a sair, correndo até a porta principal. Estava realmente farta de andar.

Não repetindo o erro, ergueu a mão para pegar a alça mágica e bater na porta. Depois de três batidas, seu pedido foi atendido e a passagem lhe foi permitida.

Como não foi arrastada por magia nem guiada por Haku, sentiu certa dificuldade de encontrar o aposento, mas acabou conseguindo. Era o único cuja porta permanecia fechada, por isso achou prudente bater novamente. Uma voz grave e desconhecida dizendo “entre” foi ouvida. Obedecendo, Sen forçou as portas.

O que encontrou não era bem o que esperava, e esconder isso foi uma tarefa bem difícil.

A sala estava praticamente igual, exceto pela figura sentada na cadeira de Yubaba. Ali, agora, estava um homem, ou algo parecido com um homem. Ele mexia em papéis, mas parecia dar mais atenção à presença da menina do que a bruxa havia dado. Depois de alguns segundos, largou tudo e apoiou os cotovelos na mesa, repousando a cabeça em suas mãos. Parecia esperar algo, então Sen começou:

— A bruxa Zeniba, residente do Fundo do Pântano, me enviou como um presente. Se aceitar, trabalharei para o senhor, acatando ordens e servindo-lhe como me for mandado.

Na realidade, Sen tinha medo de falar aquilo. Tinha medo que lhe fosse pedido algo absurdo, enfadonho ou horrível. Mas não havia outro jeito.

A criatura emitiu um som, algo parecido com uma interjeição demonstrando aprovação. O som assustou Sen até os ossos, mesmo que não aparentasse.

— Zeniba... irmã daquela... — Sen preparou-se para ouvir com toda a atenção, mas a figura parou de falar bruscamente. A menina podia sentir o homem se repreendendo internamente, e lamentou por ele ter se tocado rápido de seu erro.

— E qual seria seu nome, humana?

Sen não tinha certeza se era bom ele saber sua origem, mas respondeu sem hesitar:

— Sen.

— Na realidade, Sen, não preciso de empregados. Porém, não é educado devolver um presente. — Parou por um instante, refletindo, até finalmente exclamar: — Haku!

O coração de Sen perdeu controle momentaneamente, rendendo-lhe um aperto horroroso pela batida esquecida. Sua postura, porém, se manteve friamente intacta. Quem a visse jamais suspeitaria o quanto implorava a todos os deuses bons que Haku não a entregasse.

As portas novamente se abriram e novamente Sen não encontrou o que esperava. Ali, diante dela, estava Kohaku Nushi Nigihayami, mas ele não tinha a idade de antes. Ele havia crescido.

E, pela cena que se seguiu, não parecia se recordar dela.

Haku olhou-a por alguns segundos e voltou seu olhar para a figura, que lhe disse para cuidar de Sen enquanto não arranjasse nada para ela. Também falou que, se ele mesmo encontrasse algo para a menina fazer, deveria direcioná-la e depois comunicar a ação. O jovem concordou e se dirigiu a Sen.

— Qual seu nome?

Desta vez, Sen hesitou, e se amaldiçoou por isso.

— Sen.

— Entendido. Eu me chamo Haku. Siga-me, irei mostrar onde você irá ficar.

Sem falar mais nada, Sen, de mente bagunçada e coração destruído, seguiu Haku.

Ele não a reconhecera.


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Notas finais do capítulo

PS. Eu prometeria adiantar um pouco a história dado em conta que estou de férias, mas me encontro em um bloqueio criativo. Portanto, perdão, não aproveitarei o tempo como faria normalmente. Mas tentarei, sim, postar o máximo que der. E meu Deus, me desculpem ter completado um mês sem atualizar! O TEMPO VOOU, SOCORRO



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