Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 6
Chihiro to Sen no Kamikakushi


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem, eu realmente não queria ter deixado a fic completar um mês sem atualizações, mas esse foi um período complicado :x



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Chihiro sentiu como se uma torrente de ar frio a houvesse transpassado, arrepiando todos os cabelos de seu corpo. A ideia era tão absurda que se viu incapaz de responder imediatamente.

— Vovó, não brinque com coisas assim...

— Infelizmente não estou brincando, minha criança. Para ir onde precisa, só conseguirá através de Sen. Chihiro jamais pertencerá a este mundo.

— Vovó Zeniba, pode parecer algo fútil, mas...

A menina foi incapaz de falar. Se via incapaz de expressar como a ideia de novamente se tornar Sen era pavorosa. Pouco a pouco, esquecendo não só seu nome, mas sua identidade, seu ser, afundando em um oceano escuro, onde era incapaz de respirar ou enxergar. Era impossível que Zeniba a entendesse, em tempo algum alguém poderia. Somente aqueles que experimentaram a sensação de perder a essência da própria existência saberia o por que da alma de Chihiro ter-se abalado tanto com a notícia.

Zeniba aproximou-se de Sem Face e pediu que o deus preparasse um chá para menina. Dirigiu-se, então, até ela. Abraçou-a, embalando-a, tentando fazer com que a dor de seu coração anuviasse.

— Pequenina, imagino o quão difícil é isto... Mas você precisa ser forte, pelos seus amigos. — A bruxa ergueu sua mão, secando a lágrima que escorreu pelo jovem rosto.

— Sim, vovó, eu sei... Obrigada, já estou bem. — Chihiro pegou as mãos da bruxa entre as suas, balançando-as firme, mas carinhosamente. — O que devo fazer?

— O mais simples seria restaurar o contrato outrora selado com minha irmã, mas na ausência dela, terei de resolver. Faremos um novo contrato.

— Mas a casa de banhos já não funciona mais. De que adianta um contrato?

— O importante é roubar o seu nome, tirar de você o elo que a mantém presa a seu mundo. Darei um jeito de envolver a casa de banhos no acordo por garantia, mas não se preocupe com isso, resolverei tudo e a chamarei quando a hora de assinar chegar. Enquanto isso, durma um pouco. Foi um dia longo, pequenina.

Agradecida, Chihiro assentiu com a cabeça e acenou levemente com a mão, sem forças para fazer muito mais que isso. Guiada por Sem Face, chegou ao quarto de Zeniba, onde tomou o chá e, logo em seguida, adormeceu. Teve um sono perturbado, com imagens de Lin e Haku sangrando desmaiados, o menino em sua forma de dragão. Por isso, quando Zeniba a acordou algumas horas depois, Chihiro se viu tomada pelo alívio, alívio que não sentia havia muito tempo.

Zeniba a guiou para perto da lareira, entregando um pedaço de pergaminho com sua letra garranchada. Como se o modo automático se apoderasse dela, Ogino ajoelhou-se no chão, onde assinou o papel com seu nome verdadeiro. A bruxa ergueu a mão e o papel voou, encaixando-se perfeitamente na palma estendida. Com outro movimento, as letras do nome saíram do papel e sumiram entre seus dedos.

— Agora, você responderá por Sen. Está claro, Sen?

O tom de sua voz e a expressão em sua face foram tão iguais as que Yubaba fizera quando assinaram o contrato há dez anos que Ogino quase acreditou na possibilidade de ter sido proposital.

— Entendido.

— Muito bem, Sen. Não deveria ser doloroso para mim, já que te conheci por este nome, mas não nego que meu coração se aperta. Sinto muito coloca-la nesta situação, criança.

— Tudo bem, senhora. — Por um momento, Zeniba a encarou, descrente. Alguns segundos foram necessários para que sua expressão fosse tomada pelo entendimento. Tudo fazia parte do contrato. Sen passara a trata-la como uma real funcionária, o que não deixava de ser.

— Uma cláusula no contrato afirma que poderei dá-la como funcionária para quem for de meu desejo. Você usará isso para chegar aos deuses. Dirá que envio você como um presente e que quer trabalhar para eles. Deve esconder que conhece Yubaba e os outros, ninguém pode saber sua relação com eles. Entendido, criança?

— Entendido. Se perguntarem de onde vim?

— Conte sua história, mas corte a parte de seus pais. Diga que achei-a enquanto rondava a casa de minha irmã e enganei-a para que trabalhasse para mim. Seja um pouco rebelde, mas não o suficiente para sofrer punições, apenas para se mostrar infeliz de estar ali.

— Devo explicar por que você me enviou para lá?

— Isso está explicado no contrato. Disse-lhes que é de meu desejo demonstrar meu apoio a eles.

Toda a informação necessária havia sido trocada. Nada mais prendia Sen ali, mas a partida era dolorosa e o futuro incerto demais para ela. Desejava ficar e rezar para os deuses bons que restaram devolvessem seus amigos.

Zeniba pôs uma mão nas costas de Sen, empurrando-a levemente para a porta. A jovem sabia que a bruxa estava sofrendo, possivelmente mais do que ela. Zeniba vivia a dor da perda de sua irmã e sua magia, e ainda tinha que assumir o terrível papel de enviar a menina nessa missão. Era peso demais para os velhos ombros da bruxa.

Chegando lá fora, Zeniba forçou-se para reconstruir o dragão de papel. A magia estava deixando-a, e cada nova feitiçaria sugava enormes quantidades de energia.

— Desculpe, criança, mas aqui nos despedimos definitivamente. Serei incapaz de ajuda-la de qualquer forma e de salvá-la caso algo dê errado. Por favor, pequena, fique bem.

— Ficarei, vovó. — Sen não foi capaz de manter a postura assumida após a assinatura do contrato. Despedir-se de Zeniba como se despediria de um desconhecido tornava tudo mais doloroso. Por isso, abraçou-a, despedindo-se adequadamente. A bruxa apertou o abraço como se aquele fosse o último que daria em vida. Depois de se soltar do carinho, Sen despediu-se de Sem Face.

— Mais uma coisa, criança. O dragão está enfeitiçado. Parará nos locais seguros para que você possa comer e descansar, então não se assuste quando ele pousar. Mas seja cuidadosa, não demore demais em um mesmo lugar. Adeus, criança. Que os deuses bons guiem seu caminho.

A jovem assentiu afirmativamente e, com a ajuda de seus amigos, finalmente subiu no dragão de papel. Antes que pudesse se arrepender, a enorme criatura tomou impulso e lançou-se aos céus, rumo a lugares que Sen jamais poderia imaginar.

~✰~

Apesar de ter dormido por horas na casa da velha bruxa, Sen acabou adormecendo, deitada sobre o corpo da criatura. Por mais belo que fosse o mundo visto de cima, por mais incrível que fosse a sensação de voar pelos céus, a menina simplesmente não conseguia aproveitar. Só era capaz de pensar em coisas ruins acerca de seus amigos. Por conta disso, foi necessário que o dragão se movimentasse de modo capaz de despertá-la. Era hora de descer por algumas horas.

Não via necessidade de dormir mais ainda, nem seria capaz de fazê-lo, se tentasse. Sen resolveu, então, rondar o local que Zeniba escolhera como refúgio temporário. Era bem parecido com algo vindo de seu mundo, apesar de ser algo bem estranho para os padrões humanos. O dragão de papel pousou em um enorme campo, uma região de relva verdejante que se estendia além do que Sen podia enxergar. Estava tudo escuro, iluminação vinda somente da luz da Lua e de um pequeno casebre que se localizava ali, no meio “do nada”. Por isso lembrava tanto seu mundo, mas fugia tanto dele ao mesmo tempo. Os humanos jamais construiriam algo ali, inacessível para pessoas normais. Provavelmente, todos os clientes precisavam chegar voando ou de alguma outra maneira mágica.

Atormentada pela brisa da fria da noite, correu para a construção, onde foi atendida por uma senhorita com idade próxima de Lin. Aparentemente, a jovem já era esperada, pois logo recebeu um molho de chaves e algumas informações sobre o humilde hotel, mesmo sem ter falado nada.

Apesar de desejar somente comer e partir o mais rápido possível, Sen resolveu permanecer alojada por algumas horas. Não sentia mais sono, mas seus membros estavam doloridos pelas horas de voo constante. Seu problema foi amenizado, porém, quando a atendente ofereceu a ela um banho quente, após ouvi-la gemer depois de um movimento em falso que fez seus costas estalarem em protesto.

Entrou no banheiro e despiu-se, jogando as roupas no chão. Recolheria depois. O banheiro era modesto, mas bem organizado. Um armário para remédios e produtos de higiene se encontrava acima de uma pia de acrílico, um tapete cobria o chão e uma banheira estava localizada na parede oposta a porta e, próximo a ela, havia um espelho. Sen dirigiu-se a ele para observar os reflexos de sua cansativa aventura em sua aparência.

Olhou-se no espelho e gritou, gritou desesperadamente, sem nem ao menos perceber que estava gritando. Só parou quando a atendente, preocupada, bateu na porta, perguntando o que havia acontecido. Inventou qualquer desculpa, mas a moça só partiu quando teve certeza que a jovem estava bem.

Mas ela não estava. Ali, refletido, estava Sen. Só havia um detalhe: aquela era a Sen de dez anos atrás.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando, até o próximo capítulo



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