Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 5
Última parada, o Fundo do Pântano


Notas iniciais do capítulo

Gente, perdoem-me pela demora novamente, está sendo bem difícil escrever ultimamente :x
Anyway, aqui está o capítulo. Espero que gostem! *vv*
Aaaah, preciso compartilhar isso! Pois então, certas músicas do filme são versões instrumentais das músicas originais, isso eu já sabia. Eu sabia que era assim com Inochi no Namae. Mas agora descobri que a música que toca na parte que Haku busca Chihiro na casa de Zeniba –se não me engano- também é assim. Inclusive, a parte cantada é linda. O nome é Futatabi.
Desculpem essa informação inútil, mas eu fiquei tão feliz, é tão bonitinha a música.



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Durante os minutos mais longos de sua vida, Chihiro foi conduzida para fora do enorme prédio. O homenzinho de papel a levava por um caminho que a menina conhecia bem, vide que havia feito este mesmo caminho para escapar de Sem Face no passado. Em direção aos trilhos do trem.

Por mais animada e ansiosa que estivesse, a ideia de percorrer todo aquele percurso a pé a desmotivava. Outrora, havia considerado tal ideia, mas, graças a ajuda de Haku, isto não foi necessário, o que deixara a menina extremamente contente, pois, no caminho de ida, fora capaz de perceber o quanto teria de caminhar. Provavelmente, teria levado um dia ou mais para voltar.

Quando finalmente alcançaram a parte exterior do prédio, Chihiro fora realmente capaz de captar todas as mudanças que ocorreram naquele cenário. O imenso mar ficou no passando, dando espaço a um campo aberto. A grama era relativamente alta, chegava quase aos joelhos da menina. Não sabia que era um truque de sua cabeça, mas pensou ter visto alguns animais correndo ao longe, além de pássaros voando alto nos céus.

Observar as aves possivelmente fantasiosas fez com que Ogino estivesse olhando para o alto quando tudo aconteceu. Ao longe, uma massa de nuvens brancas movia-se rapidamente em direção a casa de banhos. Assustada, sem entender o que era aquilo, acabou recuando alguns passos, pensando se deveria ficar ou ir embora.

Cada vez mais próximos, a aglomeração começou a criar forma. Percebeu algumas coisas, como a inexistência de movimentos como o bater de asas, e também que as criaturas eram bem pequenas.

Finalmente capaz de entender aquela bagunça alva, caiu para trás, agradecendo por ali não ser mais oceano. Teria ficado encharcada.

Sobrevoando o céu acima de sua cabeça, estavam milhares de pequenos homenzinhos de papel, iguais aquele que agora repousa em seu ombro. Depois de diminuírem a velocidade, começaram a descer em círculos. Antes que percebesse, Chihiro estava no centro de um grande redemoinho de homens-pássaros de papel. Dispersaram-se desta formação e reuniram-se, agora, criando a imagem de um dragão.

A imagem quase fez Ogino chorar. O dragão ali montado era muito parecido com Haku em sua forma animal. Quando estava começando a acreditar jamais ser capaz de ver algo assim novamente, foi parar ali, diante de uma imagem tão sonhada e desejada. A alegria foi tão incomensurável que foi capaz de esquecer a destruição das salas de Kamaji e Yubaba

O dragão-de-homens-pássaros-de-papel fez um movimento com a cabeça, o que provocou ondulações sucessivas ao longo de todo o seu corpo. Entendendo a mensagem, a jovem andou até a região que seria a coluna da criatura e subiu. Sem aviso prévio, os milhares de papeizinhos levantaram voo simultaneamente, criando um espetáculo que, com certeza, seria único. Chihiro gostaria de poder vê-lo de outro ângulo, mas a sensação de voar nos céus sobre aquele enorme ser era impagável.

Não se preocupou em contar, mas, graças a sua experiência de estipular os minutos passados–habilidade muito útil em provas, já que sempre esquecia o relógio–, acreditou que a viagem levou umas duas horas. Sentia dor nos pés só de lembrar que ia percorrer tudo aquilo a pé. Tal travessia nesse tempo recorde só foi possível por conta da alta velocidade que o dragão de papel conseguia chegar. Haku não havia se preocupado com velocidade, então não sabia o quão rápido o menino podia ser, mas não duvidaria se o dragão de papel o ultrapassasse tranquilamente.

Avistou a estação do fundo do pântano e deu leves tapinhas na cabeça do dragão, pedindo para descer. Aquele percurso, ela desejava fazer a pé.

Ogino desceu pela pata direita, pulou e aterrissou com os dois pés no solo fofo. Reestabelecendo seu equilíbrio, esticou-se e estalou o corpo, exausta pelos eventos do dia. Acessou seu mapa mental e seguiu em direção a casa de Zeniba. Perguntou-se se Sem Face ainda morava com ela.

Sentiu-se um pouco sozinha ao andar entre as árvores. Da última vez, estava com seus amigos e, mesmo escuro, havia o lampião ambulante de Zeniba para guia-la. Agora, porém, estava completamente só, no início de uma manhã fria e agitada. Enquanto mantinha tais pensamentos depressivos, acabou pisando no próprio cadarço, caindo no chão.

A cena fora simplesmente patética, então, por alguns segundos, conseguiu sentir-se agradecida pela solidão.

Ergueu-se, espanando as roupas, agora cheias de poeira. Quando dirigiu a mão até seu nariz para esfregá-lo, percebeu que estava sangrando. Riu de si mesma e de sua facilidade em sangrar com machucados ridículos. Começou a sentir lágrimas formando-se em seus olhos, mas revoltou-se.

“Não. Não. Não. Já fui fraca por tempo demais...”

As lágrimas lutavam para escorrer, livres de sua prisão, livres daqueles olhos que sempre choravam. Balançou a cabeça, com força, tentando espantar a enxurrada que tentava devastá-la.

“Eu finalmente cheguei até aqui, não posso mais ser fraca. Chega. Não. Não vou chorar.”

Sentiu o nó na garganta perdendo força, as lágrimas já não mais na iminência de correr. De dentro da sua mochila, retirou o último lenço umedecido que restava e usou-o para limpar o sangue.

“Agora, eu vou ser mais forte.”

Reatou o laço do tênis e seguiu caminho. Durante uma curva, sentiu uma movimentação estranha, seguida de um som ainda mais esquisito.

Nhec, nhec, nhec...

Se viu incapaz de continuar andando. Ela já ouvira aquele som antes, era o som do lampião de Zeniba. Seguiu o som, necessitando confirmar suas suspeitas.

Estava correta.

Perdido no meio das árvores, estava o servente mágico da bruxa. Aparentemente, a procurava, pois sua mão estava erguida no alto de sua “cabeça”, e ele girava-a como se estivesse buscasse algo. Quando a avistou, começou a pular, indo a seu encontro. Os dois fizeram uma profunda reverência e, sem demora, o objeto animado virou as costas, guiando-a para seu destino final.

Após alguns minutos, a casa da bruxa finalmente se fez visível. Não aguentando a ansiedade, Chihiro correu. Postada diante da porta da frente, estava Zeniba, acariciando a cabeça do dragão de papel, que se desfez. Seu serviço estava completo.

Ao ver a jovem, Zeniba abriu os braços, e Chihiro se afundou no abraço da velha irmã de Yubaba.

— Vovó! Que saudade!

A voz de Ogino estava embargada. Aquele havia sido um péssimo momento para jurar não derramar mais lágrimas. A alegria de ver aquela senhora transbordava seu coração e tentava vazar através de seus olhos.

— Estava a sua espera, Chihiro. – A velha afastou-se. – Como você cresceu! Já é uma adulta no mundo dos humanos, correto?

— Sim, vovó.

— Como o tempo passa rápido. Vamos, entre, criança, entre. Preparei algo para comermos.

Agora, com a bruxa de companhia, Chihiro entrou na casa e avistou Sem Face. Cumprimentou-o com uma reverência e todos juntaram-se para comer.

Quando iniciou a jornada, esperava encontrar a todos, exceto aqueles dois, por morarem tão longe. No fim, aconteceu exatamente o contrário do que esperava. Os olhos da garota ainda estavam marejados com a emoção. Estava feliz de poder reencontrá-los.

— Pode chorar, minha criança. Não tem problema. – Chihiro havia entrado em um estado sonho acordado durante alguns minutos, e fora observada o tempo todo por seus amigos. Assustada, voltou bruscamente a realidade e precisou de alguns segundos para assimilar o que Zeniba estava falando.

— Não, vovó. Prometi a mim mesma que não choraria mais.

— Tem certeza disso?

— Sim. Vou guardar minhas lágrimas.

Ao terminar de falar, Chihiro pensou se Zeniba não teria entendido errado o que ela quisera dizer, mas a velha não demonstrou sinais de ofensa. Apenas olhou profundamente em seus olhos e, fechando seus olhos, acenou positivamente com a cabeça, demonstrando que entendeu a atitude.

— Como vai o seu prendedor de cabelo?

— Ah. – Chihiro ergueu o punho direito, mostrando o pequeno elástico roxo. – Alguns anos atrás, fiquei com medo dele arrebentar por puxar e afrouxar todos os dias, então comecei a usá-lo como pulseira. Ele estava ficando desgastado.

Durante toda a explicação, Zeniba riu-se, como se soubesse algo que Chihiro não sabia. Porém, na última frase, o sorriso desapareceu de seu rosto e, com um gesto, pediu que lhe desse o objeto.

Analisou-o durante alguns minutos, passando os dedos e olhando-o bem com a ajuda de uma lupa. Ao fim, respirou fundo e devolveu o elástico.

— A situação está pior do que eu esperava...

— Vovó?

— Chihiro, precisamos conversar. Sei por que está aqui, mas eu não posso lhe fornecer muitas informações. Eu mesma não as tenho, só algumas poucas, frutos de investigações. Mas preste bastante atenção, criança, pois o tempo é curto. Você precisa partir.

— Mas já, vovó?

— Sim, criança, já. O mundo dos deuses está em crise. A magia está desaparecendo.

— Como assim, vovó? – demorou alguns segundos para que Ogino pudesse formular a sentença sem gaguejar. Aquilo era loucura.

— Provavelmente, “desaparecer” não é o correto a se dizer. É bem mais possível que “roubar” se encaixe mais na situação.

Visto a expressão na face de Chihiro, Zeniba procurou palavras que fizessem mais sentido.

— Lembra-se como era Sem Face, Chihiro? Quando estava na casa de banho de minha irmã, era mau. Creio que você já tenha percebido isso há muito tempo. A ganância e mesquinhez das pessoas o afetou, mesmo que ele não tivesse contato direto. Por conta disso, Sem Face começou a agir da mesma forma. Isso ocorre porque ele é um deus sem personalidade. Ele absorve para si aquilo que gira em seu redor. – Quando terminou, fez uma expressão indagadora, questionando se poderia prosseguir. Com um aceno de cabeça, a menina demonstrou que estava entendendo, então Zeniba continuou. – Nem todos os espíritos e deuses, porém, são assim. Entenda, Chihiro, onde há bem, existe mal. E vice-versa. Essa é a ordem das coisas. Quanto maior a luz, maior a sombra. Portanto, existem deuses e espíritos de má índole.

Ogino estava estupefata. Nunca havia pensado por este ângulo. Pensara que os espíritos e deuses eram sempre bons. A garota estava tão focada que nem percebeu que seu corpo tremia de frio. A janela estava aberta e, por ela, entrava na casa uma brisa fria. Zeniba parou a narração quando Chihiro espirrou, levantando-se para fechar a janela, enquanto Sem Face buscava lencinhos de linho. Agradecida, a jovem pegou um e assoou o nariz. Precisou trocá-lo algumas vezes, porque a força feita para assoar reviveu o machucado, que voltou a sangrar. Constrangida por estar sujando lenços tão bem trabalhados, pegou apenas mais um e enfiou-o no nariz, para estancar o sangue. Respirando pela boca, pediu que a senhora continuasse.

— Dentre os deuses e espíritos maus, há aqueles que simplesmente não apreciam o bem e aqueles que querem destruir e dominar a tudo e a todos. Não entendem o ciclo das coisas, esses idiotas. Quando você partiu, os malvados perceberam um peão essencial: Yubaba. Mesmo que seu coração não tenha amolecido, o de seu filho amoleceu. Ele quase sempre impedia minha irmã de agir de forma imoral, principalmente com Haku. Além disso, o jovem não queria mais servi-la. Queria quebrar o contrato e partir deste mundo. Yubaba fez o possível e i impossível para impedí-lo, e esse impossível acabou desencadeando no nosso problema atual: a magia sendo roubada. Minha tola irmã, para manter o dragão sob seu domínio, pediu ajuda a deuses ruins. Porém, esses deuses eram muito mais poderosos que ela. Quando se enfureceram, Yubaba não foi capaz de contê-los.

— Por que se enfureceram, vovó?

— A verdade sobre isso me é desconhecida, mas suponho que tenham se irritado por minha irmã ter tentado controlá-los. De qualquer forma, criança, o que acontece em seguida é o problema. Os deuses roubam tudo que importava para Yubaba. A casa de banhos, seus funcionários, seus clientes. E a magia. Tudo que Yubaba tanto prezava foi tirado dela, sem devolução.

— Você quer dizer que todos foram, basicamente, sequestrados?

— Sim, sequestrados. Para você, que conheceu tão pouco do nosso mundo, pode parecer absurdo, mas é realmente possível fazer isso. A magia é poderosa demais. E perigosa demais, dependendo de quem a usa. Yubaba se envolveu em problemas que não podia resolver e agora isso afeta a todos nós.

— Mas estão todos bem?

— Desculpe, criança, mas não posso afirmar isso. Não consegui rastreá-los. Os enfurecidos usam a magia para esconder todo e qualquer rastro. Por isso você não conseguia retornar. Eles não permitiam.

— E por que consegui agora?

— O princípio da magia é o amor, Chihiro. Aqueles que amam verdadeiramente são os que podem usar a forma mais pura e original da magia. Porém, creio que seu coração não estava preparado. Esse período foi necessário para que você amadurecesse, para que seu amor crescesse. Só assim será capaz de consertar as coisas.

— E o que devo fazer?

Zeniba parou por alguns minutos, refletindo sobre qual seria o melhor modo de dizer o que viria a seguir. Quando percebeu a inexistência de palavras que pudessem amenizar o choque, falou, pura e simplesmente.

— Você deve se tornar Sen.


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Notas finais do capítulo

Admito que está sendo um pouco estranho tratar Chihiro como adulta, então peço desculpas. Eu escrevo que ela tem 20 anos, mas, na minha cabeça, todas as cenas se passam com ela ainda tendo 10 anos. É meio difícil, mas vou me esforçar para consertar isso e não cometer erros. Então peço a vocês que sejam paciente comigo.
Mais uma vez, gostaria de agradecer a vocês por estarem lendo.
Muito obrigada a todos ^.^



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