Quase duas semanas haviam se passado e eu ainda não tinha nenhuma outra ideia e para completar não tinha conseguido falar com Gale em nenhum momento e isso me deixava cada vez pior, principalmente por saber que em menos de duas semanas ele poderia estar partindo para o treinamento. Eu queria muito falar com ele, mas dia após dia me sentia mais e mais vigiada cheguei a pensar que eram coisas da minha cabeça, o problema era que isso estava começando a afetar não apenas minhas noites onde ainda vinha tendo pesadelos constantes, mas também meu dia a dia. Em mais de uma aula havia sido questionada sobre minha constante distração e falta de atenção além de ser avisada que se as coisas não melhorassem teriam que chamar meu responsável para uma conversa. Não que eu me importasse com isso meu avô sabia exatamente o que me afligia e não se importava na verdade acredito que ele esteja adorando saber o quanto nossa conversa me afetou e eu odiava isso.

Queria poder demonstrar que não ligava para o que ele me disse, queria poder não sentir medo do que ele poderia fazer, mas era impossível, ele havia ameaçado o que tinha de mais importante na minha vida e não conseguia não temer pelo futuro da Prim. Algumas pessoas dizem que as coisas tendem a piorar quando menos se espera e eu passei a acreditar nisso no momento em que cheguei no meu quarto e encontrei aquela caixa de presente. Confesso que senti uma péssima sensação ao vê-la em cima da minha cama, eu sabia de quem era mesmo antes de abrir, ele já tinha feito isso antes logo que me mudei era comum encontrar um presente em cima da cama, no inicio eram bonecas, depois vieram as roupas algumas joias, nunca soube o por que mas nunca me senti bem eles nunca foram verdadeiros talvez fossem apenas mais uma parte da farsa de família feliz talvez ele tenha tentado comprar afeto embora duvide muito que ele um dia tenha desejado isso, com o tempo porém as coisas mudaram ele ainda comprava o que fosse necessário sempre o melhor afinal ninguém poderia saber que vivíamos uma farsa, mas as coisas somente apareciam no meu guarda roupa ou cômoda e eu por outro lado nunca fiz questão de nada.

Abri a caixa e tirei o belo vestido de dentro dela, preto básico um pouco abaixo do joelho confesso que era de muito bom gosto na caixa ainda tinha um par de sapatos de salto, aquilo não fazia sentido. Deixei tudo dentro da caixa e guardei dentro do guarda roupa provavelmente aquele era mais um dos jogos do meu avô. Prim chegou da escola no horário e ficou muito animada com o vestido que havia ganhado, diferente de mim ela não achou nada estranho o presente já que para ela eles ainda eram comuns.

– Você não me disse se o presente agradou Katniss – me surpreendi com o comentário durante o jantar – Primrose me disse mais cedo o quanto apreciou o presente dela, mas você nada disse.

– São lindos, obrigada.

– Fico feliz, quero que usem no jantar de sexta feira teremos convidados – senti um certo alivio era apenas mais um jantar provavelmente de negócios onde meu avô queria mostrar a suposta família perfeita.

– Quem vira jantar conosco vovô? – Prim perguntou com naturalidade, pude ver o sorriso que ele deu antes de responder calmamente.

– Os Mellark querida, o noivo da Katniss esta chegando da Capital – quase deixei meu talher cair quando escutei – Não preciso dizer que espero a melhor postura das duas não é? Afinal é o futuro de vocês e eu quero o melhor para as duas, não vou estar aqui para cuidar de vocês sempre.

– Não fala assim vovô – ouvi sem prestar atenção minha irmã dizer que vovô viveria muito e senti uma pontada no meu peito.

– Eu vou para o meu quarto – Prim olhou para mim sem entender minha súbita partida da mesa.

– Você ainda não terminou o jantar

– Não estou com fome, posso me retirar por favor? – ele olhou fundo em meus olhos, eu estava dando a ele o gostinho de saber que tinha me afetado mais do que eu gostaria, mas naquele momento a única coisa que queria era ficar sozinha.

– Tudo bem querida você pode ir – levantei o mais rápido que pude e segui em direção ao meu quarto, não acendi a luz apenas me deitei e abracei meu travesseiro, meu coração estava apertado a volta do Mellark nesse momento era uma das piores coisas que poderia acontecer, alguns minutos depois ouvi Prim entrar no meu quarto e fingi estar dormindo.

A única coisa que ficava na minha mente era que precisava falar com Gale, pouco a pouco as horas foram passando, quando olhei novamente para o relógio passava das vinte três horas, resolvi ariscar procurar Gale eu sabia que seria perigoso, mas precisava arriscar. Fechei a porta do meu quarto e infantilmente coloquei alguns travesseiros na cama e pela árvore em frente a minha janela desci até o jardim e sai sorrateiramente da casa. Por ser quarta feira as ruas estavam vazias ainda assim andei rapidamente quase correndo em direção a Costura como era chamado a parte menos favorecida do Distrito, eu não costumava ir até lá para evitar qualquer desconfiança, mas conhecia bem o lugar onde nasci e vivi até meus dez anos.

Consegui chegar sem ser vista até a casa simples onde Gale morava e eu acreditei que moraria um dia, eu sabia que ele dormia no quarto dos fundos então sutilmente pulei o pequeno muro e fui até a janela dos fundos e bati algumas vezes. Gale abriu a janela olhando desconfiado.

– Katniss, o que você esta fazendo aqui? - ele perguntou assim que me viu, eu nunca tinha feito algo assim.

– Precisamos conversar – ele abriu espaço para que eu pulasse a janela, observei o pequeno quarto embora não conseguisse ver muita coisa devido a falta de luz.

– Aconteceu alguma coisa? Ele fez alguma coisa?

– Ele esta voltando, Gale meu avô marcou um jantar para definir os detalhes do meu casamento – falei sussurrando.

– Então se casa antes, a gente casa amanhã se você quiser, você pode ficar aqui hoje não precisa voltar nunca mais para aquela casa.

– Não Gale precisamos fugir – eu estava tentando manter minha voz baixa

– E viver como? É loucura.

– Não é, olha minhas joias ficam no cofre do meu avô, mas na sexta ele provavelmente vai me dar para que eu escolha algo para usar no jantar podemos vender essas joias não é muito mais é alguma coisa, tenho algum dinheiro que podemos usar na passagem de trem, a gente trabalha Gale, se eu ficar não vou ter escolha entende isso.

– É logico que você tem escolha, você fez dezoito anos e se quiser pode se casar comigo seguimos o nosso plano, não complica tudo Katniss – aquelas palavras me surpreenderam.

– Não eu não tenho e a Prim Gale, ela é minha irmã não posso simplesmente deixar que meu avô destrua a vida dela e a minha mãe como eu vou cuidar dela.

– Ele não vai destruir Katniss, e a Prim não é sua filha você não pode deixar de viver por ela, podemos dar um jeito de colocar sua mãe em um lugar mais barato.

– Você não vai fugir comigo? – eu acreditava que Gale iria comigo para qualquer lugar.

– Katniss eu te amo, e quero muito me casar com você, tenta entender eu recebi uma oportunidade única não só para mim mais para você e para minha família, eu não acho que seu avô iria cumprir com tudo que disse ele só quer te assustar.

– Você esta disposto a arriscar? Você não o conhece, ninguém conhece.

– Katniss ...

– Não Gale, eu não posso arriscar, eu não posso pensar em mim agora, porque a Prim é apenas uma menina, porque eu sei que ele vai tentar me atingir e vai usar todas as armas que tem para isso, e a pior arma que ele tem agora é a guarda da minha irmã, se você não quer fugir conosco então acabou – senti meus olhos se encherem de lagrimas, mas me esforcei para evitar que elas caíssem, ele pareceu surpreso então eu apenas pulei a janela e corri para casa, por maior que fosse meus sentimentos por ele não poderia viver ao lado dele sabendo que Prim era infeliz e pela felicidade dela eu daria a minha em troca.