A segunda feira amanheceu linda o céu limpinho indicava o dia agradável que teríamos infelizmente meu humor estava péssimo, os pesadelos haviam me deixado acordada boa parte da noite onde eu fiquei pensando em uma maneira de conversar com Gale, não havia conseguido encontra-lo desde de o meu aniversario. Eu precisava avisa-lo sobre a conversa que tive com meu avô, ele precisava saber que nosso namoro não era tão secreto quanto pensávamos e acima de tudo precisava tomar cuidado já que eu não sabia até onde a sede por dinheiro e poder levariam meu avô. E só de pensar que ele pudesse ferir Gale de alguma maneira ou prejudica-lo já me deixava inquieta.

Eu havia formulado um plano naquela noite só precisava conversar e convencer meu namorado de que era o que precisávamos fazer. Segui minha rotina normalmente como todos os dias embora não conseguisse prestar atenção em uma única palavra dita pelo professor durante a aula a única coisa que pensava era no plano de fuga que iria propor ao Gale assim que conseguisse falar com ele, eu nem ao menos notei quando o sinal indicando a próxima aula tocou.

– Katniss – Annie sacudiu meu ombro e acabei me assustando – A aula acabou, temos que ir para quadra - concordei com a cabeça e segui para o vestiário, normalmente eu adorava educação física, mas hoje eu estava sem a menor vontade.

Me troquei e comecei a aquecer tentando ao máximo me concentrar quando ouvi algo batendo na grade próximo do lugar que estava, olhei ao redor quando avistei no prédio onde ficava os vestiários escondido atrás de uma das muretas estava Gale, senti meu coração acelerar e involuntariamente olhei ao redor temendo que mais alguém tenha visto ele, mas os demais pareciam entretidos em conversas paralelas enquanto se aqueciam para aula, olhei novamente pra o lugar onde ele estava e percebi que ele indicou o vestiário com a cabeça. O apito do professor chamou a atenção de todos, segui os demais até ele e comecei a correr seguindo a rotina padrão da aula estávamos no meio do que eu sabia ser a penúltima volta pela quadra descoberta quando fingi tropeçar e me joguei no chão.

Eu era uma péssima atriz, mas coloquei uma das mãos no tornozelo e me mantive no chão o som do apito fez os demais alunos pararem e logo senti o professor se abaixar ao meu lado perguntando se eu estava bem, afirmei com a cabeça e me levantei lentamente não olhei para ele ao apoiar meu pé no chão e dizer que meu tornozelo doía, ele me ajudou a chegar a um dos bancos e eu torci para que não estivesse tão perceptível que estava fingindo mancar. Ele olhou atentamente o local e garantiu que o mesmo não estava quebrado, mas que talvez fosse bom que me levassem ao hospital, neguei e fingi tentar levantar novamente.

– Srta. Everdeen acho melhor você não participar da aula, fique no banco e se não melhorar até o final da aula providenciarei para que levem a Srta. ao hospital.

– Professor posso ficar no vestiário? – ele concordou, não havia porque negar, assim como não havia o porque ele não acreditar no meu suposto machucado eu era uma de suas melhores alunas, sempre participava das aulas e nunca tinha dado nenhum problema, segui mancando até o vestiário e pude escutar o apito assim que cheguei a porta do mesmo.

Acendi a luz e não vi ninguém, encostei a porta e caminhei lentamente em direção aos chuveiros, senti alguém me puxar pelo braço e sorri ao ver Gale tão próximo, o abracei forte, senti o perfume dele aquela fragrância me acalmava aqueles dias tinham sido um inferno eu havia esperado muito por esse momento nos últimos dias, interiormente eu sabia que algo tinha acontecido para ele ter se arriscado tanto vindo até minha escola ele nunca tinha feito isso antes, mas naquele minuto a única coisa que eu queria era abraça-lo, ele segurou meu rosto e olhou em meus olhos trazendo seus lábios aos meus me fazendo esquecer de tudo por alguns segundos.

– Catnip eu tenho ótimas noticias – pude perceber a animação em sua voz – Eu fui convocado – a uma semana atrás aquilo teria me feito pular de alegria, mas não naquele momento – Catnip você me ouvi? Eu fui convocado, sabe o que isso significa? – ele estava feliz e não entendia o porque de eu não demostrar a mesma felicidade.

Eu sabia o quanto isso significava não apenas para ele, desde que se alistou Gale esperava por essa oportunidade, ser convocado significava um trabalho digno e respeitado servindo a Panem e cuidando da segurança do distrito, além de receber um salario justo que logo na primeira patente seria no mínimo o dobro do que ele conseguia atualmente trabalhando na fabrica e fazendo alguns extras pelo distrito. Para nossos planos iniciais aquela era a oportunidade perfeita com o novo salario ele conseguiria melhorar um pouco a qualidade de vida da mãe e dos irmãos e eu poderia levar Prim comigo de imediato, sem contar os planos a longo prazo que havíamos feito para quando ele subisse de patente, uma casa só nossa, formar nossa própria família.

– Gale – tentei falar mais as palavras não saiam

– Eu juro que vou dar o meu melhor para conseguir subir de patente e em breve eu vou poder dar uma vida melhor para você, o treinamento começa em três semanas eu vou precisar ficar fora por dois meses, mas vou estar recebendo mesmo estando em treinamento então podemos nos casar antes que eu vá e eu mando meu salario para vocês, e Prim pode vir morar com a gente agora as coisas não vão ser como na casa de vocês, mas podemos viver bem melhor do que pensávamos – ele estava tão animado que não soube o que fazer – O que foi você não parece feliz.

– Gale – eu precisava falar, mas não saia

– Eu sei que é perigoso, mas eu tomo cuidado não precisa se preocupar e não é como se Panem fosse entrar em guerra .

– Ele sabe – foi a única coisa que consegui dizer, a alegria no rosto dele deu lugar a surpresa.

– Vamos nos casar hoje – ele parecia decidido – Eu vou para casa falo com minha mãe e te encontro na hora da saída para irmos ao edifício da justiça, falamos com a sua irmã depois.

– Eu não posso, Gale eu só posso assumir a guarda da Prim se ele permitir e ele não vai – passei os minutos seguintes contando sobre minha conversa com meu avô, e sobre a pesquisa que fiz sobre como conseguir a guarda da Prim, Gale ouviu atentamente cada palavra embora nada tenha falado até eu terminar.

– Ele não faria isso Katniss é loucura ele não pode simplesmente casar sua irmã tão nova assim.

– Ele faria e não tem a menor condição de conseguirmos cuidar da minha mãe.

– A gente pode esperar um pouco não sei, se eu conseguir subir de patente logo podemos colocar sua mãe em uma clinica mais barata talvez em outro distrito.

– E a Prim?

– Ele não vai casar sua irmã, ela é uma criança.

– Exatamente ela é uma criança eu não posso deixar ele fazer isso.

– Katniss

– Gale precisamos ir embora

– Como?

– Vamos fugir com a Prim, vamos para outro distrito basta não chamarmos atenção e ele nunca vai saber onde estamos e se eu não tiver aqui não tem para quem ele deixar a responsabilidade pela minha mãe, se ele não pagar a clinica vai ter que leva-la para casa dele e eu sei que ele não vai fazer isso então ela vai ficar segura na clinica.

– E a minha família Katniss?

– Eles podem vir junto ou podemos mandar uma parte do que conseguirmos eu não me importo em trabalhar Gale, mas não podemos ficar aqui.

– Vamos pensar com calma esta bem, ainda temos tempo esse suposto casamento que seu avô arranjou não tem uma data marcada o cara nem aqui esta pode ser até que não queira se casar assim como você – nunca havia pensado nessa possibilidade – Talvez seja por isso que ele ainda não voltou afinal para alguém com dinheiro como ele seria fácil vir até aqui se casar sem que isso atrapalhe os estudos não acha? Se esse acordo fosse tão importante para família dele vocês já estariam casados e o acordo estaria valendo a muito tempo.

– Será? Gale eu não sei o que fazer, eu sinto que meu avô esta de olho em cada passo que eu dou – ele me abraçou com carinho, ficamos assim por alguns minutos até escutarmos o barulho do sinal ele me soltou rapidamente.

– Fica calma, vamos achar uma solução, eu vou dar um jeito de te ver em breve, mas agora eu tenho que ir – ele beijou rapidamente meus lábios e foi até a pequena janela onde pulou com maestria, sentei em um dos bancos e abaixei a cabeça pensando em tudo havíamos conversado, ouvi o barulho das meninas entrando animadamente no vestiário.

– Você esta bem Katniss? – Annie perguntou se sentando ao meu lado, olhei minha amiga e vi seu olhar preocupado e só então me lembrei o porque supostamente estava no vestiário durante a aula.

– Sim acho que foi só mau jeito devido ao tombo, incomoda um pouco mais esta bem melhor.

– Tem certeza? – Annie era uma boa amiga e eu sabia que sua preocupação era verdadeira – Você não deixaria de participar da aula se não estivesse doendo muito – me senti mau por deixa-la preocupada – Talvez você deva ir ao medico para ter certeza que não é nada.

– Estou bem serio, posso aguentar uma aula de historia sem problema – tentei sorrir, mas sabia que no meu atual estado de espirito nenhum sorriso pareceria verdadeiro, mas ela concordou, alguns minutos depois seguimos em direção a sala de historia embora a única coisa que eu conseguisse pensar era em como seria mais complicado agora, e embora não fosse de acreditar em milagres torci para que meu suposto noivo realmente não quisesse esse casamento e não tivesse presa em voltar.