Maktub escrita por Sany


Capítulo 40
Bônus: As mulheres Everdeen.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite... Aqueles que não desistiram de esperar o bônus olha ele aqui.
Demorou muito eu sei, mas foi feito com carinho.
Quando eu perguntei o POV que vocês gostariam a Prim foi a mais sugerida, mas a Eva também foi bem citada, então como eu demorei e a historia dela já estava na cabeça esse é um bônus duplo.
Sem mais delongas vamos lá.



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ﺶﺶﺶﺶ Eva ﺶﺶﺶﺶ

A noite torna-se amanhecer. Para provar que o amor continua

Está escrito nas estrelas e no fundo do meu coração

É com você onde eu ainda permaneço

Através de cada página que viramos. Cada lição que aprendemos

Finalmente nos libertaremos, ou nos forçamos a submeter

Porém o amor está certo e nunca errado...

...Não importa onde você esteja

Prometo que encontraremos um caminho

Para caminhar pela estrada que já conhecemos

A estrada que nos guia para casa. Um milhão de sonhos

Eu tenho idealizado e em cada um deles eu via

Seu rosto...

...Pelos segredos que permanecem

Rapidamente o futuro torna-se passado.

Quando eu te abraçar novamente

Estarei te abraçando eternamente...

...Através de cada página que viramos

Cada lição que aprendemos

Finalmente nos libertaremos, ou nos forçamos a submeter

Porém o amor está certo e nunca errado...

All For Love.

Michael Bolton.

  Sempre acreditei em destino, em algo maior, algo que nos guia a um determinado caminho. Acredito no amor e em seu enorme poder de mudar tudo. Nesse sentimento tão poderoso e inexplicável que muitas vezes é usado da maneira errada para justificar o injustificável. Confuso? Talvez, ainda sim é uma confusão que carrego a anos.

Quando digo que acredito em destino não falo por falar, de alguma forma sinto que sou guiada a caminhos que normalmente nunca iria percorrer por conta própria. Cresci no que muitos consideram como a nata da sociedade de Panem, como se de fato viver em meio a pessoas esnobes fosse realmente um privilegio. Não que tenha motivos para reclamar da minha infância longe disso. Apesar dos pesares os primeiros anos da minha vida foram bons.

Minha mãe Kim morreu durante meu parto e embora lamentasse profundamente não ter tido a oportunidade de colhesse-la meu pai sempre fez questão de enfatizar o quanto ela me amava mesmo sem ter me conhecido. Segundo ele ser mãe era um sonho que ela queria muito e que nada fez ela tão feliz quanto saber da minha chegada. Confesso que durante um tempo me sentia culpada pela morte dela afinal se não fosse por mim ela poderia estar aqui, ainda sim papai nunca me culpou pelo contrario acho que pra ele eu era um pedaço dela que ficou com ele.

Para a sociedade Coriolanus Snow era um homem frio, mas não para mim. Comigo ele era diferente e embora nunca fosse de demostrar carinho em excesso sempre demostrou me amar do seu próprio jeito, claro que ele era carinho do seu modo e obviamente não havia ninguém no mundo que amasse mais do que ele. E não tinha nada que gostasse mais na infância do que quando ele falava sobre minha mãe, sobre nossa semelhança e sobre o quanto ele a amava. Na minha cabeça não existia amor mais bonito que o deles afinal mesmo em meio a tradição eles se apaixonaram e mesmo que por apenas três anos foram felizes, pelo menos era o que eu pensava ao ouvir sobre eles pelo meu pai.

Crescer em meio aos costumes de uma família tradicional teoricamente deve nos preparar para seguir cada passo da tradição e embora eu soubesse que teria que me casar com alguém que tivesse uma família tão tradicional como a minha e que fosse escolhido pelo meu pai o destino não quis assim. Por que digo o destino, bom porque basicamente a possibilidade das coisas acontecerem da maneira que aconteceu são quase nulas.    

Começar a faculdade de artes não foi fácil, não mesmo embora meu pai sempre tenha me proporcionado tudo que queria ele tinha suas convicções sobre o que era importante para a educação de uma mulher, obviamente eram pensamentos machistas ainda sim sempre achei mais adequado considerar resultado de uma tradição ultrapassada. Mas apesar de tudo isso eu consegui convence-lo afinal minha paixão por artes era antiga, não consigo me lembrar de quando começou. E foi devido a isso que o conheci.

 George Everdeen estava literalmente perdido pelos arredores da universidade do Distrito, ele tinha ido fazer uma entrega e eu pela primeira vez estava atrasada por conta de um pneu furado a alguns quarteirões do prédio e decidido ir a pé. Então se isso não é destino não sei o que é.

Apaixonar-me por ele foi fácil e quando notei estávamos nos encontrando escondidos quase todos os dias pelos arredores da universidade. Ficar dividido entre as tradições e a pessoa que faz seu coração acelerar, que te faz sorrir como nunca ninguém conseguiu antes não é algo fácil não mesmo. Mas George não era nada do que meu pai considerava digno para se casar comigo, ele não tinha posses ou uma posição na sociedade. Os Everdeen vinham de uma linhagem de artesões e mineiros, e como única herdeira dos Snow não deveria nem considerar a hipótese de me aproximar dele.  Ainda sim era apenas nele que pensava todos os dias o moreno tinha entrado na minha mente e no meu coração sem nem ao menos pedir.

Eu era a filha perfeita apesar de tudo e por mais que amasse George não tinha planos de ir contra meu pai, não até achar aquele diário.   

Quando minha mãe morreu, papai ordenou que levassem tudo que era dela embora da casa e embora ele nunca tenha dito o motivo eu acreditava que eram recordações demais. O que não sabia era que Mags havia guardado alguns pertences pessoais dela e poucas semanas após meu aniversario de 18 anos me entregou uma dessas caixas organizadoras com fotos, flores secas, livros, embalagens de chocolate e um diário. Aquele era o melhor presente que já tinha ganhado na vida era um pedacinho da mulher que não havia conhecido. A principio pensei que eram recordações do relacionamento dos meus pais, mas como alguém montando um quebra-cabeça notei que não era.

As fotos eram da minha mãe bem mais jovem do que quando se casou sempre ao lado o mesmo rapaz e não tinha ideia de quem ele era. Então quando comecei a ler seu diário entendi que assim como eu minha mãe estava dividida entre o que esperavam dela e o que ela queria de fato. Ela realmente amava alguém que ela sempre se referia como H.A.M e mesmo não tendo ideia que quem ele era parecia que ele a amava também.  E como em um drama eu fui lendo cada relato de como minha mãe estava sofrendo e de como ela escolheu se casar com meu pai ao invés de lutar pelo que ela dizia ser o amor da sua vida. O diário parava um dia antes do casamento e naquele momento eu desejei que no fim das contas ela tivesse se apaixonado pelo meu pai e que todas as historias que ouvi ao longo dos anos fosse real, mas em meio a um dos livro havia uma carta que acabava com qualquer possibilidade que o desfecho da historia dela fosse realmente esse.

Caro Hay,

Sei que na carta anterior que lhe enviei disse que ela seria a última já que você não me responde, sei que disse que precisava seguir em frente e que tinha que me empenhar em amar meu marido, se não por mim pelo meu bebê. Mas não consigo não pensar em você e em tudo que joguei fora em nome da minha família.

Queria tanto amar Coriolanus, mas tudo que sinto quando o vejo é decepção já que ele não é você e no fundo sei que jamais irei sentir por ele o que ainda sinto por você. Se pudesse voltar no tempo juro que teria fugido com você naquele dia, ou pelo menos lutado um pouco mais pelo nosso amor. Mas não tenho esse poder então me sinto de mãos atadas, presa a uma vida infeliz e cheia de mentiras.

Não sei se são os hormônios da gravidez ou qualquer coisa relacionada a isso, mas ando sentimental demais nos últimos dias. Então   como nos últimos três anos quando fecho meus olhos é seu rosto que vem em minha mente e por mais que tente é você que desejo que entre pela porta cada vez que Coriolanus aparece. Não consigo parar de pensar na vida que teríamos tido juntos se não tivesse sido tão covarde. Consigo imaginar facilmente nossa pequena casa longe daqui como você esta agora, é fácil sonhar que me tornei a professora primaria que tanto queria. Na minha mente você sorri quando conto sobre meu dia e sobre as traquinagens da minha turma de alunos, consigo nos imaginar em frente a uma lareira no inverno e cada vez que sinto meu bebê mexer dentro de mim imagino suas mãos no meu ventre, você esta sempre com um largo sorriso no rosto. Céus você seria um pai tão incrível é fácil pensar em você no chão da sala brincando cheio de orgulho.

Se você soubesse o quanto me arrependo da minha escolha, a única coisa que me consola é a minha menina, sim na outra carta eu ainda não sabia, mas vou ser mãe de uma menina e não vejo a hora de segura-la em meus braços, não vejo a hora de amar novamente. Estou literalmente contando os dias já que segundo o medico falta realmente pouco agora.

Não quero que ela seja como eu Hay, quero tanto que ela seja feliz. Feliz de verdade como eu era ao seu lado, tenho medo do que a criação da família Snow possa fazer com ela, mas juro a você que farei o meu melhor para que ela tenha tudo que merece, para que ela sempre seja feliz.

Conhecendo você como conheço sei que não vai responder essa carta, assim como não respondeu as outras, contudo eu sei que esta lendo cada linha delas, embora não tenha certeza de por quanto tempo continuara fazendo isso. Eu nunca quis magoar você embora saiba que magoei e talvez ainda esteja magoando com essas cartas, mas você é a única pessoa que confio de verdade, a única pessoa que sinto que não vai me julgar, então acho que vou continuar escrevendo pelo menos por um tempo e acredite se um dia você responder não importa quando eu juro que irei ler, mas se nunca o fizer também irei entender.

Você foi meu grande amor não tenho duvida disso, mas eu fiz uma escolha – errada, mas fiz – e agora eu desejo muito que você possa abrir seu coração a outra pessoa. Alguém que possa te fazer feliz como eu não pude fazer e que ela torne todos os seus sonhos reais. Porque por mais que eu ainda te ame nossa realidade é outra agora.

Sinto que você sempre será o único homem que amei verdadeiramente, mas espero do fundo do coração que seja apenas seu primeiro amor.

Kim.

Foi essa carta que me fez abrir os olhos, então vendo o sorriso naquelas velhas fotos da minha mãe jovem entendi que os sorrisos nas fotos espalhadas pela casa eram apenas uma fachada, ela não estava feliz. O amor que meu pai sentia nunca foi correspondido de verdade e minha mãe nunca foi feliz naquela casa. Lendo aquela carta não enviada era como se ela soubesse que um dia eu estaria tão dividida como ela e embora nunca tenha falado com ela aquele diário e um velho pedaço de papel - para alguém que eu não fazia ideia de quem era - foram como um conselho muito sábio. E por mais que doesse decepcionar meu pai, por mais que soubesse que ele não iria entender eu o apresentei a George e quando o esperado aconteceu e ele não aceitou o homem que eu amava eu fui embora.

Não ter meu pai na minha vida doeu demais. Par ser sincera eu não ligava para o dinheiro, mas ouvir que ele nunca me perdoaria foi como um punhal fincado no meu peito assim como o olhar dele sobre mim. Contudo eu sabia que tinha tomado a decisão certa. Eu amava meu marido e a família que formamos ao longo dos anos.

Katniss foi a luz da minha vida, tão parecida com George e Prim a meu bebê foi uma segunda dadiva que recebi.  Não importa o quanto difícil as coisas pareçam quando vejo meu marido brincando com nossas filhas, ou quando ele simplesmente me abraça eu sei que tomei a decisão certa.

— Eva, amor... – me assustei com o chamado ainda sim sorri ao olhar para o moreno ao meu lado. – Você estava distraída. Dou um beijo pelos seus pensamentos o que acha?

— Não é nada muito serio, estava pensando em tudo. Na minha mãe, na nossa família até no meu pai. – ele tirou uma das mãos do volante e apertou de leve meu joelho.

— Talvez um dia ele entenda.

— Passaram-se mais de dez anos amor e no fundo já sabia que ele nunca iria entender então esta tudo bem. – tentei sorrir e o vi suspirar antes de voltar a atenção para a estrada. George sempre foi compreensivo em relação a minha relação quebrada com meu pai e sabia que ele não gostava nem um pouco dele, mas que desejava que ele pelo menos voltasse a falar comigo. – Mas sabe o que eu também estava pensando. – sorri e ele meneou a cabeça ainda olhando para a estrada. – Que Prim já esta com dois anos e que talvez fosse interessante tentarmos um menino para “proteger” as irmãs o que acha?

— Você realmente esta falando serio? – ele olhou para mim com um largo sorriso e confirmei com a cabeça. – Eu adoraria ter mais um filho com você, menino ou menina não importa. Amo tanto você Eva. – ele se aproximou rapidamente e selou nossos lábios em um selinho rápido antes de voltar a olhar para a estrada.

— Também amo você.

Havia tomado a decisão certa e mesmo que pudesse voltar no tempo não a mudaria por nada nesse mundo, não mesmo. Voltei minha atenção para a estrada então repentinamente vi a claridade intensa dos faróis do que parecia um caminhão na contra mão, não tenho certeza se realmente gritei ou se não consegui emitir qualquer outro som enquanto George tentava desviar do impacto certeiro. Foi tudo muito rápido e ele quase conseguiu, mas ao invés da batida senti nosso carro capotar e após uma forte batida na cabeça tudo ficou escuro.

 

ﺶﺶﺶﺶ Primrose ﺶﺶﺶﺶ

 

Eu me lembro da chuva no telhado naquela manhã

E todas as coisas que eu queria dizer

As palavras furiosas que vieram do nada, sem aviso prévio

Aquilo roubou o momento e me mandou embora...

...E eu me lembro que era uma estrada sem fim

Apenas não conseguia retornar com aquele carro

Aquela distância como um tesouro há muito perdido...

...Aquilo foi apenas um momento no tempo

E um que nunca vamos esquecer...

...Eu fui trazida aqui pelo poder do amor

Eu fui trazida aqui pelo poder do amor...

Love By Grace.

Lara Fabian.

A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas, Katniss havia me dito isso uma vez, mas na época não levei muito a serio. Hoje por outro lado eu acredito. Chega a ser engraçado como ela nos prega peças e em como tudo muda tão rapidamente. Anos atrás eu estava determinada a me especializar em psiquiatria. Eu tinha tanta certeza na época, de certa forma achava que estaria mais perto da minha mãe dessa forma, claro que sabia que era meu futuro que estava em jogo e por mais que outras áreas chamassem minha atenção acabei mantendo meu foco nisso até meu ultimo ano na faculdade de medicina.

Foi nessa época que ela se foi, quase vinte anos após aquele acidente estupido ela nos deixou e parte de mim ficou devastada, queria gritar, xingar ou qualquer outra coisa que fizesse minha raiva ir embora ainda sim não fiz nada disso pelo menos não imediatamente. Então pouco antes do funeral Katniss e eu tivemos a nossa pior briga ou a única já que nunca fomos de discutir. Minha irmã nunca foi muito próxima da nossa mãe, no fundo sei que ela não aceitava nada bem o estado dela, claro que com o passar dos anos as coisas melhoraram um pouco, mas não o suficiente para que ela deixasse de sentir alivio quando ela se foi.

Sei que não foi por maldade e que assim como eu minha irmã estava sofrendo, contudo em alguns momentos da vida agimos sem pensar e o impulso toma conta do momento e quando vi estava acusando Katniss de estar feliz com a partida dela. Acho que no fundo estava com raiva da minha outra parte que estava pensando que agora ela estava com papai e que estava bem e eu me odiava por pensar assim mesmo que por um único instante. Talvez fosse egoísmo da minha parte, mas desde pequena eu aprendi a aceitar minha mãe daquela forma, não foi fácil não mesmo. Vê-la no estado em que passou todos aqueles anos machucava ainda sim ela estava lá e de certa forma isso me parecia melhor do que se não estivesse. Claro que não é um estado que deseje para ninguém sei que ela sofreu ainda sim acredito que todos tem um lado egoísta e esse era o meu.  

Então a partida dela me fez questionar tudo, cada decisão tomada até ali. É um fato que meu interesse por medicina começou logo cedo com o sonho de cura-la, depois quando vi que isso não era possível acabei apenas planejado estar lá por ela, tentar entende-la de alguma forma. Então sem ela minhas decisões não faziam sentido nenhum e por mais que eu tenha me esforçado como nunca por cinco anos receber o diploma não era algo que queria realmente após a morte dela. Confesso que quis muito jogar tudo para o alto, foi então que ele voltou. Claro que outras pessoas me ajudaram sei que tenho sorte já que mesmo sem meus pais a vida me presenteou com uma família incrível que sempre me apoiou. Porém quando Denis voltou bom ele me fez ver novamente um sentido para minhas escolhas e por maior que fosse a raiva que eu interiormente sentia dele por ter ido embora, meu coração o perdoou no instante que o vi novamente. 

Sentada naquela cadeira desconfortável eu não conseguia sentir nada, era como se um topor tivesse tomado conta do meu corpo nas ultimas horas. Havia recebido varias condolências ainda sim não conseguia absolver de fato tudo aquilo. Effie estava ao meu lado desde a discussão que tive com Katniss há algumas horas e por mais que a considerasse muito nem isso afastava a dor que estava sentindo. De certa forma me sentia pior já que nos últimos 12 anos ela com seu jeito maternal havia estado mais presente na minha vida do que minha própria mãe. Obviamente eu agradecia muito por isso por ter tido todo o carinho que ela me ofereceu, mas naquela circunstancia isso não me permitia sentir melhor.

Olhei as pessoas em volta por um momento, por mais que mamãe tivesse passado os últimos anos reclusa um número considerável de pessoas estava ali. Alguns médicos e enfermeiros da clinica, amigos da família tinham vindo prestar uma ultima homenagem a ela. Sentada ao meu lado Katniss estava sendo abraçada por Peeta que tinha sido o único a conseguir acalmar nossa discussão. Embora não estivesse vendo meu avô eu sabia que ele estava escondido em algum lugar.

Entender tudo o que ele tinha feito com minha mãe quando ela se casou com meu pai não foi fácil, mas não guardei raiva. Agora eu sabia que ele era antiquado e que prezava a tradição e o dinheiro mais do que a família, mas eu também sabia que ele amava minha mãe mais do que demostrava e que por mais que ele negasse no fundo ele havia perdoado ela sim. As visitas constantes a clinica eram sem duvida uma tentativa de estar com ela ao máximo, talvez de tentar se redimir pelos anos afastados. Minha escolha por não me casar pela tradição o afasto, ele era um homem solitário e não tinha mais ninguém então mesmo assim me mantive por perto.

Levantei juntamente com os demais sem nem notar o que tinham dito, tentando me preparar para mais condolências quando o avistei a alguns metros, eu não o esperava ali não mesmo – havíamos brigado anos atrás quando ele decidiu ir para Capital – ainda sim fui ao seu encontro e o abracei o mais forte que pude deixando as lagrimas banharem meu rosto. E não foi preciso dizer nada, ele apenas ficou o meu lado durante o reto do dia.

— Sei que esta cansada de ouvir isso hoje, mas eu sinto muito. – sabia que ele sentia, Denis tinha sido meu amigo por anos havíamos dividido tanta coisa ao longo dos anos, incluindo meu coração. Ele havia sido meu primeiro namorado e no fundo o único que realmente senti algo.

— Obrigada. – ficamos em silencio novamente por um tempo apenas olhando a chuva bater na janela da sala agora vazia. – Não imaginei que você viria. As provas finais estão chegando.

— Nada me impediria de estar ao seu lado nesse momento Prim. Nada.

— Briguei com a Katniss mais cedo.

— Quer falar sobre isso?

— Eu a acusei de algo que no fundo eu também estou sentindo e estou me odiando agora. Tanto por tê-la acusado disso, tanto por estar sentindo isso. – ele me abraçou mais forte. – Ela deve estar me destetando agora.

— Lembra quando tínhamos treze anos e fomos naquele show que estava acontecendo na praça escondido? – confirmei com a cabeça. – Você achou que se ela soubesse nunca iria perdoar você por mentir, acho que foi a primeira vez que você quebrou uma regra na vida. Então ela descobriu e por mais que tenha te posto de castigo ela desculpou você. Katniss te ama e acho que não existe nada que você possa fazer que ela não vá entender ou desculpar. Sei que não parece agora, mas tudo vai ficar bem eu juro.

E ele estava certo, claro que sentia falta da minha mãe e queria que tudo fosse diferente, mas com o tempo as coisas foram voltando ao normal e quando ele foi embora uma semana depois as coisas estavam mais tranquilas, Katniss e eu tínhamos conversado e estávamos bem e determinadas a passar pela dor juntas. Três meses depois quando ele voltou já formado em direito Denis me fez acreditar na medicina novamente e embora não tenha me especializado em psiquiatria eu redescobri minha paixão pela neurocirurgia. E nosso relacionamento que por muito tempo achei que estivesse no passado se fez presente outra vez.

— Acho que podemos cantar os parabéns agora, o que acha? – ele perguntou me abraçando por trás e sorri, eu realmente amava a proteção que sentia nos braços dele.

— Acho que é uma boa ideia já que daqui a pouco o aniversariante vai estar dormindo. - olhei para outra extremidade do jardim onde meu filho estava agitado no colo da minha irmã.

Evan havia sido um verdadeiro presente na minha vida, minha gravidez dois anos depois do meu casamento com Denis me pegou de surpresa já que estava no meu ultimo ano de residência, ainda sim nada poderia ter me deixado mais feliz afinal nunca tinha cogitado a possibilidade de não ter filhos. Sempre amei crianças e conviver com meus sobrinhos só me fez ter a certeza de que queria ser mãe um dia. 

Na verdade Peeta e Katniss foram os exemplos que tive ao longo dos anos, e mesmo muito jovens ambos tinham sido figuras paternas a maior parte do tempo já que Katniss sempre cuidou de mim e Peeta... Bom não é qualquer um que assume as responsabilidades de uma criança de dez anos antes dos vinte três com tanta dedicação quanto ele fez. Eles tinham me dado todo o suporte que precisava e morar com eles me fez ver o casamento de uma forma diferente da do que meu avô tinha ensinado até então.

Não éramos mais o que a sociedade de Panem considerava uma “família tradicional” já que meu casamento com Denis com o apoio deles foi o passo que faltava para que não nos encaixássemos dentro desse circulo retrógado como Katniss costumava chamar.  Ainda sim sentia muito orgulho de quem era e da minha família já que os Mellark e os Cartwright realmente passaram a ser minha família a muito tempo.

Dezesseis anos haviam passado realmente depressa e olhando todas aquelas pessoas ao redor da mesa comemorando o primeiro aniversario do meu pequeno varias lembranças nostálgicas se fizeram presentes. Desde o casamento da minha irmã onde basicamente tudo começou a mudar, passando pelas bodas do Haymitch e da Effie, o casamento da Delly e do Thresh, o nascimento da Rue – que já era quase uma mocinha feita -, George – que mesmo com dez anos ainda era meu garotinho -, Lívia – que se parecia tanto comigo e que tinha praticamente todos enrolados em seus dedinhos –.

 Meus sobrinhos só trouxeram alegria ao longo dos anos e claro era fácil lembrar dos momentos vividos com Denis que começou implicando comigo e então se tornou tão essencial na minha vida. Ele que havia me amado ano após ano, mesmo quando esteve longe, que desistiu de morar na Capital só para ficar comigo, que esteve ao meu lado e que me deu o maior presente do mundo e que a cada dia se mostrava um melhor marido e pai.

Eu amava aquelas pessoas e só tinha a agradecer por tê-los em minha vida.


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Notas finais do capítulo

É isso... Maktub realmente chegou ao fim e foi um prazer escrever esse enrendo.
Espero que vocês tenham gostado desse bônus, talvez vocês quisessem ver mais sobre a Katniss e o Peeta, mas eu realmente queria mostrar um pouco mais dessas três mulheres da família Everdeen mesmo que não tenha sido só felicidade.
Sobre a morte da Eva, bom acho que esse era o final "feliz" para ela. Mas ela morreu Sany. Sim mais vinte anos em uma clinica passando por tudo aquilo não sei, mas acho que se juntar ao amor da vida dela foi o final mais justo no meu ponto de vista.
Quero agradecer a todos que acompanharam a fic, a cada comentário, MP e recomendação. Vocês são ótimos e só tenho a agradecer por me acompanharem.
Desculpem pelos erros, futuramente vou revisar a fic toda.
Beijos.