Acordei com o som do despertador do outro lado da cama, porém ele não demorou a ser desligado e no minuto seguinte senti o movimento suave do colchão indicando que Peeta estava levantando. Se eu fosse sincera não estava nem um pouco disposta a levantar, mas eu precisava ou acabaria me atrasando então após alguns minutos enrolando um pouco deitada me levantei, era possível ouvir o barulho do chuveiro enquanto ia para o closet onde separei minha roupa e em seguida fui abrir as portas duplas que levavam a sacada deixando a luz entrar no cômodo mantendo apenas o foro da cortina fechado. Não demorou muito para Peeta sair do banheiro e ir em direção ao closet enquanto eu seguia para o banheiro para me arrumar para o dia.

No ultimo mês havíamos involuntariamente estabelecido uma pequena rotina pela manhã durante a semana e como costume quando sai do banheiro já pronta ele estava esperando por mim já pronto para o dia.

— Bom dia – ele sorriu e depositou um selinho rápido em meus lábios como de costume.

— Bom dia.

— Pronta? – confirmei com a cabeça enquanto ele pegava minha mochila e a pasta dele e seguíamos juntos para o primeiro andar para o café da manhã.

Meus sogros já estavam na mesa juntamente com Denis que parecia estar lutando contra o sono como todas as manhãs não era nenhum segredo o quanto ele odiava acordar cedo. No primeiro dia estranhei a presença dele na mesa com a família, mas não foi preciso muito tempo vivendo naquela casa para notar que os Cartwright eram mais que empregados na casa, mesmo não entendo totalmente a relação entre as duas famílias o fato dos dois irmãos estarem presentes no natal e no casamento tinha sido um sinal e no ultimo mês vivendo ali tive a certeza já que eles faziam a maioria das refeições com a família e eram íntimos de todos. Mesmo com algumas conversas o café da manhã durante a semana costumava ser a refeição mais silenciosa da casa, mas não era um silencio incomodo era mais um momento onde todos estavam ligeiramente sonolentos demais para conversar.

— Vamos garoto ou você vai se atrasar – meu sogro disse olhando o relógio fazendo o mais novo suspirar antes de ir até Effie e beijar o rosto dela e sair dando um tchau desanimado para os demais. Essa semana Haymitch estava levando Denis a escola já que Delly estava saindo mais cedo para a faculdade por conta de um trabalho e alguns minutos após eles saírem Peeta e eu saímos também.

O caminho não era longo e eu não me importava de ir caminhando, mas como ficava no caminho da padaria onde ficava o escritório ele fazia questão de me levar todos os dias. Estávamos quase chegando no colégio quando o celular dele tocou e pude ver o nome do meu avô no visor integrado do carro antes que ele recusasse a chamada, ele estacionou próximo ao portão antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa.

— Boa aula – ele beijou meus lábios com carinho.

— Bom trabalho – peguei a mochila e no instante que abri a porta o celular dele voltou a tocar e dessa vez ele não recusou a chamada, mas não atendeu até eu descer do carro.  

Durante todas as aulas não pude deixar de pensar no que meu avô queria com Peeta, primeiro a ligação no dia anterior e agora essas duas chamadas pela manhã fora o fato dele não atender na minha frente. Quando a aula acabou segui caminhando com Annie para casa já que hoje Prim tinha aula de etiqueta e ela morava na mesma direção, paramos em uma loja onde ela quis ver um vestido e acabamos indo a doceira onde ficamos por um bom tempo conversando.  Assim que cheguei encontrei Cecelia que estava de saída para o mercado e me informou que Effie tinha saído então acabei seguindo direto para o quarto onde me troquei e deixei minhas coisas. Quando desci novamente encontrei Delly na cozinha adiantando o jantar, ofereci ajuda mais ela negou gentilmente então apenas me sentei na mesa da cozinha me lembrando dos raros dias onde Prim e eu sentávamos na cozinha e ficávamos conversado com Mags e Lavinia enquanto elas cozinhavam .

— Você sente muita falta dela não é? – Delly falou de repente

            - Como?

            - Da sua irmã, você sente muita falta dela – acabe concordando com a cabeça – Imagino que não esteja sendo fácil não consigo me imaginar longe do Denis – ela deu um pequeno sorriso – Não é fácil queremos sempre fazer o que é melhor para eles e no fundo nos sentimos um pouco mães mesmo sendo só irmãs.

            Pela primeira vez desde que a conheci eu me dei conta de que Delly vivia algo semelhante ao que eu vivia pelo menos em relação as responsabilidades com o irmão mais novo, assim como eu ela tinha perdido os pais e era responsável pelo mais novo, a diferença é que ela tinha a guarda do Denis.

            - Eu nunca fiquei tanto tempo longe dela, quer dizer eu vejo ela, mas é por pouco tempo as vezes nem da para conversar direito e eu cuidava dela mesmo quando não fazia ideia do que era cuidar de mim mesma – confessei e pelo olhar dela vi que ela entendia – Mags me ajudou muito e sei que ela esta cuidando da Prim, mas sinto falta dela sinto como se ela fosse minha responsabilidade.

            -Sei como se sente. Effie e Haymitch me ajudaram muito quando minha mãe morreu e ainda ajudam sinceramente eu não sei o que teria feito sem eles, mas não imagino deixar o Denis aqui mesmo sabendo que ele ficara bem até melhor do que comigo.

            Ficamos conversando por um tempo sobre outros assuntos e quando Cecelia chegou continuei ali com elas conversando. Cecelia tinha cerca de trinta e cinco anos casada com três filhos pequenos trabalhava a alguns anos na casa. Só notei o quanto o tempo tinha passado quando ouvi o barulho da porta e as vozes dos meus sogros pela casa e não demorou muito para me juntar a eles na sala. Olhei o relógio e estranhei Peeta ainda não ter chegado já que normalmente ele voltava para casa no mesmo horário que o pai, mas não comentei nada sobre a ausência dele.

            Ouvi o barulho do carro dele e não demorou muito para ouvir a porta abrindo e para minha total surpresa ouvi uma voz conhecida conversando animadamente com meu marido, Effie que estava sentada na minha frente sorriu para mim e no instante seguinte me virei para a porta.

            - Katniss – Prim sorriu para mim e veio me abraçar deixando a pequena mala que ela trazia no chão, Peeta estava logo atrás dela com duas malas grandes.

            - Definitivamente precisamos rever o seu conceito de essencial Prim – Peeta disse e minha irmã riu.

            - Prim o que esta acontecendo? – perguntei ainda abraçada a minha irmã

            - Vim morar com você – ela disse simplesmente e senti meu coração acelerar

— Isso é serio? – perguntei para Peeta que confirmou com a cabeça sorrindo e eu fiquei sem palavras e logo os demais vieram cumprimentar minha irmã.

— Vou levar isso lá pra cima depois busco o resto no carro – ele disse pegando as duas malas e começando a subir a escada.

Pelo que pude perceber eu era a única que não sabia da mudança da minha irmã já eu era a única surpresa, após algumas idas e vindas no carro Peeta terminou de deixar os pertences da Prim no quarto e se juntou a nos na sala onde ficamos até o jantar. Sinceramente ainda estava surpresa em ter minha irmã ali.

— Prim quando você soube que viria morar comigo? – perguntei após o jantar enquanto ajudava ela a organizar um pouco as coisas dela no quarto de hospedes.

— Ontem a noite o vovô conversou comigo. Ele disse que ia sentir minha falta em casa, mas que o melhor no momento era eu vir viver com você.

— Ele disse por quanto tempo? – por mais feliz que estivesse de ter Prim por perto não consegui parar de pensar no que meu avô estava planejando e quanto tempo minha irmã ficaria comigo ate mesmo o que ele iria querer em troca afinal eu sabia que Coriolanus Snow sempre tinha algo em mente.

— Não, ele falou comigo ontem e essa tarde o Peeta foi lá me buscar ele disse para eu trazer só o essencial e que poderia buscar o que fosse preciso depois, e que vou poder decorar meu quarto na casa nova do jeito que eu quiser – ela parecia animada com a ideia e acabei sorrindo – Estava pensando em usar cores claras não que não goste do meu quarto na casa do vovô, mas ele é escuro e eu queria muito usar cores mais leves o que você acha?

— Tenho certeza que você vai fazer um ótimo trabalho com o quarto, mas já esta na hora de você dormir amanhã tem aula – ela já estava de pijama então apenas foi se deitar – Colocou o relógio para despertar? – perguntei e ela confirmou com a cabeça – Boa noite Prim – ajeitei seu cobertor antes de sair em direção ao meu próprio quarto e assim que entrei vi Peeta já de pijama deitado na cama vendo TV.

— Prim já foi dormir? – confirmei com a cabeça e fechei a porta – Tenho algo para você – ele falou antes que eu fizesse qualquer pergunta  se levantou  indo ate a escrivaninha pegar um envelope pardo estendendo ele para mim em seguida.

— O que é isso?

— Considere seu presente de casamento atrasado – ele sorriu – Sei que o tradicional é uma joia, mas você não parece ser muito ligada a joias usa sempre a mesma pulseira e não costuma usar as joias que tem - involuntariamente toquei a pulseira que Gale havia me dado no meu aniversario e que só havia tirado no dia do meu casamento – Mas se você quiser podemos providenciar uma joia - neguei com a cabeça e tirei os papeis de dentro do envelope e assim que comecei a ler fiquei sem palavras.

— Peeta isso é ... – eu me sentei na cama olhando mais atentamente os papeis na minha frente onde reconhecia a assinatura do meu avô.

— A documentação da guarda da Prim.

— Mais como? - por mais que quisesse não estava conseguindo ler direito o documento na minha frente.

— Juridicamente falando agora somos os guardiões legais da sua irmã.

— Somos? – ele confirmou com a cabeça, eu sabia que estava parecendo totalmente perdida – Era preciso ter vinte e um para ter a guarda dela.

— Você precisaria ter vinte e um para entrar em uma disputa judicial pela guarda dela isso se você fosse solteira Katniss, mas esse não é o caso seu avô me passou a guarda dela essa tarde no Edifício do Justiça amigavelmente e o juiz não tinha motivos para qualquer objeção então somos oficialmente responsáveis por ela.

— Isso é definitivo Peeta? Ou ele pode mudar de ideia?

— Não vejo motivos para ele voltar atrás com a decisão, mas se ele mudasse de ideia ele teria que entrar com um pedido de guarda que levaria a uma disputa judicial, exceto se devolvêssemos a guarda a ele espontaneamente abrindo mão dela

— Eu não sei o que dizer para agradecer - eu estava sem palavras, Prim ficaria comigo e meu avô não poderia toma-la quando quisesse - Ter a guarda da Prim é ... Eu sei que é uma grande responsabilidade, que você não precisava – ele se aproximou e segurou uma das minhas mãos com carinho.

— Não precisa dizer nada, Prim é sua irmã e eu imagino o quanto você a queria por perto eu no seu lugar iria querer também.

— Era isso que ele queria com você ontem? – ele sorriu

— Sim, Snow e eu estávamos decidindo sobre isso desde antes do casamento e inicialmente iriamos assinar os papeis depois que nossa casa ficasse pronta para ela não ter tantas mudanças assim, mas você estava sentindo a falta dela e a reforma vai demorar um pouquinho ainda então falei com meus pais e acho que não vai ser ruim para ela passar um tempo aqui antes nos mudarmos eu não tinha certeza se ele realmente iria assinar os papeis hoje por isso não falei nada – eu não tinha ideia do tipo de acordo que ele havia feito com meu avô, mas sabia Snow tinha ganhado algo por ceder a guarda da minha irmã e fiquei muito grata por isso.

— Obrigada – eu o abracei forte e ele retribuiu o abraço.

— Não foi nada – ele olhou em meus olhos e acariciou meu rosto com o polegar – Eu realmente quero que você seja feliz Katniss.

— Eu estou feliz – disse com sinceridade afinal aquela não era a vida que tinha planejado e talvez eu não fosse completamente feliz de fato, mas naquele momento eu estava feliz.