Nevertheless escrita por Uma Qualquer


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610014/chapter/1

Quando Ginoza Nobuchika chegou à Academia usando óculos pela primeira vez, a situação já estava mais do que crítica para ele.

Kougami Shinya sabia melhor que ninguém. Via a desconfiança e o desprezo no olhar de professores e outras pessoas na Academia, sempre que passavam pelo jovem cadete. O próprio Kougami havia dado uma lição em alguns bullies que se meteram a besta com seu amigo. Ainda assim, dia a dia, Ginoza ia sendo sistematicamente excluído do convívio social, tornando-se quase um pária, onde quer que fosse.

Séculos de evolução, e a humanidade continuava tão estúpida como sempre, Kougami pensava. Enquanto foram conseguidos grandes avanços na tecnologia, ali em 2084 também havia se popularizado uma nova forma de preconceito: segregar parentes de pessoas cujo coeficiente criminal fosse mais alto que o padrão permitido.

No caso de Ginoza, seu pai estava preso por conta da alta em seu coeficiente criminal, o chamado Psycho-Pass. Era um detetive que se revoltou contra as novas regras impostas ao seu trabalho e acabou pagando caro por isso. Não só ele, como sua esposa e seu filho. Parentes de um criminoso latente eram vistos como os próximos a terem um Psycho-Pass elevado, e inclusive capazes de influenciar as pessoas ao redor a se tornarem criminosas.

Era o que se pensava de Ginoza Nobuchika. Mesmo ele sendo o rapaz mais calmo e centrado de sua turma. Mesmo tendo ótimas notas e o firme propósito de servir a lei e ajudar o próximo. Mesmo sendo provocado, dia após dia, por alunos invejosos que queriam que o nível de estresse dele subisse de vez, para que ele fosse então fazer companhia ao seu pai. Ele aguentava tudo de cabeça erguida, seu olhar fixo num único propósito: ser bem-sucedido onde o seu pai não foi.

E Kougami o admirava por isso.

– Qual é a dos óculos? – disse naquele dia, se largando ao lado dele num dos bancos do pátio. – Se tiver algum problema na visão, é só operar e pronto.

– Nunca tive problemas assim.

– E então?

Ginoza suspirou. – Eu me olhei no espelho, e me dei conta que pareço muito com meu pai. Especialmente quando ele era mais novo. O mesmo rosto, os mesmos olhos. E não gosto disso.

– De parecer com seu pai?

– É. Por motivos óbvios.

– Claro, claro... É por isso que está deixando o cabelo crescer também, pra esconder seu rosto?

– Sim.

Kougami observou o rapaz ao seu lado. Era ligeiramente menor em compleição física, embora ainda fosse mais alto que ele. Sua tez pálida, os traços afilados e os cabelos negros caindo numa franja longa sobre o rosto lhe davam um certo ar de fragilidade. Embora Kougami soubesse que de frágil ele não tinha nada.

Ele por sua vez era o oposto em quase tudo. Moreno, robusto, feições fortes e quase lupinas, ressaltadas pelos cabelos revoltos formando costeletas em seu rosto. Tinha olhos agudos e vivazes, e como Ginoza, sua tolerância a injustiças era muito baixa. Foi o que aproximou os dois no início, mas no momento, outros motivos faziam com que permanecessem unidos.

– Pois eu gosto– Kougami sorriu, erguendo uma mecha negra que caía entre os olhos do Nobuchika. – De seus olhos, e seu rosto também. Não vejo seu pai neles. Só vejo você.

Ginoza limpou a garganta e ajeitou os óculos, corado como um pimentão.

Aqui não – sibilou, visivelmente perturbado. – Acha que vão deixar barato se nos virem assim? Vão acabar pegando no seu pé também.

– Quebro a cara de quem tentar– ele respondeu displicente. – Vamos pro seu dormitório então.

– O quê? Nós temos aula ainda. Você tem aula.

– Relaxa, é alguma coisa sobre agricultura. Dá pra ler o assunto depois.

– Vão dar pela nossa falta.

– Claro que sim. Então, é melhor irmos logo.

Sempre preferiam ficar no dormitório de Ginoza, que vivia ali sozinho. Kougami tinha um colega de quarto no dormitório dele, mas ninguém queria dividir o mesmo recinto com o filho de um criminoso latente.

Ninguém exceto Kougami.

O quarto era de uma organização impecável, desde os livros de estudos bem alinhados nas estantes à cama perfeitamente arrumada. O Shinya adorava vê-la assim. Tinha o maior prazer em bagunçá-la.

– Isso aqui– ele murmurou, referindo-se aos óculos que tirava lentamente do rosto do outro– não vai te proteger de nada. Você ainda é filho do seu pai. Ainda é passível de erros. Ainda é um ser humano...

Ele se calou, de bom grado. Afinal, continuar falando enquanto as mãos de Ginoza se insinuavam pelo seu pescoço, puxando-o na direção de seus lábios, era praticamente um crime.

– Eu sei– sussurrou. – Isso é mais como um lembrete, de que eu posso ser quem eu quiser.

– Claro que pode– Kougami fechou os olhos.

Claro que podia. E, definitivamente, não precisava de nada nem ninguém para protegê-lo.

Se Kougami se intrometeu na briga para livrá-lo de seus perseguidores, tempos atrás, não foi porque Ginoza precisava de ajuda. Era um dos melhores em combate corporal na Academia, perdendo talvez apenas para Kougami. O que motivou o moreno a se aproximar foi curiosidade, uma profunda vontade de saber o porquê de o rapaz lhe atrair tanto. E de saber se aquilo poderia ser mútuo, de alguma forma.

Felizmente era.

Ginoza se deixou ser jogado na cama enquanto Kougami partia para cima dele, devorando seus lábios, sua língua, puxando o corpo dele para si com mãos possessivas, percorrendo sua cintura, seu quadril. O Nobuchika se agarrava às costas dele, arranhando a extensão larga e tensa por cima da camisa. Mesmo com todas as roupas incômodas ainda podia sentir o calor abrasador do corpo sobre o seu, os quadris estreitos se insinuando contra ele, pressionando-o sob a calça. E atiçando-o da mesma maneira, fazendo-o se perder no sabor daqueles lábios cheios e exigentes.

Kougami se ergueu sobre as mãos para fitar o rosto afogueado dele. Era como um predador analisando sua caça, exceto pelo fato de que Ginoza se entregaria a ele de boa vontade, como fizera várias outras vezes. Mas suas pernas estavam unidas entre as do Shinya, e não havia a menor pressa em tirar qualquer peça de roupa. Aquilo só podia significar uma coisa.

– Não podemos ficar mais tempo– Ginoza alertou-o, fazendo-o bufar exasperado. –Eu avisei.

– Tá, só alguns minutos– Kougami avançou pelo peito dele, desabotoando a camisa.

– Ko...

– Não vou fazer nada de mais. Eu juro.

Nada que não incluísse mordiscar a pele alva, das clavículas ao peito, deixando marcas vermelhas aqui e ali. Ginoza respirava aos sopros, sentindo a língua quente rodear seu mamilo, sugá-lo, prendê-lo de leve entre os dentes, enquanto Kougami usava o polegar para massagear o outro.

– P-pare com isso... –sussurrou, numa voz que saiu quase como um gemido.

O Shinya lhe dirigiu um sorriso excitado e terminou de abrir a camisa, expondo o abdome, cujas pequenas depressões ele continuou a lamber uma a uma. Era irresistível para ele, sentir os músculos enrijecerem sob a pele alva e suave, agora toda arrepiada. Não precisou alcançar o zíper da calça para saber que ele precisava urgentemente ser aberto.

– Ko– Ginoza ergueu-se de repente, reunindo todas as forças que lhe restavam para empurrá-lo pelos ombros. – É sério. Pare.

Ele ergueu as mãos. – Ok. Mas nós dois temos um problema agora.

Apontou para abaixo da cintura, e então para a do Nobuchika. O problema era mesmo sério.

– Você devia pensar antes de fazer qualquer coisa– ele resmungou, o rosto profundamente corado. Sentou-se na cama e abotoou a camisa, enquanto Kougami não parava de olhá-lo.

– Penso mais do que você imagina, Gino– o rapaz sentou-se ao seu lado, esperando seu estado ‘alterado’ passar. – Sou péssimo com ideias fixas. Um dia meu Psycho-Pass vai acabar ficando sujo por causa disso.

– Espero que não, pro seu bem.

– Mesmo?

– Você vai pra Investigação Criminal, não vai?

– Vou. Apesar de que, com o seu desempenho, você chega lá antes de mim.

– Então se esforce. Vou estar esperando você.

Kougami o observou pôr os óculos de volta. –Sério que vai continuar usando isso?

Ele lhe deu um sorriso leve. – Preciso disso para me lembrar de que posso ser quem eu quiser. E preciso de você ao meu lado, para me lembrar de quem eu sou.

O Shinya lhe afastou os cabelos do rosto, dando um beijo em sua face. Ginoza segurou a mão dele em seu rosto por um momento, fitando-o com ternura, e então suspirou.

– Temos aula agora– disse, levantando-se.

– Ainda não estou pronto pra ficar de pé sem passar vergonha– Kougami protestou.

– Jogue um balde de água na cabeça – ele sugeriu, passando pela porta. – Estou indo na frente.

Kougami sacudiu a cabeça, vendo-o se afastar. Era mesmo complicado ficar a sós com aquele cara. Mas não mais complicada do que a vida que Ginoza levava.

Talvez aquelas complicações fossem a melhor motivação para seguir em frente. Juntos, o que era ainda melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me arrependi de não ter assistido Psycho-Pass antes. Acabou que ele entrou pro meu top 5 de animes antes mesmo de eu ver o final. Sério, se você também é fã, apresente a outras pessoas e espalhe a palavra da Sibyl!
Muito obrigada por ler esta fic até o final. Se gostou, deixe sua opinião, dúvida, crítica, xingamento (não), enfim, comente à vontade. Té maisinho! :****