The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 36
Especial 01 - O gêmeo ferido


Notas iniciais do capítulo

Então, aqui está o primeiro especial. Este é pequeno, mas é uma parte importante da história e eu acredito que merecia alguma atenção....


Boa leitura :)



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Em um dia ensolarado de primavera, a floresta das imediações da cidade de Vistorius inspirava toda a beleza daquela estação. Flores invadiam todos os espaços, botões de diversas cores, perfumavam a floresta, e seus cheios eram carregados pelo vento fresco soprado para os reinos distantes. As folhas nas copas das árvores estavam mais vívidas sob a luz penetrante do sol. Os pequenos animais, como joaninhas e suas fofas asas vermelhas recheadas de pontinhos, davam mais beleza ao local. O vento soprava tranqüilo a derrubar folhas das árvores ao chão, talvez em uma tentativa de pintar a terra escura de pontos laranja e amarelos. 

Quatro pezinhos calçados de chinelos de couro surgiram dentre os caminhos da floresta. Arrastavam as folhas, como se quisessem trazê-las consigo. As túnicas brancas, quase da mesma cor da peles dos pequeninos, destacavam-se na beleza colorida da floresta. As mãos unidas, os dois andavam agarrados um ao outro. Olhinhos verdes brilhantes sob os raios solares.

Seus cabelos longos negros balançavam ao sabor dos ventos. Os garotinhos preservavam o mesmo sorriso, o mesmo brilho dos olhos. Quase os mesmos trejeitos. Eram gêmeos. Idênticos.

Um lago pequeno e cristalino estendia-se no meio da floresta, cerceado por grandes árvores de copas verdes. A grama fofa, em suas imediações, era tão verde que parecia convidar a sentar e apreciar o ambiente. E isso que os meninos fizeram.

Sentaram-se, os dois, de pernas estiradas sobre a grama, a cabeça erguida deixando-se inundar pela luz solar. O pingente de pedra gema no pescoço de cada um deles brilhava, carregando uma força cósmica intensa em um espaço tão pequeno.

Um dos meninos pegou seu pingente brilhante, de cor negra, e pôs-se a analisá-lo. Aquela pedrinha destacava-se sobre a túnica branca e trazia um olhar pesaroso ao garoto. Analisava-a, vendo que, além de trazer um enorme poder, ela traçava o seu destino.  Olhava cada pequeno detalhe. Os caminhos perolados por dentro, os pontinhos brancos na curvatura de baixo. O outro menino despertou de sua contemplação e observou o irmão, distraído, a analisar a pedrinha.

Torceu a boca, em um bico birrento de criança, já sabia o que seu semelhante pensava. E, então, resolveu acudi-lo. De súbito, estalou um beijo nas bochechas vermelhas de seu irmãozinho e o outro saltitou, deixando a pedra escorregar da mão, direito para o peito.

— Esquece! Certo? – disse, em sua voz baixinha, mas doce.

O pequeno balançou a cabeça, firme nos olhos verdes do irmão. Até que viu as pálpebras dele se fecharem e os braços estendidos no ar anunciavam que receberia um abraço apertado. Deixou que o irmão lhe agarrasse, e o calor do pequenino invadiu-o de forma gentil, tal quais os olhos e jeitos dele. Enquanto estava em seus braços, olhou a grama verde no chão e, então, percebeu que as vestes do irmão apresentavam algumas manchas escuras... Molhadas.

Quando se afastou do abraço, percebeu que eram suas lágrimas.

Os punhos fechados limpavam as lágrimas freneticamente sobre o rosto, entretanto, mais e mais lágrimas chegavam teimosas. O gentil gêmeo ajudou-o a limpar o rosto do outro, enquanto acariciava-lhe as bochechas, mostrando todo carinho que ele precisava. Assim que o viu se acalmar, ele pegou sua pedra gemada, de cor branca cheia de pontos de cores furtivas, e mostrou-o,

— Zeenon! – encostou-se no irmão e seus rostos ficaram a centímetros de distância – Isso não importa! Olha! É igual, só muda a cor!

— Não! – soluçou – Heimdall...

Olhou a pedrinha branca nas mãos de seu irmão e apertou os olhos, ainda com lágrimas, que já se extirpavam. Eram totalmente iguais na aparência, mas aquelas gemas... Aquelas pequenas e poderosas pedras os separavam cruelmente, desde o nascimento, durante sete anos. Desabou em choros novamente, sem mais conseguir conter as lágrimas.

Heimdall segurou as mãos do irmão e uma pontada surgiu em seu peito. Odiava vê-lo daquela forma e eram constantes seus choros. De repente, ouviu algumas pegadas surgirem dentro da floresta e, sua atenção se desviou para as árvores e arbustos.

Um pequeno grupo de crianças se aproximava do lago. Eram ao menos seis, e quando Heimdall pode vê-los nitidamente, percebeu que eram conhecidos da vila onde moravam. O outro continuava a chorar completamente perdido em lágrimas. Às vezes não conseguia engolir o sofrimento e, então, vinha urgente.

As crianças se aproximaram e viram os gêmeos juntos, um defronte ao outro. Assim que chegaram, Zeenon parou de chorar, ciente do que viria depois. Seus olhos encontraram a grama verde e nem mesmo aquele ambiente agradável apaziguaria sua dor.

— Vem, Heimdall! – gritou um menino pequeno e sujo de terra. Parecia ter, ao menos, cinco anos de idade.

— Vamos brincar! Deixe-o aí. – gritou a maior do grupo, cruzando os braços ao falar de Zeenon.

Os olhos verdes dos gêmeos se encontraram e, Heimdall piscou para o irmão, como se dissesse que estava ao seu lado e não o deixaria, por nada, ninguém. Apertou as mãos dele, para reforçar o seu recado. Voltou-se para as crianças.

— Quero gastar o tempo com meu irmão.

— Ele não merece ficar com você, Heimdall. – disse um garoto de cabelos morenos, e tez endurecida. Sua voz tentava passar o máximo de confiança que tinha.

O gêmeo gentil viu seu irmão baixar a cabeça novamente, segurava os lábios entre os dentes, pronto para desabar em choros.

— Vem! Queremos brincar só com você! – continuou o pequenino encardido. Sorria, e seus olhinhos negros inocentes brilhavam.

— Não, mesmo! Brinquem entre vocês!

Zeenon, repentinamente, viu sua cabeça ser empurrada contra o peito do irmão. E, ali, afundou o rosto agarrando as vestes brancas que o pequeno usava. Bem abaixo dos seus olhos estava a gema branca, encarava-o, como se desafiasse.

— Tudo bem, então!

As crianças partiram de volta à floresta, juntas, somente o pequeno sujinho de terra demorou-se uns segundos e, depois, seguiu o seu grupo, de cara amarrada. Heimdall continuou a acalentar o irmão sobre os braços, percebeu que ele não mais chorava, apenas apertava-se em suas vestes, talvez procurando algum abrigo.

— Eu te amo... Meu irmão... Eu te amo. – repetia a mesma frase diversas vezes, até que o pequeno agarrado em seu acalento compreendesse que aquele amor deveria ser seu suporte, sua morada. Balançava-o para frente e para trás, tal qual uma mãe nina seu filho.

Zeenon, então, desprendeu-se dos braços do seu irmão. E sorriu, forçando-se a ser mais forte do que realmente era.

— Eu te amo também. – estendeu a mão para o outro – Vamos brincar... Só nós dois.

Os olhos verdes brilhavam, segurando todas aquelas lágrimas e a raiva que custava a prender em seu peito. Sorriu para seu amado irmão e este lhe devolveu o gesto; agarrou de imediato a mão do outro. Então, os pequenos gêmeos passaram o resto da tarde na floresta, sujaram-se muito de terra, banharam-se no lago, enquanto jogavam água um ao outro e risadas gostosas sobre o sol fresco de primavera. Aquela inocência bonita, o amor e sorrisos puros... Anos depois manchados pela impetuosidade do mundo.


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