The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 32
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Depois de contarem toda a situação de Vistorius a Leigh, Mark e Link observavam o garoto andar de um lado a outro. Enquanto andava, balbuciava palavras que nenhum dos dragões conseguiu escutar, entretanto, condenava-se por ter se afiliado ao exército do reino, sem ao menos saber o que Simun estava tramando. As lágrimas surgiam em seu rosto, enquanto murmurava o quanto acreditava em Simun como um grande homem e apenas buscava progresso para o seu reino. O garoto só não aprovou os ataques a Heimdall, pois o guardião sempre foi uma criatura muito bem-vinda no reino. Mas, não tinha poder algum para deter aquilo.

– Por que eu fiz isso... Eu não sabia... – parou e segurou sua cabeça, balançando-a para os lados.

– Acalme-se, nenhum de vocês sabia desses planos.... Simun escondeu de todos... Ele com certeza fugiria antes de tudo se completar. – disse Link, tentando acalmar o garoto.

A cabeça Link girava de tontura, de tanto que acompanhou os passos do menino, de um lado a outro, como um louco.

– Tsc, que estorvo. – disse Mark, incomodado.

Levantou-se e alcançou o rapazinho. Segurou-o pelos ombros. Assim que fixou seus negros olhos na face do menino, sentiu dó daquela criatura. O rosto de Leigh estava encharcado de lágrimas, fungava ao mesmo passo que, sem sucesso, tentava engolir o choro. O dragão celeste percebeu o quanto ele era jovem, tinha uma estatura mediana, talvez um pouco menor que o companheiro do seu pai. Os cabelos castanhos pendiam um tanto para o rosto, atingindo os olhos. O brilho jovial destes se apagava, triste... Leigh deveria ter seus dezoito anos. Ou menos, como aprendiz no exército.

O rapaz precisava se acalmar, Zeenon resolveria tudo. Sabiam o quanto que seria difícil, depois de ouvir toda aquela história macabra, mas, pelos menos, ele poderia assistir o desfecho, sem muitos alardes.

– Olha, sente-se ali e espere. Zeenon vai resolver as coisas. – disse, em um tom calmo.

Os olhos de Leigh arregalaram-se ao ouvir quem seria o “herói” de toda a história. Não poderia ser aquele homem.

– Eu não confio nesse homem, é um assassino! – soltou-se das mãos de Mark, afastando-se algumas pegadas dele.

Ao ouvir aquilo, Link se levantou, e encarou o rapazinho.

– Meu pai é melhor do que você imagina. Pode não confiar, mas eu sei que ele vai fazer consertar as loucuras do seu rei. – falou, sem alterar muito a voz, mas permanecia sério. Os olhos vermelhos fumegavam. Não gostava que ousassem falar mal de seu amado pai.

Mark aquiesceu. O seu querido pai adotivo não merecia os julgamentos de humanos que ao menos o conheciam. Voltou-se para o companheiro e, depois, direcionou o olhar para o céu.

– Quando esses raios virem, nosso pai vai ter de enfrentá-los sozinho. – o dragão celeste abaixou a cabeça e observou, de soslaio, o rapazinho humano.

Leigh fixava-se no chão, não queria mais prestar atenção em ninguém.

– Você verá o quanto ele fez bem em detê-los. – completou.

Na tentativa de recuperar-se do baque, Leigh levantou a cabeça, e deparou-se aos portões do castelo. Percebeu que uma multidão de pessoas andava em direção ao castelo, inundando a colorida rua de vozes esbaforidas. O grupo era comandado por alguém que não soube identificar quem era. Talvez, a notícia dos ataques contra o castelo já deveriam correr pela cidade.

O rei de Erza olhava fixamente para a mesa, tentando conter toda a sua cólera. O corpo tremia, lufadas de ar escapavam de sua boca e encontravam a pele que se inundava de um tom avermelhado, o sangue fervia em todo corpo. Se não penasse a controlar o seu corpo, socaria cada um cada um dos homens ali, principalmente Zeenon, que o denunciou a todos. Seus olhos castanhos avermelham-se de tamanha raiva, as veias na testa, definiam-se formando caminhos tortuosos sobre a pele.

Sem conseguir mais se segurar, e nem poder realizar seus insanos desejos, ele varreu a mesa asperamente com as mãos, e derrubou taças de vidro ao chão. Assim que ouviu o som do vidro despedaçado, Zeenon voltou a atenção para Simun, que o encarava com os dentes e punhos cerrados.

– Eles me traíram! – disse, em um tom rude. – Perdi, pois me deixaram apenas com meu exército, tínhamos inúmeros homens!

Os homens, ainda sentados à mesa, entreolharam-se e alguns balançavam a cabeça para os lados, como se o desmentisse. Zeenon meneou a cabeça, sereno.

– Não, Simun, mesmo que os soldados deles estivessem lá, perderiam. – disse, em tom calmo.

O guardião das trevas olhou para a mesa, onde os senhores estupefatos observavam a discussão.

– Nenhum exército é páreo para os meus feiticeiros. Aceitem. – disse, pretendendo dissipar as esperanças de todos.

– Seu...! – gritou, descontrolado.

Simun tentou avançar para o inimigo, mas caiu para trás, ao ter suas pernas agarradas por fortes “cordas”. No mesmo instante, percebeu que eram as sombras do rei das trevas. Elas o envolveram por todos os lados, assim como Loki fizera no castelo de Heimdall. Naquele dia, ainda não sabia uma tática contra aquele ataque, mas, agora, ele já sabia como se livrar delas.

– Não se atreva a encostar-se a mim... – sem mais o aspecto sereno de antes, a face do rei endureceu. Os olhos curvados, as íris vermelhas cintilavam de tamanha fúria.

O rei humano pegou seu anel cor de ardósia, o qual continha a pedra da “Maho” dos feiticeiros humanos, e lançou um feitiço para destruir as sombras do rei, mas não sabia se poderia detê-lo apenas daquela forma. Desatou-se das cordas e posicionou o corpo, encarando o seu inimigo. Zeenon sorriu, queria saber se ele tentaria se defender apenas utilizando aquele anel inofensivo à sua aura.

Já saturados da situação, os outros reis se levantaram ao verem a atitude de Simun. Não queriam, de forma alguma, presenciar a morte dele. Queriam apenas sair dali, já que não eram alvos do guardião das trevas. Zeenon percebeu a reação deles e direcionou a mão para a porta, movimentou seus dedos rapidamente, ditando alguns encantamentos e, então, a barreira estava destruída. Os homens correram desesperados, derrubando cadeiras e tudo que viam pela frente.

Sem poder fugir daquela sina, Simun continuou parado, encarando a figura à sua frente. Consciente de que não venceria, mas de que poderia resistir e, até mesmo, sem clamar por alguma piedade – o orgulho de rei só cairia após seu último suspiro.

Por um instante, observou o receptáculo nas mãos da bela guerreira e pensou em como Zeenon deteria aquilo. Ele não sairia ileso.

– Não há como você impedir a magia... O receptáculo já foi ativado, mesmo se destruí-lo, os raios cruzarão aqui! – de certa forma, ainda sentia-se vitorioso, a cidade seria destruída e Zeenon, por estar ali, seria seriamente afetado.

Zeenon cruzou os braços, e sorriu para o rei de Ezra.

– Acha que eu não sabia disso? – inclinou a cabeça e arqueou uma das sobrancelhas, intimidador – Há tempos senti a magia do receptáculo, o qual receberia os raios dos quatro pontos. Sei que vou detê-los.

O plano pretendido era loucura, pensava o rei de Ezra. A intensidade era enorme, não havia como sair sem ferimentos. Pensou em uma forma de atrapalhá-lo, seu plano ainda poderia ser eficaz. Simun estendeu sua mão que portava o anel de ardósia. Ditou encantamentos e, então, raios elétricos apareceram em torno do anel e correram prontos para atingir o corpo de Zeenon. Mas, assim que aquela chispa de magia barata tentou afetar o rei das trevas, Simun o viu sumir à sua frente, transformando-se em sombras no meio da sala. Depois, ele apenas sentiu o corpo ser impulsionado por alguma força estranha, atingindo a mesa de vidro do local. O guardião, antes que pudesse ser atingido, transmutou-se em suas volumosas sombras e empurrou-o de encontro à mesa. O corpo de Simun praticamente voou sobre a sala, atingiu a mesa, o homem ao menos pode se defender. Cacos de vidros escarlates despedaçaram-se para todos os lados, uma dor intensa invadiu o corpo do rei de Ezra.

Zeenon parou à frente da bela estátua da guerreira, observando o seu inimigo tentar se levantar, sem muito sucesso. Não conseguia sentir nem um pouco de compaixão por aquele homem. Recordava-se das suas épocas mais infames que machucava seu irmão, pensando em uma raiva estúpida e esta não deveria ser descontar em Heimdall. Aquele foi seu pior pecado, e não podia perdoar quem tentasse machucar o seu irmão. Simun, finalmente, conseguiu se levantar, mas penava a continuar na posição. O corpo arqueado, as bochechas recheadas de cortes, a roupa azul do melhor tecido do reino, já rasgada por causa dos vidros da mesa.

Apesar de machucado, o homem puxou a bainha que carregava no cinto de sua calça e, dali, surgiu uma espada. Pensava ainda ter algum poder de luta. A arma brilhou, reluzindo a luz da lua.

– Vai insistir? – disse Zeenon, sério.

– Não tenho mais nada a perder mesmo. – arquejava, insistindo na batalha.

A espada distendida sobre o peito tremia junto às mãos do seu dono. Entretanto, não tinha mais medo e, sim, dores no corpo. O impacto sobre a mesa foi muito forte, mas não tanto para destruir o seu orgulho.

Simun andou, lento, até o inimigo e tentou desferir um golpe pela esquerda. Este se esquivou em sombras para o outro lado e, debochando, riu dos olhos arregalados do rei. A espada estirou-se à direita e Zeenon seguiu o mesmo processo, agora mais sério, ao perceber que o ataque tentava ser mais eficaz. O rei de Ezra, sentindo-se insultado pelo guardião, disparou em desenfreados ataques com sua espada. Não sabia mais para qual lado iria, entretanto, Zeenon sempre conseguia esquivar, mesmo que a espada passasse em apenas milímetros de distância de suas sombras. A cada passo que davam, aproximavam-se ainda mais da guerreira e seu receptáculo, pronto para destruir a cidade. Sem mais paciência, Zeenon apertou os lábios, cansado daqueles ataques. Esquivava a todo instante, como se brincasse com o rei, mas não poderia perder mais tempo. Tinha que matar o monarca e preparar a barreira contra os raios. E o mais rápido possível.

A espada direcionou-se ao seu peito do guardião – alguns centímetros do peito de um imortal que, por ilusão da mente alienada de Simun, poderia ser a vitória de seus planos.

Não teve chances. Apenas utilizando uma das mãos, Zeenon agarrou a espada e tirou-a das mãos de Simun, já cansada de tantos ataques. Jogou a espada em um canto escuro qualquer da sala. Era a rendição.

O feiticeiro humano arfou, parado já bem próximo à guerreira. Dava-se por vencido. Observou os olhos cintilantes de Zeenon, seu algoz.

Zeenon dirigiu-se ao monarca, andando vagarosamente, e parou alguns centímetros dele. Derrotado, o humano continuou estático, e esperou a nova investida do guardião, mas ele não atacou. O rei da escuridão utilizava luvas de couro, mas não precisaria mais delas. Descalçou-as de suas mãos e pousou a destra sobre o rosto de Simun.

– Isso não é bom... Você vai ter que pagar o preço por cometer o mesmo pecado que eu... – seu dedo indicador percorreu um corte que espichava sangue sobre o rosto.

– E, ainda quer envolver inocentes em uma vingança, o que não é justo. – alcançou o pescoço do rei de Ezra, e apertou-o aplicando um pouco de sua força.

Mesmo que Zeenon não utilizasse tanta força, era muito para um humano. Simun gemeu ao sentir a pressão dos dedos sobre sua pele. Orgulhoso, ainda conseguiu soltar algumas palavras.

– Não importa... Se eu fiz o mesmo a Heimdall... – Tossiu, o dedos estavam cada vez mais ferozes... – Só queria poder ser igual a você ou melhor.

Os olhos vermelhos do rei ganharam veias de tamanha raiva que invadiu o corpo dele. “Sucumbe às garras escarlates, Inshtar!”, o feitiço foi praticamente enxotado de sua boca, não queria mais encarar o rosto orgulhoso e ensanguentado do humano. Não tardou para duas garras enormes surgirem entre dedos do guardião e fincarem-se na carne de Simun. O seu pior veneno: o Red Poison. Letal, o red percorria o sangue das vítimas, destruindo os órgãos um a um.

Zeenon tirou as garras do pescoço de Simun, e observou ele cair ao chão. A boca aberta tentava expelir o grito, sem que nenhum som saísse. O corpo, quase abatido, contorcia-se enquanto o veneno ardia em todos os membros. A pele começou a ficar roxa; sangue expeliu de sua boca; os membros não mais respondiam, os olhos começavam a falhar. Zeenon se afastou da sua presa e observou o receptáculo aceso, pronto para receber a magia. Era o momento de preparar a barreira.

Simun, vencido, deixou sua cabeça desfalecer ao chão. As pálpebras teimavam em se fechar, a sua visão já estava totalmente turva e oscilante, a última coisa que conseguiu ver foi um enorme vulto negro se formar em torno de uma criatura no meio de sua sala de reuniões. Depois, a escuridão venceu a sua vida por completo.

No hall de entrada do castelo, a situação continuava tranquila. Loki e Andy não estavam nem um pouco preocupados com o que aconteceria a Simun, apenas esperavam o momento do evento principal da noite. Permaneciam sentados sobre o chão de mármore do salão, um de costas para o outro. Observavam o enorme afresco de criaturas aladas que enfeitavam o teto. Respiravam fundo, a hora chegava.

Então, nessa calmaria, Loki começou a sentir a aura do mestre expandir-se de forma absurda em uma das torres. Pegou seu relógio de bolso e conferiu as horas.

– Está perto... Daqui a pouco virão os raios, vai abalar o local. – sussurrou.

De repente, uma trupe de reis chegou esbaforida no hall. Pararam, e alguns arquearam o corpo, ofegantes. Cansados tanto físico quanto psicologicamente, depois de enfrentarem aquela situação na torre e percorrerem, desesperados, os corredores do grande castelo.

Loki e Andy se levantaram e observaram o grupo. Todos tão bem vestidos trajavam roupas de veludo, ou roupas bordadas e pedras preciosas sobre os tecidos. Cada um deles exibia seu anel de maho, como se fosse um grande orgulho ser feiticeiro, mas poucos dos leigos humanos sabiam da função daquele ardiloso anel. Os companheiros já sabiam o porquê estavam tão alarmados, mas queriam saber como estava a situação lá em cima.

– Ei... Já sabem de tudo, não é? – disse Loki, ainda observando os homens recuperarem o fôlego.

– Simun merece morrer! Se é que já não morreu! – Gritou um rei de cabelos e pele negra, cujo nome era Lufon. Seus olhos castanhos estavam arregalados, e a roupa vermelha completamente encharcada de suor.

– Sim, ele já morreu. Sei disso. – disse um rei de loiro, a face vermelha. Era o mais calmo do grupo.

– Sr. Dimitri e Sr. Luffon... – disse Andy, dirigindo-se ao grupo – Isso é apenas um aviso para vocês.

– Espero que aprendam. – Loki continuou a fala do companheiro.

Os olhos verdes de Dimitry percorreram Andy de cima a baixo, pensava em sua traição. Sempre vira o rapaz tão leal ao rei de Ezra, não o imaginava junto aos inimigos.

– Não achei que trairia o Simun dessa maneira. – disse, encarando o ex-soldado fixamente, como se quisesse ataca-lo.

Como um lobo que protege os companheiros, o feiticeiro ruivo pôs-se de frente a Andy, para defendê-lo de qualquer ataque que Dimity pensasse em desferir. Sua posição ameaçadora surtiu efeito em todo o grupo de reis, o loiro deu um passo para trás, sem coragem alguma de enfrentar uma criatura das trevas.

– Conseguiu um defensor, Andy? – perguntou Dimitry, instigando ainda mais ódio a Loki.

O feiticeiro ruivo observava aqueles homens, sentia asco de suas expressões. Em outros tempos, poderia ter assassinado todos os seis naquele momento. Por conta de pessoas como eles, ainda preservava certa raiva dos humanos.

Andy ouviu um burburinho vir do lado de fora, parecia que uma multidão se aproximava, à frente do castelo.

– O que é isso? – virou-se para a porta, que ainda estava trancada pela barreira.

– Alguém deve ter espalhado o ataque pela cidade... – Afirmou Loki.

Desgrudou os olhos do grupo de reis e andou até a porta, sem se preocupar muito com o barulho.

– Você vai abrir? – perguntou Andy, acompanhando-o.

– Não... Sei destrancá-la, mas é melhor deixar assim, só vou observar a situação.

Loki encostou a cabeça perto da barreira formada pelo dispositivo. Podia ouvir vozes abafadas e, ao estender suas sombras, viu Mark e Link parados no meio do jardim, junto ao garoto soldado. Os três observavam a multidão que parecia querer entrar e avançar para os jardins do castelo, mas o portão estava trancado. Um rapaz meio-loiro permanecia à frente, acusando-os de invasores. O feiticeiro não conseguiu ouvir ou ver além disso, a última coisa que conseguiu captar foi algumas pessoas apontarem para o céu, denunciando algo brilhante em um ponto alto da cidade.

No alto da torre do castelo, Zeenon expandia sua aura cada vez mais, concentrava-se para formar a barreira que deteria os raios. Parado, no meio da sala de reuniões do castelo. De olhos fechados, o rei respirava fundo, enquanto deixava toda a sua energia rodear o ambiente. Quando estivesse pronto, formaria barreira. Assim, em vez de atingirem o receptáculo, seriam impedidos pelas sombras e a energia desviraria para os céus, dissipando-se pelos ares. O plano não era difícil, mas a energia que deveria empregar para executar aquilo era absurda. Sentia-se forte, seu corpo altamente resistente, e as emanações da Lua estavam incrivelmente intensas. – Ela estava tanto a favor do inimigo, quanto ao seu. A sua aura poderosa captava as emanações da lua. No final, estaria cansado... Mas, deveria fazer aquilo. Próximo ao guardião, Simun jazia desfalecido, o corpo estirado sobre os cacos vermelhos.

Estava completamente roxo e coberto de cortes. A roupa completamente rasgada. Seu anel de ardósia apagado, sem mais nenhum poder. Apenas restava a vingança estúpida que Zeenon estava disposto a combater. Somente alguns minutos para tudo acabar.

Em um dos bairros carentes da cidade, Freyr sentiu uma pontada intensa em sua aura. Estava ao lado de Heimdall, ajudando na entrega dos utensílios aos cidadãos. Uma garotinha cheia de sardas, trajando um vestidinho rodado vermelho e fitas vermelhas em suas tranças, sorria para ele. A menina pulava, doidinha para receber a boneca de pano das mãos do rapaz loiro. Era a última da fila. Entretanto, o sorriso bonito da criança se apagou ao vê-lo parar subitamente, e os olhos azuis arregalarem-se. Em instantes, Freyr voltou à consciência e olhou para céu. Dali, podia sentir a movimentação na aura do rei das trevas e ver um ponto alto brilhante no meio do céu noturno de Vistorius. Voltou à garotinha e lhe entregou a boneca. Ela inclinou a cabeça para o lado e agradeceu-lhe com um simples “Obrigado”.

Heimdall percebeu inquietação do garoto, já sabia do que se tratava, mas quis perguntar.

– Freyr, está tudo bem?

O garoto encarou a expressão tranquila do guardião da luz. Sempre encontrava certa calma ali, mas, naquele momento, não havia como se controlar.

– Bem... Acho que já chegou a hora.

– Vamos até lá? –também estava ansioso para ver tudo aquilo de perto.

– Não, não precisa... Vou te atrapalhar, desse jeito. – meneou a cabeça. Não queria ser um estorvo para o grupo de Heimdall.

– Já acabamos aqui. – disse o rei. Apontou para o grupo de pessoas que analisavam os objetos que ganharam.

Ao sentir toda aquela energia aumentar na cidade, Heimdall varreu os céus com seus olhos cinzentos e parou na torre do castelo. Seu irmão estava ali, preparando-se para agir.

– Senti a aura de Zeenon... Ele já vai agir. – sorriu para o menino, queria ver aquilo – Vamos Logo!

Antes que Freyr pudesse responder, Heimdall agarrou sua mão, correndo até o cavalo branco, chamado Destiny. Os dois montaram sobre o animal e galoparam pelo pelas ruas de pedra do centro da cidade até o castelo, que ficava bem próximo ao bairro. Em menos de dez minutos chegaram às imediações do coração da cidade. Assim que chegaram próximos aos portões, os rapazes se depararam à uma multidão agitada e impedida de entrar no local. Esconderam-se atrás das bancas escuras de um mercado, local onde poderiam ver a movimentação, sem serem percebidos. O rei da luz ainda não poderia ser reconhecido naquele escarcéu.

As pessoas eram lideradas por um rapaz alto, o cabelo loiro escuro. Freyr não podia se confundir. Reconheceu assim que o viu. Era Jimmy.

Ainda na sela de Destiny, o garoto se remexeu, incomodado com a situação. Heimdall logo percebeu que ele não estava bem. Estavam em um espaço escuro, mas podiam ver as movimentações no portão.

– Meu irmão...

– Irmão? Onde? – indagou, curioso.

– Ali. – apontou o rapaz rude agarrado ao portão, gritando palavras de ordem para Mark e Link.

Heimdall espichou o pescoço e, então, conseguiu ver o rapaz apontado. Não percebeu muitas semelhanças a Freyr.

– O que ele faz ali?

Perguntava-se Freyr, todo o tempo o que Jimmy pretendia. Criou toda aquela confusa... Pra quê? Continuava à sela, mas um impulso dominou o seu corpo e ele desmontou do cavalo, decidido a ir falar com seu meio-irmão. Heimdall fez o mesmo e, antes que Freyr saísse às vistas, conseguiu agarrá-lo pelo braço.

– Para onde vai?

Sem virar-se para o guardião, o garoto respondeu,

– Preciso ir falar com ele. – olhava fixamente para o seu irmão, desconfiado de que ele descobriu o ataque de Zeenon e o espalhou pela cidade.

– Eu vou te acompanhar...

Heimdall pousou a mão no ombro de Freyr, decidido a ajuda-lo.

– Mas... As pessoas te reconhecerão... – disse, cauteloso.

– Não se eu estabilizar a minha aura... Heimdall apertou os olhos, parabenizava-se por ter encontrado uma solução rápida.

Sorriu de lado e outro respondeu o mesmo gesto, ainda mais que Heimdall poderia enganar Jimmy, que viu Zeenon pela manhã na forma humana. Ali mesmo naquele canto onde estavam, o rei da luz pode estabilizar aura sem muitos problemas. Antes de partirem, Freyr explicou-lhe que Jimmy pensaria que ele era Zeenon, pois encontrara o guardião sombrio pela manhã, no centro da cidade. O guardião da luz ordenou seu cavalo Destiny, que voltasse à tenda e aguardasse por lá, o animal trotou de volta para o bairro, acatando as ordens do seu mestre.

Enfim, depois de prontos, puderam sair detrás da banca. Os companheiros se embrenharam no meio da multidão e, depois de ultrapassarem várias pessoas, Jimmy estava bem ao alcance. O pessoal resmungava, muitos nem ao menos sabiam o que acontecia no momento. Entretanto, o alarde foi causado por um boato de invasão das criaturas de Zeenon e o reino, sem um bom contingente de soldados, estava desprotegido. Todos gritavam por explicações e proteção do rei contra os ‘ataques’ das criaturas que todos acreditavam terem o objetivo de tomar a cidade. Freyr logo concluiu que Jimmy uniu aquela multidão e foi para o castelo. Apenas queria saber como ele soube do ataque. Aproximou-se do irmão e pousou a mão em seu ombro.

– Jimmy, pare. – sussurrou.

Ainda agarrado ao portão de ferro, o rapaz virou e fincou seus olhos no homem alto e moreno que acompanhava seu meio-irmão. O invasor estava ali, camuflado no meio da multidão, e ele sabia que deveria denunciar a todos.

Então, estendeu o dedo indicador para Heimdall e, sem demora, bradou,

– É ele! Zeenon! Só os olhos estão diferentes! – Gritou para a multidão, alarmado.

Os cidadãos foram tomados pelo susto, olhavam o acompanhante de Freyr como se fosse um monstro. Gritos de horror ecoaram do povo. Freyr e Heimdall se entreolhavam, pensando no leve engano que Jimmy cometia.

E, nesse momento, um intenso clarão tomou conta dos céus escuros de Vistorius.

Sombras do mundo inferior, projetem-se, Inshtar!” Assim que expandiu a sua aura suficientemente bem para formar a barreira, Zeenon ditou o seu encantamento e ela tomou forma em torno do teto da torre. Estranhas aberturas se formavam no teto de vidro e, então, Zeenon percebeu que momento esperado chegou. Aqueles raios ferozes vieram, sobre aberturas do teto, e um forte impacto atingiu aura do rei instantaneamente. Os quatro raios incandescentes, vindos da direção dos principais pontos cardeais, lutavam contra barreira negra, tentando trespassá-la e atingirem o receptáculo para, assim, forçar a destruição em Vistorius.

A torre vermelha balançava, como se fosse cair em pedaços a qualquer instante. O guardião sentia toda a intensidade da lua agredir o seu corpo. Os braços distendidos forçavam a barreira para os lados, em uma batalha incessante contra os raios. O rosto de Zeenon avermelhava-se, de tamanho esforço empregado para combatê-los, as rajadas respondiam a força na mesma proporção, mas a sua aura lhe dava ainda mais vitalidade para aguentar aquilo. Nunca esteve tão forte.

O teto de vidro ruiu sobre cabeça do rei, mesmo utilizada para formar barreira, a aura do rei o regenerava dos cortes. As paredes balançavam e caminhos de rachaduras formavam-se sobre elas, atingidos pela enorme energia que rondava o local, porém Zeenon não perdia o foco, continuando sua guerra contra os raios da cruzada.

Em frente aos portões do castelo, todos olhavam atônitos para o alto da torre, reluziam pelos quatro lados. Os raios eram impedidos de alcançá-la por uma enorme barreira negra que emergiu de dentro da torre. Freyr tremia ao sentir toda força que Zeenon aplicava na barreira, era incomum. Queria ir lá e ajuda-lo, estava com medo de Zeenon não aguentar tudo aquilo.

– Heimdall, será que ele... – agarrou o portão, apertando uma de suas barras de ferro.

O azul cristalino de seus olhos brilhavam ainda mais intensamente pelas lágrimas que teimavam em fugir e o brilho vindo dos céus.

– Não se preocupe, meu irmão é mais forte do que você pensa. – disse, sereno, enquanto observava a torre vermelha e seu teto de vidro.

Heimdall pousou as mãos sobre os ombros de Freyr, seguro de suas convicções. O rapazinho não precisava se preocupar com o Zeenon, ele era forte, competente e tinha consciência de sua força. O jovem guardião quase saltitou quando viu a estrutura de vidro ruir da torre. Abriu a boca, queria gritar, mas forçou-se a ser mais resistente do que realmente podia ser.

Do outro lado do portão, Mark e Link permaneciam parados, no centro do jardim, também olhavam para cima, apreciando o espetáculo no céu.

– Link, Nosso pai é incrível... – disse Mark, ar orgulhoso em sua voz.

– Eu sei! – Link respondeu, compartilhando orgulho, os olhos cobertos de um brilho estonteante.

Leigh observava tudo atônito, sem ao menos saber como reagir a tudo aquilo. Finalmente, entendeu o comentário de Mark. “Você verá o quanto ele fez bem em detê-los...” Mesmo não tendo nenhum conhecimento sobre o que aqueles raios fariam à cidade, viu o quanto eram assustadores e não reservavam nada de bom para Vistorius.

Alguns segundos depois, repentinamente, os raios tomaram uma reta vertical, paralelos à barreira, o céu estava tão iluminado que parecia o sol estonteante de todos os dias. Subiram, até certa distância, formando um imenso clarão branco e explodiram intensamente. A barreira negra, em torno do pico da torre desapareceu, ruindo-se ao poucos, assim como as paredes da sala de reuniões do castelo.

Toda a multidão envolta do castelo não conseguia acreditar naquele incrível espetáculo que viram diante de seus olhos. A beleza dos raios sobre os céus da cidade trouxe um brilho prateado aos olhos de cada espectador.

E eles foram salvos do perigo, pela criatura que mais abominavam.


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