The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 29
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!
Sim! Está chegando a hora :3



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O luar invadia a sacada dos aposentos reais. A grande esfera branca celeste crescia a cada segundo, aproximando-se ainda mais da Terra. O perigeu lunar era uma das épocas mais bonitas do ano, combinando a uma lua cheia, o evento ficava ainda mais magnificente. Os olhos vermelhos do rei sombrio estavam totalmente concentrados no astro, enquanto ele pensava no dia seguinte. Não conseguia conter a sua ansiedade. Estava totalmente sem sono. Não conseguia parar de pensar nem um segundo, sua mente fervilhava e ele se perdia naquela imensidão de brilho. Esse sentimento não dominava seu corpo desde que terminou definitivamente as batalhas com o guardião da luz. Porém, não o entristecia, pelo contrário, dava-lhe forças.

Todos já haviam se recolhido, apenas ele continuava de pé, na sacada do seu quarto, encarando a grande lua brilhante no céu. Não queria se deitar, apesar dos pedidos carinhosos de Freyr para que o acompanhasse no sono. O menino parecia ter desistido, mas não demorou muito para aparecer na sacada novamente.

Vestia um pijama longo e branco, sem detalhes, completamente de lã. Os ventos ainda estavam frios e, apesar de não se preocupar mais com o clima, pois seu corpo entrava em equilíbrio térmico sozinho, o garoto vestia-se apropriadamente para o inverno. Zeenon usava seu robe de seda violeta, fino e nada apropriado à estação.

O guardião dourado aproximou-se lentamente do rei e abraçou-o por trás, encostando a cabeça no ombro dele.

– Amor, não vem para a cama? – sussurrou.

– Não... – Zeenon aceitou o abraço, segurando as mãos do namorado – Meu sono ainda não chegou...

– Mas sua aura precisa de descanso para amanhã. – levantou a cabeça e fitou o semblante sério do rei.

– Acho que não preciso... Quero mesmo é que amanhã chegue logo. – disse, com um tom bastante grave.

– Se você dormir, o tempo vai voar. – Freyr sorriu, ainda insistindo.

– Não adianta muito, minha mente está agitada, vou ficar rolando de um lado para o outro na cama, sem conseguir dormir. Então, acho melhor ficar por aqui mesmo... Se quiser deitar, fique à vontade.

O rei virou-se para o garoto, segurou a cabeça dele e pressionou os lábios contra a boca de Freyr. Apesar de sentir que não podia mais insistir, o garoto baixou os olhos e torceu a boca, visivelmente chateado. Abraçou o rei novamente, sem intenção de abandoná-lo.

– Gosto de dormir abraçado com você... Já que não quer ir para a cama, deixe-me ficar aqui.. – murmurou ele, cabisbaixo.

O jeito carinhoso do garoto, sempre conseguia cativar os sentimentos do guardião sombrio, ele estava praticamente nas mãos daquele jovem. Mesmo que Freyr não percebesse, conseguia deixar Zeenon cada vez mais sensível. O rei não resistiu e sentou no chão da sacada, abraçado ao seu companheiro. Nos primeiros instantes, eles nada disseram. Os dois apenas ficaram agarrados um ao outro, observando as estrelas e a lua.

Até que Freyr resolveu romper o silêncio.

– Sabe... Você foi meu primeiro amigo. – confessou o garoto, aconchegando-se no peito do guardião.

– Verdade?! – franziu o cenho, custando a acreditar nas palavras dele.

– Sim.. – continuou, ainda com a cabeça sobre o tórax do rei – Eu sempre fui muito sozinho, meus pais não se relacionavam comigo e não deixavam sair muito... Nem mesmo na escola tive amigos. Então, eu não me preocupava muito em criar laços, eu tinha meu refúgio, os livros. Quando te conheci, não sabia muito bem lidar com nossa amizade e, depois, nem percebi que tinha me apaixonado por você, nunca tinha lidado com isso. Foi um impacto grande para mim, sinceramente, eu não notava seu carinho, seus elogios... – Disse, um pouco envergonhado.

As mãos do rei correram pelos cabelos do garoto, alcançando sua cintura. No inicio, percebeu o quanto ele era tímido, mas assim mesmo Freyr tentava conversar e abrir-se cada vez mais. Freyr encontrou no rei um conforto e alguém que poderia confiar realmente – um verdadeiro amigo.

– Eu bem que notei isso. Você ficava inseguro...

– Sim, eu não sabia lidar. Mas você me ajudou muito, principalmente quando começamos a namorar.

– E eu... Achava que você não sentia o mesmo por mim. No começo, foi um pouco difícil de aceitar os meus sentimentos, pois você era humano, mas como aquilo me fazia tão bem – Acariciou os fios loiros do garoto, olhando-o com carinho. – Eu prometi para mim mesmo que ia te amar, mesmo que não fosse correspondido. Obrigado por tudo, meu amor.

Aquelas palavras soaram pela mente de Freyr e ele sentiu que algumas lágrimas tentavam escapar. Antes que elas fugissem, Freyr beijou seu parceiro entregando sua felicidade ao saber que conseguiu conquistar o coração de Zeenon, mesmo que, na época, fizesse parte da raça que mais lhe fez mal.

– Obrigado você também, Zeenon. – abraçou-o, enchendo o rei de carinho.

O futuro estava próximo e o rei pensava em voltar para o seu mundo e viver novamente por lá. Na eternidade dos seus dias, junto a fiéis companheiros. O Submundo precisava ter seu guardião de volta, um dos maiores erros de Zeenon foi se afastar dos feiticeiros e das feras. Toda a energia de Inshtarheim lhe fazia bem.

– Eu estou cogitando mudar-me definitivamente para Inshtarheim. – Sussurrou, olhando para a lua.

– Heimdall comentou sobre isso hoje... Disse que viu no dia em que se encontrou com os feiticeiros. – Ele fitou o rei, sorrindo – Acho uma boa ideia.

– Fico aliviado em saber disso... – beijou a testa do garoto, contente. – Só que, no começo, não poderemos ficar muito tempo juntos.

O rei o apertou, com força, aspirando o cheiro do pescoço do garoto. Não sabia se ele aceitaria muito bem a situação, mas precisava deixá-lo a par de tudo.

– Por quê? – indagou.

– Vou precisar resolver muitas coisas com o Loki, preciso me atualizar sobre tudo. Mas não se preocupe, não serão todos os dias e... As noites estarão livres. – Sorriu, explicando-se.

Era um sonho realizado morar no Submundo, Freyr não conseguia imaginar-se residindo naquele local fantástico, que sempre via ser relatado erroneamente nas lendas no reino de Ezra. O garoto virou-se para Zeenon e abraçou-o, não podia conter a sua felicidade em ouvir aquilo.

– Vamos passear muito por lá, quero visitar todas as 7 províncias. Você vai gostar muito, tenho certeza.

A cada lugar que passariam, seriam recebidos com muita festa. Zeenon tinha certeza que os outros feiticeiros ficariam felizes por ele estar melhor e de volta ao seu mundo. As notícias sobre o equilíbrio e todos os acontecimentos já deveriam correr pelas províncias e todos já cogitavam seu retorno, e com uma novidade; um companheiro poderoso ao seu lado.

– O Submundo sempre foi o meu sonho... Morar lá... É.. – apertou o rei aplicando ainda mais força, sufocava-o.

– Acalme-se... – disse Zeenon, contente com a animação do seu parceiro.

Emocionado, Freyr se afastou alguns centímetros do rei, os olhos azuis cintilavam de tamanha satisfação. Fazer parte daquela grande família e poder conviver com eles era tudo que ele mais ansiava.

– Obrigado, Zeenon. – pegou o rosto do guardião, utilizando ambas as mãos e sussurrou – Você e os meninos são minha família agora.

– Somos uma família, sim. E você terá todo o amor que precisa, certo? – Selou os lábios na boca rosada do garoto.

Sentados na sacada, observando o céu e as estrelas, enquanto se abraçavam à luz da lua; Foi assim que os dois passaram o resto da noite. Não precisavam de descanso, pois suas auras ficaram mais fortes com a energia vinda do astro.

Os dois estavam totalmente prontos para o dia seguinte.

Às cinco da manhã, o sol ainda sem despontar no horizonte, Zeenon e Freyr já estavam no jardim do Darkvallum. O jardim do castelo era bastante propício para a meditação que Zeenon necessitava. Sentado na grama, em posição de lótus, o guardião concentrava-se em sua aura. O ambiente sem barulho e os ventos calmos eram perfeito para a técnica.

Freyr o observava de longe, encostado nos arbustos que rodeavam o coreto. Não queria atrapalhá-lo, pois ele explicou que precisava canalizar suas energias e manter-se estável para as ações do dia. Viu o rei de olhos fechados, a cabeça baixa – a aura expandia-se em uma força absurda. O garoto sabia que não tinha visto muito do poder do rei... Aquele seria o dia. Depois de algum tempo assistindo o “ritual”, resolveu entrar e conferir se os rapazes já haviam acordado.

As quadrigêmeas preparavam a mesa para café e, nas escadas, Andy e Loki chegavam para o desjejum.

– Bom dia, Freyr – disseram juntos.

– Bom dia... – sorriu, como um cumprimento.

Loki olhou para os lados, procurando o seu mestre.

– Onde está Zeenon? – indagou.

– No jardim, concentrando-se. Disse-me que precisava canalizar suas energias e ficar estável.

– Ah... Sim. Acho que agora começará a aplicar técnicas do Heimdall, será ótimo para ele. – cruzou os braços, satisfeito.

O feiticeiro conhecia bem o jeito do rei. Como ele estava tentando ficar mais neutro, com certeza aplicaria técnicas melhores de concentração.

– Bom para fortalecer-se mentalmente. – sugeriu Andy.

Os dragões desceram as escadas a passos largos, saltitantes, bradaram um harmonioso “Bom dia”. Após terminarem de pôr a mesa do café, as criadas gêmeas cumprimentaram o grupo e sumiram dentro do castelo, para completarem seus serviços.

– Vamos tomar café, estou faminto.

Link já se dirigia para a sala de refeições, quando ouviu passos lentos adentrarem o salão.

Zeenon adentrou no local sossegado, sua aura já estava bastante equilibrada depois de algum tempo de profunda reflexão. Não estava naquele jardim. Entrou em harmonia com o cosmo, sentindo toda a sua energia. Aprendeu aquele método com seu irmão, mas só praticou uma vez e depois não se importou mais, não teve paciência. Percebeu que aquilo abrandava sua raiva, extirpando as forças negativas e revitalizava seu poder. Como era mais sensível a aura do seu companheiro, Freyr logo percebeu a mudança em sua força. Correu para Zeenon, sentindo toda a sua calma rodear o ambiente.

– Como você está manso... – murmurou.

– Vamos fazer isso juntos um dia, certo? Você vai gostar. – disse, encostando-se a Freyr.

– Isso é muito avançado, preciso de um pouco mais de técnica. – o garoto sorriu, abraçando-se ao rei.

Após o café da manhã com as iguarias preferidas dos rapazes, eles passaram toda a manhã no enorme campo do castelo, treinando e testando suas habilidades e técnicas.

Como não poderiam entrar em cena na forma de dragão, Mark e Link testavam feitiços para usarem as magias de suas feras na forma humana. Lutaram contra Loki e ainda tentaram trazer Freyr para uma batalha, mas o garoto recusou afirmando que ainda não saberia enfrentar os dois. Zeenon também usou a magia do seu Midnight, e, para seu descontentamento, conseguiu murchar as flores de um pequeno canteiro de rosas próximo ao campo, com uma das névoas venenosas do dragão. As suas tão adoradas rosas vermelhas perderam o vigor, adquirindo um aspecto asqueroso.

– Olha isso... Não prestei atenção... – disse, o arrependimento escancarado em sua voz.

Freyr, que estava ao seu lado, observou as flores mortas e indagou:

– Zeenon... Como esses venenos afetam criaturas imortais? – Perguntou, curioso.

– Enfraquecendo a aura e, a depender do veneno, causam sequelas irreversíveis.

– Nem o poder da aura regenera com o tempo? – Franziu o cenho.

– Sim... Por isso Midnight era um dragão tão perigoso. Consegui vencê-lo por que minhas sombras absorviam o seu veneno e não conseguiam me afetar.

Midnight era o dragão mais poderoso do Submundo, criado desde antes dos feiticeiros germinarem Inshtarheim. Por ser tão forte e orgulhoso, tornou-se arrogante e não quis ser comandado por Zeenon, mesmo que todos os outros já reverenciassem o guardião. Quando perdeu a luta para o rei, viu seu orgulho cair por terra e aceitou ser selado no guardião das trevas.

– Estou muito ansioso para conhecer essas criaturas. – ele piscou os olhos, sonhava em conhecer o Vale dos dragões.

– Falta muito ainda... Não é um lugar para passeios simples.

Zeenon pousou seu dedo indicador na ponta do nariz de Freyr, e empurrou levemente a cabeça do rapaz. Freyr observou as flores novamente e agachou-se próximo ao canteiro. O veneno era tão forte que as pétalas despedaçavam ao chão. Doía ver flores tão belas destruídas daquela forma. O rei percebeu que seu namorado aproximava-se demais do canteiro e alertou-o,

– Não fique tão perto, Freyr.

Sem dar muita atenção ao alerta, o guardião dourado uniu as mãos e expandiu sua aura.Queria tentar expulsar o veneno das flores, mas não sabia se a sua magia seria suficiente. “Neutre... Rosen.” ditou, baixinho.

Aos poucos uma névoa dourada brilhou acima das flores, sugando o veneno que havia destruído a beleza delas. O rei observou o fenômeno, maravilhado com o poder do menino. Nunca conseguiram superar os venenos de Midnight.

As flores vermelhas voltaram ao vigor. Freyr abriu os olhos e, ao observar o resultado, sorriu de satisfação.

– Pronto, amor. – virou-se para Zeenon e deparou-se com os olhos vermelhos do rei um pouco arregalados.

– Você... – murmurou.

Como um trovão, um enorme estrondo sacudiu o campo, assustando Zeenon e seu companheiro. Eram Mark e Link que estavam a duelar e alguém havia vencido a batalha naquele momento.

Assim que viraram para observar o vencedor, os parceiros viram os dois dragões ainda de pé um de cada lado do campo, arfando.

– Acho que isso foi um empate. – Zeenon sorriu, satisfeito.

– Um empate? Como Sabe?

– Os dois estão de pé.... E... Ambos foram treinados por mim e desenvolveram-se juntos, conheço-os muito bem, sempre vão empatar. – O rei tinha firmeza em suas palavras.

Conhecia bem os poderes dos seus filhos, eram bem parecidos e, como treinavam sempre juntos, era previsível que empatassem.

– Vocês estão muito bem garotos! Assustem bastante hoje! – Gritou para os rapazes, sorrindo.

Eles acenaram, saudando o rei com uma continência e pararam a luta, já que sabiam que nenhum deles iria vencer, precisavam poupar energias. Freyr observou-os admirado pelo poder dos meninos; sempre brincalhões e divertidos, eles nem pareciam possuírem toda aquela força. Queria poder lutar daquela maneira, mas sabia que seu corpo franzino não era hábil para batalhas.

O rei voltou sua atenção ao namorado e pousou a mão no rosto dele. Estava impressionado com seu poder. Parecia ter a brandura dos seres de luz, ao mesmo tempo em que tinha um pouco da ferocidade dos seres de trevas. Freyr abriu um sorriso largo, sentindo a positividade do companheiro.

– Obrigado pelas rosas. – sussurrou.

– Não há de que, amor.

Abraçados, os dois partiram para o castelo, precisavam se aprontar para uma visita à Vistorius.

A capital do reino de Ezra estava bastante agitada naquela tarde do último dia do festival de inverno. Comerciantes animados com o grande movimento de vendas, crianças felizes correndo com seus balões, pessoas de todos os rostos e lugares. O povo hospitaleiro e festivo de Vistorius recebia muito bem os seus convidados, exibindo muitos espetáculos de música e dança, comidas de todos os tipos e vendas de bom preço e boa qualidade. Um dos grandes reinos da região tinha as melhores festas na sua grande capital, Vistorius.

O nível de magia aumentou absurdamente na cidade”, pensou Zeenon, enquanto analisava os ares da cidade. Os rapazes passeavam como cidadãos comuns, mas estavam apenas checando o perímetro e observando os locais onde atuariam. Somente Loki e Andy ficaram no castelo, o ex-soldado não poderia aparecer ali tão de repente. Eles encontraram os pontos estratégicos citados por Heimdall e Zeenon calculou que não demoraria muito para cruzarem em algum tipo de receptáculo no castelo, que era o ponto central. Explodiriam, destruindo quase toda a cidade, só algumas áreas mais afastadas seriam poupadas, onde ricos e nobres preservavam suas casas de veraneio, já próximas às florestas.

Enquanto passavam pelo museu dos reis, depois de se separarem dos garotos dragões, Freyr e Zeenon foram surpreendidos por uma situação não muito agradável.

– Freyr! – Puxou o braço do rapaz loiro.

Assim que virou, o garoto arregalou seus olhos azuis, não pensava que seria reconhecido facilmente por ali, com os cabelos amarrados e roupas diferentes das que costumava usar. Mas era seu irmão, Jimmy, alguém que passou uma boa parte da vida.

– O que... Aconteceu com você? – Indagou, espantado.

Jimmy analisou seu meio-irmão de cima a baixo. Olhou o sobretudo de algodão e detalhes dourados, da mesma cor e tecido da calça que ele utilizava; as botas pretas de botões dourados, utilizava luvas de couro – vestimentas finas, típicas de alguém nobre. O rapaz sabia que Freyr não tinha condições de comprar tudo aquilo. Franziu o cenho, curioso com a aparência dela.

– Jimmy, eu... – Ele hesitou por alguns instantes.

Freyr fitou seu companheiro, os olhos aflitos, não sabia como responder seu irmão.

– Quem é esse homem? Parece...

O rapaz encarou o semblante sério do homem que acompanhava Freyr, lembrando-se dos relatos sobre o guardião das trevas; Cabelos negros profundos, olhos vermelhos como brasa, pele alva, branca. Mas aquele homem à sua frente tinha os olhos verde-esmeralda que brilhavam intensamente.

– Prazer, sou um colega de trabalho do Freyr. – estendeu a mão para Jimmy, sorrindo de lado.

Ao estender a mão para ele, Zeenon prestou atenção no jeito do rapaz. Realmente, não era muito parecido com seu namorado. Tinha um porte mais forte, os olhos caramelados e um ar arrogante que o irritava. Uma das poucas semelhanças eram os cabelos loiros que brilhavam completamente bagunçados.

Jimmy olhou-o de lado, desconfiado, hesitou, mas apertou a mão de Zeenon.

– Você sumiu... Arrumou um emprego? Nem sabia. – disse, sem esconder certa indiferença em sua voz.

– É... Com certeza o Jude não te disse. Resolvi seguir minha vida sozinho – disse, completando a mentira.

Jimmy cruzou os braços, ainda curioso com a aparência do sujeito ao lado do meio-irmão. Olhava-o a todo instante e queria um pouco mais de tempo para tentar arrancar mais informações sobre ele. O rei sombrio percebeu a desconfiança de Jimmy, estava preparado para enfrentá-lo caso ele lançasse perguntas demais.

– Então, onde trabalha?

Freyr gaguejou e vasculhou em sua mente uma nova resposta, porém parecia que sua mente travava. Percebendo a aflição do garoto para encontrar outra resposta, Zeenon resolveu responder por ele.

– Não é aqui na capital, trabalhamos no comércio de uma cidade vizinha, estamos aqui hoje apenas para negócios... – encarou Jimmy de forma amigável, mas não estava gostando da expressão do garoto.

– Deve ser um emprego bom... Está bem mudado... – disse, olhando-o novamente.

Observou as roupas finas dos parceiros, curioso, tentando entender como Freyr conseguiu aqueles trajes caros. O rapazinho não tinha muita formação, então não conseguiria empregos de níveis muito altos.

Recomposto do desconforto, o guardião dourado começou a analisar o seu irmão. Como já havia percebido, ele estava completamente concentrado na aparência de Zeenon. Era um ex-soldado, então tinha alguma ideia sobre a aparência do rei das sombras. Observou curiosidade e desconfianças absurdas dominarem o garoto. Resolveu perguntar algo sobre o antigo trabalho do garoto no exército, queria conferir se ele falaria algo sobre o fracasso de Simun.

– E os trabalhos no exército? – perguntou, cordialmente.

Zeenon não esboçou nenhuma reação àquela pergunta de Freyr, mas estava feliz por dentro. Talvez o rapaz soubesse de alguma informação que os ajudassem.

– O rei dispensou muita gente. – disse, sem disposição alguma para continuar.

– Você também? – insistiu o guardião loiro.

– Sim.

O rapaz conteve a sua raiva de ter um sonho destruído, mas Freyr pode perceber com seu poder. Jimmy estava extremamente irritado com aquilo.

No meio de toda a multidão andando pelas ruas de pedra da cidade, os três se entreolharam por alguns instantes, intrigados com aquela situação. Freyr não conseguia encarar seu irmão diretamente e Jimmy olhava para Zeenon, totalmente absorto em seus pensamentos. Já impaciente, o rei pousou a mão no ombro de Freyr, disse:

– Vamos, se continuarmos mais tempo aqui, iremos nos atrasar.

– Tudo bem, vamos sim. – disse, aliviado. – Jimmy, até breve.

O garoto acenou para seu irmão, que respondeu com um seco “Até logo” e ficou a observar os dois entrarem naquele formigueiro humano, ainda pensando na aparência curiosa do colega do seu irmão. Depois de alguns instantes, voltou-se à realidade, queria procurar um pouco mais sobre o rei das trevas.

Enquanto andava pela rua barulhenta, Zeenon ainda pensava no aspecto desconfiado do irmão de Freyr. Ele era um antigo soldado, poderia passar alguma informação para Simun, ou algum subordinado do rei.

– Ele ficou com bastante suspeita de nós dois. – disse Zeenon, sério.

– Eu acho que ele não acreditou na nossa história, mas, não tem problema... – fitou-o, sem muita preocupação em sua expressão, não se importava com o que o irmão pensaria.

– Todo cuidado é pouco... Ele era soldado, não? Pode ficar curioso com a minha aparência... Eu deveria ter amarrado os meus cabelos. – analisou os fios negros sobre os ombros, arrependido de deixá-los soltos.

– Na verdade, ele ficou curioso, sim. – disse, de olho no coreto azul pelo qual passavam – mas estava tão raivoso pela demissão... Acredito que não fará nada imprudente.

Zeenon observou o namorado, viu-o admirar a decoração. Queria acreditar nas palavras dele, mas seus instintos sempre o deixavam em alerta.

Em uma enorme praça de espetáculos da cidade, onde operários trabalhavam decorando-a para as atrações da noite, Freyr e Zeenon encontraram os garotos dragões. Eles olhavam tudo com bastante interesse e aquele ar de “batalha iminente”, unido a euforia da cidade, deixavam os garotos bastante buliçosos, todas aquelas agitações vibravam em seus corpos.

– Devíamos fazer festival assim, pai. – sussurrou Link.

– Adotar costumes deles? Acho difícil, viu. – disse o rei, um pouco debochado.

– Já não basta todas as festas que acontecem por lá... À nossa maneira. Acho que está bom. – Mark concordou com seu mestre.

Com todo aquele movimento na cidade, Zeenon observava o local, pensando na crueldade da parte de Simun em tentar usar uma magia de destruição em massa bem no último dia de uma grande festividade.Havia pessoas de diversos reinos, cidadãos que ele queria envolver em sua ganância e vingança. Pensou no seu passado, nas coisas ruins que fizera aos seres de luz, as vezes que os machucaram, com a ilusão pífia que poderia enfraquecê-los e assim, eles se renderiam ao seu poder. Estava redimindo suas eras sombrias.

– Zeenon? – Freyr interrompeu as reflexões do rei – Não precisa pensar nessas coisas, vivemos uma nova era agora.

Ainda desacostumado ao poder do garoto, Zeenon virou-se para ele, um pouco assustado. Podia adivinhar pensamentos? Ao ver o sorriso formar-se nos lábios do menino, entendeu que ele podia senti-lo com toda a força da sua aura dourada. Sorriu de volta e explicou-se,

– Eu sei... Só estava relembrando para ver que, agora, estou no caminho certo.

Eles se entreolharam, sorrindo. Sentiam suas sensações, e o intenso elo entre suas auras.

Pareciam um só.

Depois de muito andarem pela movimentada Vistorius, já no finalzinho da tarde, os rapazes caminharam de volta ao Darkvallum. Precisavam se preparar para a noite e checar se Heimdall não tinha mais informações. Ao adentrarem no castelo, avistaram o rei da luz, Loki e Andy a conversarem amigavelmente em um dos bancos do jardim. Zeenon logo ficou atento, o seu irmão com certeza veio trazer alguma notícia.

– Veio trazer boas novas, Heimdall? – indagou o rei das trevas, aproximando-se do trio com seu grupo.

– Boas novas? Não... Não nessa situação. – disse o rei da luz, sorrindo.

Realmente, trazer boas notícias naquela situação era bastante difícil.

– Vim saber como vocês estavam e, também, passar alguns recados. – Disse, dirigindo-se a Zeenon.

– Está tudo bem por aqui, apesar da aura intensa da cidade... Mas quais são esses recados? –

– Alguns dos meus súditos estarão pela cidade, então, qualquer desordem, vamos ajudar. – Ele sabia que aquilo incomodaria seu irmão, mas não mudaria sua posição. – E meus pesquisadores conseguiram calcular que o perigeu termina às vinte duas horas trinta e dois minutos da noite. Vocês precisam agir antes disso.

– Sim, claro. Obrigado, Heimdall. Estarei logo no início dessa reunião dos reis às vinte uma e trinta. Tenho tempo de assustá-los e conter os raios.

Satisfeito, Zeenon sorriu, pensando na enorme quantidade de magia receptora que sentiu na torre central do castelo de Simun. Tinha certeza que o receptáculo estava na sala de reuniões do castelo.

– Nós estamos totalmente prontos e a segurança de todos está garantida.

O rei das trevas lançou um olhar afirmativo para Andy, assegurando-lhe toda a proteção possível. Sabia que o jovem se arriscaria bastante naquela noite.

– Freyr, você ficará comigo à noite. Vamos observar tudo pela multidão, num espaço reservado para mim no evento. – disse Heimdall, dirigindo-se ao garoto loiro.

– Ah! Tem um espaço só para você, tio? – indagou Link, curioso.

– Sim, tenho. Eu sou convidado da festa.

Todas as últimas noites dos festivais da cidade, Heimdall era convidado de honra das atrações. Tinha cadeiras e salões reservados para ele e seus discípulos. A maioria dos humanos o tratava bem, com bastante respeito.

– Senhor Heimdall, sempre é bem recebido nas festas de lá. – comentou Andy.

– Acho que foi em uma dessas festas que eu o vi pela primeira vez. – disse Freyr, tentando se lembrar das suas passagens pelas festividades do reino.

Freyr e seu irmão Jimmy, apesar de não serem muito próximos, sempre se uniam para frequentar os festivais de Vistorius. Observavam tudo, divertindo-se entre muita música e dança e, quando podiam, compravam guloseimas e adereços vendidos nas promoções do comércio. Deve ter sido por lá que viu de relance a criatura bela e iluminada que era o rei da luz.

– Quando chegar à cidade poderá sentir minha aura e me encontrará com bastante facilidade. – Levantou-se, preparando-se para partir. – Bom, agora tenho de ir, afinal temos uma grande festa hoje. – Sorriu, unindo as duas mãos, próximas ao queixo..

– E que festa! – disse Mark, o qual adorava uma comemoração.

Antes que seu irmão saísse, Zeenon sabia que deveria agradecê-lo pelo apoio nos planos. Heimdall não gostava daquela situação, mas estava cooperando como podia para proteger a cidade que tanto amava e vingar-se do rei Simun.

– Obrigado por toda ajuda, meu irmão. – Zeenon curvou sua cabeça, em sinal de respeito.

– Tudo o que o nos passou é imprescindível, Senhor. – Loki repetiu o gesto do seu mestre.

– Não há de quê, rapazes. Tudo isso por que quero ver todos da cidade bem, e não sejam vítimas de algo que não têm culpa. – Disse, calmamente. – Não sentirei pena de Simun, vocês podem agir como quiserem...

Após tudo o que aconteceu, e todos os planos ridículos e cheios de malícia, Heimdall não conseguia mais pensar em Simun como um humano digno de compaixão. Ele queria dizimar toda uma cidade inocente, não podia mais conter os planos do seu irmão. O vingativo rei humano teria o que merece. Depois de mais alguns agradecimentos e desejos de “boa sorte”, Heimdall pegou seu cavalo branco e galopou, tranquilo, rumo ao seu Endymion, a fim de preparar-se para a noite.

Todo o ambiente parecia calmo, ventos frios sopravam pela floresta que rodeava o Darkvallum. A calmaria permanecia, sem prever a tremenda destruição que ameaçava a cidade. Heimdall não quis passar pela cidade, já sabia que os níveis de magia estavam absurdamente altos. Vistorius inundava-se de alegria, festa e sorrisos. Sempre que a festa está prestes a terminar, a energia sobe para dar lugar à tristeza do encerramento.


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