The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tem muita coisa importante... Mas, a imagem mais fácil foi essa k'
leiam a nota final, é importante.
:)



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A cidade de Vistorius estava movimentada, milhares de visitantes transitavam pela capital, aproveitando as diversas atrações da cidade: era o começo do festival de inverno. O festival é uma tradicional época de festas do reino, em que milhares de companhias de dança, teatro e música se apresentavam gratuitamente nas praças da cidade, e organizavam-se feiras de comércio variado pelas ruas de pedra. Tudo lucrava, desde vendedores de pequenas bugigangas a grandes joalheiros e comerciantes. As casas e comércios inundavam-se de ornamentos de cores vibrantes; as pessoas ofereciam doces e banquetes em suas casas; e toda a cidade imergia em um clima de festividade.

Zeenon, acostumado com o silêncio e a calmaria do castelo, estava incomodado com a aglomeração de pessoas. Não gostava de multidão, barulho e empurra-empurra, sua mente chegava a ficar atordoada. Caminhava pela ruas agarrado ao braço de Freyr, buscando no garoto alguma força para não surtar ali mesmo. Era um péssimo dia para estar ali.

Alguns metros antes da quitanda de Jude, Freyr parou repentinamente, fixando o olhar no local. Estava nervoso em ver seu pai novamente depois do que passou.

O jovem respirou fundo e virou-se para o companheiro.

– Zeenon, fique aqui... Pretendo ir sozinho. – murmurou.

– Tudo bem. Vou te esperar naquela praça.

– Certo – apertou a mão do rei com força, procurando uma fortaleza.

Ao perceber o suor nas mãos do seu companheiro, Zeenon deslizou a mão nos fios dourados dele e, desejou-lhe “Boa sorte”. Freyr respirou fundo novamente e sentiu os músculos, antes tensos, soltarem-se vagarosamente. Antes de partir para quitanda, observou Zeenon ir em direção à praça e logo depois, desviou-se para o seu caminho.

Freyr entrou de fininho no local, tudo permanecia em seu devido lugar, menos Jude, o qual não estava no balcão.

Nelly, o ajudante da loja, olhou-o com certa estranheza, o rapazinho sumiu sem dar notícias e apareceu de repente, como se nada houvesse acontecido. Curioso, ele correu até Freyr.

– Garoto! Onde você estava? O patrão está uma fera e sua mãe está aí dentro. O que aconteceu? – indagou.

– Minha mãe está aí? – Estranhou Mary aparecer na loja. – Eles estão no depósito?

– Sim... Mas... – franziu o cenho, preocupado – Parece que o clima lá não está muito bom...

– Mesmo assim, eu vou.

Ele decidiu ir, mesmo que tivesse que enfrentar a ira dos seus pais. Não tinha mais nada a perder e seria bom contar logo aos dois sobre sua decisão. Atravessou a loja, seguiu o corredor para os fundos.

Alguns passos antes da porta do depósito, ouviu os gritos:

– Olha aqui, eu não me importo com aquele garoto! Por mim ele some e nunca mais eu o vejo na minha frente! – Ele reconheceria aquela voz áspera e rude em qualquer lugar, era Jude.

– Você tem que achá-lo! Todos já estão falando sobre o sumiço dele! Não se fala de outra coisa lá na rua. – disse Mary, sua voz parecia hesitante em gritar.

Sem ao menos pensar no estado do garoto, Mary preocupava-se com sua imagem na rua. Era uma vergonha para a família algum integrante sumir sem dar avisos. As primeiras impressões que passavam eram: perdia-se na bebida – devido ao vício do pai –, ou fugia com alguma mulher.

Jude não se importava com a presença de Freyr, afinal sempre perdia o controle ao deparar-se com o olhar submisso do garoto, apesar de se aproveitar disso para maltratá-lo. Ele poderia permanecer longe, era melhor assim. Mary continuava a resmungar, falava sobre os comentários, os olhares feios, as risadinhas quando passava pelo bairro. Foi apenas um dia, porém os vizinhos já fuxicavam.

Irritado após ouvir os resmungos da mulher, o bruto homem disparou,

– Não me interessa! Ele nem mesmo é meu filho! – disse Jude, com desprezo.

Aquelas palavras atingiram Freyr como uma pancada na cabeça. Seus pais ficaram calados por alguns segundos, mas logo depois Mary continuou, a voz meio acanhada.

– É uma vergonha, Jude... As pessoas estão a comentar...

Mary morria de medo das repressões do marido. Era um homem violento e a qualquer momento poderia agredi-la. Bem diferente do verdadeiro pai de Freyr, que era um homem carinhoso e gentil e, desse jeito, tinha caído nas graças de Mary, a qual sempre fora apaixonada por ele. Mesmo não sendo criado por seu pai biológico, Freyr tinha o mesmo gênio dele.

– Vergonha foi você ter me traído com aquele infeliz do meu irmão e ainda vir me pedir desculpas depois. – diminuiu o tom, entretanto estava mais amarga.

Freyr correu a mão pela parede, suas pernas trançavam-se, prestes a cair, . Os belos olhos por alguns instantes ficaram turvos, mas conseguiu se equilibrar. Tinha que ouvir tudo até o final, mesmo que não quisesse.

– Você disse que me perdoaria... E assumiria o garoto, já que seu irmão morreu.

– Fiquei tão feliz quando ele pegou aquela tuberculose, mas não tanto por não poder me vingar dele.

Os soluços de Mary eram baixos, mas Freyr pode ouvi-los. Ela parecia sofrer pelos seus fantasmas do passado. O garoto mal sabia que ela queria era terminar todo aquele assunto e partir, para bem longe de tudo e todos.

– Quando esse menino nasceu, jurei para mim mesmo que ele pagaria tudo pelo que seu pai fez.– o homem baixou ainda mais a voz, ameaçador – Eu o olhava e lembrava-se dos olhos do infeliz do Christian, batia com felicidade.

Ainda apoiado na parede, o garoto não conseguia se mexer. Os olhos azuis arregalados, boquiaberto. Quando voltou a si, percebeu o rosto coberto de lágrimas. Abraçou o próprio corpo, procurando algum abrigo... Agora, entendia o porquê de tanto sofrimento, tantas humilhações. E nem ao menos foi culpa sua. Por um momento, pensou em Mary. Queria saber o porquê ela fez aquilo e agora pensava que ela deixava sofrer nas mãos de Jude, por se sentir culpada pela traição.

Começou a tremer, temendo a crueldade de Jude. Deu um passo para trás e tropeçou em uma caixa.

Ainda no depósito, Jude ouviu o ruído e correu para saber quem os escutava, mas só viu os cabelos dourados de Freyr saindo do corredor.

Sentiu-se satisfeito.

O garoto ultrapassou a pequena quitanda da família, como um raio. Não queria mais sentir aquele ambiente, tinha que procurar os braços de seu protetor. Logo que colocou os pés fora da loja, Freyr topou com o rei. Respirando com dificuldade, disse:

– Eu... Eu... Quero sumir. – Ele soluçou e se jogou nos braços do rei.

– Sabia que não ia acabar bem...

Zeenon segurou o braço do garoto, mas queria levá-lo em seu colo. Freyr estava fraco, quase não conseguia andar direito. O rei percebeu que algo desesperador poderia acontecer, então, assim que chegou à praça, deu meia-volta e esperou perto da quitanda. Passaram dois quarteirões, e encontraram um restaurante. No local haviam cabines para os clientes que quisessem mais privacidade. Eles entraram em uma das cabines, um garçom apareceu entregando-lhes um cardápio.

– Traga apenas um copo d’água. – pediu Zeenon, recusando o cardápio.

O homem saiu, um pouco intrigado com o garoto que soluçava, sentado à mesa.

Ainda com aquelas palavras rondando em sua consciência como um pesadelo, Freyr continuava em estado de choque. Tremia e soluçava, como uma criança perdida. Cuidadoso, Zeenon segurou o rosto do jovem.

– Respire fundo. Acalme-se. – enxugou as lágrimas e levantou o queixou do companheiro com o dedo. – Olhe para mim, estou aqui, olhe.

Ciente de que precisava reagir, Freyr levantou o rosto lentamente e deparou-se com as esferas esmeraldas do seu amado rei. Ali, poderia tirar alguma força.

Paciente, Zeenon esperou o garoto se acalmar. Freyr enxugava as lágrimas usando ambas as mãos, aos poucos tentava recuperar-se do baque. Depois de alguns instantes, tirou algumas forças dos peito, para conseguir falar.

– Eu ouvi meus pais conversando.... – soluçou – O homem que me maltratou a vida inteira, não é meu pai verdadeiro.

O rei arregalou os olhos, assustado. Mas, conteve-se para que o garoto pudesse continuar.

– Eu... – fez uma pausa para conter as lágrimas. – Eu sou filho do irmão dele. Por isso levei surras, sem ao menos ter culpa.

– Não acredito nisso... – disse o rei, incrédulo.

Com dificuldade, o jovem relatou a história, sobre a morte do pai verdadeiro e sua mãe. Estava tão triste que falava alguns instantes e, sem forças, desabava em choro. Descobrir aquele segredo de uma forma tão abrupta, era desesperador. Entendeu todos os anos de sofrimento, com apenas algumas palavras...

Zeenon não queria acreditar naquela história que acabou de ouvir, a vida do seu garoto era bem pior do que imaginou. A cada palavra que o companheiro falava, sentia um enorme fervor por dentro. Sua vontade era estrangular o pai de Freyr com o pior dos seus venenos, mas teve que manter a calma. O garoto precisava dele. O garçom chegou, um copo d’água firme em sua mão,e timidamente pôs sobre a mesa. Pegou o dinheiro nas mãos de Zeenon e saiu como um raio.

Já um pouco mais calmo, Freyr bebeu a água e parou de chorar.

O rei se levantou e olhou o garoto encolhido na cadeira. Era seu dever cuidar dele dali em diante. Sabia o quanto seria difícil ele se acostumar com aquela revelação, porém Zeenon estava disposto a acalentá-lo, Freyr não ficaria sozinho.

– Vamos para o meu castelo, agora lá é sua casa, ficará longe de tudo que te incomoda.

Estendeu a mão para o garoto que, tímido, agarrou-a, certo de que ali teria sua fortaleza. O rei tinha razão, agora aquele castelo seria seu lar. Não tinha mais para onde voltar.

Nos confins do Yamisin, dentro de uma cela escura, Andy pensava sobre a sua iminente morte. Depois de ficar tantas horas desacordado, passar por um interrogatório e manchar sua honra, o rapaz acreditava ser um condenado: mesmo que, milagrosamente, conseguisse se livrar das garras do guardião das trevas e voltasse ao seu reino, seria morto por traição; Chegou em Inshtarheim, não viu nenhum lago de fogo ou monstros horríveis como acreditava ser, mas, mesmo assim, não conseguia pensar em outro destino, a não ser um terrível fim da sua vida. Tinha os braços apoiados nos joelhos e a cabeça encostada na parede de pedra. Estava com fome, sede Queria chorar, mas nenhuma lágrima espiava de seus olhos.

Repentinamente, o corredor de celas ganhou uma fraca iluminação azul e ele pode ouvir o ecos de passos suaves sobre o chão duro. A luz aumentava à medida que os donos dos passos se aproximavam. Loki vinha devagarinho segurando em uma das mãos a tocha em tons de ciano, logo atrás aparecia o único criado do castelo, Claudius, este estava trazia o prato de comida e um vasilhame cheio d’água.

O feiticeiro sabia que o rapaz estava faminto, praticamente não comeu no dia anterior. Pediu que fizessem um prato caprichado, apesar de ser um prisioneiro, não podia ser maltratado.

Assim que chegou à cela do “cão de Simun”, viu-o agachado no canto esquerdo da sela, a cabeça descansando sobre a parede. Estava sujo, o olhar abatido, e extremamente quieto.

– Andy. – chamou-o, suave.

O rapaz endireitou a cabeça, sem muita vontade de responder. Queria que o matassem logo, sem piedade. Sabia que era esse seu destino, então queria que aquela agonia acabasse. Claudius pôs a comida e água na cela e partiu, antes de receber qualquer ordem de Loki.

– Coma, antes que morra de fome.

Andy lançou um olhar indiferente para a comida. Viu carnes, grãos, pães e até uma fruta que não conseguiu identificar o que era. A barriga reclamava, mas tinha medo de degustar aquilo... Podia estar envenenado.

– Fique tranquilo... Não tem veneno algum. Ainda não recebi ordens para isso. – os olhos dourados brilharam, como fogo.

Sem pensar em mais nada, Andy pegou um pão e beliscou. Mastigou devagar e o gosto era bom, então mordeu novamente. Esfarelava na boca e tinha gosto do melhor queijo do reino – o qual só degustou uma vez na vida. Não sabia se era sua fome, mas aquela comida parecia de nobre. Enfartava-se, enquanto os olhos dourados do ruivo o observavam, atentos. Durante suas passadas pelo reino, ouviu falar de Andy. Era um garoto do exército, participante de grupos que faziam ações sociais pelo reino e, em pouco tempo, tornou-se um fiel servo de Simun. Via algumas pessoas da cidade falarem bem, outros, na maioria soldados, dizer maus bocados sobre ele. Depois que o rapaz devorou metade do prato e sentar-se de costas à parede lateral, Loki indagou:

– Trabalha há quanto tempo no exército, Andy?

Desconfiado, o rapaz olhou-o de soslaio; queria saber o propósito da pergunta, entretanto respondeu, para não parecer rude.

– Oito anos.

O ruivo se assustou com a resposta, oito anos era pouco para alguém que estava naquela posição.

– Começou quando?

– Tinha dezoito anos.

– Conseguiu cedo ser alguém de confiança do rei, não? – incitava-o a dizer algo mais, estava curioso.

Andy se levantou e encostou-se na cela. Olhou aquele feiticeiro ruivo, de olhos fulgurosos e sentiu certo arrepio na espinha... Parecia um predador e deveria ficar esperto em qualquer movimento que ele fizesse. Loki pôs o fogo sobre a arandela e, apagou a tocha, jogando o pedaço de madeira em um canto.

– Eu me destaquei no exército. Sempre me esforcei para ter um bom físico e ir bem nos treinamentos. O rei queria alguém para prestar serviços para ele e eu fui escolhido.

Percorrendo os olhos pelo corpo de Andy, o feiticeiro percebeu que o esforço dele foi muito bem aplicado. O rapaz era grande, tinha músculos de pernas e braços bem torneados.

– E você aceitou. Sabia que eram planos contra os guardiões elementares?

– Fiquei sabendo há pouco tempo. – baixou a cabeça, constrangido – fui designado a pegar o garoto, não o mataria.

– Sei... E o que você ganha compactuando com isso? Não tem ideia do poder dos meus companheiros? – Levantou uma das sobrancelhas, desafiador.

– Eu... – Andy balançou a cabeça para os lados, como se não soubesse o que responder – Queria conquistar a confiança de Simun.

Loki riu, sem entender tamanha devoção. Aquele era apenas mais um manipulado pelo rei humano.

– Eu fiz um apelo. E ele cumpriu. – o rapaz encarou os olhos do feiticeiro, firme.

– Qual foi este apelo? – indagou, curioso.

– Na cidade há dois orfanatos. Um deles foi minha casa durante dezoito anos. Pedi que os ajudasse na reforma, pois o prédio caía em pedaços, e assim ele fez.

– Mas..– disse o ruivo, de modo vago.

O ruivo teve um estalo, lembrando-se de uma cena que viu pouco antes de raptar Andy. Desapropriação e crianças na rua. Soldados do reino invadiam um prédio grande, de cor bege e um senhora de cabelos brancos chorava. Não sabia o que acontecia ali, nem tinha tempo de perguntar, precisava cumprir sua missão. Andy voltava de viagem do reino vizinho e viria pela floresta do sul, a cavalo. Podia pegá-lo sem deixar rastros.

– Como era o prédio do orfanato?

– Meio bege, beirando o amarelo claro. Não sei muito bem. Fica perto da floresta do sul. – respondeu, em um tom nostálgico.

Loki não ficou impressionado com a revelação. Simun era traiçoeiro e o rapaz, alienado, caiu nas graças do rei. Provavelmente, o orfanato foi desapropriado para atender a demanda de soldados que chegava, o quartel não era mais suficiente. Sempre os mais vulneráveis acabavam por pagar as ações dos ambiciosos.

– Acho que você foi enganado. – afirmou, sem muito receio da reação do rapaz.

– Que? – Andy pôs as duas mãos sobre as grades e encarou o feiticeiro.

– Ele não fez a reforma para "ajudar" e sim para dar lugar ao soldados que chegaram.

– Não, não! – disse, quase aos berros – Eles já se mudaram para lá! Eu visito sempre aquele lugar, não tem como.

– Há quantos dias você não os vê?

– Ele me pediu para pegar uma poção no reino vizinho... Mas, estava em falta. Voltei, fiz o que ele pediu, mas ele pediu para eu sair novamente. Tem mais ou menos duas semanas que não vou lá.

– Pois bem, eu vi o despejo. Ele te manipulou, Andy. Sinto muito. – Cruzou os braços, esperando o rapaz reagir. Porém, ele encostou a cabeça na grade e chorava, feito criança.

– Não é possível... Não é verdade. Por que eu devo acreditar em você? – levantou a cabeça, tentando ganhar forças.

– Você chora. – pendeu a cabeça para o lado, para observá-lo melhor – sabe que é verdade. Seu rei é traiçoeiro. Veja como ele age em relação a Heimdall.

Sem mais equilíbrio, Andy deixou-se cair no chão da cela.

– O rei bondoso que ajuda o reino... Ele quer tomar poder.

Não sabia descrever o ódio que dominava seu corpo. O único que acreditava ser alguém a confiar, traíra-o, sem piedade. Andy sentiu que devia morrer, a quem mais cederia lealdade? Não tinha família, dedicava-se exclusivamente ao reino de Ezra, mas agora não sabia mais qual caminho seguir. Olhou novamente para Loki e viu-o agachado ao seu lado. Não entendeu muito bem o olhar do feiticeiro, parecia piedade mascarada em uma expressão de firmeza.

– Eu sei onde fica a toca do Simun.

De repente, Andy viu o cadeado da cela cair sobre seus pés e, então ela se abriu sozinha, como se tivesse vida.

– Vou te levar ao meu mestre. Ele vai gostar da notícia. – o feiticeiro sorriu, contente pela colaboração do rapaz.

Os lençóis violetas da cama agora estavam encharcados de lágrimas. Freyr enrolou-se neles e agora não queria estancar a sua dor. E o rei sabia o quanto isso era libertador. Deixou-o livre para se expressar: choros, soluços, se ele quisesse gritar e espernear estaria à vontade ali. Era preciso aplacar o sofrimento. Ficou ao lado do garoto, ouvindo o seu choro, e de vez em quando lhe beijava a face. Não falou absolutamente nada enquanto estava ali. Tinha que respeitar o momento. Depois, pensaria em algo para distrair o garoto, sofreu durante muito tempo e chegou sua vez de ajudar alguém em desespero e, faria isso com toda a dedicação que pudesse oferecer: Era um dever. Após extirpar todo as lágrimas que podia, Freyr acabou por cair em sono pesado e Zeenon pôde sair do quarto.

Link e Mark estavam curiosos para saber o que houve, mas resolveram respeitar a privacidade do jovem. No final do corredor do aposento real, havia uma sala de descanso, logo na sua entrada, via-se um grande vitral colorido, irradiando cores cintilantes no local. Os garotos dragões repousavam deitados no sofá-cama preto, do outro lado da sala, conversando e trocando beijos despreocupadamente. Zeenon os interrompeu, falando em voz alta:

– Já fizeram o que eu pedi?

– Sim, pai. Fomos até Inshtar e conseguimos muitas roupas. Daqui a pouco as criadas trazem. – Disse Link, endireitando-se no sofá.

– Ah, sim... Obrigado. Ele não está em condições de escolher as vestimentas, e é urgente.

Assim que chegou, o rei pediu aos garotos para escolherem algumas roupas para Freyr, já que ele não poderia escolher no momento. Não disse o porquê, pois tinha que acalentar o garoto loiro. Planejou contar aos dragões quando Freyr estivesse mais calmo.

– Eu escolhi algumas que são bem o estilo dele, Link queria pegar apenas roupas pretas, acho que não combina muito com o Freyr. Peguei apenas cores frescas e pastéis. Você disse que é tamanho pequeno, então... – Mark estava animado com as compras, talvez aquilo ocupasse um pouco o jovem loiro.

Zeenon concordou, piscando os olhos. Passou a acariciar as pétalas das rosas vermelhas que estavam sobre um vaso plantado no pedestal de mármore preto.

Link observou o jeito pensativo do pai e, receoso, perguntou:

– Pai, o que houve? A situação do Freyr estava de dar dó quando vocês chegaram... Se você não puder falar, não tem problema...

Suspirando vagarosamente, Zeenon virou-se para os dragões.

– O pai dele é um monstro. – andou até o sofá-cama e sentou-se ao lado dos garotos. – Eu não tenho muito moral para falar assim... Mas agredir físico e psicologicamente um garoto tão amoroso como o Freyr é demais... E por algo que nem foi culpa dele. – disse, quase em sussurros...

– Como assim? – Mark se aproximou para escutar melhor.

– Não comentem nada quando Freyr acordar. Só contarei a vocês, pois são de extrema confiança.

Os garotos aproximaram-se do guardião, para escutar melhor a história.

– A mãe de Freyr traiu o marido... E, foi com o próprio irmão dele. Freyr foi concebido desta traição. Como vingança, o marido resolveu descontar tudo no garoto.

– Coitadinho... Ele nem teve culpa... – Mark pôs a mão na boca, assustado.

– Horrível! E o que aconteceu ao pai verdadeiro dele?

– Morreu... Parece que foi tuberculose. Quando vi o estado de Freyr contando-me essa história, senti uma aflição. Vontade de destruir aquilo tudo e matar o maldito homem, mas... – apertou as mãos, tentando se controlar – mantive a calma para ajudar ele.

Deitou-se entre os dragões e fechou os olhos. Posicionando-se cada um de um lado do rei, Mark e Link puseram a cabeça sobre os ombros dele.

– Fez bem, pai.

– Isso soa estranho vindo de você, Zeenon. Nunca vi manter o controle desta forma.

O rei sorriu amistosamente e abraçou os garotos, apertando-os contra o seu corpo.

– Hm... Meus filhos... Não sou mais o mesmo. – beijou a testa de cada um dos dois.

– Filho? Eu? – Disse Mark, levantando a cabeça.

– Claro que é. Sempre te considerei um filho, Mark.

O rapaz de cabelos brancos sempre pensou em Zeenon como um grande mestre, porém sabia que ele era muito mais que isso. Mesmo não compartilhando o sangue, sentia que Zeenon era realmente um pai, pelo cuidado e carinho que tinham um com o outro. Contente, Mark abraçou o seu pai, e o apertou. Ciumento, Link protestou,

– Solta meu pai! – tentava afastar, com ambas as mãos, o rapaz de Zeenon.

Mark voltou ao seu lugar, agarrando-se ao mais novo “pai”, ignorou os protestos do “irmão”.

– Vou te chamar de Papai, agora. – exibiu um sorriso largo, satisfeito.

O filho biológico do rei olhava-os, enfezado. Fingia um ciúmes bobo, entretanto sabia que não podia impedir aquilo.

– Link, não seja bobo, tem espaço para todos – o rei sorriu para o filho, e acariciou o seu rosto.

– Adianto que eu não nunca vou conseguir ver o Mark como um irmão... Nós dormimos juntos.

– São irmãos incestuosos, pronto. – disse Zeenon, inserindo um ponto final na discussão.

Riram-se, unidos, em uma verdadeira família.

Freyr observava a cena, divertindo-se com as peripécias dos três dragões. Acabou de acordar, e ouviu as vozes abafadas vindo daquela sala. O ar de união deixava-o feliz. Eram uma família.

Assim que Zeenon percebeu a presença do garoto, chamou-o,

– Freyr! Venha aqui...

Os três endireitaram-se no sofá-cama dando algum espaço para o garoto se acomodar. Freyr sentiu-se incluído naquela união calorosa e teve a impressão de que agora poderia ter uma família de verdade, com algum tipo de sentimento entre eles. Tímido, ele andou até o sofá e sentou-se na ponta.

– Está melhor? – perguntou Link.

– Um pouco... – ainda fraco, Freyr esforçou-se para demonstrar que estava se sentido melhor, após dormir algumas horas.

No mesmo instante, as quadrigêmeas feiticeiras chegaram acompanhadas de várias araras de roupas acopladas com rodinhas. As estranhas araras vinham sozinhas até que pararam no meio da sala. Carregavam diversas roupas, desde sobretudos, a calças e blusas de manga.

Uma das belas criadas dirigiu-se aos rapazes.

– Aqui estão as roupas, Senhor. Onde devemos arrumá-las? – disse, discreta.

O rei levantou-se do sofá-cama e analisou as roupas; Lã, algodão, crochê, linho, cashimere... Apenas tecidos confortáveis e de boa qualidade. As cores, de tons muito suaves. Variavam entre o creme e o branco; cores pesadas, com certeza, não combinariam com o Freyr. Satisfeito, disse:

– Vão todas para o meu guarda-roupa... Tem um belo espaço por lá. – fez uma pausa e coçou o queixo, – Bom... Em minha opinião, vocês souberam escolher muito bem... Mas, quem deve dar o veredito é o Freyr.

Todos os três se viraram para o jovem, e este continuava parado, observando os trajes, sem entender muito bem a situação.

– Eu? – franziu o cenho, confuso.

– Essas roupas são para você. Pedi aos garotos que escolhessem. Vem, dê uma olhada se estão boas.

Zeenon estendeu a mão para Freyr o qual, diante de tamanha situação, esqueceu completamente que seu companheiro lhe presentearia com algumas roupas. Rapidamente aceitou a mão do rei, seguido de um sorriso tímido em seu rosto.

– S-São minhas? Sério? Obrigado! – Disse, os olhos marejando.

Freyr abraçou seu companheiro, agradecido.

– Não há de quê... – aceitou o abraço e, continuou – Por que não vai experimentá-las?

– Ah, sim! Tudo tão bonito... – Ele observou-as mais de perto, tateando as texturas macias.

Animado, Mark levantou-se e andou até o jovem loiro.

– Eu escolhi a maioria das roupas, achei que essas cores claras combinam com você. Pelo menos vamos ter mais alguém que não use roupas de cores pesadas por aqui! – sorriu e passou o braço pelos ombros de Freyr.

– Ah, mas o meu estilo e do meu pai é assim. É nosso gosto, não é pai? – Link cruzou os braços, convencido.

– Verdade, eu não me dou muito bem com cores claras. Usava-as quando era mais novo... – Repentinamente, Zeenon sentiu uma aura conhecida aproximando-se do castelo.

– Loki? O que será que faz aqui agora? – disse, mais para si mesmo do que para os outros.

– O que foi, pai? – indagou Link.

– Vou ao jardim. Você e o Mark ficam com o Freyr por alguns instantes? –

– Claro. Pode ir. – Link levantou-se, um pouco preocupado com a expressão inquieta do seu pai.

Mark, ansioso para ver como as roupas ficariam no corpo do garoto, convidou:

– Freyr, nós vamos te ajudar nas provas de roupas. Vamos para o quarto do Zeenon, vamos!

Mark e Link puxaram-no até o quarto do rei. As gêmeas foram atrás deles levando as araras de roupas. Deixar a mente de Freyr ocupada era tudo que deveriam fazer naquele momento. Ele precisava esquecer por algum tempo tudo que passou naquele dia.

Para aparecer tão cedo no castelo, Loki tinha alguma informação importante. O guardião se adiantou pelo corredor e desceu a grande escadaria do castelo. No salão de entrada, o feiticeiro já entrava, pela sua expressão iluminada, parecia trazer boas notícias. Zeenon parou e cruzou os braços, esperando ele se manifestar. O semblante de Loki acalmou sua preocupação.

– Tenho boas notícias. – Disse o ruivo, cordialmente.

– Fiquei meio preocupado por ver você aqui há essa hora.

– Antes... – hesitou por um instante – Eu posso trazer o Andy aqui? Ele falará.

A proposta do feiticeiro foi estranha. Zeenon franziu o cenho, e perguntou,

– O Andy? Conseguiu tirar mais informações dele? Aquele... – sentiu um certo rancor por Andy não lhe ter revelado tudo que sabia antes. Mas, estava aliviado, por ter Loki ali consigo.

– Sim... É melhor o Senhor ouvir tudo por ele. Esse homem... Desde que o conheci, sabia que não fazia por mal...

De um modo vago e até sentimental, Loki tentava se lembrar da primeira vez que teve contato com Andy. Sempre desinteressado, o feiticeiro agora parecia sentir certa piedade pelo homem.

O rei estranhou o modo como o seu servo falava.

– Como? – indagou.

– Enquanto estava vigiando o castelo, tive algum contato com o Andy. Eu o cumprimentava, quando passava em frente aos portões enormes de lá, mas não fazia ideia que era o Servo mais próximo do Rei Simun. Ele não parecia frio, rude ou matador... Eu o via cumprimentando as crianças dos orfanatos que faziam passeios pelo reino. E, as pessoas sempre falavam de suas ações sociais. Quando descobri que era ele, fiquei um tanto decepcionado.

– Pode trazê-lo aqui. Esperarei ali na Sala de estar.

Loki desapareceu em sombras, indo buscar Andy no Submundo.


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Notas finais do capítulo

**Bom, nesse final de semana vou tentar postar mais um capítulo, para adiantar... Minha universidade estava em greve e, segundo fontes, segunda-feira retorna. Provavelmente, não terei tempo nem para respirar. Minha sorte é que os capítulos estão totalmente prontos, porém em estado bruto e eu gostaria muito de continuar a edição.... Não sei se será possível.
Amo esta história e, mesmo com pouca visibilidade, quero prosseguir.
Obrigada a quem acompanha 'yn ♥



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