The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ;)



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Após pedir à criada Hell para preparar o banho de Freyr, Zeenon foi para a sala de estar onde encontrou Heimdall sendo importunado por seu sobrinho. Link, com sua teimosia tão habitual, pedia desesperadamente a permissão para entrar no interrogatório.

– Tio, por favor... Pede ao meu pai. Eu quero muito participar... Por favor! – Link fazia voz manhosa, com intuito de conseguir conquistar o tio.

– Estou muito feliz por você me chamar de tio. Mas, isso você tem tratar com seu pai. – disse Heimdall, radiante por ser chamado de tio.

Encostado no vão da escadaria, via parcialmente a cena. Link estava sentado ao lado de Heimdall, agarrado ao seu braço, o jovem dragão negro grunhia baixinho, manhoso. Zeenon sabia que às vezes esse método funcionava, porém naquele momento não poderiam ceder.

O rei da luz e Mark apenas se divertiam com a brincadeira do garoto.

Zeenon dirigiu-se à sala de visitas, e roubou a atenção dos presentes. E, como um gato arisco, encostou-se em Link e segurou-o pela orelha. Assim que sentiu a mão pesada do pai, o rapaz gritou de dor.

– Ai, Para!

– Heimdall, desculpe-me o infortúnio, meu filho é um dragãozinho teimoso. – suspendeu o garoto, sem piedade. – Você e Mark vão ficar aqui para fazer companhia ao Freyr.

O corpo do dragão negro foi arremessado sobre o divã roxo. Arrancando risadas dos outros.

– Você me maltrata! Odeia-me! – gritou, a voz chorosa; fingida.

– Não trate meu sobrinho assim, coitado. – disse Heimdall, escondendo o sorriso com a mão.

– Hum... Não confie nesse jeito manhoso. – Resmungou, e olhou Link de rabo de olho.

Virando-se para Heimdall, o nobre rei da escuridão propôs:

– Irmão, nós vamos conversar com o homem agora? Ou virá outra hora?

– Já que estou aqui mesmo... Vamos.

Zeenon estendeu a mão para o rei da luz, convidando-o para saírem da sala. Heimdall aceitou, contente com a receptividade do irmão, aquilo o fazia lembrar a sua mais tenra infância. Enquanto caminhavam até os fundos do castelo, de mãos dadas, Zeenon sentia-se cada vez mais confortável mais perto do seu adorável irmão. Próximos, os poderes ficavam mais radiantes, os laços estavam cada vez mais fortalecidos. Pensou também em como ele ajudou Freyr, sem ele, o garoto ainda estaria desolado na floresta.

Agradecido pelas ações do rei, disse,

– Obrigado Heimdall, por tudo.

– Não precisa agradecer. Ele estava tão machucado, chorava muito... – aninhou-se mais no braço de Zeenon, encostando a cabeça em seu ombro.

– Inclusive, por ter contado a Freyr sobre nós dois.

De súbito, Heimdall parou. Não pensava que o garoto conversaria sobre o assunto naquele momento.

– Eu... Ele que... – hesitou por um instante.

– Acalme-se... Não estou sendo irônico... – Zeenon parou e pôs em frente ao irmão. – Acho que já estava na hora dele saber… Ainda mais agora que estamos mais próximos. Freyr é ingênuo, maquinava outras coisas sobre nós. Eu contarei os outros detalhes depois.

– Ah, sim... Eu não quis contar mais. Não me achei no direito de fazer isso.

– Obrigado.

Acariciou levemente os cabelos prateados de Heimdall e, segurando sua cabeça com as duas mãos, beijou-lhe a testa.

– É melhor irmos logo, estou ansioso para isso. – disse o guardião das trevas,

Agarrou-o novamente pela mão, levando-o até para a câmara subterrânea. Eles seguiram a grande escadaria até que chegaram à sala onde Andy estava adormecido.

Assim que pôs os pés no recinto, Heimdall examinou o local e ficou impressionado com a quantidade de armas e acessórios de guerra encalhados. Observava todos aqueles objetos, ao mesmo tempo que sentia um aperto no peito surgir, fraco, mas doloroso. Lembrava-se das batalhas e do sofrimento de anos atrás.

Zeenon percebeu o desconforto do irmão e, pôs a mão em seu ombro, confortando-o,

– Desculpe-me, acho que seria um bom lugar para ele.

O rei da luz encarou os olhos vermelhos do irmão e percebeu seus sinceros sentimentos, o desconforto sumiu.

– Não, não se preocupe. Está tudo bem.

Zeenon pôs a mão na cabeça do homem e ditou os encantamentos.

O “cão do rei” acordou, ofegando.

Com seu terno olhar, Heimdall fitou o grande homem à sua frente, deveria agradecer a Zeenon por ele ainda estar são, sabia que se irmão não se controlava facilmente. Depois de examinar o rosto do rapaz, percebeu que ele não era estranho, deveria conhece-lo de algum lugar.

Os olhos do rapaz logo identificaram o homem que o observava,

– Senhor Heimdall.... O que faz aqui? – indagou.

– Estou apenas compactuando com um plano de Zeenon... – deu um passo à frente – Eu te conheço, rapaz.

O guardião lembrou-se do rosto de Andy, quando ele ainda trabalhava nas ruas com os outros soldados e não fazia muito tempo. Andy fazia parte de grupos do exército os quais ajudavam em bairros carentes, orfanatos e lares de idosos... Como Heimdall perambula muito por essas regiões, sempre se deparava com ele. Parecia um rapaz íntegro.

Andy baixou as pálpebras, como se estivesse arrependido de algo.

– Eu estava apenas cumprindo ordens, Senhor. – Sua voz saiu como um sussurro.

– Sabe que essa empreitada do Simun é perigosa, não é? O que ele quer conosco? – O rei da luz falava suavemente.

– Não posso falar... Trairei a confiança do meu mestre. – encarou Heimdall decidido a não falar.

– É melhor você falar.... – Zeenon estranhou o modo como Andy agia. Estava manso, talvez por causa da brandura de Heimdall.

– Olha, não sei quando começou essa lealdade a Simun, porém também não sei o que acontecerá com você... – desviou os olhos para o irmão, depois voltou-se ao rapaz – Se não falar. Ajude, não sabemos as consequências dessa guerra.

O homem encarou Zeenon, sem se importar com todo o suor que escapava dos poros do seu rosto; não conseguia esconder o temor de se deparar com aqueles ferventes olhos vermelhos. Tinha medo do que aconteceria se continuasse a oferecer resistência.

– Senhor Heimdall – Ele encarou o rei da luz, arfando. – Tire-me daqui, prometo que te contarei tudo.

– Não posso, me desculpe.

Andy balançava a cabeça, contrariado. Não queria trair seu mestre, mas tinha que proteger sua vida. Era leal ao Simun, mas tremia de medo: não queria sofrer nas mãos do pior ser que já ouvira falar, o rei das trevas. O rapaz moreno arfava, enquanto olhares vívidos o encaravam com ansiedade pela resposta. Zeenon sabia que ele não resistiria, já Heimdall estava preocupado com o que poderia acontecer com o jovem se ele demorasse mais alguns instantes.

– Tudo bem, eu digo. – disse, derrotado.

– Vamos. – disse Zeenon, ansioso.

– O Simun é um feiticeiro. E... – encarou os dois guardiões – quer conquistar seus poderes e territórios.

Os guardiões se entreolharam, sem muita surpresa no rosto. Talvez já previssem isso, seria o único motivo dos ataques.

– Certo, isso eu já previa, mas como ele quer fazer isso? – disse o rei sombrio, direto ao que interessava.

– Ele diz que conquistando os territórios, teriam que conceder os poderes de guardiões. Mas... Como os senhores são muito fortes, ele não sabia como alcançar esse objetivo. Até que depois de algumas pesquisas, ele descobriu que uma vez, há muito tempo, o senhor Zeenon desferiu um ataque tão poderoso sobre as criaturas de luz que ele ficou enfraquecido; Foi sua brecha. Mesmo não sabendo o porquê de o Senhor Heimdall ter ficado fraco com o ataque, ele acha que assim pode derrotar o rei da luz...

Zeenon lembrou-se da época em que suas batalhas contra o Heimdall estavam cada vez mais acaloradas. Certo dia, conseguiu reunir grande parte dos seres de luz no campo de batalha e utilizou uma das suas magias mais poderosas, Invocação das sombras. “Escuridão do submundo, venha, cerque e despedace o inimigo, Inshtar!”. As criaturas da luz foram atingidas em massa. As sombras cercaram-nas e as agrediram sem piedade. Heimdall caiu em tristeza. “As minhas criaturas são minha força, minha fortaleza. Nossa sintonia é meu poder. “

O rei da luz não gostava de se lembrar daquele episódio triste, foi um dos piores momentos das batalhas. Agarrou o braço de Zeenon, procurando alguma força.

– Ele sempre foi um grande admirador do Senhor Zeenon. E depois disso passou a estudar avidamente suas magias e poções, mas nunca conseguiu manipulá-las. Ele planeja fazer o mesmo que o senhor fez, mas até agora só há tentativas falhas. Porém, parece que agora ele tem um grande projeto... Ele não quis me revelar.

– E o Freyr? É a brecha contra mim? – Disse Zeenon, desconfiado.

– Esse garotinho, ele espionava desde que identificou uma forte magia vinda dele. Depois descobriu sua ligação com o Senhor Zeenon. Aí tudo se encaixou. Se eu o sequestrasse, ele pediria algo em troca do resgate... Porém, quando fui até a casa do garoto... Não sei o que aconteceu... Não me lembro de nada.

– A magia do rubi.... É a proteção dele. Mas... De onde foi que ele tirou a ideia de que pode obter nossos poderes de guardião? É impossível. – Zeenon pôs a mão na testa, rindo, tentando entender os absurdos de Simun.

– Ele lê muitos livros conspiratórios. Acredita que se forem derrotados; destituindo-os dos territórios ou deixando-os enfraquecidos – ou por concessão, podem adquirir os poderes. Quer dizer, a maioria dos feiticeiros acredita nisso... Só não sabem como fazer para derrotá-los.

– Por vivemos reclusos em nossos castelos, os feiticeiros humanos inventam milhares de conspirações... Já li várias... Nenhuma chega perto da realidade. – Heimdall agora andava de um lado a outro da sala.

– Preciso dizer mais?

O rapaz sentia um enorme peso abater o seu corpo, não importaria mais em morrer ali mesmo. Era um homem sem honra.

Zeenon inclinou-se para o rapaz, encarando-o.

– Tem. Se você estiver mentido sobre não saber esse grande projeto... – fez uma voz ameaçadora, quase um grunhido.

– Eu não Sei! É sério! – aumentou o tom de voz. Realmente, não sabia absolutamente nada sobre os novos projetos de Simun, – Agora... Eu já posso sair daqui? Falei tudo o que sabia... – olhou para o rei da luz, esperançoso.

– Eu... – Heimdall hesitou, acuado.

O rei da luz não poderia mais interferir, dali para frente tudo estava nas mãos de Zeenon. Foi o combinado.

– Não vai não, ok? – o guardião inclinou-se para Andy, falando em um tom debochado – Se você sair daqui, eu sei que vai direto contar para o seu “mestre”, então fique quietinho aí...

– Eu prometo que...

Zeenon o interrompeu com uma gargalhada estridente. Não havia possibilidades de ele sair dali e não contar a situação para Simun.

– Senhor Heimdall, por favor... – Sua voz parecia um apelo.

Heimdall por um momento sentiu-se totalmente dividido, queria ajudar o rapaz, pois sabia que ele era mais vítima de Simun do que qualquer outro; porém não podia descumprir o trato com seu irmão... Então, sem saber muito bem como prosseguir, pediu,

– Não o machuque... Ele contribuiu... – pediu, cuidadoso.

– Já sei o que farei com ele... Pedirei ao Loki para levá-lo para o Submundo por enquanto.

– Submundo? Isso existe mesmo? – os olhos negros do rapaz arregalaram-se ao ouvir a palavra “Submundo”.

Não queria lembrar das terríveis lendas sobre o Submundo. Lagos de fogo, monstros devoradores de humanos e tudo que deixa qualquer criança sem dormir por noites.

– Irmão... – Heimdall protestou, sabia que as criaturas de lá não gostavam de humanos. – Suas criaturas não se dão bem com humanos, Zeenon... Deixe... – hesitou, mas conseguiu prosseguir – Deixe que eu cuido dele.

– Não, não. Agora eu que comando. Por favor, Heimdall não tente interferir mais.

De repente, uma criatura de olhos dourados com cabelo de fogo surgiu detrás de Zeenon, branco como um fantasma. Percebendo que seu ‘braço-direito’ chegou, logo o guardião ordenou:

– Leve-o, Loki. Ele está em suas mãos agora. Não faça nada demais. Ok?

– Sim, senhor. – Disse, quase um sussurro.

Andy fixou os olhos negros nas esferas douradas de Loki e sentiu-se fissurado com o olhar predador do feiticeiro. Não sabia se podia confiar nele, mas algum fio de esperança despontava em seu interior. Habilidoso, Loki pôs-se de frente a Andy e segurou sua cabeça. Recitou alguns encantamentos com sua voz suave, segundos depois os dois sumiram em sombras.

Heimdall fitou a cadeira vazia, sentia muito por Andy, sabia que não era um bom lugar para um humano. Porém, tentaria acreditar em Loki.

Zeenon virou-se para o irmão e acariciou seus fios prateados.

– Não se preocupe, Heimdall. Loki não é sanguinário... Ele sabe o que fazer.

– Ok, ok... – balançou a cabeça, confiando no irmão. – Eu tenho que ir agora, mas antes quero ver o Freyr... Posso?

– Claro, vamos.

Os guardiões saíram da câmara e seguiram de volta para o castelo. Mark e Link continuavam na sala de estar ansiosos para saber do interrogatório, quando viram Zeenon e Heimdall chegando, deram um pulo e correram até eles.

Curiosos, perguntaram em coro:

– E então? Como foi?

Zeenon ignorou a pergunta dos garotos, ao ver que Freyr não os acompanhava na sala, e indagou:

– Cadê o Freyr?

– Convidamos ele para descer, mas não quis... Deve estar descansando... – Disse Link.

– Heimdall, pode subir e ir até o meu quarto falar com o Freyr. Ficarei aqui para contar tudo para esses dragões curiosos.

– Tudo bem... Amanhã eu virei aqui à noite para discutirmos algumas coisas. Ok? Quero saber seus planos, mas não vou interferir.

– Tudo bem.

O rei sentou-se no sofá junto aos seus dragões, e começou a contar sobre o interrogatório. Heimdall dirigiu-se para à escada, subindo degrau por degrau, enquanto pensava nos planos de Simun. Já que Zeenon estava ao seu lado, ficou mais confiante na guerra. Não tinha mais medo, apenas lutaria ao lado do irmão e, juntos, deteriam o ambicioso rei feiticeiro.

Silencioso, o rei da luz seguiu para o quarto de Zeenon. A porta do aposento permanecia fechada, então, educado, bateu suavemente na porta, porém não recebeu resposta. Repetiu o gesto, um pouquinho mais forte, mas novamente não houve resposta. Então, timidamente, Heimdall agarrou a maçaneta e forçou-a, até abrir a porta.

– Freyr? Está aí?

Os olhos atentos do rei vasculharam o quarto, até que pararam na varanda, onde Freyr estava, debruçado sobre a sacada. Parecia, admirar o horizonte. Fechou a porta atrás de si e, lentamente, aproximou-se dele. O garoto não percebeu a presença do rei, permaneceu quieto, como uma estátua. Heimall pousou umas das mãos no ombro de Freyr, percebeu que ele soluçava.

O jovem virou-se de repente e assustou-se com o toque repentino do guardião.

– Eu nem vi você...

– Não chore, está seguro agora – acariciou levemente o rosto do garoto.

– Eu sei... Só que... As imagens ficam aqui. É difícil de esquecer. – pôs as duas mãos na cabeça e sacudiu-a como se estivesse confuso.

– Perdoe-o. Eu sei o quanto é difícil, mas quando você conseguir perdoar o seu pai, aos poucos vai esquecer tudo isso e a dor cessará. Apesar de tudo, você o ama? Certo?

Freyr balançou a cabeça, afirmativo. Jude era grosseiro, mas era o seu pai. O garoto sentiu o abraço quente do guardião confortá-lo. Por alguns segundos, deixou-se invadir pela brandura de Heimdall. Logo que se afastaram, o guardião continuou:

– Foi isso que eu fiz com o meu irmão... Por amá-lo incondicionalmente, sempre que ele atacava minhas criaturas eu o perdoava. Dizia todos os dias para mim mesmo que tudo aquilo terminaria um dia… – pôs a mão no peito e fechou os olhos, lembrando-se dos rituais diários de perdão. – a cada dia eu o amava mais... E hoje, veja... Ele se arrependeu, e estamos cada vez mais próximos um do outro.

O rei da luz exalava felicidade na sua voz. Sentia-se tão satisfeito por ter Zeenon ao seu lado.

– Eu... Posso tentar... – Freyr parou de chorar, “Apesar de tudo... Ainda é o meu Pai.”

– Eu espero que você consiga. Sei que vai conseguir. – aproximou-se e abraçou-o novamente.

– Obrigado pela força... Se não fosse por você, eu ainda estaria lá no frio, inerte, sem saber como reagir.

A neve começou a cair. O pequenos cristais vinham cada vez mais fortes, pintando a sacada cinzenta de branco. Heimdall olhou para cima e, segurou a mão do jovem.

– É melhor você entrar. Se não, pode pegar um resfriado...

Freyr deixou-se guiar pelo guardião e os dois voltaram para o quarto. Heimdall fechou a porta que dava acesso à sacada do aposento. O loiro seguiu para a beira da cama, e observou a linda criatura à sua frente. Apesar de serem gêmeos, Zeenon e Heimdall eram bem opostos na personalidade. Porém em questão de carinho, eram totalmente iguais.

– Meu jovem, agora eu tenho que ir. Deixo você sobre os cuidados do meu irmão.

O rei caminhou até Freyr e beijou delicadamente sua testa.

– Até mais.

– Até logo, obrigado. – Disse, acenando para o rei, enquanto ele saia do quarto.

Assim que Heimdall saiu do quarto, o rei sombrio adentrou no aposento. Viu seu amado sentado na cama olhando para os pés, movimentava-os rapidamente.

O jovem viu um vulto passar pelo quarto, e de repente, Zeenon estava em seu ouvido.

– Está tudo bem? – Sussurrou na orelha do rapazinho.

Ao ouvir as palavras do rei, Freyr tremeu da cabeça aos pés, enquanto o rei endireitava-se ao seu lado, rindo da reação do garoto. Freyr se recompôs, um pouco cismado. Antes do namorado chegar, pensava em como iria enfrentar o pai.

– Eu ainda tenho algumas coisas a resolver com meu pai.

– Freyr... Eu não quero... – Protestou.

– Eu não posso simplesmente sumir! Eu tenho que ir lá dar alguma explicação.

De certo modo, Freyr estava correto. Apesar de querer que ele não mais se aproximasse de Jude, Zeenon teria que deixar ele ir se explicar.

– Ok, tudo bem... Mas o que você vai dizer?

O garoto ficou pensativo por alguns instantes, tentando encontrar alguma desculpa para usar.

– Eu posso dizer que... Arranjei um trabalho e vou morar sozinho. – Freyr pensava ser uma boa ideia, talvez Jude até gostasse. Menos um “fardo” para ele sustentar.

– Pode ser... – disse, coçando o queixo – Mas será que ele vai engolir essa?

– Vai sim... Menos um para ele “carregar”. – disse, com a voz embargada. Abaixou a cabeça, abatido.

Aquilo o amargurava por dentro, apesar de que ia se livrar de insultos e agressões. Era sua família, mas não aguentava mais tanto sofrimento. Ao lado de Zeenon, estaria protegido tanto de Jude quanto de Simun, e ainda poderia acompanhar todo o progresso do plano.

O rei, solidário ao garoto, pousou o braço sobre os ombros dele, abraçando-o.

– Vai ser muito bom ter você aqui...

Freyr o observou e, o brilho tão habitual de seus olhos azuis voltaram. Era bom sentir aquela calorosa recepção, estar em um lugar tão confortável e ainda, ao lado de alguém que amava tanto. Nunca sonhou nada daquilo. Tinha sorte, muita sorte. Jogou-se sobre o dorso do rei, e enfiou as narinas nos cabelos negros dele, agarrando-o pelo pescoço. Zeenon deslizou os braços para a cintura do garoto, e travou-o, sem intenção de soltá-lo e, realmente, era o que Freyr queria.

– Obrigado por tudo, meu amor. – disse Freyr, e deitou a cabeça sobre o ombro do namorado.

– É meu dever te manter protegido.

Beijou as bochechas do garoto que aos poucos roseavam por causa do frio. Freyr levantou a cabeça e o surpreendeu com um selinho demorado, como uma forma de agradecimento. Zeenon devolveu o beijo, enrolando-o em seus braços e deitou-o no colchão.

Assim que terminaram, depois de alguns instantes entre beijos, estavam um ao lado do outro, a fitarem o dossel violeta da cama.

– Freyr... – o rei virou-se para o companheiro – quer que eu te conte agora?

O garoto voltou para Zeenon, balançando a cabeça afirmativo.

Zeenon não gostava de falar, e nem lembrar daquilo, mas Freyr precisava ficar a par de tudo. Porém, para a sua própria surpresa, começou a falar, sem muitas dificuldades,

– Eu e Heimdall fomos escolhidos desde bebês.,. Quando nós nascemos, as duas forças de Luz e escuridão revestiram nossa alma, formando a aura, mas não estavam ativas. Estavam em colares que eu e Heimdall possuíamos. As pessoas que testemunharam o nosso nascimento, disseram que viram dois feixes de luz vindo até nós e depois nos “atacaram” ... Não sabemos muito bem como foi. Nossos pais foram embora da vila... Por medo do poder, talvez. Fomos criados por anciões.

Freyr encostou-se um pouco mais perto do rei, e deitou a cabeça em seu peito, esperando a continuação.

– Não tínhamos como esconder o colar, não desgrudavam do nossos pescoços. Se não fosse por isso, não haveria diferença entre eu e meu irmão. À medida que crescíamos, ficava mais evidente. As pessoas me rejeitavam, deixavam-me de lado. Pareciam que tinham medo de mim, como se eu fosse algum tipo de monstro. – balançou a cabeça, contrariado.

– Eles sempre tratavam Heimdall com privilégios, amor e carinho. Eu percebia aquilo... Sentia muita raiva. E toda vez que sofria o repúdio deles, guardava aquilo tudo para mim e seguia em frente. Na minha adolescência, chegamos ao ponto que eles começaram a falar palavras amargas, xingavam-me, simplesmente por eu ter sido escolhido pelas trevas.

Zeenon parou um instante para se recompor e organizar seus pensamentos, o relato começava a ficar pior. Freyr o ouvia atentamente, sentindo uma imensa compaixão por seu amado. Sentiu que ele iniciava uma parte difícil e, levantou a cabeça, para fixar-se somente nos olhos dele.

– Quando nós completamos trinta anos, nossos territórios foram revelados, e passamos por rituais para receber a aura. Só concederam aos trinta anos porque é a média de idade boa para o tamanho do poder dela. Temos que ter corpo e a maturidade ideal para recebe-la.

– O que aconteceria se, por exemplo, se fosse em um corpo menor, ou menos maduro? – indagou, Freyr, curioso.

– A aura tentaria se adaptar ao corpo e, com certeza, não teria sucesso. O organismo entraria em colapso. Febres, convulsões... Até que ela conseguisse estabilidade. O corpo amadurece e cresce, porém há muito sofrimento.

– Nossa... – remexeu-se na cama, sentindo-se desconfortável.

– No início, aprendíamos sobre magia e tudo do nosso reino. Tínhamos que ordenar os seres para estabelecer o equilíbrio, enfim, propagar a união de todos. Nós conseguimos o objetivo durante algum tempo, entretanto depois de alguns anos, eu simplesmente explodi. Mesmo machucar ou ofender alguém, quando eu aparecia, as pessoas ainda me repudiavam. Eu não aguentei mais. Eu já tinha poder, podia me vingar. – soluçou, como se estivesse prestes a chorar.

– E Heimdall... – disse Freyr, encorajando-o.

– Descontei toda a raiva em meu irmão. Eu realmente não conseguia entender, se eu era exatamente igual a ele, em quase tudo, por que o tratavam de forma diferenciada? Porque ele era melhor do eu? Como? ...

Zeenon não se conteve e chorou, aqueles tempos foram de intensos sentimentos. Freyr endireitou-se à sua frente e abraçou-o forte, agora entendia o que ele passou. Era tão triste vê-lo daquela maneira, despejando toda a dor em lágrimas.

– Mesmo escolhido pela escuridão, eu não agia mal, afinal a minoria das criaturas faz isso. Depois eu só... Eu só... Quis descontar minha raiva em alguém. E o que mais me irritava, eram as palavras do Heimdall, sobre sermos irmãos, sobre amor... Eu não me sentia irmão dele. Sentia-me um estranho. Eu o via como um inimigo. Tinha que destruí-lo.

Limpou as lágrimas do rosto, recompondo-se. Chegava na redenção.

– Depois de um longo tempo de guerras, eu cansei. Não me levava a lugar algum, era apenas sofrimento... Dor. Heimdall resistia e ainda me tratava bem, mesmo eu lutando contra ele. Amou-me o tempo inteiro e eu, cego pelo ódio, não me importei. Os humanos, esses sim, eram os monstros. Você é diferente, Freyr.

Zeenon acariciou o rosto do namorado, agradecido por ser aceito.

– Eu me tranquei aqui no castelo, chorando, arrependido, com medo de encarar o meu irmão. Loki tentava me fazer companhia, mas, muitas vezes, estava ocupado no Submundo. Algum tempo depois comecei a me sentir muito sozinho... Então planejei ter o Link. Foi o que me trouxe alegria nos últimos anos... Um garotinho lindo, chamando-me de “papai”, o tempo inteiro grudado em mim... Pude ser um pai, que eu nunca tive. Amor de filho... Eu não sabia o que era aquilo. Passei toda a minha atenção para ele, cuidei e tentei ser um bom pai... Depois encontrei o Mark perdido na floresta, que também me aceitou, ainda humano. Também é como meu filho. Mas... Algo ainda me faltava... – sorriu, como se tivesse certeza que agora não faltava mais nada...

– Agora Heimdall está com você – Freyr retribuiu o sorriso, contente por ele.

– Não só tenho o amor e perdão dele, como tenho o seu amor e sua aceitação, tudo é muito importante para mim. – piscou para ele, jogando-lhe um beijo.

Novamente, Freyr abraçou-o, agora, apertando-o em seus braços. Estava feliz por fazer parte da evolução dele e queria cada vez mais continuar ajudando, do melhor jeito que podia. Pelo menos, tinha certeza que seu amor e compreensão poderia oferecer... Para sempre...


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