The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!

Sempre é difícil encontrar imagens :/



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Mesmo cansado, o jovem correu para a Floresta, precisava ficar sozinho, longe do barulho da cidade. Percorreu alguns metros, na floresta extremamente fria e encoberta de neve. Encontrou uma grande clareira, com alguns troncos de árvores ao centro. Encostou-se em um tronco grande e, seus braços agarraram o corpo fragilizado, tremia de frio. Estava extremamente exausto, tanto físico, como mentalmente – deixou-se cair ao chão. Porém, aquele ambiente era tudo o que ele precisava, paz e tranquilidade, para poder chorar a sua dor. Depois, procuraria algum jeito de voltar para casa, ou quando fosse o horário de ir para a gruta, partiria para lá, apesar de que receava em contar tudo a Zeenon. Ele fechou os olhos e deixou que as lágrimas rolassem livres por seu rosto ainda vermelho com o golpe da mão de Jude. Precisava descarregar toda o sofrimento, guardar ali dentro apenas o machucaria.

Heimdall galopava tranquilo pela floresta, adorava rodear por ali, mesmo sozinho. Ouvia os sons dos animais e sentia o gostoso cheiro de inverno. Gostava de ir sem companhia, para poder entrar em harmonia com a natureza. Ela lhe transmitia uma energia poderosa que somente ele e suas criaturas sabiam captar. Enquanto passava próximo ao carvalho onde encontrou o urso envenenado, viu um clareira. Percebeu que, próximos aos troncos, uma criatura de cabelos louros jazia no chão, inerte. Rapidamente, ele desceu de Destiny e correu até o indivíduo, a fim de ajudá-lo.

Quando chegou mais perto, surpreendeu-se ao ver que era Freyr, o companheiro do seu irmão. O jovem chorava e se encolhia na neve.

Agachou-se e com suas mãos delicadas, encostou no rosto do rapaz.

– Freyr... O que houve?

O garoto loiro virou e enxugou as lágrimas rapidamente, não gostava que o vissem chorando.

– Heimdall? O que faz por aqui?

– Passeava pela floresta a cavalo, quando vi você aqui deitado. O que aconteceu? Seu rosto... – Ele observou mais de perto o rosto vermelho de Freyr. – Está ficando roxo... E inchado.

Freyr tentou levantar o braço, para levar a mão ao rosto, mas no mesmo instante sentiu uma dor no músculo do antebraço, gemeu de tamanha dor. Quando levantou a manga do casaco, percebeu a marca avermelhada da pancada que levou quando foi jogado ao chão pelo seu pai.

– Essas são marcas de agressões. Quem fez isso com você? Por favor, diga-me.

Não tinha forças para falar, estava cansado, sem voz para responder. Chorou novamente, não conseguia dizer uma palavra.

Percebendo que o jovem estava muito debilitado, Heimdall decidiu ajuda-lo com sua magia. Estendeu a mão para o jovem, e pediu,

– Segure a minha mão, Freyr.

Aplicando esforço para levantar um pouco o braço, Freyrr pegou a mão do rei e tentou apertá-la com o resto de forças que ainda tinha. Heimdall fechou os olhos, concentrando-se em sua aura. Após alguns instantes de silêncio, começou a ditar encantamentos, “Althã, cure e aqueça o ferido. Luzin!”. Um brilho prateado emergiu da mãos do guardião, espalhando energia pelo ambiente. Ao sentir aquele poder, Freyr lentamente fechou os olhos e deixou a energia branda invadir o seu corpo. Aos poucos, as fortes dores que sentia sumiam, o corpo revigorava-se ao receber o poder enveredando pelos nervos. As marcas sumiram e o garoto pode respirar fundo, aliviado. Abriu os olhos, sentindo-se renovado.

­– Está melhor agora, não é?

Heimdall ainda segurava a mão dele, apertou-a fortemente.

– Obrigado, Heimdall... Estou melhor, sim. Que magia é essa?

– Magia de cura... Uso ela poucas vezes. Ela age sobre o corpo, regenerando ferimentos. Agora... Conte-me. Quem fez isso com você?

O garoto sabia que poderia confiar em Heimdall para contar aquele problema. Ainda era difícil falar sobre o que aconteceu, mas reuniu algumas forças e começou,

– Foi meu pai... – tinha um tom baixo. – Ele sempre me maltrata, mas hoje ele passou dos limites, e ainda... Eu esqueci meu rubi em casa... – tirou o rubi de dentro da camisa e mostrou a Heimdall. – Zeenon que meu de presente... Para proteção.

Explicou sua situação do trabalho e do jeito rude do pai, falava com dificuldade, entre lágrimas. Bom ouvinte, Heimdall compreendeu-o perfeitamente, e ficou surpreso com a história do menino. Freyr parecia um garoto tão alegre, tinha uma aura radiante. Quando o viu pela primeira vez, imaginava que ele tinha uma vida saudável, sem muitas preocupações. Percebeu o quanto ele era forte, apesar do jeito retraído. Teve orgulho do companheiro de seu irmão.

– Você não tem ideia de quanto é forte – sorriu para o garoto, admirado.

– Agradeço... Muito.

Encarou profundamente aqueles belos olhos prateados do rei e viu um brilho inspirador ali. Acreditou ver todo o poder dele irradiar apenas de seus olhos, era uma fonte de força.

– Vamos, vou te levar ao castelo de Zeenon. Estará em boas companhias – estendeu as mãos para o garoto.

O jovem aceitou a ajuda e seguiu Heimdall até o belo cavalo-branco que esperava o mestre.

Assim que aproximaram-se de Destiny, Heimdall prontamente ajudou Freyr a montar no cavalo e, logo depois montou, tomando as rédeas. O loiro sentiu-se um certo desconforto por estar tão perto do guardião, porém logo o sentimento sumiu, ele exalava tanta tranquilidade que sua companhia tornava-se confortadora.

– Segure-se em mim, só espero que o Zeenon não fique enciumado. – sorriu amistosamente e observou o jovem por cima do ombro.

Freyr sorriu em resposta e envolveu os seus braços na cintura do rei da luz, agora sentia-se mais confiante perto dele.

A floresta estava totalmente coberta de neve, Heimdall e seu cavalo pareciam camuflar-se na beleza alva e fria do local. O rei conduzia o cavalo tentando ouvir os sons da floresta, o garoto estava quieto, então não o atrapalhava nem um pouco. Freyr seguia agarrado ao rei, pensando em qual seria a reação de Zeenon quando contasse tudo o que houve. Tinha certeza que ele ficaria furioso, não conseguiria esconder nada dele. O jovem começou a inquietar-se, indagando: “Não sei vou conseguir contê-lo...”.

Ao perceber certa inquietação na aura de Freyr, Heimdall tratou de acalmá-lo e, com ternura, disse:

– Acalme-se. Sei que Zeenon ficará furioso quando souber de tudo, mas tenho certeza que ele não fará mal algum à sua família, pois ele sabe que isso te deixará infeliz. Zeenon tem um instinto teimoso e feroz, mas tratando-se de você ele ficará manso.

E ele acertou em cheio. Era o dom de Heimdall. Sempre conseguia ler e compreender os sentimentos de alguém, sem auxílio de qualquer magia. O Guardião da luz tinha razão nas palavras, Zeenon tentaria consolá-lo...Não faria mal a ninguém. Heimdall contentou-se ao perceber que a aura de Freyr estava mais leve; suas palavras foram efetivas.

Analisando àquelas palavras do rei, Freyr percebeu que ele parecia conhecer o seu companheiro muito bem, tinha bastante autoridade nas suas afirmações. Um dia antes, sentiu ciúmes por causa da preocupação excessiva de Zeenon. O rei da luz também parecia ter muito apreço pelo outro e falava dele com muito carinho na voz. Sabia que o guardião das trevas tinha feito muito mal a Heimdall, porém eles pareciam ter algum tipo de relação mais profunda. Tinha conhecimento das visitas de Zeenon e que os dois conversavam sobre assuntos íntimos. Alguma conexão eles deveriam ter.

Escondendo um constrangimento, disse:

– Heimdall... Você parece saber muito sobre Zeenon...

– Verdade... – olhou-o de soslaio – Ele também sabe muito sobre mim. Temos uma conexão forte. – Heimdall novamente sentiu um abalo na aura de Freyr.

– Que conexão...?

Era normal que Freyr tivesse curiosidade, entretanto sentiu-se um pouco encurralado. O garoto descobriria aquilo uma hora ou outra, mas não sabia se aquele momento era o certo.

– Freyr... – hesitou – Eu não sei se devo te falar... Mas, é uma questão de anos. Vínculo.

As últimas palavras do rei, deixaram-no ainda mais instigado. Queria saber a relação que os dois tinham.

– Por favor, Heimdall... Estou cada vez mais confuso... – O garoto parecia agoniado.

Não teria como fugir, Freyr ficava cada vez mais perturbado com a questão então tinha que dizer. Heimdall suspirou e arriou o seu cavalo.

– Freyr... Você já viu a forma humana do Zeenon?

– Sim... Não muda muita coisa, Somente a cor dos olhos dele. Ficam verdes.

Heimdall desmontou do cavalo e virou-se para observar Freyr, o jovem devolvia o olhar de forma curiosa, esperando sentado na sela. Estava ansioso para o que viria depois.

E agora, o guardião pretendia acabar com as dúvidas do jovem.

– Vou te mostrar a minha forma humana, ok?

Fechou os olhos e concentrou-se em estabilizar a aura. Tinha canalizar ela para o corpo, comprimindo-a. Assim, a forma de guardião desaparecia, dando espaço para seu físico humano aparecer. Era como se não fosse mais uma criatura elementar. O cabelos começaram a mudar do tom prateado para uma cor negra e profunda. Quando abriu os olhos, eles brilharam em verde-esmeralda, o mesmo brilho que Zeenon possuía. Freyr encarou-o, assustado com a figura à sua frente. Era idêntico ao seu namorado. Abriu a boca, lentamente, sem saber como reagir a revelação. Pensava que via o próprio Zeenon.

Eu e Zeenon somos gêmeos. Quando recebemos nossos poderes cada um ganhou uma forma de guardião... Mas, ainda conservamos a humana, que se revela quando estabilizamos a aura. – Ele parou por um instante, a fim de arrumar seus pensamentos, continuou – Os escolhidos deveriam ser gêmeos, pois a ligação é mais forte e, assim, o equilíbrio entre os seres de luz e escuridão se estabeleceria mais facilmente.

O jovem desmontou do cavalo, ainda tentando absorver aquela surpresa, nunca imaginou que os dois guardiões fossem irmãos, ainda mais, gêmeos. Levou uma das mãos aos cabelos de Heimdall, ainda perplexo, não conseguia acreditar. Entendeu o porquê Zeenon se preocupava tanto com Heimdall, o porquê eram tão íntimos; o quanto doía o fato de ter maltratado um irmão tão doce durante tantos anos. Curioso, perguntou:

– Então... Por que Zeenon se rebelou?

Pressentiu que Freyr perguntaria aquilo, entretanto, não era uma história que poderia contar. Pertencia a Zeenon. Eram as palavras dele que o garoto deveria ouvir.

– Freyr... Sobre isso, eu não quero que ouça por mim... Peça ao Zeenon para contar-lhe... Sei que é doloroso para ele, mas tenho certeza que, por confiar em você, ele te contará, certo?

– Ok, mas por que você Luz, e ele, Escuridão?

De repente, essa dúvida veio à sua mente, poderia ser esse o motivo de Zeenon.

As forças de “luz e escuridão” são uma analogia. “Luz”, ao espírito calmo e brando das minhas criaturas. “Escuridão” ao espírito selvagem e feroz das criaturas do meu irmão, mas não quer dizer que sejam todas más, uma são e outras não. Não sabemos exatamente o motivo, mas eu acredito que talvez seja porque a aura do meu irmão é mais truculenta que a minha, eu não sei. Fomos escolhidos ainda bebês. Tínhamos um colar com gemas leitosas que nos diferenciava, a dele era negra e a minha branca. Esse colar, por mais que tentássemos, não saiam dos nossos pescoços. Era a marca dos escolhidos.

– Zeenon é teimoso, se exalta facilmente... Ele é assim desde pequeno?

– Um pouco ciumento também, e difícil de controlar... Mas, é um companheiro e tanto... – abaixou a cabeça escondendo um sorriso fraco no rosto, sentia falta dos tempos de criança. – Freyr, quando for perguntar ao Zeenon, tenha cuidado... É difícil para ele.

– Tudo bem... – Freyr ficou ainda mais intrigado com a história.

– Vamos continuar nossa viagem agora? Vamos! – Animado, o rei da luz montou novamente no cavalo, convidando Freyr a acompanhá-lo na montaria.

O jovem subiu, enroscou-se em Heimdall e os dois partiram rumo ao Darkvallum.

Enquanto cavalgavam no dorso do cavalo, Freyr sentia uma tranquilidade incrível ao estar perto do guardião da luz. Não era a mesma sensação de estar perto de Zeenon, mas deixava o corpo mais leve. Novamente, parecia sentir a aura de Heimdall agir sobre seu corpo, assim como acontecia com Zeenon. Por alguns instantes, começou a se perguntar de onde veio tudo aquilo. Sempre soube muita coisa sobre Inshtarheim e das batalhas que Zeenon o contava, porém nunca se perguntou como surgiu a magia, as criaturas e todo aquele mundo fantástico.

– Heimdall... – Disse ele, com uma voz tímida.

O guardião olhou-o por cima do ombro.

– Sim... Diga.

– Como tudo isso surgiu? A magia, criaturas...

O rei pensou por alguns instantes, tentando arrumar as suas ideias. Não parou, pois precisava se adiantar a chegar no castelo, apenas falou tranquilamente enquanto ainda cavalgavam em seu belo cavalo branco.

A magia... Não se sabe até hoje de onde ela surgiu. Assim como não se sabe como surgiu o mundo. Sabemos que nossa aura, que nos encobre e contorna a alma, vem da energia do cosmos, talvez todo esse poder que nos ronda venha de lá. Os mestres anciões, primeiros seres elementares, não têm lembranças de antes de aparecerem neste mundo.

– Então não temos um princípio de tudo, certo?

Isso...Elas vagavam por aqui, sem líderes. Descobriram que podiam criar outras criaturas, feitiços, os grandes grupos que vemos hoje. Os meus súditos se apegaram aos humanos e usavam sua magia para ajuda-los. Por terem auras divergentes, sempre lutavam com os seres de trevas. Então, certa vez, um grande sábio previu que duas crianças seriam escolhidas para liderarem os seres e estabelecer o equilíbrio, seriam gêmeos, pois assim os laços eram mais fortes. As criaturas formaram os reinos, os meus preferiram ficar perto dos humanos; os de trevas se distanciaram e logo depois que eu e Zeenon fomos coroados, criaram o Submundo, onde eles vivem até hoje.

– Eu nunca havia parado para perguntar isso ao Zeenon... – disse, maravilhado com a história dos seres elementares. – Muito obrigada por me explicar.

– Por nada, Freyr...

Eles continuaram a cavalgada tranquila até o Darkvallum. O garoto loiro começou a preparar-se para contar tudo ao seu companheiro e tentar acalmá-lo quando soubesse de tudo o que aconteceu. A neve espessa continuava a cair lentamente na floresta...

Após um demorado banho de banheira, Zeenon aprontava-se para encontrar Freyr, como fazia todas as tardes. Vestiu um pesado sobretudo de veludo azul, as botas de couro pesadas e deixou as madeixas negras livres pela coluna, seu companheiro adorava acaricia-las.

Quando estava prestes a sair, Zeenon pôde sentir a aproximação da poderosa aura do irmão. Estranhou a vinda dele tão cedo, Heimdall sabia que ele se encontrava com Freyr durante as tardes, Zeenon presumiu que ele viria apenas à noite.

Assim que sentiu que ele já estava nos portões do castelo, Zeenon pôs-se a esperá-lo no passeio que conectava os grandes portões à fachada do Darkvallum.

Quando o cavalo-branco adentrou o jardim, o guardião da escuridão surpreendeu-se ao ver que Freyr acompanhava seu irmão na garupa, começou a estranhar ainda mais aquela situação. Cavalgaram pelo passeio e, assim que chegaram mais perto, Heimdall parou o seu cavalo e desceu. Estendeu a mão a fim de ajudar Freyr a desmontar do cavalo também. Pousou umas das mãos sobre os cabelos de Freyr e acariciou-os,

Vá e faça o que tem que ser feito – Heimdall sussurrou:

Freyr respondeu,

– Obrigada por tudo, Heimdall.

Não tinha palavras para descrever a gratidão por Heimdall, se não fosse por ele, estaria ainda lá no meio da floresta, no frio, e sentindo fortes dores. O garoto correu, adiantando-se para os braços de Zeenon, o qual se assustou com o abraço repentino do rapaz.

Agora, sentia-se totalmente protegido, junto ao seu amado rei.

Heimdall caminhou até aos dois.

– Não há de quê, Freyr... Está tudo bem agora.

Zeenon olhava os dois, tentando entender o que acontecia.

– Freyr, o que houve? – fixou o olhar no namorado, que ainda continuava com os braços envoltos em sua cintura.

O jovem se afastou do rei e hesitou por um instante, direcionou seu olhar para Heimdall. O rei da luz lançou um olhar insistente, encorajando-o. Assim, Freyr voltou-se para Zeenon e baixou as pálpebras, tentando esconder o nervosismo.

– Nós podemos conversar a sós?

– Claro... Vamos para o meu quarto. – voltou-se para o irmão e, convidou-o – Por favor, Heimdall, entre, meus garotos vão te acompanhar lá na sala.

– Não precisa se incomodar.

Os dragões encontravam-se na sala de visitas, lendo um livro juntos e nem perceberam a movimentação do lado de fora do castelo. Eles receberam Heimdall amigavelmente, pediram para servirem chá, enquanto Zeenon e Freyr iam para o quarto. Ao perceberem a expressão abatida de Freyr, perguntaram a Heimdall o que estava acontecendo, mas o rei da luz sacudiu a cabeça, recusando-se a falar.

Enquanto caminhavam para o quarto, Zeenon observava o companheiro e começou a se preocupar. Algo de muito ruim havia acontecido, porém esperaria chegar ao quarto para ouvir suas palavras. Assim que adentraram no aposento, o rei direcionou-se à cama, chamando o garoto a acompanha-lo. Freyr fechou a porta atrás de si e seguiu vagarosamente para onde o rei estava. Sentou-se na beira da cama, ciente de que chegou a hora, um pouco receoso em falar. Percebendo o nervosismo do garoto, Zeenon acariciou-o no rosto, a fim de acalmá-lo.

– Então Freyr, o que aconteceu?

– Por favor, não fique tão furioso. – olhava-o com esperança nos olhos. – Isso acontecia de vez em quando... Mas hoje...

– Vamos... – disse, interrompendo o companheiro.

– É que... Hoje... Eu saí apressado de casa e esqueci o meu rubi... Como está acontecendo o festival de inverno, a loja fica movimentada e... – Ele fez uma pausa para soluçar, deixando lágrimas correrem por seu rosto. – Eu trabalhei muito... E, cansado, decidi ir até o depósito só para relaxar um pouco.

Ele soluçou novamente e olhou para baixo, apoiando as duas mãos na cama. Zeenon o acolheu, com uma abraço apertado.

– Continue... – murmurou.

– Eu acho que meu pai percebeu que eu fui até lá e... Ele me seguiu – agarrou forte o sobretudo do outro, lembrando-se dos olhos furiosos do seu pai. E, com uma voz chorosa, continuou – Ele ficou com raiva e golpeou o meu rosto, depois agarrou os meus cabelos e jogou-me ao chão.

Desabou em lágrimas no peito de Zeenon. Lembrar daquelas cenas dolorosas era extremamente difícil, porém, tinha que conta-lo.

Mesmo consciente que não conseguiria se descontrolar, Zeenon soltou um suspiro forte, tentando abrandar sua raiva – mas foi em vão. Grunhiu violentamente, estremecendo os lábios. Agarrou uma das almofadas, a ponto de desintegrá-la em seus dedos. Sabia que precisava ter mais autocontrole, principalmente ao ver o companheiro tão frágil, mas era quase instintivo.

O temor do garoto se concretizava, Zeenon estava furioso, o rosto abrasador, de tamanha raiva. Ainda chorando, e sem saber muito bem como acalmá-lo, agarrou-o,

– Acalme-se. Por favor! – aumentou um pouco o tom de voz.

– Onde estão suas marcas? – Agoniado, Zeenon tateou rapidamente o rosto de Freyr procurando marcas vermelhas, entretanto nada encontrou.

– Heimdall usou magia de cura em mim.

O rei parou de tatear o garoto, aos poucos se recuperando,

– Magia de Cura? Não me lembro...

Em um lampejo, lembrou-se da antiga magia de Heimdall que curava humanos e criaturas feridas, ele não a usava com muita frequência. Escondia essa magia dos humanos, pois sabia que muitos deles se aproveitariam da sua bondade. O rei respirou fundo, três vezes seguidas, até que a raiva foi aplacada. Tinha que proteger o garoto e não pensar em nada imprudente.

Tentando arrumar a mente, indagou,

– Como você encontrou o Heimdal?

– Na verdade, foi ele quem me encontrou... Eu saí da loja e depois fui em casa pegar o meu rubi, segui para a floresta. Quando encontrei um campo aberto... Eu me joguei no chão de tão cansado... Foi quando Heimdall encontrou e me ajudou. E ele me curou com magia e me trouxe para cá.

– Tudo bem... – agora pensava em uma maneira de agradecer ao seu irmão, “se ele não tivesse encontrado o Freyr...

Acariciou as mechas loiras do garoto, da forma mais confortadora que podia. Freyr abraçou-o novamente, como se nunca mais quisesse deixa-lo, pois sabia o quanto estava protegido ali; Zeenon já planejava isso. Em um tom de ordem, disse, decidido,

– Você não voltará para lá, Freyr.

– Mas... – murmurou.

– Não quero que ele nem tente encostar um dedo em você! – a voz do rei estava mais alta do que o normal.

Freyr afastou-se rapidamente, assustado ao ouvir aquele tom.

Percebendo o quanto foi rude, Zeenon tentou se controlar.

– Desculpe-me, Freyr eu só...

– Não precisa se desculpar. Eu entendo você. Mas, se eu tenho o rubi, não haverá perigo algum.

No fundo, Freyr só queria ficar ali com o rei e os dragões e não olhar mais o rosto do seu pai. Entretanto, não poderia sumir sem dar motivos.

– Essa pedra não impedirá de você ouvir insultos. As palavras machucam mais do que um golpe no rosto. Não quero mais te ver sofrer nas mãos desse homem – Ele entendia bem este tipo de dor... Olhares e palavras de desprezo e ódio sempre marcaram a sua vida.

Encolhido, o garoto considerou o pedido. Queria ficar, mas sabia que Jude não aceitaria facilmente. Apesar de diminuir os custos em casa, Jude, talvez, não quisesse jogar fora o "carneirinho" que não se defendia dos ataques. Teria que inventar uma desculpa muito consistente. Por outro lado, também estava ciente que Zeenon não o deixaria voltar para casa, considerando o quanto ele estava furioso.

– Tudo bem. Já que me pede...

Levando as duas mãos à cabeça de Freyr, Zeenon beijou-o na testa. Tinha que protege-lo de mais um monstro e tê-lo por perto seria mais fácil de cumprir a missão.

– Quero você sempre ao meu lado, ok? Não se preocupe, vou te proteger de todos os jeitos. – disse, sorrindo para o garoto.

– Obrigado. – enroscou os braços no pescoço do rei e sussurrou, – Amo-te, como nunca amei ninguém.

– Amo-te igualmente. – respondeu Zeenon.

As mãos hábeis do guardião percorreram pela cintura do companheiro e ajeitou-o no colo. Sem muitas cerimônias, beijaram-se. Freyr deixava as lágrimas mancharem o beijo, sentindo os lábios do rei deslizarem suaves pelos seus. Sabia que ele tentava ser mais gentil, por conta da situação delicada, porém queria senti-lo mais em si. Então, Freyr encostou-se mais e, resvalou suas mãos até os cabelos negros dele, apertando-os entre os dedos. Zeenon percebeu a urgência do garoto, e aperta-o contra seu corpo, como se quisesse unir em um só – percebeu, também, que ele continuava a chorar, cada vez mais. Quando, finalmente afastaram-se, Freyr estava com o rosto vermelho, molhado; entretanto, exibia um sorriso. E Zeenon pode ver, claramente, que apesar de toda tristeza, ele encontrava felicidade ali.

Você quer tomar um banho, relaxar um pouco? – perguntou.

– Quero sim... Mas... O que eu vou vestir? Minhas roupas estão sujas. – Freyr examinou suas vestes e sentiu um pouco de vergonha do estado das roupas.

– Tudo bem, arranjarei algo para você vestir... Venha comigo.

Zeenon se levantou e Freyr o seguiu. Agarrou o garoto pela mão, arrastando-o para o seu “quarto-armário”. Ao chegar no compartimento, o rei parou por um instante, como se estivesse tentando lembrar de algo e depois seguiu até a estante embutida no fundo do quarto, revirou-a até encontrar um baú. Dentro dele, havia diversas roupas antigas, que há muito tempo inutilizadas. Pegou um casaco de cashmere branco e uma calça justa cor de creme e entregou-as a Freyr.

– São algumas roupas antigas dos meninos. Se eles tivessem o mesmo tamanho que você, talvez pudessem emprestar roupas mais novas, mas...

O corpo do garoto não era muito grande, nem muito pequeno; tinha uma estatura mediana para um jovem de dezoito anos. Mark e Link eram dois anos mais velhos e bem mais fortes que Freyr, não havia possibilidade alguma de emprestar roupas mais novas.

– Amanhã mesmo comprarei roupas para você. Tudo bem?

– Agradeço.

– Vou pedir que preparem seu banho, pois tenho que conversar com Heimdall. – disse, mais para si mesmo do que para o garoto.

Ao ouvir o nome do guardião da luz, Freyr se lembrou da conversa na floresta. Tinha que descobrir um jeito de tocar no assunto.

– Zeenon... Você e Heimdall, os dois têm estatura, aparência e maturidade de um homem de trinta anos. E vivência de mais de um século... Não é?

– Er... Sim... – estranhou a pergunta repentina do rapaz – Por quê?

– Enquanto vínhamos para cá, ele me revelou uma coisa... – Hesitou, mas tinha que continuar. – Fiquei impressionado, não sabia da ligação entre vocês.

Sério, Freyr encarou o seu companheiro. Zeenon inclinou a cabeça para o lado, como se tentasse absorver aquelas palavras, o coração palpitou; mas tentou se acalmar, alguma hora teria que falar sobre isso com ele.

– Já sei que vocês são gêmeos, porém não sei o motivo porque você se rebelou. Ele não quis me dizer. – Freyr observou a aflição do companheiro e acariciou seu rosto de leve. – Fui eu que perguntei a ele...Falava com tanta propriedade sobre você, eu fiquei pensando nisso... E toda a sua preocupação com ele...

Agora que perdoava-se pelos erros, e a relação com Heimdall evoluía, sentia-se mais confiante em falar sobre a infância. Freyr ficaria ainda mais próximo do mundo de Zeenon.

– Depois te explicarei o motivo... Hoje à noite, ok?

– Certo, não tenho pressa – concordou.

– Espere aqui, que vou pedir à uma das meninas para preparar seu banho. Só não te acompanharei, pois tenho que resolver alguns assuntos com o Heimdall. – Ele sorriu e roçou os lábios nos de Freyr suavemente.

Enquanto observava o companheiro sair do quarto, Freyr sentou-se na cama. Descansaria o resto da noite ali naquele castelo e, por algumas horas, queria esquecer tudo o que passou durante a tarde. Afinal, no outro dia, teria que encontrar alguma desculpa para seu pai. De repente, ouviu algumas batidinhas na porta. Assim que a abriu, viu-se em frente à uma moça jovem e alta, de cabelos castanhos presos em polpa. Ela usava um vestido totalmente preto e rodado, destacando-se em seu peito um broche prateado com uma pedra cor de ametista.

– Permita-me preparar seu banho, senhor Freyr. – disse, com cerimônia.

A moça agiu de forma tão rápida que, em menos de cinco minutos, Freyr já se encontrava mergulhado na água quente, com cheiro de rosas. Nunca tinha tomado uma banho de imersão, nem estado em um banheiro tão grande e luxuoso. As paredes eram de pedra lisa e a banheira de mármore, embutida no assoalho de madeira, ficava bem ao centro do local. Havia uma bancada de mármore, onde estavam perfumes, um vaso com rosas vermelhas e escovas para cabelo. Acima desta, viu um grande espelho de moldura prateada. Do lado, outra bancada, só que para toalhas e, em cima, alguns roupões pendurados em cabides prateados.

Mergulho mais fundo na água, sentido aquele calor invadir os seus poros. Mais tarde, ouviria a história de seu amado rei e, poderia ser ainda mais confidente dele. Quando conhecera Zeenon, nunca imaginou que a relação entre ele poderia evoluir daquela forma. Porém, agora sentia que seu verdadeiro destino era pertencer ao mundo do guardião. Fechou os olhos e extirpou todos pensamentos ruins da mente. Precisava revigorar-se para os novos tempos.


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