O Mundo Perfeito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 2
O sonho mais bonito




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A boca dela abriu e fechou de novo, tamanho o espanto.

– Q-quem é você? – ela murmurou escondendo meio corpo atrás da porta.
– Eu sou sua mãe, lindinha! Quem mais você pensou que eu fosse?
– M-m-m-mas... – não, aquela não era sua mãe. As roupas eram muito parecidas, assim como os cabelos. O rosto, no entanto, era um pouco diferente.

Apesar de ter os mesmos traços, aquilo parecia o rosto de uma boneca. Era como se tivessem feito um rosto de boneca usando sua mãe como modelo. Ela tinha grandes olhos expressivos e brilhantes com cílios longos. Sua pele era tão perfeita que parecia feita de porcelana e seus lábios estavam caprichosamente pintados com um batom, deixando sua boca no formado que parecia um coração. Suas bochechas eram bem rosadas e os cabelos impecavelmente penteados não pareciam naturais. Olhando melhor, aquela mulher parecia uma grande boneca.

– O que foi, querida? Venha, não tenha medo. Eu fiz tudo o que você gosta.

Como a mulher parecia muito amistosa, Maria entrou lentamente torcendo as mãos com nervosismo.

– Pegue um doce. Ou um bombom. Também tem salgadinhos, bolos... eu fiz torta de morango com merengue do jeito que você gosta! Prove um pedaço!

Ela colocou um prato e uma colher nas mãos da menina, que após hesitar bastante provou um pedaço e deu um sorriso. Estava mesmo delicioso!

– Faz muito tempo que minha mãe não prepara essa torta... quer dizer... minha mãe que não tem... hã... por que você tem... er... esse rosto de boneca?
– Porque sou sua outra mãe.
– Outra mãe? Eu tenho outra mãe? Como assim?
– Todos têm, lindinha. Agora prove esse salgadinho. Você adora empadinha, não é?
– Hum... gostoso!
– Que bom! Agora vá chamar seu outro pai e outro irmão. Daqui a pouco servirei o almoço.
– Eu tenho outro pai? Outro irmão também? – ela arregalou os olhos e a mulher colocou um dedo nos seus lábios.
– Vá chamá-los enquanto eu termino o almoço. Seu outro pai está na garagem e tem uma coisa para você!

Sem outra opção, ela foi até a garagem a procura do seu pai, ou melhor... outro pai. Que confusão!

O tempo ali estava bonito e o céu exibia um lindo azul brilhante que ela adorava. O que tinha acontecido com a chuva? E a paisagem estava tão diferente! Tudo parecia mais colorido e brilhante, como se as casas e prédios fossem de plástico. Na garagem, um homem que parecia seu pai trabalhava ativamente em algo, mas quando ele se virou ela viu que ele também parecia um boneco em forma de adulto, com olhos grandes, faces rosadas e os lábios levemente rosados.

– Oi, minha princesinha!
– ...
– Venha ver o que papai está fazendo para você! Olha!
– Ai, que bonito!

Era uma grande casa de bonecas, muito mais bonita do que ela tinha visto em qualquer loja. Na verdade, parecia palácio de bonecas, não uma casa. Havia móveis em miniatura, papeis de parede, lustres, tapetes, tudo! As cores eram lindas e tinha muitas partes móveis que ela podia mudar a vontade.

– Você gostou? Fiz especialmente para você! Minha princesinha merece um palácio, não acha?
– Puxa... obrigada... mas porque você fez isso pra mim?
– Porque você merece, meu docinho! – o homem a pegou no colo afetuosamente. Apesar de um tanto assustada por estar no colo de um estranho, ela conseguiu ficar a vontade já que tirando aquele pequeno detalhe ele se parecia exatamente com o seu pai.
– Minhas bonecas vão adorar!
– Claro que vão! Agora que tal irmos almoçar? Depois eu dou os últimos retoques e levo para o seu quarto!

Ele a levou no colo, cantarolando e de vez em quando a jogando levemente no ar. A menina ria e se divertia. Há quanto tempo seu pai não brincava assim com ela?

– Oi, como está a minha irmãzinha preferida? – ela viu o outro Cebola na sala e ele também tinha aquele visual de boneca, embora em versão masculina.
– Oi... – ela falou meio sem jeito.
– Depois do almoço, que tal a gente brincar bastante de boneca?

Aquilo sim foi estranho.

– Mas você não gosta de bonecas!
– Aquele Cebola chato não gosta, mas eu adoro e vou brincar do que você quiser! Espero que não se importe de eu trazer mais alguém.
– Oi, Mariazinha!
– Mônica!

Bem... aquela não era exatamente a Mônica de verdade, mas naquela altura a menina nem importava mais.

– Como vai a minha cunhadinha?
– Cunhadinha?
– Claro! Se ela é minha namorada, você é a cunhada dela, certo? – o outro Cebola falou passando a mão em sua cabeça, deixando-a boquiaberta. Era como se ali, tudo fosse do jeito que ela sempre quis.

Eles foram para a cozinha onde o almoço estava servido. Seus outros pais lhe ofereciam todo tipo de guloseima que ela adorava e todos conversavam com ela, mostrando muito interesse e entusiasmo por tudo o que ela falava.

– Ai... não consigo comer mais! – ela gemeu batendo na barriga estufada.
– Você gostou, meu bem? – a outra mãe perguntou afetuosamente.
– Tava tudo muito gostoso! Se pudesse comia mais, só que não cabe...
– Então vamos brincar bastante! – Cebola falou muito empolgado, seguido pela Mônica que a pegou no colo levando-a para o quarto.

Só que aquele não se parecia nada com o seu quarto.

– ... – seus olhos se arregalaram e ela ficou de boca aberta, olhando tudo avidamente. Aquilo era um verdadeiro quarto de princesa. Ou talvez de rainha, caso houvesse alguma com a sua idade.

As paredes eram pintadas de rosa-claro, repletas de desenhos de flores, pássaros, borboletas e um cenário de contos de fadas. Havia um lustre de cristal feito com pedrinhas coloridas, fadas que pareciam flutuar, estrelas, luas e cometas.

Ao invés de uma cama, tinha uma grande carruagem em formato de abóbora, como se tivesse saído do desenho da Cinderela. Dentro dessa carruagem tinha sua cama com lençóis macios e travesseiros que pareciam feitos de nuvens. O quarto estava repleto com bonitos móveis, muitos brinquedos e bichos de pelúcia de diversos tamanhos e formatos.

– Você quer trocar de roupa? – Mônica perguntou abrindo a porta do armário mostrando algo que só pode ter saído do mais belo sonho do mundo.
– Quantos vestidos! Eu posso mesmo usar?
– Claro! São todos seus! Tudo aqui nesse quarto é seu. Deixa eu sair um pouco pra Mônica te ajudar a trocar de roupa. – O rapaz saiu, deixando-as sozinhas e Mônica tirou alguns vestidos do armário.
– Você quer ser a Cinderela ou a Bela? Também tem da Aurora, Branca de Neve, Diana...
– Que lindo!
– Também têm outros muito bonitos. Cor de rosa bordado com fios de ouro, verde com pedrinhas brilhantes, branco com pérolas...

Foi com muito custo que Maria saiu daquele transe hipnótico e escolheu um vestido que parecia o da Elsa, de Frozen. Era uma versão infantil bordado com lindos cristais que pareciam flocos de neve e um manto semitransparente que parecia ter sido feito com estrelas e cristais de gelo.

A outra Mônica lhe fez uma leve maquiagem, lhe deu sapatos que pareciam feitos de cristal embora fossem bem confortáveis e também colocou uma coroa de cristais em sua cabeça.

– Olha só que princesinha mais linda!

A menina mal continha tanta emoção. Era a fantasia de princesa que ela sempre quis, porém muito melhor porque ela tinha ganhado uma varinha que brilhava de verdade e também soltava luzes que pareciam flocos de neve.

– Gostou? Aqui tudo é mágico! Agora espera um pouco que nós temos uma surpresa para você!

Ela saiu e minutos depois, duas pessoas entraram no quarto. Uma era o outro Cebola vestido de príncipe e a outra era Mônica com uma fantasia que parecia de bruxa.

– Hahaha, que legal! Vocês estão fantasiados!
– Claro! Todo conto de fada tem que ter um príncipe! – Cebola falou beijando a mão da menina suavemente. Mônica completou.
– Ou então uma bruxa malvada. E, claro, um palácio!

Uma das paredes abriu, mostrando a casa de bonecas que o outro pai tinha feito. Era muito grande, repleta de bonecas, miniaturas de fadas que voavam de verdade, dragões e duendes.

Os três brincaram o dia inteiro, deram muitas risadas, comeram guloseimas no lanche, assistiram o DVD de um filme que ela queria muito ver e tiveram um jantar maravilhoso. Ela se divertia tanto que sequer parava para pensar que sua família original poderia ter percebido sua ausência e talvez estivesse preocupada.

– Ai, que sono... eu brinquei muito hoje, adorei!
– Você gostou mesmo, querida? – outra mãe perguntou lhe colocando na cama dentro da carruagem.
– Gostei sim, mas acho que eu devia voltar pra casa...
– Você já está em casa, meu anjo. Agora durma e tenha bons sonhos... – a mulher beijou sua testa suavemente e seus olhos logo se fecharam.

E tudo ao seu redor se desfez como fumaça, restando somente escuridão.

– Você trabalhou muito bem. Ela ficou impressionada. – uma voz falou.
– Mas ainda teremos que trazê-la mais uma vez. Essa menina é muito esperta e não se deixará enganar com facilidade. Mas valerá a pena. Ela terá um sabor muito especial e diferente das outras crianças!

As vozes riram com o jogo de palavras, felizes em ver que seu plano estava bem encaminhado.


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