Era então meia- noite, e Hermione ainda se encontrava no banheiro, sentada no chão, com o rosto enterrado entre as pernas, chorando mais do que conseguia, em seu pensamento, chorar era, no momento, o melhor remédio. Rony estava deitado, mas não pregara os olhos, talvez tivesse derramado algumas lágrimas também, nem ele sabia o que fazia. E Hermione, perdida em inúmeros pensamentos inúteis e confusos, estava demasiada fraca para ir para cama, e encontrar seu marido lá para discutir novamente. Ela pensava o por que de tudo isso, o por que de tanta discórdia momentânea, era sempre assim, eles brigavam feio, e depois faziam as pazes... Mas hoje tinha sido diferente, o tom de voz dos dois havia aumentado mais que o normal, as palavras tinham ficado mais pesadas, e os corações mais quebrados.

Por que? Pra que? Dúvidas não esclarecidas, e amanhã era sábado, como Rony convenceria a esposa a ir ao aniversário de Teddy com ele? Como iria fingir para sua família que estava tudo bem quando não estava? Do quarto dava para ouvir os soluços de Hermione.

"Eu preciso dormir", pensou o ruivo esfregando os olhos. E Hermione agora abrira o chuveiro pela segunda vez, e se atirara nele, a água quente a ajudaria a relaxar um pouco. Saiu enfim do banheiro depois de três horas trancada lá dentro, andou por todo o quarto, se trocou, arrumou suas pastas de trabalho, tudo no escuro, enquanto um par de olhos azuis observavam toda sua movimentação sem pronunciar nenhuma palavra.

A sabe-tudo resolveu ir ler no sofá, onde não conseguiu entender uma palavra de seu livro, pois as lágrimas embaçavam a visão, e então pegou no sono ali mesmo. E Rony lá em cima, dormira, sozinho, abraçado a um travesseiro.

A manhã gélida chegou, Rony levantou-se sem enrolar, mesmo que não tivesse horário de chegada em nenhum lugar hoje, mesmo que Hermione não estivesse ali ao seu lado o cutucando para acordar mais uma vez. Desceu as escadas, e se deparou com sua mulher, jogada sobre o sofá, com o livro entre os braços, e com os olhos pregados num sono profundo. "Por que tão linda?" pensou, mas depois completou: "Mas por que tão arrogante?". Pensou em levá-la para a cama, mas ela devia estar com raiva dele, e ele devia estar com raiva dela, mas não. Eles geralmente ficavam com muita raiva um do outro quando brigavam, mas desta vez, os dois não sabiam, mas estavam tristes por terem brigado. "Ontem brigamos, mas tivemos uma noite tão linda...", sussurrou para si mesmo, se lembrando da noite retrasada.

O ruivo preparou o café, comeu, pegou o casaco e saiu andando a pé, sem rumo algum, e só no meio do caminho pensou em um lugar para ir... A casa de Harry e de sua irmã, Gina. Ora este caminhou até lá, não era longe de sua casa, era na rua de trás na verdade. Logo chegou, e tocou a campainha apenas uma vez.

Logo alguém abriu a porta, um alguém magro e baixo, com cabelos negros, jogados para todos os lados... Harry.

– Ron! Amigo! Que surpresa, o que faz aqui a esta hora da manhã? - pergunta Harry puxando o amigo para dentro.

– Ah, me desculpe, é muito cedo? Nem olhei a hora quando saí de casa... - Rony estava meio aéreo, não era sem motivo.

– Ei... Senta aí, vou pegar um copo d'água. - diz Harry percebendo algo de errado só pelo tom de voz de Rony.

– Ronald? Que faz aqui? - era Gina, ainda de camisola, não era problema, Rony era seu irmão mesmo.

– Olá Gina, que saudade! - ele a abraça. - Como está o Thiago? - pergunta sobre seu sobrinho de um ano de idade.

– Ron... Nos vimos anteontem! Eu hein... E não respondeu minha pergunta! E sim o Thiago está bem. - Gina não estava sendo grossa, estava até preocupada com a aparição surpresa do irmão em sua casa àquela hora.

– É bem... Eu não tinha o que fazer, quer dizer... Onde... É... Eu... - lágrimas começaram a descer, e o ruivo caiu no choro, como Gina nunca havia visto, ele a abraçou forte e danou a chorar.

– Rony... Maninho, o que houve? - diz Gina acariciando os cabelos do irmão. Harry olhou confuso e preocupado, deixando o copo d'água em cima da mesinha de centro.

– A Hermione, a gente - soluçou - A gente têm brigado demais... Mas ontem foi a gota d'água.

– Mas, Ron, eu te perguntei ontem, e você disse que estava tudo ótimo entre vocês! - alega Harry.

– E você acha que eu ia te encher com nossos problemas? Não queria que soubessem que estamos mal. Mas hoje eu não tinha a quem recorrer e... - explica o ruivo com desespero na voz.

– Irmão, você sabe que somos seus amigos, não é? Tem que contar a alguém quando algo estiver errado. Fala, o que houve? - diz Gina se soltando do abraço apertado de Rony e agora o encarando bem no fundo dos olhos.

Rony explicou tudo o que havia acontecido, contou até o que não devia ter contado, Gina ficou com uma cara muito séria, e Harry triste pela situação dos amigos.

– Eu vou falar com a Mione okay? Ela deve estar precisando de alguém para desabafar também... Harry, você fica aqui com o Ron, eu estou indo lá tudo bem? - Gina vai até o quarto, se troca, e volta à sala. - A porta da sua casa está aberta? - pergunta ao irmão.

– Não, não está... Tome a chave. - responde a entregando um molho de chaves variadas.

A ruiva sai caminhando na rua, e enquanto isso Hermione acordava desconjuntada no sofá. Perdera a página que estava lendo em seu livro, se levantou ainda cambaleando um pouco, com uma leve dor de cabeça, e um mal-estar muito chato. Se dirige à cozinha, a mesa com o café da manhã estava pronta, o que significava que seu marido havia acordado, ela subiu até o quarto para verificar a movimentação.

– Ronald? - chamou.

Não houve resposta, procurou por toda casa, e então concluiu que ele havia saído. Se tivesse sido em uma das outras brigas momentâneas que tiveram, ela provavelmente desejaria que ele tivesse saído para nunca mais voltar, mas ela estava realmente preocupada com seu paradeiro. De repente, ouve-se uma porta abrir-se lá em baixo, ela desce as escadas rapidamente.

– Ronald! - diz em tom de ordem.

– Olá amiga, sou eu! - diz Gina trancando a porta.

– Gin? - pergunta Hermione a chamando pelo outro apelido (Gin).

– Sim... Tudo bem? - diz a ruiva abraçando Hermione ainda de pijama.

– Não, quer dizer... O que está fazendo aqui?

– Rony apareceu lá em casa agora há pouco, e... Enfim, já sabe né? Vim ver como você está. - explica se sentando no sofá.

– Ele contou tudo não foi? - Hermione também se senta.

– Foi. Por que não me disse?

– Não era seu problema Gin, já vamos nos resolver... - insiste Hermione.

– Ah sei... Mais uma "briga comum" não é? - fez aspas com as mãos - Nas suas brigas comuns o Rony não chega lá em casa chorando desesperado... - revira os olhos.

– Ele... Ele chorou?

Gina afirma com a cabeça.

– A coisa está feia não? Me diz o que você tem? O que o Rony fez?

– Ele não fez nada... Tudo bem, na verdade fui eu. Estava muito chateada depois de um dia muito estressante no Ministério, e aí eu cheguei nove da noite mais ou menos, em casa, e o Rony fez aquela cara, e aquela voz chata de quem iria começar com a mesma ladainha, e eu disse logo para ele não encher o saco, então ele começou a jogar um monte de coisa na minha cara, dizendo que eu não tinha tempo, que só me importava com o trabalho e etc, aí a outra parte você já sabe. - diz chorando. - A culpa foi minha! Mas foi diferente desta vez, eu não estou com raiva, estou triste.

– Ei... O que está sentindo? Pelo meu irmão?

– Nojo. - diz Hermione friamente enxugando as lágrimas.

– Você com nojo do Ron?

– É, acho que nossa relação não está dando certo, e só percebo isso depois de dois anos juntos... - explica pondo as mãos na cabeça.

– E...?

– E acho que vou me separar dele.

– Mi... Não acha melhor esperar mais um pouco? Pode ser só uma fase. - sugere Gina.

– Pode ser que seja Gin, espero que seja. - Hermione se levantou, mas, de repente, o mal-estar aumentou, e sua cabeça girou como nunca, sentiu algo subir pela garganta, não deu tempo de chegar ao banheiro.