Winner escrita por Alice


Capítulo 11
O vazio que lateja aos domingos...


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente...
Sim, eu estou um pouco culpada e sim, este ficou curtindo, mas é o que eu tenho hehe
Lembrando que eu não tenho NENHUM preconceito, ok??



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Um dos programas preferidos de Rose era, nos domingos, ir à Igreja. Ela acordava, se vestia e trançava o cabelo como uma pessoa normal, não como a rebelde adorável que era – o único momento em que não usava maquiagem.

Pode parecer estranho, mas Narcisa adorava participar das missas. Ela se sentava num canto, escondida, na Igreja mais pobre do Brooklin, onde haviam em sua maioria, negros e gays, todos arrumados, respeitosos, dedicando sua alma ao Senhor. Lá era o único lugar em que eles demonstravam isso: muitos já haviam apanhado na rua, os gays porque, mesmo que acreditassem, a Igreja os negava pelo pecado que era a sua sexualidade, e os negros porque, ao entrar em outros lugares, os olhares doíam como se fosse água benta molhando o demônio.

Mas eles ainda acreditavam: cada mulher descriminada, cada homem que era dito como menos homem, todos por sua cor e orientação sexual, tão diferentes de Rose, que conseguia apenas demonstrar raiva para com as pessoas. Aquele mundo de compaixão com quem não merecia era tão diferente do dela.

Your world not mine

Your world not ours

Your world not mine

Your world not ours

A ruiva sempre achou difícil acreditar naquele Deus supremo, onisciente e onipotente e bom. “Mas, mamãe, é impossível alguém ser tudo isso”, era o que dizia. Ela sempre achou que a mitologia greco-romana, das histórias infantis, mais crível: os deuses tinham qualidades e defeitos, poderes e fraquezas, e não eram bons o tempo todo.

Mas não era porque acreditava em Deus que estava ali: era pela fé alheia – pela paixão na alma dos outros. Por mais que tudo desse errado, por mais que a própria Igreja os chamassem de aberrações da natureza, aquelas pessoas insistiam em se reunir e alegar que tudo ficaria melhor.

E assim a Granger era convencida que tudo ficaria melhor.

Esse era o motivo dela estar ali sem maquiagem ou roupas atrevidas: aquilo era como uma manutenção da sua alma – um retorno ao Universo por todos os problemas que causou, todos os tabus que quebrou, todos os pecados que cometeu.

Talvez ela não acreditasse o suficiente, mas acreditava mais do que quando era pequena. Ela se lembrava de uma Páscoa em que explicara o porquê de não querer participar das rezas antes do jantar, "em nome de Jesus Cristo". “Não adianta nada rezar. Em 1755, toda a Lisboa estava rezando quando aconteceu um terremoto que derrubou todas as Igrejas da cidade e causou a morte de molhares de pessoas. Depois disso veio o incêndio e-“, bem, a interrupção fora causada por um tapa vindo de seu pai. Aos dez anos, esperando por chocolate, seu pai lhe deu a maior surra de sua vida por não acreditar no que ele acreditava.

Por isso, uma das tatuagens de Rose era "liberdade de expressão”. Por isso, durante toda a sua vida, ela resistiu aquela manipulação – o medo de se perder em meio aquela crença sendo absoluto.

I will resist with every inch and every breath

I will resist this psychic death

There's more than two ways of thinking

There's more than one way of knowing

There's more than two ways of being

There's more than one way of going somewhere

Mas, ás vezes, no final da missa, quando as pessoas diziam e gritavam "Obrigada, Senhor", a ruiva chorava, sentido uma esperança dentro de si. Ás vezes, ela apenas sorria ao ver as lágrimas nos olhos dos outros. E ás vezes, pouquíssimas vezes, Narcisa sussurrava um "Obrigada, Senhor" junto daqueles iguais a ela, se sentindo parte de algo maior. Ela ainda achava difícil acreditar em um Deus supremo, onisciente e onipotente e bom, mas se aquelas pessoas conseguiam, talvez ela conseguisse também.

Ou talvez aquela fosse uma grande baboseira que matara milhares em Lisboa em 1755, soterrados por destroços das Igrejas ou queimadas com o fogo sagrado.

Mas, apesar de tudo, Rose tinha gratidão [Obrigada pela minha vida: por ter me tirado de Londres, obrigada por ter me levado à Minerva, obrigada por permitir que eu me encontrasse, obrigada pelo meu emprego, pela Lyrae, obrigada por me ter dado tempo, mesmo que pouco, com Sirius, obrigada por Scorpius, obrigada pela minha mãe. Obrigada pela minha vida.] e fé [Bom dia, Senhor. Eu não sei quem você é, não sei se você é real, o que eu sei é que eu acredito em você. Não se preocupe, não acredito em você como a Igreja o descreve: na minha fé você é único – nada de bem e mal, você é apenas justo.].

A Granger não tinha a certeza daquelas pessoas sobre em quem ela acreditava, e não importava, aquilo deveria ser sobre ela e apenas sobre ela. Tinha todo o tempo do mundo para resolver aquele mistério – e até lá ela teria que ocupar aquele vazio dentro dela.

Silence inside of me, silence inside

Silence inside of me, silence inside

Silence inside of me, silence inside

Silence inside of me, silence inside

I will resist with every inch and every breath

I will resist this psychic death


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Notas finais do capítulo

NO QUE VOCÊS ACREDITAM?
AONDE ESTÁ A FÉ DE VOCÊS??
Já pararam pra pensar em como isso é importante...?