CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 52
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Quem consegue prender a respiração até o fim do capítulo? Hahahaha



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Draco Malfoy

O sinal de que havia demorado mais do que pretendera pra se organizar foi ter a outra metade de seu exército, liderada por Theodoro Nott, inundando Brampton Fort enquanto seus homens ainda corriam uma maratona até a Catedral. A batalha foi intensa e péssima. Aqueles homens e mulheres já haviam sido colegas. Muitos deles passaram por treinamentos juntos. Draco gastou uma energia colossal para manter seus aliados motivados, focados, dispostos a se moverem pelo caos até o salão da Catedral, onde Reed deixara escapar que Voldemort estava.

Mas ele não havia esperado. Não havia sequer imaginado que a cena que veria quando invadisse o salão fosse a de Tom Riddle beijando sua mulher. E antes mesmo que tivesse tempo de processar o que estava mesmo vendo, foi presenteado com a cena dela lhe dando um tiro. Exato. Preciso. Com uma arma trouxa. Uma que provavelmente pegara das salas de treinamento.

O caos que se seguiu quase o deixou tonto. A figura bem aparentada de Tom Riddle foi ao chão. O bruxo rapidamente pareceu tentar usar magia para reverter o estado em que se encontrava enquanto Hermione juntava uma força mágica que ele nunca havia visto antes e passava a controlar tudo ao redor como se tivesse poder até mesmo das moléculas do ar. Ela tinha a varinha em mãos e provou uma habilidade surreal ao dispersar os jatos que foi em sua direção. Ergueu uma barreira entre ela e a movimentação que surgiu de todos os lados com a invasão de sua força ao átrio da Catedral. Fez a varinha se mover no ar em um movimento preciso como se estivesse manejando uma espada. Nagini se desfez no meio de seu ataque, contorcendo-se até a morte.

Riddle, no chão, parecendo querer colocar de volta o sangue que escorria para fora de seu corpo, expressava um grau de dor que ia para além do esperado. O que apontava para a possibilidade de uma bala enfeitiçada. Uma controlada por Hermione, porque Draco conhecia as habilidades de Voldemort e ele certamente teria a capacidade de reverter aquilo com magia num piscar de olhos. A bala que ela colocara nele parecia estar diminuindo cada vez mais sua capacidade motora e de projetar magia. Ela havia se inspirado em Gina Weasley? Parecia quase irônico.

Tudo foi tão rápido e o show de horror tão inesperado que o combate que eles haviam arrastado até ali parou, como se Hermione tivesse colocado no ar um atraso no movimento de todos ou todos apenas haviam notado que não haveria como lutar contra ela. O mundo parou. O choque se espalhou e não importou de que lado se estava, todos apenas congelaram suas varinhas e viram Lorde Voldemort agonizar no chão tentando usar uma magia inútil para tirar a bala dentro de seu corpo enquanto parecia segurar as entranhas que se desfaziam em sangue. Sangue. Por todo o lado. Hermione por sua vez tinha um brilho de completa satisfação no olhar. Draco tirou de seu ouvido a pequena extensão de comunicação para se livrar dos chamados de seus líderes que lidavam com os conflitos de fora do salão e encarou sua mulher.

— Quase se atrasou, querido. Pensei que fosse ter que segurar tudo sozinha. – Ela cravou os olhos nele, em Draco, mas apenas por alguns segundos. Ela parecia diferente a cada segundo que se passava. Podia jurar que a mulher que via agora era diferente da mulher que dera um tiro em Voldemort segundos atrás. – Abaixem suas varinhas. – Dirigiu-se ao resto, aliados e inimigos numa voz alta, confiante, cheia de poder. – Isso não é uma batalha. Isso é um show. – Draco começou a sentir o chão tremer sobre seus pés. – Conseguem sentir? – Ela fez sua voz ecoar enquanto subia os degraus dos patamares do trono, erguendo uma barreira de fogo frio ao se redor, provando que ninguém chegaria até ela ou até Riddle no chão. – Tenho a maldição de Brampton sob meu controle e devo confessar que estou verdadeiramente tentada a fazer a terra engolir esse prédio, todos vocês, toda essa cidade. Lutar seria inútil. – Anunciou ela enquanto prepotentemente sentava-se na majestosa cadeira de Lorde Voldemort. O trono parecia perfeito para o tom de sua voz, a cor de seu olhar, e ela parecia beber do poder que aquela peça dava a ela. Parecia outra mulher. Tudo nela parecia sombrio. – Talvez eu devesse pedir para que formassem uma fila e um por um implorassem por suas vidas. Porque nada mais me daria tanto prazer do que assistir a todos vocês pedindo perdão por terem me julgado, por terem me diminuído, por terem me tratado como um objeto de satisfação. Por terem colocado meu nome em suas bocas sujas e cochichado uns com os outros sobre o que poderia haver de tão especial na Nascida-Trouxa. Por quantos status eu não já passei, não é mesmo? Sangue-Ruim? Nascida-Trouxa? Inimiga? Rebelde? Malfoy? Aliada? Fada? Será que o respeito ao meu nome veio de uma imposição, do medo, da manipulação midiática, das especulações com meu sangue ou dos maus tratos que passei debaixo do controle de Lorde Voldemort?

— Onde está Potter? – Escutou Fox murmurar logo as suas costas. – Ele quem deve dar um fim ao Lorde.

Draco não sabia onde Potter estava, mas não conseguia se focar em nada mais do que a figura imponente de Hermione naquele trono, comendo, com gosto, o prato de sua vingança.

— Somos todos conhecidos aqui! – A mulher continuou de seu assento. – Porque não tomam seus lugares para assistirem a melhor sessão aberta já apresentada pela Catedral? – Sugeriu ela com desgosto. Cruzou as pernas gloriosamente e cerrou os punhos num movimento expressivo e agressivo, que fez Riddle se contorcer, urrar e gritar no chão, tendo mais de seu sangue se espalhando. Céus! Que magia era a que havia naquela bala?

— NÃO PODE ME MATAR! – Berrou o bruxo numa agonia evidente, parecia quase que disposto a usar de sua lábia, se não fosse pela evidente tortura que sofria. Cada vez mais se agarrava ao chão como se não visse outra saída para lidar com a dor que não fosse aquela.

— Engana-se! – Ela tinha a linha de um sorriso de satisfação no rosto. – Certamente não tenho a intenção de te fazer morrer tão facilmente, seu ego precisa de uma dose de humildade, mestre. – Discursou ela. - Foi patético te ver achar que sou ingênua ao ponto de pensar que realmente iria querer dividir sua soberania comigo. Era isso que esperava de mim quando me tirou meu filho? Quando me manteve viva para poder ter o gosto de me ver suportar suas ameaças? Esperava mesmo que depois de tudo isso fosse me comprar com um discurso de aliança? – O desgosto fluía de sua boca.

— Precisava... encontrar Mor-Morgana. Seu potencial! – Voldemort já estava alcançando um estado quase falho, fraco.

— Nunca se passou pela sua cabeça que o meu potencial é vingança e não poder? É isso que o meu sangue carrega, mais do que exponencial domínio sobre magia, Morgana conseguiu passar para cada um de seus descendentes o sentimento que precedeu os minutos antes de sua morte. Não existe poder em mim sem que venha acompanhado de vingança, e você, Lorde Voldemort, é a personificação dela em sua mais pura forma. Diga-me, como se sente ao experimentar todo seu controle sobre magia fugir? Como se sente ao saber que um único objeto que foi capaz de o ferir consegue lhe extrair magia, e quem o comanda sou eu?

— Não ousaria me matar! – Ele cuspiu já se esvaindo.

Hermione cerrou os punhos novamente e Riddle contorceu-se em agonia.

— Sim, eu ousaria. – Ela disse com uma certa sede nos olhos.

— Hermione! – Draco fez sua voz erguer-se para ter a atenção dela, que direcionou seu olhar para ele como se nunca antes tivessem divido qualquer outro tipo de conexão. – Segure-o. Potter está a caminho! – Ele tentou lembra-la de que havia uma profecia em risco ali. Ela não deveria se meter no meio de destinos mágicos. Aquilo abriria um limbo muito incerto. Ela precisava ser lembrada dos riscos mágicos.

O olhar dela foi absurdamente intimidador quando piscou e voltou-se para ele. Havia algo ali, algo assustador, mas ele não ousava recuar, não tinha medo dela. Nunca havia tido. Sempre a tratara como alguém a sua altura. Nada mudava ali. Ele sempre havia a peitado, casados ou não, inimigos ou não, amantes ou não.

Por um segundo, um apenas, ele viu o brilho no olhar dela vacilar. Vacilar para um de angústia e não soberania. Foi naquele breve segundo que ele conseguiu capturar a conexão deles outra vez, mas foi tão rápido que ele quase duvidou de que realmente havia acontecido. Estava começando a se questionar se a Hermione que ele conhecia havia perdido o controle de si. Começava a se perguntar se alguma parte dela, qualquer que fosse, não estava em concordância com sua atitude.

— Me ver tentar seria a evidencia final para se convencer de que não precisa mais fugir ou questionar o seu destino com relação a mim? – Ela levantou-se de seu trono e aproximou-se, ainda deixando claro a barreira que erguera entre ela e todo o resto, inclusive ele. – Que outra prova precisa, Draco? – Ela parou de frente. Seu olhar vacilou por mais um breve segundo. Apenas um. Um que Draco novamente precisou se questionar se estava vendo coisas ou não. Mas então ela soltou numa voz baixa e ameaçadora: - Assim que eu terminar com Voldemort, seu pai será o próximo. Tem um dever a cumprir, estou livrando-o do fardo de ter que se questionar sobre ele.

Ela sabia. Sabia o que era. Sabia o que carregava. E mesmo que estivesse entregando a ele a carta branca ao dizer aquilo, ela não parecia ter a mínima pretensão de se deixar ser a vítima do dever que Draco tinha como Malfoy para com o sangue dela. Ele não podia acreditar que estava encarando a mulher que havia estado ao lado dele nos últimos anos. Não era Hermione. O olhar era diferente, sua feição era diferente. Tudo parecia estranhamente mudado, até mesmo a cor de seus olhos. Mesmo que estivesse olhando-a através das chamas azuis, todo o brilho dela parecia diferente, e parecia ficar ainda mais diferente a medida que ela mergulhava naquele modo, em sua atitude soberana, em assumir o controle e produzir a magia que com tanta facilidade conseguia dominar.

— Não acho que é isso que está fazendo. – Disse com os dentes cerrados, percebendo que a mulher a sua frente não tinha nenhum outro objetivo que não fosse controle e grato por saber que aquela troca de farpas havia ficado apenas entre eles.

Afastou-se tendo consciência de que podia salivar de raiva por estar sentindo que seu mundo inteiro estava desmoronando e que a pressão dentro de seu peito queria força-lo a recuar, abaixar sua varinha e dar-se por vencido. Aquela era a mulher que havia sido alertado sobre. Aquela era a descendente de Morgana que ele havia duvidado poder se manifestar na pessoa que o ensinara sobre empatia, sobre altruísmo, sobre compreensão, sobre família. Aquela era a força que os documentos de seus antepassados relatavam. Ele conhecia aquela força, e vê-la se materializar na sua frente o dividia ao meio. Mas ao mesmo tempo. Ele também conseguia ver a Hermione que teve uma filha morta, que havia vivido debaixo de medo por muito tempo. A Hermione que precisou assistir a torturas sem poder sequer piscar, que fora entregue a um homem que odiava como se fosse um troféu, que tivera que entregar a vida de seus amigos na mão do inimigo, que precisara confrontar sua própria moral exaustivamente.

— Fox. – Aproximou-se do homem. – Vá encontrar, Potter! Agora!

— E os...

— Agora, Fox! – Cuspiu severamente. O homem sumiu correndo por entre os outros. – TODOS VOCÊS! – Ergueu sua voz para a plateia que havia se juntado ali. Aliados e inimigos. Deu as costas a Hermione. – ESSA CIDADE IRÁ CAIR HOJE! SE QUISEREM SALVAR AS PRÓPRIAS VIDAS, FUJAM! PEGUEM SUAS FAMÍLIAS, SEUS PERTENCES E SAIAM DAQUI!

Avançou por entre as pessoas, que nem sequer validavam mais o poder de suas varinhas e de suas devoções, diante de Lorde Voldemort sob os pés de Hermione.

— Não tire minha audiência, querido! – Debochou Hermione em alto e bom som.

Algo dentro dele corroeu em dor e em raiva ao mesmo tempo.

— Oh, querida! Aposto que irá gostar da privacidade! – Retrucou e deixou o salão principal para ver caos.

Onde seus olhos alcançavam, haviam batalhas ou algum tipo de enfrentamento. Mas aquilo se misturava aos civis, a maioria em seus pijamas, sem entender o que estava acontecendo, perdidos, tentando fugir, mas sem saber para onde ir. Ele sabia que todos podiam sentir a marca em seus braços enfraquecer, a medida que Voldemort perdia mais de sua capacidade mágica com a bala enfeitiçada de Hermione.

Devolveu a extensão ao seu ouvido e pode escutar imediatamente Devon chamando por ele. Fechou sua linha com Devon e chamou por Denna para encontrar-se com ela enquanto avançava por entre o caos com sua varinha em punho, fugindo das pequenas batalhas que o faria perder seu tempo e matando quem precisasse para abrir seu caminho. Não estava no melhor de seu humor.

— Denna! – Encontrou-se com ela na entrada da Catedral. Tinha seu grupo intacto. – Onde está Potter? Ele deveria ter seguido a formação que conseguiu chegar até o salão!

— Potter ficou para trás. Foi ferido. – Denna explicou ofegante. – Fox está atrás dele, mas não acho ele consegue seguir com a batalha, senhor. Devon tem tentando se comunicar, precisa saber se é melhor leva-lo de volta para Azkaban, tentar algo rápido para trazê-lo a campo novamente.

— Não! Potter deve ir ao salão! Nem que seja carregado! Junte seu grupo e tire todos daqui. Esvazie Brampton Fort! Inimigos e aliados! Consegue sentir o tremor? Esse lugar irá desmoronar.

Os olhos dela se abriram assustados.

— O que está havendo? – Ela pareceu confusa.

— O povo! O povo quer fugir do caos. Hermione tem Voldemort e as pessoas já estão sentindo a marca em seus braços perder força. Elas estão com medo, do caos, da batalha, do que será da cidade, do que serão acusadas se o jogo virar. Deixe que fujam! Tirem todos daqui! Direcione-os para os portões, incentive-os! É uma ordem!

— Sim, senhor!

Denna era extremamente obediente em campo de batalha. Gostaria que ela se comportasse daquela forma quando estavam na mesa de estratégias. Tomou seu rumo para dentro da Catedral e usou sua mente para abrir ligação com Devon. Pediu para que ele levasse Potter ao salão imediatamente, não importasse o quão ferido estivesse. Subiu a escada da ala principal. Era a as escadas que davam para a torre de Voldemort, mas sabia bem que ele não estava ali. Seu problema era com o caos de quem descia perdido, com a varinha em punhos, pronto para tirar do caminho quem quer que fosse.

Foi até o ponto mais alto. Sabia que precisava ativar as sirenes da cidade para fazer com que quem estivesse ainda se escondendo em suas casas ou seus quartos, pegassem suas coisas e partissem para o portão mais próximo. A cidade precisava ser esvaziada e a única forma de fazer isso era acionando o alerta de evacuação.

A pobre administração de Nott ficou clara quando conseguiu usar as senhas que conhecia para entrar no campanário da Catedral. Aquele sino nunca havia sido tocado, nem quando estavam no auge da guerra anos atrás. Brampton Fort sempre foi o lugar mais seguro para se estar. Draco subiu onde precisava e soltou o grande martelo, que enfeitiçado para fazer o que deveria, bateu contra o enorme sino três vezes, propagando um som quase ensurdecedor, que ativou as sirenes da cidade logo em seguida.

Estava pronto para o caos que se seguiria, mas não estava pronto para o poder que aquelas sirenes tinham de trazer o horror. Era como se estivessem prestes a viver um bombardeio, com a diferença de que todos sabiam que as sirenes significavam evacuar e não procurar abrigo. Foi exatamente o que foi feito. Da torre onde estava, pode ver a cidade acordar junto com os primeiros raios de sol num desespero evidente. Quem ainda estava sem conhecimento do que se passava aos arredores da Catedral se deu conta de que independentemente se qualquer conflito fosse chegar a porta se suas casas ou não, a cidade inteira estava comprometida. E talvez todos já conseguissem sentir que estava. Os tremores não davam descanso e vezes ou outra até se intensificavam.

Assistiu, quase que encantado, o caos tomar seu pico. Aos poucos ele conseguia ver o número de cabeças se multiplicando. A bagunça, as brigas que surgiam da desordem, o partido que muitos tomavam com as varinhas empunhadas achando que seus vizinhos eram inimigos, que estavam em campo de batalha, que precisavam se proteger de tudo e de todos. Draco usou sua mente para abrir ligação com Fox. Perguntou onde ele estava, e Fox anunciou que havia se juntado a Devon e tentava abrir caminho para levar Potter até o salão. Assim que terminou sua comunicação com Fox, direcionou-se para Denna e ela informou que acabara de ouvir que Nott ordenara seus homens a segurar os portões e não deixar ninguém sair.

Perfeito. Isso significava que os homens dele seriam recuados em massa para os portões. Ele iria precisar de muita gente para conter a multidão de civil fugindo para os portões, desesperados para saírem da cidade. Draco abriu a linha entre todos os seus líderes e informou que Devon e Fox estavam encarregados de juntar toda a zona sete e direcioná-la para o salão principal, ignorar Hermione, limpar a área de qualquer inimigo e guarda-la até que ele tivesse mais instruções. Informou que Denna estava encarregada de liderar todas as outras zonas na missão de reestabelecer a ordem, declarar aos civis de que Voldemort havia caído e que a cidade estava comprometida, que todos deveriam seguir o plano de evacuação, tomando as rotas estabelecidas para cada área da cidade evitando tumulto e conflitos. Todos declararam que haviam entendido com clareza a nova ordem e ele fechou sua linha apenas com Denna.

Acha que consegue dar conta? É uma missão de larga escala!”

Como ousa duvidar?” Retrucou ela.

Perfeito. Preciso que todos sejam tirados daqui o mais rápido possível na melhor ordem possível. Mostre as pessoas que estamos do lado delas, que isso não é para ser uma carnificina e que temos tudo sob controle.

Vai ser um pouco complicado com o pessoal de Nott barrando as saídas.”

Conversarei com Theodoro. Onde o viu pela última vez?

Subindo as escadas para a os aposentos da ala oeste. Estava procurando por Gina Weasley.

Certo! Preciso que encontre a mulher de Bennett. Astoria. Ela precisa ser levada para fora dessa cidade sem qualquer arranhão, entendido?

Sim, senhor!

Meu pai também, fui claro?

Sim, senhor.”

Perfeito. Comece seu trabalho.”

Agora, senhor.”

Draco soltou o ar com calma. Era quase uma obra de arte ver a perfeita cidade de Brampton Fort naquele estado. Estava finalmente vivendo o dia em que Voldemort iria cair e ali estava ele, contando os minutos para aquele fim tendo a vontade de poder ir junto com Voldemort. Aquela dolorosa pressão em seu peito misturava-se com sua raiva porque sabia que o fim dele agora não significava nada se Hermione não fosse também eliminada da equação. E ele sabia que o dia que Hermione deixasse de ser uma perigosa variável em seu jogo, nada mais importaria. O dia que a eliminasse, seria o dia que eliminaria a si mesmo. Ao menos era isso que cada fibra em seu corpo, cada célula, cada pedaço de si remoía naquele exato momento.

Fechou os olhos apenas por alguns segundos, soltou o ar novamente e tomou seu rumo. Desceu tomando a direção da ala oeste. A porta da locação de Theodoro Nott estava escancarada, a ala estava vazia, a sirene ainda tocava insistente ao fundo, naquele único tom continuo e assustador. Ele entrou sem anunciar para ver Nott de costas, sob seus joelhos, segurando o corpo de Gina entrelaçada em lençóis, completamente sem vida. Certo, Gina Weasley estava morta. Aquilo não o comovia.

— É esse o seu plano? Usar seus aliados para manter todo mundo preso aqui sabendo que é apenas questão de tempo para Brampton Fort ser engolida? É essa sua vingança por ter sido um fracasso como general? Acaso perdeu a cabeça? – Anunciou sua presença já muito sem paciência.

— Não. Esse é meu plano pra te fazer vir negociar. – Ele disse. A voz um tanto quanto sem vida. – Sabe... – Ele soltou enquanto devolvia o corpo de Weasley para o chão. – Eu estava começando a realmente gostar dela.

— Não, Theodoro. Estava apenas começando a gostar da ideia de que poderia ter uma narrativa como a que eu tive a chance de criar com Hermione.

Nott apenas se levantou do chão. Voltou-se para Draco para poder encará-lo. Estava ofegante. Cansado. Quase derrotado.

— Estamos no caminho cruzado se o Lorde cair. – Ele começou. – Quero a segurança de que não irá me jogar em Azkaban, invente a narrativa que quiser para a mídia, eu direi que é verdade. Se me garantir isso, dou a ordem aos meus aliados para abrirem os portões.

Draco poderia rir.

— Não está mesmo pensando que tem o poder de negociar isso, não é mesmo? Me lembro de ser mais inteligente do que isso. Não preciso que seus aliados saiam do caminho quando posso tirá-los do caminho. Tenho as melhores zonas do exército do meu lado e uma multidão de civil desesperados para sair daqui. Seus homens trocarão de lado assim que perceberem que essa cidade está prestes a ser destruída. Vão querer ir embora daqui tanto quanto o resto.

— É, mas você não quer o conflito. Quer ser lembrado por ter conseguido administrar uma evacuação dessa escala, num momento tão crítico, de modo quase perfeito, sem quase nenhum ferido. Acaso não sei que tudo sobre os Malfoy é sobre legado? É importante para um Malfoy a forma como ele será lembrado.

Ele estava com sorte de que Draco estava impaciente. Aproximou-se.

— Escute bem, Theodoro. Dê a ordem para os seus homens despreparados e eu te garanto apenas uma coisa, preservarei você e sua família.

Nott soltou um riso fraco.

— Claro. Por que não pensei nisso? É óbvio que irá querer reestabelecer a ordem das famílias tradicionais do mundo bruxo. Gosta de ter o controle sob essa hierarquia, não é mesmo. A milenar família Malfoy sentando no topo da cadeia alimentar. Quer a roda girando como sempre girou. Quer me ver aos pés daqueles que possuem seu sobrenome para poder me reerguer novamente, não é mesmo? O que irá fazer minha família passar por minha causa, Draco?

— Sabia muito bem o que estava fazendo quando se ofereceu a Voldemort para puxar meu tapete. Quanto mais poder se busca, mais se deve estar disposto a comprometer. Não se finja de ingênuo. Dê a ordem aos seus homens.

Nott mostrou as mãos.

— É simples, Draco. Quero um processo limpo e simples como você. Estou disposto a te dar o que quer. Apenas estou pedindo um pouco de dignidade em troca. Um trato. Tome como um pedido de súplica, sei que está adorando isso.

Draco gostou de ter que pensar daquela forma. De saber que Nott conseguia se ver como um fracassado. Soltou o ar.

— Como quiser. – Aceitou. – Dê as ordens.

Nott estendeu a mão querendo fechar o acordo. Draco ergueu as sobrancelhas surpreso. Ele não podia mesmo estar achando que Draco faria aquilo.

— Não vou me selar a um contrato mágico.

— Preciso de uma garantia.

— Terá minha palavra como garantia.

O outro riu.

— Acha que sou idiota de acreditar apenas na palavra de um Malfoy? O Lorde passou todos esses anos te testando para ter a certeza que poderia confiar em sua palavra e olha só onde estamos.

— Eu fui marcado assim como todo o resto. Já é o suficiente para fazê-lo entender que não pode me selar em uma magia. - Ele já estava no limite. – Dê a ordem aos seus homens. – Exigiu.

— Estou esperando. – Theodoro enfatizou sua mão ainda estendida.

Draco soltou o ar, fechou o punho, segurou a mão do homem e o puxou para poder acertar a mandíbula com uma precisão que só ele era capaz de ter. A surpresa de Theodoro foi evidente quanto ele cambaleou perdido pelo quarto até encontrar um móvel para se apoiar.

— Seu nariz será o próximo. Dê a ordem aos seus homens. – Ameaçou e exigiu.

Nott parecia ver estrelas. Estreitou os olhos para Draco.

— Quer lutar, é isso?

— Na verdade, não quero. Mas não me oponho se for necessário. – Até porque sabia que Theodoro nunca havia concluído seu treinamento e destruir aquele homem lhe daria um satisfatório prazer. – Dê as ordens.

— Não pode esperar que eu confie na sua palavra.

— Será a única coisa que terá.

— Não. É. Suficiente. – Vociferou Nott com os dentes cerrados.

— Então saiba que foi você quem fez a escolha. – Draco findou a discussão e avançou.

Nott ergueu sua varinha e tentou se proteger, mas Draco usou a sua e ricocheteou o ataque do outro. Antes que Nott conseguisse lançar qualquer outro ataque com sua varinha, Draco conseguiu desarmá-lo e na distância em que já se encontravam, não foi difícil segurá-lo pela gola e cravar seu punho contra o nariz do outro, como prometido.

Exigiu que Theodoro desse a ordem novamente, mas o homem, com o sangue escorrendo pelo nariz, não as deu. Fechou o punho e atingiu Draco no estômago percebendo que esse era sua única chance. Não foi a melhor performance de Theodoro nem o pior ataque que Draco já sofrera, mas fora o suficiente para fazê-lo perder o ar. Porém, não o suficiente para tirá-lo do alerta que conseguiu bloquear a próxima investida do homem. Draco passou o braço pro baixo da joelhada que Theodoro pretendia lhe dar a tempo de fazer com que o sua esquivada lhe permitisse momento para que Draco pudesse o levar ao chão numa rapidez que tirou de Nott, sua habilidade de poder agir mais rápido do que ele.

Escalou por cima do homem, onde conseguiu prender o movimento dos braços dele entre suas pernas, agarrar sua gola novamente e lhe definir uma série de punhaladas onde sentiu-se completamente livre para libertar toda sua energia, seu rancor, seu ódio, sua angústia. Parou apenas quando conseguiu calcular que estava chegando ao ponto onde mais algumas de suas investidas seriam letais para o Theodoro Nott.

— Dê a ordem. – Exigiu Draco ofegante.

Nott permaneceu calado, o rosto ensanguentado, a consciência quase lhe fugindo. Draco deu a ele tempo de precisar recuperar o mínimo que fosse para ajustar a extensão em seu ouvido e dar a ordem, mas não foi isso que recebeu. Numa atitude completamente desdenhosa, Nott abriu um sorriso fraco e vermelho, como se tentasse, em seu lugar de derrota, ao menos usar um último poder que lhe restava, mesmo que esse fosse apenas o da provocação. Draco lhe deferiu mais duas punhaladas como resposta.

— É um péssimo negociador! – Cuspiu ofegante pare Theodoro. – Se quiser minha palavra, a única que terá agora é a de que não irei te matar. – Vociferou.

Theodoro continuou com sua atitude provocadora, mesmo no estado em que estava. Mas sabia bem que Draco não estava brincando. Relutou, mas eventualmente moveu a cabeça de modo a ajustar a extensão de comunicação em seu ouvido. Chamou por Thomas e Draco sentiu suas entranhas revirarem apenas por escutar o nome do traidor que levou seu filho até as mãos de Voldemort.

A ordem foi dada e Draco saiu de cima de Theodoro, que livre, virou-se para poder cuspir todo o sangue de sua boca. O homem tossiu, gemeu, mas o sorriso provocador não o deixou em nenhum momento. Era a única ferramenta que tinha.

— Engraçado, não é? – Provocou Nott. - Que agora que conseguiu colocar todos do seu lado, aquela que todo esse tempo foi sua cúmplice te deu as costas.

— Não abra a boca para falar do que não sabe. – Retrucou irritado. – É melhor que se prepare, você e sua família, para passarem o resto da vida limpando o chão por onde meu sobrenome irá passar. – Disse enquanto sentia sua mão ensanguentada latejando. – Ou se optar por fugir, pode apenas ser mais um dos nomes que será cassado.

— Não se preocupe, irei pensar minhas opções com muito cuidado. – Ironizou Nott.

— Sábia escolha. – Retrucou e finalmente deu as costas e deixando-o. O fracasso de Nott não o revigorava. Nem mesmo o fato de ter acabado de conseguir o que queria.

Enquanto descia em rumo ao salão principal, comunicou a Denna seu feito com Theodoro Nott, para o agrado da mulher e do dever que havia passado a ela. Foi capaz de escutar a comoção do conflito próximo a área antes mesmo de chegar.

Devon estava do lado de fora acompanhado de um pequeno grupo da zona sete tentando segurar duas duplas de devotos que numa tentativa suicida, lutava pra salvar seu mestre. Draco reconheceu duas importantes figuras do círculo interno, o círculo de devotos de Voldemort. McNair e Selwyn. Apertou o passo e entrou no conflito tomando vantagem por ser um elemento surpresa que foi notado tardiamente.

Conseguiu com rapidez, trabalhar em grupo, para eliminar dois e desacordar um, o que fez o quarto tentar fugir. Devon deu a ordem para que não fossem atrás dele. Draco concordou, entendendo a estratégia do homem.

— Outros virão de onde esses saíram. – Devon disse ofegante. A sirene de evacuação ainda soava ao fundo. – Preciso usar o grupo que tenho para manter o perímetro livre de intrusos. Fox está do lado de dentro. Potter também. As portas estão seladas para ninguém sair ou entrar. Se não quiser quebrar a magia, terá que usar a arena ou os túneis como acesso.

Draco apenas assentiu e sem perder tempo, correu para dar a volta no salão e ir direto para seu antigo departamento. Era a rota mais rápida para as masmorras. Os túneis eram sua melhor opção. Abrir a arena da anual cerimônia de inverno seria uma dor de cabeça sabendo que magia selava a entrada e saída do salão principal. Sua sorte naquele momento era que sabia os segredos da Catedral. Um dos pontos positivos de ter ocupado uma posição tão alta.

Pegou o acesso pelas masmorras. Ainda se lembrava do mapa daqueles túneis embora não se lembrasse exatamente a última vez que estivera ali. Puxou de sua memória o caminho que deveria fazer, onde deveria virar, por onde subir, até que reconheceu as pedras o suficiente para se sentir confortável sabendo que estava no caminho certo. Conseguiu, por fim, subir até o nível onde podia transitar por entre as paredes. Uma das características daquela edificação que ele usara bastante a seu favor. Espionar e ter quem pudesse lhe dizer o que se conversava pelos corredores da Catedral era dever exigido por Voldemort, mas que muitas vezes usara para sua própria vantagem. Embora fosse uma ótima característica, as passagens por entre as paredes eram limitadas. Não se podia ir para todo lugar e certamente, não se podia sair daquele patamar onde estava. Draco direcionou-se com pressa por detrás das câmaras que se alinhavam perto patamares finais do salão. Conseguiu encontrar uma brecha por entre as pedras e os painéis de paredes por onde foi capaz de ver as atividades que se desenrolavam dentro do salão, mesmo que sua vista estivesse muito limitada.

Nada parecia ter mudado muito, a barreira ainda estava erguida. A plateia era bem menor. Conseguia ver Fox liderando sua turma, espalhada pelo salão, numa uníssona ação, com as varinhas erguidas, contra a barreira de Hermione. O corpo de Lorde Voldemort estava estirado no chão, contorcia-se e gritava entre torturas que Hermione proferia. Ele estava quase sem vida já. Estranhamente sua figura parecia transitar entre o homem de meia-idade que Riddle era e a nauseante ofídica aparência de Voldemort. Draco observou Hermione usar as táticas de tortura de Voldemort. Parecia estar explorando todas as técnicas aprendidas com ele durante as sessões que fora obrigada a assistir nos anos que estivera ali. Porém, ao contrário de Voldemort, que precisava manter a varinha sempre em mãos, controlando sua magia sob o torturado, Hermione era perfeitamente capaz de deixa-lo onde queria para tentar segurar o enfraquecimento de sua barreira provocada pela equipe de Fox. Com um braço ela controlava Voldemort, com o outro ela focava-se em se manter isolada. Ela parecia ainda mais diferente agora. Deus! Onde havia encontrado tanto poder? Onde havia aprendido a conduzir magia daquela forma?

Tentou procurar por Potter, mas sua visão era limitada demais para que pudesse encontra-lo, portanto apenas dedicou-se colocar em perspectiva tudo que conseguia ver. Merlin! Ele odiava improvisar e tudo que estavam fazendo ali era improvisar. Era óbvio que no momento que Fox conseguisse derrubar a barreira que Hermione erguera, ela teria outra em mente para reerguer tão rapidamente, ou talvez uma estratégia diferente. Ela era imprevisível. Aquele era um inimigo completamente desconhecido. E céus! Tentava não reconhecer a dor do modo em como suas entranhas se reviravam toda vez que se tornava mais consciente da ameaça que ela era.

Mas precisava improvisar. Por mais que detestasse, era tudo que tinha naquele momento. E apesar de não lidar bem com situações como aquela, não era sua primeira vez tentando vencer as cegas. Havia derrubado líder por todo o lugar do mundo. Improvisar era apenas irritante. Segurou sua varinha entre os dentes, apoiou-se no vão de pedras e começou a impulsionar-se para alcançar a saída de ar mais próxima. Não foi um trabalho árduo, embora aquilo o fizesse resgatar na memória a última vez que fizera parte de um confronto. Parecia fazer anos que havia estabilizado a guerra para Voldemort, era quase uma sensação de derrota se ver naquele estado novamente, coração acelerado, varinha em punho, reflexos apurados, cérebro atento. Precisou se concentrar, era um líder, precisava tomar controle.

Fez seu caminho para o salão pela saída de ar. Assim que saltou e fez seus pés aterrissarem no lustroso e caro piso do átrio da catedral avançou pelas sombras até Fox que parecia quase grato por vê-lo novamente. Draco apenas precisou apontar para cima, para que o homem entendesse que se movessem para as galerias, teriam mais chance de investir contra o ponto mais frágil da barreira de Hermione. Fox gritou as ordens para se moverem para as galerias. Draco passou por ele rapidamente.

Perguntou por Potter ofegante. Fox apenas apontou para a porta principal aos fundos e correu com seu grupo para tomar o rumo das galerias. Foi quando Draco voltou sua atenção para a direção apontada por Fox e viu Potter no chão na companhia de Brant, um dos antigos chefes da Comissão. Ótimo! Tudo que ele precisava naquele momento era de um Harry Potter entre a vida e a morte.

Antes de tomar seu rumo até ele, olhou por cima dos ombros para sua mulher. Condenou-se imediatamente por sua atitude quando seus olhos caíram sobre a figura irreconhecível que ela apresentava. Tudo nela parecia sombrio. Até mesmo a fina linha de um sorriso desdenhoso que tinha nos lábios quando seus olhos encontravam os dele no meio de sua concentração em conseguir controlar toda a magia que estava em suas mãos. A mensagem por trás daquele sorriso não era a da mulher que conhecia. Não podia ser de Hermione. Os olhos dela estavam diferentes. Completamente diferentes. A cor, o brilho. Sua pele, seu cabelo. Tudo nela parecia vibrar em uma sintonia fora da estética que sempre carregara.

Deus! Se ela soubesse o tanto que aquilo o enfraquecia. O tanto que fazia todo o tipo de sentimento obscuro remoer em suas entranhas. Se a Hermione que ele conhecia soubesse, talvez pararia. Talvez recuaria. Mas aquela mulher, era completamente imprevisível. Uma estranha. Teve que cerrar os punhos e sentir a dor de suas unhas afundarem contra a palma de sua mão para se forçar a desviar os olhos dela e ir até Potter. Teria que lidar com uma coisa de cada vez.

Quando chegou até Potter, Brant tentava quase que inutilmente fechar todas as dezenas de ferimentos que haviam espalhados por seu corpo, como se tivesse sido esfaqueado por uma multidão de revoltosos. Expulsou Brant sabendo que as inúmeras magias já tentadas para o manter vivo seriem o suficiente para dificultar o caminho dele para morte, pelo menos por alguns bons minutos. Segurou-o pelo colarinho ensanguentado e o ergueu do chão para encostá-lo contra a gigantesca porta.

— Potter! – Vociferou. O homem gemeu algo. – Abra a merda dos olhos! – Cuspiu raivosamente e Potter cerrou seus olhos. Parecia quase em um estado delirante. – Escute bem! Tudo isso vai acabar em um segundo. Um segundo é tudo o que tem e é tudo o que precisa. – Chacoalhou-o pelo colarinho quando ele ousou querer fechar os olhos novamente. – Você está longe de morrer, Potter! Não seja fraco agora. Logo agora! Hermione está prestes a quebrar a profecia e eu sei que não vai querer carregar uma magia como essa para o limbo da incerteza e da probabilidade. As consequências de abrir mundos paralelos pode ser pior do que a realidade que já vivemos até agora.

— Talvez esse seja o propósito da profecia. – Murmurou Potter em seu estado grogue, sofrendo com a dificuldade de respirar. – Talvez seu propósito nunca tenha sido o de ser cumprido, mas sim o de ser quebrado. Talvez eu nunca tenha sido “o escolhido”.

A revolta em Draco quase o fez cuspir fogo. Bateu o corpo de Potter contra a porta mais uma vez tentando aliviar a vontade de dar-lhe um soco.

— É uma maldita profecia, Potter! Foi feita para ser cumprida! A natureza não busca desequilíbrios. Será que por um segundo em sua vida, um apenas, poderia não correr do seu maldito destino! – Colocou a varinha de Potter contra a mão dele. – Mate o homem que nasceu para destruir. Essa é sua última chance de se livrar desse fardo. Prove que o universo não tem escolheu por erro.

Levantou-se e puxou o ar com vontade antes de criar coragem para encarar Hermione outra vez. Ainda tentava ignorar que a temia. Afinal, tinha pleno conhecimento de o que temê-la significava, e coragem para tomar a atitude que todos aqueles que vieram antes dele tomaram ainda era algo difícil de encarar, mesmo tendo a sua frente a justificativa perfeita. Queria que Fox fosse o Malfoy. Fox seria capaz. Fox via apenas a ameaça que ela era. Draco via muito mais.

— Hermione! – Ordenou pela atenção da mulher fazendo sua voz soar forte. Era incrível como tudo dentro dele revirava quando a encarava. Aproximou-se dela, que sem pressa voltou seus olhos para ele. – Não me faça fazer o papel de pacificador. Abaixe a barreira e abandone a maldição de Brampton, neutralize-a, faça o que tiver que fazer, mas pare! Não era isso que queríamos.  

O sorriso cínico nos lábios dela foi um que Draco nunca havia visto antes. Era como se não estivesse falando com ela. Era quase um estranho.

— Acha que vai poder cuspir uma ordem e esperar que eu a cumpra? Me conhece melhor, Draco. – O sorriso dela morreu e ele viu o ódio estampado naqueles olhos que não eram os dela. – Você esteve comigo todo esse tempo. Sabe do direito que eu tenho sobre essa profecia. – Vociferou ela.

— Você não é egoísta, Hermione! Não é vingativa! – Continuou a se aproximar. – Conseguimos o que construímos juntos! Abaixe sua barreira, deixe Potter dar um fim a tudo isso para podermos ir para casa. Nossa-casa!

Ela soltou um riso desgostoso.

— “Casa”. – Desdenhou ela. – Acaso não está vendo quem eu sou? Não existe lar para nós dois. Pare de mentir para si mesmo. O que mais eu preciso fazer para que possa ver.

— Não, não, Hermione. – A angústia subiu por seu estomago em entalou em sua garganta. – Eu vejo. Claramente.

— Então não tente me manipular como os outros tentaram. Não tente discursar sobre “nossa casa” agora. Saia do meu caminho. – Cuspiu ela.

Ele viu a angustia se misturar com o ódio. Fazia tempo que ele não sentia a dor que ela tinha o poder de lhe causar. Céus! Por que ela tinha que ter entrado em sua vida? Queria ser Fox, no topo da galeria investindo em equipe contra a magia dela, preparado para dar um fim nela, caso necessário, na primeira oportunidade que tivesse.

— Não irei. – A pressão em seu peito parecia consumi-lo. – Não peça a um Malfoy para se render. Você irá parar ou eu a farei.

— Faça, então. – Ela o desafiou.

— Abaixe sua barreira. Entregue Voldemort. Deixe e maldição de Brampton. – Ordenou ele, deixando claro os passos que ela tinha que tomar, tratando-a como havia tratado todos os outros líderes que ele havia derrubado.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Ou?

As reações dela eram um soco em seu estômago. Ele queria realmente poder trata-la como qualquer outro inimigo que já cruzara seu caminho. Mas era impossível. A frustração amargava tudo dentro dele. Soltou o ar sentindo a dor lhe consumir.

— Não pode domar a maldição de Brampton, Hermione! – Queria ser realista. Mostrar a ela. Lhe trazer alguma razão. Não era possível que ela fosse capaz de segurar tudo aquilo. – Está te dominando! – Estava lhe fazendo mal.

Ela demorou para reagir. Como se tivesse ficado incerta por um segundo, como se tivesse entendido que aquilo consumia Draco. Mas ela estava difícil de se ler. Era quase impossível ver através daquela máscara, daqueles olhos escuros, do cabelo cheio, da pele quase cintilante.

— Acaso não viu o eu fiz no Ministério? – Ela cuspiu quase irritada por estar sendo subestimada.

— O Ministério era uma magia estruturado.

— Você não faz ideia do poder da maldição de Brampton! – A voz dela já não era a mesma. – Saia do meu caminho! – Ela ordenou outra vez.

Ele recuou sentindo o peso de seu corpo quase taxa-lo de derrotado. A angústia... Ele queria encontrar uma forma de acabar com ela. Por que estava gastando sua saliva. Aquela Hermione a sua frente não era quem ele conhecia. Não eram os olhos dela, não era a voz dela. Não se parecia em nada com ela. Com sua mulher. Com a mãe de seus filhos. Ele havia a perdido? Será que que a alma de Morgana fora capaz de matar a Hermione por completo?

— Não é você, Hermione. Não é mesmo? – Ele sussurrou mais para si mesmo do que para ela, enquanto encarava aqueles olhos quase surreais, cheios de sede e rancor.

Ela não respondeu. Ele se afastou. Encarou os mais confiáveis de seus homens nas galerias, suando com suas varinhas ao investirem contra a barreira de Hermione. As suas costas, Potter tentava lutar em seu estado precário para manter-se vivo

Fechou os olhos por um segundo sentindo-se derrotado como nunca antes em sua vida. Quis cair de joelhos e dar-se por vencido, mas não podia. Não podia porque seu ódio misturava-se com sua angústia de um modo quase selvagem. Abriu os olhos para encarar a mulher a sua frente. Domada pela alma da temível mulher que vivera séculos atrás.

— Eu irei matá-la. – Vociferou para quem ele via como Morgana. Aqueles olhos pareciam-se mais com os dela, aquela pele, aquela foz, aquela atitude.

— Que seja uma guerra, Malfoy. – Ela soltou. O sorriso era incontestavelmente alienígena.

Draco empunhou sua varinha e sentiu a força de sua mágica partir de suas entranhas. O jato em sua varinha se uniu com a de seus companheiros e atingiu a barreira dela com força. O Chão sob seus pés tremeu muito mais quando ele começou a notar que ela tirava forças da maldição das terras onde se encontravam para poder vencer o grupo de ataque uníssono contra seu escudo.

Draco começou a notar que os alicerces se degradarem. Os revestimentos caíram, as paredes enfraquecidas desmoronavam aso poucos. O teto começou a rachar e a mulher inconsequentemente continuava a explorar toda a força da maldição de Brampton e de sua própria força, tornando-se cada vez mais irreconhecível. Ele teve medo. Medo do que ela poderia fazer. Medo de até onde ela poderia ir.

O tremor da terra intensificou-se gradativamente e ele já começava a se ver incapaz de manter seu equilíbrio. A barreira dela estava frágil. Gritou para seus homens que buscassem suas últimas forças e foi num daqueles segundos que o escudo de Hermione caiu, o fogo azul se dissipou e ela ficou exposta.

Demorou meio segundo para que Draco buscasse fôlego dentro de si para gritar por Potter, mas no meio de seu caminho ele viu um jato verde que quase o cegou cortar por ele e atingir o corpo já quase sem vida de Voldemort no chão. A fúria nos olhos dela foi o que mais causou medo em Draco. O sentimento se misturou com o alivio de saber que Potter havia cumprido sua profecia e que aquilo já não estava nas mãos de Hermione.

Eles foram envoltos pelos fiapos de magia negra que sustentavam o corpo de Voldemort. O grito furioso de Hermione fez tudo tremer ainda mais e Draco se viu contra o chão incapaz de manter seu equilíbrio. Precisou rolar com dificuldade escapando por pouco de uma das pedras do teto que caiu certeiramente onde ele havia estado. O corpo de Voldemort se desfazia lentamente erguendo uma enorme fumaça escura. Por um instante tudo se aquietou e ele mal conseguiu enxergar muito longe com a intoxicação dos resquícios de magia negra suspensas. Ergueu a cabeça para poder ver Hermione ainda ofegante, não muito longe. Seu corpo tremia e ela estava ajoelhada contra o chão, as palmas estendidas sobre o piso sujo. Aquilo não era bom. Não podia ser bom. Não soube se ela havia perdido controle, se estava fraca, se a maldição estava se voltando contra ela ou se estava completamente furiosa. Abriu linha com Fox e exigiu que ele corresse com todos para fora dali o mais rápido possível.

Alguém precisa dar um fim nela!” Fox insistiu.

Ela não consegue controlar a maldição! Leve todos para fora daqui! Esse lugar não vai ficar de pé por muito tempo!” Ordenou mais uma vez.

Draco começou a tentar se colocar de pé enquanto via Fox lançar as ordens ao seu time que muito apressadamente começou se dissipar. Ele encarou o corpo trêmulo de Hermione. Estava quase sem ar. Prestou atenção nos movimentos sutis dela. O modo como ela esparramava a palma das mãos contra do chão numa respiração furiosa e fora de controle. Draco empunhou sua varinha. Seu coração batia como se quisesse quebrar suas costelas.

O tempo pareceu passar muito devagar com o modo como ele se viu completamente fascinado pela forma como o corpo dela se movia. Ela colocou-se de pé, a respiração pesada, os olhos de cor estranha carregando um ódio que ele não reconhecia. Foi quando tudo ao redor dele ficou muito estranho. Seu corpo pareceu perder o peso que tinha, ele quase sentiu-se desprovido de magia por um segundo. A cada longo segundo que se passava ele via uma transformação diferente nela, fosse algo pequeno, fosse significativo. Havia desequilíbrio em cada célula da alma dela e ele não sabia se estava domada pela fúria ou se pedia socorro.

Foi quando tudo a sua volta, repetidamente, dobrou de peso, o ar ficou carregado, e ele sentiu como se um milhão de mãos tivessem o empurrado ao mesmo tempo. Viu seu corpo cruzar o salão principal junto com o restante de matéria, pedras, decoração, vidro. Um estrondo soou alto, o barulho de pedras desmoronando veio junto. Ele pensou que o mundo estivesse acabando e quase perdeu a consciência quando atingiu uma das colunas e rolou pelo chão sentindo todo tipo de coisa voar contra seu corpo. Precisou de tempo para se reorientar. Havia perdido sua varinha e precisou chamar por ela mais de uma vez até a ver voar para suas mãos novamente. Ficou surpreso por vê-la ainda intacta.

Hermione havia aberto um enorme rombo numa das extremidades do átrio direto para o pátio central. Ver as primeiras luzes do dia pareceu errado. Tentou se colocar de pé ao mesmo tempo que o vento começou a soprar forte demais. Partes do seu corpo exclamaram a severidade dos golpes que havia sofrido. Mas mesmo assim, caminhou desviando daquilo que o vento levava, por entra a poeira das pedras. Sua visão era limitada. O chão voltou a tremer como antes e dessa vez ele via enormes crateras se abrindo, por onde uma estranha luminosidade diferente saia e se juntava ao redemoinho que se formava do lado de fora, no pátio.

Escalou a pilha de pedras e detritos sentindo cada vez mais dificuldade de se mover com a força do vento e quando conseguiu apertar os olhos o suficiente para ver além da poeira, conseguiu enxergar Hermione logo no centro do pátio. Todo o redemoinho e toda a força do vento tinha ela como centro. Ele precisou continuar a lutar para avançar. Tentou usar sua varinha para criar algum tipo de escudo, mas era inútil. A força do vento e a pressão do ar era quase maçante de se vencer à medida que ficava mais próximo dela. Ele não queria pensar na extensão do estrago. Não queria imaginar o quanto de Brampton Fort estava indo a ruínas naquele exato momento.

Quando conseguiu ficar próximo o suficiente para que ela conseguisse colocar os estranhos olhos sobre ele, sentiu seu corpo estremecer por completo. A áurea dela era quase magnífica, atraente e medonha ao mesmo tempo. Era, no entanto, profundamente deprimente e assustador. Parecia pronta para com a vida dele em um piscar de olhos. Havia tanta fúria nela que algo dentro dele gritava para que fugisse, se escondesse, se protegesse. Ela estava extremamente temível e incorporava tudo o que ele mais temera que ela pudesse ser, pudesse fazer. Era a prova de que seu pai estava certo. De que seus antepassados estavam certos. De que tudo que havia escondido no cofre de sua família a respeito de todas as especulações sobre o sangue dela não eram em vão.

— Eu disse que ele era meu! – A voz dela estava ainda mais estranha.

Ele precisava empunhar a varinha e apontar para ela. Precisava ser forte. Precisava ser um Malfoy, assumir sua responsabilidade, engolir o fato de que seu pai sempre saberia mais do que ele. Aquele era o momento. Não podia mais fugir daquilo. E ainda assim nunca se viu tão incapaz. Odiou seu pai por ter feito que ela fosse seu maior sacrifício de devoção ao sobrenome Malfoy. Odiou a si mesmo por ter cedido tanto de si a ela. Odiou Hermione por ser a única mulher no mundo que verdadeiramente queria. Odiou. Mas ao mesmo tempo, se viu completamente desarmado. Preferiria morrer pelas mãos dela. Preferiria ser aquele covarde. Preferiria vê-la pisar no mundo com sua autoridade mágica e ser quem Morgana sempre almejara ser. Preferiria vê-la ter um domínio que Voldemort nunca jamais nem sonhara possível. Preferiria, do que ter que apontar sua varinha para ela. Porque em algum lugar daquele olhar severo, daquela atitude intimidadora, daquele poder assustador, a Hermione que podia vencer a força daquela Horcrux estava confusa, sem saber com o que estava lidando.

— Sim, eu me lembro quando disse que queria usar as próprias mãos para acabar com ele. Para acabar com tudo que ele te fez passar, com tudo que teve que encarar por causa dele. – Soltou contra o vento, encarando a figura dela a sua frente, com a capa e o cabelo esvoaçante. - Mas você nunca quis vingança, Hermione. Nunca lutou por vingança. Lembra-se disso?

Ela pareceu vacilar, não por ter se visto abalada com o que ele dissera, mas porque a força que controlava parecia querer desestabilizá-la. Ele ficou curioso com a forma como ela cambaleou e o vento intensificou-se ainda mais. As pedras do chão começaram a ser levadas, junto com todos o restando dos materiais das demais edificações que eram completamente despeladas.

— Tudo que eu sempre quis foi vingança! – Ela gritou furiosa para ele encolhendo-se minimamente quando uma enorme cratera começou a afundar ao redor deles. Iria morrer, certamente iria.

— Não! – Usou o mesmo tom com ela. – Isso é o que Morgana iria querer. Não você!

O brilho dos olhos extremamente vibrantes que ela tinha mudaram calmamente para a cor dourada de verão da qual ele podia vagamente se lembrar. Quase podia ver por aquela íris a sombra de uma história que os unia. Ela, em seu estado quase robótico, pareceu assumir uma alerta diferente. Aos poucos Draco conseguiu ler a expressão confusa que surgia quase imperceptivelmente nela e foi naquele exato momento em que ela gritou e se encolheu como se tivesse sido atingida por todos os lados.

Draco não entendeu e a viu colapsar contra a montanha de pedras em que estava. Deus dedos se cravaram contra o chão e ele viu o sangue querer brotar de suas unhas. Ela estava em agonia. Ele lutou para ir até ela. Tudo parecia mais intenso, a cor das luzes que brotavam do chão, o vento, a destruição, a gravidade parecia mais forte. Abaixou-se a frente dela.

— Draco... – Ela soltou num tom quase perdido, quase desesperado.

Céus. Era Hermione! Era ela!

— Hermione?

— Eu não... – Pareceu engasgar. – Não consigo controlar. – Ela gemeu alto.

Ele já havia percebido há bastante tempo que ela tinha mais do que podia nas mãos. De que domava o desconhecido. De que puxava seus limites irresponsavelmente, porque era quem era. A força que a motivava era a perigosa força que os documentos de sua família o alertaram a respeito.

Hermione fechou os olhos com força. A força do vento se intensificou ainda mais, ele pesou ainda mais. Era assustador. O zunido que passava por eles quase o deixava surdo. Era gradativo. Piorava gradativo. Piorava e piorava acompanhando uma Hermione que parecia viver um conflito intenso contra si mesma. Ele não podia medir a extensão de todo aquele estrago. Será que ela era capaz de destruir o mundo inteiro? O sangue dela era mestiço! Como ela poderia ter tanta força?

Puxou a varinha quase temendo pela duração daquilo, temendo pela extensão, pela força, pelo nível desconhecido que podia atingir. Hermione obviamente não tinha o controle! Parecia consumi-la. Ele tinha que fazer algo.

— Sua varinha não pode me parar. – A voz dela foi muito reconhecível. A dor era palpável pelo tom que fugia de sua boca. Como ela sabia que ele havia puxado a varinha? Seu tom agora era bem diferente do vingativo e poderoso que ela havia carregado minutos atrás quando tinha Voldemort sob seu controle. – Draco. – Ela abriu os olhos para ele e Draco pode ver algo abstrato, mas familiar ali. Ela estava o chamando, quase que em um pedido de ajuda. – Não posso parar. – Ela estava travada, como se a força da magia que havia juntado sobre si a mantinha prisioneira. Medo. Era o que ele via nela. Podia lê-la. Finalmente! – Quer me tomar. – Sofreu ela.

Ele não entendeu. Olhou ao redor para ver a tão familiar cidade dos comensais se desintegrando aos poucos, sendo levada pelo redemoinho da força do vento que se estendia cada vez para mais longe. Era seu destino. Era esse mesmo seu destino? Ele não havia se preparado para nenhuma parte dele. Havia escrito o fim de Voldemort muito cuidadosamente. Mas nenhum descendente de Morgana havia sequer passado por sua cabeça como variável. No entanto, não havia nada no mundo que pudesse não o convencer do eminente fim de Hermione, fosse ele por suas mãos ou por qualquer outra. Ela não podia existir. Um controle como o dela não podia existir. Enquanto Morgana pudesse ser manifestável através dela, ela era um perigo muito maior do que Voldemort havia sido em seu mais glorioso estado. E ele tinha que a parar. Não podia permitir que uma peça daquele tamanho, com aquela força, existisse sem seu tabuleiro, no mundo.

Aproximou-se ainda mais, lutando para não perder o equilíbrio completo ou ser levado pelo vento. Cada ato seu parecia exigir de si um esforço psicológico que ia muito além do físico que enfrentava. Tudo em seu corpo parecia queimar. Seus membros, seu peito, sua garganta, seus olhos. Mantinha os dentes cerrados para buscar foco enquanto procurava uma forma de fugir do fato de que a mulher mais perigosa do mundo havia dormido ao seu lado, junto ao seu corpo, no calor da cama onde havia nascido seus filhos. Céus! Não queria perder-se para a insanidade, embora estivesse a beirando de modo muito perigoso.

— O bolso em minha capa. – Ela lutou para dizer quando ele já se via a poucos palmos de distância dela, apontando sua varinha bem para o colo dela. Draco não entendeu, mas viu o volume na capa dela. – Sua varinha é inútil. – Ele aproximou seu corpo ainda mais do dela para buscar o que havia em seu bolso. Tirou de lá a arma que ela havia usado para atirar em Voldemort. – Está carregada. – Ela disse e ele, muito próximo dela, o mar contido nos olhos dela. Uma mulher que parecia tão familiar e ao mesmo tempo tão transformada. – Faça tudo isso parar. – Ela suplicou num sussurro. – Por favor. Eu não posso vencer, é muito mais forte do que eu.

— Não! – Ele a contrariou completamente congelado.

— Por favor! – Ela suplicou quase que num grito. – Está me usando! – Ela ofegou em intensa agonia. – Por favor! Eu não sei onde vai parar!

A arma certamente estava carregada com o que quer que travara Voldemort, o que quer que havia o degradado, o despido de poder tão rapidamente. Ela sabia que aquilo iria mata-la ou no mínimo coloca-la em vegetação para o resto da vida. O que estava fazendo? Ele se via confuso. Quem suplicava por ajuda? Onde estava Morgana? Quem suplicava para ser parada? O que estava a usando? Quem estava implorando para levar um tiro daquele artefato trouxa?

Sua cabeça deu voltas. Um zunido de stress fez com que seus ouvidos tapassem e com que o mundo parecesse girar numa velocidade muito lenta. Era seu dever. Um do qual ele não havia se preparado. Um do qual ele nem mesmo havia sido alertado durante sua vida. Ainda assim, ele acomodou a arma trouxa em sua mão. Encarou os olhos de Hermione não muito distante dos seus. Era difícil lê-la. Era difícil saber o que se passava com ela. Mas não deveria se importante. Tentou se convencer de que não deveria se importar. Mas era uma tarefa impossível. Sua respiração ofegante deu lugar para o sofrimento que se tornava cada vez mais difícil de sufocar. Como ele poderia mata-la? Deixou sua varinha escorregar de sua mão para poder tocar o rosto dela uma última vez, mesmo que ela estivesse longe talvez. Conseguia ter meros encontros com a Hermione que conhecia por aquela íris. Eram naqueles momentos e reconhecia que o pedido vinha dela. Ela quem queria um fim.

Seus olhos embaçaram quando seu cérebro começou a ligar os pontos, a entender que aquele seria seu último momento com ela. Tudo nele pareceu doer. Cada centímetro do seu corpo começou a velar pela memória dela. Pelo que haviam construído do ódio, do desprezo. Pelo respeito que haviam aprendido, pelo companheirismo, pelo segurança que se permitiam sentir quando se uniam apesar das circunstâncias. Ele sentia que havia passado uma longa história com ela, e começava do primeiro momento em que seus olhos caíram sobre ela, anos atrás, quando ainda era crianças, quando tudo aquilo que passavam agora soaria como um pesadelo irreal, quando a ideia de que seus destinos se entrelaçariam de modo tão conturbado e bonito não soaria mais do que uma piada.

Ele guardaria. Guardaria cada centímetro do rosto dela. Cada curva do corpo dela. Cada toque que o fez estremecer. Guardaria os momentos em que haviam gritado um com o outro, do mesmo modo que guardaria os que haviam se enfrentado na cama aos que haviam se abraçado no calor dela, dos que se frustravam aos que riam. Guardaria os momentos que haviam divido no silêncio, a companhia um do outro. Guardaria as conversas, das profundas as mais divertidas. Guardaria cada dia que foi compartilhar de seus altos de baixos para gerar os filhos que ela havia lhe dado. A bela figura que ela havia sido. Sua viva silhueta. Guardaria o dia surreal que foi vê-los vir ao mundo. Guardaria os dias felizes, tristes, frustrantes e cansativos que haviam tirado do desafio de descobrirem juntos o que era ser pai e mãe. Guardaria a jornada deles. A sinfonia em sua totalidade, das notas mais desafinadas as mais belas. Era a obra de arte mais complexa que viveria, mais intensa, mais bonita. Merecia ser guardada. Muito bem guardada.

— Hermione. – Deixou o nome dela escapar de sua boca num sussurro apenas para sentir o sabor doce que vinha logo em seguida. Fechou os olhos e abraçou o corpo quase rígido e frio dela, dominado por um poder que ele não compreendia. Inalou o cheiro dos cabelos dela uma última vez e sentiu seu corpo querer entrar em colapso.

— Me salve de mim mesma. – Ela suplicou num murmúrio quase inaudível contra o ouvido dele.

Draco rangeu os dentes. Pressionou a arma contra a barriga dela. Acionou o gatilho.

— Eu te amo. – Disse em seu ouvido.

Seus dedos tremeram contra o gatilho. Estava fazendo aquilo por ela, pela sua súplica, não por ser um Malfoy. Preparou-se para o som que partiria do objeto em sua mão. Preparou-se para a força do recuo. Preparou-se para ter o corpo dela sem vida em seus braços. Preparou-se e lembrou-se da lição que Hermione havia lhe dado sobre como manejar armas de fogo com a destreza que ela tinha. A voz doce e sexy soando em seu ouvido enquanto o toque dela firmava a postura de sua mão. Ele esperou pelo momento que viria após o segundo que seus dedos apertassem o gatilho. O fim. O fim dela. Mas quem estava tentando enganar se sabia que matá-la também seria decretar o seu fim? Cerrou os dentes com força, sentiu uma lágrima quente dela escorrer para seu pescoço. Tentou. Realmente tentou. E foi exaustivo ao ponto de urrar e desmoronar derrotado aos pés dela sabendo que nunca em sua vida seria capaz de puxar aquele gatilho e ver o fim dela pelas suas mãos, seja fazendo uma vontade dela, seja cumprindo um papel Malfoy que lhe fora passado.

A derrota veio como um alívio quase bem-vindo apesar de saber bem as consequências de sua incapacidade, apesar de saber bem que ela quem havia suplicado para ser salva. Ofegou sentindo a tensão em seus músculos o julgando, o condenando ao destino que estava se entregando. Ao destino que o levaria embora junto com a cidade inteira que ela destruiria. Soltou a arma. Foi como ver o peso de ter sido forte por tanto tempo ser tirado de suas costas. Não precisava se responsabilizar pelo destino do fim de Hermione se simplesmente aceitasse que era incapaz de cumpri-lo, mesmo que isso significasse o início de uma era tão pior quanto a de Voldemort, ou mesmo que significasse o que fosse. E nada lhe trouxe mais paz do que saber que era inquestionavelmente incapaz de mata-la. Sentiu-se leve e apenas esperou para que o mundo acabasse ao seu redor e o levasse junto.

Mas o fim não veio.

Os segundos foram se passando e quando ele optou por erguer os olhos novamente, viu uma batalha que Hermione parecia travar com todo o poder que tinha nas mãos. O corpo travado dela parecia de modo muito sistemático provar que podia vencer a força que o continha. A terra tremeu novamente sob seus pés e ele começou a ver o luminoso poder que saia das enormes crateras que se abriram entrar num conflito contra o forte vendo que destruía a cidade. Hermione gritou dolorosamente. As cores se misturaram com o horror da destruição e do que levavam. As lendas daquilo que Brampton escondia eram apavorantes e apenas especulações. Mas ele temeu pelo que pudesse ver. No entanto, ver o corpo de Hermione se soltar aos poucos da tensão ao qual estava subjugado pareceu provar que ela estava, de alguma forma, ele não sabia como, lutando impossivelmente, arduamente, e sofridamente, para assumir controle e toda aquela guerra da natureza a sua volta era fruto disso. Ela urrou ofegante e tudo em sue rosto mostrava que a guerra por controle ainda acontecia, que o esforço era maçante. Ele apenas observou em completo choque. O corpo dela tremia, mas foi quando aos poucos, ele notou que a força do vento acalmava. Ela abriu os olhos e o encarou logo a sua frente, com a expressão aterrorizada que provavelmente havia estampada em seu rosto.

Aos poucos tudo nela suavizou. As linhas em seu rosto, seus olhos escureceram para a cor que ele conhecia, a sombras que pareciam cobrir o corpo dela sumiram e ela piscou para ele quase sem vida quando apenas a poeira de todo o caos que havia acontecido ficara suspensa no ar a medida que o silêncio e a calma assumiam o rescaldo. Seu corpo mole caiu para o lado e ele a segurou.

— Draco... – Ela sussurrou sem forças para ele num tom doloroso. Ele não soube o que estava acontecendo, mas foi domado pelo medo de perde-la ali. Uma mão dela ergueu-se trêmula e sem força para tocar com dificuldade o rosto dele. – Desculpa.

Uma lágrima escapou de seus olhos, mas antes que outra pudesse a seguir, o corpo dela pareceu desligar por inteiro e seus olhos fecharam rendendo-se a exaustão.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Quem aqui já assistiu “X-Men: The Last Stand”? Na vdd, quem é fã e conhece a storyline da Jean Grey dos quadrinhos? Eu sempre fui muito fã da Jean Grey e sempre me inspirei horrores na storyline dela pra Hermione de Cidade das Pedras. Tudo clicou no meu cérebro quando pensei qual animal Morgana seria se fosse um animago e cheguei a conclusão de que uma fênix era o animal ideal. Até mesmo num dos capítulos a Hermione vê um pássaro grande e azul em um sonho. Devo confessar que por MUUUIIITTOOOOO tempo eu tive na minha cabeça, o final de X-Men 3 como o confronto final de Draco e Hermione. Mais especificamente quando o Wolverine mata a Jean. Muito poético como ela entende que é perigosa demais para o mundo e pede para ser salva da própria força dela. Óbvio que a história da Hermione é um pouco diferente, mas tem um pouco de base na forma como a Jean lutava contra a “Phoenix force.”

Por muito tempo minha ideia era ter Draco matando Hermione. Eu estava muito certa desse fim para o casal. Mas ele não ia a matar porque esse era o esperado de um Malfoy, ou porque esse era o dever dele contra a linhagem dela. Ele iria a matar porque ela mesma se daria conta da própria força e veria seu fim como um sacrifício necessário. Porém, foi de um tempo pra cá, escrevendo a fanfic e entendendo melhor o desenvolvimento dos dois, que cheguei a conclusão de que a Hermione tinha que ser um sacrifício que o Draco não seria capaz de fazer. Porque querendo ou não, a vida inteira dele se resume em sacrifícios. Tudo para Draco sempre foi sobre abrir mão de suas próprias vontades para seguir o destino que um Malfoy deveria seguir. Draco nunca falhou em ser um Malfoy, nada mais justo do que Hermione ser a quebra disso. E nada mais justo do que a Hermione ver a quebra disso e entender como algo completamente inesperado.

Porque vamos fazer a análise que todos aqui já deveriam ter feito: Hermione nunca se entregou verdadeiramente para Draco, daí toda aquela história de castelo de areia e blablabla. Ela sempre teve um pé atrás com o Draco, sempre foi racional demais, por mais intensamente que ela pudesse ama-lo, ela sempre se guardou com relação a ele, por mais que se permitisse. Foi se afastando dele justamente por ter que encarar cada vez mais claramente o fato de Draco ter o dever de eliminá-la, ao mesmo tempo que sabia que ele nunca tinha falhado como Malfoy. Draco praticamente a ensinou sobre a importância de sacrifícios. Hermione não “deu a louca” por pouca coisa, gente. Ela foi fazendo sacrifícios que julgava necessário e cada um deles a maltratou de tal forma que ela se deixou vulnerável ao ponto de ceder ao vingativo espírito de Morgana, a “Phoenix force” dela. Ela se viu tão frágil que recorreu ao seu pior lado para tentar se fazer forte. Ela se deu conta de tudo isso quando perdeu controle tentando dominar o controle. E ainda se chocou por ver Draco preferir viver o fim do mundo do que ter que mata-la. Sim, o homem que havia a ensinado sobre sacrifícios, aquele que nunca havia falhado como Malfoy, o que ela via agindo cada vez mais como Lúcio Malfoy, cortando laços emotivos para poder jogar contra Voldemort sem hesitar, cortando os fundos financeiros da mãe presa na Catedral e bolando estratégias como se Voldemort não pudesse usar o filho Scorpius para castiga-los pelas ameaças ao Império. Na situação em que ela estava, era só isso que ela enxergava, sem contar que se via igualmente no papel de Sra. Malfoy, tendo que fazer os mesmos exatos sacrifícios. Que pessoa não iria a loucura? Ainda mais sendo a Hermione racional que sempre foi, onde que no meio de tudo isso tentava buscar por racionalidade. Acho que a última prova que Hermione precisava para quebrar todo o caos, era ver Draco a colocando a frente de tudo, separando-a de todo o resto e a decretando como algo intocável. Era talvez o que ela precisava, ter a prova de que para ele, ela estava acima do nome Malfoy. Pedir desculpas no fim, foi a forma de pedir perdão por não ter enxergado isso antes do estrago ser feito.

Enfim, foi um capítulo pequeno, mas intenso, acredito. Vamos ver o desenrolar de tudo isso no próximo e penúltimo capítulo. Abram o coração de vocês e me deixem saber tudo. Quero feedback!