CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 51
Capítulo 44 - Parte 2




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Hermione Malfoy

 

 

Era alto na madrugada quando finalmente fez seus saltos pisarem o piso de pedras ladrilhadas do centro de Brampton Fort. Todos estavam dormindo. Estava escuro. A manhã estava longe de se mostrar. Não havia quase nenhuma guarda na rua. Exatamente como ela previa. Com os ataques nos Fortes, Theodoro usaria de todas as forças disponíveis para agir, ainda mais tendo uma demanda tão escassa de exército.

 

Havia sido difícil driblar a guarda do Ministério sem sair das sombras. Gastou um bom tempo para conseguir zerar toda a segurança e arrumar um jeito de manter o andar técnico inacessível. Mas quanto mais ela quebrava os limites de sua própria habilidade, mais fácil era vencer o próximo desafio e mais claro enxergava seus objetivos.

 

Encarou a imagem da Catedral logo no fim da avenida do centro. Imponente. Medonha. E completamente frágil. Seus membros quase formigavam com a vontade de encontrar uma forma de fazer aquele lugar explodir. Era incrível como tudo em sua mente parecia possível agora. Sabia que tinha suas limitações, mas era como se tivesse algo dentro dela discursando de que era capaz de romper suas limitações. Estudara meses para conseguir produzir a magia que colocara em volta da casa dos pais de Harry anos atrás, por muito tempo considerara aquilo um dos seus grandes feitos. Se aquela Hermione visse a que acabara de desligar todo o sistema de proteção do Ministério, conseguira refletir sua imagem sobre um dos soltados da guarda, extraíra a poderosa magia remanescente de um objeto que não se fazia mais material para abrir um portal e agora pisava em território inimigo revestida de magia de distração para não ser reconhecida, certamente aquela Hermione iria rir por achar que era tudo uma grande encenação.

 

Fechou a longa capa que pegara de um dos guardas do Ministério e cobriu-se com o capuz avançando pela rua vazia, escura e silenciosa camuflando-se no escuro da noite. Seu coração estava cheio de ódio por estar naquele lugar novamente. Embora tivesse criado uma história ali e aprendido a enxergar um lar nas terras de Brampton, era como se houvesse um filtro em seus olhos e ela só conseguisse enxergar vingança. Não precisava de uma profecia. Não estava presa a uma. Tinha nela o sangue de Morgana. Se era capaz de ser metade da bruxa que Morgana havia sido, não precisava de ninguém além dela mesma para derrubar Voldemort, derrubar aquela ditadura, destruir seus inimigos e aqueles que entrassem em seu caminho. Ela já havia comprometido demais, esperado demais, sido manipulada demais, colocado demais em jogo, perdido demais, sofrido demais.

 

Se Voldemort tivesse um dia pensado que seria capaz de fazê-la de fantoche pra sempre, ele estava enganado. Se um dia tivesse pensado que poderia simplesmente usar seu filho para manipula-la para tê-la por perto como um perigoso inimigo bem domado, ele estava muito iludido. Não ousava dizer que não havia sido uma boa estratégia e que a fizera jogar o jogo dele por muito tempo, mas ninguém nunca mais teria o poder de manipulá-la daquela forma. Nunca mais. Iria certificar-se que nunca mais sequer alguém ousasse. Tinha muito mais força do que o mundo bruxo inteiro unido. Seus filhos tinham. Scorpius tinha. Muito mais que ela ainda. Escutava tudo aquilo como se fosse um sussurro constante em seu ouvido.

 

Quando seus pés pisaram no pátio principal da Catedral ela entendeu o impacto do que Draco estava fazendo com os outros fortes. Haviam somente dois guardas. Dois! A equipe que revezava guardando a entrada principal era um time de mais de quarenta comensais. Dez era o mínimo que sempre deveria estar em posto.

 

Não foi reconhecida quando passou para o lado de dentro. Assentiu para os dois guardas quando passou por eles e apenas recebeu de volta um estranho olhar e uma confirmação confusa. Exatamente como faria se nada tivesse acontecido. Ela era boa com magia. Era muito boa com magia.

 

Sabia onde Narcisa estava, sabia onde Scorpius estava. Mas ele seria o seu prêmio quando vencesse primeiro o seu desafio. Não estava ali para pegar seu filho de volta apenas. Estava ali para destruir a ameaça. Uma que só ela podia destruir. Uma que só ela merecia destruir. Ela queria se deliciar com o sabor de ver o fim de tudo aquilo vir pelas suas mãos.

 

Seus pés a levaram exatamente para a sua primeira parada. A torre de Lorde Voldemort ficava em uma ala muito restrita, muito bem protegida e muito bem elitizada. Toda a corja que sentava nos altos patamares do trono tinham apartamentos por ali. A catedral havia sido a primeira locação protegida de Voldemort em Brampton Fort. Seus principais aliados haviam saído dali a medida que a cidade foi se fazendo e expandindo.

 

Hermione nunca visitara os aposentos oficiais dos Malfoy ali, mas conhecia bem a disposição e onde ficava o que. Não estava procurando pelos apartamentos da família de seu marido. Sua primeira parada ficava próxima a subida para a torre de Voldemort, quase ao lado dos aposentos Malfoy. Tinha um sobrenome que incitava o ódio e o desprezo. Severo Snape. O homem que havia se tornado tão ruim quanto Voldemort.

 

Foi extremamente cuidadosa ao movimentar-se pela Catedral. Por mais que estivesse revestida em distração, era suspeito ter alguém perambulando no meio da noite provocando confusos olhares. Por mais que a guarda estivesse ridiculamente baixa, ela ainda era cuidadosa. Não precisava que alguém a reconhecesse para terem a iniciativa de pará-la. Assim que chegou perto da torre de Voldemort, começou a se esquivar procurando as sombras que as tochas nas paredes não eram capazes de iluminar. Tudo parecia muito vazio, abandonado. Ela conseguia sentir a tensão na cidade em todo o lugar. E quando tentava respirar fundo e concentrar-se na concentração de magia de todo o espaço, ela conseguia sentir o quanto as terras de Brampton estavam fragilizadas pela falta dos Dementadores. Era sensível ao peso da maldição naquele lugar como nunca antes fora. Seus sentidos estavam extremamente aguçados.

 

Avançou com cuidado, mas precisou se jogar rapidamente nas sombras quando escutou de longe uma troca de argumentos. Hermione não se arriscaria aproximar-se, mas fechou os olhos, concentrou-se e por baixo de sua respiração pronunciou um feitiço para expandir sua audição. Precisou se concentrar ainda mais quando reconheceu a voz de Snape.

 

— ...Draco não iria avançar com toda força contra o Império de uma vez, Mestre. Tenho estudado a estratégia dele por anos! Confie em mim. Tenho sido os seus olhos por muito tempo. Não errei quando disse que Hermione seria a única mulher por quem Draco poderia ter alguma chance de se apaixonar. Não errei quanto a descendência dela. Não errei quanto aos benefícios que isso poderia trazer para o seu império. Não errei quando disse que Lúcio iria encher os olhos com a chance de fazer a linhagem dele ser mais do que já era. Não errei. - Snape era incisivo.

 

— Errou quanto as ambições de Draco! Errou quando duvidou da traição dele. - Voldemort não carregava um tom irritado, mas extremamente ameaçador.

 

— Não podia ter contado com a queda de Lúcio, mestre. Teria sido diferente com Lúcio de pé! - Snape justificou-se. - Mas posso certifica-lo que os Malfoy ainda são maleáveis e domináveis enquanto oferecidos poder.

 

— O que tem te faltado enxergar é que os Malfoy não querem poder, Severo. Conheço ambição melhor do que qualquer um. Os Malfoy querem ser o poder, querem estar acima dele, querem dominá-lo, não querem apenas possuí-lo. Eles vêm tramando a ascensão da família por mais tempo do que imagina e a rebelião de Draco é um exemplo de que vão se aproveitar do meu Império para isso e não duvido que isso tenha estado na pauta da família desde quando juraram lealdade a mim pela primeira vez.

 

— Do que interessa realmente? Conseguiu usá-los tempo o suficiente para montar seu Império. Acredite, Draco irá recuar mais cedo ou mais tarde com medo de que a sua figura assuma a linha de frente do exército. Ele não quer que faça isso. O mundo sabe que no momento em que tomar a posição de Theodoro, até mesmo aqueles que se aliaram a rebelião dele vão entrar em dúvida. O mundo teme que tome a frente novamente. Todos eles se lembram dos primeiros anos de guerra. E deve se lembrar de que ele está tentando assustá-lo. Mostrar que não se importa, que não tem medo, que sabe lidar com as ameaças, mas a verdade é que ele pode derrubar o Império mas você ainda terá nas mãos a única chance do nome Malfoy sobreviver as próximas gerações. Você ainda tem a mãe dele. O pai. Sobretudo, o filho! Tudo que ele tem é a mestiça que carrega a maldição de Morgana e a menina que não vale de nada para a linhagem dele.  As duas são um peso. Deve confiar que ele irá pensar mais como um Malfoy e com as responsabilidades que vem com isso do que como o pai de família que ele pensa que quer ou que pode ser. Ele não vai sacrificar o filho sabendo Hermione Malfoy não pode produzir mais nenhum outro para ele.

 

— Ele não é idiota, Severo. Ele tem uma estratégia!

 

— Ele também tem limitações. Sabe que não está acima de você, Lorde, mesmo tendo o exército que for. Aquela poção é incerta, pouco aperfeiçoada, não tem longa duração. Draco está improvisando mais do que ele queria poder estar. Deixe Theodoro ter tempo de tomar o controle dos fortes. Brampton Fort ainda segurará por tempo o suficiente. O mundo precisa saber que confia na autossuficiência do sistema que criou. Isso é só mais uma prova, mestre.

 

— Brampton Fort está fraca. Sem os Dementadores por tanto tempo a locação já deixou de ser impenetrável e invisível. A maldição já está dando seus sinais faz um bom tempo e nós todos vamos ser engolidos.

 

— Brampton Fort irá segurar. A maldição não tocaria um líder a sua altura. O movimento de Draco irá morrer. Hermione Malfoy irá encontrar sua instabilidade mais cedo ou mais tarde. Quando ele fracassar, poderá fazer com ele o que bem entender. O terá em suas mãos como nunca e os Malfoy irão se refugiar novamente na fortuna que possuem para garantir que você não os destrua. Terá todo o poder dos cofres deles, inclusive da pedra de Merlin. Sempre quis isso, mestre.

 

— Admiro o seu cérebro, Severo. Mas devo lembrá-lo de que também serve de uma boa refeição para Nagini. Espero que nem mesmo cogite imaginar a punição que receberá se um dia ele me falhar.

 

— Mestre. Sabe que sou o mais fiel de todos. Me importo com seus interesses mais do que qualquer outro de seus servos. O dia em que meu cérebro falhar, irei ser o primeiro a me punir antes que permita que dê a mim o fim que merecerei pelas suas mãos.

 

— Não acredito em nenhum desses discursos. Nagini descerá para lhe fazer companhia quando eu julgar que sua mente precisa ser refrescada.

 

— Sim, mestre. - Snape respondeu.

 

Hermione escutou uma porta bater não muito tempo depois. Considerou que Voldemort havia acabado de prestar uma visita a Severo Snape. Ainda com sua audição em expansão, monitorou os passos de Voldemort e os rastros de sua cobra subindo para sua gloriosa torre. Torceu para que Voldemort não voltasse a pensar em Snape pelo resto daquela madrugada.

 

Recuou com sua audição e seguiu seu caminho, a porta bem ornada dos aposentos de Severo Snape não estava muito longe e assim que conseguiu ficar de frente para ela, seu coração ardeu com a vontade do que estava por vir. Ela saberia se deliciar. Tinha sede de poder se deliciar com o que estava por vir. Sussurrou o feitiço certo para destravar a porta dele e ela abriu devagar e silenciosa diante de seus olhos. Fácil.

 

Passou para o lado de dentro preparada para receber a reação dele, mas Snape estava de costas organizando o que parecia ser sua estante de amostras numa antessala que se abria logo que se entrava em sua locação na Catedral. Ela aproveitou que ele não a notara como intrusa e levantou uma magia de confinamento no perímetro para que nem a voz dela nem a dele por mais alta que fossem escapasse as paredes daquele espaço.

 

Irritou-se com a demora dele em sequer desconfiar que seus aposentos não poderiam ser uma fortaleza que ela acabou por segurar a porta atrás dela e batê-la para chamar atenção.

 

Snape virou-se sacando sua varinha e deixando algum de seus frascos irem ao chão. Hermione conseguiu ordenar que a varinha dele voasse para longe sem nem mesmo precisar empunhar a sua. Despiu-se do capuz e ele ficou extremamente confuso. Ela precisou apenas usar a boca para proferir os feitiços certos fazendo as mãos dele grudarem abertas sobre a mesa que havia entre eles. Snape tentou movê-las, mas estavam longe de seu controle. Hermione ordenou que uma cadeira fosse puxada por trás dele o obrigando a sentar-se. Logo também imobilizou os pés dele prendendo-os ao chão. Ele não tinha para onde ir.

 

Céus, já estava se deliciando.

 

— O que foi, professor? Nunca viu uma magia de distração com esse nível de complexidade? - fez sua voz soar.

 

O olhar dele mostrou como sua mente conseguira clarear ao ouvir a voz dela.

 

— É você. - Reconheceu ele. - Demorou mais do que eu imaginei para me prestar uma visita. - Usou aquela voz que não demonstrava qualquer emoção embora soubesse que ele estava receoso.

 

Hermione desfez a magia de distração que a envolvia. Puxou uma cadeira e sentou-se do outro lado da mesa. Civilizadamente, cruzou as pernas mantendo sua perfeita postura.

 

— Estou desapontada que nem mesmo medo sou capaz de encarar nos seus olhos. Não o surpreende que eu esteja aqui e você não esteja ouvindo os disparos dos canhões alertando intrusos?

 

— Não tenho dúvidas sobre suas habilidades. - Foi tudo que ele respondeu assumindo sua comum inexpressividade tediosa. - Ainda mais agora que sabe do que pode ser capaz. Consegue se conectar com muito mais clareza, não é mesmo?

 

Hermione teve ainda mais raiva e nojo da forma como ele queria se mostrar inabalado, mesmo estando imóvel como estava.

 

— Gostaria de saber o que está se passando pela sua cabeça ao me ver aqui. Porque honestamente, se está tentando se mostrar indiferente com a minha presença, certamente tem me surpreendido.

 

— Quer respostas. Sempre imaginei que um dia bateria em minha porta pedindo por elas. Demorou mais do que eu esperava. E devo confessar que não pensei que pudesse ser nessas circunstâncias. Se acha que tenho medo por estar sendo agressiva, sim eu tenho, mas sei que tenho suas respostas e sei que as quer, então não estamos longe do desequilíbrio. Estou apenas esperando que faça as perguntas certa.

 

Hermione forçou um sorriso. Ele estava sendo bastante ingênuo.

 

— Você só pode estar se fazendo de idiota, professor. Não deve estar mesmo pensando que isso aqui será uma entrevista civilizada tendo plena consciência de que o buraco em que estou agora é resultado da sua língua venenosa nos ouvidos de Voldemort. - Ela se levantou e caminhou calmamente para trás do homem enquanto continuava seu discurso. - Vendeu o meu sangue como se fosse seu. Negociou o meu e o do meu filho. Eu teria aceitado a morte mais facilmente do que aceitei me casar com Draco, fazer um filho com ele e dá-lo nas mãos de Voldemort. Sua língua venenosa me colocou dentro de uma família que pretendia acabar comigo depois de ter sua linhagem modificada as minhas custas. Me colocou numa família que não pode me aceitar. Numa família cujo o artefato mais importante, o que mais os representa, e o é reconhecido por protege-los, rejeita o meu sangue. Acaso sabia que não posso pegar a pedra dos Malfoy? - abaixou-se levemente trazendo sua boca ao nível do ouvido dele enquanto esticava a mão e pegava o afiado abridor de cartas pousado sobre um livro na organização metódica daquela mesa. Severo começou a se mostrar inquieto, exatamente como ela queria. - De quem acha que eu me lembrava quando via todo mês uma equipe do St. Mungus chegar em minha casa a mando da Catedral para furar o meu minúsculo e indefenso recém-nascido para lhe tirar mais litros de sangue que seu corpinho podia segurar? - ela sentiu seus dentes quererem ranger ao se lembrar de todas as vezes em que se sentira inútil ao assistir seu filho chorar, gritar e soluçar inconsolável durante aquelas longas sessões. Ela queria ver Severo sofrer pior. - Eu sei que todas aquelas exageradas amostras eram mandadas direto para o seu estoque onde podiam ser cozinhadas com o uso da magia mais ilícita possível pelas suas preciosas mãozinhas! - desceu o afiado abridor de carta contra uma das mãos dele colada à mesa. O grito do Homem foi alto e choroso quando ele se contorceu em sua cadeira impossibilitado de mover-se mais. Hermione apenas aumentou seu tom de voz. - Não pense também que não sei que é o responsável pela criação das maldições que fazem de mim incapaz de produzir mais filhos. O responsável por ter colocado em minha comida o veneno que matou minha primeira filha. O que tem convencido Voldemort a matar a irmã de Scorpius. E o que o incentiva a me eliminar por ser uma demasiada ameaça ao controle dele. Acredita mesmo que não sei ligar os pontos? Pode gritar o quanto quiser. Ninguém irá escutá-lo.

 

— Você não ousaria me matar! - Snape quase gritou, quase urrou, quase rangeu em sua tentativa de dizer aquilo por entre seu sofrimento.

 

— A morte é banal demais para o que você merece. - Ela segurou novamente a ponta do abridor de cartas e puxou para fora da mão de Snape fazendo com que mais sangue escorresse e pingasse. O homem urrou mais arqueando-se em extrema dor. - Tenho bastante consciência que pode me responder várias perguntas que carrego. Mas não pense que irá respondê-las desfrutando de todo o conforto dos seus aposentos. - brincou Hermione saboreando-se da dor dele. Voltou-se para a estante atrás dela. Procurou por Veritaserum. - Estou certa de que pode se acostumar o suficiente com a dor para poder mantermos um diálogo.

 

— Acredite, não é um bom negócio por em prática as habilidades de tortura que aprendeu com seu marido trabalhando no departamento dele esses últimos anos. - Severo sofreu para dizer.

 

Hermione riu. Deu a volta na mesa, sentou-se do outro lado exatamente como antes, cruzou a perna e colocou a pequena amostra de Veritaserum sobre a mesa entre eles.

 

— De que forma você se acha válido para mim? De que modo espera que eu prefira não acabar com sua vida hoje? - perguntou curiosa.

 

— Eu sempre sou aliado de quem tem mais poder. Lúcio saberia o valor que eu poderia ter para a família Malfoy.

 

— Não sou Lúcio Malfoy. E de que habilidades está falando? Só porque consegue ser um dos maiores mestres de poções da última década não significa nada. Ou acaso está se referindo a suas habilidades manipuladoras? Até mesmo Voldemort, que lhe dá ouvidos, reconhece o veneno que pode ser para o Império dele. Deve me desculpar, professor, mas para mim, vê-lo morto tem mais valor do que o que quer que possa me convencer de que é útil.

 

— Eu posso te ensinar.... - Ele sofria. - Te ensinar a controlar a alma de Morgana em você.

 

Hermione se calou ao processar aquilo. Sim. Ela queria coletar aquele tipo de informação. Empurrou o vidro de poção para ele e fez com que sua mão saudável o segurasse.

 

— Beba. - Ordenou.

 

— Sabe que Veritaserum pode ser manipulável, não sabe? - Ele jogou.

 

— Confie em mim. Tem uma distração maior para lidar agora do que vencer os efeitos da poção. - Ela se referiu a mão ferida e ensanguentada sobre a mesa.

 

Sabia sim que Veritaserum poderia ser resistida, principalmente quando a vítima tinha consciência de que estava a ingerindo. Mas mesmo assim, Hermione conhecia as propriedades da poção e o poder da indução a verdade a ajudaria, além do mais, sabia que a dor na mão ferida dele roubaria muito de sua atenção ao tentar resistir a poção. O que ela precisava mesmo era de uma ajuda extra para controlar a língua manipuladora de Severo Snape.

 

— Sei resistir bem a essa poção...

 

— Não tire mais da minha paciência, professor. Fiquei tempo o suficiente no Departamento de Draco para saber como fazer alguém beber uma poção contra a própria vontade. Não me faça ter que usar de uma dessas técnicas em você.

 

Severo Snape mostrou-se inconformado. Mal parecia estar se aguentando. Entre suas respirações pesadas e gemidos, arrancou a rolha do frasco com os dentes e bebeu o líquido.

 

— Terá que me dar algo para dor. Não posso pensar nesse estado. - Seu rosto mostrava ódio agora.

 

Hermione mostrou o frasco que estava em sua outra mão. Não era nenhuma poção que acabaria com o sofrimento dele, mas era uma erva que certamente iria o trazer algum tipo de alívio para aguentar o estado em que ela deixara a mão dele.

 

— Primeiro terá que provar que merece essa ajuda. - Tornou a esconder a frasco em sua mão. Ajeitou sua postura. - De que modo desconfiou que eu poderia ser descendente de Morgana quando ainda era sua aluna em Hogwarts? - começou seu interrogatório.

 

— De que modo você não desconfiou de que era uma? - ele rebateu. - Para alguém que gostava de exibir o talento que tem e também a brilhante mente sabe-tudo, me surpreendia que você não desconfiasse de si mesma.

 

— Eu era uma bruxa. Todas as minhas desconfianças sobre mim mesma foram sanadas quando Minerva bateu na porta dos meus pais quando completei onze anos. Sempre perguntei a ela durante anos o por que a magia parecia vir a mim com mais facilidade e ela sempre me respondeu com um bonito discurso de que eu me empenhava para dominá-la. Sempre fui dedicada, esforçada, curiosa. O discurso de Minerva era de que magia pressentia o respeito que eu tinha por ela, dessa forma fluía por mim com mais liberdade. - Hermione mal conseguia acreditar que vivera por tanto tempo em um mundo de flores e primavera, e que aquele discurso um dia para ela lhe fizera todo o sentido.

 

— Minerva sabia quem você era. - Ele sofreu para dizer. - Ela foi quem me procurou nos seus primeiros anos de escola para expor a desconfiança de sua linhagem.

 

Hermione ficou em silêncio ao sentir um amargo no fundo da garganta por nunca ter ouvido de Minerva qualquer mínimo detalhe sobre quem verdadeiramente era. Sobre seu passado. Sobre aqueles que vieram antes dela. Tivera o maior respeito e admiração pela professora por anos.

 

Irritou-se com o modo como Snape audivelmente expressava a dor em sua mão. Soltou o frasco de vidro sobre a mesa permitiu que ele o pegasse. Snape rapidamente bebeu da poção com sede por alívio, por mais mínimo que fosse.

 

— Continue. - Ela exigiu assim que o efeito da poção o ajudou a conseguir controlar mais sua respiração.

 

Snape tomou mais algum tempo para se recompor e depois continuou:

 

— Ninguém como você passou por Hogwarts antes. Todos os professores desconfiavam do seu talento, mas depois que o burburinho entre os professores começou a ficar sério, Minerva logo escondeu sua figura atrás de como você se dedicava de um modo que nenhum outro aluno havia se dedicado antes. Fui curioso mais do que os outros, porque percebi que Minerva estava te escondendo por ter descoberto algo. Ela quem fez todo o trabalho de ir atrás de seus pais, de perceber que a memória dos dois haviam sido alteradas para acreditarem que você era filha deles, no lugar da morta que haviam perdido no hospital. Foi ela quem conseguiu rastrear como você foi parar nas mãos de quem a criou. Isso a levou até os Malfoy, justamente porque sua mãe verdadeira estava fugindo deles antes de te entregar. Ela logo percebeu o perigo que isso representava para você. Mas porque ela foi atrás dos Malfoy cavando sua história, eles souberam da sua existência muito cedo. O diário amaldiçoado que abriu a câmara de Slytherin no seu segundo ano deveria ter ido parar no seu caldeirão, não no de Gina Weasley. Lúcio queria vê-la reagindo a maldição do diário para que pudesse confirmar suas suspeitas. Ele preocupou-se com a atenção que Draco te deu desde cedo educando-o a olhá-la com preconceitos. Preocupou-se com a sua aliança a Harry Potter. Mas por muito tempo você foi só uma desconfiança dele. Até que quando o Lorde das Trevas voltou, ele revelou que através da maldição do diário, recebeu a mensagem do Basílisco sobre uma mestiça de sangue superior. Apenas liguei a informação dele a você. Nessa altura eu já havia sido seu professor por tempo o suficiente para ter certeza de que nenhum bruxo, por mais estudioso e dedicado que fosse, podia ser capaz de dominar magia como você era capaz. Lúcio entregou a peça que faltava para montar o quebra-cabeça e a partir daí eu fui quem soube salvar seu pescoço se quer mesmo saber. Por que fui eu quem te estudou, eu quem soube convencer Voldemort que a ameaça que você era podia ser controlada e explorada. Eu quem convenci Lúcio de que seu sangue poderia transformar a linhagem dele, sem os custos tão sérios que ele imaginava. Portanto, se está viva hoje, deve isso a mim. - Findou ele.

 

Ela estreitou os olhos.

 

— Eu tenho vivido um inferno por sua causa e ainda espera que eu seja grata por isso? - Ainda não conseguia acreditar que dificilmente ele poderia estar tentando manipulá-la com aquele discurso.

 

— Te estudar foi uma das coisas mais fascinantes que fiz. Eu sei o que é, sei o que pode ser. Sei exatamente os estímulos que precisava para conseguir potencializar toda a capacidade que carrega no sangue. Eu tirei a corda de seu pescoço e te coloquei num lugar de acessão. Você nunca almejou poder, e eu sei que agora mais do que nunca, isso é tudo pelo qual mais almeja. Não estou certo?

 

Sim, ele estava. Ela queria todo o poder do mundo para acabar com pessoas como ele, como Voldemort, como o Império. Queria todo o poder do mundo para que ninguém nunca mais pisasse nela como haviam pisado.

 

— Não me diga que estava esperando que eu destruísse Voldemort, assumisse o Império e te agradecesse no final, estava?

 

— Bem. Não precisa necessariamente me agradecer.

 

Ela teve que rir.

 

— Você é mesmo inacreditável. - Teve que dizer.

 

— Não minta para você mesma. - Ele se irritou. - Você sabe que existe uma parte sua que quer o lugar do Lorde. Uma parte sua sabe que ocuparia o lugar dele melhor do que ele. É o que Morgana iria querer e você está cada vez mais se conectando a ela! Uma parte sua considera estar acima de tudo e de todos. Seria uma posição que qualquer um que a desejasse, pensaria mais de mil vezes antes de ir contra você. Você sabe que é poderosa. Consegue sentir isso nas suas veias cada vez mais forte, mais apurado. Sabe que está acima do Lorde das Trevas. Se sente cada vez mais forte. Quanto mais se reconhece como quem é, mais forte fica, mais fácil consegue manipular magia, mais rápido consegue agir, desafiar limites, vencer desafios. Consegue ouvir a voz dentro de você, como um instinto, te direcionando para assumir aquilo que está destinada a ser. Não fuja.

 

Como ele sabia de tudo aquilo?

 

— Eu apenas quero aqueles que me ameaçam mortos. - Soltou com os dentes travados.

 

— Não seja hipócrita. Sabe que não é só isso que quer.

 

— Não sabe nada sobre mim.

 

— Sei muito sobre você. Sei sobre a Hermione Granger. Metida a sabe-tudo, orgulhosa, prepotente. Desde cedo sempre soube que era melhor do que os que estavam ao seu redor. Sei sobre a Hermione Malfoy. Ainda mais orgulhosa, mais severa, firme, impenetrável. E sei muito sobre Morgana. Assustadoramente poderosa. Inatingível. Ambiciosa. Eu sei que o que está destinada a ser.

 

— Como pode ter tanta certeza daquilo que realmente quero?

 

— Porque um pedaço da alma de Morgana tem passado de descendente em descendente até você. Morgana foi a única bruxa que ao se ver derrotada, conseguiu dividir sua alma antes do fim para poder viver naqueles que carregavam seu sangue e um dia poder se vingar. - Ele disse e Hermione sentiu seu estomago pesar. - Sua linhagem mal sobreviveu. Se esconderam. Nenhum deles foram parar em Hogwarts, alguns se fizeram de aborto. Se misturaram entre os trouxas. Fugiram da caçada dos Malfoy por anos. Deram as costas a magia. Aprenderam que quanto menos tivessem conhecimento sobre tudo que envolvesse magia, melhor. Você é a última deles. Sua mãe morreu pelas mãos de Lúcio mal sabendo verdadeiramente o que era, quem era, do que era capaz.

 

— Está tentando me convencer de que sou uma Horcrux?

 

— Não preciso te convencer de nada. Sabe melhor do que eu sobre o instinto dentro de você.

 

— Nenhum bruxo jamais conseguiu dividir sua alma. A possibilidade de produzir Horcruxes sempre foi mais um mito do que uma realidade. – Ela mesma sabia que Voldemort tentava fazer o mesmo desde a adolescência e era a prova viva de que Horcrux era uma lenda. As tentativas incessantes e frustradas mostravam-se aparente na desgastável figura ofídica que verdadeiramente era. Se as habilidades dele não eram suficientes, se os sacrifícios do empenho dele não eram, talvez a de nenhum bruxo fosse.

 

— Morgana conseguiu. E fez tão bem e com tanta destreza que colocou sua alma no gene de sua herdeira, de modo que fosse passado de um para o outro. Multiplicando-se. Uma pena que os Malfoy tenham feito um trabalho tão bom em caçar cada um deles através dos anos que você tenha sido a única de pé. – Ele anunciou.

 

Hermione calou-se. Precisou de tempo para digerir aquilo. Sabia o que eram Horcruxes, sabia o que significavam. Era assustador pensar nas consequências de ter o conhecimento daquilo. Poderia até mesmo chorar ao ver o quanto sua própria alma estava comprometida. O problema é que nela já não havia mais nenhuma lágrima. Tudo era deserto.

 

— Estavam destruindo o reino dela quando a mataram. O império que ela construíra. – Hermione pensou alto. – Dividiu sua alma e colocou um pedaço em busca de vingança em cada um daqueles que vieram depois dela carregando seu sangue. – Era incrível como a aquela lógica fluía de dentro dela, e não da boca de Snape tentando esclarecer sua procedência. – É por isso que dar espaço ao meu espírito vingativo me faz querer poder? Me ajuda a produzir magia avançada com facilidade? Quanto mais eu der espaço a alma dela que há em mim mais ela irá se fortalecer.

 

Severo Snape assentiu.

 

— Entenda que ela precisa mais de você do que você dela. Portanto, quando mais ela se fortalecer, mais espaço você terá para ser ainda maior.

 

— Uma pena que eu esteja atrás da minha vingança, não da dela. – Só porque carregava um pedaço da alma de Morgana, isso não fazia dela uma missionária de quem a bruxa havia sido, ou um recipiente por onde ela agora podia agir.

 

— Engana-se por pensar assim. – Snape disse. – Quanto mais espaço der a ela, mais irá se sentir inclinada a tornar-se como ela. É como uma maldição. Você a carrega. Quanto mais consciente se tornar disso, mais irá sentir-se atraída em assumir seu gene. Tende a piorar, se quer ver por esse lado. – explicou ele. – Se quiser ver pelo meu, seu potencial pode ser infinito, mesmo tendo um sangue mais mestiço do que bruxo. É um território desconhecido, mas se Morgana fez essa magia tão bem quanto eu espero que tenha, é possível que possa quebrar as limitações do seu sangue fraco se tentar conectar-se e entrar em sintonia com a parte dela que carrega em você. E tenho certeza que sabe o caminho para isso, porque sei que não chegou até aqui proferindo magias conhecidas ou até mesmo executando feitiços que aprendeu em livros didáticos. – Um longo silêncio percorreu entre eles. Snape se mostrava fraco já. Estava ainda perdendo sangue. – O Império está pronto se o tomar. Tem uma boa estrutura. E aposto que conhece os pontos fracos já que os explorou para fazer o estrago que fez. Você sabe que faria um governo melhor do que o do Lorde das Trevas. – Ele pareceu findar. Hermione ficou calada. Encarava Snape e absorvia as palavras dele par dentro de seu sistema. O amargo delas passava pela sua garganta e se assentava em suas entranhas com uma certa chama de anseio. Era estranho porque sabia que era loucura tudo que ele dizia, mas ao mesmo tempo uma parte de si parecia querer assumir aquelas palavras como se fosse algo natural, como se tivesse esperado por muito tempo para ter a chance de finalmente estar acima de todos. – Você foi feita para isso. – Retomou Snape. – Pense em toda a sua jornada. No fundo, tudo o que sempre quis, mesmo quando se via limitada ao corpo de uma nascida-trouxa, era ter poder o suficiente para vencer suas ameaças e garantir que ficaria por cima de todas as outras possíveis que surgissem. Morgana foi uma rainha. É natural que quanto mais se conectar com ela, mais irá rejeitar qualquer posição que esteja abaixo ao de uma rainha como a que ela foi. Autoritária, poderosa, grande.

 

Hermione continuou calada. Ela não pensava na posição de Voldemort. Jamais havia. Nem agora, depois do que ouvira, considerava. Mas sentia uma repulsa por uma parte de si estar simpatizando com a ideia de soberania era no mínimo surpreendente e assustador. Draco havia a acusado de estar procurando o mesmo. Será que ele já havia enxergado através do que ela mesma procurava não aceitar, ou ela já aceitara e ele apenas havia a lido. Ela já estava dançando com a ideia de superioridade ao se aprofundar em suas habilidades fazia um tempo.

 

— E quanto aos meus filhos? – ela quebrou o silêncio.

 

— O que? – ele pediu por algo mais específico.

 

— Carregam o mesmo que eu? São Horcruxes tanto quanto eu? – perguntou.

 

— Sim e não. – respondeu Snape. – O gene de Morgana definitivamente está neles, mas o sangue Malfoy é protegido. Merlin conseguiu de algum modo abençoar o sangue Malfoy com características que só foram provadas pelo tempo. Malfoys foram capazes de manter a linhagem extremamente pura, fortificando ainda mais o gene, tanto que as características físicas de um Malfoy são distinguíveis dos demais. Otimizando ao máximo a proteção de Merlin eles foram capazes de tornar isso visível no campo físico. Teria sido ainda melhor se tivessem se reproduzido entre si, mas não foram capazes de manterem-se tão puros assim. Mas ainda assim, o mundo é capaz de reconhecer os traços Malfoy. Eles tornaram o sangue tão forte que mesmo cruzando com o seu, os dele prevaleceram, algo que talvez algumas gerações passadas não teriam conseguido. O sangue Malfoy agora está mais forte do que nunca. É notável nos seus filhos. Os traços Malfoy são fortes. É possível que a pedra dos Malfoy também esteja jogando de algum modo em tudo isso, porque ela definitivamente vem protegendo a família há anos e certamente tem criado uma barreira impedindo que a maldição de Morgana se manifeste neles. É óbvio que terão dotes diferente dos demais, afinal eles herdaram o sangue de Morgana e o de Merlin, ninguém na história do mundo bruxo teve um sangue tão poderoso, tão forte. Tanto que fui capaz de usá-lo no Lorde. O gene forte dos Malfoy e a pedra apenas os protege da maldição.

 

— Como pode saber tudo isso? – sentia-se perdida.

 

— Sabe que sangue fala muito em um bruxo, é por onde nossa magia fluí. Sabe muito bem. Tanto que ser chamado de “sangue-ruim” ou “mestiço” é uma das piores ofensas para um bruxo. Eu tenho amostras do seu e dos seus filhos. Já os estudei de todas as formas possíveis. Sei do que estou falando.

 

Hermione levou um tempo para digerir aquilo. Permitiu-se levar aquele tempo. Assim que percebeu que não teria opção além da de ter que lidar com aquilo, levantou-se e caminhou calmamente para trás de Severo Snape novamente. Aquele amargo em sua garganta não ia embora.

 

— Então, sabendo do meu potencial, tomou como plano me juntar a Draco. Convenceu Lúcio de que a linguagem dele não seria comprometida e sim aprimorada e a Voldemort que poderia abusar do sangue poderoso dos meus filhos para os benefícios de se segurar no poder. Mas a verdade era que esperava pelo momento em que o abuso em cima de mim me fizesse acordar para chance que eu tinha de tomar o lugar de Voldemort e ser alguém dez vezes mais poderoso do que ele. – Parou logo atrás dele. – Será que devo agradecê-lo pela oportunidade? Esperava ocupar a posição de conselheiro no meu reinado? – Sabia que Snape não era idiota aquele ponto. Ele a tinha visto morta muito antes.

 

— Honestamente, reconheço poder quando o vejo. – Justificou Snape e Hermione teve nojo da insistência naquele discurso. – Me juntei ao Lorde quando vi seu potencial. Me juntei a você quando reconheci que pode ser maior do que ele. Precisou de um empurrão significativo. Sei que não seria convencida disso com facilidade. Eu preparei o terreno para que pudesse finalmente enxergar quem é, quem pode se tornar.

 

— Hum... – Hermione recuperou o abridor de carta que deixara sobre a estante. Avaliou se estava bem afiada e inclinou-se para perto do ouvido de Snape. – Me diga, professor. Se eu o tornar meu conselheiro quando tomar o lugar de Voldemort. Qual seria sua primeira recomendação? – Brincou com o jogo dele.

 

Snape pareceu tomar seu tempo, mostrando-se claramente receoso pela proximidade. Hermione se divertiu. Ele poderia ter feito um trabalho mais elaborado de convencimento se não estivesse tentando vencer a poção da verdade e a dor em sua mão pingando sangue.

 

— Certifique-se de que morra aquele que não se ajoelhar. – Ele respondeu mostrando-se inquieto.

 

Ela endireitou-se.

 

— Ótimo. Obrigada. É um ótimo conselho. – Puxou a cabeça dele pelos cabelos sebosos expondo abertamente sua garganta onde ela dessa vez enfiou fundo a adaga não tão bem afiada usada para abrir cartas.

 

Severo Snape agonizou incapaz de gritar enquanto o sangue espirrava e jorrava numa quantidade incontrolável. Hermione apenas alinhou-se, refez seu feitiço de distração, tornou a vestir o capuz. Deu a volta na mesa e saiu do quarto deixando que ele morresse ali, apenas na companhia de suas próprias ideias e sua língua venenosa que já não podia mais causar efeito em ninguém. Não precisava de Snape, encontraria suas respostas ela mesma.

 

 

**

 

 

Bateu na porta de Whitehall depois que eliminou os dois únicos guardas que guardavam o corredor e a porta.

 

Nenhuma resposta veio.

 

Ela tornou a bater mais insistentemente e com mais força e depois de repetir o processo mais uma vez, a porta finalmente se abriu. Narcisa apareceu do outro lado apertando seu robe, claramente mostrando ter sido tirada do sono. Hermione já havia desfeito seu feitiço de distração, portanto a cara da mulher ao vê-la foi absurdamente confusa.

 

— Hermione?

 

Hermione abriu espaço para passar para o lado de dentro e fechar a porta.

 

— Desculpe ter que interromper seu sono, Narcisa, mas tenho uma tarefa extremamente importante para você. – Anunciou Hermione sem tempo a perder.

 

— Como foi que chegou aqui? Por que os canhões não estão disparando? Onde está Draco? O que pretendem fazer? – Gaguejou Narcisa ainda perdida.

 

Hermione não respondeu nada. Avançou pelo quarto, lembrando-se bem da disposição de tudo. Ainda sentia uma certa dor ao ver aquele lugar. Tudo havia começado ali para ela.

 

Chegou ao closet da mulher e procurou por entre as roupas escuras uma longa capa discreta. Assim que a encontrou, jogou-a nos braços de Narcisa, que a acompanhava calada, como se tivesse perdido o poder da fala. Voltou para o quarto e pegou uma das mantas que cobria o espaldar da poltrona ao lado da lareira. Empurrou-o também para os braços de Narcisa. Puxou uma varinha de seu bolso, uma que tomara de um dos guardas do lado de fora e também entregou para a mulher.

 

— Scorpius está na ala hospitalar. No andar das enfermeiras. Num dos berçários privativos. Estão todos dormindo, inclusive a enfermeira de plantão, se for silenciosa, pode tirar Scorpius de lá sem acordar ninguém. No centro, na altura da antiga loja de ingredientes de sua irmã Bellatrix há um portal aberto. Irá notar a diferença de textura nas paredes de tijolo. O portal dá direto no Ministério, mais especificamente no Departamento de Mistérios. Saiba que zerei a magia de proteção do Ministério então assim que pisar o pé lá, estará livre para aparatar. Use o jardim dos fundos da nova propriedade onde Draco e eu estávamos planejando nos mudar, no pátio do espelho d’água, é onde mantemos aberto o trânsito para apartações. A guarda em vigilância irá recebe-la, mas é importante que você... – parou ao perceber que agora, depois de saber de Snape o que era, estava confusa. Seu cérebro queria alertá-la de que acabaria tomando outro rumo. Debateu consigo mesma por mais alguns segundos até continuar. Incerta, mas continuou. - ...é importante que procure Molly Weasley. Ela vai estar com Hera. Entregue isso a ela. – Estendeu para mulher um cordão pesado com um espelho pequeno no medalhão. – É uma chave de portal. Poderá abri-la assim que ela tiver as duas crianças. Ela precisa ir com Scorpius e Hera. As crianças estão em perigo. – Mentiu. - Precisa tirá-las da casa. Molly deve ir com elas. Entendeu? – Narcisa não respondeu. – Use isso para se cobrir. – Apontou para a capa. – E isso para Scorpius. – Mostrou a manta. – A varinha, use apenas se precisar. A madeira é comum, portanto há grandes chances de te responder com eficiência mesmo não sendo a sua. Não hesite em matar. Entendeu? Preciso que seja rápida. Draco estará chegando ao portal logo e precisa passar por tudo isso antes dele!

 

Narcisa mostrou-se muda. Extremamente perdida.

 

— Mas... – Começou a mulher um tanto quanto sem norte. – Agora? Sozinha?

 

— Escute, Narcisa. Nós todos temos uma tarefa a cumprir, essa será a sua. Por favor, diga que entendeu. – Insistiu Hermione. A mulher puxou o ar ainda perdida.

 

— Eu... Eu não estava pronta. Não estava esperando... Só isso. – Ela ainda gaguejava.

 

Hermione soltou o ar com pressa.

 

— Certo. Deixa que eu te ajude. – Pegou as coisas dos braços dela. A vestiu com a capa, colocou a varinha em sua mão e o medalhão no bolso. Dobrou a manta e estendeu para ela. – Consegue fazer isso. – Encorajou ela. - Não tem quase nenhum guarda na cidade, os Fortes estão em ataque e Theodoro retirou o máximo de força que pode. Colocarei feitiços de distração o suficiente em você para poder agir mais rápido quando alguém te parar. Se alguém te parar.

 

Narcisa assentiu ainda relutante e pegou a manta.

 

— E quanto a Lúcio? – ela perguntou.

 

Hermione pouco se importava com o homem. Para ela, se ele apodrecesse naquele lugar seria ótimo.

 

— Não pense em Lúcio agora. Precisa tirar Scorpius daqui. Por favor. – Implorou.

 

Narcisa assentiu mais uma vez.

 

— Precisa ir. – Apressou Hermione. – Estarei na torre principal esperando para te ver atravessar o pátio para o centro. Vou te dar vinte minutos. É mais do que o necessário. Irei atrás de você caso não a veja nesse tempo e se alguém entrar no seu caminho, use a varinha. Não pense duas vezes antes de matar. Certo? – viu a mulher concordar com a cabeça mais uma vez. – Agora, repita o que deve fazer.

 

Narcisa começou a discursar ainda gaguejando, passo a passo, o que Hermione havia lhe pedido. Ela entendera tudo que tinha que fazer e Hermione ficou grata que não precisou corrigi-la ou repetir qualquer passo. Ela entendera.

 

— Por que Molly Weasley e não eu? – ela perguntou parecendo confusa com a parte em que Molly deveria ir embora com Scorpius e Hera.

 

Porque talvez se fosse ela, Hermione se sentiria tentada em mata-la e por mais que guardasse todo o tipo de rancor por saber de tudo que a mulher havia escondido dela, ainda assim, aquele não era o fim que ela merecia.

 

— Preciso das crianças em segurança e você também. Pode fazer isso para mim? – Continuou a mentir.

 

— Ainda não entendo.

 

— Pode fazer isso para mim? – insistiu Hermione mostrando que não iria explicar.

 

Narcisa precisou de um tempo e assentiu.

 

— Scorpius foi marcado, Hermione. – disse a mulher. – A solução não é tirar ele daqui.

 

— Eu sei. – respondeu. – Ele é mais conectado com o poder que tem agora, pequeno como é, seu corpo saberá se proteger de uma ameaça se o atacar. – Se Hermione havia encontrado uma forma de se proteger, Scorpius também encontraria, ainda mais com a força da magia involuntária na sua idade.

 

Narcisa pareceu confusa, mas assentiu.

 

Ótimo.

 

Hermione terminou de prepara-la. Espiou pelas janelas o movimento da alta madrugada do lado de fora e certificou-se de que o movimento ainda estava baixo. Tudo estava pronto. Colocou sobre ela feitiços de distrações mais simples, para que ela mesma pudesse desfazer, e mesmo revestida de proteção ainda ser reconhecida quando chegasse a Malfoy Manor. Hermione a apressou e Narcisa tentou tomar seu rumo ainda receosa.

 

Sentiu seu peito queimar.

 

— Narcisa. – A chamou antes que ela fosse. A mulher parou e voltou para ela. Hermione não queria fazer a pergunta que estava travada em sua garganta. Considerou apenas em desejar boa sorte e força, e deixar que fosse embora. Mas sua língua coçava. Sabia que no momento em que soltasse aquela pergunta, ela viria carregada de ressentimento e quase ódio. Narcisa claramente estranhou o silêncio e a hesitação dela. – Draco sabe o que sou, não sabe?

 

Oh. A expressão surpresa da mulher veio cheia de um receio evidente. Naquele momento Hermione conseguiu desenhar uma linha entre as duas. Uma linha que já parecia estar lá, mas que havia sido negada pela sua ingênua cabeça por um bom tempo.

 

— Do que está falando? – ela se fez de idiota.

 

Hermione soltou o ar sem paciência.

 

— Sabe do que eu estou falando. Ele sabe, não sabe? – não tinha tempo para aquele jogo.

 

Narcisa claramente hesitou, como se estivesse procurando uma saída. Uma forma de mostrar que não entendia. Mas foi óbvio que não havia saídas.

 

— Sim. – Rendeu-se ela. – Faz um tempo que ele sabe.

 

— E você soube desde sempre. Desde o começo. Porque sei que Lúcio sempre soube e não há segredos entre vocês.

 

A outra estava evidentemente desconfortável. Não sabia o que dizer.

 

— Sim. – Foi tudo que ela respondeu.

 

O silêncio foi extremamente incomodo entre elas. Narcisa estava perdida em suas palavras.

 

— Certo. – Optou por dizer. Não era hora para levantar aquela discussão. Na verdade, não precisava discutir sobre aquilo. Era óbvio que Narcisa não queria lidar com aquela pauta. Nem Hermione. – Apenas vá. – pediu para que a mulher fosse.

 

Narcisa não foi.

 

— D-Draco soube faz apenas um ano. – Ela pareceu tentar justificar-se. Hermione sabia. O comportamento dele era instável fazia mais ou menos o mesmo tempo. – Ele...

 

— Não quero que se justifique, Narcisa. – Hermione a cortou. – Apenas queria ter a certeza. – Ela sentiu a indignação entalada em sua garganta. A traição. Não segurou. – Qual era o ponto em fazer com que fosse ainda mais difícil para ele? – Porque sabia que o plano de Lúcio havia sido eliminá-la desde o começo. Por que não o deixar saber antes? Por que se dar ao trabalho de ter o filho se apaixonando por ela para depois ouvir que seu dever era mata-la? – Que tipo de mãe você é? Que lição queria ensinar a ele?

 

— Hermione, Draco não tem a intenção de acabar com a sua...

 

— Ele sabe que d-e-v-e. Não importa a intenção dele. – Céus, doía tanto estar tocando naquilo. Sentiu seus dentes grudarem um contra o outro. – Qual foi o ponto em dificultar tudo para ele? Qual era a importância em fazer com que ele mergulhasse em uma vida comigo antes de colocá-lo contra a realidade?

 

Narcisa puxou o ar.

 

— Lúcio tinha um ponto.

 

— Seu marido é um doente! – cuspiu ela e sentiu os olhos inundarem. Teve raiva de sua reação. – E você é pior por aceitar submeter seu filho a isso! Por também trair minha confiança tão cinicamente! – ela ajeitou a postura com calma. Esperou que seus olhos secassem sem derrubar nenhuma lágrima. – Quando tinha raiva por ver que Draco se distanciava por saber quem eu era, nunca imaginei que o buraco fosse tão embaixo. – Sua cabeça ainda mal conseguia compreender o tanto que aquilo era profundo. - Minha condenação foi esse sobrenome e eu tentei torná-lo um refúgio. Mas a verdade foi que nem você, nem seu marido, nem mesmo Draco tinham a pretensão de que eu fizesse parte dele por mais tempo do que o necessário. É uma pena que de todas as pessoas no mundo, eu tenha que confiar meu filho a você agora.

 

Foi a vez dos olhos de Narcisa se inundarem.

 

— Eu entendo. – Narcisa disse aprumando sua postura. Sua impecável postura Malfoy. Ela não tinha mais nada o que dizer além daquilo. Hermione ainda esperou que ela tivesse uma justificativa que fosse capaz de mudar tudo em sua cabeça, mas ela não tinha. Era óbvio que não tinha. Ela não enxergava nada além do sobrenome Malfoy. Era uma Malfoy antes de ser mãe, antes de ser avó, antes de ser esposa. – Levarei seu filho de volta. – Finalizou a mulher.

 

Hermione assentiu.

 

— Obrigada. – respondeu secamente.

 

Narcisa deu as costas e sumiu. Hermione soltou o ar e fechou os olhos sentindo-se decepcionada, frustrada, traída. Foi difícil engolir aquele nó em sua garganta para poder abrir os olhos novamente. Concentrou-se. Tornou a encarar aquele quarto. O piso. A enorme cama no centro. As cortinas que cobriam a fachada de janelas. A gigantesca estante de livros. Os tirantes que seguravam os caldeirões próximo a lareira. Ela se lembrava da primeira vez que encarara aquele lugar anos atrás. Estava suja, despenteada, com medo. Mal sabia ela o que estava pela frente. Mal sabia ela sobre a vida que teria. Sobre seu casamento, sobre seus filhos, sobre quem realmente era, sobre como tudo mudaria.

 

Puxou o ar. Sua cabeça dava voltas. Quando deixou Draco, ela estava em um lugar. Estava decidida. Tudo se encaixava, tudo fazia sentido. Agora. Tudo parecia mudar. Seu marido não estava se tornando Lúcio Malfoy, ele não estava finalmente simpatizando com o radicalismo das ideologias no qual havia sido doutrinado como Malfoy. Ele, na verdade, estava sendo exposto a ameaça que ela era. E ele sabia quem ela era, e havia dormido na mesma cama que ela sabendo o que era. Aquilo pesava em seu estômago.

 

Era uma ameaça.

 

Seu estômago revirou.

 

Nunca pensou que realmente fosse. Mesmo sentindo o que sentia, mesmo explorando aquele seu lado tão novo e que vinha a ela tão naturalmente agora que tudo fazia sentido em sua cabeça sobre o que era, quem era. Mas não havia imaginado que carregasse uma magia tão obscura. Estava buscando justiça com as próprias mãos e começava a duvidar se aquela havia sido uma decisão que cresceu dentro de suas entranhas corrompidas. Duvidava de si mesma. Tinha medo. Mas não queria ter. Não podia ter.

 

Havia tomado uma decisão. Não podia parar.

 

Tomou o ar novamente e deixou aquele quarto. Independente de tudo, ela já havia começado aquilo. E estava certa sobre o que queria. Precisava continuar com a mesma certeza. Mesmo que recuasse, nada mudaria sobre o que queria. Sabia o que queria.

 

Subiu para torre principal. Era ridículo o quanto era fácil se locomover pela Catedral sem ver uma alma ou qualquer guarda que fosse. Encarou o enorme relógio da catedral pelos vitrais e saiu para a varanda. Contou vinte minutos embora soubesse que não fosse precisar de tudo isso. Brampton Fort estava numa posição muito mais deplorável do que imaginava. Aquilo facilitava tudo.

 

Relaxou os músculos. Era seu momento. Fechou os olhos. Respirou fundo e soltou o ar pela boca. Concentrou-se. Precisava sentir a magia nela mesma para depois expandir. Havia sido assim quando conseguira se livrar da marca de Voldemort em seu sangue. Era o único caminho que conhecia e vinha lhe servindo cada vez com mais eficiência.

 

Sentiu-se tentada a encontrar nela um pedaço que não fosse seu. Assim como sentia Morgana como uma intrusa em seus sonhos. Não encontrou nada que não fosse o usual. Somente sentia nela uma magia que ficava cada vez mais evidente, cada vez mais reconhecível. E ela se deliciava. Era tão natural sentir aquele poder. Era dela. Somente dela. Fazia parte dela. Ninguém mais tinha aquilo. Ativava alguma parte quase sedenta dentro de si. Algum tipo de orgulho. Superioridade. Se perguntava se Voldemort não a invejava pelo que ela era, pelo que tinha, pelo que era capaz.

 

Expandiu aquela força nela para sentir a pesada magia que Brampton Fort carregava. Queria se comunicar com aquela maldição. Mostrar o tamanho de quem era atrairia aquela magia. A maldição de anos estava furiosa pela falta da presença obscura dos Dementadores. A terrível e extinta família Brampton, responsável por criar aquelas criaturas, fora capaz de manter suas enormes terras fora do mapa por uma maldição ligada aos Dementadores. Agora que a família não existia mais, o bruxo que estivesse disposto a alimentar as criaturas e se mostrasse talentoso o suficiente na arte das trevas, tinha a permissão da maldição para se beneficiar de toda a segurança e comodidade das terras, instalando-se num abrigo difícil de ser encontrado. O que acontecia, era que as terras se tornavam inabitáveis caso as criaturas se recusassem a guardá-la. Durante muito tempo, o Ministério da Magia, incapaz de confirmar a existência da lenda sobre o lugar, manteve-o seguro e completamente fora do mapa, sem o próprio conhecimento, apenas por alimentar Dementadores com a fortaleza de Azkaban lotada de prisioneiros. Até que Voldemort provou seu talento, encontrou o local, teve a permissão da maldição e apareceu para popular novamente e expandir ainda mais do vilarejo abandonado, criando um enorme Forte e a Cidade dos Comensais. A fria e terrível cidade. Fora uma boa estratégia. A maldição dificultava o acesso ao local e mantinha protegido a capital de seu império e aliados.

 

Era uma magia pesada. Ela sentia. Havia sido elaborada por um bruxo talentoso, reconhecia. Se consolidava pelo aumento da população de Dementadores e habitantes. Uma magia difícil de ser manipulada. Achava difícil que aquelas terras fossem conseguir se livrar da maldição. Mesmo se todos os Dementadores deixassem de existir, haveria poder remanescente ali. Talvez todas aquelas pedras, aquelas edificações, a Catedral, as pequenas vilas, os parques, suas mansões, estivessem condenadas a ruína. Ou talvez uma magia ainda mais forte fosse capaz de preservar a obra da junção dos aliados de Voldemort. Ela não queria que aquele lugar fosse engolido por uma maldição, por mais detestável que fosse.

 

Permitiu-se ficar ali. Sentindo toda aquela energia, mesmo que não fosse capaz de findá-la. Sentia que se ficasse familiarizada com ela, seria capaz de manipulá-la. Exatamente como fizera no Ministério. Havia notado que magias fortes cediam a ela quando se mostrava capaz de se apresentar digna diante delas. Era estranho, mas era como se a própria magia reconhecesse a oportunidade de florescer em suas mãos. Era como se estivessem sempre esperando por alguém que fosse capaz de se mostrar digno de dominá-las para se entregar. Sentiu que não deveria, mas mesmo assim entrou nas entranhas daquela fonte de poder provando que conseguia alcançar todas as suas dimensões, provando que era digna de segurá-la e senti-la por inteiro. Sentiu-se ser alimentada por ela. Como se pudesse abrir caminho para que fizesse parte e se unisse ao que ela tinha, que era dela, de seu nome, de seu sangue. Perdeu-se deliciando-se com o volume e a intensidade daquela força que conseguia extrair.  A maldição se abria para ela. Reconhecia as habilidades dela. Abriu os olhos e perdeu-se na vastidão daquela vista sentindo seu corpo formigar enquanto tinha o vento da madrugada cortando-a. Aquela força a transformava. Céus. O mundo cairia aos seus pés se soubesse que aquilo era possível. Como podia ser tão fácil para ela? Como? Sabia que nem Voldemort, com todo o seu treino e talento podia sentir o que ela conseguia agora.

 

Voldemort era inteligente em ter uma proteção daquele grau. Mas ele desconhecia a fúria que aquela maldição tinha reservada. Esticou seus dedos e conseguiu concentrar aquela força na palma de sua mão. Fechou os olhos e lentamente moveu seus dedos conectando-se com o poder da revolta daquela magia. O chão sob seus pés tremeu. Hermione manteve o movimento constante no solo daquelas terras. Não era a primeira vez que aquela maldição dava sinais de sua fúria, mas ela sabia que era breve. Manteve. O som dos revestimentos rachando e da poeira dos rebocos se desfazendo ocupou o espaço. Ela continuou a provocar aquela magia mantendo o tremor até ver a figura de Narcisa atravessar o pátio principal. Ela vinha com a varinha em punho e Scorpius no colo. Seus passos apressados acenderam em Hermione um alerta. Todos os seus sentidos pareciam aguçados e a constante fúria daquela maldição carregava nela o mesmo sentimento.

 

Um Comensal vinha logo atrás dela com a varinha em punho tentando pará-la. Hermione sequer precisou pensar duas vezes quando sentiu a ânsia de usar a força que agora dominava. Moveu seu braço e sua mão rapidamente no ar, como se estivesse pegando aquele homem pelo pescoço. O Comensal imediatamente saiu do chão voou alguns metros e Hermione o largou. Sentiu uma fúria ser alimentada dentro dela. Narcisa não teve tempo de ficar surpresa ou de tentar entender. Ela apenas continuou apressada avançando noite a dentro para a avenida do centro. Hermione precisou apenas murmurar por baixo da respiração um quase silencioso “nox”, para que toda a iluminação se apagasse, permitindo que Narcisa sumisse no escuro. Ninguém além daquele homem parecia tê-la notado, ou talvez Narcisa tivesse apagado mais algumas pessoas pelo caminho. Não interessava Hermione. Interessava apenas que ela estava levando seu filho para longe daquele lugar.

 

Respirou fundo. Colocou sua cabeça no lugar. Narcisa logo encontraria o portal para o Ministério e em questão de segundos estaria aparatando em casa. Deu tempo suficiente para que ela fizesse aquele caminho e então finalmente apertou os punhos sentindo a inquietação de toda a força que tinha sob seu domínio. Era hora de o circo começar. Sentiu novamente aquela expectativa crescer dentro de si. A mesma que sentira antes de entrar no apartamento de Severo. Estava pronta para se deliciar.

 

Enquanto cruzava de ala, fortaleceu sua conexão com a maldição daquelas terras. Não podia acabar com ela, mas podia usá-la. Talvez manipulá-la e sentia que fazia tempo que aquela maldição esperava por alguém como ela. Desceu primeiro até o Departamento de Draco, até as salas de treinamento. Sabia onde tudo estava, as senhas, os atalhos, os códigos. Conseguia ainda andar pelas sombras sem ser notada graças ao treinamento que recebera de Draco, o que parecia ter sido anos atrás. Pegou o que precisava ali, tomou o tempo necessário para proferir com cuidado os encantamentos que precisava e depois subiu para o corredor da locação de Theodoro Nott na ala oeste. Ele tinha sua mansão na Vila dos Comensais, mas tinha seu apartamento ali na Catedral como qualquer outro do alto escalão também. Sabia que Theodoro não estava ali, mas não precisava pensar muito para ter certeza de quem ocupara o apartamento dele na Catedral.

 

Conseguia notar uma certa movimentação na pouca guarda da Catedral já enquanto se movia. Aqueles poucos que cruzavam seu caminho e acabavam indo ao chão antes de poder ter qualquer reação pareciam estar se movendo como se tivessem sido chamados, alertados de algo. Não duvidava que já haviam notado algo estranho com corpos de guardas espalhados por alguns corredores. Ela precisava ser rápida. Portanto, quanto chegou na porta que levava o sobrenome de Nott, a escancarou sem cerimonias.

 

Precisou atravessar uma pequena saleta antes de poder ver Gina Weasley tentar pular para fora da cama com rapidez para alcançar a varinha sobre a cabeceira ao lado. Hermione foi mais rápida erguendo as mãos para ordenar que os lençóis se movessem de podo a segurar os membros da mulher, arrastando-a para o lado oposto da cama. Gina lutou, mas Hermione conseguiu usar suas habilidades para que a guerra da mulher com os lençóis fosse patética de se assistir até o ponto em que Gina teve um de seus braços amarrado ao dossel ao pé da cama. Parecia uma louca.

 

— Bom dia, Gina. Vejo que conseguiu subir para um outro padrão de luxo. – Usou sua superioridade intimidadora ao ver o olhar assustado da ruiva de estar de frente para ela. – Espero que Whitehall não tenha te deixado com muitos traumas.

 

— Como chegou aqui? – Gina parecia perdida e ao mesmo tempo furiosa.

 

Hermione riu cinicamente.

 

— Me poupe. Depois de todo o escarcéu que causou para tentar convencer o mundo de que eu era o pior inimigo que ele poderia ter. Depois de ser tão enfática na ameaça que eu represento. Me surpreende que duvide da minha capacidade de ir e vir sem que barreiras me detenham. – Estendeu a mão e convocou que a varinha sobre a cabeceira fosse parar nas mãos dela. Aproximou-se de Gina e colocou a varinha logo a sua frente. – Você não tem psicológico para estar andando com isso por aí. – Guardou a varinha dela.

 

Gina gritou por socorro. Hermione riu: sua estratégia intimidadora.

 

— Isso. Preciso que alguém acorde a Catedral para mim. O show está para começar. – Terminou de usar magia para atar o outro braço de Gina com o lençol. – Depois de todo o seu discurso contra mim e também do seu falido atentado, o que eu realmente gostaria de fazer com você, é honestamente, mata-la. O que certamente provaria suas conspirações. Mas a verdade é que preciso ser no mínimo grata pela bala que colocou no peito do meu formidável sogro. E infelizmente você é a filha da mulher que está cuidando da minha agora. Portanto, estou debatendo seriamente se devo ou não ser a medonha criatura que sou em sua cabeça, ou se deveria ser sentada.

 

Havia assistido Voldemort acabar com a sanidade de Ginevra Weasley de tanto tortura-la. Ele havia feito aquilo como uma forma de ataque a Hermione. Fora obrigada a assistir todas as longas sessões que ele conduzia no salão da Catedral. Hermione se lembrava de chegar em casa passando mal, se lembrava de Draco segurando seu cabelo enquanto ela colocava para fora todo o mal-estar que havia tido que engolir ao ver sua amiga de anos atrás ser torturada, violentada, destruída, sem poder sequer mostrar espanto por um segundo que fosse. Encarava a mulher agora com uma perspectiva completamente diferente e não conseguia se conectar de nenhuma forma que fosse, com a Hermione que queria ter tirado Gina daquela situação, mesmo ela sendo a mulher que tentara mata-la.

 

— Nós duas sabemos que sua sensatez sempre foi cruel. Vá em frente e me mate. – Cuspiu Gina mesmo mostrando-se com medo.

 

— Tem razão. - Concordou Hermione. – Minha sensatez sempre foi mais minha lógica do que sensatez. O problema para você é que sempre fazia de tudo para se colocar do pior lado possível da minha lógica. E a verdade é que está fazendo isso agora. Mas depois de passar tanto tempo me ressentindo pelo ódio que criou por mim, cansei de te ver como a boa amiga que perdi. – Ordenou que o lençol envolvesse o pelo pescoço da mulher.

 

Gina Weasley foi tentar gritar algo, mas Hermione apertou o lençol envolta da garganta dela. Ela rapidamente mostrou seu desespero ao perder o ar. Contorceu-se tentando encontrar uma forma de se livrar. Hermione assistiu. Iria parar. Sua intenção era ainda dizer a ela que se preparasse para passar o resto da vida vendo Hermione ascender a posição de perigo que a ruiva tanto temia.

 

Mas não parou.

 

O mesmo sentimento de prazer ao ver o sangue fugir da garganta de Snape revirou seu estômago ao assistir a ruiva lutar desesperada por ar. A medida que ela perdia forças, Hermione sentia mais daquele sabor vitorioso da vingança. Não conseguia mais encontrar o motivo do porque parar. Por que afinal? Por que permitir que alguém que já havia tentado a matar vivesse? Sorriu bastante convencida e apenas deu as costas saindo do quarto e matando logo em seguida o guarda que vinha correndo atender o pedido da mulher. Gina se encontraria com a morte carregando a certeza do monstro que Hermione era.

 

Voltou a avançar pelos corredores. Era cada vez mais fácil sentir a maldição de Brampton fluir por ela. Concentrou a força novamente no comando de suas mãos e tornou a fazer o chão estremecer, era revigorante sentir aquela fonte. Era mais fácil manipular uma magia uma vez que já havia sido apresentada a ela, uma vez que a própria força se sentia confortável com ela. Estava na hora daquela Catedral acordar. Pegou um dos guardas e o enfeitiçou para correr até o canhão mais próximo.

 

Começou a cruzar com pessoas que apareciam com um olhar perdido e sonolento saindo de suas locações enroladas em seus robes. Seu problema não era com aqueles aliados protegidos da Catedral, portanto, arguia a varinha somente para aqueles que vinham achando que tinham algum poder ou autoridade para detê-la. Era uma pena que Bellatrix Lestrange já estivesse morta e Theodoro Nott não estivesse ali. Teria que pular direto para Pansy Parkinson, que também merecia provar do amargo de ter sempre se visto superior a ela.

 

Mas foi quando fez a curva para tomar o caminho da torre dela que teve que parar ao escutar o som alto do canhão anunciando o perigo. Fez um rápido cálculo sabendo que aquilo não havia sido trabalho do guarda que colocara sob Imperius. Não havia se passado o tempo necessário para que ele alcançasse o portão mais próximo. Ela estava errando em alguma coisa. Notou a movimentação de guardas pela janela do corredor que atravessava. Escutou a ordem ser passada para correrem para a avenida central. Talvez ela estivesse subestimando a organização deixada por Nott.

 

Desviou seu caminho pulando etapas e foi até o a nave principal da Catedral conseguindo desviar bem da movimentação de guardas. Eram muito principiantes. Hermione era muito mais inteligente do que eles e sentia que conhecia mais sobre os atalhos e sombras da Catedral do que a maioria daqueles deixados para fazer a guarda do local.

 

O grande salão se destacava de todos os outros anexos. O lugar onde ela havia sido apresentada para aquele mundo obscuro, onde havia se casado, onde participara de cerimônias de inverno um ano seguido do outro, onde ficara sabendo sobre sua descendência, onde assistira calada a sessões de torturas horríveis, onde apresentara seus filhos. Sentia que tinha uma ligação com aquele lugar tão forte quanto o que tinha com Hogwarts. E ela ainda sentia que Hogwarts estava tão atrás em seu passado que parecia ter acontecido em uma outra vida sua. Era outra pessoa. Não conseguia encontrar nenhuma conexão com a Hermione daquele passado tão distante. Não agora.

 

Depois de se sentir orgulhosa por conseguir brincar com a guarda e fazer seu caminho facilmente ao salão sem ser vista, pensou que o encontraria vazio. Mas para a sua surpresa, viu sua inteligência ser diminuída quando encontrou ninguém menos do que Tom Riddle sentado em seu trono, acompanhado de sua cobra. Reed, um dos treinadores do programa de recrutamento estava ao seu lado de pé. Parecia furioso sussurrando no ouvido de seu mestre. Talvez fosse ele que estivesse cuidando da guarda enquanto Nott estava fora.

 

Hermione puxou sua varinha imediatamente, sabendo que para alguém do nível de Voldemort, ela precisaria da ajuda condutora do objeto mágico. Era boa, mas ainda subestimava suas habilidades quando se via diante do homem que tinha o igual respeito da maldição daquela terra, o homem que sentava no trono de um império, que tinha controle sobre bem mais da metade da população bruxa. Riddle, numa postura confortável em seu trono, ergueu a mão para fazer Reed se calar e o dispensou. Uniu as mãos e a aplaudiu de um modo preguiçoso.

 

— Bravo. – Ele proferiu. Hermione sentiu seu corpo estremecer com a voz do homem. Ele podia estar perfeitamente apresentável com aquela aparência humana, elegante, mas conhecia bem o ofídico por trás da beleza quase palpável de Tom Riddle. – Diga-me, minha bela joia, qual é o tamanho da sua lista? – Ele mostrou as mãos e se levantou – Não acha que foi com muita fome ao pote ao executar Severo logo de primeira? Não é assim que um prato da vingança deve ser saboreado. Precisa aprender muito ainda.

 

Deus. Ela já se via fraca pela surpresa de vê-lo ali. Não podia vacilar. Era maior do que ele. Precisava se focar nisso. Ele tinha medo dela. Era uma ameaça, por isso que havia lhe causado tantos traumas, para que ela se visse vulnerável sempre que ele estivesse por perto. Não podia deixar que aquilo a afetasse, procurou sentir mais da energia que fluía dentro dela. A força da maldição, a força de seu sangue, por mais mestiço que fosse.

 

— Honestamente, pensei que fosse se trancar em sua torre e se recusar a me ver. – Ela encheu de orgulho sua postura. Era boa em mascarar sentimentos, mesmo que esse fosse medo. Precisava mostrar sua superioridade, era isso que ameaçava Voldemort.

 

— E porque eu faria isso? – Ele se levantou e desceu os degraus do trono.

 

— Porque me teme. Porque está vulnerável. Porque seu exército está longe. Porque seu império está dividido. – Disse aquilo cheia de confiança.

 

Ele riu se aproximando com calma, como se soubesse que aquilo fazia cada pedaço do corpo dela querer sucumbir tentando não fugir.

 

— Já estive em uma floresta, fazendo minha alma sobreviver pulando do corpo de animal em animal. Já precisei me alimentar de sangue de unicórnio para me manter vivo habitando um corpo que não controlava. É realmente ingênua em pensar que estou vulnerável. – Ele pediu para que Nagini parasse de o seguir com um simples gesto. Continuou seu caminho até ela cruzando o salão até ela. – Estou mais forte do que nunca. – Parou quando notou uma certa movimentação as suas costas.

 

Hermione percebeu que o líder em comando da guarda estava se movimentando, dando ordens, saindo com pressa do salão. Hermione não sentiu qualquer alívio que fosse ao perceber que aquilo estava ligado ao exército de Draco. Ele havia encontrado seu caminho até o forte como ela previra, mas aquilo não diminuía o risco da situação em que estava.

 

— Vai ver a morte hoje, Lorde Voldemort. – Ela o ameaçou, precisando daquelas palavras para se segurar a sua coragem, para ter a certeza de que Voldemort a subestimava de todas as formas possíveis.

 

Ele sorriu com calma. A diferença do sorriso amarelado de antes para o de agora, era que vinha de um homem elegante que tinha adoráveis covinhas e uma postura poderosa.

 

— Ah, minha querida Hermione. Admiro o que está fazendo. – Ele retomou sua jornada até ela. – Vingança é um prato delicioso, mas o seu ainda está morno e não é assim que se saboreia esse prato. Pode tentar destruir meu Forte, pode acabar com minha Catedral, com meu alcance mundial, com tudo que meus aliados conquistaram para mim, mas não pode me destruir. Não pode acabar com o fato de que sou o bruxo mais poderoso dentre todos os outros.

 

— Acho que está se esquecendo de quem eu sou. – Ela usou de sua varinha para desenhar uma linha de fogo logo a frente dele, avisando-o para parar onde estava e não se aproximar mais.

 

Voldemort esticou ainda mais seu sorriso e com uma palma simples e alta, fez a parede de chamas desaparecer. Aquilo a abalou. Ele estava fazendo magia sem sua varinha. Como? O sangue de seu Scorpius conseguia passar para ele algo?

 

— Surpresa? – Indagou ele em toda a sua soberania. – Quer lutar? – Mostrou as mãos. – Podemos passar horas mostrando um ao outro quem tem mais domínio sobre magia. Eu não duvido que pode ser maior do que eu. Definitivamente tem o potencial, mas sei que não tem a alma. – Ele finalmente chegou perigosamente perto. A distancia fazia o coração de Hermione bater como se quisesse quebrar suas costelas. Ela se viu em estado de alerta e quase que nervosamente quis se apressar, mas era como se uma voz a guiasse. – Ou será que tem? Posso estar enganado e não sabe o quanto eu quero estar enganado, minha linda joia. – Passou por ela e se colocou as suas costas. Fechou os olhos sentindo-se desarmada, embora não estivesse, ao escutar a voz dele soar bem ao lado de um dos seus ouvidos. Suava frio. Precisava do momento certo. Apertou a varinha em seu punho concentrando-se na força dentro de si. – Você gosta de poder. Conhecimento. Gosta de estar por cima. De vencer. É forte como nenhuma outra. Pode ter o mundo em suas mãos. E eu sei que o quer. Não minta. Não minta para mim, ou para si mesma. Consegue se tornar consciente dessa vontade quando sente o poder da magia que consegue controlar borbulhar em suas veias. Quando sente o tanto de poder que é capaz de manipular. Isso te alimenta a ser quem nasceu para ser. – A voz dele era quase um sussurro persuasivo em seu ouvido. – Junte-se a mim. – Ela abriu os olhos ao escutar aquilo. – Juntos ninguém poderá nos parar. Nenhum exército. Nenhum governo. Não vamos precisar nos esconder. O mundo será nosso. – Ela quis se sentir miseravelmente frágil, como se quisesse que aquele discurso dele funcionasse, mas apenas o prestando-se a um papel patético. O som de alguma explosão dentro da Catedral fez as paredes e o chão tremerem. – Deixe que o mundo se mate. Nós estamos acima deles. Você e eu. Nosso poder. – As costas da mão dele deslizou pelo seu braço por cima da capa que vestia. – Irá acabar com Draco antes dele acabar com você e não seja ingênua em pensar que ele irá colocar a história de vocês na frente do dever que ele tem em assegurar o mundo de pessoas como você. Ele sabe, Hermione. Ele sabe da ganancia que sente em suas entranhas quando seu poder se manifesta, quando dá espaço para ele vir a superfície. Ele sabe que isso pode te mostrar caminhos diferentes, vontades diferentes. Ele é consciente de que a cada dia que se passa, seu conhecimento sobre o que é capaz, te torna uma bomba-relógio. Não é fácil para ele, mas ele sabe lidar com desafios muito bem e ele cumpre aquilo que é preciso ser cumprido custe o que custar. Draco Malfoy conhece bem sobre sacrifícios e ele já teve que engolir muitos deles. Você seria apenas mais um. Ele não irá falhar em colocar um fim a você porque ninguém antes dele falhou. Malfoys caçam sua linhagem há séculos. Não seja ingênua, porque eu sei que cresceu, sofreu e aprendeu. Acabe com ele antes que ele a destrua. Acabe com a família dele que mentiu para você. Acabe de uma vez com o sobrenome que te caçou e que destruiu todos aqueles que vieram antes de você. Então será só você e eu. – Ele deu a volta e parou logo a frente dela. – Posso te ensinar a ter todos debaixo de seus pés. Posso te ensinar a fazer com que verdadeiramente a temam. Posso te ensinar a ser grande. Você e seu filho. – A mão dele subiu por seu braço e as costas de seus dedos deslizaram pela linha de seu queixo enquanto Hermione mergulhava nos olhos tenebrosos e poderosos do homem tão normal e tão humano a sua frente. Cada centímetro de seu corpo lutava para não desmoronar. Ainda era impossível entender o quanto não conseguia superar o temor por ele. Queria aquele poder. Ninguém ousaria pensar em desafiá-la se a temessem da forma como ela o temia. A movimentação do outro lado das portas do salão estava intensa, mas ela não conseguia prestar atenção naquilo. Só havia ela e Tom Riddle ali. – Eu irei chama-la de minha rainha. – Foi somente quando ele sussurrou aquilo que ela notou que seus rostos estavam assustadoramente próximos.

 

Seus músculos todos estavam travados e acabaram congelando completamente quando sentiu os lábios frios dele sobre os seus. Seu cérebro quase entrou em branco. Ela deixou. Deixou que suas bocas se tocassem. Deixou que ele se distraísse em ter apenas aquela gota de seu desejo sanado, o desejo que havia levado Bellatrix Lestrange quase a loucura.

 

Ela deixou, porque foi aquela a oportunidade que teve de deslizar sua mão por debaixo da capa para dentro da fenda de seu vestido. Tirou arma que pegara no antigo departamento de Draco mais cedo e a apontou para o estômago dele. Quase relutante ele deixou a boca dela ao sentir o cano pressionado contra si. Seu rosto se contorceu em desprezo. Ela ativou o gatilho.

 

— Preferiria morrer.

 

Atirou.


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Notas finais do capítulo

N/A: To me sentindo quase um meme aparecendo aqui depois de quase dois anos pra postar essa bomba de capítulo. Hahahaha!

Pra quem não segue a página no facebook, tenho a honra de anunciar que Cidade das Pedras está 100% concluída. O próximo capítulo não vai demorar a sair e talvez eu poste alguma prévia na página do facebook pra incitar ainda mais a curiosidade de vocês na jornada de espera que vem pela frente.

Vamos ter mais três capítulos vindo aí, apertem os cintos e preparem-se antecipadamente para dar tchau a Cidade das Pedras. Eu já sinto uma baita falta de escrever essa fanfic. Foram tantos anos convivendo com essa história dentro da minha cabeça. Não sei lidar com o fato de que já está tudo escrito e que eu não preciso mais pensar em como passar isso pro papel.

O lado bom é que vocês vão finalmente saber como tudo acaba. Eu sei que muitos de vocês não estão gostando do rumo que tudo anda tomando e eu entendo completamente. Recomendo que releiam toda a fanfic para se familiarizarem novamente com a jornada de Draco e Hermione e como eles chegaram exatamente aqui. Especialmente a Hermione. E pra quem achava que a Hermione não podia ficar pior, vejam só, não é mesmo! Hahahaha!

Eu fico aqui me contendo para não dar spoilers do que vem pela frente, mas ohhhh boy!!!! É difícil, viu?! Não acho que vocês vão se decepcionar.



Um super obrigada por terem esperado. Um mega obrigada especial a todos vocês que reliam a fanfic sempre pra matar a saudade e deixavam vários comentários! Acho que uma das coisas que mais amo no wattpad é a reação que vocês conseguem deixar em cada parágrafo. É muito bom acompanhar as emoções de vocês nas diferentes partes do capítulo. Obrigada pelo super apoio, pela motivação, pela paciente espera.

Deixem seus comentários sobre o que esperam que vem pela frente. Seus medos, receios, anseios. Comentem sobre o que sentiram enquanto liam o capítulo e o que acharam dele. Falem sobre o que vocês esperam para o final, mesmo com tudo o que vem acontecendo. O que realisticamente acham que vai acontecer.



Vejo vocês no capítulo 45! :)




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