CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 49
Capítulo 43 - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas no final do capítulo



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... Continuação

 

 

Deixou seu posto assim que teve a certeza de que tudo estava correndo conforme o programado e subiu, parando apenas quando os pelos de sua nuca arrepiaram ao passar pelo corredor que dava para a locação do Arco. O Arco que milagrosamente conseguiram transferir para aquela casa antes de todo o caos. Ela normalmente sempre parava quando passava por ali. Neville era o único autorizado a poder estudar o artefato. Hermione sabia que aquilo havia estado em segredo no Ministério por anos pelo óbvio motivo de ser misterioso e poderoso. Não era certo que agora se tornasse propriedade pública. A Ordem já havia feito estrago o suficiente tentando destrinchar os segredos daquela peça. Draco concordava com ela. E por mais que ela quisesse estar ali, passando seu dia em cima de todo aquele mistério, esse simplesmente não era sua prioridade naquele momento.

 

Seguiu seu caminho até uma das salas do primeiro andar onde sabia que Draco passara o dia com seus aliados mais próximos. Entrou sem formalidades. Tina acabara de sair. Sempre estava correndo de um lado para o outro. Do lado de dentro uma discussão parecia estar em seu ápice. Fox a beira de um sofá falava por cima do esposo de Tina do outro lado da sala, Devon parecia claramente discordar do que estava sendo dito. Denna soltava suas opiniões ríspidas de braços cruzados próximo a lareira e haviam mais outros e outras que se jogavam na discussão aleatoriamente.

 

Ninguém pareceu notar a chegada dela a não ser por Draco, que sentado em uma poltrona, assistia tudo com um dedo crítico apoiado contra a boca. Os olhos dele direcionaram-se para ela silenciosamente. Ela o encarou de volta conectando-se com o marido. Por um breve momento, se imaginou atravessar o mar daquela discussão, ignorando-a por completo, até ele. Imaginou ele levantando-se para recebe-la num abraço caloroso, um daqueles que ela recebia dele nas manhãs de domingo quando saiam da cama para a varanda. Imaginou a voz dele em seu ouvido, profunda e suave dizer qualquer coisa que tivesse pouco a ver com o caos que viviam e muito a ver com o cheiro de seus cabelos ou o calor de seu corpo. Imaginou seus lábios selarem um beijo calmo contra o pescoço dele e suas mãos descerem as costas dele, redesenhando seu formato masculino e tentador enquanto pedia para que ele continuasse ali por mais um tempo. Naquele breve momento a imagem dos dois na varanda da única casa que realmente havia sido só deles veio em sua memória. Aquele abraço longo e cheio de afeto que compartilhavam no início do dia. Ela não conseguia se lembrar do céu cinzento de fundo. Não conseguia se lembrar da brisa fria e seca dos Dementadores. Não conseguia se lembrar das pedras escuras e dos ornamentos pesados da construção que a cercava. A imagem em sua mente era quase a varanda de um castelo, com um dia ensolarado de fundo a figure dela se aconchegando nos braços do homem que a desafiava todos os dias, o homem que se tornara seu raio de sol quando não tinha nenhum, o pai de seus filhos, seu cúmplice. Foi tudo muito breve, naquela única troca de olhar. Como se fosse um escape de sua mente a realidade do caos daquela sala. Como se quisesse fugir dali. Mas então sua própria razão fez com que tudo aquilo fosse varrido para longe de sua imaginação. Draco apenas piscou e com calma desviou sua atenção de volta para a discussão, como se tivesse compartilhado com ela daquela bela imagem e agora era obrigado a voltar a realidade porque ela havia o obrigado a sair daquela conexão.

 

Ela o frustrava. Sabia disso. Sabia que estavam longe um do outro. Sabia que estava se distanciando dele porque as coisas em sua cabeça estavam indo a loucura e ela não conseguia encontrar nenhuma outra forma de se estabilizar que não fosse a frieza. Era sua única forma de se anestesiar. E quanto mais se afundava em sua frieza, mais se acomodava nela. Nada podia realmente machucá-la ou enlouquece-la ou acarretar qualquer tipo de sentimento se estivesse apenas anestesiada debaixo da frieza. Nada era duro demais, macio demais, triste demais, feliz demais, bom demais, ruim demais. Boas noticias vinham da mesma forma que más também. Uma atrás da outra. Hermione não queria mais sentir o impacto delas. Draco não parecia entender aquilo.

 

Deu a volta na sala para parar a lado da poltrona de Draco. Tentou encontrar alguma linha de lógica no meio daquela discussão e simplesmente não conseguiu entender o que estava acontecendo.

 

—       Não podemos esperar mais uma semana! – Denna jogou agressivamente como se não fosse óbvio.

 

—       Eles estão completamente perdidos. Nott não faz a menor ideia de como organizar um exército. Talvez não saiba nem o que a palavra estratégia significa. – Fox apoiou. – Os fortes tem suprimentos o suficiente da poção antidoto para aguentar uma ação.

 

—       Os aliados dentro dos fortes temem que isso pode dar muito errado. O suprimento deles não é suficiente engajarem em algo que na cabeça deles pode falhar. Seria fatal! – o marido de Tina impôs com propriedade.

 

—       Temos que agir enquanto eles estão fracos e tomando medidas extremas. Estão com medo. – Devon se apôs. - Não podemos dar mais tempo a eles. Quanto mais tempo dermos, mais eles tem para se reestruturar. Já esperamos o suficiente. Tomamos o tempo que precisávamos para estruturar essa jogada. Não podemos perder a ação.

 

—       Os outros fortes estão querendo recuar! Será que não faz sentido? Eles não tem suprimento e foram prometidos suprimentos! – continuou o marido de Tina.

 

Hermione bloqueou toda aquela conversa não conseguindo entender o argumento.

 

—       O que aconteceu? – perguntou a Draco.

 

Ele não se mexeu inquieto em sua cadeira como ela esperava que ele fosse. Normalmente ele sempre se mostrava desconfortável ao dar notícias ruins.

 

—       A Catedral lançou um decreto. Ainda não se sabe se é temporário. Entradas e saídas de todos os fortes foram seladas. Ninguém entra, ninguém saí. – ele respondeu.

 

Imediatamente ela ligou os pontos e soube que o problema estava agora com o enorme contrabando de poções antídotos dependente do constante fluxo de entrada e saída de Comensais pelos portões.

 

—       Podemos mandar as remessas de outra forma. – sugeriu ela.

 

—       Não podemos arriscar. Eles estão esperando essa jogada. – ele expôs.

 

—       Está pensando em agir? – ela estava pronta já fazia muito tempo. Draco ainda se vestia da segurança de suas estratégias, por mais que quisesse bombardear Brampton Fort naquele exato momento.

 

—       O número de problemas é grande, mas essa é a discussão. – concluiu ele.

 

E ela soube naquele momento que ele considerava. Olhou ao redor esperando que seu coração fosse acelerar. Nada aconteceu. A estabilidade da frieza quase a confortou.

 

—       Pode resolvê-los? – perguntou apenas para anestesiar-se mais.

 

— Vamos ter que conversar sobre isso. – foi tudo que ele respondeu. E então ela soube que ele pouco prestava atenção na discussão que se desenrolava a sua frente. Ele estava pensando. Estava em seu próprio mundo. Estava analisando a situação do seu tabuleiro de xadrez para fazer sua jogada. E iria precisar do cérebro dela para fazerem aquela jogada juntos, como os cúmplices que haviam acordado em ser.

 

Tentou se engajar novamente na lógica daquela discussão e acabou por achá-la sem futuro. Aquilo era uma perca de tempo. Soltou para Draco que simplesmente não podia ficar ali e saiu. Eles eram produtivos quando estavam sozinhos. Saiu para fugir para o único lugar silencioso daquela casa. A terceira ala.

 

Subiu até seu apartamento. A torre que guardava a suíte dela e de Draco. Evitou o caminho que a tentava a ir até o quarto da filha. Precisava da frieza para continuar a anestesiando e ver a filha seria uma dolorosa faca contra seu coração. Quando chegou ao seu quarto e foi recebida pela visão do pôr-do-sol sobre os jardins dos fundos de casa pelas enormes janelas descobertas, sua guarda caiu quando se lembrou que havia escolhido aquela casa por uma razão. A visão que havia tido daquela propriedade que a cativou parecia quase uma fantasia louca de sua cabeça agora. Tudo que ela sabia era que simplesmente detestava aquele lugar. Detestava o mundo de gente que abrigava naquele momento. Detestava o vazio da grandiosidade. Detestava o que estava passando enquanto aquelas paredes a abrigavam. Não era sua casa. Era um lugar completamente estranho, diferente, de outro mundo. Queria sua casa de volta. Seu quarto. Sua cama. Por mais que estivesse em Brampton Fort, ela queria aquele lar que havia construído lá. Haviam memórias por todo o lugar naquela casa, por mais tristes e lindas que fossem. Eram a história de sua família. Ela queria sua casa novamente.

 

Foi quando rapidamente notou que poderia desmoronar quando a frieza de sua alma pareceu esquentar, que ela precisou concentrar-se para encontra-la novamente. Foi difícil dessa vez. Ter a visão de algo que sempre amou a machucando era problemática demais para simplesmente ser ignorado. O sol sempre fora seu melhor amigo.

 

Deu as costas e seguiu para seu banheiro. Despiu-se e se colocou debaixo da água corrente de uma ducha fria. Tinha que ser fria. Usava do mesmo princípio que aprendera com Draco sobre usar a agonia e dor do frio para encontrar estabilidade. Essa era a ideia. Encontrar estabilidade no caos. Porque ela era absolutamente incapaz de fazer sua cabeça parar. Os pensamentos fluíam, iam e vinham, e ela não tinha o menor poder de para-los. Por isso precisava de momentos como aquele. Especialmente quando estava em conflito.

 

Céus! Como estava em conflito! Quando saiu do chuveiro, parou de frente ao espelho vestida em seu pesado roupão. A pele vermelha, a ponta dos dedos roxos, por ter se prestado aos longos minutos debaixo da ducha gelara. Scorpius não saia de sua cabeça. Morgana e seu convite ao invencível. Arthur Weasley e sua decepção. Draco e seus problemas. Tudo era uma loucura e ali estava ela, de pé, encarando-se naquele espelho, completamente anestesiada de qualquer sentimento, embora tudo aquilo estivesse lhe fazendo mal. Não era capaz de se reconhecer. Aquele reflexo se parecia muito com a mulher que não era mais.

 

Transfigurou o pente sobre a bancada da pia em uma tesoura usando sua maravilhosa habilidade de facilmente produzir mágica comum sem o uso de uma varinha. Quase que instantaneamente tornou-se consciente de que não carregava mais sua varinha fazia um bom tempo. Fechou os olhos e inalou ar com calma, soltando-o com mais calma ainda.

 

Liberte-se. Havia sido o que Morgana lhe dissera. Certo?

 

Puxou uma mexa de seu cabelo molhado e usou a tesoura para cortá-la. Não merecia ter o cabelo de Hermione Granger. Sabia que seu filho estava marcado e que ele não sobreviveria se fosse tirado de Brampton Fort com Voldemort vivo simplesmente porque não conseguiria fazer o mesmo caminho que ela havia feito para se livrar da marca, ele ainda não sabia manipular suas habilidades. Sabia disso e mesmo assim, não estava desabando no chão aos prantos. Ela não merecia o cabelo de Hermione, porque Hermione estaria aos prantos. Cortou outra mexa, apertando os dentes ao sentir a dor de seus dedos ainda quase congelados forçar contra tesoura não muito eficiente que transfigurara.

 

Sabia cortar cabelo. Havia sido a estilista de Harry desde os tempos de Hogwarts. Desenvolvera sua habilidade com a tesoura na prática. Mas ali, ela não se importava. Não se importava se estava fazendo certo ou não, não se importava se iria ficar bonito ou não. Ela queria se livrar daquela identidade. Queria se livrar daquilo que Lúcio Malfoy costumava chama-la antes: primavera. Ela não era mais aquela gloriosa flor que mal podia esperar pelo verão.

 

Enquanto se esforçava com os pedaços grossos de mexas que cortava, com os dedos doloridos, naquele sofrimento que ali parecia tão significativo, seus olhos embaçaram quando as lágrimas vieram. Seu estado de alerta buzinou forte dentro de sua mente por estar evitando-as. Mas ela não se importou dessa vez. Iria se permitir chorar. Mas não iria chorar por Scorpius, ou pelo caos que vivia. Ela iria lamentar pela perda da bonita flor que havia sido, a ingênua flor que contava as horas para brilhar em toda a sua glória num verão ensolarado e caloroso. Iria lamentar agora para nunca mais precisar. Se queria que seus antigos amigos chorassem e lamentassem pela morte da Hermione que haviam conhecido, ela também iria. Iria agora, pela ultima vez. E nunca mais. Nunca mais choraria, se julgaria ou lamentaria por ter perdido quem havia sido. Iria libertar-se.

 

Pelo reflexo do espelho ela viu Draco aparecer. Não se importou com ele. Aquilo não tinha absolutamente nada a ver com ele. Aquele era um momento dela. Não fazia diferença se ele estivesse ali para testemunhar ou não. Se ele intervisse, ela iria encontrar uma forma de expulsá-lo dali. Mas não tinha vergonha que ele estivesse ali independente do estado que estava ou que poderia ficar. Draco já a vira de todas as formas possíveis.

 

Ele não interrompeu, não se manifestou. Quase não se fez ser notado, embora não tivesse se escondido. Era claro para ela que ele tinha consciência de que ela sabia que ele estava ali. Hermione apenas continuou sua árdua tarefa. Os dentes apertados. Os dedos doloridos. As lágrimas escorrendo livremente. O alívio de estar se libertando daqueles longos cabelos de primavera.

 

Quando finalmente não havia mais nenhuma mexa cumprida para que ela cortasse, soltou a tesoura sobre a bancada com os dedos trêmulos e cansados do esforço a qual haviam sido colocados. O sangue brotava dos cortes nas áreas exatas onde o atrito da tesoura entrara em contato com sua pele no repetitivo e trabalhoso movimento de atravessar as largas mexas de cabelo molhado. Abriu a torneira e deixou a água corrente lavar seu sangue. Seu sangue nobre. O sangue que ela havia acreditado sua vida inteira que por sorte acabara carregando magia.

 

Fechou os olhos determinava curar os cortes que causara nela mesma. Não era mais difícil concentrar-se no funcionamento de seu próprio corpo agora. Já havia praticado tantas vezes desde que conseguira se livrar da Marca Negra que encontrar o ponto certo onde podia sentir e ditar o funcionamento de tudo nela já não lhe custava um universo infinito de concentração. Ela encontrava em seu sangue o elemento que conduzia magia por todo o seu corpo. Um elemento que ela era dona, que ela comandava. Era apenas uma questão de vontade. Ditava a ordem, como se estivesse proferindo um feitiço, e seus anticorpos, suas plaquetas assumiam posição, suas células se multiplicavam. No tempo que ela queria.

 

Parecia tão simples e tão pequeno, mas ela mais do que ninguém sabia o que aquilo implicava. O tamanho daquela magia. Quebrava todas as regras conhecidas do mundo mágico. Voltava para um tempo onde mitos e fábulas residiam. Ultrapassava o espaço e tempo. Hermione não conhecia, no mundo inteiro, um bruxo que pudesse conseguir fazer o que ela estava fazendo naquele exato momento sem nenhum elemento externo. Ela não tinha medo. Não tinha mais medo. Não importava se todo seu poder não tivesse limites. Não importava para onde ele a levaria ao se render a ele.

 

Abriu os olhos e encarou-se no espelho. Sua respiração estava pesada tentando sobreviver ao nó em sua garganta. Secou a mão em seu robe não sentindo nem mais um resquício de dor. Ela, porém, estava uma bagunça. Tudo estava errado com o seu cabelo. Mas ela concertaria. Ficaria a imagem perfeita de um tamanho, curto, objetivo, afiado. Essa era quem ela era. Não haveria mais os cachos de primavera. Agora ela apenas iria encarar o caos que ela colocaria no lugar. O caos que ela havia causado e o caos que ela usaria suas próprias mãos para por em ordem. Ela. Mais ninguém. Não dependia de ninguém. Tinha um poder que ninguém no mundo imaginou poder ter. Talvez nem mesmo Voldemort.

 

Draco finalmente aproximou-se e parou logo atrás dela. Seus olhos foram dela no espelho para ele. Sim, era responsável por estar fazendo ele ir a loucura, tentando entender o que estava acontecendo com ela. Mas ela não tinha o interesse de compartilhar. Era o passado do sangue dele que temia e silenciava o que o sangue dela era capaz. Ele agora carregava a responsabilidade desse passado. Ela tinha receio de alimentá-lo, dar a ele a prova que ele precisava  para entender o porque os antepassados dele haviam apagado os dela. Conhecia Draco. Conhecia o homem que a surpreendera ao se doar e se abrir tanto naquele ano em que eles foram desafiados como casal e como indivíduos de todas as formas possíveis, para acomodarem os filhos a vida deles. Mas também conhecia o Draco cabeça do legado Malfoy, O Draco que carregava consigo o enorme senso de responsabilidade pelo que viera antes dele, pelo título que havia nascido com o seu nome, pela sua representação na história. Ela não sabia a reação dele se caso o homem com quem criara uma família entrasse em conflito com o que carregava um legado.

 

Draco tocou sua cintura com muito calma. Cercou seu corpo para alcançar a mão que ela havia machucado. Hermione deixou que ele a visse limpa. Mesmo que houvesse sangue na tesoura, o que ele evidentemente percebera. Vinha deixando que ele presenciasse algum dos experimentos que ela vinha explorava, mesmo com receio. Ele precisou de um tempo para processar aquilo e Hermione sabia, que ele estava chegando a grandiosa conclusão que dava a ela um título que nenhum outro bruxo tinha. Ele era inteligente, mais do que o suficiente, para entender o que ser capaz de fazer o que ela tinha feito implicava. Aquilo fez com que o silêncio se estendesse por muito mais tempo. Bem mais do que ela previu. Ela começou a ficar ansiosa pelo que poderia sair da boca dele quando finalmente ele decidisse abri-la. E foi quando ela imaginou que aquela seria uma das vezes que ele decidiria afastar-se sem dizer qualquer palavra, ele finalmente soltou:

 

—       O que está acontecendo com você? – muito baixo. Muito pensativo.

 

Ela piscou muito devagar soltando o ar.

 

—       Não vamos conversar sobre mim. – foi o que ela respondeu.

 

Draco mostrou-se frustrado.

 

—       Eu sinto que tem fugido de mim. – soltou. - Não porque decidimos colocar uma pausa em nós para nos focarmos em solucionar o caos que está em nossas mãos. Mas porque, por alguma razão, algum motivo, tem medo. Receio. De mim.

 

Ela bem quis dizer a ele que ele sabia o porque. Porque ele realmente sabia. Talvez ela nunca tivesse tido receio se ele também nunca tivesse se afastado dela, se silenciado, se tornado distante, quando ele tão igualmente mostrara receios a respeito do passado dela e do que isso significava para ele.

 

—       Não vou mais fugir. – Decidiu falar. Ela estava se libertando. Não tinha mais medo do seu universo sem limite e para onde isso a levaria. – Não tenho mais medo. - Ela o encarou pelo espelho quando ele tornou a direcionar o olhar para ela. – Não existe mais receio. De ninguém. De você ou de mim mesma, ou do restante do mundo, ou do que isso pode me custar.

 

Esperou pela reação dele, porque sabia que ele entendia o que aquilo significava. Draco recuaria, porque sempre que a confrontava, por mais sutil que fosse, era colocando diante de fatos que não queria ver. E não foi muito diferente, por mais que ela quisesse que ele a confrontasse, ele recuou assentindo calmamente optando por não dizendo mais nada a respeito. Encostou-se na bancada ao lado dela, cruzando os braços.

 

—       Quero estar aqui para você. Mas sabe que não posso. Não agora. – disse.

 

—       Eu sei. – respondeu ela, fechando os olhos e secando suas bochechas. Quando tornou a se encarar no espelho, traçou uma rápida estratégia de por onde começaria para arrumar seu cabelo.

 

—       Convoquei todos para o hall de jantar em duas horas. – informou. - Você precisa estar lá.

 

Ela assentiu. Estaria.

 

—       Vamos agir? – perguntou.

 

Ele hesitou.

 

—       Temos alianças a cumprir. Elas estariam em risco. Prometi mais tempo.

 

—       Mas você quer agir. – sabia que ele queria.

 

—       Você também. Desde o dia em acordou na casa destruída dos Potter.

 

Ela soltou o ar sentindo seu cérebro entrar em modo ativo sem que ela conseguisse controlar. Ambos haviam acordado que a jogava perfeita consistia em encurralar Brampton Fort e os outros fortes precisavam cair para que isso acontecesse. Os nomes fortes que haviam escolhido para fazerem aliança, estavam agora recrutando a força perfeita para tomarem os fortes quando fossem o sinal fosse dado.

 

—       Eles não podem ter mais tempo. Nott tem notado o estranho movimento dos outros fortes. Ele sabe que nós os temos como alvo também. – ela expôs a lógica. – Nós temos a nossa parte do acordo intacta. Demos tempo o suficiente, enviamos suprimento da poção antidoto. Uma rebelião num forte é o suficiente para que Voldemort considere um lugar inseguro para se abrigar. Uma rebelião é o suficiente.

 

Draco concordou.

 

—       Precisava escutar isso para saber que nossas cabeças estão juntas no mesmo lugar. – ele disse.

 

—       Então temos nossa decisão?

 

—       Sim.

 

Perfeito. Ela estava pronta. Estava já fazia muito tempo. Ajeitou sua postura incorporando seu controle para por ordem no caos em sua cabeça. Trouxe a tesoura novamente para sua mão e partiu o cabelo preparando-o para nivelá-lo. Draco apenas a observou por alguns segundos trabalhar com calma e destreza, longe do estado em que ela estivera antes.

 

Ele estendeu a mãos e segurou uma mexa do cabelo dela, como se estivesse avaliando o fim das pontas de seus cabelos procurando por algo especial ali, ou talvez como se estivesse lamentando pela perda do longo comprimento que costumava ter. Draco gostava de seus cabelos longos. Ele já havia dito que adorava a forma como eles caiam sobre suas costas. Ela não se importava. Aquilo não era sobre ele. Era sobre ela. Mas ainda assim, queria muito saber o que se passava pela mente dele. Especialmente a respeito dela.

 

—       Você tem me matado por dentro. – ele soltou. Um comentário baixo. Quase despretensioso.

 

Ela desacelerou hesitando se deveria reagir a aquilo ou não.

 

—       Eu sei. – foi tudo o que disse. Realmente sabia. E não pretendia fazer nada a respeito.

 

Draco simplesmente soltou o ar com calma. Aproximou-se dela e lhe deu um beijo simples em sua têmpora antes de tomar seu caminho de volta para o quarto. Hermione o observou pelo espelho abaixando a tesoura e o pente. Sua língua coçou. Ela hesitou. Mas não conseguiu se calar.

 

—       Draco. – chamou antes que ele pudesse sumir. Draco parou. Ele não se virou, como se estivesse tentando decidir se havia fantasiado o nome dele saindo da boca dela ou se realmente acontecera. – Talvez acredite que não esteja, mas sabe que também tem fugido de mim.

 

Ele continuou ali por alguns segundos. Aos mãos no fundo do bolso da calça. Houve um breve silencio tenso entre eles antes de Draco responder:

 

—       Não quero lutar por uma família que eventualmente vou acabar sendo obrigado a destruir, Hermione.

 

Acabar sendo obrigado... Não havia nada mais direto do que aquele simples confronto. Ela não disse nada de volta, simplesmente porque não conseguiu. Ele foi embora.


**


Encarou-se no espelho sabendo que estava adiantada. Tomara seu tempo para arrumar seu novo cabelo, mas sua antiga política de usar o mínimo de magia possível para tarefas comuns não era mais parte de quem ela era. Estava explorando, e toda vez que conseguia produzir algo usando sua simples imaginação, por mais pequeno que fosse, era o suficiente entender mais do que era capaz e do que precisava para ativar suas habilidades especiais.

 

Estava usando preto. Era um luto pelo fim dos limites e barreiras que estava jogando fora. Mas também representava uma fase diferente. A joia de seu colar era pesada. O salto alto, como sempre. A fenda do vestido era elegante, o decote reto e bem horizontal deixava a mostra muito do colarinho, mas as mangas longas faziam o trabalho de trazer o clássico e excluir o vulgar. Definitivamente estava abaixo do seu peso ideal, mas ainda assim não deixava de ter suas curvas. Seus cachos já não existiam mais. Seu cabelo se limitava a um ondulado aberto na ponta com pouco volume, partido de lado, que descia não muito além da linha de seu queixo. Era muito diferente de qualquer corte que já tivera na vida. Ainda não sabia se o preferia partido de lado ou ao meio. Sabia apenas que não queria seu antigo cabelo de volta. A pedra escura de seus brincos era bem visível com o novo cabelo e a maquiagem dos olhos uma pouco mais marcante que o normal. Ver-se diferente no espelho lhe dava um ânimo diferente, uma identidade nova. Era quase um papel em branco. Sentia-se mais afiada, mais focada, mais decidida. E dessa vez, não esteva tentando vender uma imagem para a mídia.

 

Aprumou-se, alinhando a postura encarando aquele reflexo tão diferente no espelho uma última vez e deu as costas. Ela não era mais Granger, também não era Malfoy. Era apenas Hermione. Iria ser a Hermione que queria ser. Desceu novamente para a ala principal de sua casa indo em direção ao hall de jantar. Encontrou Tina no meio do caminho, que parecia estar a procurando, e a reação da mulher foi a primeira que deixou Hermione saber que sua mudança não havia sido pouca. Por algum motivo, Tina não soube o que fazer de inicio. Talvez estivesse impondo demais sua postura porque por um rápido segundo Hermione pensou que a mulher fosse fazer algum tipo de reverencia. Ou talvez estivesse apenas delirando. Não que não fosse se deliciar com a ideia de se ver superior a esse ponto, e não iria se condenar por isso.

 

—       Sra. Malfoy. – Tina limpou a garganta revirando a pilha de papeis e cartas que carregava. – Narcisa Malfoy lhe mandou uma carta por Isaac Bennett. – estendeu a ela um envelope simples e já aberto. Tina vinha tendo acesso a todas as correspondências, notificações, mensagens, comunicados que recebiam. Ela filtrava as que era importantes passar para ela ou Draco e as que podia resolver sozinha. – Sinto muito. – foi o que ela disse.

 

Retirou papel dobrado de dentro do envelope e ao abri-lo as palavras eram poucas, mas muito claras: Scorpius foi marcado. Hermione não reagiu de nenhuma forma. Sabia daquela informação. Ainda era louco saber que sabia, mas sabia que simplesmente sabia. Estava anestesiada a ela. Antes de preparar-se para colocar de volta o papel dentro do envelope e passa-lo para Tina, viu Fox virar o corredor.

 

Ele andava com pressa, como se estivesse carregando uma ordem, mas no momento em que o homem colocou os olhos sobre ela, ele desacelerou. Ele nunca havia escondido de ninguém seu interesse por ela, mas sempre se reportara a ela com extremo respeito. Quando ele parou a poucos metros dela, Hermione foi obrigada a presenciar a segunda reação a sua nova postura. Um estranho silêncio os percorreu por alguns bons segundos, como se Fox estivesse repensando mil vezes se deveria ou não cruzar a linha. Tina parecia esperar atenciosa pelo que estava por vir, da mesma forma que Hermione. Até que então ele soltou um riso forçado pelo nariz.

 

—       Sou leal ao seu marido e por causa disso eu jamais te tocaria ou tentaria qualquer coisa que desrespeitasse a posição que ele ocupa para mim. – ele disse e estreitou os olhos analisando-a cuidadosamente dessa vez. – Mas o que será que é com você que toda vez que o dia vira e eu a vejo algo em mim me convence que o encanto que tenho por você faz de mim seu servo? - ele não parecia contente. – Pode me fazer ser completamente fascinado por tudo o que é, mas não pode me fazer ajoelhar, Sra. Malfoy.

 

Hermione era extremamente grata pelo serviço e pela lealdade que ele tinha a Draco. Era extremamente grata pelo respeito com o qual ele sempre a tratara. Mas ali, tudo que ela quis enxergar foi a afronta dele. Ela entendia agora que havia algo nela que fascinava muitos. Talvez Pansy estivera certa quando a chamara de feiticeira. O tempo, proporcional a sua personalidade e aceitação, parecia trabalhar muito em prol do seu encanto. Ela não queria servos, não queria ninguém presa a ela por nenhum fascínio, mas sabia que podia ganhar quem quisesse como quisesse. Não sabia como, mas sabia que podia. E Fox estava afrontando aquilo.

 

—       Tem certeza de que não posso? – ela o confrontou de volta.

 

Aquilo pareceu fazer com que ele tivesse o desejo de provar que ela que não podia sair por aí colocando os outros debaixo de seu salto. Por um rápido segundo, ela não reconheceu Fox e duvidou que ele fosse manter toda a postura respeitosa que sempre tivera com ela. Por aquele segundo, pelo modo como ele fixou os olhos em sua boca, ela pensou que ele fosse avançar. Uma raiva e um encanto. Tudo ao mesmo tempo naquele olhar. Hermione sabia que o pararia. Ele nunca a teria, e se ele tentasse, ela o faria se ajoelhar e faria com que ele fosse o servo que não queria ser. Não se importava com o julgamento dele ou de ninguém.

 

—       Eu sei que isso não é só um corte de cabelo. – ele soltou. Quase mais para ele mesmo de que para ela. Desviou o olhar para Tina rapidamente, como se não se importasse que estivesse ali. Fixou novamente os olhos em Hermione. Ela viu claramente a raiva que ele tinha por deseja-la. Havia visto aquilo em Draco por muito tempo. – Não espere que o restante do mundo também não saiba. Ele quer te conhecer faz tempo. – findou e foi embora.

 

Hermione ficou por alguns segundos exatamente onde estava. Fazia tempo que o mundo queria saber o que ter o sangue que ela tinha realmente significava. Daria a eles o que queriam. Dobrou o recado, colocou-o de volta no envelope e o devolveu para Tina.

 

—       Acaso Draco sabe sobre Scorpius? – perguntou como se nada tivesse acontecido.

 

—       Ainda não, Sra. Malfoy. Ele tem estado ocupado para me dar qualquer atenção. Sei que isso muda tudo...

 

—       Isso não muda nada. – Hermione a cortou. – Eu o deixarei saber. Continue fazendo seu trabalho. – disse. Pausou e pensou. – Queime isso. – Referiu-se ao pequeno recado de Narciso. Tina pareceu não entender, mas assentiu concordando com a ordem. Hermione apenas avançou seu caminho em resposta.

 

Preparou-se para os olhares. Sabia que os receberia. E estava disposta a dar as boas vindas a todos os olhares que fossem. Essa era ela, nova, indestrutível. O mundo saberia. O mundo finalmente a conheceria e ela finalmente ficaria cara a cara com seus próprios limites.

 

Entrou no hall de jantar e não foi muito diferente do que imaginou. Assim que foi notada, realmente foi intensamente notada. Tomou a coroa da atenção e a vestiu com orgulho. Seu olhar alcançou Draco não muito longe. Ele estava dando ordens a Denna, mas os olhos estavam travados sobre ela. Sua saliva amargou. Não se importava com nenhum olhar ali, exceto o dele. Ele a julgava. Julgava seu vestido, seu cabelo, sua maquiagem, sua escolha de joias. Julgava tudo. Julgava o que representava. Ela bem sabia, e sentia-se incomodava por ter conhecimento do que aquilo significava para ela como descendente de Morgana, como sua amante, como mãe de seus filhos.

 

Foi até ele, que logo tratou de dispensar Denna sem tirar os olhos dela por um segundo que fosse. A outra fez uma pequeno sinal de respeito a Hermione antes de passar por ela e seguir seu caminho carregando a nova ordem, claramente a checando dos pés a cabeça em primeiro lugar.

 

Draco não era pegajoso, e se havia algo que o caracterizava era sua falta de demonstração de afeto em público. Mesmo quando vendiam a imagem do casal mais apaixonado do mundo bruxo, os toques feitos em públicos eram geralmente frios e simples. A mídia os interpretava exageradamente visto o modo como Malfoys costumavam se comportar com seus companheiros em público por décadas. Definitivamente foi surpreendida por ter o braço dele circulando sua cintura no meio de tanta gente, onde a atenção estava claramente voltada para eles. Draco tinha a mania de usar do toque quando sentia a necessidade de lembrar para quem quer que fosse que estivesse por perto, que ela, Hermione, era dele. Ele inclinou-se bem próximo de seu ouvido e lhe deu um beijo calmo, que foi seguido de um alerta:

 

—       Acaso deveria me sentir intimidado?

 

Ela puxou o ar pacientemente alisando o amassado no ombro dele.

 

—       Vá em frente e diga que torce para que eu esteja apenas perdendo a minha cabeça. Que torce para que meu comportamento seja somente a projeção do stress que estamos passando. De ter meu filho longe de mim. De me forçar a não ceder a tentação de me dedicar a Hera. De me obrigar a não sentir falta de você, do que tínhamos, do que nos dedicamos a fazer crescer. – afastou-se para encará-lo de perto. - Loucura talvez. É mais fácil de digerir se eu estiver apenas enlouquecendo, não? De que tudo vai voltar ao normal quando essa guerra acabar. Melhor do que acreditar que talvez tudo isso seja exatamente o que eu precisava para entender de onde vim e do que fui destinada a ser.

 

Hermione não gostou do brilho que apareceu nos olhos dele. Ela estava sendo direta, estava sendo muito direta. Estava revirando e cutucando o que ele já honestamente dissera a ela que o mantinha com um pé atrás quanto ao que ela era. Ele segurou seu queixo muito gentilmente.

 

—       Está forçando demais os seus limites de uma forma que não tem me agradado. – inclinou-se e depositou um beijo simples sobre seus lábios. – Não gosto que parece pouco se importar com o que tudo isso pode te custar.

 

Ele ainda não havia entendido. Não entendera que tudo aquilo era para assegurar tudo que mais importava para ela. Era para assegurar seu poder, seus filhos, sua família, seu nome e seu marido também. Mas ele ainda insistia na procedência do passado dela e do dever que ele tinha para com isso.

 

—       Não sou sua inimiga, Draco.

 

—       Sei que não é. – ele disse, puxou o ar e afastou-se dela. – Mas existem coisas que você não sabe.

 

Quase sentiu raiva quando ele se afastou. Sabia! Sabia que ele tinha conhecimentos sobre ela do qual desconhecia! Queria trazê-lo de volta, segurar seu colarinho e obriga-lo a falar tudo. Sabia que Narcisa havia lhe passado informações que o fazia olhá-la por outro angulo.

 

—       Você não tem o direito de me privar do meu passado. – tentou não parecer enfurecida, mas foi firme.

 

—       Sim, eu tenho. E não me faça justificar o porque, porque sei que vai achar que estou a desafiando, quando tudo o que realmente quero, é te manter segura dele. – ele disse. Disse como se estivesse em uma manhã qualquer tomando café da manha com ela ao lado. Como se não estivesse comentando sobre nada mais do que o clima do lado de fora.

 

O estomago dela revirou. Revirou ao digerir aquele senso de traição que quase a imobilizou. Sabia! Ela sabia! Sabia que ele escondia algo! Que ele sabia mais sobre ela do que deixava transparecer! A quanto tempo ela dividia a cama com o homem que escondia dela seu passado? Ela havia o confrontado antes a respeito disso e ele a fizera engolir que estava tentando encontrar problemas que não existiam. Quantas vezes ela se deitara ao lado dele sem saber se ele havia estado com outra mulher no início e não se vira no direito de se sentir traída como se via agora.

 

Isaac Bennett se aproximou e Hermione foi incapaz de dar atenção a ele. Não conseguia desgrudar os olhos de Draco, não podia acreditar que ele não estava dando importância ao que havia acabado de confessar. E por mais que ela quisesse explodir em cima dele, sem se importar com quem estivesse por perto, seu estado de insensibilidade a manteve estável enquanto sentia o amargo de tudo aquilo endurecer sua alma. O ódio subiu novamente como se nunca tivesse ido embora. De repente o homem com quem dividira tanto de sua vida, sua intimidade, seus sentimentos, seus frutos, parecia incrivelmente distante. Quase uma mentira. Pensava que já conseguira desvendar todas as máscaras dele, mas agora se via diante de uma que a repugnava.

 

Quis se ver como uma vitima. Quis jogar aquilo contra ele. Não conseguia digerir como ele havia guardado aquilo para ele enquanto dormia ao lado dela, enquanto a abraçava quando se encontrava com ela depois de um dia cansativo na Catedral, enquanto se oferecia para cuidar do café da manhã em alguma manhã de domingo. Ela simplesmente não conseguia entender o porque ele escolhera mantê-la debaixo das sombras, como se não importasse. Mas deixou que o sangue gelasse em suas veias. Por algum motivo, guardar aquele sentimento era como alimentar uma energia que ela precisava naquele momento. O sentimento de ódio, frustração, traição, dor, angústia. Era tudo que ela precisava, porque se não podia encontrar uma forma de ter nenhum outro sentimento, faria com que aqueles fossem suficientes para alimentá-la, independente do monstro que fosse surgir. Era o que ela tinha, era o que iria usar trabalhar.

 

Se Draco tratava com indiferença guardar o passado dela, dela mesma, ela o faria acreditar que ele realmente podia ter uma justificativa para tal. Novamente, aquela não era sua prioridade no momento. Mas ainda iria entender o porque ele decidira deixar com que ela soubesse que ele guardava aquele segredo dela naquela altura do campeonato.

 

Voltou-se para Isaac que apresentava aos dois, como havia preparado o Ministério para receber a queda de Voldemort. Tudo já estava pronto, ele havia feito o trabalho dele exatamente como Draco contara que ele fosse fazer. Mesmo com todos os medos e receios por sua família. Ele havia posto tudo em jogo. Não por uma boa causa, mas porque queria a recompensa que viria depois. Hermione escutava tudo aquilo com uma indiferença cruel. Guardava para si sua própria resolução. A presença de Draco a incomodou pela tensão que agora havia entre a pequena conversa interrompida, que para ele parecia ter tido um final.

 

Isaac e Draco entraram num debate sobre as últimas jogadas de Theodoro e sobre as intenções por trás das decisões que tomava. Isaac demonstrou mais de uma vez que esperou pela argumentação de Hermione e surpreendeu-se por vê-la calada. Hermione sabia que havia construído sua reputação. Ela havia se mostrado uma voz bem ativa e ganhara respeito. O mundo sabia que ela e Draco trabalhavam juntos, igualmente, cada um com o seu peso. Entendia que sua atitude silenciosa levantava surpresa. A verdade, era que nenhuma daquelas conversas fazia mais diferença para ela. Não agora. Não mais.

 

Seus olhos foram parar em Harry, não muito longe de onde ela estava. Os olhos dele estavam sobre ela. Não sabia a quanto tempo ele a encarava. Ele precisava fazer a barba. Alguém também precisava cortar seu cabelo. Se estivesse no passado, provavelmente estaria desejando tomar a atitude de coloca-lo em ordem. Agora, não se importava.

 

Ele estava sozinho naquela sala, esperando pelo anuncio que viria. O anúncio que o obrigaria a mergulhar num confronto que o colocaria de frente com Voldemort definitivamente. Hermione sabia que ele estava empenhado em estar pronto, mas ao mesmo tempo, também sabia que Draco separara gente para se certificar que ele ficasse vivo até o final, simplesmente porque duvidava que o marido acreditasse que Harry estava pronto. E a verdade era que ele realmente não estava. Nunca estaria. Por mais paixão que Harry tivesse em se vingar de tudo que Voldemort o privara, ele era o tipo corajoso que usava mais a emoção do que o cérebro.

 

Harry a encarava tentando lê-la. A dor em seus olhos nunca o abandonava. Ele queria Hermione Granger de volta e parecia que quanto mais os dias se passavam, mais ele se dava conta de que ela estava fora de alcance, embora a esperança parecia nunca abandoná-lo. Ela tinha raiva. Raiva de ver que ele não queria deixá-la ir. O que mais ela precisava provar para ele? Não cortara o cabelo curto o suficiente? Não se vestira diferente o suficiente?

 

Sabia que procurar exagerar para ele. Uma atitude estúpida, sem dúvida. Mas tinha a necessidade de provar para ele que estava completamente distante dele, de que muito já fora comprometido. A verdade, era que talvez assim, ele se libertasse dela, encontrasse um novo propósito. Ficasse bem. Porque por mais que não conseguisse olhá-lo sem desejar que ele sumisse, Harry Potter era seu príncipe. O homem que o universo havia moldado para ser seu par. Tudo com ele parecia se encaixar no lugar certo. Seu melhor amigo, seu amante. O futuro deles teria sido perfeito, porque mesmo que nunca tivessem acabado juntos, havia tido a plena convicção de que chegaria ao fim de sua vida em algum lugar ao lado dele.

 

—       Hermione? – Era Draco.

 

Notou que perdera a linha da conversa. Desviou o olhar imediatamente a Isaac que sabia estar expondo algum ponto.

 

—       Poderíamos a ter como cabeça dos tribunais no Ministério quando estivermos conduzindo os julgamentos e sentenças dos que se mantiveram leais a Voldemort até o fim. – ele repetiu. – Quero dizer, todos de Brampton Fort e de todos os outros fortes conhecem bem o trabalho que fez conduzindo as Casas de Justiça quando trabalhou para Nott.

 

—       Vamos chegar lá quando cruzarmos essa ponte. A longo prazo, acredito que Draco não tenha a intenção de colocar o nome Malfoy debaixo do poder de sentenciar a Azkaban ou a morte aqueles que não estiveram de acordo com o movimento que levantamos. Seria inquestionavelmente controverso para a história. – disse e percebeu o sutil olhar repreensivo de Draco quase que instantaneamente. Ele havia captado o tom irônico com o qual tratara o legado Malfoy. Ficou satisfeita com aquilo e pediu sua licença para afastar-se em toda a sua elegância e indiferença.

 

Passou por eles seguindo por entre os olhares até chegar a Harry. O homem que era seu passado perdido, sua vida perfeita, sua simples e descomplicada vida perfeita. Era difícil ignorar o constante olhar dele. Parou ao seu lado e logo notou que era extremamente desconfortável estar próximo a ele. Harry alisava os curativos em sua mão.

 

—       Vocês vão atacar, não vão? – ele tratou de indagar logo que ela deu um segundo para pensar no que deveria falar.

 

—       Está pronto? – precisou perguntar para ele. O anuncio do que iriam realmente fazer ficaria nas mãos de Draco.

 

—       Sabe que não estou. Nunca vou estar. – ele tratou de dizer. – Mas não isso não importa. Eu preciso de um fim. Não importa qual seja.

 

Ela nunca havia escutado aquilo do Harry que conhecia antes. Ele queria um fim, mas sempre temera por qual fosse esse fim.

 

—       Estamos bem próximo do fim. – disse aquilo porque ela desenharia aquele fim ela mesma. Independente de Harry, de Draco, de Voldemort, do exército que fosse. Ela faria aquele fim acontecer.

 

Harry não disse nada por um tempo. Não parecia estar concentrado em nada que fosse o fim.

 

—       Você está bem diferente. – ele finalmente comentou.

 

Sabia que ele estava se referindo talvez ao seu corte de cabelo.

 

—       Sei disso. - Essa era a intenção.

 

—       Me pergunto o porque precisa disso. – ele especulou.

 

Ela se viu curiosa.

 

—       O que você mais se pergunta sobre mim?

 

Ele puxou o ar e concentrou-se num pedaço de curativo solto.

 

—       Se você esqueceu. – respondeu. – Se esqueceu de tudo. Da nossa história. De quando ficávamos até tarde no salão comunal da Grifinória conversando enquanto os outros dormiam. De quando dividíamos a mesma garrafa de cerveja amanteigada no topo da torre de astronomia no intervalo das aulas. De quando sentava no chão do banheiro enquanto eu tomava banho para poder chorar sobre Rony. De quando demos o nosso primeiro beijo. De todas as noites que tivemos depois dele. De como parecia certo que finalmente havíamos nos encontrado. E de como era frustrante ter a profecia e a guerra nos separando. – ele soltou o ar frustrado. – Como esqueceu, Hermione?

 

Ela não queria sentir dor por ter perdido aquele passado. Mas de tudo que ela anulava sentir, adicionar mais um a lista não era difícil. Seu coração apertou, mas ela logo encontrou seu estado estável, seu modo anestesiado.

 

—       Não esqueci. – disse. Já havia lamentado demais pela história que perdera com ele havia muito tempo e lamentava por coisas muito maiores agora.

 

—       O que Malfoy fez? O que Draco Malfoy te deu?

 

Hermione encontrou o olhar do marido um tanto distante dela. O olhar dele era suspeito. Havia tanto entre eles que estava errado, havia tanto nela que o detestava e tanto que o desejava. E céus! Não queria o perder. Mas será que ele seria apenas mais um de seus sacrifícios? Ele era uma eterna aventura, uma constante missão. Crescia com ele.

 

O que Draco Malfoy havia dado a ela?

 

—       Asas. – respondeu.


Neville Longbottom


Tentava recuperar o fôlego enquanto cruzava os milhões de salões daquela casa para chegar a ala principal. Havia perdido a hora, como sempre. Era difícil não perder quando tudo que fazia se resumia a estudar o Arco. Aquele artefato tinha o poder de consumir quem quer que desse seu tempo a ele. Quando finalmente conseguiu chegar a salão de jantar, encontrou mais gente do que o esperado amontoado ali, escutando Draco Malfoy proferir que em dez minutos, a ordem para a tomada dos outros fortes seriada dada. A rebelião começaria e eles só iriam marchar contra Brampton Fort quando o sol nascesse.

 

Passou os olhos pelas pessoas. Algumas encostadas pela parede, outras acomodadas cadeiras que estavam aleatoriamente dispostas pela sala. Tudo parecia muito orgânico, muito intimo. Era como se Malfoy estivesse tentando manter aquele ar de que todos eles estavam no mesmo barco, lutando pelo mesmo propósito. Uma estratégia inteligente.

 

Encontrou Harry não muito distante encostado em um canto qualquer, apenas escutando. Encarando tudo bem focado. parecendo estar em um mundo muito distante. Aproximou-se dele para lhe fazer companhia por alguns minutos enquanto não encontrava Hermione.

 

—       Hei. – fez-se ser notado.

 

—       Hei. – Harry respondeu.

 

—       Pensei que fosse estar com o pessoal de Mason lá em cima. – comentou.

 

—       Mason me colocou debaixo das ordens de Denna. Ela me obrigou a ficar aqui enquanto não sabe o que fazer comigo. – ironizou ele.

 

—       E devo confessar que é impressionante te ver seguindo ordens. – brincou ele.

 

Harry suspirou levando tudo para um lado mais sério.

 

—       Fui impulsivo a vida inteira. Passei por cima de ordens, desafiei leis e me enfiei em situações que não me levaram a lugar algum. – disse. – Ao menos uma vez, preciso me certificar de que se eu conseguir me conter e seguir um programa mais inteligente do que meu instinto impulsivo, posso alcançar aquilo que sempre procurei em primeiro lugar.

 

Neville tinha que admitir que era algo completamente novo vindo de Harry Potter. A lei de esperar diferentes resultados repetindo as mesmas tentativas parecia finalmente ter feito sentido na cabeça do velho amigo.

 

—       Soa como uma decisão inteligente. – encorajou ele.

 

—       Tem me custado bastante. – Harry soltou.

 

Talvez ele estivesse se referindo a queda da Ordem. Todos sabiam que Harry quem havia decidido fazer com que as coisas acontecessem do modo horrível que aconteceram. Draco Malfoy tinha enfiado seu plano perfeito dentro da cabeço de Harry e ele havia comprado. Talvez no desespero. Neville não conseguia nem mesmo se lembrar de como a Ordem estava conseguindo sobreviver.

 

—       Bem. Malfoy tem muito mais do que a Ordem teve algum dia e ele conhece bem a estrutura do Império de Voldemort. Vamos ver como isso vai terminar. – concluiu ele. – Sabe onde posso encontrar Hermione?

 

Harry apontou com a cabeça em direção a ela.

 

—       Ao lado do marido. – ele respondeu com um certo desgosto pela palavra que usara para se referir a Malfoy.

 

Tentou procurar por ela no centro daquela sala, onde Draco Malfoy estava de pé e demorou a reconhecer que a figura sentada em uma poltrona logo ao lado dele, lendo um longo pergaminho, discutindo com Tina Miller sobre o conteúdo, era Hermione Malfoy. Teve que puxar o ar tentando trazer algum tipo de paz para seus pensamento ao ver o tanto que ela parecia uma versão bastante ousada e bem afiada de uma Hermione que jamais imaginara ver.

 

—       Oh. – teve que expressar. – Ela está diferente.

 

—       De fato. – comentou Harry. – Eu pensei que ela não poderia se modificar mais do que já nos obrigava a ver, mas isso... – ele seque chegou a concluir.

 

—       Me pergunto se ela não se sente perdida. Talvez. – defendeu Neville. – Veja só, a motivação dela é apenas conseguir o filho de volta. Não consigo imaginar o caos que ela deve estar passando, como mãe, ao saber que o filho está nas mãos de Voldemort.

 

—       Ela não parece perdida. Mas quem somos eu e você para especular quando a única pessoa que parece realmente entender e saber o que está acontecendo com ela é Draco Malfoy. Ela não se abre para ninguém mais.

 

Neville queria concordar, mas duvidava que ela estivesse se abrindo para o próprio marido. Não sabia nada sobre o relacionamento dos dois, mas a única coisa que conseguia ver era o modo robótico e extremamente profissional que tudo parecia acontecer dentro daquela casa, entre aquelas pessoas e especialmente entre Draco e Hermione. Podia estar errado, e queria estar errado, ninguém sabia o que Draco e Hermione eram realmente quando estavam sozinhos.

 

—       Bem, julgá-los não é exatamente nosso papel aqui, certo? – findou ele. – Preciso ir até ela.

 

Avançou por entre as pessoas até chegar no centro do salão onde o casal estava. Esperava não ser crucificado pelo momento tão inoportuno. Focou-se em Hermione discutindo com Tina o que precisava ser tirado e o que precisava ser acrescentado no texto que seria impresso nos jornais do dia seguinte. Sabia que era algo a respeito da agenda que vinham tentando espalhar pelo mundo bruxo. Talvez um texto se referindo a forma como o império estava interessado em escravos e não aliados, ou como os ideias absolutistas de Voldemort tinham interesse apenas em glorificar cada vez mais sua própria existência, ou como a Marca Negra era uma forma de aprisionamento e não proteção. Coisas que todo mundo já sabia, mas que estivera longe da boca do povo e dos jornais por muito tempo, facilitando a lavagem cerebral feita em prol das conquistas de Voldemort.

 

Esperou até que Tina Miller se levantasse e saísse acompanhada do jornalista responsável por assinar o nome no final do artigo. Percebeu que Hermione estava pronta para se levantar, mas continuou onde estava quando notou a presença dele esperando pelo momento certo. Ela fez um simples aceno com a cabeça, permitindo que ele se aproximasse.

 

Neville tratou de tirar seu caderno de anotações do bolso de trás antes de sentar na cadeira onde todas as pessoas importantes daquele movimento pareciam estar sentando. Estendeu seu pequeno caderno empenado para ela enquanto escutava Draco Malfoy de fundo dar um milhão de ordens a Devon ao mesmo tempo que recebia novas notícias de como as coisas estavam sendo preparadas e o que estava acontecendo pelo mundo. Hermione estava completamente alienada, como se não fizesse parte do que estavam preparando ali.

 

—       Consegui analisar boa parte das runas que apontou e dos feitiços que conseguiu tirar por alto. – ele explicou. – O padrão é o mesmo. A magia tem vida própria. Temo que se dissecarmos mais daquele arco, vamos dar vida a algo que ninguém vai ser capaz de controlar e eu não acho que o mundo está pronto para isso. Merlin definitivamente sabia o que estava fazendo guardando esse conhecimento num artefato tão difícil de decifrar.

 

—       Não é bem o que eu gostaria de ouvir. – ela foi direta.

 

Neville teve que engolir aquilo, tentando novamente encontrar paz em saber que ao menos havia feito um bom papel ao reforçar o aviso sobre o perigo daquele artefato. Estava escondido no Ministério, dentro de um departamento onde raramente alguém tinha acesso, representando algo que não condizia com o que realmente era, e tudo aquilo deveria ser por uma razão muito especifica.

 

—       Bem. – iria direto ao ponto que ela queria escutar. – Ainda é muito especulativo, mas o padrão em que as runas estão dispostas revelam mais do que alguns feitiços desconhecidos. Se prestar mais atenção... – ele apontou para os desenhos que havia refeito no caderno. - ...pode ser a leitura dos pilares de magia primitiva.

 

Hermione ajeitou sua postura.

 

—       Magia primitiva é um mito. – ela estava muito confiante do que falava. – Nunca existiu. Não é possível que tenha existido. Nós carregaríamos essa evidência como bruxos se realmente fosse real.

 

—       Sei disso. Todos sabemos disso. É difícil discordar, mas... – nem ele mesmo acreditava no que estava falando. – Faz todo o sentido. Se Merlin teve mesmo todo o conhecimento que a história diz que ele teve, esse com certeza seria um, e se ele soubesse mesmo o poder da magia primitiva, ele certamente esconderia isso em um artefato tão perigoso e tão complexo quanto o véu. Talvez ele tenha feito tão bem, que mesmo se passarmos uma vida inteira estudando o arco não vamos conseguir alcançar o que ele realmente quis esconder. – ousava até mesmo dizer que aquele arco fora estudado por séculos, mas acabara parando no Ministério por não terem conseguido chegar a lugar algum. – Talvez Merlin tenha sido o responsável por fazer com que magia primitiva virasse um mito.

 

—       Talvez. – Hermione não descartou, embora não parecesse se mostrar animada ou até mesmo surpresa. – A verdade é que temos todo esse poder não decifrado em nossas mãos e não podemos usá-lo. Não é bem uma prioridade no momento se não pode ser uma arma. – soltou o ar incomodada. - Odeio esse arco. Se ao menos pudesse ter tido o conhecimento prévio de que seria inútil, ninguém estaria aqui nesse momento. – devolveu o caderno a Neville. Obrigada pelo serviço. – levantou-se, pediu licença e se retirou.

 

Draco Malfoy fez sua breve observação ao vê-la ir embora. Os olhos dele caíram sobre Neville logo em seguida por um breve segundo apenas e então ele voltou sua atenção ao grupo de pessoas que o cercava como se nada daquilo importasse.

 

Neville sentiu-se frustrado. Nada do que fazia parecia realmente acrescentar em alguma coisa. O trabalho em cima daquele arco era sempre um intenso e frustrante. Nunca levava a nenhum caminho significativo. Era como se Merlin tivesse planejado isso quando o fez. Tudo o que podia pensar mesmo era que não gostava nem um pouco que aquele artefato agora estivesse na mão nos Malfoy. Fazia parte do tesouro deles agora e sabia que ele não seria devolvido se a guerra acabasse e os Malfoys saíssem vitoriosos.

 

Aquele arco na mão de Hermione...

 

Tentava não pensar nas ideias extremistas de Gina enquanto viva naquele lugar. Levantou-se e decidiu tomar seu caminho de volta já para o subsolo tendo a certeza de que não seria convocado para agir contra o forte de Voldemort quando a hora chegasse. Colocou seu caderno de volta no bolso e se enfiou novamente no labirinto daquela casa, torcendo para não ir parar na circulação de empregados, aqueles corredores sim eram um intenso labirinto.

 

Não foi muito longe quando Denna o abordou. Ela veio cheia de sua atitude convencional que irritava qualquer um que não a conhecesse de verdade. Aquela ali com certeza havia sido uma Sonserina. Daquelas que sua vó teria bastante orgulho.

 

—       Hei. Garoto. – ela o chamou fazendo com que ele fosse obrigado a parar para voltar-se para ela. Ele não era um garoto. Podia ter suas bochechas bem características, mas certamente beirava seus trinta anos. – Entre. – Ela bateu com a varinha duas vezes numa pedra da parede que logo se revelou ser uma entrada para alguma câmara.

 

—       “Entre, por favor.” Seria uma forma mais convincente de me fazer te obedecer. – implicou Neville, mesmo estando confuso pela estranha exigência feita sem motivo específico.

 

—       O general quer um tempo com você. – explicou ela irritada. – Entre. – exigiu novamente.

 

Neville estranhou. O general acaso era Draco? A maioria ali parecia se referir a ele por aquele status. O que Draco Malfoy iria querer com ele?

 

—       O que ‘o general’ quer comigo? Ele não está ocupado demais liderando um ação? – questionou.

 

—       Me pergunto o mesmo, garoto. Será que poderia, por favor, atender ao pedido. Tenho muito o que correr atrás e lidar com esse desperdício de tempo me irrita. Não faço o tipo babá. Já basta Potter. – ela se mostrou entediada.

 

Neville engoliu seu receio para dar espaço a curiosidade de saber o que Draco Malfoy iria querer com ele. Decidiu por obedecer a mulher, passando por ela ao entrar na sala. Denna não entrou com ele. Ela apenas informou que Malfoy apareceria logo e que ele deveria esperar. Bateu novamente com a varinha do vão da porta e ela se desfez dando lugar a uma parede concreta de pedras.

 

O receio lhe bateu logo em seguida, embora a câmara fosse muito acolhedora com suas velas baixas e enormes tapeçarias. Puxou a varinha com rapidez, avançou para a parede de pedra e bateu com sua varinha onde Denna havia batido. Um alivio passou pela sua mente quando viu a porta aparecer. Não que esperava que o círculo de Malfoy quisesse o confinar a algum lugar, mas tinha muita consciência de que só ele havia recebido autorização para estudar o arco, um artefato que parecia muito promissor.

 

Verificou se a porta estava trancada. Não estava. Bateu novamente na pedra com sua varinha para que ela sumisse e passou a analisar as tapeçarias antes de começar a escolher em qual poltrona ele acomodaria.

 

A câmara parecia algum tipo de escritório secreto. Não parecia estar sendo usado já que a mesa estava vazia, a arca de bebidas limpa, nenhuma cinza nos cinzeiros e o os relógios estavam todos atrasados. Depois de um tempo acabou por sentar-se na cadeira de frente a mesa de escritório. E apenas esperou.

 

Esperou por muito tempo. Chutou meia hora quando decidiu que já esperara o suficiente. Os relógios da sala estavam todos descoordenados, mas ele tinha uma boa noção de tempo e espaço para saber que aquilo já estava ficando ridículo. Levantou-se e no momento que o fez, a porta reapareceu na parede e escutou Draco Malfoy dando ordens do outro lado.

 

—       ...Espere a notícia chegar a Brampton Fort. Nott não irá ousar marchar contra Godric’s Hollow quando souber o que está acontecendo nos outros fortes. Já encontrou Hermione?

 

—       Ainda não, senhor. – uma voz masculina respondeu.

 

—       Pois trate de encontrá-la. Ela não tem o luxo de não se fazer presente agora! – ele parecia irritado.


Assim que recebeu uma resposta positiva de quem quer que estivesse com ele, entrou na câmara onde Neville estava. Entrou com pressa, e sequer voltou sua atenção para Neville. Sua curiosidade estava subindo pelas paredes enquanto via o homem avançar para o outro lado da mesa jogar-se contra a cadeira e passar as mãos pelo rosto pendendo a cabeça para trás como se estivesse vivendo um intenso nível de stress. Ele respirou fundo umas três ou quatro vezes como se estivesse tentando encontrar equilíbrio antes de apoiar os cotovelos na mesa e juntas as duas palmas unidas contra a boca fixando  o olhar em Neville.

 

O silêncio durou entre eles por um bom tempo. Neville não entendia porque ele parecia tão intenso e tão focado agora. Era estranho ter Draco Malfoy o encarando como se tivesse pensando em mil coisas ao mesmo tempo.

 

—       Honestamente, não sei como começar isso. – Draco soltou depois de um bom tempo.

 

Neville não soube o que dizer.

 

—       Veja bem... – começou ele. – Meu interesse com o arco não passa o de tentar entendê-lo para usá-lo contra Voldemort. Sempre foi, desde quando ele acabou indo parar nas mãos da Ordem. – se caso ele estivesse pensando que Neville fosse um traidor. – Nada mais. – certificou-se em dizer.

 

Draco Malfoy maneou a cabeça negativamente. Respirou fundo e dessa vez foi direto onde queria ir.

 

—       Você juntamente com Gina Weasley tiveram a chance de estudar o sangue de Hermione. Presumo que os dois tem o mesmo conhecimento sobre a natureza dela e preciso saber o porque chegaram a conclusões tão diferentes.

 

Oh. Neville podia dizer que estava totalmente surpreso agora.

 

—       Eu não tenho interesse em matar sua esposa. – Não como Gina tinha.

 

—       Não disse que tem. Meu questionamento é: Por que diferentes conclusões? – insistiu ele.

 

Neville sentiu que precisava usar da verdade de modo bastante inteligente, embora soubesse muito bem que falharia simplesmente por ser desajeitado como era.

 

—       Não chegamos a conclusões diferentes. – precisou dizer. – Ambos chegamos a conclusão de que ela é um eminente perigo adormecido. Mas você sabe disso melhor do que eu pela carga história que carrega contra a descendência dela. E mesmo assim decidiu se casar com Hermione

 

—       Não decidi me casar com Hermione. Fui forçado a me casar com ela para atender uma agenda que meu pai tinha com o futuro do meu sobrenome e uma que Voldemort tinha com o futuro de Império dele. Eu não sabia da procedência dela, não tinha consciência de sua natureza. Se está me dizendo que Hermione é um eminente perigo, preciso das provas que o levou a essa conclusão.

 

—       E por que precisaria delas? Afinal, foram os seus antepassados que eliminaram os dela. Por que eu deveria saber mais do que você? E qual é o propósito disso? Dessa conversa?  - confrontou Neville ficando surpreso consigo mesmo de estar fazendo algo tão fora de sua característica.

 

—       Meus antepassados vem eliminando qualquer vestígio da existência do DNA dela por séculos com base em um argumento feito pelos primeiros homens responsáveis por colocar esse fardo nas minhas costas! Um argumento que apresenta pouca prova de veracidade. E eu vou te fazer se sentir desconfortável se isso for me fazer ganhar qualquer tipo de prova que seja. – respondeu Malfoy.

 

Neville podia concordar mil vezes com a parte de se sentir extremamente desconfortável.

 

—       Por que está buscando por isso agora? Gina Weasley foi uma de suas prisioneiras e ela sabe tanto quanto eu sei sobre sua esposa. Você sabe que eu soube conduzir Hermione quando ela estava tentando se livrar da marca e desde então eu estive perambulando dentro de sua casa todo esse tempo, completamente disponível. Por que agora?

 

—       Será que nunca se passou pela sua cabeça que talvez eu não queria ouvir? Não queira saber? Hermione é mãe dos meus filhos, é a mulher que deita ao meu lado na cama todas as noites. É a única mulher pelo qual eu me vi capaz de me apaixonar. É a única que me tirou do estado miserável e sem propósito que mal eu sabia que vivia. Ela me deu algo pelo qual lutar e por mais que isso esteja acabando tanto comigo quanto com ela, não existe nenhuma parte de mim que gostaria de voltar de onde eu vim. Eu não quero perde-la. Mas não posso ignorar os fatos porque isso iria contra todo o meu senso de razão!

 

Mal conseguiu acreditar que estava sendo exposto a um Draco Malfoy vulnerável. Não entrava em sua lógica que um homem como ele, um chamado general, que andava por aí colocando todos ao seu redor debaixo de sua plena e perfeita autoridade estava permitindo mostrar para ele, logo para ele, que tinha suas fraquezas. Neville se viu divido. Pela primeira vez, se viu se exposto a uma gota que fosse do relacionamento íntimo de Draco e Hermione e por aquela razão se viu compadecido. Draco Malfoy não era só um líder, um general, um idealista. Ele também era um pai, um marido e Hermione fazia parte dessa identidade.

 

—       Bem... – relutou. – Eu o aconselharia a continuar nas sombras. Não acho que queira realmente saber o que eu sei. – torceu para que Draco tomasse aquilo como um bom conselho e decidisse abortar aquela conversa.

 

E Neville até mesmo pensou que ele iria, simplesmente pelo silêncio que se seguiu. E foi longo. Extremamente longo. Desconfortável era uma definição que chegava a passar longe do que aquilo realmente era. O homem a sua frente parecia estar travando uma incrível batalha consigo mesmo enquanto o encarava, processando o fato de saber que o que Neville sabia era ruim demais, pesado demais, intenso demais, para que ele escutasse. Porque Neville sabia que uma vez que ele soubesse, não poderia voltar atrás e decidir esquecer. Neville queria poder. Julgar Hermione como ele julgava não era fácil, principalmente quando era exposto ao comportamento que ela vinha desenvolvendo.

 

Malfoy levantou-se como se tivesse alcançado um ultimato dentro de sua cabeça. Deu a volta na mesa e foi em direção a porta, pronto para sair.

 

—       Você pode ir se quiser. – Draco o liberou.

 

Neville respirou aliviado. Escutou o homem abrir a porta atrás e si e quando pensou que ele tivesse ido embora, a porta se fechou novamente e não precisou se virar para saber que Draco Malfoy ainda estava ali.

 

—       Aghr... – murmurou para si mesmo ao saber que o homem mudara de ideia.

 

Voltou-se para ele e viu o dito general Malfoy o encarando com confiança

 

—       Eu quero saber. – ele disse.

 

Neville foi obrigado a respira fundo e soltar o ar com calma. Queria perguntar se ele tinha realmente certeza do que estava escolhendo, mas sabia que Malfoy já parecia ter passado por uma batalha interna ali para saber o que estava fazendo. Não podia negar que tinha um intenso senso de proteção com a informação que estava prestes a passar, mas sabia que aquilo era fruto de toda magia envolvida no que Hermione carregava.

 

Ajeitou-se em sua poltrona. Não sabia exatamente como começar.

 

—       O termo Horcrux é familiar para você? – perguntou.

 

Draco reagiu instantaneamente soltando o ar e fechando os olhos como se aquilo fosse a última coisa que quisesse escutar ali. Rapidamente ele pareceu envelhecer uns dez anos. Não sabia exatamente até onde o conhecimento de Draco ia, mas sabia que a família dele provavelmente tinha um extenso arquivo sobre os antepassados de Hermione, e se ele estava atrás de provas, era porque não as possuía, mas tinha uma vaga ideia no que consistiam. Ele moveu-se para uma poltrona próxima, sentou-se quase que derrotado. Passou as mãos pelo rosto e apoiou os cotovelos em cada joelho evitando encarar Neville.

 

—       Sim. – respondeu. – Voldemort tem tentado, sem sucesso, executar essa magia faz tempo. Ninguém jamais conseguiu produzi-la.

 

—       Bem, o DNA de Hermione prova o contrário. A magia está gravada nele. – teve que dizer. A reação de Draco continuou a mesma. Podia quase sentir pena. Queria dar a ele alguma esperança. – Veja bem, eu não sou nenhum especialista. Livros, experimentos e práticas foram o que me levaram a saber tudo que eu sei. Nós reviramos muito de todos os exemplares de sangue que Hermione conseguiu mandar por Luna procurando a ponte que a ligava a Voldemort e encontrar o que encontramos não foi muito agradável, especialmente quando conseguimos traça-lo de volta a linhagem das fadas humanas.

 

—       Mas esse não foi o pior de tudo. – concluiu Draco.

 

Neville soltou o ar.

 

—       Faz todo o sentido se você partir da premissa que Merlin sem dúvida foi o maior bruxo da história e que ele foi mentor de Morgana por um período muito longo antes de se tornarem inimigos mortais. Qualquer livro de história conta que Morgana gostava de se proclamar imortal durante sua pior fase e o DNA de Hermione prova que ela de fato conseguiu dividir sua alma para se fazer viver em todos os seus descendentes. Isso inclui Hermione. – quis parar por ali, mas não pode. - E também inclui seus filhos. – Draco continuou em silêncio, como se não conseguisse encontrar qualquer palavra que fosse para retrucar, ou qualquer comentário para acrescentar. – Mas veja, nosso conhecimento conseguiu ir apenas até um certo limite. Foi onde eu e Gina nos dividimos. Gina acredita que Morgana não merece qualquer chance de ainda existir, seja na forma que for, mesmo que isso custe a vida de Hermione, que ela considera praticamente ser a vida de Morgana em um corpo diferente, o que eu acabo por discordar visto o numero de elementos claramente adormecidos que Hermione carrega. Além do mais, Morgana não foi um pessoa horrível por maior parte da vida dela. Todos sabemos as coisas horríveis que ela teve que passar para se tornar tão rancorosa. E carregar uma parte da alma de Morgana não torna Hermione menos Hermione e mais Morgana. Ela é quem é, quem cresceu para ser, quem procurou ser e talvez, ser privada do conhecimento de sua descendência tenha a ajudado a adormecer mais ainda a parte do DNA que a torna uma Horcrux, sem contar que o sangue dela é completamente diluído com o de trouxas. Também não acho que tonar público a identidade dela da forma como tudo aconteceu tenha sido algo saudável para ela e para o psicológico dela.

 

O silêncio foi terrível. Neville podia apostas que a tomada dos outros fortes que ele estava regendo naquele momento era a última coisa se passando pela sua cabeça. Draco Malfoy engoliu em seco, um tanto desnorteado, e depois de um bom tempo disse:

 

—       Hermione passou por muita coisa. Há muito espaço nela para rancor, angústia, medo, e todas as coisas ruins que levaram Morgana a se tornar quem a história mais lembra que ela foi.

 

—       Não posso negar que a potencialidade é evidente. Hermione pode acabar dando muito espaço para um lado que ficou adormecido por muito tempo. E preciso enfatizar o quanto isso pode ser perigoso. E se pode ser perigoso para Hermione, que tem um sangue mais trouxa do que bruxo, mal posso imaginar para os seus filhos. Morgana foi conhecida pelo intenso encanto que conseguiu produzir nas pessoas que a cercavam no pico de sua história. Não é confirmado se isso foi por meio de feitiço ou devido a natureza que possuía, mas sem dúvida havia um forte senso de proteção não natural vindo daqueles que a apoiavam. Sem contar que se conhece o poder que Horcuxes tem em enfeitiçar aqueles que a protegem, concordaria comigo que não gostaria de ver todo esse potencial, com o intenso poder que tem, circulando por aí cheio de rancor e vingança. Mas, novamente, preciso dizer que não acredito que Hermione seja o que Gina acredita que ela é. Hermione cresceu sem ter consciência de tudo isso, fazer magia simples sem varinha já era algo extremamente novo. Talvez ela conseguisse se treinar para executar uma magia mais complicada sem um elemento condutor, mas isso era o máximo que ela sabia que podia conseguir. O que ela sempre pensou de si mesmo é a chave. Eu não sei a Hermione que você conheceu, mas a Hermione que fez parte de quase toda a minha vida é uma mulher simples. Ela pode ser orgulhosa e teimosa, mas ela não precisa de muito para ficar feliz, não precisa de gentileza para ser gentil, não precisa de títulos para ser fiel. Ela é leal. Não importa quantos genes ela possua de Morgana, não importa quantos pedaços de alma escondidos dentro dela, o chapéu a escolheu como uma Grifinória e é isso que eu acredito que ela seja.

 

—       Morgana foi uma boa pessoa maior parte da vida dela também. – Draco comentou passando a mão pelos cabelos outra vez. E mesmo ele dizendo aquilo, Neville não acreditava que ele não achasse que Hermione era Hermione e ela não era Morgana, mesmo que assumisse todo o potencial adormecido dentro dela, mesmo que desse espaço para tudo que havia de Morgana nela, ainda assim ela seria apenas uma outra versão de Hermione. - Horcruxes foram feitas para serem destruídas.

 

—       Sabe que está falando da sua esposa e dos seus filhos, não sabe?

 

—       Estou muito consciente disso. – soou quase irritado.

 

O silêncio veio novamente. Neville quase se sentiu atraído a entrar em termos técnicos de como havia dissecado o sangue dela e chegado a conclusão que chegara, mas a visão dele ali na sua frente era a prova de que a última coisa que Draco queria era uma aula sobre ciência da magia. Ele já escutara o suficiente e Neville não duvidava que ele já tinha uma boa carga histórica do que a família dele havia feito o que fizera com os antepassados dela, o porque e como isso se complementava a informação que passara a ele.

 

—       Está preocupado que ela dê espaço demais para o pior lado dela agora que está tão mergulhada nesse caos? – ele levantou.

 

—       O que você acha da imagem dela? A atitude, o cabelo, a forma como se veste, como trata as pessoas. – Draco argumentou.

 

—       Pensei que vocês dois tinham uma agenda com o público. Aparentar ser um casal forte. Invencível. – justificou Neville.

 

—       E temos. Mas eu e Hermione já passamos tempo o suficiente fingindo para a mídia para eu ter certeza de que ela pode muito bem não ser o que precisa mostrar. – soltou o ar e maneou a cabeça cansado. – Ela não sabe da cova que está cavando.

 

Neville irritou-se, mas conteve seu temperamento. Não era a melhor pessoa quando as coisas beiravam o confronto.

 

—       Você sabe do passado dela. Por que escondeu tudo que sabia dela?

 

—       Eu estou a protegendo! E eu não sabia de muito até pouco tempo, até minha mãe me mostrar um imenso depósito fantasma dentro dos cofres da minha família com uma enorme quantidade de informações que eu pouco imaginava que existiam! E você mesmo disse que mantê-la no escuro fez com que ela adormecesse a linhagem da qual veio!

 

—       Mas agora ela provavelmente acha que é uma mulher invencível, sendo movida muito provavelmente pelo sentimento de vingança! Acha que isso é bom para ela?

 

—       E acaso acha que ela poderia passar por tudo isso sem beirar um estado mental deplorável independente do que sabe sobre ela mesma ou não? Você não faz ideia do que Voldemort a fez passar. Você não é uma mãe que teve o filho tirado dos braços, que deve se conformar em ver os dias passar enquanto tenta encontrar uma forma inteligente de consegui-lo de volta. Hermione pode ser a pessoa mais forte que eu conheço, mas ela nunca vai deixar de ser sensível.

 

—       Ainda assim você poderia ter encontrado uma forma de ajuda-la a passar por isso. – insistiu Neville.

 

—       Acha mesmo que eu poderia ajuda-la a ir contra o fato de que é uma Horcrux? Estamos falando de magia negra!

 

—       Você não sabia disso até alguns minutos atrás.

 

—       Eu conhecia o argumento.

 

—       Ainda assim! – realmente insistiu embora soubesse que não tivesse base. – Você se importa com ela, não se importa?

 

—       Não acha que protegê-la é uma reação do que a natureza dela causa com aqueles que a cercam? – questionou Draco.

 

—       Talvez, mas essa é a única coisa que não se foi possível provar a respeito de Morgana. Fadas Humanas sempre chamaram atenção pela beleza extra que algumas podiam ter, mas nunca foram como uma Veela ou algo do tipo. Na verdade, Veelas pareciam ter algum tipo de aversão a fadas humanas pelo poder de conseguirem atrair atenção sem qualquer encantamento. O que está dizendo? Estamos falando de Hermione!

 

—       Estou tentando trazer algum tipo de razão para tudo isso. Não minta em acreditar que a personalidade de boa samaritana é capaz de anular tudo que ela carrega por trás?

 

—       Eu nunca... – engasgou quase incrédulo. – Tem noção de que está falando de sua mulher? A mãe dos seus filhos?

 

—       EU SEI! – ele soltou surpreendentemente alto e quase agressivo.

 

Neville teve que se calar diante da reação dele. Malfoy soltou o ar quase que procurando encontrar um estado mental estável. O silêncio percorreu entre eles. Finalmente Draco se levantou passando a mão por seus cabelos mais uma vez, talvez tentando se recompor. Neville pensou em talvez questioná-lo a respeito do que faria agora que sabia sobre a procedência mágica do DNA que Hermione carregava, mesmo sabendo que ele não fosse querer compartilhar aquilo. Mas foi naquele exato momento que alguém quase esmurrou a porta e abriu, mostrando a imagem de Devon ofegante.

 

—       Senhor. – o homem tentava recompor a respiração. – Ásia foi fácil. África está demorando mais do que imaginávamos. Autrália e América estão segurando o máximo que podem, talvez vamos ter que avançar contra Brampton Fort com a tomada dos dois pendendo. E... – ele travou parecendo um tanto receoso de dar a próxima informação. Mas mesmo assim avançou depois de tomar ar: - Sua mulher não pode ser encontrada em lugar nenhum.

 

Draco mostrou-se claramente confuso com aquilo.

 

—       O que quer dizer com ela não poder ser encontrada em lugar algum? – tratou de imediatamente perguntar.

 

—       Falamos com todos os seus elfos e todos eles afirmaram que não conseguiam alcança-la em nenhum lugar por toda a propriedade. – Devon parecia tão receoso quanto Draco. – Ela sumiu. – concluiu.

 

Uma incredulidade passou pelos rosto de Malfoy instantaneamente. Quando digeriu aquilo, apertou os olhos com força e soltou um palavrão alto antes de sumir pela porta com Devon lançando um milhão de ordens e chamando por mais um milhão de pessoas.


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Notas finais do capítulo

N/A: Ufa, preciso confessar que esse foi um capítulo EXTREMAMENTE DIFÍCIL de escrever porque eu sei que talvez ele não tenha sido o mais agradável de se ler. Talvez o mais difícil de se escrever até agora. E tenho a suspeita de que o próximo será ainda mais difícil porque pretendo fazer com que ele seja o último ou o penúltimo. Mas só Deus sabe como as coisas vão acabar se materializando ao sair da minha cabeça, não é?


Enfim, eu estava pretendendo betar eu mesma o capítulo essa semana, mas como nada ocorre como o planejado, acabei ficando doente. A flu (virose?) pegou pesado esse ano aqui por onde eu moro e tive que tirar vários dias de trabalho para ficar de cama. Esse inverno tá bem pesado. Talvez o começo do capítulo esteja mais apresentável do que o meio pro final, já que eu procurava reler bastante do que escrevia lá pelo meio do ano passado. Não que o meio pro final não tenha sido cuidadosamente pensado, mas é que o meio pro fim eu já estava tentando me apressar pra terminar logo o capítulo e não deixar vocês esperando por muito mais tempo. Eu sei que esperaram bastante, mas preciso dizer isso mais uma vez: foi difícil escrever esse capítulo.





E preciso explicar o porque foi difícil escrever esse capítulo.





Eu espero que muitos de vocês tenham tido a chance de reler os capítulos anteriores enquanto eu postava no Wattpad. Tentei ser consistente com a rotina de postagem que montei na minha agenda, mas a vida e a correria nunca ajudam com nada. Mas acabei ficando feliz que o capítulo 42 foi pro Whattpad logo quando terminei o capítulo 43. Foi quase como se o universo quis fazer com que as coisas funcionassem de uma forma que eu não esperava. Hahaha. Enfim, pra vcs que conseguiram reler a história e a tem mais fresca na cabeça, eu espero que tenham notado como eu construí tudo bem cuidadosamente e de forma até sutil, para Draco e Hermione chegarem no impasse em que estão agora. Eu sei que essa última parte do capítulo foi muito pra digerir e que talvez até muitos de vocês não conseguem ver um fim para isso.





O Plano de Fundo





Eu entendo que talvez as coisas tenham caminhado para um lado bem desagradável. A personalidade da Hermione está sendo muito comprometida. Draco está agindo de modo bem defensivo. Mas eu preciso que entendam que os dois estão passando por tudo que estão passando com relação a Voldemort, aos filhos e ao que ser um Malfoy significa que eles não estão se empenhando ou estão tendo nenhum tempo para solucionarem o que está acontecendo entre eles, o que Hermione tem passado, o histórico dela e o que Draco pensa que tem a ver com isso.





O Castelo de Areia





Não sei se ficou claro o suficiente pelos capítulos anteriores e até mesmo por esse capítulo, que Draco e Hermione nunca realmente se entregaram um ao outro, por mais linda que tenha sido a relação, por mais bonito que o “castelo de areia” deles parecia ser, como citei nesse capítulo. A situação que eu quis criar e que espero que tenha ficado aparente, talvez até demais para alguns ou de menos para outros, é a de um casal que carregava um passado de preconceitos e guerras quando se uniram, ou seja, já não tinha muito pra dar certo. Eles foram capazes de se apaixonar e optaram por ignorar esse passado simplesmente ao tentar não mencioná-lo ou dar vida a ele. Quando se viram finalmente capazes de passarem por cima disso, Boom!, Hermione é descendente de Morgana. Draco pensa que pode passar por cima disso, mas então a mãe o apresenta a realidade da caçada da família Malfoy contra a “espécie” dela e talvez (sim ou não? Hein, hein, hein! hahaha) revelando as intenções de Lúcio em juntar os dois. Isso enquanto Hermione luta com a nova identidade, tentando se esconder dela por um tempo, tentando encontrar respostas aqui e ali por um tempo, tentando esquecer por um tempo e por fim se dando a liberdade de mergulhar e explorar o que tudo aquilo podia significar. E tudo isso eles viveram individualmente. Em nenhum momento os dois sentaram para resolverem isso sem serem hostis ou levantarem pressupostos que levantassem barreiras um contra o outro imediatamente, e a verdade é que mesmo se eles tivessem, nada seria resolvido, porque eles simplesmente estavam completos demais vivendo a fantasia da família perfeita que queriam tanto viver, ali com os filhos, criando a rotina que criaram e os laços, por mais imperfeitos que fossem, que criaram. Eles não queriam colocar aquela coisinha bonita a perder. Mas os dois estavam vivendo vidas paralelas. Enfrentando todo tipo de questionamento a respeito um do outro e de si mesmos que simplesmente evitavam trazer a superfície simplesmente porque não queriam desmoronar o “Castelo de Areia.” O argumento que estou tentando levantar é que paixão tem tudo a ver com sentimento e amor tem tudo a ver com razão e a razão dos dois nunca os permitiram ser inteiramente um do outro embora a paixão os forçaram a se entregarem para um relacionamento com estruturas frágeis.





A Horcrux (Conceito)





Talvez muitos de vocês tenham ficado extremamente confusos de eu ter trazido isso para a história como uma bomba. Eu nunca havia mencionado antes que Voldemort não possuí Horcrux nessa fanfic, mas a verdade é que eu nunca me baseei num ponto onde a História real de Harry Potter parava e a minha fanfic começava. De fato eu exclui muito do livro 6 e completamente tudo do livro 7, que por sinal é um livro que eu tenho uma relação de amor e ódio. Mas o ponto onde eu estou querendo chegar é que a minha intenção é fazer da profecia o que eu quiser fazer com ela, das Horcrux o que eu quiser, de Voldemort o Tom Riddle que eu quiser, de Morgana e Merlin o que eu quiser, de Draco e Hermione o que eu quiser, dos ideais e personalidades o que eu quiser. E a beleza de tudo isso é que você não está sendo forçado a ler se não quiser ou não gostar e tem todo o direito de deixar o comentário que quiser e ir embora. Sei que minha imaginação vai muito longe, o que pode ser estranho pra muitos, mas eu sei os ideais que estou propagando e pode acabar sendo polêmico, sim, e tenho consciência disso, e estou pronta para defender. Não que eu vá, porque provavelmente não vou ter tempo. Haha! Não que ninguém tenha reclamado nem nada, tudo que eu tenho recebido de você é super válido. Eu só me empolguei. Hahaha! Mas eu também estou colocando essa parte aqui caso alguém se sentir confuso, porque eu acho que talvez eu poderia me sentir como leitora.





A Horcrux (Hermione)





Talvez muito tenha ficado muito por alto do que isso realmente significa tanto para Hermione, quanto para Draco, quanto para a relação dos dois e o futuro deles. Mas tudo isso faz parte de um final que ainda está para ser escrito. No entanto, acho justificável colocar aqui na mesa que nem tudo sobre Hermione pode ser perfeitamente explicável. Estamos falando de uma magia que foi feita há anos e que ninguém nunca antes havia conseguido reproduzir antes. Eu quis fazer com que o conceito de Horcrux na fanfic fosse tão novo para as personagens, tão complexo, e tão alienígena que tudo que eles podem fazer em cima do fato é especular e criar suas próprias teorias com base no que conseguirem estudar a respeito. O fato dela, Hermione, carregar isso também justifica muito da mudança de atitude que ela tem assumido nesses últimos capítulos quando exposta ao stress que está passando. Ela não faz ideia do que está acontecendo, ou porque, mas para ela, é natural. Analisem, Hermione está vulnerável desde o começo da história. Ela é colocada diante de todas essas situações horríveis e a gente vê ela tentando ser forte e aprender a lidar com todas elas. E por mais que ela tenha encontrado Draco no meio do caminho, isso não fez com que tudo fosse menos degradante, fez com que fosse talvez tolerável certas vezes, mas vamos combinar que ela está completamente desgastada. Viver o que ela está vivendo agora é o pico de tudo isso, de tudo que Voldemort está a fazendo passar e se entregar pra esse lado “maligno” que ela carrega é quase tentador demais.





O Arco do Véu





Vamos lá. Eu não quis falar disso por muito tempo porque eu achei que seria uma surpresa legal, mas eu simplesmente cheguei a conclusão de que não vai acontecer, portanto aí vai! A verdade é que o véu é apresentado nessa fanfic porque eu tinha todo um plano de criar um background pra fazer uma sequência de Cidade das Pedras onde os gêmeos Malfoy, sendo descendentes de Merlin e Morgana unidos conseguiriam desvendar os segredos do véu e fazer essa galerinha se enfiar em altas aventuras. Haha. Um projeto bem diferenciado mesmo. Longe do estilo fanfic dramione de ser. Mas eu já fiz paz comigo mesma de que isso não vai acontecer nem aqui nem na China. Eu já estou passando por altos apertos pra conseguir terminar Cidade das Pedras e de início eu não achava que ela fosse me levar tanto tempo para terminar, mesmo eu sabendo que seria uma long. E também queria muito conseguir Confidencial porque é uma ótima fanfic que eu me vejo desprovida de tempo para colocar no papel. Talvez num futuro beeeeem distante eu repense da possibilidade da sequência com os gêmeos, mas acho que até lá o meu interesse vai ter desaparecido. Portanto, talvez o véu acabe sendo um nó que não vai ser amarrado no final de Cidade das Pedras. Talvez eu faça um prólogo, mas não necessariamente a respeito do véu ou qualquer coisa do tipo. O que eu realmente quero quando eu finalizar essa fic é fazer uma grande revisão nela, eliminar os erros de digitação e os de percurso que não alteram a história, mas que acabam entrando em conflito com algo que foi colocado antes, mas nada de muito importante. Querendo ou não, eu tenho levado muito tempo para completar esses capítulos. As vezes leva um mês até eu ter tempo de sentar na frente do computador de novo pra colocar o que ta na cabeça pra fora.





As Raízes





Certo. Talvez isso seja idiota, mas me sinto no dever de externar isso porque sei que apresentei diversos elementos no decorrer dessa fanfic. Quero deixar claro que essa é uma história sobre Draco e Hermione. É uma fanfic dramione. Portanto, por mais que existam todos esses elementos, toda essa ambientação e tudo mais, a raíz sempre será Draco e Hermione. O relacionamento dos dois, como se desenvolvem, suas dificuldades, seus problemas, tudo, sempre, e repito, SEMPRE, estarão em primeiro plano e sempre serão o plot (?) principal!





Esperança ou Não?





Talvez muitos de vocês estejam pensando agora o que pode ser desse casal. Talvez possam estar até desanimados. Bem, não posso entregar muito. Mas vocês só vão saber se continuarem esperando pela continuação. Talvez alguns de vocês tenham lido minhas outras fanfics e viram que eu tenho um padrão de terminar minhas fanfics de uma forma não muito convencional. Não é exatamente um felizes para sempre, mas também não acho que sejam decepcionantes. Não que eu pretenda acabar essa fanfic da forma como acabei todas as minhas outras. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas pretendo seguir o padrão de não fazer ser decepcionante. Vai valer a pena! Acredite em mim. Hahaha











E se você chegou ao fim dessa N/A, meus parabéns. Espero que tenham gostado desse capítulo, embora minhas esperanças não estejam lá no alto, porque sei que foi um capítulo difícil. Mas deem uma força, vai! Haha.


Queria poder prometer que o próximo capítulo vai sair rapidinho, que não vai demorar, que eu vou me esforçar, mas eu sei que se fizer isso, vai dar tudo errado. A única coisa que prometo é que vou me esforçar. Sério. Mas pressinto que capítulo que vem vai ser ainda mais difícil de colocar no papel do que esse. Entendam, eu tenho essa história da minha cabeça faz muito tempo. Não é fácil tirá-la do meu cérebro e coloca-la em palavras exatamente como eu quero que fique, sendo verdadeira ao que estava aqui dentro da minha cachola por todo esse tempo, principalmente aqui na reta final, onde tudo tem que se encaixar muito bem, acontecer na hora certa, concluir na forma correta. Por tanto me entendam. Eu não estou com a intenção de não terminar essa fic. Pode me demorar tempo, mas eu vou terminar! Me dê forças, Senhor! Hahaha




Deixem seus comentários... Textão, um beijinho, qualquer coisa. hahaha
Vejo vocês na próxima. :)