CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 48
Capítulo 43 - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Leiam a nota do final do capítulo!



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Draco Malfoy

Seu corpo inteiro pesava. Estava muito consciente de que dormia e sentia-se aliviado por isso. Era como se seu cérebro estivesse tentando encontrar formas de mantê-lo naquele estado sabendo de toda exaustão ao qual estava se submetendo ultimamente. Eventualmente, entretanto, a tensão em seus músculos acabariam voltando obrigatoriamente devido a todas as terríveis realidades que seus sonhos o fazia viver. Pulava de sonho em sonho confrontando os piores cenários possíveis. Como esperado, seus olhos abriram de uma vez quando sua consciência falou mais alto que seu cansaço.

 

Encarou o teto bem moldado de seu novo quarto. Ainda não havia se acostumado. Nem ele nem Hermione e por tudo que estavam passando, tornava-se ainda mais difícil encontrar o que havia os feito apaixonar-se por aquela propriedade. Respirou fundo quase que lamentando por saber que não conseguiria dormir novamente e procurou por Hermione quase que automaticamente sentindo falta da rotina de puxá-la para si quando acordava. Ela não estava ali. Talvez não estivesse estado em nenhum momento daquela noite.

 

Estranhou que via luz tentar passar pelas pesadas cortinas. Podia jurar que não conseguira dormir mais do que algumas miseráveis horas. Puxou o relógio da cabeceira da cama e viu que estava quase atrasado. Levantou com pressa deixando cair os mapas e as cartas, algumas ainda seladas, que acabara ficando sobre ele quando pegou no sono. Por algum motivo aquilo o fazia se lembrar de Hogwarts.

 

Vestiu-se com pressa, pegou sua capa, enfiou a varinha no bolso e deixou o quarto. Hermione não estava mais ali. Não havia cinzas na lareira em lugar algum. Draco apenas seguiu seu caminho descendo as escadas do hall de mármore que dava acesso a torre principal. Antes que pudesse deixá-lo, viu a sombra de Molly Weasley aparecer pela saída que dava para a antessala do quarto de Hera e Scorpius.

 

Parou.

 

Ela tinha uma caneca quente de chá entre as mãos. Vestia-a exatamente como sempre se vestira, como um elfo doméstico. O que fazia bastante sentido visto que ela passara boa parte da vida de casada trabalhando para servir as dezenas de milhares de filhos que decidira ter.

 

—       Tenho tentando falar com Hermione, mas ela não atende nenhum dos meus chamados. – a mulher não hesitou em manifestar-se.

 

—       Ela não vai atender. – Draco apressou-se em eliminar as esperanças dela.

 

—       Sua filha está bem melhor. Está dormindo e exausta. Bem mais calma.

 

—       Isso é uma boa notícia. – Significava que o irmão estava também melhor. Como? Ele não podia dizer e duvidava que fosse conseguir outra coruja de Astoria tão cedo.

 

—       Essa criança precisa dos pais. – começou a Sra. Weasley em seu discurso. – Me recuso a continuar cuidando dela se nenhum de vocês tomar partido de que ela precisa do conforto familiar de quem a trouxe ao mundo.

 

—       Não. Você não se recusa. - Draco podia quase sentir-se entediado se não soubesse que aquilo era uma verdade. Aproximou-se da mulher. – Hermione e eu não estamos acordando cedo para ir ao trabalho, fazer nossas horas semanais e voltar para casa a tempo do jantar. Nós dois fomos declarados inimigos de um regime mundial. Nosso nome está carregando um movimento. Nós estamos em guerra. O único pai que eu posso ser agora é um que irá focar-se em garantir o futuro dos meus filhos. Não vou tornar a dizer isso. Não quer se envolver com a guerra por já ter perdido tudo que perdeu, mas por ainda acreditar naquilo que a motivou a entrar nela em primeiro lugar, tome esse trabalho como a sua contribuição final para o regime de Voldemort. Hermione confiou a você a vida da nossa filha, não faça com que ela tenha cometido um erro. Preciso repetir para que entenda?

 

A mulher precisou de um minuto para digerir. Não estava contente.

 

—       Isso é uma ordem ou uma sugestão? – os olhos dela quase estreitaram. – General.

 

—       É uma motivação. Sei que precisa de uma. – soltou e deu as costas. Não tinha tempo para a mulher.

 

—       Eles tem minha filha. Gina. Traga-a viva. – A Sra. Weasley soltou antes que ele sumisse. Draco parou tentando refletir sobre como os jornais foram parar nas mãos dela. – Estão forçando-a a se casar com Theodoro Nott.

 

Draco quis simplesmente continuar seu caminho, mas sua língua coçou. Não era o tipo de pessoa que enfeitava a verdade para que soasse menos dolorosa e ali era uma oportunidade de trazer a mulher do mundo das esperanças de volta para a realidade. Não queria que ela cuidasse de Hera esperando receber algo em troca. Voltou-se novamente para Molly Weasley.

 

—       Sua filha, Gina Weasley, perdeu toda a sanidade que lhe restava quando arriscou-se numa missão suicida ao tentar contra a vida da minha mulher. O resto de consciência que lhe sobrou foi seriamente comprometida pelo número de vezes ao qual foi submetida a longas e intensas sessões de tortura, abusos e violência. Sua filha viveu o desgaste psicológico e físico de cinquenta anos em Askaban em apenas alguns meses. O pouco de instinto de sobrevivência que ainda tinha a fez submeter-se aos planos de Theodoro Nott em tentar tomar o meu lugar e manipular a mídia. Ela escolheu o caminho que está andando, o que a faz ser alguém que estou tentando destruir. Não pense que eu vá salvar sua filha. Mesmo que esteja fazendo bem a minha. Gina Weasley não hesitaria em acabar com a vida de Hermione se conseguisse enxergar a mínima oportunidade para tal. Não espera que eu a queira viva. – deu-se apenas poucos segundos para ver as mãos dela tremerem e os olhos brilharem ao enxerem-se de lágrimas.

 

Apenas deu as costas e tentou novamente seguir seu caminho.

 

—       Eu tinha a mania de nunca acreditar em Gina quando ela costumava, tão rancorosamente, alertar que Hermione era perigosa. – Molly fez-se ser ouvida. Draco odiou-se por parar novamente. – Ainda não acreditaria que Hermione possa ser o fruto dramático da aversão de Gina, mas ela definitivamente mostrou-se ser alguém que a pouco tempo atrás eu morreria defendendo que ela nunca seria.

 

—       A guerra exigiu de cada um de nós sacrifícios diferentes, Sra. Weasley. – ninguém entenderia o que Hermione havia passado e o que significava para ela. Nem mesmo ele.

 

—       Sim. – concordou ela. – Mas todos nós somos meros humanos. Até mesmo você. Mesmo tendo o sangue de Merlin. Nosso desgaste físico e psicológico parte de uma natureza em comum.

 

Estreitou os olhos e encarou-a por cima de seu ombro.

 

—       O que está sugerindo?

 

Molly Weasley deu de ombros muito discretamente.

 

—       Ninguém sabe realmente quão diferente o gene dela é.

 

Draco viu-se erguer todo um sistema defensivo. Ninguém tinha o direito de tocar em Hermione e na linhagem que carregava. Aquilo pertencia a Hermione e a família Malfoy. O sangue que Hermione é responsabilidade da minha família. Tem sido por anos.

 

—       Acaso a frustração de ter uma filha louca e de saber que Hermione não pode mais ser a mesma a fez perder a cabeça? – foi ríspido. – Guarde suas palavras para si mesma.

 

Deu as costas e dessa vez conseguiu ir embora sem ser interrompido. Assim que deixou a terceira ala chamou por Tryn que apareceu num único estalo.

 

—       Hermione? – perguntou de uma vez.

 

—       A Sra. Hermione Malfoy está ocupada repassando as magias de distração sobre as caixas de poção que serão contrabandeadas para dentro dos fortes. – respondeu a elfa.

 

—       Diga a ela que estarei indo em poucos minutos. Precisa estar pronta. – ordenou.

 

—       A senhora sua esposa informou a Tryn que deixasse claro ao Sr. Draco Malfoy que ela conhece sua agenda e irá segui-la em seu próprio tempo, não no do senhor seu esposo.

 

Draco precisou parar para puxar ar tentando buscar paciência diante da teimosia de Hermione. Queria mandar a palavra de que ela não tinha escolha, mesmo sabendo que sua mulher não a seguiria. Preferiu confiar na certeza de que ela não fazia o tipo irresponsável. Não em uma situação como aquela.

 

—       Como ela quiser. – disse descontente e continuou a seguir seu caminho depois de dispensar a elfa.

 

A pequena câmara onde era servido seu desjejum ficava logo em uma das laterais da escadaria principal. Devon e Fox já estavam a sua espera quando chegou, de pé, um de cada lado da cadeira onde sentaria. Avançou dizendo que reconhecia seu atraso e que procuraria não repeti-lo. Sentou-se, abriu o guardanapo e o colocou sobre colo obrigando-se a encher sua xícara de chá preto e escolher alguns bolinhos logo em seguida, embora não estivesse com o menor apetite.

 

—       Espero que tenha descansado. – Devon começou.

 

—       Tentei meu melhor. – informou Draco.

 

Fox tirou uma cópia do Profeta Diário de debaixo dos braços e a colocou a mostra logo a frente de seu prato.

 

—       Hogwarts irá fechar as portas essa manhã. Escolas do mundo inteiro estão fazendo o mesmo. Ordens de Voldemort. – adiantou ele.

 

—       Ele me reconhece como perigo. – Draco manifestou-se. Sempre foi reconhecido como perigo. Trazer os Malfoy para o lado dele foi uma de suas maiores estratégias. A pedra da família tem assegurado estabilidade a quem os acolhe faz anos. Voldemort estudou bem isso. Deu a seu pai o direito de opinar, o direito de mexer com as peças do jogo dele. Deu a Draco o direito de escolher não prestar respeito como o resto dos Comensais. Definitivamente reconhecia o perigo de não os ter mais ao lado dele.  – Voldemort irá fechar escolas, irá fechar comércio, irá limitar o Ministério, irá espalhar pânico. Irá nos regredir ao ponto zero de toda essa guerra porque esse é o único ponto da guerra que ele conhece. O que é algo bom. Sei lidar com o caos. Usei ele a meu favor quando me tornei general.

 

Tudo que Voldemort havia feito fora sentar no trono que Draco construíra a base do medo e da opressão em nome do Mestre das Trevas. Ele nunca foi quem teve que colocar o mundo em ordem.

 

—       O Diário do Imperador ainda tem publicado notas sobre a reorganização do exército, sobre as medidas do Império, sobre a larga fundação ao qual o regime se assenta. – Devon manifestou-se. - Mentiras. Claramente a mídia está sendo intensamente reprimida sobre o que publica. O Primeiro Ministro tem conseguido fazer com que alguns comensais levem cópias do Profeta Diário para dentro de alguns fortes.

 

—       Perfeito. Bennett sabe fazer o trabalho dele.

 

—       Certamente, mas ele tem sua par de exigências. Astoria Bennett tem sido obrigada a fazer visitas quase diárias ao forte. Isaac teme que a esposa possa não ser liberada para fazer sua viagem de volta para casa caso ele seja declarado seu aliado. Desconfia que Theodoro ou Voldemort saibam que estão trabalhando juntos. – Devon anunciou.

 

—       Quais são as exigências?

 

—       Mais segurança para a casa dele, mais poções, menos missões que o incrimine diretamente, uma rota de escape rápida para ele e para a família caso seja declarado inimigo do regime.

 

—       Ele já tem tudo isso. Reforce a memória dele. Envie mais poções e uma lista de feitiços de segurança feitos por Hermione. Assegure-se de que ele tenha mais de uma chave de portal como rota de escape. Quanto as missões, todos nós estamos no arriscando aqui.

 

Devon assentiu.

 

—       Temos recebido mensagens do ciclo inteiro de Voldemort. Todos anônimos. – Fox pronunciou-se logo em seguida.

 

—       Fizemos checagem por caligrafia e a maioria se assemelha com nomes que receberam títulos nobres dentro do regime por nomeação sua ou do seu pai. – Devon acrescentou. – Eles alegam estar do seu lado. Alegam estar dispostos a ajudar.

 

Draco sabia que não era tão fácil assim.

 

—       A custo de que?

 

—       A custo de serem lembrados. Claro. – respondeu Devon. Draco já sabia daquela parte. – Por agora as exigências só são poções antidoto. Contra a Marca. Querem uma boa quantidade. A notícia de que pode não funcionar com alguns os amedronta. Querem ter certeza com antecedência de que a ligação pode ser enfraquecida.

 

Draco respirou fundo. Tomou um longo minuto para pensar.

 

—       Hermione tem preparado um grande número de poções para serem levadas para dentro de Brampton Fort. – disse.

 

Fox limpou a garganta.

 

—       Com todo respeito, um grande número de poções circulando por Brampton Fort abre um leque de possibilidades para criarem outra poção ou alguma magia que anule o efeito. – opinou ele.

 

—       Sim. – concordou Draco. – Ainda assim minha esposa e eu queremos que seja feito dessa maneira. Hermione conhece as propriedades mágicas da poção e tem trabalhado para que seja dificilmente reproduzida, estudada ou anulada.

 

Devon e Fox assentiram. Anunciaram que estariam o esperando no grande salão e o deixaram.

 

Draco ficou pensativo por um bom tempo. Obrigou-se a comer algo sabendo que precisaria de energia. Tomou um gole do chá e desaprovou toda aquela comida. Levantou-se em seguida e tomou seu caminho para o salão. Uma boa equipe o esperava. Chaves de portais estavam portas, prontas para serem usadas.

 

—       A segurança foi revisada? – perguntou sabendo que chaves de portais poderiam não ser tão seguras quanto aparentavam.

 

—       Sim, senhor. – respondeu um dos homens.

 

—       Excelente. Não temos tempo a perder. – avançou lançando um olhar a Fox esperando que ele desse as ordens.

 

—       Senhor. – Devon pediu por atenção. – Sua esposa? – Estavam esperando que ela fosse com eles.

 

—       Hermione vai seguir sua própria agenda. – anunciou Draco.

 

—       Mas... – Devon calou-se ao perceber que estava a ponto de contradizer seu general. – Claro. – finalizou.

 

Fox deu as ordens e todos agarraram-se a sua destinava chave de portal. Em uma desconfortável viagem de segundos Draco viu-se pisar os pés na beira do precipício de Azkaban, a famosa e temível prisão mágica.

 

O vento soprava forte. Quase que como em uma tempestade. O céu cinzento. O temperatura fria. Sentiu-se ser abraçado pela amargura quando olhou o oceano feroz batendo contra as rochas da fundação da edificação que parecia estar milhares de metros abaixo dele.

 

Devon chamou sua atenção para o homem que avançava em direção a eles lutando contra o vento. Kirk Irwin. Draco havia o nomeado guardião de Azkaban não fazia muito tempo.

 

—       Senhor, eles já estão aqui. – o homem proferiu alto contra todo o som do vento e do oceano a volta deles.

 

Devon ordenou que eles fossem levados até os convidados e assim eles seguiram pela beira do topo da edificação até uma entrada. Foi quase como ser acolhido deixando a tormenta do oceano do lado de fora , mas logo as paredes cinzentas e vazias de Azkaban fizeram com que os pelos de sua nuca arrepiassem.

 

Os convidados estavam o esperando ao lado de um observatório. Usavam suas roupas coloridas que contrastavam com a cor da pele viva e escura que possuíam. Draco conhecia o mais alto de todos. Alto. Forte. Meia idade. O rosto muito simétrico, cheio dos traços naturais de seu povo. Exalava força física e poder apenas pela postura.

 

—       É bom vê-lo novamente, General Malfoy. – o homem fez soar sua voz grave e pesada.

 

—       Posso dizer o mesmo, Kokah. – Draco respondeu. – Não temos tempo a perder. Meus homens vão aguardar por futuras ordens. Preparamos um lugar para que os seus possam esperar também enquanto conversamos. – sugeriu e Kokah tomou somente alguns segundos para aceitar, fazendo o aceno para uma das mulheres que o acompanhava, permitindo que ela seguisse Irwin. – Se não se importa, Devon irá nos acompanhar. Presumo que o conheça.

 

Kokah fez um aceno de que não se importava com a presença do homem e com a tal autorização Devon seguiu para abrir uma das grades do que parecia uma contenção de proteção ao observatório. Draco e Kokah atravessaram para o outro lado. Devon os seguiu em seguida fechando a grade. No mesmo instante o chão sob os pés dele começou a mover-se numa velocidade muito segura pelos incontáveis a vazios andares da prisão.

 

—       Onde está sua mulher? – Kokah manifestou-se encarando o oceano se aproximar cada vez mais enquanto descia. – Estava muito certo de que ela viria.

 

—       Ela virá. No tempo dela. – respondeu Draco.

 

Um sorriso esgueirou-se discretamente pelos lábios do homem.

 

—       Esse lugar é impressionante. Qualquer um definharia aqui. Com Dementadores ou sem eles. – comentou ele. – Não é surpreendente que tenha o conseguido.

 

—       Quem detém o controle sobre os Dementadores detém Azkaban. - Devon complementou.

 

—       Claro. – Kokah soltou com um sorriso amarelo. Moveu seus olhos para a grade vendo os andares passarem um a um. – Nenhum prisioneiro. – observou ele. – Os soltou?

 

—       Os matei. – respondeu Draco, a sanidade da maioria, que era pouca, estava comprometida. Foi sua melhor escolha, sabendo que poderia usar aquele elemento para intimidação.

 

Kokah riu.

 

—       Claro. – disse novamente. Provavelmente sabendo que Draco estava usando aquilo para intimidá-lo. Realmente estava.

 

Finalmente chegaram a um dos pavimentos iniciais. Devon foi quem os direcionou a uma sala que mais se assemelhava a uma cela modificada para receber reuniões. Assuntos do Ministério eram frequentemente tratados em Azkaban dependendo de seu nível de confidencialidade. Espaços como aquele eram comumente usados, mesmo antes da ditadura de Voldemort, embora que mesmo com a tapeçaria no chão, a grande mesa de carvalho no centro, algumas cadeiras e até mesmo poltronas próximo a uma lareira pequena, fizesse ainda parecer um lugar frio e despido de qualquer ar acolhedor.

 

Draco foi o primeiro a sentar-se em uma poltrona próxima ao fogo aceso. Precisava de uma fonte de calor. Aquele lugar lhe trazia todo o tipo de arrepio. Kokah o seguiu pegando uma cadeira oposta a dele. Devon manteve-se de pé logo atrás de Draco.

 

—       Espero que sua mulher não demore. – foi quase que um alerta do homem.

 

—       Pensei que tivesse vindo aqui por um acordo, não pela minha esposa. – Draco precisou dizer.

 

—       Tenho uma curiosidade, particular, em vê-la.

 

—       Ela não é nenhum tipo de animal exótico.

 

Kokah soltou um riso fraco.

 

—       Oh. Acredito que ela seja, General Malfoy.

 

Draco buscou paciência. Não era momento para irritar-se.

 

—       Veio atrás de seus interesses, ou não? – cortou-o trazendo-o de volta ao foco. – Sei que tem bastante seguidores. Minhas visitas ao forte africano sempre me deram uma boa perspectiva da sua influência. Seus seguidores se reportavam a mim por terem a marca de Voldemort, mas nunca fui idiota de não acreditar que eles apenas colocaram a marca do Lorde das Trevas no braço porque você a colocou primeiro.

 

—       O Mestre das Trevas não me tirou a posição de influência que sempre detive. Isso porque ele sabia que eu tinha o controle das massas. Também porque sabia que um bruxo Africano no exército dele valeria mais do que vinte desses seus Europeus.

 

—       Um discurso sobre soberania racial que discorda da moral que estou tentando restaurar.

 

—       Você apenas quer colocar o mundo em dívida com sua família. Sabemos bem que não é um homem de moral ou muito menos um herói, Draco Malfoy.

 

—       Sua influência é nada mais do que uma ferramenta nas mãos de Voldemort. – Draco não queria continuar com aquele jogo de palavras que não os levaria a lugar alguma. – A marca que ele colocou em seu braço faz de você nada mais do que um servo sem o poder de dizer “não”. Sabe disse e por isso ofereceu-se como meu aliado na primeira grande oportunidade que viu. O que quer? – sabia bem o que ele queria, mas perguntar seria seu jogo contra o homem.

 

Um sorriso irritante passou pelos lábios dele, o que confundiu Draco.

 

—       Quero ver sua mulher. – soltou muito calmamente, como se estivesse apreciando o fato de que aquilo iria irritar Draco.

 

Draco inclinou-se para frente. Por que ele continuava insistindo naquilo? Quis estreitar os olhos e exigir do outro um motivo para que não o matasse ali e agora. Kokah não estava jogando seu jogo e mostrar frustração seria como deixar o outro vencer. Engoliu a fúria que lhe subiu a garganta e preferiu seguir pelo caminho curioso.

 

—       O que há de tão interessante em minha esposa que precisa tanto ver?

 

Kokah abriu um sorriso e acomodou-se na cadeira muito confortavelmente saboreando o fato de estar pisando exatamente onde queria.

 

—       Diga-me você, general. – trocou o olhar para Devon. – Diga-me você. – sorriu muito satisfeito. – Tudo o que ouvimos são rumores. – voltou o olhar para Draco. – O que ouvimos é que não existe um elemento da natureza que não a reverencia. Que por onde ela anda o ar parece ganhar magia. Que seu domínio e conhecimento é tão extenso que ela não precisa de nada além do próprio corpo para conduzir feitiços. Que o tom de sua voz quando fala pode soar quase que como uma melodia com força o suficiente para manipular tanto destruição quanto paz. Que seu olhar tem o poder do controle.  Que não existe nada muito difícil que ela não possa aprender. Que não existe nada tão complicado que ela não possa entender. Que não existe nada tão rebelde que ela não possa domar. Que não existe homem que não a queira e mulher que não a deteste.

 

Draco levou um bom tempo para processar cada palavra daquela. Sério? Era aquilo que havia construído quando seguiu Hermione ao optar não comentar absolutamente nada com a mídia sobre os rumores do sangue dela vir de Morgana? Eram esses os rumores que circulavam além das fronteiras onde as cópias do Diário do Imperador eram limitadas e a mídia apenas especulativa e conspiratória? Ele não conseguia acreditar que havia tomado um ar tão fantasioso.

 

—       Acredita que minha esposa é a bruxa Morgana que tirou de um livro de ficção? Se ela fosse metade do que descreveu não iria estar precisando de aliados para vencer Voldemort.

 

—       Isso não é ficção. – o homem manteve-se firme, quase descontente por Draco estar diminuindo Hermione, mesmo que ele nem mesmo conhecesse sua mulher. – Me diga qual descrição não é compatível?


Draco sentiu a imediata necessidade de retrucar que todas elas eram completamente incompatíveis com Hermione, mas foi só então que ele precisou engolir sua percepção de lógica ao preparar-se para rebater cada ponto que o outro havia levantado. Hermione parecia sim ter algum tipo de sensibilidade aos elementos da natureza, conseguia definitivamente senti-los e talvez até controla-los. Conseguia externar tanto isso que as vezes parecia que por onde passava, magia a seguia. Seu controle e poder de concentração permitia que ela, muito frequentemente, não precisasse de nenhuma varinha ou elemento condutor para produzir feitiços e magia, por mais complexos que fossem. Draco tinha que concordar que ela tinha a voz mais melodiosa e poderosa que ele já escutara, que a cor de seu olhar era única, que duvidava que existisse algo no mundo que Hermione não fosse capaz de decifrar, entender, dominar e reproduzir. Que boa parte dos homens irritantemente sentiam-se atraídos por ela e que muitas mulheres naturalmente tendiam a inveja-la. Mas apesar de tudo isso, apesar de todos os dons extraordinários que ela possuía e que poderia ser justificado no tipo de sangue que herdara, ele conhecia a humanidade de Hermione. Ele dormira e acordava ao lado dela mais vezes do que conseguia contar. Já a vira chorar confusa e perdida por não saber o que fazer no meio da noite quando Hera e Scorpius simplesmente decidiam não parar de chorar. Já presenciara o número de vezes que ela lutara contra a própria ansiedade e medo as ameaças de Voldemort. Já a vira completamente impotente a sua frente gritando pela vida que Voldemort havia matado dentro dela. Já a vira fracassar ao tentar enfrenta-lo. Ela não era Morgana.

 

—       Hermione tem sua parcela de dons. Ela pode ser bastante especial. Mas é tão humana quanto eu e você. – defendeu Draco.

 

—       Sem dúvida. – concordou Kokah. – Certamente não duvido que a humanidade enraizada na mente dela a limite. Ela viveu como uma desde que nasceu. Aposto que deve ter sido libertador para ela ter descoberto ser uma bruxa depois de tantos anos tendo seus conflitos de identidade dentro de um lar trouxa. Não posso nem mesmo imaginar o quanto será libertador para ela se livrar das limitações da qual foi condenada a ter por viver sua humanidade por tanto tempo. Mas aposto que toda a pressão de estar debaixo do dedo dominador de Voldemort tenha aguçado nela o desejo de ser maior do que ele. O que eu realmente acredito sobre sua esposa é que ela esteja caindo. Até um tempo atrás, ela não sabia que tinha asas, e agora que sabe que tem, não sabe realmente como usa-las. Mas eventualmente ela irá voar, Draco Malfoy. – ele sorriu. Como se estivesse recitando uma poesia. – Quando isso acontecer, eu espero que saiba como derrubá-la. Porque todos nós sabemos o que aconteceu a última vez que uma Fada-Humana aprendeu a voar.

 

Draco sentiu aquele sabor amargo em sua garganta novamente. Quis voar contra o pescoço daquele homem. Quem era ele para abrir a boca para falar sobre Hermione? Ele não a conhecia! Não sabia o que ela já havia passado! Não sabia o que ela passava! Precisou concentrar-se para manter sua postura e sua máscara neutra.

 

—       Não sabia que acreditava tanto em fantasias, Kokah. – foi como optou por reagir.

 

Kokah riu novamente.

 

—       Você vive sua negação. Exatamente como Merlin também viveu a dele e a observou colocar o mundo inteiro na palma da mão sem fazer nada. Talvez ele defendesse a humanidade dela já que os dois foram tão próximos por tanto tempo. O erro dele fez ser quase tarde demais quando finalmente opôs-se a ela. Sua linhagem carrega até hoje a proteção dele. Um Mago como Merlin sabia o preço de ser inimigo de Morgana. Me diga, Draco, como a pedra de sua família reagiu a sua mulher? Sabe, eu tenho uma teoria sobre o encanto de sua mulher, porque saiba que eu nunca vi nada parecido com a beleza que ela tem. Talvez você se lembre que a história costuma contar que quanto mais tempo e quanto mais íntimo um homem ficava de Morgana, mais conectado a ela e mais parte dela ele parecia se tornar. Que quanto mais poder ela dominava e mais Morgana se descobria como fada, mais o mundo caia aos seus pés, mais sua beleza se intensificava, mais cruel ela se tornava e menos humana ela se parecia.

 

Por um segundo a fascinação que Harry Potter carregava por Hermione se passou pela sua cabeça, mas Draco a engoliu muito rapidamente. Aquele homem estava passando do limite.

 

—       Eu pararia por aqui, Kokah. – alertou Draco.

 

—       Seus ancestrais trabalharam arduamente em eliminar qualquer vestígio do sangue que sua mulher carrega para manter o campo inimigo sempre limpo. O que acha que eles iriam pensar se vissem um Malfoy casado com o sangue que deveria ter sido morto por suas mãos? – continuou ele. – A prova de que sua mulher está aprendendo a usar as asas que tem foi quando conseguiu livrar-se da maldição da Marca Negra de Voldemort sem nenhuma ajuda externa. Não pense que o mundo inteiro não comenta sobre os rumores que circulam sobre ela. Muita gente viu quando a poção não funcionou nela. Aposto que foi uma experiência bem traumática. Notou algum tipo de comportamento diferenciado após o evento? Se eu fosse você, eu seria mais cuidadoso. Se ela conseguiu livrar-se da Marca Negra, ela pode facilmente livrar-se também da magia do contrato que faz dela sua esposa, que faz dela uma Malfoy...

 

—       Já chega! – dessa vez Draco foi severo. Seu tom ríspido quase ecoou pela sala quase fazendo as paredes vibrarem. Inclinou-se para ficar mais próximo do homem ainda lutando para não voar contra ele. – O que te faz pensar ter o direito de especular em cima de fantasias e achar que pode jogá-las contra mim como se soubesse mais do que eu? Não venha querer me dar uma lição sobre um passado que pertenceu aos meus ancestrais e aos dela. Tudo o que sabe são as lendas que correm por aí. Eu conheço os fatos e os fatos pertencem a minha família, a minha linhagem, ao meu sobrenome!

 

Batidas na porta chamou a atenção dos dois antes que Kokah tivesse a chance de retrucar qualquer coisa. Draco se percebeu beirando a fúria e tratou de resgatar a ponta de profissionalismo que havia o escapado. A porta foi aberta e Irwin apareceu por ela muito formalmente.

 

—       General, sua esposa... – ele começou, mas engoliu suas palavras quando Hermione entrou logo em seguida dispensando a apresentação.

 

Céus! A forma como ela se vestia ultimamente sempre pegava Draco de surpresa. O novo guarda-roupa de sua esposa dava lugares apenas a tons escuros, cortes prepotentes, rendas marcantes. Tentava passar poder e superioridade, diferente de quando estavam em Brampton Fort e a mídia precisava vê-la como uma mãe indefesa tentando manter os filhos longe de Voldemort.

 

—       Lamento ter sido obrigada a me atrasar. – foram as primeiras palavras da mulher enquanto se aproximava em seu andando perfeito sobre aquele salto que nunca falhava em ser alto e irritantemente barulhento. – Espero que não tenham esperado por mim.

 

Kokah levantou-se quase que imediatamente para recebe-la.

 

—       Eu esperei ansiosamente. – ele beijou a mão dela sem cortar qualquer contato visual.

 

Hermione mostrou-se firme mantendo o dela sobre ele até que ele finalmente decidisse larga-la. A íris dela lançou um rápido olhar a Draco enquanto pedia para que o Kokah se sentasse novamente.

 

—       Posso ver que meu marido não parece estar muito contente. – ela pronunciou. – Espero que nossas negociações não estejam tomando um rumo tão negativo.

 

Kokah parecia fascinado com o teatro diplomático que Hermione estava apresentando.

 

—       Digamos que as perspectivas de seu marido são um tanto quanto preocupantes. – Kokah soltou enquanto se sentava.

 

Hermione lançou um olhar a Draco. Pode enxergar a suave linha confusa que surgiu entre suas sobrancelhas. Ele devolveu um olhar seco para o homem a sua frente.

 

—       Kokah tem testado os limites. – foi sério.

 

A mulher pareceu tomar um segundo para processar o que aquilo poderia significar. Draco sabia bem que ela tomaria aquilo como uma tentativa de Kokah em não ser flexível.

 

—       Bem, acredito então que uma bebida poderia trazer um pouco mais de informalidade a tudo isso. – ela voltou-se para Devon que havia se mantido em silêncio até então. – Devon, você se importaria?

 

Devon fez um pequeno aceno com a cabeça antes de ir até uma mesa estreita próximo a porta buscar as bebidas expostas ali. Draco trocou um olhar com Hermione enquanto ela se aproximava da cadeira dele e apoiava o braço confortavelmente contra o topo do espaldar.

 

—       Talvez minha esposa faça um trabalho melhor do eu aqui. – ele abriu o caminho dela sabendo Hermione conseguia ter a língua muito bem afiada quando queria. Além do mais, ele precisava de tempo para recompor-se mentalmente. Havia sido atacado de uma forma completamente inesperada.

 

Sentiu que Hermione agradeceu por ele ter permitido que ela tomasse a frente pela linha de interação muito bem preparada que ela passou a conduzir assim que abriu a boca.

 

—       O quanto realmente conhece sobre a história da magia na África, senhor Kokah?

 

O homem mantinha seu sorriso satisfeito sem desgrudar, nem mesmo por um segundo que fosse, o olhar de Hermione.

 

—       Considerando que faço parte dela, e uma parte bastante significante, posso dizer que a conheço melhor do que a mim mesmo. – o olhar dele estava cheio de fascinação. Era como se ele estivesse olhando para algo que queria ter, queria possuir, queria analisar, queria estudar. Draco sentia-se extremamente incomodado com aquilo. Ele estava engolindo tudo aquilo que havia jogado contra Draco antes dela aparecer apenas para se permitir experimentá-la.

 

—       Então talvez consiga enxergar o problema com o qual estamos lidando aqui. Sua família e sua tribo lutou por muito tempo para limpar o continente da sombra do atraso que o uso livre de magia negra por séculos e séculos trouxe para sociedade bruxa africana em geral. – ela aceitou o copo que Devon lhe entregou. - Seus olhos viram a pesada malha de magia negra perder influência com muita dificuldade por todo o território. Viu a satisfação de muitos em poder viver e ser parte de uma sociedade segura e bem administrada. Viu o progresso que tudo isso trouxe. As inúmeras perspectivas de futuro e os avanços. Tenho certeza que o que o trás até aqui é o retrocesso que vem observando acontecer com a liberação de magia negra novamente por todo território. É lamentável que magos, rituais e uma lei sem limites esteja oprimindo novamente a história do seu povo. Mas meu marido e eu sabemos bem que esse é o seu discurso bonito. Estar do nosso lado para restaurar a ordem nos territórios africanos soa bonito aos ouvidos daquele bruxos que apenas querem viver em segurança novamente. Quer ser o rosto carregando essa bandeira quando a guerra civil começar. E todos nós sabemos bem que a comunidade bruxa africana está a beira de uma guerra civil. – apressou-se ela quando ele pareceu puxar ar para contradizê-la. - Sabe bem que nós somos a chance de poder levantar sua bandeira lá com algum tipo de esperança visto que a maioria dos magos poderosos se mantém bastante fiéis as ideologias de Voldemort. Draco conhece as resistências que seu grupo teve de se render a Voldemort e não está surpreso por estar recebendo algum tipo de apoio agora que nos voltamos contra ele.

 

—       Estou apenas disposto a negociar. – Kokah interferiu.

 

—       Mas antes de prosseguirmos com qualquer negociação é bom deixarmos claro que sabemos suas motivações. – continuou ela. – Sabemos que sua resistência contra o Ministério Africano tem se sustentado por gerações. Tem tentando tomar o poder por bastante tempo, mas com o tamanho da influência que o Ministério tinha, era quase impossível que conseguisse fazer com que qualquer revolução ganhasse corpo. Tudo perdeu força quando um exército do tamanho do de Voldemort invadiu a África e agora, se aliar e ganhar influência em um movimento do tamanho ideal seria sua oportunidade perfeita para finalmente poder esmagar qualquer sistema governamental estabelecido entre a comunidade bruxa africana e finalmente conseguir ganhar sua posição de dominação dentro do continente assim que o Império de Voldemort tiver um fim. Para a sua sorte, nós somos esse movimento.

 

—       Preciso de vocês tanto quanto precisam de mim. – Kokah tentou igualar-se ao perceber que Hermione havia exposto a profundidade de sua fragilidade.

 

—       Não precisamos de você. Usá-lo é apenas uma de nossas opções. – Draco manifestou-se.

 

—       Os outros continentes estão bem resolvidos com a nossa família. – Prosseguiu Hermione. - Quando Voldemort cair já temos força o suficiente para interferirmos na África e reestabelecermos o Ministério lá com outro candidato que tiver mostrado mais disposição em ajudar agora do que você. – finalizou ela vestida de toda a sua elegância enquanto sentava-se no braço da cadeira de Draco e cruzava a perna quase que exibindo sua satisfação por estar por cima.

 

Kokah ajeitou-se em sua cadeira claramente abalado por ter qualquer esperança de manipular os Malfoy drenada de seu discurso. Ainda assim seu olhar de fascinação não conseguiu morrer. Pelo contrário, quanto mais ele encarava Hermione, mais ele parecia maravilhado. Seus dedos longos alisaram a superfície do copo de bebida entregue a ele por Devon como se estivesse pensativo.

 

—       Qual é a proposta? – ele se entregou.

 

Draco quase abriu um sorriso de satisfação ao ver o homem dançar na palma de sua mão. Hermione manteve-se em silêncio sabendo que Draco gostaria de ser quem iria conduzir essa parte.

 

—       Faz exatamente o que dissermos para fazer. Quando Voldemort cair, deixaremos ter o Continente inteiro para você, mas com a condição de que manterá o Ministério. Teremos influência o suficiente para garantir que o poder esteja nas suas mãos, mesmo nos afastando do cenário político.

 

—       De forma alguma. Me recuso a manter um Ministério na África.

 

—       É um sistema eficaz. – defendeu Hermione. - Nos unifica, nos mantem fortes, nos mantem seguros e nos faz crescer. O mundo bruxo sofre de muitos atrasos e o sistema de Ministérios foi o único a provar ser capaz de sustentar um progresso linear.

 

—       Lutei contra a corrupção que o sistema do Ministério Africano permitia sustentar quase que minha vida inteira. O mundo me conhece por isso. Ainda estaria lutando se não fosse pela intervenção do Império do Mestre das trevas.

 

—       Não precisa ser hipócrita. Não conosco. – Draco não tinha paciência. - Sabemos bem quais são suas intenções. Nada de errado com elas. Todos nós almejamos poder de alguma forma ou outra. Nunca lutou contra a corrupção dentro do Ministério Africano. Tudo o que sempre quis foi ter a posição de comando da África. Colocou o povo contra o Ministério para tê-los ao seu lado.  

 

—       Se quiser ser o nome responsável por carregar nossa bandeira agora, precisa estar de acordo com o que defendemos. – Hermione o redirecionou. - Queremos restaurar o mundo antigo. Se não estiver de acordo, não queremos o seu nome associado ao nosso de nenhuma forma.

 

—       Estamos lhe oferecendo o que sempre quis. Liderança. Talvez ser Primeiro Ministro nunca esteve em seus planos, mas definitivamente terá o poder de controlar o que acontece ou deixa de acontecer dentro das suas fronteiras. – concluiu Draco.

 

Kokah não pareceu contente.

 

—       Ainda estarei debaixo das leis principais que regem a comunidade bruxa sendo Primeiro Ministro. – relutou ele.

 

—       E quem você pensa que é para estar acima? Voldemort? – incitou Draco.

 

—       Talvez penso ser um Malfoy. – retrucou o homem com a mesma acidez. – Não pense que sou idiota em não ver o que estão fazendo aqui. Restaurar a ordem do mundo antigo é o seu discurso bonito! – ele usou as mesma analogia. – Querem parecer heróis. Querem que o mundo entre em dívida com vocês por conseguirem trazer de volta o progresso e estabilidade de antes, apenas para se manterem acima do sistema. Se estamos tendo uma conversa livre de hipocrisias, é melhor que seja dos dois lados.

 

—       Senhor Kokah. – Hermione foi severa dessa vez. – Temos um acordo ou não temos? É um homem de influência, mas certamente não é o único.

 

Draco sabia que aquilo era tudo que Kokah não queria. Quando invadiu a África em nome de Voldemort, ele e o grupo de seguidores que tinha não chegaram a resistir tanto quanto Draco esperava apenas por saber que podia acabar ganhando uma boa posição dentro do que quer que Voldemort estivesse construindo com suas conquistas. A África estava uma bagunça por conta das pequena revoltas que Kokah mesmo incitava pelo território e era quase fato que eventualmente Voldemort e seu exército acabaria tomando controle. Kokah era inteligente em saber que apesar de ter seu grande número de seguidores, a fortuna de sua tribo e a herança de sua família, não tinha força para ser independente. Não era grande como o Ministério nem poderoso como um Mago. Ali, agora, estava tendo a chance de ter o poder que sempre quis, mesmo com as condições e limitações ao qual estava sendo sujeitado. Ele cederia. Cederia porque era inteligente em saber que não teria outra oportunidade como essa. O Império de Voldemort estava completamente fragilizado com a reviravolta dos Malfoy e todo o sistema que havia ao redor do mundo hoje tinha uma boa chance de cair amanhã. Kokah não era um homem burro.

 

—       Qual é o plano? – ele cedeu finalmente, depois de ter tirado um longo minuto para pensar e poder mostrar que a proposta não havia saído exatamente a seu gosto.

 

Draco pode quase abrir um sorriso, mas ainda queria mata-lo. Chamou por Devon e estendeu a mão. Devon lhe entregou uma pasta e Draco a estendeu para Kokah.

 

—       Não tão rápido. – disse enquanto tinha a pasta tirada de sua mão pelo homem. – Se isso for uma aliança, preciso ter a certeza de que cumprirá com sua palavra e certamente também precisará ter certeza de que cumprirei com a minha. – estendeu novamente a mão e Devon a ocupou com uma longa caixa aveludada. – Prefiro manter tudo dentro do campo dos negócios e quando fechamos bons negócios, é necessário que com ele venham boas garantias.

 

Kokah assumiu um olhar suspeito enquanto tomava seu tempo para analisar o pedaço de pergaminho dentro daquela pasta. Ali Draco sabia de que a promessa que havia feito vinha com o custo dele jamais falhar, jamais lhe dar as costas, jamais se rebelar, cumprir seu papel de aliado e manter o sistema de Ministérios quando sua recompensa fosse entregue assim que Voldemort caísse e o mundo se estabilizasse. Kokah não estava contente, mas ele já havia sido comprado por Voldemort antes, ser comprado novamente não seria difícil. Draco apenas abriu a caixa em sua mão e estendeu a pena enfeitiçada para o homem quando julgou que já havia dado tempo o suficiente a ele.

 

—       Você é igual a ele, se quer saber. – Kokah comentou pegando a pena. – O Lorde das trevas. – mostrou toda a sua desaprovação. – Ele também me prometeu uma posição de controle. Sinto que estou apenas mudando de um Império para outro. – assinou o pergaminho, assinou a cópia, pegou a cópia para ele e a guardou devolvendo a pasta e a pena. – O único motivo que me leva a estar me aliando aos Malfoy é ela. – ele fixou seu olhar em Hermione. – Eu não poderia me permitir ser inimigo da filha de Morgana.

 

Draco esperou Hermione entrar na defensiva com rapidez. Era sempre a reação dela quando alguém tocava no assunto. Porém, pela primeira vez ele a viu vestida de uma indiferença incomum.

 

—       Não me importo com o que acredita ou deixa de acreditar contanto que cumpra seu papel como aliado. – ela foi neutra.

 

Um sorriso tornou a cruzar pelo rosto do homem.

 

—       Você ainda não tem a menor ideia do poder que carrega. Talvez nunca tenha. O que eu duvido. – comentou ele. – Se você falhar, tenho absoluta certeza de que seus filhos não falharão.

 

—       O que está insinua... – Draco começou, mas engoliu suas palavras quando Hermione ergueu sua mão pedindo para que ele parasse.

 

—       Acaso sabe de algo que eu não sei? – ela estava séria ao ponto de fazer Draco acreditar que estava começando a se mostrar irritada.

 

—       Não me faça fazer o seu serviço. - O sorriso de Kokah era quase nojento. – Você é quem esta destinada a encontrar seus propósitos e suas missões.

 

Hermione estreitou os olhos rapidamente apenas para puxar ar e encontrar seu ponto de estabilidade.

 

—       Estou em uma missão com um propósito muito claro e sinto informá-lo de que não se alinham a suas expectativas, sejam elas quais forem. Acredite no que quiser. Apenas saiba que estar testando seus limites mais do que gostaria que estivesse o coloca em uma posição bastante desagradável dentro da nossa lista de aliados. – ela foi fria, simples e direta.

 

—       Não importo em que posição eu esteja para os Malfoy contanto que eu seja a pessoa responsável por fazê-la enxergar que as mentiras ao qual foi obrigada a viver toda a sua vida tem a atrapalhado alcançar seu verdadeiro propósito. Você é maior do que pensa que pode ser, é maior do que o sobrenome ao qual está presa, é maior do que qualquer um que te ameace. É você quem está destinada a mostrar ao mundo que ele nunca será capaz de fazer sumir um poder como o seu, um sangue como o seu. Não importa quantas gerações de famílias poderosas destinadas a acabar com um poder como o seu, não importa quantos se levantarem contra seu sague, é você quem está destinada a provar que...

 

—       CALE-SE. – Hermione foi tão ríspida que até mesmo Draco sentiu-se ameaçado estando ao seu lado. Kokah parou imediatamente. Um silêncio rodeado por tensão pairou sobre eles mais tempo do que deveria. Draco conseguiu quase sentir os músculos travados de Hermione ao seu lado mesmo sem tocá-la. Não soube o que viria depois daquilo e por alguma razão se sentiu no dever de acabar com aquela situação. Puxou o ar, mas como se Hermione estivesse lendo sua mente, ela acabou erguendo a mão novamente, dessa vez exigindo que ele permanecesse calado. – Junte os seus homens e esteja pronto para tomar o forte da África ao sinal do exército. – seu tom casual, porém seco, mostrou o quanto buscava pelo auto controle. - Acontecerá simultaneamente com os outros fortes e todos já estão bem preparados para o momento em que receberem o sinal do exército. Esteja consciente de que deve trabalhar rápido. Tem vinte e quatro horas para preparar seu grupo. Caixas com o antídoto contra a Marca Negra estão sendo preparadas para o seu Forte. Preparem homens para recebe-las. Vai precisar de muitas. Fox saberá lhe passar mais detalhes. Agora é melhor que levante e saia. Devon irá acompanha-lo.

 

Kokah permaneceu mais alguns segundos em seu acento como se esperasse que ela fosse voltar atrás em sua agressividade e dar a ele um pouco mais de informação sobre como deveria trabalhar, ou dar a chance de Draco discursar, mas Hermione deixou que suas palavras para ele fossem finais. Quando ele aceitou que realmente eram, levantou-se calmamente, sem se desfazer de seu orgulho, virou o copo de bebida devolvendo-o a grande mesa em seguida e seguiu Devon, que já havia se preparado para guiá-lo. Mas antes que pudesse deixar definitivamente a sala onde estavam, parou a porta e lançou um último olhar a Hermione.

 

—       Ele tem medo de você, por isso é tão empenhado em fazer com que sua vida seja miserável. O Lorde das Trevas. Ele quer que você tenha medo dele porque medo é a única coisa com o que ele sabe trabalhar. Ele sabe que você é maior do que ele. – soltou em seu pesado sotaque e foi embora.

 

O silêncio pesou entre Draco e Hermione por alguns segundos quando se viram a sós.

 

—       Como ele sabe? – foi o comentário de Hermione. Veio em uma voz pensativa e ao mesmo tempo irritada. – Como ele sabe que Voldemort é tão empenhado em fazer com que minha vida seja insuportavelmente miserável?

 

—       Por que isso faria alguma diferença? E por que se importa? – não gostava que ela estivesse dando crédito as ladainhas que foram obrigados a escutar.

 

—       Ele sabe de algo. – ela se levantou calmamente. Parecia cada vez estar mais pensativa batendo a aliança contra o copo que segurava. – Sobre mim.

 

Draco suspirou e se levantou.

 

—       Kokah foi por muito tempo aprendiz de magos e adivinhos. – bebeu finalmente sua bebida. - Deve confiar mais do que deveria na leitura dos estranhos apetrechos que eles usam na África. – foi até a pasta que Devon deixara sobre a mesa para analisar novamente a assinatura do homem tentando não se concentrar no fato de que Hermione estava processando tudo que havia escutado muito calmamente.

 

Draco não queria ter que digerir o fato de que aquele homem acabara de colocar Hermione contra Draco. Como se ela fosse uma entidade poderosa apenas esperando o momento em que os olhos fossem abertos para perceber que estava presa a uma vida sem sentido, uma vida sem propósito, uma vida onde Draco e até mesmo os filhos não fizessem parte, uma vida muito insignificante comparado ao enorme domínio que poderia ter.

 

—       Não gosto dele. – ela comentou pensativa.

 

—       Não precisamos gostar dele. – Kokah tinha apenas um papel dentro daquela revolução e o papel assinado que Draco analisava naquele momento garantia que seria cumprido.

 

Hermione bateu novamente com a aliança no vidro do copo pensativa. Draco não gostava que ela estivesse ultimamente tão presa dentro de sua própria cabeça.

 

—       Vamos matá-lo? – ela soltou depois de um longo silêncio.

 

Draco ergueu os olhos para ela recebendo o peso daquela pergunta.

 

—       Apenas porque não gosta dele? – foi sarcástico.

 

Ela soltou o ar impaciente.

 

—       Porque ele é uma ameaça! Ele vai encontrar uma forma de derrubar o Ministério quando tudo isso acabar e estamos dando o poder a ele para isso. – justificou ela.

 

Draco soltou um riso forçado não acreditando no que estava escutando.

 

—       Hermione, nós matamos porque isso é uma guerra. Quando ela acabar o império que vamos construir para nossa família irá jogar em um cenário muito diferente do que estamos vivendo agora.

 

—       Está certo disso? Porque eu não acredito que era isso que o seu pai defendia. Especialmente quando ele se fez responsável pela morte da mulher que me colocou no mundo.

 

Draco congelou. Ele definitivamente não estava esperando por aquilo.

 

—       Desde quando tem revirado os arquivos confidenciais dos cofres da minha família?

 

—       Desde quando sua mãe começou a insistir em te educar sobre o meu passado! Um passado que vocês dois se acham no direito de manterem para si mesmos!

 

Ela não podia ter ido muito longe, só sua mãe tinha a chave que guardava os segredos que ela não iria gostar de ver. Ele havia ignorado os alertas de sua mãe sobre o fato da família Malfoy ter uma responsabilidade grande que vinha passando de geração em geração desde muito tempo sobre a perseguição aos descendentes de Morgana. Sabia que isso era obra do seu pai. Que nos momentos de lucidez que conseguia, encontrava uma forma de convencer sua mãe a educar Draco sobre a verdadeira pessoa com quem estava casado. Mas independente do direito de curiosidade de Hermione e da falta de recursos que ela possuía para correr atrás de sua história, ele se sentia violado por ter aquele lado obscuro de sua família sendo revirado por ela.

 

—       Você não tinha o direito. Isso pertence a minha família!

 

—       Eu sou sua família, Draco!

 

—       Certeza? Por que a segundos atrás você parecia bem pensativa com tudo que foi obrigada a escutar de Kokah.

 

—       Eu disse que não gostava dele! – relembrou ela.

 

—       Não gostou dele ter sido invasivo com relação a você, a menção aos nossos filhos e ao fato dele claramente estar projetando algo para derrubar o Ministério Africano quando consegui-lo, mas eu sei que dentro da sua cabeça está processando o fato dele ter exaltado todo o poder que eu sei que anda explorando, o fato dele ter evidenciado que está presa ao meu sobrenome, o fato de ter a colocado acima de qualquer ameaça, de ter te colocado mais forte do que Voldemort. Acaso se lembra do que eu te disse ontem? O fato de saber o porque não diz que me ama? Não negue que não sabe que existe algo dentro de você que sempre tentou te direcionar para uma identidade que não condiz com a que vive, para um propósito que pode ser maior.

 

Ela mostrou-se ofendida e ferida. Soltou o ar e por um segundo ele pensou ter visto o brilho sutil de uma lágrima enganosa em seus olhos, mas a postura dela continuou bem intacta.

 

—       O que poderia ser maior que os nossos filhos? O que poderia ser maior que nós?

 

Como ela ousava fazer aquela pergunta se era ela quem não negava a identidade que guardava para si.

 

—       Me diga você! – ele retrucou.

 

Ela se calou como se não conseguisse acreditar que ele havia a feito se perder nas palavras. Draco não acreditou que ela não conseguisse encontrar uma sequer para se defender. Nenhuma sequer! Vestia toda aquela postura perfeita e não era capaz de encontrar uma palavra que fosse. Soltou um riso incrédulo e deu as costas. Precisava encher seu copo novamente. Precisava de álcool.

 

Um silêncio tenso apenas perdurou entre eles enquanto Draco enchia novamente seu copo. Ele engoliu o conteúdo logo em seguida com sede. Sede pelo efeito que ele sabia que não viria com aquele copo. Precisava de muito mais para sentir que a angústia que carregava consigo fosse anestesiada.

 

—       Você vem bebendo muito ultimamente. – a voz dela soou por entre o silêncio.

 

Aquele comentário fez Draco querer jogar seu copo contra a parede enfurecido, mas ele apenas o apertou entre os dedos tentando encontrar um ponto de equilíbrio dentro de si. Sabia que ela dizia aquilo porque sondava para saber até onde ele estava conseguindo controlar seu estado de sanidade e a necessidade pelo álcool. Ela estava o alertando de que aquilo não poderia ser seu refúgio, mas ele sabia muito bem que o pior dos refúgios que poderia ter agora era o álcool.

 

—       Não é isso que estou esperando escutar de você. – ele tentou fazer com que os dois voltassem para a discussão que estavam tento.

 

—       Eu, honestamente, não sei o que quer escutar, Draco. – por alguma razão, o tom que ela carregava o incomodava. Ele queria escutar as emoção da Hermione que ele conhecia, mas tudo que conseguia sentir vindo dela era toda a armadura séria e impenetrável que usava. - Eu nunca pensei que iria precisar te convencer sobre o peso que eu, você e os nossos filhos tem sobre quem eu sou.

 

—       Eu nunca precisei que fosse ter que ser convencido. – voltou-se para ela. – Eu nunca quis ter que lidar com você frágil e sem rumo na situação em que estamos, mas também nunca pensei que fosse ser capaz de se esforçar e ter tanto empenho em se fechar por trás de tantas máscaras como agora. Me faz questionar o que está acontecendo com você, me faz questionar o que anda se passando pela sua cabeça, me faz questionar se esta apenas vestindo suas armaduras ou se está matando a Hermione que eu conheço para ser apenas uma casca impenetrável, forte e indestrutível e vazia por dentro. – porque fazia muito sentido que ela estivesse tentando se livrar da Hermione que ele conhecia. Era aquela Hermione que Voldemort queria fazer com que fosse tão miserável.

 

Eles se encararam em silêncio por um longo segundo que pareceu se estender mais do que fisicamente possível. Ela em sua postura intacta, ele em plena consciência que não era o momento para aquela conversa.

 

—       Você sabe que eu não tenho outra opção. – aquela era uma verdade triste que ela precisou dizer.

 

—       Eu não quero ter que te olhar e ver a personalidade da mulher que meus antepassados precisaram eliminar. – ela não entendia que aquilo não o ajudava a digerir o controverso fato de estar casado com o erro que seu pai cometera anos atrás ao matar a mãe de Hermione sem saber que ela havia tido uma filha e encontrara uma forma de salvá-la a tempo.

 

—       Talvez você tenha que aprender. Eu não posso ser a Hermione, sua esposa, agora. Eu não posso ser a mãe dos meus filhos agora. Isso não é sobre o que você quer, Draco. Tivemos essa conversa antes. Pensei que tivesse concordado comigo.

 

Ele continuou a encará-la incapaz de ver como era natural para ela usar suas máscaras ali com ele quando para ele já havia se tornado tão comum que ele se despisse de todas as suas quando estava com ela. Era como se ele não tivesse a menor capacidade de não ser seu verdadeiro eu quando estavam sozinhos. Quando foi que Hermione conseguira entrar tanto dentro dele a esse ponto?

 

Por um momento ele teve raiva. Raiva de que o jogo tivesse virado entre eles. Não conseguia aceitar que ele não era a pessoa que, mesmo no meio de tudo aquilo, mesmo depois de tudo, não era quem conseguia alcançar a verdadeira alma dela. Ele não podia aceitar que quando ela erguia a cabeça e gritava para os quatro ventos que vivia pela família, que vivia pelo marido, que vivia pelos filhos, que eles todos eram um, que não havia nenhuma separação entre eles, ela estava se referindo ao discurso Malfoy que queriam que a mídia comprasse e não ao lar que haviam construído no pouco tempo que tiveram com os filhos, a conexão que os dois haviam criado entre eles quando usavam um simples olhar para se comunicar, quando conseguiam ser o time perfeito contra o mundo, quando sabiam entender as dores e o passado um do outro, quando venciam as batalhas de se descobrirem como pais, amantes e cúmplices juntos.

 

Tinha que haver um jeito dele conseguir enxergar além da armadura dela. Tinha que existir alguma forma que ele pudesse fazer com que as mascaras dela caíssem. Ele precisava saber como estava sua Hermione, por mais que soubesse que isso fosse lhe doer. Ele não iria aceitar que ela não permitisse que ele fosse quem pudesse perfurar sua grossa camada de proteção. E só havia um caminho que ele conhecia que poderia lhe dar alguma chance. Estaria quebrando as regras, mas ele realmente não se importava. Cedia ao álcool embora soubesse que fosse um mal. Porque não cederia as regras?

 

Avançou contra ela sentindo-se bem pouco intimidado pela postura firme que ela vestia. Somente a viu vacilar no momento em que tomou o copo que ela ainda segurava e o lançou longe. O som do vidro se espatifando o acompanhou quando ele segurou sua nuca passando o dedos pelos fios macios dos cabelos castanhos, colou seu corpo no dela e beijou sua boca. O físico havia sido o que os unira em primeiro lugar. Exatamente como quando se casaram, a resistência dos dois, o passado, o ódio, o rancor, os preconceitos não foram suficientes para mantê-los longe de uma cama. Draco sabia muito bem que sexo não era o responsável por ter feito com que o relacionamento deles crescesse, não dava crédito a ele, mas acreditava que ele havia sido uma ferramenta eficaz que abrira portas para outras oportunidades. Era o caminho do físico que ele usaria para atravessá-la.

 

A princípio, foi como beijar uma pedra, embora estivesse sentindo os lábios macios de sua mulher, os fios dos cabelos sedosos entre os dedos, o calor receptivo do corpo dela e seu cheiro que se tornara tão familiar, que o lembrava de casa. Era como se estivesse beijando uma versão muito distante de Hermione embora a sentisse ali em seus braços.

 

—       Draco. – ela encontrou uma forma de empurrar-se um pouco para conseguir se afastar. Pela primeira vez desde que ela entrara pela porta daquela sala, ele conseguira sentir algum tom de emoção na voz dela. – Não seja o fraco de nós dois. Não podemos bancar isso agora.

 

—       O que não posso bancar é vencer tudo que estamos enfrentando agora e perder você. É tão importante quanto conseguir Scorpius de volta. Tão importante quanto derrotar Voldemort.

 

Ela piscou várias vezes como se estivesse em uma batalha interna. Quanto mais Draco conseguia enxerga-la por trás de sua máscara, mais ele se sentia confortável tendo-a contra ele.

 

—       Eu não posso dar espaço a minha fragilidade, Draco. Eu perderia minha sanidade. – a voz dela veio baixa.

 

—       Eu sei. Portanto deixe que eu seja seu ponto de equilíbrio. Deixe que eu seja quem não te faça perder a cabeça. Deixe que eu seja quem irá cuidar de você. – ele segurou o rosto dela entre suas mãos. - Me deixe cuidar de você. – Ela não disse nada. Enquanto se encaravam Draco esperou pelos motivos que dava a ela o poder de contestá-lo. Mas ela não o contestou. Ele apenas inclinou-se para sentir a boca dela novamente. – Precisa permitir que eu seja. – e a beijou novamente. Ela o recebeu dessa vez,  apoiando-se calmamente na mesa as suas costas quando ele quis que seus corpos fundissem em um.

 

Os lábios macios contra os seus despertou nele a vontade de brincar com os dela. A vontade de sentir que ela o queria tanto quanto ele. Era incrível como toda vez que a beijava, embora fosse tão familiar, era único. Sempre parecia algo novo, algo com um significado diferente. Dessa vez, ele tentava alcançar a mulher que sorria para ele quando se encontravam no final do dia para voltarem para casa da Catedral. Tentava encontrar a mulher que dividia uma calma e romântica valsa sem música com ele no escuro da noite quando se sentiam vitoriosos por conseguirem fazer os filhos voltarem a dormir. A mulher que era forte, porem sensível, dócil, mas sempre armada. Ele seria paciente, porque aquela mulher valia a pena. Afastou-se minimamente outra vez para dar espaço a ela. Hermione não ousou abrir os olhos. Respirava como se lutasse contra algo. As sobrancelhas unidas indicavam para ele que tentava não encará-lo de volta. Talvez se fizesse mostraria que ele derrubara todas as muralhas de proteção dela.

 

Uma mão dela subiu incerta até que a ponta de seus dedos gelados tocassem um lado de seu maxilar. Ela puxava o ar todas as vezes como se estivesse pronta para dizer algo, mas nunca dizia. Ele precisava saber que ela estava ali. Hermione estava ali. Não a figura armada e intocável que fazia andar por aí.

 

—       Não temos tempo para isso, Draco. – a voz dela saiu num sussurro baixo, quase como se não quisesse ser ouvida.

 

Ela finalmente abriu os olhos e muito receosa, fez com que eles se unissem com os do marido. Foi naquele momento que Draco a viu. Viu Hermione. Naquele momento soube que ela não quis dizer aquilo e admitiu que sim, precisavam um do outro, precisavam daquilo, e não importava que não tivessem tempo para eles, que não fosse oportuno, que não era o momento. Precisavam do conforto um do outro.

 

Dessa vez ele avançou contra ela com fome. Com saudade. Com vontade. Precisava dela e sabia que ela precisava dele. Aquela Hermione, a que ele conhecia, precisava dele, precisava do ombro dele, do abraço dele, do cuidado dele. Por que ela havia sido criada em um mundo de afetos e ela precisava dele para se sentir segura, principalmente agora. Passou o braço por sua cintura para que ela não precisasse apoiar contra a mesa e trouxe seu corpo mais para si. Ela o aceitou deixando que ele invadisse sua boca enquanto fazia com que a mão contra o maxilar dele subisse até a nuca e entrasse pelo seu cabelo.

 

Ela se agarrou a ele provando que estava seca de afeto, toque, calor. Hermione estava permitindo que ele pudesse enxergar aquilo. Era doloroso. O partia por inteiro. Porque ela era obrigada a levantar da cama que não a fazia dormir todos os dias desde que fugira de Brampton Fort para mostrar ao mundo que o salto que tinha nos pés era para esmagar quem ousasse cruzar seu caminho. Conseguia entender perfeitamente porque sentia os músculos dela tão tensos. Sabia que ela também sentia os seus no mesmo nível. Eles nunca tinham feito aquilo no estado em que estavam, mas não havia infernos que pudesse o parar.

 

No momento em que a colocou sobre a mesa, suas bocas desgrudaram e eles pararam por um segundo sem abrirem os olhos sentindo a respiração ofegante deles bater um contra o outro. Tanto ela quanto ele poderiam dar mil justificativas do porque aquilo não era uma boa ideia. E realmente não era. Já tinha tanto em suas mãos naquele momento. Mas ainda assim, não havia infernos que fossem os parar porque ele conhecia quem tinha nas mãos. Foi com essa vontade que avançou com as mãos pela perna dela, subindo sua saia, sentindo a pele fria dela contra a palma de sua mão. Por alguma razão, não conseguia se lembrar de nenhum momento em que o corpo dela falhara em acender nele a vontade de tê-la inteira para si.

 

Hermione muito rapidamente alcançou o cinto de sua calça. Seus lábios não se tocavam embora estivessem muito próximos e isso fez com que rapidamente, pelo compasso da respiração dela, ele notasse que as mãos tentando desatar seu cinto tremiam. Foi até as mãos dela e as segurou, parando-a. Afastou-se para poder encará-la. Os olhos dela brilhavam contendo o que parecia um milhão de lágrimas. Doía nele ver aquilo. Queria dizer a ela que tudo estava bem. Que tudo bem. Eles fariam aquilo porque precisavam daquilo. Mas a verdade era que nada estava bem. Não mentia para ela. Nunca mentira. Nunca criara ilusões em Hermione. Não seria agora que ele criaria, mesmo que sentisse uma necessidade absurda de confortá-la.

 

—       Sou eu, Hermione. Somos nós. – sexo sempre havia sido algo libertador para eles, não seria diferente agora. Precisava lembra-la disso.

 

Os olhos dela brilharam. Era como se a cada segundo que os olhos dela ficaram travados sobre ele, estivesse reconhecendo cada milímetro de seu rosto como sendo o dele, seu marido, Draco Malfoy. Quando finalmente ela pareceu se permitir ver  que o homens a sua frente era aquele com o qual dividira os últimos anos de sua vida, ela avançou sobre ele beijando-o com tanta sede que Draco precisou dar aquele momento a ela. Apenas provou do sabor que tanto o acolhia, o aquecia e o incitava.

 

Ela puxou seus cabelos colando seu corpo no dele como se pudesse encontrar uma forma de conseguir que não existisse qualquer separação entre eles. Ela estava buscando escape. Aquilo já fora familiar entre eles. Draco sentiu o contato do corpo dela e aquilo acordou nele um desespero ao se lembrar de todas as outras vezes em que sentira calor inteiro da pele dela contra a sua. A superfície da pele dela contra a dele. O suor. A respiração. Os gemidos. Céus! Por que ele sentia que fazia anos que não a tocava? Quis arrancar aquele vestido dela e com aquele crescente sentimento dentro dele, suas mãos buscaram por uma forma de tirá-la de dentro daquela peça de roupa que a fazia parecer tão dominadora enquanto Hermione puxava sua camisa para fora do cós de sua calça.

 

De repente, ele se viu dividir seu desespero com Hermione enquanto ambos pareciam famintos desabotoando botões, abrindo zíperes, desatando cintos, desfazendo laços. Ele teve que tirá-la de cima da mesa para subir o vestido dela. Suas mãos apertaram bem as redondas e firmes nádegas de sua mulher quando, de pé, seus quadris conflitaram com os dela. Hermione gemeu abafado podendo sentir o quanto ele a queria. Aquilo quase o matou. Ela não perdeu tempo e avançou com a mão para poder senti-lo por cima da calça. Havia algo sobre tocá-lo daquela forma que a acendia. Hermione sempre gostava de medir com a mão o volume em sua calça. Ela nunca perdia a oportunidade e no momento em que a mão dela o massageou ele sentiu o ar prender em sua garganta. Grunhiu por baixo da respiração tendo que se afastar da boca dela para não perder a força.

 

Poucas vezes em sua vida ele se vira com muito pouco controle ao fazer sexo. Ele era o mestre do auto controle. Tivera anos de prática para conseguir se desenvolver ao ponto de ser aquele que conseguia virar a noite com uma mulher na cama implorando a ele por pelo menos uma pausa. Era a primeira vez em muito tempo que se sentia quase fora do controle ao fazer sexo. Não que ele houvesse se privado de Hermione por tanto tempo, embora muitas vezes ele se vira salivar por ela durante todo aquele inferno. Mas a verdade era que sentia os nervos correrem por debaixo de sua pele ansiosos, sentia os músculos travados, a tensão do peso que carregava o oprimindo. Vinha vivendo aquilo por tanto tempo que era quase como se seu corpo estivesse desesperado para sentir o mínimo de alívio que fosse.

 

Segurou-a pela cintura e a empurrou até a ter contra a parede. Ofegou enquanto sentia a mão dela o medir cheia de vontade. Desceu sua boca pelo pescoço alvo e cheiroso da mulher, sua mulher, até o ponto onde precisou parar para se concentrar. Sua respiração já o alertara vezes o suficiente para que tomasse alguma providência. Teve que segurar o pulso dela e o prende contra a parede acima de sua cabeça. Longe do volume em sua calça. Ele não sabia se conseguiria se segurar. Ela o cercou com as pernas deixando de usar o chão como apoio e abrindo espaço para que se encostassem num nível de intimidade muito maior. Pressionou seu quadril contra o dela, sentindo o quanto ela estava quente por baixo da saia do vestido mesmo que ainda estivesse com sua calça. Ela gemeu livremente, sem qualquer resguardo. Entrou com sua mão pelos botões que havia aberto em seu decote e a encheu com o seio dela, os seios que agora a obrigavam a tomar poções para se desfazer da dor de não estar mais alimentando os filhos. Ela arqueou rebolando seu quadril contra o dele fazendo com que ele buscasse ar. Seu nome saiu da boca dela com um tom de alerta por entre uma respiração muito curta.

 

Foi quando entendeu que ela estava no mesmo ponto que ele. Ela carregava tanta pressão, tensão e medo quanto ele. Havia se obrigado a não tocá-lo tantas vezes quanto ele fora. Não estavam sendo escravos apenas do desejo naquele momento. A beijou mais uma vez e mal acreditou quando os dedos dela amassaram sua blusa puxando-a com força, seus quadril forçou-se contra o dele, suas pernas o apertaram e sua voz saiu como um gemido longo por entre os dentes quando o corpo dela inteiro sofreu um espasmo por baixo do seu.

 

Ele afastou-se apenas o suficiente para poder encará-la. Ela ofegava. Seu peito subia e descia. Usou as duas mãos para segurar aquele rosto que nunca deixava de ser arrebatadoramente lindo. Houve um silêncio rápido entre eles. Uma lágrima pulou de um de seus olhos dourados e escorreu pela bochecha rosada. Ela não precisou dizer nada. Muito menos ele. Se entendiam. Ele entendia. Os dedos trêmulos dela passaram calmamente por seu ombro e desceram pelo seu braço tirando a blusa que ele ainda vestia. Draco afastou seus cabelos e acariciou seu rosto. Limpou o caminho da lágrima e selou seus lábios contra os dela pacientemente. Hermione desceu com as mãos pelo seu abdômen e com cuidado empurrou o cós de sua calça o suficiente para libertá-lo.

 

Eles se ajeitaram um contra o outro dando espaço para que ele pudesse deslizar para dentro dela. Inteiro. O ar escapou por entre os dentes dela batendo contra o rosto dele e Draco não conseguiu segurar o som que escapou por sua garganta ao sentir a satisfação de tê-la quente, úmida, o apertando. Uma urgência desesperadora o acelerou, mas ele encurtou a própria respiração para conseguir segurá-la. Afastou as mangas do vestido passando-o pelos braços dela para poder abaixá-lo até sua cintura. Hermione o segurou pelos cabelos enquanto ele fincava os dedos em suas coxas macias.

 

Tentou começar com calma. Tentava não se concentrar no fato de ter os seios dela apertados contra sua pele, tentava não se concentrar no fato de que ela estava absurdamente molhada, tentava não se concentrar nos sons que escapavam tanto da garganta dela quanto da dele. Tentava. Mas quem ele estava tentando enganar? Precisava dela. Precisava de tudo dela. De cada pedaço dela. Ele não queria ter que lutar contra o efeito que ela causava nele. Ele gostava daquilo. Enterrou o rosto contra o pescoço dela ainda lutando para não ter aquele momento deslizando de suas mãos com tanta rapidez. Inalou o cheiro dela. Reconheceu o calor. Aceitou o conforto da pele dela contra a dele. Sua mulher. Sua Hermione. A mãe de seus filhos. Sua cúmplice. Sua família. Deus sabia o tanto que ele duvidava se seria capaz de respirar um dia que fosse sem ela. Deus sabia o quanto ele temia e tentava não pensar que ela poderia encontrar uma forma de deixá-lo. De simplesmente desfazer a assinatura que a tornava praticamente sangue de seu sangue.

 

Já estava entrando e saindo dela com tanta vontade que mal conseguiu se lembrar em qual momento havia cedido toda a sua concentração. Os sons de sua garganta entregavam o quanto ele sentia que os nervos por baixo de sua pele gritavam para serem libertados, que a tensão em seus músculos imploravam para serem atendidos, que o calor em seu abdômen clamava por alivio. Ele se entregou sem qualquer pressão. Apenas apreciou o momento de êxtase que estava tendo ali. A oportunidade de conseguir esquecer, por mais rápido que fosse, o inferno que o cercava. Tinha Hermione em seus braços. Era Hermione ali. Hermione. Sua Hermione! Do que mais ele precisava? Quando escutou os gemidos dela se intensificando com as investidas dele, deliciou-se com a satisfação de saber que eles poderiam dividir aquele momento juntos, como já haviam feito tantas outras vezes. De que poderiam ir juntos até o fim do universo, beber de toda a energia dele, dividir a experiência e voltar para a infeliz realidade que viviam juntos.

 

Sentiu que seus dedos poderiam perfurar a pele dela com a urgência presa dentro dele. Os sons dela o atingiam com tanta violência que o colocava a beira do precipício. Ele sabia que a qualquer momento... A qualquer momento ele jorraria uma vida inteira de sexo dentro dela. Suas pernas quase fraquejaram. Hermione perdeu a respiração. Draco sabia que ela gritaria. Ela explodiria com força. Ele a conhecia. Quase que automaticamente sua mão moveu-se para tampar a boca dela. A pressa deles os impediram de lançar algum feitiço para enclausurar a acústica daquela sala e ele não arriscaria ter o grito dela ecoando pelas paredes de Azkaban.

 

Não achou que fosse possível mas ela veio antes dele. Não muito antes. Mas antes. O momento em que o grito dela foi abafado por sua mão, as paredes dela o apertaram de tal forma que ele pensou que fosse entrar em colapso. O corpo dela inteiro tremeu contra ele num espasmo tão forte que ele precisou se certificar de que conseguiria sustenta-la. Abafou seu rugido entre o pescoço e os cabelos dela e jorrou. Foi tanto que por um segundo ele pensou que não fosse parar e quando pensou que não pararia, finalmente, acabou.

 

Ficaram ali. Sem forças. Acabados. Os únicos músculos que ousou mover foram os que fizeram sua mão deixar a boca de Hermione para apoiar-se na parede. Ofegaram em silêncio. Havia sido rápido. Urgente. Pouco elaborado. Havia sido exatamente o que precisavam. Draco apreciou aquele momento em que seus músculos se encontravam completamente relaxados, longe da tensão que antes havia carregado e que logo voltaria a carregar novamente. Havia conseguido quebrar a armadura de Hermione. Ela estava ali em seus braços despida de todas as suas barreiras de proteção. Completamente exposta. Ele queria ver a fragilidade dela. Mesmo que isso fosse fazer doer cada pedaço de sua alma.

 

Foi quando ela chorou. Doeu nele. Sabia porque ela chorava. Sabia por quem ela chorava. Estava tão desarmada que nem mesmo tentar conter seus soluços ela parecia tentar. Draco finalmente teve a coragem de encará-la. Ela estava completamente destruída. Tocou seu rosto molhado pouco acreditando que eles estivessem chegado a aquele nível de sofrimento. Cada parte dela sofria. Ele queria ser capaz de unir todos os pedaços quebrados dela, mas agora via que eram muitos e estavam por toda parte. Ele era incapaz de colocar todos no lugar. Aquela era a pessoa que ela escondia por trás de sua postura indestrutível. O coração dele apertou e um nó se instalou em sua garganta ao vê-la naquele estado. Ela se forçava a engolir tudo aquilo a cada minuto para poder fazer o que tinha que fazer, cumprir o que tinha que cumprir, ir atrás do que tinha que ir. Seus olhos embaçaram e ele aproximou-se para beijar o caminho que as lágrimas dela faziam. Queria que ela soubesse que não estava sozinha. Que ela o tinha. Que estavam juntos. Hermione o entendeu. Passou os braços por seu tronco e o abraçou encolhendo-se contra ele, escondendo o rosto em seu ombro. As unhas dela cravaram-se em suas costas. Draco a recebeu.

 

—       O que estão fazendo com nosso filho, Draco? O que estão fazendo com meu bebê? – ela soluçou parecendo uma criança pedindo conforto. – Eu ao menos posso ser uma mãe para Hera quando ela mais precisa de mim. – as lágrimas dela molharam seu pescoço. - Eu quero matar Voldemort. Eu. Eu quero mata-lo. Por favor, deixe que eu o mate!

 

—       Você vai. Nós vamos. – tentou lembra-la enquanto as pernas dela desciam para fazer seus pés tocarem novamente o chão e Draco se ajeitava para não deixar que o corpo dela escapasse do abraço acolhedor que ela pedia.

 

—       Não. Eu quero usar minhas próprias mãos. – insistiu ela.

 

—       Hei. – ele a afastou. Limpou seu rosto com cuidado afastando os fios de cabelo e limpando as lágrimas. Os olhos dela sobre ele eram uma mistura de dor, raiva e confusão. – Vamos ser responsáveis por trazer justiça a ele. – disse embora não acreditasse em justiça.

 

Ela fechou os olhos fazendo as lágrimas pularem para fora dele e escorrerem por sua bochecha. Seus lábios apertaram e ela contorceu sua expressão em uma amarga e cheia de rancor.

 

—       Ele não merece a morte, Draco. – ela soltou.

 

—       Sim, ele merece. É o maior medo dele. A morte é o único fim irreversível para ele.

 

—       Não. – ela discordou e o encarou. No momento em que ela abriu os olhos novamente Draco conseguiu ver estampado nela todas faces do rancor. - A morte é muito simples. Muito rápida. Ele não me deu o prazer da morte quando eu esperei por ela. Ele merece o mesmo.

 

Ele ficou confuso pelo que ela havia dito. De alguma forma, aquilo o machucara.

 

—       Preferiria ter morrido, Hermione?

 

O brilho dos olhos dela mudaram ao reconhecer o erro que havia cometido.

 

—       Não. – ela respondeu quase que imediatamente. – Draco. – Tocou o rosto dele. – Não. Eu não trocaria o que construí com você pela morte. Nunca.

 

Pelo que trocaria então? Foi o que veio a sua mente imediatamente. Mas ele não ousaria compartilhar aquele pensamento com ela. Não porque sabia que ela receberia como uma ofensa, mas porque ele tentava acreditar que estava delirando em pensar que Hermione possuía um lado que ainda não conhecia.

 

—       Sei que esta com raiva. – optou por dizer. – Precisamos desse sentimento agora. Eu e você. – tirou a mão dela de seu rosto muito calmamente. Trouxe a mão dela para perto de sua boca e beijou o nó de seus dedos. – Tudo isso vai ter um fim. Vamos ter que viver apenas com as cicatrizes.

 

—       Por que eu sinto que não vai ter um fim? – mais uma lágrima escapou de um de seus olhos.

 

—       Porque Voldemort já te ameaçou e te fez sofrer vezes o suficiente para acreditar que nunca terá um fim. Mas eu e você...

 

—       Não. – Hermione o calou colocando a mão contra o peito dele, fechando os olhos com força e o empurrando cautelosamente para longe. – Você não entende. Não o culpo por isso. Mas... – ela soltou o ar e balançou a cabeça tentando colocar seus pensamentos em ordem. – Está me fazendo fraca. – Ela definitivamente afastou-se dele dessa vez abrindo os olhos e evitando coloca-lo em seu campo de visão. – Eu não posso me permitir ser fraca. Nem por um minuto que fosse. Eu não posso. Me levaria a loucura. – começou a colocar em ordem seu vestido.

 

—       Hermione... – tentou se aproximar novamente.

 

—       Não. – o ‘não’ dela foi bastante definitivo quando estendeu a mão pedindo para que ele mantivesse distância. Ele apenas a observou por alguns segundos enquanto a via reconstruir toda aquela barreira de proteção novamente em questão de segundos. – Eu deveria estar indo para Londres. Você já deveria estar na Austrália... – Ela engoliu as próprias palavras. Parou. Ergueu os olhos para ele. Ele a viu travar uma breve luta mental. – Posso tomar conta de mim mesma por agora, Draco. – pontuou ela muito decida. – Existe apenas uma coisa da qual podemos nos permitir se preocupar agora. Apenas uma.

 

Sabia que não havia mais volta ali. Ela já estava vestida em sua armadura e duvidava que qualquer surpresa ou ataque fosse fazer com que Hermione se desfizesse dela outra vez. Apenas assentiu e observou quando ela voltou a se colocar em ordem a apresentável. Ele calmamente trabalhou para atar o cinto de sua calça novamente. Quando estava colocando vestindo sua blusa, ela já havia se feito perfeita novamente. Vestida de sua postura intacta, sua roupa cara, seu salto alto e sua atitude Malfoy. Fez o caminho até a porta e parou antes de sair. Draco desejou que ela pudesse dar a ele uma pequena amostra de afeição, mesmo que estivesse naquele seu traje, usando aquela máscara. Mas sabia que ela não daria, mesmo parecendo que estivesse lutando para poder parada ali, encarando a porta. Teve certeza quando ela apenas disse:

 

—       Te vejo em casa. – e saiu.

 

Draco ficou no silêncio. Sozinho. Percebeu que a falta da presença dela o fizera sentir a frieza e o vazio das paredes de Azkaban novamente. Hermione estava completamente destruída. Tudo aquilo fazia tão mal a ela que continuava a destruí-la mais e mais. O que restaria dela quando tudo aquilo acabasse? Cada vez mais as feridas que ela carregavam ditava o que ela queria ver e como ela queria ver. Draco havia a conhecido completamente limpa quando fora jogada dentro da vida obscura de Brampton Fort. Doce e ingênua, perdida em seu mundo de afetos, com uma determinação de acreditar que até mesmo Voldemort poderia ser capaz de sentir algum tipo de compaixão. Draco a viu aprender as regras do jogo para sobreviver. Viu a primeira vez que ela ergueu a varinha para torturar um homem inocente. Viu quando ela cedeu a morte de Fred Weasley. Viu quando ela condenou seus antigos companheiros de guerra a morte um a um, dentro da perdida sede da Ordem da Fênix que ela havia tornado possível ser destruída. Viu quando ela se fez perfeitamente decidida a entregar Harry Potter nas mãos de Voldemort. Viu ela ser testada ao limite até não ter outra saída que não fosse a de se tornar egoísta. Agora ele entendia que quando ela chorava em silêncio ou passava mal por condenar alguém a morte ou por ser obrigada a assistir sessões inacabáveis de tortura, ela estava tendo seu momento de dizer adeus a uma parte sua que fora perdida sem qualquer chance de resgate. Ela havia aprendido a viver no meio das pedras. Na cidade das pedras. Havia se tornado um deles. Havia aprendido a jogar o jogo. Havia aceitado se corromper e sabia que a cada dia que se passava, a cada sacrifício que fazia, mais de sua alma perderia e mais rancor de si mesma sentiria por ter cedido, por ter aceitado, por ter sacrificado, por ter perdido sua essência. O que seria dela? O que ela se tornaria quando tudo acabasse?

 

Voldemort definitivamente fizera um trabalho impecável com ela.


Hermione Malfoy


Estava tão cansada. Mal percebeu quando seus olhos se fecharam e ela acabou caindo no sono quando não devia. Era sempre quando não devia, porque quando deitava na cama e se forçava a dormir, sua mente não conseguia parar.

 

Em seu sonho ela chacoalhava dentro da cabine silenciosa de sua carruagem. Era fim de dia e ela estava indo para casa depois de longas horas na Catedral, longe dos filhos. Ela se sentia mal de ter que deixá-los com Narcisa para poder conseguir terminar os trabalhos que tinha que terminar com a Comissão e ter certeza de que os seus planos com Draco caminhavam sobre o trilho certo. Conseguia fazer muito de casa, mas também precisava ser presente na Catedral. Sentia-se bem por conseguir conciliar seu novo papel de mãe com aquilo que julgava ser o seu papel profissional, mesmo que aquilo significasse ser obrigada a deixar os filhos, que ela tanto queria proteger em uma bolha, por algumas horas com a avó. Sabia que os dois davam trabalho. Narcisa não tinha a paciência que ela certamente teria.

 

 

 

Mas voltar para eles no fim do dia era algo que ela não conseguia achar palavras para explicar. Sempre colocava um sorriso em seu rosto, por mais estressante que seu dia tivesse sido, por mais pressão que tivesse sofrido, por mais receio que estivesse carregando.

 

 

 

—       Estou com fome. - Draco comentou casualmente ao seu lado e ela desviou o olhar para vê-lo ali, dividindo uma carruagem com ela. O que era algo que normalmente também não acontecia, mas que ela sempre ficava animada quando conseguiam ter a chance. Ele estava ocupado com um longo pergaminho e uma pasta, o que não era surpresa para ela. Ele sempre estava ocupado com algo. – Queria poder comer um de seus pratos hoje.

 

 

 

Aquilo a fez lembrar de que não cozinhava fazia muito tempo. Sentia falta.

 

 

 

—       Posso fazer o café da manhã de amanha. – Sugeriu.

 

 

 

Ele ergueu os olhos até ela. Hermione sabia o que estava sugerindo com aquilo. Domingo era o dia que Draco havia tirado de sua apertada agenda como general do exército para se dedicar a família e poder ser um pouco do pai que Voldemort não o deixava ser. Não era bem todo domingo, mas mesmo naqueles que ele não tinha outra escolha a não ser ir a Catedral, ele ainda se deixava cumprir o ritual de domingo de manhã. O ritual onde traziam as crianças para dividir a cama com eles até tarde, uma cama que se tornava sempre incrivelmente apertada com dois bebês bastante ativos ocupando o espaço, até finalmente decidirem descer para a cozinha. Hermione preparava a comida. Draco vestia sua personalidade descontraída. Ele sempre era irreconhecível. Hermione tinha a oportunidade de vê-lo vestido em seu humor livre pelos domingos de manhã. Ele a tocava sem receios, a abraçava, a beijava, brincava com ela. Brincava com os filhos sem medo de parecer bobo. Achava saudável que ele se permitisse ter tempo de ser livre mesmo que fosse apenas por algumas horas ou apenas um dia. Ele sempre era o pai preocupado em ensinar os filhos sobre disciplina e responsabilidade, mesmo sendo tão pequenos. Era sempre o homem vestido em sua farda carregando o peso da posição que ocupava. Era sempre o tão bem polido Malfoy que pouco cedia para um café da manhã de pijama na sala de jantar. Era bom para ele sair das regras, sorrir, ser livre. Hermione sempre aproveitava os domingos de manhã para fantasiar que eram normais. Que eram apenas mais uma família.

 

 

 

—       Não deveria me tentar dessa forma, Hermione. – ele soltou estreitando os olhos numa brincadeira sutil.

 

 

 

—       Sei que é meio de semana. Portanto pensei que talvez podíamos tentar fazer algo sem as crianças. – ela jogou e ele ergueu as sobrancelhas imediatamente. Sabia bem o que ela estava sugerindo.

 

 

 

—       Sem crianças? – ele quis ter certeza.

 

 

 

—       Sem crianças. – ela reafirmou.

 

 

 

Ele riu descontraído voltando para seus papéis.

 

 

 

—       Não posso dizer ‘não’ a essa proposta, Sra. Malfoy. – brincou ele. Ela riu em resposta. – Ainda acho difícil de acreditar que marcar hora e lugar para sexo se tornou algo tão comum para nós.

 

Foi a vez dela rir. Estendeu sua mão e segurou a dele.

 

 

 

—       Temos que trabalhar com o que temos agora, Sr. Malfoy. – brincou de volta. – Sabe que é temporário.

 

 

 

Ele suspirou.

 

 

 

—       Muito sobre nós parece sempre ser temporário. – comentou Draco não muito contente, mas segurou sua mão e a levou até a boca, onde beijou carinhosamente o nós de seus dedos. Ele gostava de fazer aquilo e ela gostava quando ele fazia. Era parte do modo sutil como ele a tocava e mostrava afeto durante os dias da semana que usava sua farda profissional e sua frieza Malfoy. – Conseguiu fazer tudo o que precisava hoje? – sondou ele.

 

 

 

Ela soltou o ar desviando o olhar.

 

 

 

—       Não tudo. – respondeu. - Tenho tentado encontrar formas de fazer a poção antídoto ser mais duradoura e não estou conseguindo ter muito sucesso. Sabe que se um dia dependermos dessa poção, por mais simples que seja, vamos precisar contar com uma produção em massa muito eficiente e se chegarmos a realmente depender dela um dia, não acredito que uma produção em massa, por mais eficiente que seja consiga ser algo que não nos cause dor de cabeça. Não posso rodar testes em pessoas reais já que tudo tem que ser feito tão as escondidas. Não posso contar muito com o bom grupo da Comissão que parece ser confiável. Tenho que ser muito cautelosa e tudo isso tem sido a receita perfeita para frustração.

 

 

 

—       Já tentou a poção em você mesma? – ele quis saber ainda concentrado em seus papéis.

 

 

 

—       Não posso testar a poção em mim mesma, Draco. Sabe disso. Ser descendente de uma criatura mágica não me coloca como parâmetro para teste. Além do mais, tenho receio de tomar a poção. Temo que ela não funcione em mim e não posso me focar nisso agora. Não agora. Tenho que me focar no que temos agora, e por mais que não seja cem por cento, é o que temos. Não temos tempo para nenhum projeto que comece do zero agora. – ela explicou. – Conseguimos distribuir frascos da poção por entre os nossos confiáveis pelas sombras e isso já é uma vitória para nós. Nos coloca dentro de uma porcentagem muito segura e isso me alivia. Mas ainda não é muito. Como você tem segurado Voldemort? – ela perguntou.

 

 

 

—       Ele ainda não tem me dado permissão para sair de Brampton Fort. – ele disse e aquilo era algo que Hermione já sabia. – Tenho outro discurso amanhã. – mostrou o pergaminho que segurava com as modificações que o precioso mestre queria que ele fizesse as palavras que tornaria pública no dia seguinte. – Estou fazendo o que posso. – e aquilo era sempre o máximo que eles teriam de comunicação.

 

 

 

Não se comunicavam. Havia dias em que Draco mal a alertava sobre o que estava acontecendo na Catedral. Era como se ele quisesse proteger e santificar o ambiente de sua casa. Mantê-la limpa da pressão que sofriam fora dela.

 

 

 

Quando passaram pelo portão da propriedade, Hermione puxou a cortina da janela imediatamente para observar a fachada de casa. Não demorou a notar o rostinho de sua filha pela janela da sala principal. A pequena batia a mãozinha no vidro parecendo muito animada de ver carruagem. Hermione não conseguiu evitar o enorme sorriso que abriu. Seus filhos a preenchiam de um modo inexplicável.

 

 

 

Saltou da cabine assim que a carruagem estacionou. Draco a acompanhou quanto ela avançou com pressa para subir todos os degraus da varanda até alcançar a porta principal. Sempre parecia um longo trajeto quando queria ter logo os filhos nos braços. Livrou-se rapidamente de sua capa e de seu salto no vestíbulo enquanto ouvia a animação dos filhos vindo do cômodo seguinte.

 

 

 

As vozes, a animação, os sorrisos, sempre eram poucos para momentos como aquele. Hera engatinhou com rapidez em sua direção assim que ela apareceu na sala. Hermione avançou com pressa e a pegou no colo tomando cuidado para não esmaga-la enquanto a enchia de beijos. Sua menina gargalhava com facilidade e Hermione adorava os sons que ela fazia. Não demorou e ela já estava se jogando para longe de seu colo. Claro que ela queria o pai. Não havia um momento em que Hera não mostrasse preferência por Draco. Hermione achava difícil resistir a conexão que os dois tinham.

 

 

 

Abaixou-se para receber Scorpius que equilibrava-se de pé, contendo toda a sua animação para simplesmente conseguir se manter ali. Como se estivesse basicamente tentando dizer aos pais: “Vejam só o que sei fazer”. Hermione começou a incentivá-lo a dar um passo. Draco se juntou a ela rapidamente com Hera nos braços. Ter a atenção dos dois pais ao mesmo tempo pareceu animação demais para que Scorpius conseguisse conter. Ele eventualmente lançou-se no chão e engatinhou até Hermione soltando seus gritinhos de excitação.

 

 

 

Seu menino! Hermione tinha tanto orgulho dele. Seu coração se encheu de alegria e dor no momento em que o segurou nos braços. O cheiro de seu filho era tão característico e ela não entendia o porque queria chorar, o porque não queria soltá-lo nunca mais.

 

 

 

Sentiu-se fora de seu próprio corpo. Não fazia sentido que quisesse tanto segurar Scorpius e ao mesmo tempo, mesmo sabendo que ele estava ali em seus braços, não parecia que realmente o tinha. Foi quando se viu vendo toda aquela cena se desenrolar diante de seus olhos, não mais sendo a Hermione que descera da carruagem com Draco. Tornou-se consciente de que aquilo era um sonhos. Não! Ela queria voltar a segurar seus filhos no colo! Ela queria ser aquela Hermione que sorria e recebia um beijo simples de Draco e o via seguir até Narcisa para agradecê-la por ter cuidado dos netos enquanto eles estiveram ausentes. Queria ser a Hermione segurando Scorpius. A Hermione que teria um jantar em família, que depois seguiria com o marido para cumprir passo a passo o ritual noturno das crianças, que depois tomaria uma taça de vinho com Draco em seu escritório. Ela queria aquela vida novamente. Por mais que fosse incerta e temporária, havia sido o máximo de família que ela, Draco e os filhos haviam vivido. Ela queria aquela casa novamente, o lar deles. Grande e pequeno ao mesmo tempo. Queria a cama com a qual deitara com Draco desde a primeira noite que tiveram juntos. Queria tudo de volta. Mesmo que fosse em Brampton Fort. Mesmo que fosse debaixo dos olhos de Voldemort.

 

 

 

Meu filho...

 

 

 

Chorou em seu sonho vendo a família sorridente que havia tido naquela casa em Brampton Fort desaparecer diante de seus olhos. Seguir seu caminho, suas vidas... Queria poder voltar no tempo e dizer para si mesma aproveitar cada segundo daqueles dias em que ela ainda podia fingir que tudo estava bem.

 

 

 

Uma enorme raiva lhe cresceu. Não era justo. Nada daquilo era justo. Não era ela quem possuía o sobrenatural sangue de uma fada humana? Não era ela quem conseguia dominar magias que ninguém mais conseguia? Não era ela quem conseguia ter o cérebro de juntar dois mais dois para criar feitiços que ninguém jamais havia pensado? Não era ela? Por que não conseguia segurar a maldita de sua varinha e derrubar Voldemort? Por que falhara no dia em que deveria ter protegido o seu filho? Por que não conseguira vencer o poder daquele terrível homem para conseguir seu filho de volta? Havia falhado com Scorpius quando ele mais havia precisado dela. Ela. A tão poderosa fada que todos pareciam querer especular sobre.

 

 

 

Morgana havia conquistado o mundo. Havia conseguido colocar debaixo de seus sapatos qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. Se realmente fosse descendente dela, Morgana certamente teria vergonha do que sua linhagem havia produzido. Hermione mal conseguia falar uma palavra contra Voldemort.

 

 

 

Estava tudo escuro a sua volta quando notou um espelho a sua frente. O espelho de seu quarto. O quarto de sua infância, o quarto na casa de seus pais. Sua raiva aquietou-se por um segundo quando lembrou-se de que sonho era aquele. Aquele sonho a perseguira por quase sua vida inteira e aquele sonho sempre a deixava com medo. Mas com o número de informações que possuía sobre si mesma agora, a raiva conseguiu facilmente subir novamente por cima de seu medo.

 

 

 

Encarou-se naquele espelho e gritou. Chamou por Morgana e a xingou. Como ela ousava ter a amedrontado por tanto tempo? Como ela conseguira ter se escondido dentro dela por tanto tempo?

 

 

 

Mostre-se sua maldita bruxa...

 

 

 

O xingamento parou a meio caminho de sua quando Morgana definitivamente decidiu se mostrar. O reflexo no espelho transformou-se da mesma maneira como havia transformado em todos os seus outros sonhos. Era pavoroso saber que aquela era uma intrusa ali. Não mais uma de suas criações. As duas se encararam em silêncio. O medo em Hermione parecia crescer, mas ela não deixava que fosse muito além concentrando-se na raiva para manter-se naquele sonho e não acordar.

 

 

 

“Lembre-se de quem...”

 

 

 

“CALE-SE.” Hermione não deixaria que ela falasse. Não deixaria que ela incitasse qualquer tipo de intimidação. Não dessa vez.

 

 

 

Os lábios de Morgana esticaram-se num sorriso bastante satisfeito.

 

 

 

“Finalmente sabe quem é.”

 

 

 

“Sempre soube quem fui e não tem nada a ver com você.” Retrucou corajosamente.

 

 

 

“Engana-se.” A mulher sorriu. Era extremamente pavoroso para Hermione que estivesse conversando em seu sonho com uma figura lendária que parecia tão viva ali que quase era real. “Eu sempre estive viva dentro de você. Sempre fui uma parte muito significativa de quem é. Apenas nunca esteve consciente de que era eu.”

 

 

 

“Você está morta.” Precisava lembrar a ela e a si mesma de que não havia uma razão para que aquela mulher parecesse ser ela mesma ali em seu sonho.

 

 

 

A mulher riu. Saiu de dentro do espelho e Hermione quis cair diante dela ao perder as forças.

 

 

 

“Não estou morta. Eu vivo em você. Não faz ideia do quanto tem sido trabalhoso me manter viva por todos esses anos. Tive que me misturar, me sujar, me aceitar diferente. Tantos trouxas em uma linhagem só sempre me fez duvidar da capacidade do meu próprio sangue. Tantos descendentes vivendo as escondidas, oprimindo seus poderes, renegando o sangue, fugindo dos perseguidores. Mas ele, meu sangue, sempre se mostrou infalível. Tive muita certeza de que tudo acabaria com sua mãe, quando vi que ela foi incapaz de seduzir Lucio Malfoy quando ele a encontrou. Ela teve que fugir por muito tempo. A vida para ela acabou cedo em comparação aos que vieram antes dela, mas ela me escutou e conseguiu te salvar, te colocar em uma família trouxa. E você...” Aproximou-se. “Tão esperta. Tão curiosa. Tão inteligente. Tão bonita. De todos, foi você quem permitiu que eu mais florescesse. Não negue, Hermione. Desde criança procurou por mim. Quando fazia magia escondida em seu quarto, longe de seus pais, quando procurava conhecer mais sobre seus limites sozinha. De todos, você foi quem mais me procurou dentro de si e quem mais encontrou. Você me lembra tanto de mim mesma. Seu coração, sua lealdade, sua bravura, sua mente, sua racionalidade, sua ousadia, sua ambição, sua curiosidade. Eu deixei que você me encontrasse. Deixei que crescesse e descobrisse que podia ser mais do que seus coleguinhas em Hogwarts. Deixei que sua brilhante mente pudesse ser ainda mais forte. Você sempre quis mais. Sempre quis saber mais do que todos, sempre quis fazer mais do que todos, sempre quis conquistar mais do que todos. Me diga, Hermione, se não percebeu o quanto de mim não viu em si mesma? Me diga que não percebeu que quanto mais poder conseguia, mais de mim se tornava. Não seja cega. Em seu último ano em Hogwarts, quantos não pareciam a querer de alguma forma? Quantos professores não a admirava? Quanto respeito não conseguira? Quantos não a invejavam? Quanta fama não adquirira? Hermione Granger, a brilhante mente de Hogwarts. Linda, inteligente, poderosa, corajosa, ousada. Todos sabiam da sua existência de alguma forma. Você me buscou e eu te fiz. Eu-te-fiz. Você é minha obra prima. A prova de que meu sangue não tem limites. Você sou eu e eu sou você. Há tanto que ainda precisamos conquistar. Existe muito ainda para se fazer, Hermione. Existe muito mais além disso.”

 

 

 

Hermione se sentia fraca. Não acreditava naquilo. Não podia acreditar naquilo. Era tudo apenas um sonho.

 

 

 

“Você. Está. Morta!” Precisou repetir.

 

 

 

“Não tente se desfazer de mim agora. Não seja ingrata.” Morgana disse pacificamente. “Eu entendo que esteja ferida. Com raiva. Eu conheço tudo que está sentindo. Sofri o mesmo. Mas a dor nos faz mais fortes. Não concorda comigo? Eu sou a prova disso. Você também será a prova disso. A dor me fez saber colocar o mundo em minhas mãos e você vem pedindo pelo mesmo, vem procurando o mesmo, vem querendo o mesmo. Essa é a prova de que vivo em você. Existe muito mais sobre o nosso poder que eu pude dominar, você pode ir além do eu um dia consegui ir. Nós podemos ir além. Seu sangue se tornará mais forte a medida que permitir que ele se torne mais forte, a medida que buscar mais, que crescer mais, que se aprofundar mais. Deixe que eu viva em você. O mundo pode estar em nossas mãos novamente. Quando o tiver, ninguém irá poder feri-la, ninguém irá poder levantar contra você, ninguém irá poder te amedrontar, te dominar, te possuir. Me diga, Hermione, gostaria de ver seu filho? Posso te levar até Scorpius.”

 

 

 

Os olhos de Hermione se abriram.

 

 

 

“Sim.” Suplicou. “Agora!”

 

 

 

“Então vá. Sabe que pode ir encontrá-lo a hora que bem quiser.”

 

 

 

“Não sei como.”

 

 

 

“Saberá encontrar. Sou tão parte de você quanto é parte de mim. Se eu te levar até ele, nada mais será do que você mesma se levando até ele.”

 

 

 

Aquilo não fazia o menor sentido. Hermione fechou os olhos dentro de seu sonho. Sentia a presença daquela mulher muito fortemente. A amedrontava e a fazia fraca. Mas queria ver seu filho. Céus! Era o que ela mais queria! Queria poder tocá-lo, confortá-lo. Queria tê-lo de volta. Tentou pensar onde poderia estar. Sabia que era em Brampton Fort. Sabia que muito provavelmente na Catedral.

 

 

 

Conhecia bem aquele lugar. O piso frio e constante de pedra bem polida. Os vitrais sempre altos. A estrutura de madeira sempre muito aparente. Olhou ao redor construindo em volta de si mesma tudo e todos os detalhes que conseguia se lembrar. Não demorou e ela se viu cercada pela edificação que bem se tornara uma velha amiga para ela.

 

 

 

Seu filho só poderia estar em alguma torre próximo a de Voldemort. Fez seus pés avançarem enquanto construía os novos ambientes pelo qual passava. Conhecia o caminho que tinha que tomar, conhecia os detalhes. Assim que se fez chegar próximo a uma das passagens para a torre de Voldemort, algo pareceu lembra-la de não fazia sentido que ele estivesse com Voldemort. O temível bruxo não parecia querer tomar parte em nenhum dos cuidados que um bebê da idade de Scorpius exigiria. Bellatrix era quem havia sido nomeada como responsável por tal tarefa e Hermione sabia que ela estava morta agora.

 

 

 

Morgana estava ao seu lado a acompanhando em silêncio, lembrando-a constantemente que sua presença era difícil de não ser sentida. Parecia estar ali, de alguma forma guiando-a, embora tudo parecesse vir dela mesma. Mesmo que Morgana ali fosse uma intrusa. Uma completa intrusa.

 

 

 

Virou-se tomando a direção da área médica da Catedral com uma certeza de que encontraria o filho lá quase sobrenatural. Era óbvio que ele estivesse sob o cuidado de medibruxos. A equipe que cuidara de toda a sua gravidez e seu parto era a que mais era familiarizada com Scorpius. Assim que aquela certeza bateu nela, avançou sem receios e com pressa. Tudo foi se criando ao seu redor sem que ela nem mesmo prestasse atenção, sem que ela se atentasse aos detalhes. Era como se seu cérebro estivesse trabalhando tudo sozinho sem que dependesse de sua atenção e concentração. Era tudo tão real. Tão real!

 

 

 

Avançou pelo enorme corredor cheio de macas até uma escada privada ao final da ala. Desceu. Sabia exatamente que direção tomar. Como sabia? Merlin! Ela nunca havia estado ali. Era a área privada dos curandeiros. Muitos até mesmo moravam ali. Chegou a uma sala compartilhada. Havia uma lareira acesa. Um pesado tapete vermelho sobre o chão de pedra. Vitrais embutidos em seus respectivos nichos. Era real. Ela estava de volta na Catedral. Parou. Seu coração estava acelerado. Não era possível. Como aquilo era possível? Nunca havia estado ali antes e sabia que aquele espaço era tão real. Desde quando havia parado de sonhar? Quando havia deixado sua própria mente?

 

 

 

Pouco se importava com a presença de Morgana a essa altura. Pouco se importava com o intimidação que sentia, com o peso que ela colocava no ar. Escutou uma voz baixa cantar uma canção de ninar vindo de uma passagem. Avançou por ela e deparou-se com uma porta fechada. Embora simplesmente soubesse que não era notada ou vista, ainda tentava seguir as regras no mundo como o conhecia. Mas dessa vez, um instinto fez com que apenas decidisse passar por ela. Como se fosse algum tipo de fantasma, logo se viu do outro lado do cômodo. Era um berçário vazio.

 

 

 

A voz cantando a canção parecia mais alta agora. Hermione direcionou-se até encontrar a fonte e sem muitos problemas, a encontrou próximo a uma janela, sentada em uma poltrona, balançando o um berço de balanço enquanto cantava em uma voz bonita, uma canção que Hermione não conhecia. Aproximou-se sabendo que deitado dentro daquele berço estava Scorpius. Ela apenas sabia.

 

 

 

Seus olhos encheram-se d’água quando o viu de bruços, em silêncio, com os olhos aberto e vermelhos muito calmo ser balançado de um lado para o outro ao som daquela canção. Ele soluçava eventualmente, em sinal de que chorara por um bom tempo. Hermione abaixou-se sentindo cada parte de sua alma ser esmagada por estar vendo a dor do filho.

 

 

 

“Tudo bem. Eu estou aqui agora.” Sussurrou para ele.

 

 

 

Scorpius ergueu a cabeça quase que imediatamente em sinal de alerta. A curandeira parou com sua canção. Por um segundo o coração de Hermione travou com a esperança de acreditar que o filho podia vê-la. Mas ela sabia, simplesmente sabia, que ele não podia. Scorpius se ajeitou e conseguiu rolar até se sentar firmemente no colchão firme. A curandeira soltou o ar um tanto frustrada, mas pacientemente acariciou a cabeça de Scorpius.

 

 

 

“Vamos, pequeno Malfoy. Sei que está cansado.” A mulher disse amorosamente.

 

 

 

Hermione ergueu os olhos para ela. Ela havia estado em sua casa o dia que deu a luz aos filhos. Havia ensinado Hermione a amamentar. Ela era uma mulher doce e muito paciente. Provavelmente estava do lado Malfoy naquela nova guerra, mas certamente não estava disposta a arriscar sua posição no St. Mungus para poder abertamente desaprovar Voldemort. Hermione não duvidava que ela tinha escondido em algum lugar, um frasco da poção antídoto que eles haviam espalhado.

 

 

 

Scorpius reclamou quando a mulher tornou a deitá-lo com muito cuidado, mas como se estivesse cansado ao ponto de nem mesmo ter forças para chorar, ele apenas aceitou ficar ali, deitado, como havia sido colocado. O coração de Hermione estava partido de todas as formas possíveis ao ver o filho naquele estado. Esticou a mão por entre as barras do berço e tentou tocar seu corpinho. Sua mão, porém, atravessou-o exatamente como seu corpo havia atravessado a porta ao entrar naquele cômodo. Não foi sequer capaz de sentir o calor do filho. Aquilo doeu.

 

 

 

Seu pequeno guerreiro. Ele sempre lutara o sono quando as coisas não corriam conforme a rotina a qual era acostumado. Era como se ele soubesse que algo estava errado e que isso potencialmente poderia coloca-lo em risco. Seu pequeno observador. Havia muito de Draco na forma sutil com a qual Scorpius lidava com potencial perigo. Embora seu bebê soubesse tão pouco sobre o mundo, ele sempre se mostrara preocupado em ser cuidadoso. Desde sempre. Havia sempre um olhar suspeito vindo de Scorpius para qualquer coisa que fosse nova, qualquer mudança, qualquer evento que estivesse além de seu conhecimento. Muito diferente da irmã, que sempre estava disposta a explorar e se aventurar por qualquer coisa que lhe interessasse. Draco sempre culpava Hermione por ter passado muito de seu instinto Grifinório a Hera.

 

 

 

“Ele sabe que você está por perto.” Morgana fez-se ser ouvida.

 

 

 

“Sei disso.” Estranhamente, apenas sabia. “Scorpius também é seu descendente.” Acabou por dizer. “Vai atormenta-lo da mesma forma que sempre me atormentou?” ela se referiu aos sonhos que tinha com o reflexo de Morgana desde criança.

 

 

 

“Há uma parte minha nele. Em Hera Também. Os dois vão me encontrar eventualmente, mesmo sabendo que vão ter ambições muito diferentes. Será bem mais fácil para eles me encontrarem do que foi para você. Será natural para eles. O sangue deles é impecável. Eu ousaria dizer que muito bem preservado. Faz diferença estar em uma linhagem tão poderosa que soube se aperfeiçoar através dos anos e se manter tão pura. Sou muito mais forte neles. Mas a pergunta é: Porque quer me ver como um inimigo? Eu sou o seu lado mais forte. Sou o seu sangue. Eu torno viável a possibilidade de ser invencível. Já imaginou seus filhos se tornando absolutamente intocáveis? Eu nunca te atormentei, apenas fui a força dentro de você que sempre quis mais. Mais conhecimento, mais habilidade, mais aperfeiçoamento, simplesmente mais.”

 

 

 

“Nenhum poder como esse pode ser saudável.”

 

 

 

“Com base em que? Sou sua parte mais ambiciosa, embora você saiba me controlar muito bem com toda a boa moral que carrega no coração.”

 

 

 

Boa moral... Hermione podia rir daquilo.

 

 

 

“Perdi toda a minha boa moral.”

 

 

 

“Sofre mais do que deveria por isso.”

 

 

 

“Queria não poder sofrer. Mas se eu não me convencer de que moral é subjetiva, de que o bem e o mau consiste apenas em ponto de vista, vou viver debaixo da pesada condenação do meu egoísmo. Do custe o que custar para o meu próprio ganho.”

 

 

 

“Vejo que não foi muito longe ainda em se convencer totalmente.”

 

 

 

“Mas já percorri um caminho muito longo.”

 

 

 

“Ainda assim. Sofre por ter perdido quem um dia foi, embora queira se livrar completamente do que a prende ao seu ‘eu’ do passado. Quer se livrar da condenação da moral objetiva, mas teme pelo que pode acabar se tornando. Não está se permitindo ser livre.”

 

 

 

“O que quer dizer com ’livre’? Me abrir inteiramente ao poder que sei que tenho não me tornaria escrava da minha própria ambição?”

 

 

 

“Sabe que seria por uma boa causa.”

 

 

 

“Seria pela minha boa causa. Pela causa de ter o poder de pisar em quem for para proteger quem quero. Eu não sou Morgana. Não sou você.”

 

 

 

“Sim, você é. Toda a minha geração é um pedaço de mim. Percorreu um bom caminho desde que se tornou uma Malfoy para provar ao mundo e a si mesma de que sabe viver debaixo do discurso ambicioso e egoísta da família com um certo orgulho. Você veste bem a máscara Malfoy. Não negue.”

 

 

 

Sim. Ela vestia bem a capa Malfoy.

 

 

 

“Mas estamos em guerra.”

 

 

 

“Você sabe bem que isso vai muito além da guerra. É pessoal. É quem você é. Desde quando ainda se orgulhava de carregar a bandeira da ‘embaixadora da boa vontade’ sabia no fundo que havia mais em você do que só o seu mundinho de verdades. Você se encontrou sendo uma Malfoy. Aceite. Liberte-se do seu próprio julgamento, do seu próprio medo. A verdade pode ser subjetiva. A moral pode ser subjetiva. O bem e o mau pode ser apenas uma questão de ponto de vista. Não foi isso que aprendeu em sua jornada?”

 

 

 

“Então porque estou pagando pelas minhas escolhas cruéis?”

 

 

 

Ainda lhe pesava como uma dívida ver seu filho ali, longe dela. Marcado com a marca de Voldemort, que mesmo não podendo realmente ver, sabia que estava ali, no braço do seu filho, como havia estado no dela antes. E mesmo que isso fosse um enorme problema, ela se sentia anestesiada. Como se ainda não fosse capaz de realmente enxergar o que ter seu filho marcado com a Marca Negra significava.

 

 

 

“Hermione. Sabe bem que o mundo não funciona assim. A chuva da injustiça cai tanto para o justo quanto para o injusto.”

 

 

 

Ainda não concordava com aquele discurso, embora fosse verdade.

 

 

 

“Tem que haver um ponto de equilíbrio.”

 

 

 

“Não tem.” Negou a outra. “Não posso colocar o mundo em suas mãos enquanto não se livrar do medo, do receio, e das angustias que te prendem. Precisa ser livre.”

 

 

 

“Não consigo. Eu tento. Mas não consigo. Acha que eu queria não sofrer? Não é uma escolha.”

 

 

 

“Tem que ser uma escolha. Você não merece mais vestir a pele de cordeiro de antes. Já fez mau o suficiente para defender o bem.”

 

 

 

Sim. Sim. Aquela realidade a matava. Tinha que haver um jeito. Tinha que haver uma escolha ou um ponto de equilíbrio. Ela queria que não fosse uma escolha, porque sabia que viver sem culpa a faria conseguir seu filho de volta muito mais rápido, a faria ter o mundo em suas mãos, a faria ser capaz de proteger o que quer que bem quisesse. Procurar o equilíbrio parecia muito árduo e trabalhoso.

 

 

 

“Liberte-se”

 

 

 

Puxou o ar quase que num susto. Ergueu a cabeça e fixou seus olhos no mundo real. Não parecia tão real assim, quando em seu sonho tudo parecia tão incrivelmente real. Lutou alguns segundos para conseguir entender onde estava. Tudo parecia estranho e desconhecido ali. Aquelas paredes, aquela decoração...  foi só depois de algum tempo que finalmente entendeu que estava no subsolo de sua nova casa. Olhou os papéis, livros e amostras em sua mesa e o problema que vinha tentando solucionar com a poção antidoto. Tudo aquilo parecia irreal. Queria voltar para o seu sonho! Havia visto Scorpius. Tinha certeza que vira Scorpius.

 

Batidas na porta a tirou de sua confusão e lhe deu um foco. Voltou-se para porta a tempo de ver Arthur Weasley passar a cabeça pela brecha que deixara aberta. Ele pediu licença e entrou carregando alguns frascos de poção e um envelope. Dirigiu-se até ela e colocou sobre sua mesa o que trazia.

 

—       Nova formula e relatório de testes. – informou ele. – Seu pessoal parece ser bem treinado. Eles tem um sistema eficiente.

 

—       Dê crédito a eles. Apenas assumi a coordenação. – contrapôs ela puxando o envelope, ainda tentando recompor-se.

 

—       Eles tem sorte de ter você de qualquer jeito. Sem dúvida. – encorajou ele.

 

Aquilo a atingiu de forma negativa. Não pela intenção dele, mas por ter acabado de sair de um sonho onde questionara a culpa que carregava. Talvez ela estivesse deixando mostrar demais seu cansaço para receber aquelas palavras dele. Se estivesse no passado, talvez ficasse orgulhosa de receber o encorajamento dele, mas ali, agora, ela sentia que estava falhando em mostrar que não precisava. Refez sua postura calmamente, tentando encontrar dentro de si seu lado mais Malfoy enquanto puxava o relatório e o lia, sem tentar mostrar desapontamento com o resultado que claramente já conseguiu ver no topo do documento.

 

—       Bem. – dobrou o papel e o deixou de lado. – Vou continuar trabalhando em encontrar uma forma de fazê-la durar mais. Como anda a linha de produção?

 

—       A todo vapor. – ele sorriu apontando rapidamente para o ar como se estivesse tentando levá-la a reparar no som de caldeirões borbulhando de fundo que vinha de longe pela porta aberta. – Já conseguiram despachar toda a encomenda feita para a África, como pedido. Infelizmente o despache da América foi interceptado ao entrar no tal Forte e todas a encomenda acabou sendo perdida. Os comentários são de que isso irá atrasar as coisas.

 

—       Não irá. Draco e Devon estão trabalhando em cima disso. Tudo irá correr de acordo com o cronograma. – ela sabia daquela informação porque Draco havia quase perdido a postura ao receber aquela notícia horas mais cedo. Era muito, muito, mas muito importante que o cronograma não fosse alterado. Era a credibilidade deles e do trabalho deles para o mundo que o cronograma não fosse alterado, que nenhum plano B fosse preciso ser posto em prática, que nenhum atraso acontecesse. A excelência do movimento deles era o que fazia o mundo finalmente acreditar novamente em uma resistência contra o Império de Voldemort.

 

—       Então talvez eu deva espalhar essa notícia. – sugeriu Arthur.

 

—       Irá fazer bem. – concordou ela. Ao menos seus antigos conhecidos da Ordem pareciam querer se encaixar de alguma forma em toda a movimentação e trabalho daquela casa.

 

Ele então pediu licença e afastou-se, mas logo ela notou que ele parecia levar um tempo extra em seu caminho até a porta. Como se estivesse debatendo consigo mesmo se deveria ou não comentar algo.

 

—       Talvez você pudesse usar alguma propriedade de seu sangue na poção. – sugeriu ele finalmente. Hermione não se dirigiu a ele imediatamente com alguma reação e ele logo se sentiu na obrigação de justificar-se. – Por mais que tenhamos caldeirões e todos esses mestres de poções inteligentes por aqui, a demanda do produto supera a produção, Hermione. A cada dia que o Profeta Diário expõe mais sobre a organização e força do seu movimento com Draco Malfoy e o dito Diário do Imperador é incapaz de esconder as falhas da nova direção dos Fortes de Voldemort, mais gente decide querer vestir sua camisa. Eu não preciso expor o problema para você quando é a pessoa que mais tem se dedicado a tentar solucioná-lo. Sabe que o número de pessoas dependentes dessa poção está crescendo muito rápido. E talvez... – ele parou receoso. – Talvez...

 

—       Acredita que porque fui a única capaz de me livrar da marca sem nenhuma poção, meu sangue pode conter a solução para os problemas da fórmula da poção atual? – ela sabia exatamente o ponto que ele queria expor ali. – Quantas pessoas acha que já não tentaram me dizer isso? – levantou-se para começar a se ocupar em organizar a bagunça daquela mesa. – queria livrar-se dele logo simplesmente porque seu sonho ainda parecia muito vivo em sua cabeça. Era como se quisesse voltar para aquele universo. Sua conversa com “Morgana” não podia acabar daquela forma!

 

—       Ao menos tentou, Hermione? – Ele insistiu.

 

Ela parou sem paciência. Tinha raiva daquele tipo de insistência. Era invasivo! Não queria ter que tornar tão público as descobertas das propriedades de seu sangue! Era seu! Por que todo mundo parecia querer saber o que ela podia e não podia fazer? E sim, ela sabia que evitava aprofundar-se nos mistérios que haviam escondidos dentro dela porque não sabia se estava pronta para encontrar dentro dela mesma a mulher que um dia Morgana fora. E para falar a verdade, ela estava tentando fazer paz consigo mesma em achar que talvez, ser a mulher que Morgana foi não fosse tão ruim assim. Certamente se ela fosse, ninguém a veria frágil, como a maioria parecia querer vê-la agora, por mais que ela se provasse forte. Sempre seria a pobre mãe sem seu filho.

 

—       Todos parecem ter as melhores sugestões e especulações sobre o meu sangue, mas acho que ninguém ainda entendeu que ele é meu. Quando Voldemort cair, ninguém mais irá precisar dessa poção, e quando chegarmos nesse ponto não quero que meu sangue seja objeto de domínio público.

 

Arthur Weasley apertou os lábios num sorriso assentindo com a cabeça, recuando ao perceber que cruzara a linha sem permissão.

 

—       Entendo. Desculpe ter sido invasivo. – ele aproximou-se dela novamente com calma. – Sei que tudo isso tem sido difícil para você. É estranho te ver como quem é agora, os limites são diferentes do que costumavam ser. Mal posso imaginar pelo que precisou passar para chegar até aqui. E eu sei que tem sido estranho e incomodo nos ter por perto quando talvez possa achar que a julgamos uma traidora. Ou que estamos em constante julgamento do seu comportamento e atitudes. Podemos até estar. Posso dizer que eu mesmo estou. Mas... Filha... – ele colocou uma mão quente e carinhosa sobre seu braço. Hermione foi obrigada a voltar-se para ele sentindo os músculos debaixo de sua pele tencionarem com o afeto que antes fazia seu coração aquecer e agora a fazia querer fugir. – Sempre foi e sempre será uma guerreira e guerreiros carregam muitas cicatrizes. Não tenho título para poder julgar suas batalhas e vitórias. Eu não estava lá. Mas saiba que me orgulho tanto de você agora quanto me orgulhava antes.

 

Hermione encarou os olhos do homem a sua frente. A aparência idosa parecia cada vez mais visível. Ele já havia sofrido demais. Perdido demais. Dado demais de si. Aquele homem se levantou como um pai para ela no dia que soube que havia perdido o seu. Ele assumiu a posição com honra e orgulho e não havia um dia que Hermione se lembrava onde não havia sentido a liberdade de abraça-lo como uma filha. Seu coração apertou ainda mais. Sua garganta ardeu e ela rapidamente lutou contra tudo aquilo, sentindo o amargo que toda a doçura dele trazia para ela.

 

—       Você não tem. – retrucou ela duramente.

 

Ele reagiu confuso.

 

—       Como? Sim, Hermione, eu tenho. – reafirmou ele.

 

—       Não pode ter. – disse ela muito decidida.

 

—       Mas eu tenho. – ele se mostrou atacado. Claramente estranhou o comportamento dela. – Não sabia que seu orgulho podia chegar a esse ponto. – ele a julgou.

 

—       Não é orgulho. É consciência. – ela sentia seu coração apertar cada vez mais. Queria que aquele homem fosse embora dali. – Por favor, saia.

 

Arthur Weasley mostrou-se finalmente ferido.

 

—       O que esconde tanto, Hermione? Você tem se separado de nós mais do que nós temos nos separado de você. Estamos tentando nos infiltrar dentro de todo esse sistema que nos colocou, desse movimento que criou. Estamos confiando no trabalho que tem produzido e ainda assim, tem nos evitado como se não quisesse que estivéssemos aqui. Acabei de dizer que reconheço isso e que tento entender de onde vem, tento entender que não estive presente na sua jornada até aqui. E que apesar de não saber, apesar de se mostrar alguém tão distante, não consigo te ver como menos que uma filha. Tentei te tirar o peso que nos afasta, mas ainda assim você rejeita. – foi honesto como se estivesse livrando-se de um discurso que reprimira por um bom tempo.

 

—       Você não entende que o peso que eu carrego não pode ser tirado de mim. Nunca. – foi clara. Ele não entendia que não estava ajudando. – Saia. – repetiu.

 

Ele não saiu. Continuou onde estava. Hermione estava alcançando o limite de sua paciência.

 

—       Filha...

 

—       Não. – ela foi grossa, cortando-o antes que ele pudesse continuar. Quebrou o contanto com ele se afastando. – Não me chame de filha. Não é o meu pai. Não gostaria de ser meu pai. Saia.

 

—       Não pode fugir do fato de que somos sua família, Hermione! De que ao menos um dia fomos!

 

—       E eu os traí! Traí você e a Molly mais do que qualquer outro! – Era isso que ele queria ouvir? Ela o faria ouvir então. – Podemos começar com Fred se preferir deixar Gina por último. Quer escutar? Por que eu estava lá.

 

—       Não. – ele levantou a guarda quase que imediatamente. – E você não precisa se culpar...

 

—       Eu não me culpo. Eu lamento, apenas lamento, porque é o mais longe que posso chegar. Simplesmente porque sei que deixaria Fred morrer quantas vezes fosse preciso para ter a chance de ter os meus filhos vivos hoje. Eu deixaria Gina ser torturada e abusada mais um milhão de vezes se isso fosse me garantir um passe livre com Voldemort. Eu faria tudo novamente, em plena consciência das minhas escolhas. Como se sente agora? Acha que ainda pode me chamar de filha? Acha que ainda pode orgulhar-se de mim? Ou me julgaria um ser cruel? Egoísta? O problema que tenho com vocês e o que vocês tem comigo é o de acharem que de alguma forma, a Hermione que conhecem está atada dentro de mim em algum lugar, quando na realidade, eu apenas vivo uma filosofia diferente agora. Meu orgulho foi moldado para enxergar que posso me apaixonar um homem que sempre odiei, que posso carregar com honra um sobrenome que me condena, que a força para lutar por filhos que nunca esperei querer é algo que não posso controlar, que matar para sobreviver em uma guerra não é um conceito e sim uma realidade, que bravura pode ser logicamente justificado pela estupidez e que a ambição se alimenta da estratégia, que glória não vem sem poder, que influência e manipulação andam de mãos dadas, que trocar de ponto de vista é um processo doloroso e recompensador. – o figura estampada no rosto de Arthur Weasley era uma cheia de dor e surpresa ao mesmo tempo. Hermione sentiu seu coração ser esmagado por não estar conseguindo enxergar condenação em nenhum lugar. Por que? – Tudo que eu conhecia, como eu conhecia, virou de cabeça para baixo. Foi como ser forçada a aprender a respirar debaixo d’água. Eu nunca pensei que fosse me fazer mais forte. Nunca pensei que fosse me mostrar um outro caminho. Nunca pensei que fosse me dar um novo propósito.

 

Foi então que ela viu os olhos dele começarem a brilhar. Olhos cansados. Carregavam tristeza para onde olhavam, mas ali ela começou a ver a dor se manifestar. Isso. Era isso que Hermione queria. Ele tinha que chorar. Ele, Harry, Rony, Luna, Sra. Weasley. Todos eles tinham que chorar por ela. Chorar por saber que a Hermione que conheciam havia sido perdida. Não havia volta. A fato dela estar ali, presente, em sua figura bem aprumada, não era nenhuma esperança. Nenhum alívio de que Hermione Granger havia sobrevivido. Ela não era a pessoa que eles conheciam. Se eles chorassem a morte da antiga Hermione, talvez ela se sentisse livre da expectativa que sempre via neles quando ela estava por perto. Eles tinham que lamentar a perda dela e seguir em frente, porque ela não pretendia preencher o espaço da antiga Hermione na vida de nenhum deles.

 

—       Sabe... – ele afundou as mãos no bolso da calça mostrando a figura humilde e longe de formalidades que sempre fora. Tentava esconder a lágrima nos olhos e o tom amargo da voz. - Seu marido, Draco Malfoy, veio conversar comigo. Estranhei e exclusividade logo de inicio. Sou um Weasley. Ele ofereceu whisky. Caro. Mas talvez não saiba que existe whisky barato. Acredito que ele queria matar a formalidade que bem sabe que a figura superior dele impõe. Pegou muito do pai, obviamente. – Arthur parecia estar falando mais consigo mesmo do que com ela. - Estava vestido em roupas caras, o que é o usual. Imponente. Voz forte. Dominante. Ele se comporta como se estivesse andando por cima de tudo. Como se conhecesse tudo. Como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, como se tivesse completo controle do que aconteceria daqui a cinco minutos. Ele encostou num móvel qualquer a minha frente, carregando seu copo cheio de um whisky que eu não compraria nem com uma vida inteira de trabalho e perguntou se eu gostava de xadrez. Eu sabia que ele queria chegar a um argumento com aquilo. Disse que a vida dele era como um jogo de xadrez. Tudo era sobre saber se proteger o suficiente para mover as peças certas, nas horas certas, para encurralar antes de ser encurralado. Jogadas eram a essência do dia-a-dia e vencer era sua única moral. Afirmou que sabia que eu o julgaria negativamente por isso, mas que esse era o ponto. Ele sendo um Malfoy e eu um Weasley, podíamos passar uma vida inteira identificando pontos a qual discordávamos, mas que tinha absoluta certeza que podíamos encontrar senso comum partindo da premissa que eu e ele carregamos o fardo e a benção de sermos dois pais temendo pela segurança de nossas respectivas famílias. Eu deveria ter previsto com antecedência que tudo que ele queria com aquela conversa era especular minhas motivações e intenções dentro da casa dele, tentar ver o meu papel dentro do sistema que nos convidou para fazer parte, e por fim, me convencer de ser algum tipo de força de incentivo para Harry dentro dos planos dele. Por mais humanizado que seu discurso fosse, era seco e objetivo. Obviamente que eu sou uma peça muito pequena dentro do jogo de xadrez do seu marido, mas ele certamente, como um bom estrategista, quer ter certeza de que tem inteiro controle sobre todas as suas peças para estar por cima em suas jogadas, por mais insignificantes que elas sejam. Tenho aversão a tudo o que Draco Malfoy representa, por mais que nossos objetivos estejam alinhados nesse péssimo presente momento, mas quando comparo a experiência que tive com ele e a que estou tendo com você, tudo que consigo concluir é que vejo mais coração nele do que em você, Hermione. O que me pergunto é a que ponto você o ensinou sobre humanidade e a que ponto ele a ensinou sobre poder? Temo que no relacionamento dos dois, tenham incorporado erroneamente a essência um do outro.

 

Ali estava. Finalmente. Ele a julgava. Cruel. Sem coração. Onde está sua humanidade, Hermione? Sim. Era isso que ela era e seria o que fosse se isso tivesse a chance de garantir que fosse intocável. Ela queria ser intocável. Passava medo o suficiente para ter certeza de que daria tudo, venderia tudo, sacrificaria tudo por essa desejável posição. Tudo. Inclusive seus princípios.

 

—       Saia. – foi tudo que conseguiu repetir. Era tudo que ela queria naquele momento.

 

Aquela era sua realidade, mas não deixava de ser dolorosa. Não se culpava por ter que sacrificar sua integridade, mas era impossível não lamentar, principalmente quando via a decepção estampada no rosto de alguém que honrara como pai por tanto tempo.

 

Arthur Weasley assentiu concordando com o pedido dela. Deu as costas e saiu. Hermione continuou parada onde estava, sentindo-se ser esmagada. Sem que ao menos percebesse, como se estivesse cansada demais para qualquer outra coisa, afundou-se naquele sentimento e deu-se conta do que estava fazendo apenas quando sentiu o calor de uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Rapidamente a secou e puxou o ar buscando estabilizar-se. Não tinha tempo. Não agora. Não até tudo aquilo acabar.

 

Verificou as horas no relógio sobre a mesa, juntou seus papéis e livros, pegou o que tinha que pegar e saiu direto para linha de produção que tomara o subsolo de sua casa. Entregou suas fórmulas e estudos recentes para quem estava direcionando aquele turno e verificou as remessas prontas para partirem para seus destinos finais e como estavam sendo transfiguradas em objetos comuns e colocadas debaixo do feitiço de distração para passarem as entradas dos fortes.

 

 

 

... Continua

 


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