CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 45
Capítulo 42 - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

MUITO MUITO MUITO OBRIGADA POR TODOS OS COMENTÁRIOS E RECOMENDAÇÕES. Sempre que eu estava desanimada, bastava ler um para eu ir correndo arrumar tempo para escrever!

NÃO DEIXEM DE LER A NOTA NO FINAL DO CAPÍTULO!!!



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42. Capítulo 42

 

 

 

 

 

Draco Malfoy



Aquilo estava indo errado. Na verdade, estava indo bem errado! Ele não podia ter se enganado com Thomas Ryot. Ele era um dos seus membros mais fiéis da zona cinco. Ao menos parecia ser! Maldita zona cinco! Ele havia se enganado com muito poucos e aqueles com quem havia se enganado, a maioria pertencia a zona cinco.

 

Cruzava a Catedral sozinho. Fazia isso porque o resto de seu exército, o resto que estava do seu lado, havia sido destinado a trabalhar para que tudo acontecesse a seu favor. Tina, que já estava sob aviso, fora mandada para fora de Brampton Fort as pressas e ele precisara de uma equipe para isso. Também precisara de outras para cobrir membros da Comissão que estavam disponibilizando as poções que cortavam a ligação da Marca Negra por entre seus homens. Precisara enviar gente para fora de Brampton Fort para receber Hermione, Hera e Scorpius, precisara enviar gente para se juntar a aqueles que já estavam em sua propriedade levantando a barreira impenetrável de proteção, precisara enviar gente para ser escolta de sua mãe e gente para mover seu pai.

 

Tudo estava dando certo. Tudo estava perfeitamente organizado para que não passasse apenas da sensação de tensão. Tudo daria certo. Se não fosse pelo infeliz Thomas filho da mãe Ryot. Draco não podia acreditar que havia confiado a vida de seu filho nas mãos daquele desgraçado! Quando fora reportado de que a carruagem com ele e seu filho estavam seguindo caminho para a Catedral, ele sentiu todas as maldições imperdoáveis gritarem em sua varinha. Sabia que se cruzasse com ele, não hesitaria em matá-lo. Por causa dele, teria que enfrentar Voldemort! Por causa dele, tudo estava indo por água abaixo! Por causa dele, o que estava bem planejado agora dependia do acaso!

 

A figura de Tom Riddle estava de pé logo ao lado de uma das entradas laterais do átrio principal da Catedral. Estava acompanhado de Theodoro e alguns homens da zona cinco. Traidores!

 

—       Você estava certo quando disse que não precisaria me esforçar, que ele viria até mim. – sorriu Tom Riddle assim que avistou Draco.

 

—       Nós temos muito o que conversar! – Draco estava furioso.

 

—       Não há o que conversar, Draco. – Theodoro sorriu. – Está claro que você levantou uma rebelião. Ao menos teremos um novo general depois de tudo isso. – ele riu e partiu acompanhado dos homens que Draco havia treinado! TRAIDORES!

 

—       Eu posso parar com tudo isso se voltar atrás na decisão de tomar Scorpius hoje. Ele ainda não tem um ano! – Draco ignorou Theodoro e pouco se importou em saber para onde ele estava indo.

 

Tom Riddle riu.

 

—       Acha que eu tenho interesse em parar com tudo isso, Draco? Eu quero ver você cair! Você pensou que estava construindo algo para me destruir sem que eu percebesse? Eu construí algo para te destruir muito antes! É uma satisfação ver que não consegue ser nem metade do que o homem  que seu pai é. Está destruindo o nome Malfoy e nem mesmo sabe. – assim que sua voz morreu, Draco escutou algo que fez seu coração cair.

 

Muito distante ele escutou o eco do choro de seu filho. Quase que automaticamente ele reagiu dando as costas a Voldemort. Se estava escutando aquele choro, era porque a equipe que enviara para ter certeza de que a carruagem com Scorpius estava o levando para a chave de portal no portão norte havia o traído ou não conseguira lutar contra Thomas.

 

Ele mataria aquele desgraçado!

 

Puxou sua varinha e avançou com uma determinação que ele nunca pensou que poderia ter na vida. Era como se seu único propósito da vida fosse ter Scorpius em suas mãos, longe de qualquer perigo. Estava disposto a dar sua própria vida se fosse necessário.

 

No entanto, foi incapaz de avançar muito longe porque aparentemente, Theodoro havia armado Voldemort com uma escolta de traidores. Eles avançaram contra Draco que logo sacou sua varinha e tentou limpar seu caminho. Percebeu que alguns daqueles que Voldemort ordenara para avançar contra ele tentava, na verdade, ajuda-lo. Naquele momento Draco percebeu que nem tudo estava realmente perdido. Talvez alguns estivessem fazendo o jogo de Theodoro, mas nunca haviam perdido a lealdade a Draco. Ele não estava sozinho.

 

Enquanto tentava desviar de feitiços, e apagar aqueles que estavam tão empenhados em ser uma maldita de uma muralha em seu caminho, conseguia ver Voldemort se divertindo ao assistir tudo aquilo. Draco se sentiu estúpido, e ainda assim, por mais que soubesse que estava sendo idiota, por mais que soubesse que tudo aquilo não fosse nada inteligente, por mais que tivesse aprendido em anos de guerra contra a Ordem, que mais valia uma boa estratégia e um plano inteligente do que mil homens contra vinte em um campa de batalha, seu corpo, um instinto louco, sua angústia e sua irracionalidade externavam um desespero que ele se via incapaz de conter. Ele não tinha tempo para ser inteligente! Ele precisava alcançar o filho! Ele podia ser quem fosse. Podia ter o poder e a influência que fosse. Podia possuir quem ou o que fosse. Podia vencer a batalha que fosse. Não seria nem valeria absolutamente nada se falhasse com o filho!

 

Ele era bom! Sempre havia sido bom! Durante todo o seu treinamento no exército, durante a sua rápida escalada pelas zonas até a posição de general. Poucos haviam conseguido ser tão bom quanto ele. Tinha seus pontos fracos, claro. Mas ainda assim, era tão bom em outros que conseguia cobrir suas falhas. Mas ali, naquele momento, mesmo quando fora desarmado e fora obrigado a usar de sua força física, algo do qual era absolutamente excepcional, acabava sendo vencido aos poucos. Não porque não era bom o suficiente, mas porque o choro do filho se distanciando o afetava por inteiro e o deixava fraco ao invés de deixa-lo forte. Havia aprendido a controlar suas emoções, suas angústias, suas fúrias, suas agitações, até mesmo sua alegria, por tanto, tanto, tanto tempo que ele se considerava um mestre, mas naquele momento, era como se nada de suas técnicas ou nada de seu aprendizado, nem nada de seu costume de anos, o ajudasse a conter o desespero que lhe crescia e como era capaz de dominá-lo por inteiro.

 

—       NÃO! – sua voz ecoou e ele não se importava que a Catedral ou Brampton Fort inteira pudesse escutá-lo. – EU VOU MATÁ-LO, THOMAS! – puxou o braço do homens que estava pronta para lhe prender numa chave de braço. Empurrou o homem contra outro que acabara de levantar de uma queda, ajudou a derrubar os dois com o pé. Foi segurado pelo braço, mas conseguiu virar mais rápido e com o punho fechado atacou seu atacante contra a garganta. Tentou avançar, mas levou um forte soco contra a coxa. Foi como uma pena. Ele apenas usou seu joelho derrubar de novo o outro. – EU VOU MATÁ-LO, THOMAS! – céus, era como se  ódio estivesse o consumindo! Ele mal podia escutar o choro do filho agora. Foi puxado pela sua capa de general, aproveitou-se para deslizar os braços para fora dela junto com o movimento, mas não deixou escapa-la agarrando os finais para cercar o pescoço de seu atacante. Enquanto tentava enforca-lo, sentiu uma joelhada nas costas e arqueou perdendo as forças nos dedos. O homem que tentava enforca-lo lhe deu uma forte cotovelada na costela. Viu estrelas! Com certeza havia quebrado alguma.

 

Aquilo não o derrubou! Ele continuou a lutar. Continuou a tentar avançar. Mesmo que não soubesse para onde estavam levando seu filho. Ele derrubaria toda a Catedral se fosse necessário. Mas então, foi só então, que depois de apreciar o que estava assistindo, Voldemort usou a carta que escondia com todos de seu império. Draco sentiu fogo pelas suas veias partirem de seu braço. O braço com a Marca Negra. A marca de Voldemort.

 

Aquilo o derrubou. Derrubou porque era pior do que crucio. Ele era resistente a dor e ainda assim, mesmo derrubado, tentou lutar. Conseguiu. Mas não por muito tempo. A dor o cegava. Foi carregado, e mesmo assim ainda tentou lutar. Mesmo sentindo que ele intensificava a dor para ele cada vez mais. Lutou, mas estava fraco. Lutou, mas não foi o suficiente.

 

Estava falhando com seu filho, estava falhando com a mulher que mais importava no mundo, estava falhando com ele mesmo, quando se viu sendo carregado para dentro do átrio principal. Não era possível que ele havia trabalhado tanto tempo. Havia gasto tantos anos. Havia sido tão esperto, tão minucioso, tão cuidadoso em tudo, para que desse errado. Doía. Céus! Como doía!

 

—       É patético te ver nesse estado, Draco. – Tom Riddle se pronunciou com uma voz cheia de satisfação. – Mas é muito agradável ver que meu trabalho não foi em vão. – ele riu. – Achou mesmo que poderia passar a perna em mim? Existem pessoas que te odeiam e te invejam o suficiente para estarem dispostas a darem tudo para tomar seu lugar. Como Theodoro por exemplo. Não que ele seja tão capacitado assim para assumir uma posição como a sua, mas nós não precisamos mais nos preocupar com a guerra, não é mesmo?  Ela está realmente ganha, não está?  - Draco se lembrou da poção que enfraquecia a ponte entre o poder de Voldemort e a marca em seu braço. Lembrou que ela estava no bolso de sua calça. Ele deveria ter tomado a sua quando exigiu que todos os seus homens a tomassem algumas horas mais cedo. – Minha maior dificuldade era encontrar algo que te desse significado, Draco! Por muito tempo pensei que o que realmente te enchia os olhos era poder. Mas foi quando te dei isso, quando te dei autoridade e posições, foi que percebi que, na realidade, você estava morto por dentro, sem esperança de sequer conhecer algo pelo qual sua vida valesse a pena. Na verdade, eu nunca imaginei que sua preciosa Hermione fosse realmente ter tanto peso nesse vazio que consegui ver dentro de você. Mas seja lá o que vocês forem, seja lá o que seus filhos forem, seja lá o que quer que isso entre vocês for, eu tenho total controle. Eu! – ele riu e Draco pensava nos segundos que levaria para alcançar seu bolso, pegar a poção, abri-la e bebê-la. – Eu finalmente tenho controle sobre você. Tenho controle sobre o cérebro mais bem equipado do meu império. E você pensando que poderia tornar um escolha trabalhar para mim, mas só até certo ponto. – ele riu, mas logo parou. Parou por que a porta do fim da nave principal foi escancarada.

 

Draco quase sentiu seu coração parar quando viu Hermione passar por ela. Estava furiosa. Ele quis gritar. Ela tinha que estar bem longe de Brampton Fort! Ela tinha que estar no mínimo a caminho do portão norte. NÃO ALI! Sua cabeça girou por mil medos que estava o cercando naquele momento. Sua cabeça foi em Scorpius. Sua cabeça foi em Hera. Sua cabeça focou em Hermione ali a sua frente. Tentou juntar forças novamente e conseguiu se livrar das mãos que o segurava, mas não por muito tempo. Não por tempo o suficiente para conseguir pelo menos alcançar a poção em seu bolso.

 

Encarou um medo que o enfraqueceu por completo quando viu Hermione desmoronar sobre o chão de pedra quando Voldemort usou a força da Marca Negra contra ela assim como usava nele. Encarou um medo que o matou quando viu seu filho entrando no salão, recebendo a direção de ser entregue a Bellatrix. Imaginou se Hera teria alguma esperança, mas ainda assim ele não conseguia aceitar que aquele era o fim! Não poderia ser o fim! Ele havia trabalhado muito mais e durante muito tempo para que aquele fosse o fim! Mesmo que tudo estivesse dando errado. Mesmo que a cena que se passava a sua frente estivesse arrancando dele a própria vida! Aquele não era o fim! Ele não aceitava que fosse!

 

Foi quando eles apareceram. Seus aliados. Aqueles que estiveram em campo de batalha com ele desde o começo. Aqueles que começaram com ele. Aqueles que, com ele, venceram uma guerra. Aqueles que eram responsáveis por ele saber que não deveria aceitar que aquele era o fim, porque sempre, sempre, sempre, teria cobertura.

 

Não se chocou quando viu sua tia Bellatrix cair sobre a poça de seu próprio sangue. Não se chocou quando conseguiram pegar Hermione e carrega-la para fora da nave. Não se chocou quando Devon engajou-se na difícil tarefa de conseguir livrá-lo dos traidores que o pendiam. Não se chocou com a fúria incontrolável de Voldemort. Não se chocou com nada. Apenas temeu. Deixou-se ser dominado pelo medo porque seu filho estava ali. Conseguiu alcançar seu bolso quando recebeu ajuda de Devon. Aproveitou toda atenção que Tom Riddle tinha sobre Bellatrix naquele momento e virou a poção de uma vez.

 

A mágica da poção funcionou em segundos. Seu braço ainda latejava e a dor ainda o incomodava, mas não chegava sequer a se comparar com a tortura que aquela marca era capaz de impor sobre ele. Devon lhe empurrou sua varinha, a varinha que ele havia perdido antes mesmo de ser levado para dentro do salão.

 

—       Não perca a varinha de novo! – Devon ofegou enquanto sufocava um dos homens que havia avançado contra ele e Draco lançava maldições sobre os que insistiam em continuar a segurá-lo. – Narcisa Malfoy se nega a deixar seu pai, Thomas nos traiu, sua mulher não quer deixar Brampton Fort sem os filhos, a poção não está funcionando com todos e tivemos que mover homens demais para essa ação o que vai enfraquecer as fronteiras da sua propriedade até encontrarmos uma estabilidade. – soltou o homem que acabara de perder os sentidos. – Vamos seguir o plano C.

 

Draco queria ter tido a chance de ficar sem reação. Mas não teve tempo. Não teve tempo sequer de poder achar ruim. Seguiu como tinha que seguir porque não havia outra opção. Mas lá no fundo, bem lá no fundo, ele pensava “Não o Plano C. Não o C!”



Hermione Malfoy



Ela não conseguia lembrar muita coisa. Era confuso. Seu cérebro era incapaz de gravar o que estava acontecendo. Tudo o que roubava sua atenção e foco era a dor. A dor a roubava até mesmo a visão. A dor não parava, não dava descanso, não dava nenhuma pausa. Na verdade, talvez até desse, o problema era que ela não conseguia separar ou processar quando perdia os sentidos e quando os recuperava. Para ela, tudo acontecia em fatos picados. Sabia que estava sendo carregada. Por quem, ela não conseguia ter a menor ideia. Se lembrava de ter visto muitos Dementadores. Em alguma momento, talvez quando estava com os Dementadores, conseguira se localizar na arena das cerimônias de inverno. Talvez ela tivesse perdido os sentidos em algum momento, mas por alguma razão, vivera um pesadelo por alguns segundos. Era tudo horrível!

 

—       Eu vou ter que te fazer dormir! – seu cérebro captou a voz forte de uma mulher em seu ouvido. – A poção não está funcionando com você!

 

A poção. Ela conseguia se lembrar, ou talvez tivesse delirado, que haviam lhe enfiado poções goela abaixo mais de uma vez. Não conseguia achar o rosto da mulher embora soubesse que ela estava perto. Talvez fosse ela quem estivesse a carregando. Ela conseguia ver a terra contra suas mãos, conseguia ver o céu do fim da tarde, conseguia ver feitiços voando de um lado para outro, mas não conseguia ver o rosto da mulher.

 

—       Meus filhos... – ela conseguiu fazer sua língua soltar algo que fizesse sentido.

 

—       Eles vão fincar bem! – a mulher gritou. – Continue tentando se focar em sua respiração! Eu vou ter que te fazer dormir! – a mulher informou de novo. Hermione pouco conseguia pensar em qualquer outra coisa que não fosse a dor, mas por mais que seu cérebro estivesse muito ocupado em responder apenas aos estímulos de tortura ao qual estava sendo submetida, ainda assim Hermione sabia que usar magia para lhe manter sem consciência era perigoso demais para o estado em que estava agora. Até mesmo o St. Mungus havia sido proibido de usar esse tipo de técnica durante cirurgias quando poções anestésicas falhavam.

 

—       Eu posso... – ela não conseguia falar. – Posso... – queria falar que podia aguentar. Conseguia aguentar.

 

—       Eu tenho que te fazer dormir! É o único jeito de te fazer voar da forma mais segura.

 

Voar? Ela não gostava de voar!

 

—       Meus filhos... – Por que infernos seu cérebro não conseguia fazer sentido? Ela queria que Draco estivesse com ela.

 

—       Eles vão ficar bem!

 

Foi a última coisa que escutou dela. Na verdade, foi a última coisa que escutou por um longo tempo. Ela se sentiu presa por muito tempo num lugar escuro onde não tinha consciência de nada, nem mesmo do próprio corpo. Não entendia o tempo embora parecesse longo. Era como se estivesse desligada de tudo, mas ainda assim, viva.

 

Sabia que estava viva porque sentia. Sentia algo. Muito distante, mas sentia. Quanto mais ela tentava entender a única coisa que sentia, mais parecia que sentia. Aquilo começou a incomodá-la. Era como uma pequena tortura eterna porque parecia estar habitando num lugar onde os segundos pareciam quase horas. Foi somente quando seu cérebro acusou que o que estava sentindo era dor que tudo se intensificou num espaço de tempo tão curto que a trouxe de volta sua consciência. Encolheu-se quase que no mesmo segundo, mas sentiu ainda mais dor. Precisava tirar seu braço, precisava que alguém lhe arrancasse o braço! Gritou e percebeu que seu grito foi abafado pelo travesseiro onde sua cabeça havia sido encostada.

 

—       Hermione! Hermione! – era uma voz masculina. Ela reconhecia a voz mas não conseguia se lembrar da pessoa. – Hermione! Precisa se concentrar! Você é a única que pode acabar com sua própria dor!

 

—       Tire o meu braço! – ela não se importaria de ficar sem ele. Era como se estivesse pegando fogo.

 

—       A poção não funciona em você. Não tem problema! Você é capaz de criar magia sozinha. Você é capaz de ser uma fonte de magia. Não precisa de nenhuma poção. Precisa apenas se concentrar!

 

Ela procurou pela voz entre seus olhos embaçados e viu um homem com uma barba cheia logo a sua frente. Os olhos cor de amêndoa e as bochechas bem características eram impossível de serem de outra pessoa que não fosse Neville Longbottom.

 

—       Como vou fazer isso? – ela chorou. Contorceu-se na cama em que percebeu estar e chorou, reclamou, gritou.

 

—       Você conhece a poção. Sabe exatamente onde ela deve agir. Concentre-se primeiro em sua respiração, depois tente alcançar a ponte entre você e Voldemort.

 

—       Não consigo! – chorou.

 

—       Você está cedendo a dor, Hermione! Lembra-se de quando costumávamos testar crucio em nós mesmos para tentar nos tornar imunes a dor? Nunca funcionou como realmente esperávamos, mas sabe que existe um jeito de lutar contra a dor! Está deixando ela te vencer.

 

—       Não posso...

 

—       Hermione! Esse é o único jeito. Você tem que enfraquecer sua conexão pela marca você mesma. Não existe outro jeito. A poção não funciona com você. Já vi dezenas de homens e mulheres morrerem por causa dessa marca. Acredite, não é bonito e não é rápido. Está apenas começando e mesmo se eu cortar o seu braço fora, não irá parar. Você tem que tentar! – ele insistiu e ela chorou. – Você tem que tentar!

 

Ela chorou. Chorou e gritou e se contorceu. Ela não iria conseguir fazer aquilo sozinha! Ela queria Draco. Queria que Draco estivesse ali dizendo aquilo para ela. Queria que ele quem estivesse tentando encorajá-la. Ela sempre se sentia mais forte com ele.

 

—       Meus filhos... – soltou o ar por entre os dentes. – Onde...

 

—       Oi? – Neville soltou confuso.

 

—       Meus filhos! – ela gritou.

 

—       Não sei do que está falando! – ele parecia frustrado. - Mas não é no que você deveria estar se focando agora. Entenda bem! Sei que não quer morrer, Hermione. Você precisa se focar. Só tente. Só tente! Não quero que perca a consciência novamente. Vamos lá! Você consegue!

 

Ela precisava fazer aquilo pelos filhos. Precisava saber onde estavam, precisava ser a mãe deles, cuidar deles! Provavelmente estavam assustados, chorando, com medo. Será que haviam sido alimentados? Ela precisava vencer aquilo.

 

Começou e tentar criar um ritmo. Lutou contra a dor para repetir o procedimento de puxar o ar pelo nariz e soltar por entre os dentes. Estava ofegante, rápido demais, o motivo perfeito para se focar em tentar desacelerar. Foi quando seu cérebro pensou que talvez, se tentasse conectar a dor e a respiração, talvez o nível da dor diminuísse se ela concentrasse em diminuir o ritmo de sua respiração. Tentou pensar rápido em como fazer isso e quase que no mesmo segundo começou a tentar se concentrar na dor. Foi um erro porque foi como duplicar seu efeito. Neville claramente percebeu pelo seu grito agudo.

 

—       Hermione! Hermione! Hermione! – Neville chamou sua atenção um tanto quanto agitado. - Concentre-se na respiração! Apenas na respiração!

 

—       Seu eu conectar a dor a respiração....

 

—       Sim! Sim! Se conectar a dor a respiração vai conseguir se focar na respiração e esperar que ela diminua junto com o ritmo da respiração. Já tentou antes! Não vai funcionar!

 

—       Não me lembro... de ter tentado!

 

—       Acredite! Já tentou! Não funcionou! Respiração, Hermione! Respiração! Só a respiração!

 

Ela não entendeu, mas lutou para voltar para onde havia parado. Foi difícil tentar vencer o ritmo de sua respiração, mas procurou ao máximo levar a dor para segundo plano e se focar em sua respiração. Neville estava logo ao seu lado encorajando-a verbalmente, o que a irritou ao ponto de manda-lo se calar. Era como estar em trabalho de parto novamente, a recompensa de vencer aquela dor era os filhos. A única diferença era que em seu trabalho de parto ela tinha Draco e tinha ao menos uma pausa para se recuperar entre as contrações.

 

Foi somente quando percebeu que estava firme em sua respiração, que avançou para outro plano com muito cuidado. Empurrou a respiração para segundo plano, o que forçava a dor para terceiro. Tentou se conectar com seu cérebro de maneira inteligente. Lembrava-se que a poção agia especialmente na ponte que a Marca criava entre Voldemort e ela. Ela era como um antídoto que usava a mesma equação da magia da marca, mas que gerava um resultado oposto. Lembrava-se também que era capaz de absorver conhecimento e informações sobre coisas em geral se conseguisse se concentrar o suficiente.

 

Mantendo sua respiração sob controle e em segundo plano, ela tentou pular a dor e tomar consciência de cada centímetro de seu corpo. Nada estava acontecendo com ela fisicamente. A dor que sentia estava em sua cabeça. Vinha da marca, vinha de Voldemort. Concentrou-se em seu braço. Tentou anular a dor. A equação da magia que a marcava naquele braço era complexa e usava elementos proibidos que dificilmente podiam ser quebrados. Mas não era nada impossível. Voldemort estava muito distante dela, ela esperava, e isso facilitava. A única forma de quebrar magia negra era com magia negra, mas magia negra sempre tinha seus custos e ela não estava disposta a pagá-los. Ela conhecia os elementos daquela magia então talvez se conseguisse concentrar-se o suficiente para senti-los, talvez conseguisse encontrar uma forma de confundi-los.

 

Fazer seu cérebro trabalhar estabilizou ainda mais sua respiração, controlou ainda mais sua dor e foi o suficiente para que pesasse mais e, de repente, acendesse uma luz dentro dela. Não era possível que não tivesse pensado nisso antes. Aquele era seu corpo. Ela nunca havia ido muito longe em controlar seu próprio corpo porque sempre que tentava se assustava com o quanto podia se sentir e se dominar, mas definitivamente já havia tentado. A ponte que a ligava a Voldemort estava em seu sangue. Partia da marca e de toda a complicada magia que a envolvia.

 

Mesmo que a dor estivesse toda em sua cabeça jamais conseguiria lidar com seu cérebro. Era uma estrutura complexa demais. Mas ela podia tentar lidar com seu sangue. Ela nunca havia tentado, mas definitivamente podia. Foi quando sem pensar muito tentou concentrar-se em seu corpo. Focar em sua respiração enquanto fazia isso ajudava a manter a dor em um plano mais longe, embora ela não deixasse de ser menos intensa.

 

Todas as vezes que se dava tempo para se descobrir, o que fazia era usar seu tato. Era o que mais havia desenvolvido até agora. Tocar lhe trazia muitas informações. Costumava tocar objetos para entender como funcionavam, como foram produzidos, de que materiais eram feitos. Ela sentia e tinha muito mais informações do que qualquer pessoa normal. Aquilo a fascinava e não a assustava. Foi assim que chegou até o seu sangue. Tocou a si mesma para poder chegar nele através do tato porque não conseguia pensar em nenhum outro caminho mais eficaz.

 

Nunca havia explorado seu sangue antes. Seu tato lhe mostrou o quanto seus músculos estavam cansados e o quanto a energia dela estava mínima. Mas assim que seu tato foi capaz de reconhecer o sangue por debaixo de sua pele, passando em suas veias, circulando todo seu corpo, ela se surpreendeu quando foi fácil imergir na conexão que conseguia atingir agora que reconhecia bem aquela pulsão que a mantinha viva.

 

Mas ao mesmo tempo se assustou ao perceber que quase imediatamente, quase que no mesmo segundo que estabeleceu aquela conexão, ela conseguiu perceber um elemento em seu sangue que era diferente. Era pesado. Era forte. Ela conseguia senti-lo. E foi imediatamente que percebeu que podia senti-lo. E porque podia senti-lo percebeu que não havia mais dor. Ou talvez ela tivesse conseguido atingir um estágio de tanta concentração que conseguira puxar a dor para um plano muito distante.

 

Queria encontrar aquilo em seu sangue que estava a ligando a Voldemort, mas aquele enorme elemento que corria por ela, aquela força, aquela sensação, aquela energia dentro dela... Ela não precisava de mais nada. Só precisava daquilo. Imergiu naquela força cheia de receios, mas era como se fosse puxada por ele sem ter qualquer outra escolha. Aquilo era parte dela. Era incrível como aquela mágica nela era capaz de deixa-la consciente de cada célula de seu corpo, de cada simples molécula de energia que era capaz de produzir e armazenar, de cada pedaço de músculo no corpo, de cada junta, de cada neurônio, de cada pequena função. Era como se tivesse assumido o papel de seu cérebro. Podia mandar e desmandar onde quisesse, como quisesse. Céus... Aquilo era poder demais!

 

Abriu os olhos. Encarou um teto mofado descascando logo acima dela. Ainda era dominada por aquela força que vinha dela, que vinha de sua conexão com o próprio sangue. Não havia dor. Mas era surreal o quanto tinha consciência de cada simples pedacinho de si mesma.

 

—       Eu posso sentir... – sua boca soltou quase em transe.

 

—       Sentir o que? – Neville soava curioso e receoso.

 

—       Eu mesma. – respondeu quase que ligada no automático.

 

—       Consegue alcançar a ponte de ligação da marca? Consegue enfraquece-la?

 

—       Posso parar meu próprio coração se eu quiser... – sussurrou ela.

 

—       M-m-mas você não quer! – Neville quase se atropelou ao soltar aquilo quase que imediatamente.

 

Silêncio.

 

—       Como? – ela sussurrou para si mesma. Como aquilo funcionava? Ela não precisava enfraquecer ponte nenhuma. Ela podia tirar aquela marca de si mesmo se quisesse!

 

Imersa em seu próprio eu, nadando em sua própria fonte de magia, em seu próprio poder, ela ordenou sem qualquer esforço que seu braço fosse limpo, que seu sangue fosse limpo, que seu cérebro não processasse mais qualquer tipo de dor relacionada a magia negra de Voldemort. Ela sentiu seu corpo se livrar magicamente de tudo aquilo como que ela tivesse estendido a varinha para si mesmo e proferido um feitiço. No momento em que percebeu que estava livre da marca, ergueu o braço e o viu limpo diante de seus olhos. Nem vermelho estava.

 

Fechou os olhos novamente e nadou naquela fonte de poder por um bom tempo. Era como estar fora de si mesma. Era como ser duas, mas somente uma Hermione. Era libertador. Temeu que nunca mais fosse alcançar aquilo se caso se desligasse daquela conexão, mas não podia simplesmente viver naquele estado eternamente. Talvez tivesse conseguido chegar naquele ponto apenas porque seu corpo reconhecia estar passando por um momento de trauma. Talvez ela nunca mais fosse ter a chance de sentir aquela fonte que jorrava dentro dela mesma.

 

Aos poucos fez o caminho de volta. Procurou seu tato, deixou seu sangue e voltou para os músculos, sentiu sua pele e soltou-se. Seu “eu” assentou-se de volta no corpo dela e sentiu pesada naquela cama. Abriu os olhos e encarou o teto mofado descascado acima dela. Parecia menos colorido agora. Ela se julgou louca.

 

—       Eu sou louca? – perguntou pra si mesma, muito baixo.

 

—       Não. – Neville respondeu mesmo assim. – Você é descendente de Morgana.

 

Hermione virou a cabeça e enxergou Neville logo ao seu lado. Os olhos bem abertos e apreensivos sentado na beira de uma poltrona velha do lado da cama. Eles trocaram olhares por um prolongado segundo onde o silêncio os consumiu até Hermione sentir uma ânsia lhe subir o estômago e um calor lhe subir o corpo. Foi quando num impulso precisou sentar de uma vez para vomitar no chão ao lado. Vomitou tudo que restava dela. Seu corpo colocou para fora até mesmo aquilo que ela não imaginava que pudesse haver dentro de si. Quando finalmente seu corpo lhe deu descanso ela caiu sobre o colchão mole. Seu corpo começou a tremer e ela sentiu muito, muito, muito frio.

 

Se viu fraca. Sua visão embaçou e escureceu. Começou a escutar a voz de Neville lhe chamando um tanto quando desesperadamente, mas ele parecia muito longe embora estivesse logo a sua frente. Ele começou a agitá-la e ela se incomodou. Precisava dormir. Ele segurou seu rosto e começou a mexê-lo de um lado para o outro. Sua visão ficou escura mas sentiu o gosto de algo bem doce em sua boca. Engoliu. Foi aí que aos poucos sua visão voltou e ela se sentiu mais acordada, mas ainda assim, não era capaz de se mover. Estava pesada. Estava fraca. Estava cansada de uma forma que nunca havia estado antes. Neville estava em cima dela segurando um frasco de poção na mão.

 

—       Não pode perder a consciência agora. Está muito fraca. Eu não teria os recursos para te ajudar a voltar. – ele disse.

 

Ela não tinha forças nem mesmo para mover um músculo. Apenas encarou a figura de Neville a sua frente. Pela primeira vez percebeu o quanto ele havia envelhecido. Ou parecia muito cansado. Haviam pequenas rugas nos canto de seus olhos que ela não conseguia se lembrar de ter notado antes.

 

—       Você... – falar parecia muito difícil e ela temeu que não tivesse feito esforço o suficiente para conseguir ser ouvida de tão baixo que sua voz saiu. – Você é pesado.

 

—       Oh. – ele se deu conta de que estava montado em cima dela. – Desculpa. – pulou para fora da cama. Ela gemeu sentindo seus músculos reclamarem por todo o esforço que haviam passado. – Não podia deixar que perdesse a consciência.

 

—       Uhum. – foi tudo que ela conseguiu responder.

 

Qualquer que fosse a poção que ele havia lhe dado, o efeito era muito devagar, ou talvez estivesse demorando porque ela estava realmente debilitada. Suas forças e sentidos voltavam sem qualquer pressa sequer.

 

Começou a notar ao redor do quarto. As paredes estavam descascando assim como o teto. O papel de parede era antigo e havia mofo por todo o lado. Havia uma janela na parede logo ao seu lado, mas os pedaços de madeira bloqueando-a por dentro tapavam toda a vista e iluminação. Tudo que ela podia ver eram uns filetes mínimos de luz que passavam pelas frestas.

 

Olhou o papel de parede novamente. Ela se lembrava daquele lugar. Céus! Ela se lembrava muito daquele lugar! O cheiro, as janelas bloqueadas, o mofo, o abandono. Aquela era a casa dos pais de Harry em Godric’s Hollow. A casa que ela havia assegurado que ele pudesse visitar sem ser incomodado pelo exército de Voldemort, a casa que aqueles que haviam restado da Ordem da Fênix eram obrigados a tomar como esconderijo agora.

 

—       Eu te dei uma poção revigorante. Vai te dar energia por algumas horas, não muitas. Vou te dar algo para relaxar seus músculos. Sei que a dor toda estava em sua cabeça, mas ficou se contraindo e lutado contra ela tempo o suficiente para talvez mal conseguir levantar agora. – Neville falava movendo-se rápido de um lado para o outro. – Você deve estar faminta. Vou chamar a Sra. Weasley para tomar conta disso. Ela também deve saber como limpar isso. – olhou com nojo para o vomito no chão. – E bem... Harry... – ele limpou a garganta e abriu a porta do quarto e gritou por Harry, por Rony e pela Sra. Weasley. Hermione não tinha a menor energia para lidar com aquilo. Não sabia como lidar com aquilo. O que infernos ela estava fazendo ali? – Sabe, você não se lembra porque fiz um feitiço para te ajudar a esquecer toda vez que desmaiava, mas estamos tentando fazer você parar a dor da marca por si só já faz um bom tempo. Eu pensei que te ajudaria esquecer porque não se sentiria tão desmotivada e incapaz toda vez que acabava perdendo os sentidos. Assim você sempre pensaria que estava tentando pela primeira vez. Na verdade, seu cérebro cooperou bastante em deixar que esse feitiço agisse. Talvez por saber que era algo bom para sua proteção. Porque sua cabeça tem esse incrível sistema de autodefesa que qualquer outra pessoa normal talvez não tenha. Tentei tirar de você memórias recentes para saber o que realmente aconteceu antes de chegar aqui e seu cérebro me expulsou completamente e não deixou que eu tivesse qualquer acesso a qualquer memória que fosse de sua cabeça mesmo que estivesse no estado vulnerável em que estava...

 

Harry irrompeu pela porta ofegante e em total alerta. Ele avançou sem dó sobre Hermione, mas Neville entrou no meio alertando que ela precisava de espaço. Rony veio logo em seguida como se tivesse tentado acompanhar o passo de Harry. Neville deu a ela a poção para ajudar com seus músculos doloridos e ela a virou de uma vez.

 

—       Meus filhos. – ela começou a tentar sentar assim que engoliu a poção. – Eu preciso encontra-los.

 

—       Wow wow wow! – Neville a repreendeu. – Você precisa descansar. – Neville tentou empurrá-la de volta contra o colchão.

 

—       Seus filhos? – Rony indagou confuso.

 

—       Preciso encontrar meus filhos! – ela repetiu irritada por ter que estar passando por aquilo. Ela não tinha tempo para explicar nada. Não queria explicar nada. Não queria ter que ser julgada pelos seus antigos amigos sobre o que era e o que tinha agora. Ela não estava pronta. Não queria estar pronta. Não queria nem mesmo se esforçar para tentar ficar.

 

—       O que quer dizer com filhos, Hermione? – Harry perguntou receoso. Parecia ter medo das próprias palavras.

 

—       Qual a idade dele? – Molly Weasley perguntou passando pela porta. Ela já se apressou para agitar a varinha e limpar o chão.

 

—       Eles são pequenos. Bebês. Acabaram de fazer onze meses. – Hermione se irritou com a pequena e discreta briga que estava tendo com Neville sobre tentar levantar da cama. Que infernos! Por que tinha que estar tão fraca!

 

—       Eles? – Rony parecia um tanto abismado. – Como assim, eles? Quantos filhos você tem?

 

Dois! Seu cérebro gritou irritado. Scorpius, seu pequeno garotinho observador que gostava de atenção e cuidado, e Hera, sua menina independente, agitada e exploradora! Mas, não! Ela não tinha tempo de contar para eles sobre os filhos, de falar que Scorpius já conseguia ficar de pé sem segurar em nada e que Hera era capaz de se fazer bem clara sobre o que queria quando falava “mama” e “papa”. Céus! Ela queria chorar!

 

—       Não importa! Eu preciso deles! – sua garganta apertou.

 

—       Eles trouxeram uma menininha. – A Sra. Weasley pronunciou-se. – Ela está aqui. Não parece ter mais de um ano.

 

Eles? Hermione encontrou forças não sabia da onde para empurrar Neville.

 

—       Como ela se parece? Como está? Qual a cor do cabelo? Está chorando? Deu comida a ela? Há quanto tempo ela está aqui? - Forçou-se para se levantar. Precisava correr até essa menina! Tinha que ser Hera!

 

—       Hermione! Querida! Você não precisa se levantar! Não pode se levantar! Eu vou trazê-la para cá! Você precisa descansar! Ela está bem.

 

—       Ela não pode ser sua filha. – Harry pronunciou-se quando Molly Weasley deixou o quarto apressada.

 

Hermione pulou os olhos para ele, irritada apenas com a ideia de que aquela menina não fosse Hera.

 

—       Por que não? – Neville pareceu não entender a afirmação de Harry.

 

—       Porque ela é filha do Malfoy. – respondeu Harry com um ar de desgosto.

 

—       Draco Malfoy? – Hermione quase engasgou nas próprias palavras.

 

—       Como sabe que ela é filha dele? – perguntou Neville ainda curioso.

 

—       Ele disse.

 

—       Ele disse? – Hermione sentia seu coração acelerar a um passo que ela não sabia se conseguia aguentar. – Disse quando?

 

—       Ele está aqui. No porão. – Rony disse.

 

Hermione não precisou mais de nenhuma palavra para pular da cama. Não se importou com qualquer dor, com sua falta de forçar, com a presença de Harry, Rony ou qualquer outro da Ordem ali. Não se importou. Ela precisava chegar até Draco.

 

Neville tentou detê-la insistindo que ela deveria descansar, Harry e Rony se juntaram a ele. Ter aquela barreira impedindo que ela avançasse, principalmente estando fraca e não podendo simplesmente empurrá-los e se livrar deles como normalmente faria, fez com que um raiva, além da angústia, lhe subisse pela garganta. Ninguém iria mantê-la longe de Draco!

 

—       ME SOLTEM! – ela não soube de onde tirou forças para conseguir ser tão verbal naquele momento.

 

Seus três antigos amigos sentiram o angústia dela e ficaram estáticos por alguns segundos com a reação. O tempo foi o suficiente para que nem mesmo pensasse em hesitar. Abriu caminho por eles e saiu do quarto sendo guiada pela perfeita memória que tinha daquela casa. Seus pés avançaram pela madeira mal cuidada da casa, atravessou o longo corredor passando pela porta dos quatro quartos que ela se lembrara de ter restaurado antes de mostrar a Harry anos atrás. Desceu as escadas até o hall de entrada, cruzou a sala muito pouco iluminada e mobiliada. Cruzou com pessoas que ela pouco se importou em reconhecer. Entre a cozinha e a sala abriu a porta que dava para a escada do porão. Desceu quase tropeçando nos próprios pés seguindo a iluminação baixa do andar inferior. Sabia que estava sendo seguida pelos passos logo atrás dos seus, mas ela também pouco se importou. Seu coração batia forte contra o peito apenas com a ideia de que estava prestes a ver Draco. Ela só queria perguntar a ele “O que infernos aconteceu?”. Ele saberia responder. Ele sempre tinha respostas.

 

O porão estava definitivamente diferente. Quando estava preparando aquela casa para Harry, não havia se focado no porão. Agora ele parecia uma bagunça mais organizada, embora ainda estivesse uma grande bagunça. Alguém definitivamente conseguira trabalhar melhor na estrutura, para segurar os andares de cima, mas o trabalho ainda era muito amador. Ela ficou procurando pelas paredes de tijolo aparente e pelas estranhas divisões que não se fechavam a figura de seu marido.

 

Ele era tão familiar que não precisou dar mais de dois ou três passos para conseguir coloca-lo dentro de seu campo de visão. Ele estava tão fora de seu ambiente, tão fora de cenário, que foi difícil para Hermione entender como ele conseguia encaixar ali. Como era possível ele estar vivo e respirando ali? Não combinava com o que ele era.

 

Ficou sem reação quando os olhos dele encontraram o dela. Ele sentado naquele nicho na parede sem reboco, com o uniforme amassado, o cabelo desalinhado e os punhos presos por correntes que saiam direto da fundação de pedra no chão. Ela tinha que estar sonhando. Aquilo só podia ser um pesadelo. Tinha que acordar logo. Acordar em sua cama macia e quente com Draco ao seu lado e os filhos dormindo no quarto ao fim do corredor.

 

Cobriu a boca quando seus olhos embaçaram. Foi inevitável o nó em sua garganta. Foi quase incontrolável e por um segundo ela achou que não conseguiria segurar e cairia aos prantos sem forças ali mesmo. Será que aquele era o fim deles? Ela sabia que não era, Malfoys nunca caíam, mas ainda assim, parecia que não podiam ir mais fundo do que aquilo.

 

Mas ela não queria chorar. Não iria chorar. Era agora que ela precisava ser forte. Era exatamente agora que Draco esperava que ela fosse forte. Precisava ser. Se eles estivessem todos juntos, Draco, ela, Scorpius e Hera não havia o porque de não ser.

 

Foi até ele. Ele levantou para recebê-la. Ser envolvida pelo calor do corpo dele, pelo cheiro dele, foi como deitar em sua cama depois de um dia cansativo. Ela encolheu-se contra ele, descansou o rosto em seu peito e inalou seu cheiro. O cheiro dele junto com o cheiro de sua casa junto com o amaciante que usava para limpar as roupas junto com o conforto que tudo aquilo lhe trazia. Ele a abraçou como se estivesse segurando um pedaço de si mesmo que perdera e acabara de encontrar.

 

—       Não precisa ser forte agora, Hermione. – ele falou muito baixo em seu ouvido, como se quisesse ter o poder de levá-los para um lugar onde só existisse os dois, como se estivesse extremamente incomodado que não estavam sozinhos, como se quisesse mostrar que ela era dele.

 

—       O que aconteceu? Por que estamos aqui? Onde está Scorpius? O que vai acontecer com Narcisa? A poção funcionou em você? Por que Hera não está com você? Por que te acorrentaram? O que vai acontecer agora? – ela não queria soltá-lo. Não queria soltá-lo. Não queria que fossem separados nunca mais.

 

—       Hei. – os dedos dele em seu cabelo foi como uma boa massagem. – Eu acredito que o que precisa fazer agora é descansar. Eu conseguia te escutar o tempo todo, Hermione. Você precisou ser forte por muito tempo. Quero que descanse. Hera está aqui. Eles não me deixam tê-la por que precisam me manter presos aqui por motivos óbvios. Pode acontecer o que for eu sempre serei o rosto do exército que os derrubou.

 

—       Eu preciso de respostas, Draco. – Precisou encará-lo. – Eu estou completamente cega aqui desse lado vivendo um caos.

 

—       Estamos trabalhando em cima do plano C, Sra. Malfoy. – seus olhos foram direcionados para um figura presa a parede assim como Draco não muito longe dele. Era Devon. Não muito mais distante dele havia uma mulher que ela reconhecia ser do tão exclusivo esquadrão da zona sete. Seu nome era Denna. – Nós vamos conseguir movê-los para casa assim que as coisas estabilizarem, o que creio que será logo. Por enquanto o melhor local para estarem é aqui. Tem sido um ponto cedo no espelho do exército e de Voldemort por um bom tempo graças a você mesma e o trabalho que fez aqui.

 

Hermione pulou os olhos de volta para Draco.

 

—       Onde está Scorpius? – era a única resposta que precisava ter naquele momento se Hera estivesse mesmo ali com eles.

 

Draco suspirou. Hesitou por um segundo mas respondeu:

 

—       Scorpius está com minha mãe, Hermione. Ela vai cuidar bem dele, você sabe que ela sempre cuidou. Nós vamos tê-lo de volta logo, assim que tudo estiver mais estável. Precisa descansar agora. Realmente precisa. Você não tem ideia do esforço que fez.

 

Hermione encarou bem seus olhos. Draco era um bom mentiroso. Na verdade, ele era um excelente mentiroso. Mas ela aprendera a olhar através da mentira dele. Ela já o conhecia bem o suficiente para conseguir saber quando ele estava usando máscaras e ali, ele não estava, até porque ela duvidava muito que ele mentiria para ela sobre aquilo. Draco nunca a julgou frágil o suficiente para aguentar alguma verdade, mesmo que fosse sobre os filhos, mesmo que ela estivesse como estava naquele momento.

 

—       Ah! SÉRIO? – Denna manifestou-se irritada presa onde estava. – Será que isso já não é prova o suficiente de que não somos um perigo? Será que pode nos tirar das correntes? – ela balançou o metal pesado.

 

Hermione olhou por cima dos ombros a plateia logo atrás dela. Harry, Rony, Sr. Weasley, Neville, George, Bill, Luna, Tonks e mais outras cabeças que ela bem conhecia. Todos eles estavam estáticos encarando o teatro que assistiam muito confusos. Hermione apertou os olhos voltou-se para Draco novamente. Ele sentiu a reação dela imediatamente.

 

—       Tudo bem. Você não precisa lidar com eles agora nem nunca se quiser. Não precisa justificar ou explicar nada. Nós vamos ficar aqui em baixo pelo tempo que for necessário. Eu realmente quero que você descanse.

 

—       Eu não consigo descansar, Draco. – embora sentisse que cairia morta de cansada em qualquer lugar que encostasse. – Preciso ver... – calou-se quando escutou o som abafado de uma voz fina descendo pela escada do porão logo atrás dela. Ela reconheceria aquele vozinha mesmo se estivesse á um quilometro de distância dela. Aquele pequeno chorinho de assustada, mas quieto o suficiente para evitar escândalo. Aquela era Hera. – Hera! – perdeu a respiração.

 

—       Ufa. Não sabia que vocês estavam todos aqui. – soltou a Sr. Weasley emergindo da caixa do hall da escada.

 

—       Meu bebê. – Hermione soltou por debaixo da respiração correndo para alcançar sua filha.

 

No segundo que os olhos cinzas de Hera colaram nela, sua expressão confusa e assustada se abriu. Hera estendeu os bracinhos e desesperou-se por não estar nos braços de Hermione. Começou a pular e chorou até Hermione alcança-la. As bracinhos da filha agarraram-se ao seu pescoço com tanta firmeza que o coração de Hermione partiu ao meio. O peso da filha quase a levou ao chão e quem apressou-se para servir-se de apoio foi Harry.

 

Hermione a confortou e sentiu os olhos se enxerem de água novamente apenas por imaginar o que a filha passara longe dela. Nenhum de seus filhos era acostumado com estranhos. Hermione contava nos dedos as vezes que saíra de casa acompanhada de seus pequenos. Hera chorou contra ela. Provavelmente descarregando todo o susto que passara.

 

—       Tire as correntes deles. – Hermione pediu a Harry.

 

Harry hesitou. Ele parecia quase sem cor.

 

—       Hermione... eu... – perdeu-se em seus próprios pensamentos por um segundo. – Eu não... Nunca pensei que fosse pensar ou sequer imaginar isso mas... Eu não sei se confio em você.

 

Hermione o encarou. Encarou aquele que fora seu melhor amigo durante os melhores anos de sua vida. Aquele com quem ela compartilhou tanto. Tanto de si, de seu coração, de seus sentimentos, de seu tempo, de suas felicidades, angústias, vitórias, carinhos, decepções... Aquele por quem ela quase dera a vida, agora dizia que não sabia se conseguia confiar nela.

 

—       Tem medo de mim porque agora sou mãe? – aquilo a irritou.

 

—       Não tenho medo de você. – ele mostrou o tanto que aquilo lhe doía. – Estou apenas... desapontado. Sra. Malfoy. – afastou-se dela. – Podem tirar as correntes deles se quiserem. – bateu no ombro de Arthur Weasley e sumiu pelas escadas.

 

Hermione sentiu um pedaço de seu coração deixando-a.

 

**

 

Depois que as poções que Neville dera a ela perderam o efeito ela simplesmente não teve outra opção a não ser desmaiar completamente sem forças. Ela tentou lutar como seu pequeno bebê Scorpius sempre fazia quando algo não parecia correto dentro da metódica rotina de seguiam toda noite.

 

Tentou acordar. Realmente tentou. Parecia que havia uma força que a impedia de abrir os olhos. Foi como estar presa em um ciclo que se repetia várias e várias vezes por várias e várias horas onde ela se via a ponto de conseguia acordar mas era arrastada novamente para um sono eterno.

 

Quando finalmente conseguiu abrir os olhos esforçou-se para não dar nenhuma piscada longa demais com medo de ser arrastada novamente para o mundo dos sonhos. Notou que ainda estava na ordem, o que lhe fez cair a ficha da realidade e dos últimos acontecimentos rápido demais.

 

Dessa vez estava em uma cama diferente embora o quarto não fosse muito menor   que o que estava antes com Neville quando tentara lutar contra a marca que ela não conseguia mais achar no braço. A janela era menor e estava coberta pelas tábuas de madeira que impediam de ver a paisagem do lado de fora. Ainda assim as luzes vindas das frestas parecia mais clara o que a fazia imaginar que talvez fosse dia. Ela não tinha a menor noção de tempo. Neville havia lhe dito que lutara contra a magia da marca por quase um dia inteiro, o que lhe havia tirado toda a energia do corpo. Mas depois do longo sono que teve, ela não conseguia imaginar quanto tempo havia se passado.

 

Estar naquela cama estranha lhe trazia milhões de sensações ruins. Ela se lembrava da primeira noite que tivera na cama de Draco, na época, logo quando se casaram, era apenas a cama dele, a cama de um homem estranho. Ela tinha mil motivos para ter tido a pior noite de sua vida ali, mas o luxo que a envolvia a tratou tão bem que foi como um pingo de água doce no deserto. Agora voltar a deitar no comum tecido de algodão era como ter uma coroa arrancada de sua cabeça.

 

Empurrou as cobertas engomadas para longe do corpo e sentou-se. Estava vestida apenas com suas peças íntimas. Seu corpo ainda estava dolorido, mas tinha suas forças recuperadas. Sua cabeça doía. Olhou para o braço novamente e não encontrou nenhuma marca ali. Ela ainda não conseguia acreditar. Tinha que existir algo errado ali. Ela não podia simplesmente se livrar daquela magia negra sem pagar nenhum preço muito caro por isso.

 

No momento que jogou os pés para fora da cama a porta do quarto se abriu e Luna apareceu carregando uma bandeja e uma pilha de roupas. Luna travou ao vê-la acordada. As duas encararam-se por um bom tempo em silêncio.

 

—       Neville disse que você ainda demoraria mais para acordar. – ela parecia incerta do que falar, mas sua voz doce e cantada foi confortante assim como o pequeno sorriso que abriu no final. - Trouxe umas poções que podem ajudar com dores no corpo e umas roupas que podem te servir.

 

—       O que aconteceu com minha roupa? – perguntou e notou que quase não tinha mais voz.

 

Luna apenas apontou para um divã logo abaixo da janela assim que colocou a pilha de roupas na cama e a bandeja na cabeceira. Seu vestido estava ali assim como seus sapatos.

 

—       Esquentei uma água mais cedo e coloquei umas toalhas limpas para você caso queria se limpar. – Luna apontou para um móvel encostado na parede onde tinha uma jarra e uma bacia de cerâmica não muito grande com água e uma pilha de toalhas logo ao lado. – Não é nenhuma banheira de luxo, mas acho que ainda se lembra de como costumávamos viver, não é mesmo?

 

Hermione sentiu Luna sondar uma antiga ferida.

 

—       A vida não fica mais fácil só por causa de uma roupa mais cara ou um acessório luxuoso, Luna. – Hermione levantou-se e foi direto até o seu antigo vestido. – Por quarto tempo dormi? – perguntou analisando o estado da peça de roupa. Ela não imaginava que houvesse sido capaz de causar tanto estrago.

 

—       Umas doze horas. – ela se esforçou para saber se o que estava falando realmente fazia sentido enquanto colocava o que trouxera em cima da cama. – Malfoy ficou um bom tempo trancado no escritório lá debaixo com o pessoal dele e sua filha. Acho que ela está dando um pouco de trabalho. Não sei. Eu até entendo. Ela é só um bebê. Nós não estamos acostumados a ter criança por perto. – ela disse. – Ele veio aqui checar você algumas vezes, mas é difícil ler o que está se passando na cabeça dele. Malfoy parece ser uma escultura indecifrável. Ele e Harry conversaram algumas vezes mas parece que quanto mais conversam mais ódio criam. Harry disse para a gente que precisam dele porque ele é o nome que carrega a profecia e que por causa disso não se importam com o resto, que somos nós. Eu sei que Harry está com raiva e tudo mais, mas desculpa, Hermione, é difícil acreditar ou dar qualquer crédito a Draco Malfoy. E eu só estou pedindo desculpas porque me parece que você e ele tem uma relação muito diferente agora do que a que eu me lembro antes.

 

—       Realmente temos. – foi tudo que ela disse estendendo o vestido sobre a cama para analisar o que poderia fazer para restaurá-lo de volta a sua glória original. Não tinha tempo para Luna. Não tinha tempo para ninguém da ordem. Eles nunca entenderiam o que ela era agora. Eles nunca entenderiam o que era importante para ela agora. E para ela, era melhor que realmente continuassem a não entender porque se eles soubessem que ela não hesitaria em colocar a vida de sua família na frente da vida de cada um deles, ela ficaria ainda mais sem reação tendo que encará-los.

 

O silêncio foi incomodo entre as duas. Hermione apenas procurou por sua varinha e a encontrou na cabeceira da cama. Começou a concertar os pequenos rasgados do vestido e restaurar as costuras abertas. Luna, sem jeito, limpou a garganta e bem devagar fez seu caminho de volta a porta.

 

—       Não vai querer as roupas que trouxe? – ela perguntou receosa.

 

Hermione olhou as roupas dobradas que ela havia colocado sobre a cama. Uma calça jeans e um suéter daqueles feitos pela Sra. Weasley. Por um rápido segundo ela quase se viu fazer uma careta para aquelas roupas, mas percebeu rápido demais que aquilo era errado. Soltou o ar e encarou seu vestido.

 

—       Obrigada, Luna, mas acho que posso arrumar meu vestido. – não quis desmerecer o ato dela nem ser arrogante.

 

Luna apenas assentiu. Abriu a porta para deixa-la, mas parou, pensou e tornou a voltar-se para Hermione.

 

—       Eu tentei esconder deles o máximo possível sobre você e Malfoy e tudo o que Voldemort queria de você. Não que tenha sido realmente difícil. O mundo do lado de cá... digo, o Profeta Diário, sempre foi muito restrito pelo Ministério sobre o que publicar ou não e você mesma sabe que o Profeta Diário, depois da tomada do Ministério, só publica sobre reformas nas leis, restrições e proibições e sobre as conquistas do Império. O máximo de informação que chegou até nós foi de que Draco Malfoy não era mais solteiro, isso depois de um bom tempo que eu já havia voltado. Você bem sabe que nossos infiltrados nunca conseguiram ir muito além do ponto de arriscarem a liberdade para terem a Marca Negra. Sabe que sempre recrutamos mais pessoas assustadas do que dispostas a lutar. Não foi difícil manter em segredo o que me pediu para fazer. Não foi difícil nem nunca se tornou difícil. O que acontecia em Brampton Fort sempre ficou entre os fortes, entre os aliados do Império, entre aqueles que possuíam a marca e entre os vilarejos fechados que entravam para lista de protegidos. Do lado de cá nós só vivíamos o medo e a perseguição. Éramos minoria mesmo, não acho ninguém nunca se fazer com que informações chegassem até nós. Nem mesmo depois da queda da Ordem da Fênix. Os Comensais que vinham até nós por causa do acordo entre Harry e Malfoy nunca abriam a boca além daquilo que precisava ser dito. – ela suspirou. - Eu estou dizendo tudo isso porque eu sei que não está querendo lidar com o quanto estão todos espantados por vê-la não só casada com Draco Malfoy, mas sendo mãe dos filhos dele também. Eu sei que não está querendo se focar nisso sendo que tem problemas maiores, mas quero que entenda que até o momento em que aquele povo te jogou aqui dentro e sumiu, para nós você era uma parte da família perdida do outro lado. Nós nunca deixamos de nos preocupar com você, de nos importar com você, mesmo tendo apenas a única e mínima informação de que estava viva. Essa era a única informação que nos bastava para que continuássemos torcendo por você.

 

Hermione encarou seu vestido em silêncio enquanto era obrigada a engolir aquelas palavras. Sentiu um peso enorme sobre seus ombros. Ela não queria ter que lidar com aquilo. Era a última coisa que ela queria ter que lidar naquele momento.

 

—       Vocês deveriam ter me esquecido. – encarou Luna sem receio.

 

Luna puxou o ar um pouco ferida pela atitude que recebera de Hermione.

 

—       Bem, então talvez você tenha que engolir que nós nunca deixamos de ser sua família, independente do que aconteceu com você do lado de lá. Eventualmente você vai ter que lidar com todos nós. – ela saiu e bateu a porta.

 

Hermione soltou o ar tensa. Passou as mãos pelo rosto. Ela tinha que estar em um pesadelo. Tinha que estar sonhando. Aquilo não podia estar mesmo acontecendo.

 

Enquanto não acordava, precisava seguir vivendo naquela terrível situação. Foi até o móvel próximo a parede, puxou uma das toalhas, molhou-a na água do prato fundo de cerâmica e começou a limpar-se da melhor forma possível. O espelho ao lado encostado também na parede havia sido aumentado por magia. Era notório a distorção nas extremidades. Lavou o rosto tirando todo resquício de maquiagem. Tomou as poções que Luna havia trago e sentiu a melhora na dor dos músculos quase que imediatamente.

 

            Vestiu seu vestido e quando olhou-se no espelho sentiu-se arrumada demais. Olhou novamente para a o jeans e suéter deixados por Luna. Olhá-los foi suficiente para desconsiderá-los novamente. Ela não vestiria aquilo se tivesse outra opção, e tinha. Tinha que encontrar um jeito de deixar aquele vestido menos arrumado. Puxou um alto rabo de cavalo mais bagunçado e permitiu-se ficar sem seus sapatos. Aquela casa podia ser velha e mal cuidada, mas se a Sra. Weasley estivesse ali ela podia ter a certeza de que tudo estaria impecavelmente limpo.

 

Deixou o quarto do fim do corredor de rosto limpo, em seu rabo de cavalo, vestido caro e descansa. Nada muito diferente de sua versão fim do dia, pós-Catedral, pré-banho/jantar. Era exatamente daquela forma que Draco a via quando chegavam da Catedral e ela tinha que verificar se o jantar estava de acordo com o planejamento da semana, se Hera e Scorpius estavam bem, se havia algo na casa de poções que ela precisava trabalhar ou organizar antes de fechá-la para o dia seguinte.

 

Enquanto descia as escadas, escutava cada vez com mais clareza o cochicho que vinha da cozinha. Ela parou no hall da escada podendo ver pela entrada da sala até a cozinha. Rony, Luna e Neville de pé, Harry sentado na mesa de jantar logo ao lado deles. Não parecia nada contente.

 

—       ...eu disse para você que ela havia se casado com ele! Você quem não acreditou! – Luna dizia para Rony.

 

—       Eu achei que você estivesse brincando. Foi uma vez! Quem no mundo iria acreditar, Luna? Ainda mais vindo de você! Sem ofensas, mas você sabe bem que as vezes diz coisas que parecem vir de marte! – Rony retrucou.

 

—       Ainda assim, mesmo não tendo acreditado nisso, eu nunca deixei de dizer, mil vezes, o quanto aquele lugar é capaz de te mudar. Vocês sabem que me mudou, mesmo pouco tempo que fiquei lá, mesmo sendo uma prisioneira. Hermione mudou. Há quantos anos ela está lá? Seria impossível não ter mudado. É estúpido de vocês julgá-la por isso.

 

—       Eu não me importo que ela tenha mudado. Todos nós mudamos. Não estou a julgando. O meu ponto é saber quem ela é, porque ela não me parece estar disposta a nos mostrar. – Neville apontou.

 

—       Não importa quem ela seja. – Harry manifestou-se. Aquele tom de voz era de um Harry ferido e irritado por isso. – Ela disse que deveríamos ter esquecido dela. Talvez seja bom fazermos isso agora. – ele se levantou e foi quando se levantou que seus olhos caíram sobre ela, de pé no hall da escada. Harry travou os olhos nela e Rony, Luna e Neville fizeram o mesmo quando perceberam a atitude dele.

 

O silêncio entre eles foi quase insuportável.

 

—       Seu pessoal está no final do corredor. – Luna tomou a frente cortando o silêncio com muito cuidado.

 

Hermione direcionou seu olhar especialmente a Harry. Céus! O olhar dele lhe doía tanto. Eles nunca entenderiam. Nenhum deles jamais entenderiam o que ela havia passado. Ela não precisava nem mesmo gastar sua saliva tentando fazê-los entender. Deu as costas e seguiu pelo hall, passou a escada e armários de estoques que com certeza haviam sido restaurados.

 

A porta do escritório também havia sido restaurada porque Hermione se lembrava de tê-la deixado em destroços. Empurrou a porta de madeira e viu um cômodo que claramente havia sido ampliado por magia. Não era nada muito grande, mas Hermione se lembrava dele ser muito menor. Draco e Devon estavam ali e pausaram algum tipo de discussão no momento que ela entrou. Draco tinha Hera no colo. Ele estava novamente alinhado em sua roupa cara. Os botões fechados, a fina gravata bem atada, o cabelo penteado e a postura feita. Nada do que ela se lembrava ter visto no porão daquela casa havia algumas horas. A filha colocou os olhos sobre ela primeiro e começou a pular feliz. Draco virou-se e sua falta de reação mostrou a ela o quanto ele estava precisando se concentrar para lidar com tudo aquilo. Hermione sentiu seu coração aquecer quase que no mesmo segundo apenas por estar próximo a ele.

 

—       Vou dar a vocês dois tempo para conversar. – Devon apressou-se a dizer quando Draco passou a filha para seu colo.

 

Devon a seguiu fazendo uma pequena reverência a Hermione e a Draco antes de sair. Hera deitou a cabeça em seu ombro e se agarrou a mãe de uma forma que cortou o coração de Hermione mais uma vez.

 

Logo que ficaram a sós o silêncio caiu sobre eles esmagadoramente. Hermione apenas apegou-se a filha enquanto via Draco meio que sentar meio que se encostar em uma mesa onde havia um monte de pergaminhos abertos. Ele não a encarava diretamente, mesmo que ela estivesse logo a frente dele.

 

—       Isaac está trabalhando para nos manter em contato com tudo que está acontecendo em Brampton Fort. – Ele começou explicando.

 

Ela não queria saber daquilo.

 

—       Scorpius est...

 

—       Scorpius está com minha mãe. – Draco a cortou. Ele soltou o ar como se estivesse aborrecido com aquilo. – Ele está bem. O dois estão bem. Eles estão em uma torre na Catedral. Voldemort quer ficar de olhos nos dois. Ele precisa de minha mãe para cuidar bem de Scorpius já que Bellatrix está tentando se manter viva depois do que aconteceu. Minha mãe não quis deixar Brampton Fort quando mandei que a buscassem. Ela não queria deixar meu pai lá. Ela sabia o que estava acontecendo. Sabia que não iria poder voltar por um tempo bem indeterminado. - Narcisa tinha a proteção de Bellatrix e Lúcio. Mesmo que os dois estivessem em um péssimo estado agora, Voldemort colocava a mão no fogo pela lealdade de Bellatrix e Lúcio. Ela duvidava que Voldemort tinha qualquer suspeita sobre Lúcio. Ele jogava muito bem porque não se importava em ser cruel. – Denna está cuidando das chaves de portal que vão nos levar para casa. Devon está se comunicando com Fox para saber quando nossa propriedade vai estar segura o suficiente para podermos ir para lá. Eles vão precisar de você para verificar a magia de segurança das fronteiras. Theodoro e Voldemort pensam que já estamos na casa e eles vem tentando forçar uma entrada com o restante do exército bem dividido que Voldemort colocou nas mãos dele. Potter vai precisar ir conosco. Preciso que você o convença a fazer isso. Enquanto isso só...

 

—       Draco! – Hermione precisou interrompê-lo. Ela não se importava com nada daquilo. Na verdade, importava-se sim, mas não era sua prioridade. – Scorpius. – ele era sua prioridade. – Quando vamos ter Scorpius?

 

O marido soltou o ar. Encarou-a. O silêncio caiu esmagador sobre eles novamente. Draco não conseguiu encará-la por muito tempo.

 

—       Eu não sei. – disse baixo.

 

Hermione esperou. Esperou que ele fosse dizer algo a mais. Algo que fosse tranquiliza-la. Algo com mais consistência, mais forma, mais sentido. Esperou que ele fosse soltar pelo menos um “mas...”. Esperou que ele ao menos complementasse aquele simples “não sei” com algum tipo de previsão. Qualquer tipo de previsão! Mesmo que fosse uma previsão que eles nunca fossem alcançar. Mas Draco simplesmente não disse absolutamente nada após aquilo e a cada segundo que o relógio batia e a boca dele se mantinha fechada, ela sentia que iria começar a hiperventilar.

 

—       Por favor, me dê outra resposta. – ela sentia sua voz falhar.

 

Ele sacudiu a cabeça. Tornou a encará-la.

 

—       Eu queria poder, Hermione. – ele mostrou o tanto que aquilo estava o afetando. Mostrou a dor em seus olhos. Mostrou a angústia em sua voz. – Como acha que eu me sinto? Ele é tanto meu filho quanto seu. Como acha que me sinto tendo que te segurar aqui quando sei que esse é o último lugar que gostaria de estar agora? Como acha que me sinto vendo Hera assustada? Como acha que me senti vendo que aquilo que esperava acontecer de uma forma tomou um caminho completamente diferente? Como acha que me sinto comigo mesmo de me ver tão miseravelmente frágil por me importar tanto com você, com Hera, com Scorpius, com minha mãe... – ele abaixou a cabeça soltando o ar cansado e massageou o canto interno dos olhos com a ponta dos dedos como se estivesse tentando lidar com uma dor de cabeça. – Como acha que me senti tendo que te escutar por quase um dia inteiro lutar contra a marca? Foi difícil me fazer não duvidar por um segundo sequer que você, sendo quem é, não fosse ser capaz de vencer a magia dele. Eu não poderia me dar o luxo de me deixar aceitar que eu tivesse a chance de te perder, porque não sabia se conseguiria ser forte para os nossos filhos se isso acontecesse. Eu sei que teria, mas não sei se conseguiria. Céus... – ele cobriu o rosto e passou os dedos por entre os cabelos. – Como que consegui me fazer ter tanto a perder em tão pouco tempo? Eu não consigo raciocinar, não consigo me prender a razão quando você ou Scorpius ou Hera ou minha mãe estão em jogo. Tudo está diferente agora. Não é como se eu tivesse perdido uma batalha e tivesse que me reerguer... – soltou o ar frustrado e calou-se.

 

Ela conhecia aquele Draco. Ele tentava dar nome para tudo que estava acontecendo dentro dele, mas não era capaz. Aquele Draco pouco se mostrava para ela. Aquele Draco era humano demais, frágil demais, perdido demais e ela o admirava porque sabia que embora ele estivesse vivendo todo aquele furacão, sabia que ele colocava sua devida máscara de general para lidar com Devon, Denna e tudo que estava acontecendo e iria acontecer.

 

Aproximou-se sem saber o que realmente sentia. Queria poder ser compreensível naquele momento. Queria poder entender que aquilo era extremamente difícil para ele, que Draco Malfoy estava lidando com algo que ainda mal sabia o que era, que ele nunca vivenciara o valor que o afeto tinha, o valor que chegava a um nível que era novo demais para ele. Queria não se sentir magoada por saber que ele culpava sua fragilidade no que sentia por ela e pelos filhos. Porque apesar de tudo, ele era Draco Malfoy, e fragilidade no cérebro dele era fraqueza. Fragilidade era para humanos e ele estava sempre a um nível acima dos humanos porque ele era um Malfoy, não qualquer um. Ela queria compadecer-se dele. Mas não conseguia.

 

—       Hey... – não sabia ao certo que tom usar. – Hum... – não sabia o que falar.

 

Draco respirou fundo.

 

—       Vamos lidar com isso depois. – Ele não deu espaço para que ela falasse e honestamente ela se sentiu agradecida por isso. – Não temos tempo para o que eu penso ou para o que qualquer outra pessoa pensa. Não enquanto estamos aqui.

 

Hermione apenas se afastou.

 

—       Quando foi a última vez que Hera comeu? – sua voz saiu estranhamente baixa. Havia algo que a incomodava com relação a Draco. Ela estava tentando entender o que era.

 

—       Faz uns trinta minutos. A mãe dos Weasley tem se dedicado bastante a ela. Conseguiu fazer com que Hera dormisse por um tempo, mesmo assustada.

 

—       Molly Weasley? – Hermione as vezes esquecia-se que Draco tinha aversão as pessoas que residiam naquela casa. - Pode chamá-la de Sra. Weasley. – sabia que Draco não iria chamá-la assim.

 

Sentou-se sobre um tapete nada macio estendido no chão próximo a uma pilha de cadeiras que bloqueava uma lareira. Tentou distrair a filha o máximo possível para fazer com que ela sentasse assim como ela. Precisava ensinar a filha de que não iria embora, de que não iria abandoná-la e de que por mais que o lugar fosse diferente, ela não precisava ficar assustada porque seus pais estavam ali e não iriam para nenhum outro lugar sem ela.

 

—       Estamos esperando uma resposta de Fox. A última que recebemos foi bem encorajadora. Minha mãe sabe dos espelhos que usamos para ficar de olho nas crianças. Podemos tentar contato com ela quando formos para casa. – Draco quebrou o desconfortável silêncio. – Também temos mantido um contato constante com o chefe de acampamento de Godric’s Hollow. Ele deve a vida a mim depois que Voldemort quis acabar com a carreira dele quando Godric’s Hollow foi tomada quase dois anos atrás...

 

—       Você nunca me disse que tínhamos a chance de pararmos aqui. – ela cortou o marido. Não queria encará-lo, mas sentiu a dúvida que surgiu na cabeça de Draco pela pausa que ele deu.

 

—       Eu sei que estar aqui não a agrada nem um pouco, Hermione. Acha que eu também estou contente? – ele foi ácido para responder o tom sério dela.

 

—       Você nunca me disse nada. Esse é o ponto. – ela ergueu os olhos para encará-lo. – Eu me pergunto qual era a porcentagem de chance de que acontecesse o que aconteceu que estava na sua cabeça quando saiu de casa aquela manhã para a Catedral.

 

—       Não finja que não sabe dos riscos que corríamos, Hermione! Eu havia dado um discurso público no dia anterior que obviamente foi engolido como uma exigência de Voldemort e exatamente por isso que ninguém daquela público ativista deixou a porta de Catedral! Meu exército estava divido! Voldemort iria enxergar a ameaça de termos quase o Império inteiro do nosso lado mais cedo ou mais tarde! Por que eu deveria ter comunicado isso a você? Sempre soube disso!

 

—       Nós não estávamos esperando isso! Eu não estava esperando isso, Draco!

 

—       E você acredita que eu estava? Acredita que eu esperava ser chamado para o gabinete de Voldemort aquele dia para receber a notícia de que ele estava preparando uma cerimônia para dentro de algumas horas para tomar Scorpius como propriedade e que Snape ainda estava estudando a nível de ligação entre Scorpius e Hera para poder considerar a possibilidade de eliminá-la? O que acha, Hermione? O que você acha? Scorpius e Hera acabaram de fazer onze meses. Nós ainda tínhamos tempo. Planos dão errado o tempo todo. Isso é uma guerra! Não comece a agir como se não reconhecesse o campo onde sempre pisou! – o tom de voz dele a irritava.

 

—       Esse não é o ponto! – Hera começou a se mostrar nada confortável. - O ponto é que você chegava em casa todos os dias com a boca calada, jantava e ia para a cama como se estivesse por cima de tudo, com tudo muito bem supervisionado e administrado me deixando em um limbo onde tudo que eu podia fazer era confiar em você.

 

Draco visivelmente se enfureceu ao escutar aquilo.

 

—       Abra a boca agora e me diga o momento em que eu fui para cama e dormi como nunca havia dormido na minha vida antes por ter tudo sob o mais perfeito controle? Abra a boca agora e me diga que noite foi essa? Abra a boca e me diga qual noite que eu não passei me virando na cama me perguntando quando eu conseguiria pegar no sono? Você estava lá. Todas as noites. Do meu lado. Me diga qual foi a noite!

 

Hermione enfureceu-se tão igualmente por ele não estar entendendo o que ela estava tentando trazer a luz ali.

 

—       Você estava fazendo um trabalho difícil! Sempre fez! Não me lembro te ter te visto algum dia dormir como alguém que faz tudo que faz deveria! – Hera definitivamente estava chorando.

 

—       Então do que infernos está me acusando?

 

—       De não ter dito nada! De não ter me deixado saber que isso aqui era uma chance!

 

—       Eu nunca te escondi nada!

 

—       Mas nunca disse nada!

 

—       Que inferno, Hermione! Por que está me acusando? - Porque ela precisava acusar alguém! Será que ele não entendia? – Você sempre soube que nunca estivemos imune a nada! Estávamos tentando viver como se tudo estivesse bem, mas eu não sabia que havia se iludido ao ponto de acreditar estávamos livres de toda ameaça que carregamos!

 

Devon bateu na porta e abriu com cuidado interrompendo Draco.

 

—       Talvez fosse interessante que selassem a acústica do cômodo. – Devon foi muito cuidadoso com seu tom de voz. – Tenho quase certeza de que uma boa parte da casa consegue ouvi-los. – Hermione fechou os olhos enquanto soltava o ar frustrada. A verdade era que não se importava que os escutassem. Ela pouco estava se importando que Hera estivesse ali. – A Sra. Weasley está se oferecendo para ficar com o bebê.

 

Hera chorava sobre o tapete confusa e assustada. Eles não brigavam em frente aos filhos. Mesmo que fossem bebês. Mesmo que não conseguissem entender. Eles nunca, nuncan.u.n.c.a discutiam perto de Scorpius e Hera. Podia ser o problema que fosse, a emoção que fosse, a raiva que fosse, nunca concordaram em permitir expor os filhos aos defeitos do relacionamento dos dois.

 

—       Tudo bem, Devon. Obrigada. – Hermione disse tornando a pegar a filha no colo.

 

Devon assentiu com a cabeça quase que em uma pequena reverência e deixou o escritório batendo a porta com muito cuidado. Hermione tentou procurar por qualquer sinal de cochichos do outro lado da porta. Não ouviu nada.

 

Draco soltou o ar irritado. Deu a volta na mesa e começou a abrir as gavetas e armários dos poucos móveis ali como se estivesse procurando por algo. Hermione sabia o que ele estava procurando. Sabia do que ele precisava naquele momento porque não era inverno e ele não podia ficar do lado de fora congelando os pensamentos.

 

—       Eles provavelmente não tem álcool aqui. – ela comentou. – E não quebre nada. – ela retrucou no mesmo humor quando ele fechou com força uma das gavetas.

 

—       Cale-se, Hermione! – ele foi ríspido. – Não me diga para não quebrar algo quando está visivelmente a beira do choro! – passou a mão pelos cabelos. Hermione tomou consciência de que sua garganta estava apertada e seus olhos ardiam. – Quer saber? Talvez seja isso que estamos precisando. Talvez eu somente precise quebrar algo e você somente precise chorar! Certo? – Deu as costas respirou fundo tentando engolir tudo aquilo. – Eu nunca esperei que você fosse estar ao meu lado na Catedral vinte e quatro horas por dia depois que Scorpius e Hera chegaram. Eu gostava de te ver empenhada em ser a mãe dos nossos filhos, Hermione. Sei que era isso que queria. Eu assumi o papel de me responsabilizar por toda a ameaça que nos envolvia. E pensei que estávamos bem com isso. Pensei que estávamos bem assim. Eu não queria chegar em casa e ter que te passar toda uma pauta sobre a divisão que eu fingia não existir em meu departamento, sobre os rumores que eu fingia não saber, sobre a corda bamba que tentava me equilibrar com Voldemort, sobre a pressão da mídia sobre a Catedral e como isso nos afetava, sobre eu estar tentando nos tirar da prisão de Brampton Fort da forma mais sutil e desavisada possível. Eu queria chegar em casa e ter você, ter meus filhos, ter o calor que eu nunca tive. Eu queria estar no nosso refúgio. Queria escutar de você e ver dos nossos filhos aquilo que havia perdido sobre eles durante o dia. Eu queria apenas estar em casa. – suspirou cansado. – Apenas. – voltou-se para ela novamente. Sentou-se cansado no chão encostando-se na parede. Era estranho parar Hermione vê-lo exausto daquela forma. Ele parecia completamente sem energia e ainda assim, de uma maneira muito esquisita, parecia determinado, era como se ele estivesse lutando bravamente para se manter determinado. – Não é isso que devíamos estar discutindo. Sabe disso. Existem mil outras formas de ter sido diferente e nenhuma delas poderia nos garantir que não iríamos parar aqui.

 

Ela fechou os olhos abraçando a filha que só agora parecia mais calma. Hera era independente e muito apegada a Draco, conseguia se ocupar sozinha e gostava de testar limites, portanto o fato dela estar segurando a mãe como se ela fosse o pequeno cobertor que não podia faltar em seu berço todas as noites a preocupava, porque sabia que aquele terrível cobertor que todos os dias tinha vontade de jogar fora, trazia a sua pequena Hera uma segurança que não conseguia explicar. Ela não merecia estar passando por aquilo. Scorpius não merecia estar onde estava. Sem os pais, sob o domínio de Voldemort. Aquilo não deveria estar acontecendo.

 

Ela queria entender o que estava acontecendo dentro dela. Tudo estava uma bagunça em sua cabeça e ela abria a boca para cuspir aquilo que seu coração se enchia. Do que ela estava cheia? Porque tudo que havia feito até agora fora acusar Draco. Ela queria entender aquele terrível incomodo. Aquela agonia que a consumia e fazia sua garganta arder e seus olhos molharem. Que a fazia querer culpar algo, cuspir em algo, bater em algo, gritar, chorar...

 

—       Estou com raiva. – Isso. Era isso. Estava com raiva. Esse era seu sentimento predominante sobre tudo aquilo. – Estou com muita raiva. – apertou os dentes e respirou fundo. – Eu sempre soube que seria difícil. Nunca foi fácil. Desde o começo da guerra eu sabia que só ficaria mais difícil. – abriu os olhos para encarar o tapete onde estava. – Estou com raiva por saber que o refúgio que vivemos foi por tão pouco tempo. – Hera finalmente parou de choramingar. O silêncio caiu pesado entre eles por um bom tempo. Draco não se manifestou. – Cada vez tenho que sacrificar mais, dar mais de mim, rever cruelmente prioridades e ainda melhorar minha capacidade de superar com uma frieza dolorosa tudo que tenho que deixar para trás por causa das decisões que tomei. Eu não quero ter que chegar a conclusão de que nunca vai acabar.

 

E não iria. Ela sabia exatamente o que havia de errado ali. Sabia exatamente onde eles haviam errado. Sabia exatamente a raiz do problema. Mas ela queria tocar no ponto fraco deles. Não agora. Ela ainda queria tempo para sofrer pela família que eles tinham. Uma família que nenhum Malfoy tinha o direito de ter. Eles trocaram um olhar onde Hermione pode ler que o cérebro dele dava voltas.

 

—       Nós estamos errando em algo, Hermione.

 

Ela soltou o ar.

 

—       Sim. Estamos.

 

**

 

Havia sido informada que lutara quase um dia inteiro contra a marca em seu braço, depois dormira por quase dez horas seguida tentando se recuperar do trauma. O tempo que passara depois estava quase chegando a marca de meia semana e Hermione sentia como se fosse quase um ano inteiro. Usava magia para quase tudo. Nunca havia dependido tanto de mágica. Ao menos não se sentia muito diferente do grupo que se escondia ali porque se não fosse magia, nenhum deles viveria por muito tempo.

 

Ela se lembrava de depender bastante de magia quando estava com a Ordem da Fênix. A diferença de agora para quando era parte deles, era que 12 Grimmauld Place era quase uma corporação bem estruturada. Eles tinham quase um quarteirão inteiro seguro. Tinham pessoas, tinha equipamento, tinham estrutura. Eram fortes oponentes contra o império de Voldemort. O grupo que estava ali em Godric’s Hollow agora, na casa dos pais de Harry, nada mais eram do que ratos assustados em uma toca torcendo para que ninguém encontrasse o buraco por onde entraram. Viviam graças a magia. Se alimentavam por magia, tinham o que vestir graças a magia, e graças a magia tinham quatro paredes um chão, teto e móveis.

 

Draco e Hermione tinham muito mais conhecimento em magia do que muitos da Ordem juntos. Arthur Weasley era um construtor mediano que fora obrigado a aprimorar seus dotes amadores desde o casamento com Molly Weasley devido a péssima condição financeira da família. Ainda assim ele não conhecia as complexidades e maleabilidades da magia como Hermione. Ela se lembrava de andar pelos corredores em anexo na antiga sede da Ordem da Fênix concertando os erros estruturais de Arthur Weasley de maneira bem sútil com medo de ofendê-lo. Portanto, não foi nada difícil para ela abrir um cômodo apertado entre dois quartos do andar superior da casa dos pais de Harry em Godric’s Hollow para colocar um berço para Hera.

 

E mesmo que soubesse que o tempo deles ali estava contado, ela se dedicara em conjurar naquele espaço apertado e pobremente feito, um berço quase exato ao que ela tinha em casa e pequenos bichinhos de pelúcia como os que ela tinha. Hermione obviamente fora incapaz de alcançar a qualidade das coisas caras que tinha em casa, artistas e designers haviam se dedicado uma vida inteira para seres capazes de produzir os produtos na qualidade que ela comprara para o quarto dos filhos. Mas ainda assim dera o seu melhor para conseguir algum conforto para sua pequena bebê.

 

Eles já estavam ali há mais de 72 horas e ela só vira Draco dormir quando pediu para que ele tentasse fazer Hera dormir. Os dois acabaram tirando um longo cochilo no chão do pequeno cômodo que Hermione abrira para Hera sobre um colchão que ele conjurara logo ao lado do berço.

 

Era estranho viver daquela forma com o marido e a filha quando estava acostumada a ter tanto luxo ao redor deles. Sabia que faltava pouco para voltarem para um ambiente mais natural, um ambiente ainda mais luxuoso do que estavam acostumados na casa que tinham na Vila dos Comensais em Brampton Fort. Mais ainda assim era estranho e ela se sentia muito fora de habitat. Não conseguia imaginar como Draco se sentia se ela se sentia como se sentia.

 

Naquele exato momento ela observava Molly Weasley, sentada em uma poltrona ao lado do berço, fazendo Hera dormir. Hermione notava a técnica da mulher de pé do outro lado do quarto, com os braços cruzados encostada no vão da porta. Ela passava o dedo indicador pela testa e pelo nariz de sua filha muito suavemente e a cada vez que fazia o movimento, a exausta Hera ficava mais próxima de fechar os olhos. Toda vez que estava próxima a Sra. Weasley, tentava não pensar em Fred ou em Gina, ou no fato de ter sido responsável por entregar ao exército de Draco o segredo da magia de segurança da antiga sede da Ordem.

 

—       Você vai conosco? – perguntou depois que a filha dormiu nos braços da mulher. – Vou precisar de bastante ajuda com Hera.

 

Molly Weasley apertou os lábios expondo o quanto ficava desconfortável com aquele assunto.

 

—       Eu não acho que seu marido vai me querer na casa de vocês. – ela apenas disse.

 

—       Ele não quer. – Hermione não iria mentir. – Mas a casa não é só dele. E ele entende que Harry não vai a lugar algum se vocês não forem.

 

Molly continuou a passar os dedos pela testa de Hera muito suavemente mesmo que a menina já estivesse dormindo. Hermione não estava nem um pouco afim de abrir a porta de sua casa para o povo que ela havia traído. Ela não sabia se conseguiria lidar com isso. Mas era o que precisava ser feito já que Harry não estava comprando a ideia de deixá-los para trás, mesmo que isso custasse tudo que já havia sacrificado em nome de se livrar da maldição que o ligava a Voldemort.

 

—       Eu não acho que quero continuar lutando nessa guerra. – foi tudo que ela disse.

 

Hermione percebeu o quanto ela parecia ter envelhecido rápido com todo aquele caos. Ela parecia exausta. Parecia mais fria. Sem emoção. Molly era uma mulher eufórica, cheia de energia. Não culpava a mulher por vê-la naquele estado. Molly havia perdido mais do que estava disposta a perder inicialmente com tudo aquilo.

 

—       Se quer apenas se esconder, merece ao menos se esconder em um lugar melhor do que esse. – Hermione disse. Era a agenda que ela e Draco tinham agora: convencer todos a irem embora com eles, assim Harry os seguiria.

 

—       Quero ir para um lugar onde vou ser aceita.

 

—       Isso é uma guerra, Molly. Queira você luta-la ou não. As pessoas querem te matar. Precisa ir para um lugar seguro, não um lugar onde seja aceita. – Hermione só percebeu que havia sido fria demais com aquela afirmação quando terminou de dizê-la.

 

Molly Weasley a encarou por alguns segundos surpresa com o modo como Hermione soltara aquilo.

 

—       Estou pensando. Arthur e eu estamos pensando. – ela disse aquilo de forma muito cansada. Hermione percebeu que nem ela nem o marido tinham mais forças para lutar aquela guerra. Talvez eles estivessem bem ali naquela casa. Talvez quisessem ficar se escondendo ali até que a morte resolvesse finalmente sorrir para eles. – Sua menina é forte. – Molly comentou depois de um longo minuto de silêncio. – Ela lutou bravamente contra o sono.

 

—       Diz isso porque não conhece o irmão dela. – seu coração apertou ao dizer aquilo. – Ele não teria dormido de forma alguma.

 

Molly sorriu amorosa.

 

—       Ele deve ter tirado esse teimosia toda de você. – comentou ela.

 

Hermione abriu um sorriso embora não conseguiu trazer vida a ele.

 

—       Ou talvez do pai.

 

Molly a encarou curiosa ao escutar aquilo.

 

—       Eles são gêmeos, não são?

 

—       Sim. – respondeu Hermione. – Gêmeos idênticos. Sei que é raro serem de sexo oposto, mas houve muita magia por trás da forma como engravidei. As pessoas dizem que os dois são extremamente iguais. Pessoalmente eu os acho muito diferentes.

 

—       É porque a personalidade deles deve ser muito diferente. – disse Molly. – Eu confundia Fred e George o tempo inteiro. Os dois eram quase a mesma pessoa. O que estava na cabeça de Fred estava na de George também. O que um dizia o outro dizia. A mania de um era a mesmo do outro. Eles tinham a mesma aspiração, os mesmos sonhos, gostavam das mesmas coisas... – ela deixou a voz morrer. Hermione sabia porque.

 

—       Hera é muito independente. Scorpius é extremamente observador e muito mais apegado a mim. Hera é orgulhosa. Scorpius é teimoso. Hera é fã de Draco. Scorpius prefere estar comigo. Os dois são muito diferentes, mas eles tem uma ligação mágica que eu não consigo decifrar. É algo só deles. – ela apressou-se a dizer antes de ter que lidar com o clima estranho das perdas de Molly Weasley.

 

—       Tenho certeza de que eles vão se descobrir quando crescerem. – Molly soltou e se calou. Ficou em silêncio por um bom tempo enquanto parecia questionar-se sobre várias coisas dentro de sua própria cabeça. – Draco Malfoy. – ela falou de repente. – Eu pensei que sempre tivesse o odiado.

 

Hermione soltou o ar. Ela sabia que aquilo viria.

 

—       Sempre o odiei. – não era uma mentira.

 

—       O que mudou?

 

—       A vida mudou. – respondeu.

 

—       Eu não acho que essa é a resposta.

 

—       Qual resposta quer ouvir?

 

—       A que você diz que ele mostrou para você um lado que não mostrou para nenhum de nós. Porque a Hermione que eu conheço jamais amaria o lado que eu vejo de Draco Malfoy.

 

—       Ou eu posso ter mudado o suficiente para amar o lado que você vê de Draco Malfoy. – ela retrucou

 

—       Por que não quer admitir, Hermione? É tão difícil contar sobre vocês dois? – ela parecia frustrada.

 

—       Sim, é. É muito difícil. – ela não conseguia dar nome para o que havia entre ela e ele. Era inconstante e novo todo dia. Quando ela achava que estavam caminhando sobre uma superfície inquebrável, o mundo girava completamente e ela se pegava pensando em que página os dois haviam parado. - Não existe nenhuma palavra que possa descrever o meu relacionamento com Draco. Tem muito o que eu odeio nele, tem muito o que eu admiro nele, tem muito o que eu sou apaixonada nele, tem muito o que tenho aversão nele. Draco é uma caixa de surpresas. Ele é e sempre será um mistério. E eu estou conectada a tudo isso. Só eu e ele sabemos o que foi ter que aprender um sobre o outro quando tudo o que não queríamos era aprender um sobre o outro. Só eu e ele sabemos como é fazer crescer afeição do ódio, do rancor, da ofensa. Foi difícil. É difícil. Mas só ele e eu sabemos admirar e se surpreender com a obra prima que criamos juntos no meio de tanto caos.

 

—       Soa como um legítimo casamento. – Molly sorriu para ela ao dizer aquilo e Hermione se surpreendeu com o quanto Molly permitia fazer com que ela conseguisse se identificar. Apenas apertou um sorriso em resposta.

 

Molly levantou-se e cuidadosamente e com muita maestria fez a transição de Hera para o berço. A mulher havia tido sete filhos. Sabia bem o que fazia. Hera sequer reclamou. Molly a observou dormir em paz por um bom tempo. Hermione apenas permaneceu ali em silêncio.

 

—       Tive sete filhos. – ela comentou baixo. – Sempre imaginei que teria uma multidão de netos por causa disso. – suspirou. – A única que tive até agora está morta. – referiu-se a Victoire, filha de Bill e Fleur.

 

Hermione não comentou nada sobre o que escutara. Preferia manter-se calada. A verdade era que já se arrependia de ter sido honesta com relação a Draco quando Molly fez suas curiosas perguntas. Mas de alguma maneira, ela conseguia se identificar com a mulher. Talvez Molly Weasley tivesse respostas para os questionamentos que a atormentavam naquele momento.

 

—       Você é mãe, Molly. Como faz para lidar com isso no meio dessa guerra? Como consegue viver tendo apenas Rony, George e Bill? – perguntou.

 

Molly suspirou.

 

—       Você entende agora, não entende? Agora que tem um filho perdido. Deveria agradecer por ao menos saber onde ele esta. – ela soltou o ar. – Ou não. – estalou os lábios. – Todos os dias me pergunto o por que ainda não enlouqueci. Ou talvez eu tenha enlouquecido sem me dar conta. – suspirou. - Eu apenas me foco em acreditar que eles estão por aí afora em algum lugar sendo fortes, bravos e valentes. Tenho que me esforçar em acreditar que estão bem onde quer que estejam.

 

—       E se for difícil acreditar que estão bem?

 

—       Eu tenho que acreditar que estão bem, Hermione. Eles são parte de mim! Eu me importo tanto com eles que se eu não acreditar que estão bem, vou definhar.

 

Hermione soltou ar e fechou os olhos por um segundo apenas.

 

—       É impossível acreditar que meu filho esteja bem, Molly. Eu não consigo. Ele ainda não tem nem um ano, mal sabe se alimentar sozinho, não é acostumado...

 

—       Escute, Hermione. – Molly a interrompeu. – Vai aprender algo como mãe que te pode não necessariamente te agradar. Seus filhos são parte de você, são um dos seus bens mais preciosos, mas isso não significa que pertencem a você. Não pode trancá-los em uma jaula para poder guarda-los como enfeite para que sejam intocáveis. Eventualmente eles vão voar. E tudo bem, eu entendo que seu filho é apenas um bebê que mal pode se defender, tudo que você quer é tê-lo por perto para poder protegê-lo, mas não é só isso que te define como uma boa mãe. Vai falhar como mãe o dia que parar de lutar pelos seus filhos. Independente de tê-los debaixo das suas asas ou não. Seu filho não precisa que você chore por ele, Hermione. Ele não precisa que você vá a loucura se preocupando se está sendo bem alimentado, bem tratado, se está dormindo, se está assustado ou perdido. Ele precisa que você lute por ele. Portanto se precisa se convencer e se iludir de que tudo está bem para conseguir se concentrar em ser forte por ele, não perca tempo.

 

Era difícil engolir aquilo. Ela não podia mentir. Não era tão fácil assim. Por detrás do silêncio, da expressão neutra e da postura que ela procurava manter, sua pele fervia, sua garganta ardia, e a agonia a consumia. Molly dizia aquilo porque não era uma Malfoy. Ela não sabia a diferença que aquele sobrenome fazia na equação.

 

—       Hermione. – a voz foi grossa. Foi a de Draco. Ele apareceu por detrás dela. – Devon está de volta.

 

Hermione puxou o ar e assentiu desencostando-se do vão da porta.

 

—       Posso ficar com ela. – Molly referiu-se a Hera.

 

Hermione sentiu a necessidade de rejeitar a oferta. Ela quem queria ficar com a filha. Hera era sua responsabilidade. Ninguém cuidaria melhor dela do que a própria mãe. Ninguém a conhecia como Hermione a conhecia. Era sua filha. Sua. Céus. Aquilo iria destruir sua família. Ela sabia exatamente onde Draco e ela estavam errando e era exatamente ali. Tinha que mudar a forma como permitira que sua cabeça pensasse a respeito dos filhos ou perderia a própria sanidade.

 

—       Obrigada, Molly. – agradeceu pela ajuda e seguiu Draco para o andar de baixo deixando a filha no quarto com Molly Weasley.

 

Devon estava na sala. Ainda usava sua capa de comensal. Harry, Rony e Neville estavam sentados na cozinha espiando o que poderia acontecer. Denna se escondia na sombra de alguma lâmpada entediada por ter que estar ali fazendo dupla com Devon. Os dois não pareciam se dar muito bem. Ela acabara de chegar de uma pequena missão em busca de informação.

 

—       Tenho boas notícias. – Devon apressou-se a dizer assim que avistou Draco e ela emergirem do hall da escada. – Começando pela casa de vocês. Fox conseguiu finalmente fechar o ciclo da magia de segurança. Ele pede desculpas pela demora, mas a magia era complexa. – Hermione quis revirar os olhos. Não era complexa. Ela havia se dedicado a fazer com que fosse o mais simples e eficiente possível porque sabia bem que não seria ela quem iria conjura-la. - O perímetro de toda a propriedade está sob distração. Não foi usado nem um raio extra a mais ou nenhum a menos além dos limites da propriedade como foi definido por vocês já que não queriam estar fora das leis de espaço público e privado tanto do antigo sistema bruxo quanto do novo. – Devon foi o profissional que era. – Os últimos dias foram bastante caóticos na propriedade com os mandatos de caça liberados pelo mestre. Felizmente ninguém conseguiu passar para o lado de dentro. Sua secretaria Tina está bem acomodada com a família e tem cuidado de ajudar o resto a se acomodar na designada ala de visitantes. Ela tem contatado a lista que nos passou e felizmente mais de 80% dela já esta pedindo por abrigo, e quase 50% já está acomodada em sua propriedade. O resto está sendo mandado para fora do país muito discretamente. França e Estados Unidos tem nos apoiado abertamente desde que a história espalhou-se pela mídia. O mestre não está se focando na ameaça que é perder esses países, ele não tem homens o suficiente para administrar o que você administrava antes. – referiu-se ao árduo trabalho de Draco em manter o Império mundialmente. - O mundo sabe que vocês tem uma arma para eliminar o poder da Marca Negra. O povo quer se libertar dela e confiar num Malfoy para isso é algo bem sólido para se comprar porque ninguém nunca ouviu falar na história de um Malfoy falhando. – puxou o ar e continuou. – Isaac Bennett tem mantido o controle do Ministério. Seu pai fez um excelente trabalho enquanto era Ministro. Entregou para ele um prato bem dividido. Bennett consegue trabalhar com o mundo bruxo do lado de fora a nosso favor com muita facilidade graças a isso, mas ele está entre a cruz e a espada com o mestre. Não acredito que as últimas desavenças que soltaram para a mídia nos últimos meses serviu para que o mestre desassociasse o nome dele ao seu, mas a família Bennett tem se fingindo de idiota bem o suficiente para se manter sob constante vigilância do mestre e não sob o decreto de execução. Mas eles estão assustados. Eu trabalharia em afirmar para eles que eles tem segurança garantida caso qualquer coisa aconteça, apenas para mantê-lo motivado.

 

—       Não subestime Isaac Bennett. – Draco disse. - Eu sei quais são as verdadeiras intenções dele. Não teria tido todo o trabalho burocrático de movê-lo de volta para Inglaterra com a família se não soubesse a peça que ele poderia ser nas minhas mãos. Ele não precisa de nenhuma outra motivação além da própria que já tem. Eu sei como jogar com ele. Isaac vai se fingir de idiota bem o suficiente para não ter o pescoço cortado pelo tempo que for necessário. Ele não é uma preocupação, Devon.

 

Devon assentiu e continuou:

 

—       Ele destinou gente do Ministério para trabalhar a nosso favor assim não vai ter o nome diretamente associado ao seu quando o mestre perceber todo os benefícios que estará recebendo de dentro do Império. Ele já abriu caminho para que os grupos de mídia mais importantes tenham acesso a vocês, principalmente os grupos de mídia de dentro como Diário do Imperador. Tina está agendando entrevistas para o mais rápido possível, o povo quer saber o que está acontecendo. Portanto é melhor que estejam preparados para soltar a agenda de vocês para o mundo logo logo. – Devon pausou por um segundo e Hermione trocou um olhar rápido com Draco. Eles teriam muito no que trabalhar. – Brampton Fort está um caos. – ele continuou. – O caos está se espalhando cada vez mais rápido por entre os Fortes. O Diário do Imperador imprimiu o caso que aconteceu na Catedral quando o mestre ordenou a posse dos seus filhos e as pessoas estão revoltadas. É exatamente com isso que temos que trabalhar agora. O sentimento é perfeito. Vulnerável demais para ser manipulado. Enquanto isso o mestre nomeou Nott para sua posição de general e Snape para a posição de governador do forte. Não existe uma alma em Brampton Fort que está feliz com essa decisão. Theodoro não tem nenhuma experiência com guerra e o nome de Severo Snape ainda fazem as pessoas se lembrarem do caos e do medo que era ser parte do ciclo de Voldemort no inicio da guerra quando ele não conseguia segurar a pressão dos ataques da Ordem da Fênix. Ninguém que voltar a viver aquela instabilidade novamente. – Devon respirou fundo e soltou o ar. – As chaves de portal estão sendo preparadas para conseguirmos sair daqui.

 

O silêncio circulou entre eles como uma pequena pausa.

 

—       É bom saber que caímos de pé. – Draco comentou.

 

—       Certamente, general. Não é como se estivesse contando com a sorte. – Devon disse. – A fundação do Império é sua para destruir. Trabalhou para isso.

 

Draco puxou o ar cruzando os braços. Digeriu aquilo e assentiu. Voltou-se para Hermione.

 

—       Trabalhamos para isso. – Draco disse. - Coloque seus sapatos e arrume o cabelo. Estamos indo para casa e ela vai estar cheia.

 

Hermione assentiu e deu as costas.


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Notas finais do capítulo

Continua...

NOTA FINAL DO CAPÍTULO 42 ESTÁ AO FIM DO CAPÍTULO 42 - PARTE 2! LEIAM!