CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 33
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Pronto, é isso! Igualamos com a F&B. Mesmo número de capítulos aqui e lá. Agora mudamos para a rotina do dia 04. Ou seja, todo dia 04 temos capítulo novo! :) Espero que gostem do capítulo e até o dia 04 com o capítulo 32!

E claro, não podia deixar de agradeceu a minu2013 pela linda recomendação e também a marca de 400 comentários! Uau pessoal! Sério! Sou muito grata por todo o apoio de vocês! Eu sei que nem sempre respondo os comentários, mas é porque realmente minha vida é corrida e todo o tempo que eu tenho livre, me dedico a escrever Cidade das Pedras, que não é uma fanfic fácil de escrever. Mas estou sempre lutando pra poder estar em contato com vocês. Alguns capítulos respondo, outros nem sempre! Espero que entendam. Mas sempre leio os comentários na pressa do meu dia a dia! Obrigada a todos!



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31. Capítulo 31

Harry Potter



– Eu sei que era ela, eu a vi e tenho absoluta certeza! Hermione Granger! Estava com eles! Lutava com eles! – insistiu o homem, empurrando o prato de sopa que a Sra. Weasley havia o servido.

– Como pode ter tanta certeza, se disse que ela colocou a máscara de comensal segundos depois e não teve tempo o suficiente para prestar atenção nos detalhes? – Rony questionou.

Ele resfolegou, como se não fosse óbvio o que diria:

– Não dá para confundir Hermione Granger. Não se esquece facilmente dela, uma única vez que a vê.

Gina fez sua risada obscura soar pela cozinha do Largo Grimmauld e os olhares se voltarem para sua figura quieta e de braços cruzados sob a sombra de um dos cantos da parede.

– Pagou esse homem para dizer isso, Harry? – a ruiva foi sarcástica.

Harry apenas lançou um rápido olhar frio e sério a ela.

– O que quero dizer... – continuou o homem. –... é que ela estava lá e estava lutando como uma Comensal.

– Hermione jamais lutaria como uma Comensal. – Rony interviu.

– Não use a palavra jamais, Rony. – Luna interferiu. – Jamais é algo muito concreto para um lugar tão imprevisível quanto Brampton Fort.

Gina rolou os olhos.

– Ah, pelo amor de Deus, Luna! – manifestou-se a ruiva novamente. – Não nos presenteie novamente com o deleite que tem pela querida cidade de Voldemort. Todos nós já sabemos o quanto você adoraria estar lá agora, sua pequena traidora.

Luna estreitou os olhos e puxou o ar para retrucar algo, mas foi a voz de Rony que soou:

– Cale a boca, Gina. Ninguém tem tempo para suas implicâncias.

– Ronald! – pronunciou a Sra. Weasley. – Não fale assim com sua irmã! E Gina, por favor, segure um pouco mais a língua.

A mulher soltou um rosnado baixo e se enviou mais para debaixo da sombra. Harry desviou o olhar para Luna.

– Está sugerindo que Hermione tenha decidido se juntar ao exército de Voldemort?

– O exército não é exatamente de Voldemort. – Luna respondeu, em sua voz melodiosa. – Draco Malfoy comanda os Comensais em guerra. Os homens e mulheres que lutam por Voldemort estão, na verdade, nas mãos de Malfoy e não estou sugerindo que Hermione tenha decido lutar para Voldemort. Tudo o que quero dizer é que ela está como prisioneira nas mãos do pior bruxo das trevas, fadada ao destino que ele bem quiser para ela. Eu não duvido que esteja se prestando ao papel de empunhar a varinha em nome de Voldemort, por conta de uma ameaça maior que esteja sofrendo.

– A Hermione Granger, que eu conheço, resistiria uma ameaça para lutar em nome de Voldemort. – Rony comentou.

– Quando eu estive com ela em Brampton Fort, Voldemort me usou como arma para atingi-la e Hermione se viu obrigada a não resistir contra as vontades loucas dele. Talvez, ele esteja usando alguém e, por isso, ela está se vendo obrigada a lutar com Comensais. Eu não sei. – Luna deu de ombros.

– Por que infernos nós estamos discutindo sobre Hermione? – Gina tornou a fazer sua voz soar novamente indignada. – Nós acabamos de perder um prédio dentro de uma áreanossa para os Comensais! Eles com certeza têm um plano maior com isso e deveríamos estar discutindo sobre isso exatamente agora!

– Nós vamos chegar lá, Gina! – Harry não conseguiu mais segurar. – Quero ouvir sobre Hermione e quando terminarmos com ela, nós seguiremos para o problema com York. Enquanto isso, tente se manter calada.

Ela puxou o ar, furiosa, como se fosse retrucar algo rude, mas acabou apenas fazendo uma careta de desgosto, saiu debaixo das sombras e deixou o cômodo. Harry notou que o silêncio que ficou no ambiente era um tanto constrangedor, mas não fez nada para quebrá-lo, o que talvez tenha levado Rony a limpar a garganta e se manifestar:

– Ao menos sabemos que ela ainda está viva. Há quanto tempo vínhamos discutindo se Voldemort já havia acabado com a vida dela ou não? Até mesmo Luna, que sempre defendeu não acreditar que ele tinha o interesse de matá-la tão cedo, estava se questionando sobre isso.

– Não é bem assim. – Luna defendeu-se. – Eu apenas estou confusa sobre o rumo que as coisas tomaram depois que saí de lá.

– Mas você sempre defendeu realmente que Voldemort não tinha interesse em matar Hermione, e já faz algumas semanas que parou de se pronunciar sobre isso. – Tonks finalmente abriu a boca, sentada em uma das cadeiras da mesa.

– Apenas porque não sei o que de fato anda acontecendo por lá. – Luna concluiu. – Apenas por isso. Não estou retirando que Voldemort não mostrou interesse em matá-la quando ela chegou lá, não posso defender que isso não mudou quando já não posso mais...

– Certo. – Harry a cortou, impaciente. – Não é essa a discussão. Hermione está viva. O que estamos discutindo é porque ela estaria lutando com os Comensais, quando sabemos claramente que ela faz parte da Ordem da Fênix.

– Pessoalmente, acredito que ela tenha um plano com isso. – Tonks tornou a se manifestar. – Se é que era mesmo Hermione. – lançou um olhar desconfiado ao homem sentado à mesa com eles.

– E como eu disse, talvez Voldemort esteja usando algo, alguém ou alguma ameaça maior, para obrigá-la a lutar por eles. – disse Luna. – Ela nunca nos trairia.

Um silêncio passou-se entre eles por uns segundos.

– Bem, nós todos esperamos que ela fosse fazer algo por Fred, como fez por Luna, só que até agora nada. – Neville foi cuidadoso devido à presença da Sra. Weasley à mesa.

– Ela é uma prisioneira, Neville. – Luna a defendeu.

– Não, ela não é só uma prisioneira. – Rony parecia desapontado, mas convencido de suas palavras. – Ela é um gênio. Tenho certeza que ela encontrará uma forma.

Se ele já não estiver morto, pensou Harry, sabendo que todo o resto da mesa pensava da mesma forma.

– De qualquer forma, ela parecia bastante bem cuidada. – o homem voltou a levantar a voz, quebrando o estranho silêncio que se instalou. – Ela colocou a máscara rapidamente, mas isso não impediu que eu observasse o resto. Ela não usava o uniforme completo dos Comensais, usava apenas a capa com o capuz. Tinha um vestido caro por baixo e estava de salto.

– Sabemos que ela está sendo bem cuidada nessa parte. – Luna disse.

– Reparei na presença dela, apenas quando a barreira mágica que colocaram no salão do lobby desfez. Antes disso, eu tinha transitado entre os portais do segundo e do terceiro andar e não vi, nem reparei, em nada parecido com ela. Ela não estava lá para lutar contra nós, acabou tendo que fazer isso quando conseguimos passar a barreira deles. – disse o homem.

– Talvez eles estejam usando a inteligência dela para vencer a magia de Merlin. – Molly Weasley foi quem se pronunciou dessa vez. – Voldemort já deve ter notado que só estamos conseguindo vencer os Comensais dele porque temos usado as magias que Kingsley, com tanta dificuldade, tem tirado das runas escondidas no arco do véu.

Um breve silêncio assentou-se sobre eles novamente.

– Esse é um ponto válido. – Tonks concordou. – E Hermione é um gênio. Certamente estão a usando para controlar aquilo que nem nós temos conseguido controlar. Sabemos que se ela estivesse aqui, trabalhando no véu, com certeza já teríamos derrubado Voldemort.

Harry sabia que todos concordavam com aquilo. Até ele mesmo concordava, embora a magia de Merlin fosse aquilo de mais exótico que ele já vira em toda a sua vida. Somente a inteligência de Hermione daria conta de algo tão complexo. Talvez se Minerva ainda estivesse viva, quem sabe, eles até estariam fazendo um melhor uso do poder que tinham nas mãos agora.

– Deveríamos estar discutindo o porquê do interesse dos Comensais naquele edifício em York. – Tonks pronunciou-se.

– Pois bem. – o homem pareceu finalmente satisfeito com o assunto. – Eu, como responsável por York, venho monitorando a ação dos comensais desde que fechamos a área para o domínio da resistência. O grupo destinado para ficar na área sempre esteve se infiltrando entre a comunidade e conseguimos trazer alguns deles para o nosso lado, mas a maioria ainda prefere o domínio dos Comensais por causa da estabilidade e da proteção. Os comerciantes estão furiosos que ainda temos domínio da área, falimos a maioria das lojas por conta da exclusão da região no mapa e a maioria das famílias tem vivido de magia. Isso é um péssimo ponto para nós. Precisamos retomar outras regiões. E como sabem, conseguimos recuar os Comensais das duas últimas vezes que eles tentaram tomar York pelo modo convencional. Por isso, acredito que agora eles estejam vindo com algo mais elaborado e a tomada do edifício, com certeza, tem algo a ver.

– Sei que não sobrou muito do grupo que tínhamos destinado a York, mas... – Tonks se calou quando Harry levantou de sua cadeira. – Harry?

Ele se viu surpreso por ter todos os olhares sobre ele.

– Vocês podem continuar. – apenas queria sair dali e foi tudo que fez.

Nunca iria se acostumar com o toda a expectativa que havia sobre ele. Sua figura sempre chamava atenção, todos sempre queriam ouvir o que ele tinha para dizer ou o que pensava sobre algo. Constantemente se via farto daquilo, mas sempre entrava em contradição por saber que seu senso de liderança era inevitável, portanto, ele mesmo era culpado por se colocar debaixo do holofote.

Às vezes sentia que precisava apenas de um refúgio. Hermione havia se tornado o único que tinha, mas desde que fora capturada, Harry se via perdido entre procurar um novo, ou apenas, conformar-se que não haveria nenhum como o que ela era capaz de oferecer. Sentia falta da paz de espírito que tinha sempre quando estava com ela, mesmo que o mundo inteiro estivesse os puxando para o buraco.

No momento em que passou para o lado de dentro de seu quarto e encontrou Gina sentada numa das poltronas caras dos Black, ao lado de sua cama, percebeu que teria sido muito melhor ter se conformado de que não havia nenhum outro refúgio como o de Hermione e que a tentativa de encontrar um era completamente imprudente. Queria ter tido esse pensamento antes de ter ido para a cama com Gina, há três meses.

– Presumi que não fosse conseguir ficar muito tempo lá. – a ruiva não estava contente. Raramente estava contente. Ele sabia que a culpa pela infelicidade dela era dele.

– Gina, eu gostaria muito que deixasse meu quarto. – foi cuidadoso com as palavras.

– Eu deixarei. – levantou-se. – Mas não antes de me certificar que você não irá tornar a falar comigo daquela forma na frente de todos. Não quando sabem que você e eu estamos com chance de voltar.

– Nós não estamos com chance de voltar, Gina. Eu tenho o peso da guerra, de uma proferia. Não quero o peso de um relacionamento. Sabe disso há muito tempo.

– E mesmo assim você se envolveu com Hermione.

– Hermione nunca foi um peso.

– E eu fui. – Gina se mostrou ferida. Harry se calou, percebendo o peso de suas palavras. Céus, ele era péssimo com mulheres. Como conseguia ser tão incapaz quando se dizia respeito a mulheres? – Quase um ano e meio desde que Hermione foi capturada e você ainda treme com o nome dela. Eu conseguia ver a fúria silenciada nos seus olhos quando aquele homem sugeriu que Hermione havia trocado de lado.

Uniu as sobrancelhas no mesmo segundo e lutou para não ser impulsivo como sabia bem que era para não destratar Gina, mais uma vez. Respirou fundo e tentou relaxar os músculos de seu maxilar.

– Por que você precisa ser tão ignorante sempre que as coisas dizem respeito à Hermione?

– Ela te roubou de mim.

Harry revirou os olhos. Não podia lidar com aquilo agora, não de novo, não naquele momento.

– Certo, Gina. Hermione nunca roubou ninguém de ninguém e preciso que saia agora.

– Sim, ela roubou. – Gina se aproximou. – Ela sempre soube que eu gostava de você e sabia que eu a enxergava como a maior das minhas ameaças porque eu tinha absoluta certeza de que, caso um dia você a enxergasse como mulher, eu jamais seria capaz de superá-la, simplesmente porque eu nunca teria o poder de deter o significado que ela tem para você. Hermione esteve com você desde o começo de tudo. Esteve ao seu lado sempre. Ela era sua melhor amiga. Sempre se esforçou pra te compreender, desde o começo, melhor do que qualquer outra pessoa e eu nunca teria a chance de chegar a esse nível, ao menos que o tempo voltasse e eu tivesse a chance de ser ela na sua vida. Por causa disso Hermione me prometeu que não havia nada entre vocês, que não teria como haver, que ela gostava de Rony. Eu sei que isso está no passado, que inevitavelmente o curso das coisas mudaram com os anos, principalmente com o mundo conturbado em que vivemos, mas ela sabia, Harry, que se um dia você a tivesse, ninguém nunca mais conseguiria sentar no trono dela. Ela já era especial para você antes. Tê-la, fez com que se tornasse exclusiva e eu não tenho poder para competir com isso. Não me culpe por ser insuportável e ignorante sempre quando o assunto desviar para a mulher que roubou o homem que eu sempre amei.

Ele soltou o ar finalmente, quando Gina passou pela soleira de sua porta e desapareceu. Jogou-se em sua cama e encarou o teto pálido e encardido da antiga casa dos Black. Suspirou, fechando os olhos. Talvez Hermione tivesse mesmo o roubado por inteiro e isso fosse injusto. Ele nunca mais teria paz sem ela, mesmo que toda aquela guerra chegasse ao fim, mesmo que ele conseguisse derrotar Voldemort, mesmo que tudo terminasse bem, se Harry não tivesse Hermione, não teria mais paz. Gina estava certa. Ninguém, jamais, conseguiria alcançar o significado que Hermione tinha para ele. Que grande erro havia sido se envolver com ela.

Harry? – ele escutou a voz dela vindo do andar debaixo, assim que o eco do estalo de sua aparatação na antiga casa de seus pais extinguiu-se. Ele não queria respondê-la. – Harry? – ela tornou a chamar.

Suba as escadas. – foi o que ele respondeu, sem muita vontade. Escutou os passos dela alcançarem os degraus. – Cuidado com os três últimos degraus. Estão se desfazendo.

Não demorou muito e a viu aparecer pelo portal frágil, que antes fechava a porta de um quarto que ele esperava que fosse de seus pais. A figura de Hermione em seu jeans, seu casaco e seu par de tênis era familiar e acolhedora. Vê-la, fez-lhe perceber que sentia falta do conforto que ela sempre oferecia quando não estava sendo mandona e exigente.

Harry... – Hermione soltou um suspiro piedoso, assim que o viu como sempre fazia quando o encontrava naquele estado. Como se sentisse muito, por todo o peso que ele era obrigado a carregar. Como se sentisse muito, por estar de mãos atadas para aliviar a dor dele. Aproximou-se e subiu no colchão que ele estava deitado, sentando-se sobre as pernas e o encarando. – Não pode sumir por tanto tempo assim. Todos nós estamos preocupados na Ordem.

Harry sabia que não podia. Hermione havia dado a ele aquele refugio para que tivesse um tempo para si sempre que precisasse, mas já fazia mais de uma semana que ele não voltava para a Ordem. O silêncio durou entre os dois por muito tempo, até que ele sentisse que finalmente queria dizer algo.

Eu pensei que fosse ser mais fácil. Que fosse ser mais rápido. Que tivéssemos mais poder, porque o bem sempre vence na ficção. Pensei que meu sentimento de vingança fosse forte o suficiente para deter tudo isso num piscar de olhos. – ela apertou os lábios ao escutar aquilo com um brilho nos olhos de quem queria dizer que sentia muito, mas sabia que ele já escutara aquilo vezes o suficiente. – Eu não esperava que fôssemos afundar dessa forma. Que fôssemos ser vencidos tantas vezes. Que fôssemos perder tanta gente. Eu pensei que fosse forte.

Você é, Harry. Não duvide disso. Não pode duvidar disso. – Hermione respondeu. – A Ordem não depende de você, nós não lutamos por você. Lutamos contra Voldemort. Cada um tem sua razão.

Mas eu carrego a profecia.

E por isso o protegemos. – ela suspirou. – Escute, não vou pedir para voltar. Irá fazer isso quando quiser. Minha intenção não é invadir seu espaço, só queria ver se estava bem. - Harry assentiu. Ela o analisou por mais alguns segundos e depois moveu seus olhos pelo restante do quarto. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios. – Você organizou tudo com muito cuidado.

Ele sorriu por sentir uma pontada de orgulho vinda da parte dela. Sentia falta de sua companhia. Estendeu a mão e Hermione encarou o convite, tocou a dele e ele a puxou para junto. Ela não hesitou e deitou ao lado dele, encolhida sobre seu peito. Harry a cercou pelo ombro e quis que ela não tivesse vontade de ir embora.

Talvez devêssemos ter ficado eu e você, naquele acampamento. – comentou ele.

Ela soltou um riso fraco.

Estaríamos mortos agora. – ela disse.

Harry riu. Com certeza estariam. Olhou-a e Hermione ergueu a cabeça para poder também encará-lo.

Sou grato por ter você e Rony. – Hermione sorriu ao escutar aquilo. Ele não pensou muito no que fez quando, simplesmente, inclinou-se e estalou um beijo nela. Foi somente no segundo que se afastou que caiu em si que fora sobre os lábios dela e não na testa, como normalmente fazia.

Hermione riu surpresa e ele riu em seguida, como se estivessem entrando em consenso de que se eles podiam fazer aquilo sendo amigos, haviam definitivamente chegado a um nível de amizade profundo.

Vamos mesmo fazer isso agora? – ela indagou de maneira divertida.

Harry sentiu a necessidade de dizer a ela que aquilo não mudaria nada, mas naquele mesmo segundo, seu cérebro pareceu processar algo lá no fundo que o fez reconhecer a textura dos lábios de Hermione sobre o dele, naquele curto segundo, em que eles estiveram juntos. A curiosidade por querer ter mais tempo para ter uma melhor percepção da forma como os lábios dela se moldavam sobre os seus o dominou, e curiosidade fora algo que sempre o levara a tomar as decisões mais inconsequentes de sua vida.

Muito consciente de que aquela era Hermione Granger, Harry se inclinou novamente e colou seus lábios nos dela. Não queria passar a linha da amizade que tinham, era estranho, e seria estranho, portanto se afastou antes que demorasse demais. Ela o encarou sem reação e dessa vez não havia nenhum sorriso em sua expressão.

Harry quis dizer que aquilo não significava nada. Mas a sensação dos lábios dela contra o seu falava mais alto do que qualquer pensamento racional que tinha naquele momento. Não queria tornar tudo aquilo mais estranho do que já estava sendo, Hermione já o encarava como se não soubesse qual reação seria mais sábia tomar e ele sabia que seria melhor dizer algo. Precisava dizer algo. Qualquer coisa. Mas ao contrário do que sabia que deveria fazer, apenas segurou o rosto dela e inclinou-se novamente contra a boca dela. Dessa vez, se permitiu ficar ali tempo o suficiente para ter a inteira percepção da textura dos lábios dela e de como eles se moldavam aos seus. Conseguiu sentir a respiração dela contra seu rosto e o conjunto de tudo aquilo o fez ter ainda mais curiosidade. Qual era o sabor dela? Como era a boca dela? Como era o beijo dela? E talvez, estar muito consciente de que aquela era Hermione, tornava tudo incrivelmente estranho e especial.

Afastou-se minimamente da boca dela para lidar com o fato de que queria prová-la. Harry precisava dizer algo, qualquer coisa que fosse. Não sabia o que dizer. Era péssimo com mulheres e, talvez, ficar calado, fosse uma opção sábia. Nunca tivera a intenção de chegar até aquele ponto com Hermione, mas também nunca deixara de cogitar que um dia pudesse. Quantas vezes já havia a observado com orgulho por ver o quanto ela havia se tornado uma mulher linda e poderosa. Talvez tivesse sim, o direito de se dar a chance se ela permitisse e, no segundo que esse pensamento lhe bateu, teve o incentivo suficiente para ir novamente contra ela, dessa vez, com vontade, trabalhando para que seus lábios abrissem caminho pelos dela.

Sabia que não deveria tratar mulheres daquela forma, deveria ser mais cuidadoso, deveria ser romântico, deveria ao menos tê-la convidado para algo, talvez um jantar com um vinho, mas no momento em que sentiu o calor da boca dela, da língua e sabor dela, nada mais fez sentido. Harry estava a beijando e Hermione estava deixando. Talvez estivesse tão confusa quanto ele e talvez estivesse achando tudo tão estranho quanto ele.

E céus, ela beijava bem. Ou talvez ele tivesse ficado muito tempo sem tocar em uma mulher. Quem sabe, fosse até mesmo por isso que seu corpo reagiu, e reagiu rápido, o que o fez empurrar aquilo para algo mais intenso. Hermione percebeu e algo nela pareceu querer recuar. Harry não queria que aquilo acabasse, portanto não demorou e a girou colocando-se por cima dela.

A última mulher que tocara havia sido Gina e fazia muito tempo. Harry mal se lembrava o que era o corpo de uma mulher, e ter o seu encaixado daquela forma com o de Hermione ali, parecia demais para que pudesse aguentar. Foi quase que por instinto que suas mãos começaram a explorá-la, começaram a querer tocá-la ousadamente e ele não se conteve.

Harry. – ela o chamou no momento em que sua boca abandonou a dela para dirigir-se até seu pescoço. – Harry. Harry. Harry. – Hermione sussurrou entre sua respiração ofegante, um tanto assustada, tentando chamar a atenção dele. – Harry, o que estamos fazendo?

Vamos nos dar essa chance, Hermione. – foi tudo que ele se limitou a dizer.

Não. É errado. – ela era sempre a voz racional que o tentava trazer de volta para a razão, sempre que se via preso aos seus atos impulsivos. Harry havia jurado depois da morte de Sirius que nunca mais contrariaria a voz racional de Hermione, mas já havia quebrado aquele juramento diversas vezes, desde então. Era incapaz de sair de seu estado impulsivo, uma vez que mergulhava nele.

Vamos fazer isso, Hermione. Vamos nos dar a chance. – insistiu ele. - Sabe que já se questionou como seria se um dia isso acontecesse. Sabe que iremos passar o resto da vida nos questionando se isso nunca acontecer. - O olhar dela parecia um tanto assustado. Milhões de pensamentos se passavam pela cabeça dela, porque Harry sabia que ela era assim. Esperou que ela fosse recuar. Ele não queria que ela recuasse, mas sabia que Hermione era racional demais, às vezes. – Somos duas pessoas livres. - Surpreendeu-se, quando ela se decidiu por inclinar a cabeça até ele e beijá-lo novamente. Ele não evitou sorrir. Ela também era rebelde quando precisava ser, e das boas.

Terrível erro o dele em ter insistido por aquela primeira vez. Jamais pensou que seu coração fosse se apegar a ela daquela forma, jamais esperou que Hermione fosse se tornar tão exclusiva, tão única, tão insubstituível, mesmo que soubesse que ela, como Hermione Granger, já ocupava um trono muito especial em sua vida.

Lembrava-se bem de que ela não quis dormir com ele aquela noite. Lembrava-se dela evitando o olhar dele, na semana seguinte. Lembrava-se de como a voz dela havia saído rouca quando implorou para que não contasse aquilo para ninguém, quando acabaram tendo uma segunda vez. Se lembrava de todas as outras vezes depois daquela e se lembrava de como foi tão simples e fácil se envolverem graças ao quão confortável já se sentiam um com o outro, o quanto já se conheciam e o quanto se entendiam.

Duas batidas na porta o trouxeram de volta para o quarto em que se encontrava e Harry ergueu a cabeça para ver Rony esgueirando-se para o lado de dentro.

– Eles estão comentando o quão estranho eu tenho agido? – perguntou ao ruivo, quando viu o cuidado dele ao se aproximar.

– Paramos de comentar sobre isso já faz bastante tempo. – respondeu Rony. – Acho que todo mundo entende porque estávamos falando de Hermione.

Harry soltou o ar, tornando a encarar o teto. Não havia poupado esforços para esconder o quanto a amava e o nível do envolvimento que tinham quando ela foi capturada. Rony se aproximou até sentar-se na beira do colchão de sua cama com cuidado.

– Eu teria a resgatado se estivesse lá e se fosse realmente ela. – Rony comentou depois de um longo minuto em silêncio.

– Ela estaria morta agora se o tivesse feito. – foi tudo que Harry se limitou a dizer. Neville ainda não havia conseguido desenvolver a fórmula de uma poção que inibisse os efeitos da Marca Negra. A prova disso era o número de comensais mortos que eles tinham no subsolo da Ordem.

O silêncio novamente.

– Você realmente acredita que Hermione lutaria por Voldemort? – indagou Rony.

– Não. – foi tudo que Harry disse, embora tivesse mais a dizer sobre aquilo. Hermione era uma prisioneira e estava sujeita a pressões de todos os lados. Era nisso que acreditava. Sentiu o bolso de sua calça esquentar e enfiou a mão para alcançar a moeda que trocara com Draco a última vez que haviam se visto. – Ele está me chamando já faz um tempo. – comentou com Rony quando rodou a moeda entre os dedos a frente de seus olhos.

– Malfoy? Você está o ignorando?

– Ele me ignora sempre que eu o chamo. Me sinto como uma ferramenta que ele vem guardando para sei lá que projeto. – pensou alto.

– Está pensando em encontrá-lo?

– Sabe que não vou conseguir segurar a curiosidade de saber o que ele quer por muito tempo. – foi o que respondeu.

– Tome cuidado com isso, cara. Malfoy é estranho, além de ser um inimigo. A Ordem deveria saber sobre isso de vocês.

Harry suspirou e leu as coordenadas que Malfoy lhe passava na espessura da moeda.

– Se lembra de quando éramos crianças e você, eu e Hermione éramos os únicos a saber sobre os suspenses que precediam a guerra? – Hogwarts era a única lembrança colorida em sua memória. – Não temos Hermione agora, mas podemos manter isso somente entre mim e você. – lançou a moeda no ar e Rony a pegou. – As coisas tendiam as ser mais simples e divertidas naquela época e, às vezes até mesmo acabavam, de alguma forma estranha, bem.



Hermione Malfoy



Estava novamente naquela hospedaria em York. Não era a primeira vez que a visitava em seus sonhos. Sabia bem que, a vontade de correr para longe, que a dominou durante cada milésimo de segundo que permanecera naquele lugar, a afetara profundamente e não seria tão cedo que conseguiria se livrar da intensa perseguição que aquilo fazia com sua mente.

O sol surgia pelas janelas leste do lobby da hospedaria e ela observava, em silêncio e sozinha, o que ninguém mais parecia dar atenção. A beleza daquela estrela era absurda. O calor, o conforto, a luz. Hermione sentia falta de ver o nascer-do-sol. Caminhou até a entrada principal e passou pela soleira da enorme porta até a varanda da frente. A brisa gelada da madrugada ainda soprava. Fechou os olhos, sem se importar com a linha de Comensais que guardavam a entrada. Respirou fundo e se deixou ficar ali, observando o escuro de suas pálpebras se tornarem um tom de laranja denso à medida que o sol avançava no céu.

Lembrava-se de não querer imaginar que se desse mais alguns passos, descesse os degraus da varanda e colocasse os pés nas pedras justapostas da avenida principal, estaria no território da Ordem da Fênix. Ela não se sentia mais parte deles e se dar conta disso, era incrivelmente doloroso e, talvez, fosse isso que a fazia se sentir tão perturbada, por esse constante sonho.

Sua memória trouxe de volta os rostos de Rony, Harry, Luna, Neville, Gina, Sr. e Sra. Weasley, Tonks, Lupin... Eles haviam sido sua família e, por mais que duvidasse muito de que todos eles estivessem em York, por fazerem parte do círculo principal de protegidos da Ordem, estar ali fazia com que Hermione sentisse que estava os encarando frente a frente, depois de quase um ano e meio.

Ter estado ali a fizera se dar conta do quanto havia mudado. Nunca imaginou que fosse ter essa visão, mas enxergava a Ordem como rebeldes. Eram uma resistência fraca e jamais chegariam a Voldemort, apenas faziam bagunça e alongavam o fim da guerra. Ela havia feito parte desse grupo e lutara com eles, tão avidamente, acreditando num bem maior, numa paz, que não poderia ser jamais alcançada pela utopia ética da Ordem, dos rebeldes, da resistência. O mundo era diferente agora. Draco havia enxergado isso. Os Malfoy haviam enxergado isso e Hermione era parte deles agora. Sentia orgulho disso, de fazer parte de um lado que tentava derrubar Voldemort com o cérebro, não com um exército. E estar ali, sentindo que encarava frente a frente a Ordem da Fênix, só a fizera pensar em como não conseguia sentir vergonha. Vergonha da sua traição. Hermione não queria um fim mal a ninguém da Ordem. Queria que seus velhos amigos e sua velha família ficassem bem, seguros e salvos. Tudo que queria era o fim de Voldemort, mas sabia que eles enxergariam seu novo eu, como uma traidora, mesmo que tudo que ela estivesse fazendo fosse derrotar Voldemort, mas com uma visão e uma tática diferente.

Soltou o ar e abriu os olhos. Lembrava-se das ruas vazias aquela manhã, embora já fosse o dia seguinte após o ataque. Ninguém ousava ir para as ruas. Era confuso para eles terem uma cidade regida pela Ordem, com um edifício específico abarrotado de Comensais.

Hermione queria poder descer aquelas escadas e ir para a rua. Morreria em menos de trinta minutos por causa da Marca Negra, que já ardia em seu braço, um sinal de que Voldemort estava bem ciente de que ela não estava em Brampton Fort, mas mesmo assim, ainda queria fugir do mundo ao qual era obrigada a viver agora. Ela sentia falta do afeto, do carinho, do calor, da compreensão, do cuidado. Sentia falta de amigos, de família, de coisas que tivera o luxo de ter no passado e agora não tinha mais. Suspirou. Queria que tudo aquilo parasse de fazer falta a ela. Queria parar de sentir aquele angustiante nó que se instalara em sua garganta. Queria parar de se sentir tão vulnerável, tão fraca, tão sensível.

Naquela memória, Hermione sabia que Draco chegava e dizia a ela que sua chave de portal de volta para Brampton Fort estava a esperando. Ela sabia que suspiraria, daria as costas ao sol e voltaria para a realidade ao qual a Marca Negra a prendia com toda a relutância, que a perseguiria ali e para sempre, até o fim de Voldemort ou o seu próprio fim. Mas em seu sonho, ali, assim como em todos os outros que tivera antes desse com York, ela apenas passou pela linha de Comensais enfileirados com cuidado, ignorando que se aquilo fosse realidade eles teriam a parado, desceu os degraus da varanda, passou pela calçada e pisou na avenida. Hermione podia ser livre em seu sonho e queria que isso fosse libertador, mas não era, porque não tinha para onde ir.

Não podia voltar para a Ordem. Por mais que quisesse ver seus amigos novamente, sentir o calor acolhedor deles, tomar uma boa sopa da Sra. Weasley e receber o carinho que sempre recebera, isso implicaria voltar a lutar com a Ordem e se havia aprendido algo durante o tempo que ficara em Brampton Fort, esse algo era que a Ordem estava fadada à derrota, mais cedo ou mais tarde, por mais poder que tivesse em mãos. Voldemort não seria derrotado daquela forma.

Avançou, querendo se sentir livre, mas não se sentia. Nem mesmo em seu sonho sentia-se livre. Talvez a casa de seus pais fosse o único lugar do qual realmente gostaria de ir, mas eles não estariam lá. Parou no meio da avenida. Não tinha para onde ir. Mesmo livre em seu sonho, não tinha para onde ir. Seus olhos embaçaram. Era tão acostumada a forçar fraquezas como àquela, goela abaixo, que foi quase natural lutar contra a sua própria garganta ardendo insanamente. Soluçou sentindo-se sozinha e cobriu o rosto com as mãos.

– Hermione? – era a voz forte de Draco às suas costas. O nome dela em combinação com a voz dele, já parecia tão familiar que quase nem conseguia se lembrar de que relutaram tanto tempo para usar o primeiro nome um do outro. Tirou as mãos do rosto, murchando, dando-se por derrotada e virou-se para encará-lo aproximando-se dela. – O que pensa que está fazendo? – ele vinha com aquele ar poderoso que sempre carregava, usando uma expressão nada contente, que também sempre carregava ultimamente.

– Eu não sei. – ela soltou numa voz baixa e cheia de desapontamento. – Fugindo talvez... – jamais teria dito isso a Draco, não agora que haviam se enfiado no costume de manter um péssimo comportamento um com o outro. Mas ali, em seu sonho, ela sabia que ele não era realmente Draco.

– Bastante estúpido da sua parte. – exatamente o que ela esperava que ele dissesse. Suicídio fugir com uma Marca Negra estampada no braço. Mas era seu sonho e em seu sonho Hermione queria ter tido a opção de correr para fora daquele hotel em York. O único problema era que sempre parava no meio do caminho e se perguntava para onde iria. Encarou Draco a sua frente. A figura dele havia se tornado tão familiar que mesmo que estivesse furiosa e a ponto de querer matá-lo, era confortável ter algo tão familiar por perto. – Vamos. – ele estendeu a mão. – Vamos para casa.

Hermione se lembrou do conforto de sua cama, do calor das velas e dos caldeirões na casa de poções do sótão de sua casa, da vista do jardim de trás e do cheiro de livros importantes, caros e centenários da biblioteca no terceiro andar. Era sua cela. Brampton Fort e sua casa eram suas celas. Mas havia criado história nelas e, de alguma forma, isso acrescentava outro valor significativo a tudo.

Suspirou e encarou a mão estendida dele. Voltaria sim, porque não tinha outro lugar para ir, mas não daria sua mão a Draco. Ele havia deixado claro que ela estava sozinha e que deveria se manter sozinha. Passou por ele e fez seu caminho de volta a hospedaria.

Acordou aos poucos, como se soubesse que depois daquela importante decisão, não tivesse mais nada a ser acrescentado. Já tivera várias versões daquele mesmo sonho. Versões onde Draco era ignorante e eles tinham sérias discussões no meio daquela avenida. Versões aonde ela, mesmo incerta de onde ir, corria sem rumo apenas para tentar sentir a sensação de liberdade. Versões em que acidentalmente acabava sendo convencida de que era insana por sair da zona de proteção de Voldemort com uma Marca Negra estampada no braço e acordava assustada esperando pela dor.

Suspirou cansada de seus próprios sonhos e se esticou debaixo das cobertas. Questionou-se pela milésima vez se achava bom ou ruim que o lado de Draco estivesse intacto e vazio e fechou os olhos novamente, quando se lembrou que dia era aquele. Respirou fundo, sentindo uma agonia em seu peito. Detestava ficar ansiosa, mas era inevitável. Só Deus sabia como seria o fim daquele dia. Poderia ser muito ruim ou apenas um alívio a mais para contar. Soltou o ar e se sentou. Passou a mão pela onda que sua barriga fazia agora, com dezoito semanas, quase que involuntariamente.

Saiu da cama, tomou seu banho, precisou procurar por um vestido novo e desceu para o desjejum e logo quando se sentou à mesa, escutou a carruagem de Draco no pátio externo. Hermione sabia que ele voltaria de York hoje, apenas porque tinha um discurso aberto marcado para o fim da manhã e provavelmente deveria estar furioso por ter que deixar seu exército no meio de algo importante para vir lembrar aos curiosos protegidos de Voldemort como o andamento da guerra estava próximo do fim, graças a ele.

Ela tomava seu chá quando ele passou para o lado de dentro. Não parecia furioso, ao contrário do que ela esperava, mas parecia cansado. Hermione conseguia ver isso através do olhar dele, e conseguir perceber que Draco Malfoy estava cansado, mostrava o tanto que a figura dele era extremamente familiar. Draco vestia sempre sua capa impenetrável e tudo que qualquer um sempre veria nele era sua expressão fria, neutra e inabalável. Bem, ela não era qualquer um. Era esposa dele e imaginar que estavam alcançando dois anos juntos, às vezes a assustava.

– Saí do portão sul e não a vi me esperando. – ele atravessou a sala até seu lugar e se sentou. – Acaso se esqueceu de que temos um teatro para fazer para o público?

– Eu não sabia que horas chegaria. Na verdade, não sabia nem que viria. Soube ontem quando eles lançaram a nota oficial do seu discurso aberto de hoje na Catedral. Deveria ter me escrito algo. – Hermione não deu atenção a ele e continuou seu café com o Diário do Imperador em mãos.

– Eu administro uma guerra e agora quer que eu faça o seu serviço por você? Eu sabia que iria ter conhecimento de que eu voltaria hoje a Brampton Fort, o mínimo que eu esperava de você, era que procurasse saber pelo menos o horário em que eu chegaria para estar me esperando como uma boa, atenciosa e preocupada esposa.

Hermione sentiu uma crescente ânsia ferver seu sangue. Aquela vontade de voar contra o pescoço dele a dominou e como uma boa Malfoy que aprendera a ser, engoliu tudo aquilo com paciência, respirou fundo, dobrou o jornal com calma, piscou e o encarou pela primeira vez.

– Acha que eu sou estúpida ou o que? – tentou ser o mais calma e mansa possível. – Quem acha que vai enganar com o seu teatrinho de casal perfeito quando metade das mulheres dessa cidade sabe que fizeram sexo com você, não faz muito tempo? Eu não vou fazer papel de boba idiota que se ajoelha aos seus pés. Não vou ser a pobre coitada que não sabe nada sobre o infiel marido para um público que eu, por sinal, detesto. Ainda me resta um mínimo de orgulho, Draco. Não farei esse papel. Não sou sua mãe e se quiser ser o seu pai, esse não é o meu problema. Só peço que me informe caso não se importe com os filhos que eu estou carregando. Se não tiver interesse em tentar protegê-los e se não tiver sequer interesse neles, por favor, me deixe saber que eu estou sozinha porque eu me lembro de ter te escutado dizer que faríamos isso, juntos. Mas você não tem feito seu papel.

– Eu tenho feito...

– Seu papel? – ela não queria sequer escutar o som da respiração dele. – Fazer um teatro aqui e ali em público, não vai nos tornar o casal perfeito se existirem mulheres por aí comentando sobre terem ido para cama com Draco Malfoy. – levantou-se. – Tenha uma boa refeição.

A agonia de saber o que passaria aquele dia já era demais para que ainda tivesse que encontrar paciência para suportar a companhia de Draco.

**

Queria não ter usado a mesma carruagem que Draco para ir à Catedral, mas quando Hermione insinuou que daria ordens à Tryn para que outra carruagem fosse preparada, ele apertou os olhos para ela, como se estivesse procurando pela hora em que teria a oportunidade de usar as palavras do desjejum contra ela, o que a fez desistir da ideia. De alguma forma, acreditava no poder que a mídia dava a eles e queria apostar nela. Principalmente se o resultado daquele dia acabasse sendo um desastroso. Queria tanto que Draco fosse pelo menos mais cuidadoso. Depois que havia o pegado com a porta de sua sala trancada na companhia de outra mulher, Hermione não parava de imaginar quantas vezes ele fazia aquilo por dia. Não conseguia deixar de discutir com si mesma, quem poderia estar aquecendo a cama do seu marido todo o tempo que ele passava em York.

Suspirou, tentando trocar de pensamento, encarando a paisagem passar do lado de fora da janela da carruagem que dividia com Draco. Estava nervosa e suas mãos suavam. Encarou brevemente a figura de Draco lendo uma pilha de pastas que Tina o enviara. Será que ele tinha ideia de que ela descobriria se estava carregando meninas ou meninos hoje? Eles não conversavam, não trocavam cartas, não discutiam sobre nada e, sempre quando abriam a boca um para o outro, era para trocar farpas. Draco também estava absurdamente envolvido com York e a guerra, o que a fazia duvidar muito que ele tivesse alguma ideia de que tinha uma sessão marcada na ala das enfermarias com Voldemort.

– Você está inquieta e isso está me irritando. – ele comentou, sem tirar os olhos de sua pasta quando Hermione trocou de posição pela milésima vez.

Ela pediria desculpas, se não estivesse com tanta raiva dele. Sabia que devia se controlar e que demonstrar que algo a afetava, não era algo muito bem aceito por Malfoys. Tinha uma relação de amor e ódio com seu novo sobrenome tão instável que se via confusa várias vezes.

Não respondeu nada a Draco, não queria engajar em outro tipo de discussão com ele que a levaria a sentir mais raiva. Ansiedade já bastava para ela por agora.

Quando desceu na porta da Catedral, os flashes a seguiram até a entrada do saguão. Teve que sorrir, teve que acenar, teve que sentir a mão de Draco às suas costas a guiando e teve que tocar distraidamente sua barriga quando ele sussurrou em seu ouvido para que fizesse. Era impossível esconder sua barriga. Por mais que ainda fosse muito pequena, era inevitável que qualquer olho não notasse a diferença em sua forma, mesmo que usasse roupas que desviassem a atenção. Era primavera e a quantidade de tecidos que usava era menor, o que deixava ainda mais visível para o público, o volume de sua barriga. Narcisa também tivera o cuidado de fazer com que ela escolhesse roupas que ajudassem.

Separaram-se quase que imediatamente quando os olhos da mídia ficaram para trás. Draco foi o primeiro a sumir, seguindo para a estação onde estavam preparando a exibição de seu discurso. Hermione seguiu seu caminho, cruzando da ala principal até o jardim interno, onde encontrou Narcisa entretida com uma revista e uma xícara de chá. Parou quando viu que Bellatrix era sua companhia. Precisou respirar fundo e juntar coragem, antes de seguir seu caminho até elas.

– Ora, vejam só quem finalmente apareceu. – Bellatrix foi quem se pronunciou, chamando a atenção de Narcisa que parecia surpreendentemente muito longe do planeta terra, embora aparentasse ler sua revista. – A fujona rebelde. Pensei que ainda estivesse se recusando a sair de York.

– Por Deus, Bella. – Narcisa se mostrou entediada. – Não vamos começar com essa sua implicância. Sente-se, Hermione. Não pensei que fosse chegar agora.

– Vim com Draco. – Hermione sentou-se em sua melhor postura. Preparou todo o seu escudo para se manter firme diante de Bellatrix.

– Ah! O adorável casal, Malfoy. – riu Bellatrix e Narcisa apertou os lábios, entediada, voltando a sua revista. – Estou quase me apaixonando por vocês. Devo confessar que a atenção que dão um para o outro quando estão em público é cativante. Os jornais estão quase me convencendo que de são dois apaixonados esperando um lindo herdeiro para completar a imensurável felicidade que vivem todos os dias. – ela foi irônica. – Se eu já não soubesse do inferno que vivem, certamente estaria convencida. – riu. – Ainda não entendo porque o mestre não tomou nenhuma atitude por terem vasado o fato de estar grávida, nem por ter deixado Brampton Fort pela sala de apartação, sem permissão.

– Deixei Brampton Fort por chave de portal e caso não tenha lido as notas abertas oficiais das ações de quando movemos o acampamento para o centro da zona inimiga, eu lutei pelo seu mestre e voltei para onde ele me obriga a ficar presa. – Hermione foi séria.

– Em troca do que? Você não me engana. Voltou porque se não tivesse, certamente, já estaria morta e é melhor não esperar que consiga comprar o mestre para salvar a vida dos seus fetinhos caso sejam menininhas, só porque levantou a varinha contra alguns rebeldes em alguma ação importante em nome dele. Não é assim que as coisas funcionam. – Bellatrix se levantou. – Espero que esteja preparada para hoje. – e foi embora, como se não estivesse nem mesmo com vontade de gastar sua energia na presença dela.

Hermione respirou, sentindo alguns de seus músculos relaxarem quando ela deixou a mesa. Encarou Narcisa ocupada com sua revista e pensou que a mulher fosse confortá-la, dizendo que Bellatrix estava apenas tentando amedrontá-la e que se divertia com isso, mas a mulher estava estática, com os olhos fixos na revista, mas parecia em outro mundo. Estranhou.

– Há algo de errado com sua revista? – perguntou quando a mulher não se manifestou. Nem mesmo após sua pergunta a sogra demonstrou qualquer reação. Hermione estranhou mais ainda. – Narcisa? - O som de seu nome no ar fez com que a mulher finalmente erguesse os olhos para Hermione. – Há algo de errado com sua revista?

Narcisa uniu as sobrancelhas, como se não entendesse o porquê da pergunta.

– Não. – respondeu.

– Você não parece muito entretida com ela.

– Oh. – ela pareceu confusa por não ver Bellatrix mais em seu lugar e um pouco desconcertada com o que Hermione dissera. – Na verdade estou. – Hermione nunca vira Narcisa agir daquela forma. – Veja, eles fizeram uma coletânea com as fotos de todas as suas últimas aparições, comentando a visibilidade da sua barriga em todas elas. As pessoas estão indo à loucura por saber que está esperando um Malfoy. Não é sempre que se vê um rosto novo na nossa família. Somos a família mais antiga e importante do mundo bruxo e, como várias outras famílias antigas, deveríamos ter Malfoys por todos os lugares, mas ao contrário disso, nossa linhagem termina em Draco. – ela sorriu. – Por enquanto. – acrescentou.

Hermione pegou a revista e observou as imagens. A maioria era tirada na entrada da Catedral. Em todas elas, sua barriga era visível, principalmente quando alguma rajada de vento batia contra ela e o tecido de seus vestidos desenhava a figura de seu corpo. O artigo embaixo expressava o quanto estavam ansiosos por uma confirmação oficial do casal e o quanto a nova Sra. Malfoy parecia poderosamente adorável em sua coleção de roupas para a primavera.

– Estive pensando sobre o comunicado oficial. – Narcisa continuou. Parecia ter voltado ao seu estado normal. – Sei que deveríamos sentar em família para decidir como isso será feito, mas não sei se isso será possível. – A mulher pigarreou como se tivesse escondendo algo que ela mesma tentava não dar muita importância. – Portanto, estive pensando e quero que façam algo mais espontâneo, isso passará uma imagem mais humana de vocês dois. Se prepararmos para lançar um comunicado oficial da família, isso os deixará com uma imagem muito separatista, muito superior. Falarei com Draco e espero que vocês dois façam o anúncio, sem qualquer ensaio prévio na saída da Catedral, assim que puderem. A mídia sempre estará empilhada lá, esperando por alguém importante e com certeza irão levantar a pergunta como sempre fazem. Respondam e fim. Tentem ser amigáveis, tentem parecer felizes e digam que não sabem nada sobre o sexo dos bebês, mesmo se descobrirmos que são meninos daqui a pouco. – Hermione assentiu. Não sabia se até o fim do dia ainda estaria grávida, caso Voldemort tivesse acordado com um humor cruel e ela estivesse esperando meninas. – Como farão isso de maneira muito espontânea e rápida, as pessoas ficarão famintas por mais informação, então, assim que anunciarem, você precisa aceitar convites para entrevista. Sei que já recebe muitos convites para entrevistas e quero que aceite um deles. Algum da Travessa das Comensais, de preferência. Quero que fale sobre seu novo visual. Quero que fale como o fato de estar gerando vidas te inspirou a mudar seu estilo para poder se sentir em coerência com suas novas emoções e sentimentos. Seja lúdica. Direcione-se mais para o público feminino. Crie um drama sobre como lidar com o fato de que está esperando gêmeos, quando na verdade, não pretendia nenhum filho por agora, tem te mudado e te levado a um estado de felicidade maior a cada dia que se passa. Não se esqueça de mencionar Draco e na perfeita sintonia de vocês. Sobre o quanto isso os tem animado e tem os deixado feliz. O quanto isso tem se tornado uma prioridade e o quanto se sentem muito mais unidos agora. Draco terá que fazer a parte dele também e quero que ele se envolva de uma forma mais séria e menos exposta, portanto, seria mais prudente deixá-lo nas mãos de jornais como o Diário do Imperador, aonde eles irão se sentir na obrigação de dividir entre passar informações sobre a guerra, o departamento dele e sua gravidez. É preciso que vocês dois envolvam as pessoas nessa gravidez e pra isso terão que estar alimentando-as com informações constantemente. Não deixe esquecerem que está grávida, não deixem esquecerem-se de vocês. Tente fazer com que contem os dias para a chegada dessas crianças, tanto quanto vocês. O mestre pode nos cortar a qualquer momento, portanto, teremos que fazer o melhor serviço que pudermos enquanto o mestre permitir. – Hermione apenas assentiu novamente. – Certo. Então vamos logo terminar com isso. – Narcisa se levantou.

– É cedo ainda. – Hermione estranhou que a sogra não tivesse notado isso.

– Oh. – Narcisa disse aquilo pela segunda vez, dando-se conta de que realmente ainda era cedo.

– O que há de errado com você? – decidiu perguntar.

Narcisa mostrou-se confusa pela pergunta.

– Comigo? Não há nada de errado comigo.

– Você está... distraída. Sei que não é assim.

– Nós todos temos dias ruins, Hermione.

– Você tem dias ruins todos os dias, todos nós temos. Eu sei que existe algo a...

– Pare. – Narcisa foi firme ao cortá-la. Hermione parou. O que quer que fosse estava realmente a afetando. – Não quero falar sobre isso e você vai apenas ignorar minha distração.

Hermione ficou surpresa pelo tom severo.

– Narcisa, eu não estou a obrigando a nada. Minha intenção não era colocá-la contra a parede ou algo do tipo. Pensei apenas que tivéssemos liberdade para contar uma com a outra quando sentíssemos que precisássemos. Quantas vezes você foi a única pessoa que esteve comigo quando pensei que ninguém estaria?! Não é necessário que me diga nada se não quiser, mas também não precisa fingir que tudo está bem quando eu estiver por perto. Posso ser alguém a menos para quem precisa fingir.

Narcisa abriu a boca para retrucar algo, provavelmente, grosseiro, mas decidiu permanecer calada depois de um tempo. Suspirou incomodada e pareceu pensar rápido.

– O discurso de Draco vai ser daqui a alguns minutos. Pretende assistir? – ela mudou de assunto.

– Não. – respondeu Hermione. Já sabia que ele explicaria bem como haviam avançado do novo acampamento para quase 40% do território de York, e assim, que não demoraria a decretarem definitivamente o fim da guerra quando finalmente colocassem sobre controle todos os grupos da resistência. Na verdade, também não tinha interesse em ser obrigada a ficar observando a figura de seu amável marido por escolha. – Acaso sabe se Draco tem conhecimento de que tenho uma sessão marcada na ala das enfermarias hoje?

– Não sei. – Narcisa deu de ombros, incerta, e um tanto intrigada. – Eu não disse nada a ele. Draco anda ocupado demais. Por que não contou a ele?

– Nós... – ela não soube exatamente qual seria a melhor maneira de dizer aquilo. – Não estamos conversando com tanta frequência. – talvez aquilo bastasse. - Ele anda ocupado. – justificou.

Narcisa não pareceu achar que aquilo bastasse. Tornou a se sentar com calma e uniu as mãos.

– Draco tem o direito de saber sobre os filhos, Hermione.

– Não acho que ele tem interesse.

– Apenas porque não demonstra?

– Apenas? – Hermione – Como espera que eu tenha conhecimento do interesse dele se ele não demonstra?

– Ele não precisa demonstrar, são os filhos dele e você é a esposa dele. É naturalmente esperado que ele tenha interesse.

– Não é assim que funciona. – ela não concordava. – Não comigo. Quem tem interesse corre atrás, não importa que esteja ocupado ou não. Talvez você não enxergue dessa forma por causa de Lúcio.

Narcisa apertou os lábios.

– Não vamos trazer Lúcio para a discussão.

– Como não? Quando vai perceber que tudo em sua família gira em torno dele?

– Ele ainda é o cabeça dos Malfoy.

– Ele arruinou sua vida. Ele estragou a personalidade de Draco e ainda fez questão de enfiá-lo em um casamento comigo. Lúcio é a única razão pelo qual você, Draco e ele não são uma família genuína. E não me julgue por estar falando isso, tenho total direito de abrir minha boca porque me colocaram no meio da tempestade reprimida que vocês são juntos. Eu mal havia mudado de sobrenome e ele já fazia questão de traçar a ruína da minha vida. – Hermione não teve vergonha de dizer o que sempre dizia a Narcisa e a mulher continuou firme em sua expressão dura, mas ao contrário do que sempre fazia, ela não abriu a boca para defender o marido. Hermione suspirou, abandonando um pouco seu ar de indignação. – Me desculpe por ser honesta demais, eu sei que ama seu marido e que dizer essas coisas só me afasta de você, mas... – ela não podia engolir aquilo. – Não consigo engolir o fato de que ele te reprime tanto. Não consigo engolir o fato de que Lúcio não se importa em fazer de você uma piada. Ele te fez esquecer de que merece ser feliz, te fez esquecer de que tem o direito de ser simplesmente humana, porque você éuma, antes de ser uma Malfoy. Não consigo engolir o fato de que ele tem total controle sobre você e você deixa que ele tenha. Eu simplesmente detesto que Draco tenha crescido vendo você ser inteiramente submissa a Lúcio porque, às vezes, realmente temo pela raiva que ele transparece quando resolvo confrontá-lo. E eu sempre o confronto quando necessário.

– Você tem uma personalidade forte, Hermione.

– Você também. Tão mais forte quanto a minha. Consegue suportar uma vida deprimente e solitária em nome de um sentimento. Eu jamais seria capaz disso.

– Vejo você e Draco, Hermione. Vocês já vivem uma vida deprimente e solitária em nome de um sentimento.

Hermione abriu a boca para retrucar, mas acabou por se calar quando não conseguiu encontrar nada plausível que derrubasse aquela afirmação. Soltou o ar frustrada e desviou o olhar. Precisou ponderar por um tempo sobre aquilo.

– Ao menos Draco e eu somos livres um do outro. – acabou por dizer.

– Não. Não são. – Narcisa disse. – Se odeiem, se amem, se detestem, se gostem, vocês não estão livres um do outro.

– Somos casados em um papel que pouco tem significado para nós. – Ergueu os olhos para a mulher. - Aquele papel me torna uma Malfoy e me coloca no status de esposa, mas não tem o poder de me unir fisicamente ou sentimentalmente a Draco. O dia em que ele conseguir poder para me controlar eu o deixarei, sem nem mesmo hesitar. Continuarei sendo a esposa dele por causa daquele maldito papel, mas não sou obrigada a morar com ele, a dormir com ele, a aguentar a presença dele. O único motivo pelo qual eu não o deixaria agora, se resume a Voldemort.

Narcisa puxou o ar olhando para os lados.

– Não diga o nome dele aqui.

Hermione revirou os olhos.

– O mestre é o único motivo pelo qual preciso necessariamente viver com Draco. – Consertou. Sim, ela esperava que pudesse deixá-lo quando derrubassem Voldemort. Agora mais do que nunca. – A mídia é manipulável. - Narcisa permaneceu calada. Estranhamente calada, por sinal. Era completamente fora do comum que ela não estivesse se esforçando para desfazer os argumentos de Hermione e Hermione se aproveitava disso. – Deveria deixar Lúcio. Talvez ele aprendesse a te dar valor caso o deixasse.

Ela suspirou e desviou o olhar.

– Eu jamais faria isso.

Hermione deu de ombros. Sabia que ela jamais faria.

– De qualquer maneira, preciso agradecer que esteja fazendo isso comigo hoje. Eu realmente não queria estar sozinha. – não se caso soubesse que estava esperando meninas. – Gostaria muito que fosse feliz ou que ao menos tentasse encontrá-la de uma forma diferente da que tem feito. Você tem um bom coração, de seu próprio jeito, e isso é admirável.

Os lábios de Narcisa se esticaram num sorriso muito discreto que morreu para uma expressão cheia de angústia, mas que não durou muito tempo. Narcisa era quase como Draco e não se permitia mostrar qualquer tipo de fraqueza por muito mais do que segundos.

– Talvez... Talvez se... – ela soltou numa voz baixa. Fechou os olhos e balançou a cabeça como se estivesse limpando seus pensamentos. – Deveríamos nos preparar para a enfermaria. – ergueu os olhos para Hermione e se levantou como se estivesse decretando de fato o fim daquele assunto. – Talvez seja prudente que apareça por lá com antecedência.

Hermione apenas assentiu e se levantou, seguindo a mulher.

**

Seu corpo inteiro tremia, enquanto esperava de pé pela ordem de poder deitar na maca. Não estava frio. Talvez fosse a camisola fina de algodão que ela tivera que colocar, ou talvez fossem seus pés sobre o linóleo gelado que cobria a cabine em que se encontrava. Ou talvez, fosse apenas o nervosismo que a dominava.

Narcisa estava do lado de fora na companhia de Bellatrix e Voldemort. Hermione conseguia ver através do vidro na porta. Logo ao seu lado, havia uma medibruxa operando e preparando a aparelhagem que permitiria ver e analisar os bebês que carregava. A mulher havia cuidado de seu caso e também fizera parte da equipe que tirara sua filha dela da última vez. Aquilo deixava-lhe nervosa. Temia que Voldemort já tivesse preparado uma equipe para o mesmo fim, caso ela estivesse esperando meninas. Isso não daria a Hermione, nem sequer, tempo para negociar a vida das filhas.

Respirou fundo, tentando afastar todo o tipo de pensamento negativo de sua cabeça, mas nem quando fazia isso conseguia parar de tremer ou deixar de sentir a ansiedade crescente angustiá-la e deixá-la inquieta.

– Precisa ficar mais calma, Sra. Malfoy. – a curandeira ao seu lado disse. – Posso ver suas mãos tremendo quando nem mesmo estou olhando. – Hermione escondeu as mãos, unindo-as atrás de seu corpo. – Tenho balinhas de café se quiser. Pode ajudar os bebês a se moverem. Terei uma visualização melhor.

– Eles parecem bem ativos desde que acordei. – Não queria colocar nada na boca enquanto estivesse ali, e agradecia pelos pequenos chutes que sentia na base de sua barriga desde o início da manhã.

– Não sei se deveria me preocupar com o tamanho da sua barriga. – a curandeira disse distraída com toda a aparelhagem. – Você não parece ter ganhado muito peso e sua barriga está bem menor do que deveria estar, mas talvez seja apenas sua genética. Lembro-me que estava mais avançada da última vez que a vi grávida e sua barriga parecia menor do que agora.

Hermione esticou o tecido que usava para poder analisar o tamanho de sua barriga. Realmente não era grande, mas era maior do que já havia estado em toda sua vida.

– Tem sido difícil esconder. – ela comentou. – Acha que isso está afetando os gêmeos? Acha que poder trazer algum problema para eles no futuro?

A mulher sorriu.

– Fique tranquila. Você ainda vai ficar gigante. Talvez demore um pouco, mas está criando dois seres humanos aí dentro. A natureza não falha. - Hermione engoliu em seco. Não conseguia se imaginar gigante. – Com foi seu primeiro trimestre?

Suspirou.

– Difícil. – foi tudo que teve a dizer.

Não havia nada recompensador no começo daquela gravidez. Tudo que havia sentido era cansaço, náusea, falta de ar e se lembrava de ter tido dias em que mal tivera vontade de levantar da cama. O medo de se apegar a seus gêmeos da forma como havia se apegado a sua filha, naturalmente, a fizera querer sentir menos interesse pelas vidas que estava gerando e a fizera querer esquecer que estava grávida, mais de uma centena de vezes. Isso havia mudado fazia poucos dias, quando começara a sentir pequenos chutes. O primeiro foi logo a sua direita e, alguns dias depois, Hermione já conseguia sentir os dois bebês. Durante a noite, quando tudo se acalmava e ela ficava deitada, podia senti-los a todo o momento. Sentia-se normalmente frustrada por não ter prestado atenção suficiente naqueles chutes e empurrões durante o dia. Cada um deles parecia ter o poder de querer fazê-la colocar um sorriso nos lábios, mesmo que quisesse simplesmente chorar.

A medibruxa se levantou do banco em que estava sentada e auxiliou Hermione a deitar na maca. Hermione ajeitou os cabelos, enquanto a mulher cobria suas pernas com um lençol e erguia a camisola expondo sua barriga. O som de sua própria respiração começou a soar alto demais em seus ouvidos e ela percebeu que estava apavorada, principalmente quando não teve onde esconder suas mãos e viu que elas tremiam significativamente.Precisam ser meninos. Precisam ser meninos. Era tudo que seu cérebro era capaz de produzir.

– Por favor. – sussurrou para a mulher que se sentou novamente no banco ao lado da maca. – Olhe para mim, como um aviso, antes de dizer a ele, se forem meninas.

Ela encarou Hermione por uns segundos, com um pouco de receio em seu olhar. A medibruxa respirou fundo, apertou os lábios e disse num tom muito baixo:

– O mestre não me passou nenhuma especificação ou ordem, portanto, farei seu exame exatamente como faço o de qualquer outro paciente até que ele me corte ou não, mesmo sabendo que se eu fizer algo que ele não goste, com aviso ou sem aviso, sei que vou ser punida. – encarou Hermione por um longo segundo. – Eu vou olhar para você caso forem meninas e se forem... Quero que saiba que... – suspirou – Sinto muito.

Hermione puxou o ar e o prendeu. Tudo que lhe restou foi assentir, embora estivesse agora mais aflita do que antes. Queria fugir dali. Não queria que aquele dia terminasse como havia terminado o dia em que haviam lhe tirado sua filha. Não estava pronta para isso. Torcia para que tivesse tempo de, brilhantemente, convencer Voldemort de manter seus gêmeos vivos se fossem meninas, embora duvidasse muito de que qualquer coisa fosse capaz de comprar Voldemort a aceitar esperar um ano para que tivesse a chance de vê-la engravidar de um herdeiro.

– Seu marido e minha equipe têm um acordo. – a medibruxa continuou a dizer num tom baixo, voltando-se para a aparelhagem. – Ele aliviou nossa situação com o mestre depois do seu pequeno... incidente. Por isso, temos lhe passado todas as informações sobre seus bebês. Pensei que ele fosse estar aqui.

Hermione suspirou. Não sabia se queria Draco ali ou não. Ela havia acreditado que ele se importava com os filhos porque ele havia dito, mas com as atitudes que vinha tomando ultimamente, aquilo havia passado a se tornar palavras vagas. Tinha pouca esperança de que ele se importava de alguma forma.

– Ele... – Hermione não sabia ao certo o que dizer e foi exatamente nos segundos em que pensava em uma justificativa para dar a mulher, que a sua atenção foi chamada para a porta que acabara de ser aberta.

Por ela passou Draco, Narcisa, Bellatrix e Voldemort, na constante companhia de sua ridícula cobra. Hermione não conseguiu tirar seus olhos de Draco e ele a olhou apenas por alguns segundos. Talvez, seu momento de distração com a mulher ao seu lado tivesse impedido-a de ver a chegada de Draco do lado de fora.

– Aí estão todos. – disse a medibruxa. – Estava prestes a chamá-los. Estamos prontos.

Voldemort tomou seu tempo para criticar a demora da preparação e pediu para que as coisas fossem logo adiantadas. A mulher não enrolou mais nenhum segundo e não demorou em Hermione sentir o gelado de um gel em sua barriga.

Já havia feito aquilo antes e não foi muito diferente. O que a matava era o silêncio da mulher operando a máquina e o silêncio de todos os outros naquela câmara. Observava com atenção as imagens mostradas em um estranho e antigo monitor que mostrava uma imagem muito clara, entretanto, bastante confusa.

– Aqui estão. – a mulher informou, apontando para o monitor. – Os dois. – ela pareceu mostrar os dois, mas Hermione não conseguiu entender muito bem. Precisou apertar um pouco os olhos e mover a cabeça algumas vezes. – O fato de não estarem dividindo a placenta diminui possíveis complicações. O que é bom. – a medibruxa moveu o dispositivo que usava para pressionar a parte de baixo de sua barriga e sorriu. – Eles parecem bem ativos. Você os sente com frequência?

Hermione percebeu que a pergunta havia sido direcionada a ela e foi pega de surpresa pela atenção que não esperava receber.

– Hum... – organizou as ideias em sua cabeça e respondeu num tom baixo, como se temesse por ter ou não permissão para dizer alguma coisa. – Faz pouco tempo que comecei a senti-los. Parecem ser só chutes ou empurrões. A maioria durante a noite.

– Normal. – a mulher foi profissional. – Não quer dizer que eles não se movem durante o dia, acontece que você só está mais distraída.

Hermione assentiu, esperando que Voldemort continuasse em silêncio assim como estava e continuasse deixando que a mulher falasse.

– Eles estão saudáveis? – a voz de Draco soou e Hermione ficou surpresa por escutá-lo. Encarou a figura dele, de braços cruzados, ao lado da mãe, encarando o monitor, assim como todo o restante do público.

– Eles me parecem bastante saudáveis. Vamos olhar mais de perto cada um deles. – respondeu a mulher, movendo a ferramenta em sua barriga.

– Será que dá pra pularmos para a parte do motivo ao qual estamos aqui? – Bellatrix soou entediada.

A expressão da medibruxa mudou rapidamente ao escutar a mulher.

– Bem, tenho outras coisas para checar, mas podemos pular...

– Faça o que tudo que tiver que fazer. – Voldemort a interrompeu e foi inevitável que Hermione sentisse os pelos de sua nuca levantar ao escutar a voz poderosa do bruxo.

A mulher continuou em silêncio dessa vez. A pausa pareceu quase uma eternidade até que ela informasse que ligaria o som dos batimentos do coração e, no momento em que o fez, Hermione chegou a prender sua respiração. Por um segundo apenas, foi assustador. Eram seus e eram reais. Eram seres humanos. O som continuou soando em seus ouvidos e ela foi sentindo como se sua cabeça estivesse latejando nele e mel estivesse escorrendo pela sua garganta, enquanto seu próprio coração parecia derreter. Quis chorar porque naquele exato momento, o único pensamento que se passava em sua cabeça começou a gritar pelo seu corpo inteiro: Que sejam meninos! Que sejam meninos!

Assim que a mulher desligou o som, os olhos de Hermione foram involuntariamente para Draco que parecia em transe olhando fixo para o monitor. Não foi quase um segundo inteiro para que ele movesse os dele até ela e, naquela rápida troca de olhares, Hermione se sentiu na mesma sintonia que Draco, pela primeira vez em toda a sua vida, uma sintonia tão profunda e tão clara que absolutamente nada precisou ser dito para que soubesse que o cérebro dele gritava o mesmo que o dela. Hermione puxou o ar e olhou para a mulher ao seu lado operando a ferramenta em sua barriga.

– É menina ou menino? – foi quase um sussurro.

– Me dê apenas um segundo... – a medibruxa continuou mexendo nos aparelhos, concentrada no monitor. Embora já tivesse desligado o som dos batimentos cardíacos, Hermione ainda parecia capaz de continuar escutando no fundo de sua cabeça. Aquele silêncio foi perturbador e a ansiedade foi lhe crescendo a um ponto que ela começou a ter consciência do próprio suor em suas mãos. Não olhe para mim, continue olhando o monitor. Ela torceu. A qualquer minuto saberia. Mordeu os lábios nervosamente. Continue olhando o monitor e apenas diga. – Aqui está. – Hermione sentiu que seu coração fosse quebrar alguma de suas costelas. A medibruxa engoliu em seco e desviou o olhar para ela. Seu mundo desmoronou no segundo em que viu o “sinto muito” naquele olhar. – Temos uma menina.

O oxigênio lhe faltou. Não, não, não, não, não! Seu olhar foi direto para Draco e ele parecia estático, moveu-se rapidamente para Voldemort e ele soltava um ar de frustração explícito.

– Quero que tire as duas. – O Lorde proferiu sem hesitar.

Hermione abriu a boca para protestar, mas foi a voz de Draco que soou.

– Não. – firme e determinada.

Voldemort ignorou.

– Quero que as tire e quero falar com a equipe de medibruxos. – ele começou a se mostrar finalmente furioso. – Quero a droga de uma maldita magia que faça com que essa mulher seja capaz de gerar APENAS HERDEIROS!

– Eu disse que o daria...

– HARRY POTTER? – Voldemort a cortou e Hermione engoliu suas palavras quase que imediatamente. – Para que fique com suas lindas filhas? Eu não lhe daria esse prazer nem que entregasse Harry Potter em minhas mãos para que eu pudesse fazer o que bem entendesse com ele! Eu quero essas crianças mortas e se não me aparecer grávida no próximo mês, juro que farei com que os Malfoy comecem a pagar pela falta de compromisso com as minhas ORDENS!

– Se tocar nessas crianças eu deixo seu exército. – Draco estava firme em sua postura. Talvez ele estivesse se desfazendo por dentro, talvez estivesse com medo, assim como Hermione. Talvez... Mas sua postura e sua expressão estavam intactas.

Voldemort riu.

– Quer dizer que agora Draco Malfoy se importa com filhos? Essas crianças não sãoseus filhos e o herdeiro que vai gerar para mim não será seu filho!

– Sim. Será. – Draco foi direto. – Será meu e você não pode mudar o fato de que será. O fato de eu entregar meu herdeiro para você, “mestre”, não exclui, não elimina, nem apaga o fato de.que.é.meu.

– Então, por isso veio até aqui, quando da outra vez não fez sequer questão de se lembrar que sua esposa estava carregando um filho. Veio aqui porque, repentinamente, decidiu que se importa com essas crianças em específico e está disposto a me confrontar para que eu não lance a ordem que vai matá-las. É isso? – Voldemort se aproximou dele.

Draco não mostrou sequer uma gota de receio através de sua expressão.

– Exatamente. – foi o que ele respondeu. – E se ordenar que as mate, eu deixarei seu exército e quero ver quem será capaz de segurar o fim dessa guerra.

Eu serei capaz de segurar o fim dessa guerra! Eu sou Lorde Voldemort! Está duvidando do meu poder?

– Eu duvido que queira associar sua imagem com a guerra. Precisa ser aceito pelo público. – Draco se aproximou tão ameaçador quanto ele. – Seu império foi levantado por guerra e poderá ser mantido por guerra. Sabe disso, conhece história, sabe como o mundo funciona. Você precisa de um general, eu sou o melhor que tem e eu estou disposto a lutar por você, mas se matar as crianças que eu estou disposto a te entregar, esqueça que ainda terá meu cérebro e minha varinha nessa guerra por você.

– Eu NÃO QUERO MALDITAS MENINAS!

– ENTÃO TERÁ QUE ESPERAR POR GAROTOS PORQUE, AGORA, HERMIONE ESTÁ ESPERANDO MENINAS! – Draco ergueu a voz, exatamente como Voldemort.

– Draco... – Narcisa sussurrou o nome do filho, como se estivesse o alertando que estava passando da linha.

– Hei. – a medibruxa chamou atenção. – Talvez ajudasse saber que o outro é um menino.

Hermione percebeu que a mulher ainda estava fazendo seu trabalho com o dispositivo, apertando sua barriga e escorregando para lá e para cá. Todos os olhos foram voltados para ela e houve um silêncio momentâneo.

– Um menino? – Draco pareceu confuso.

– Pensei que tivesse dito que eram gêmeos idênticos. – Narcisa manifestou-se.

– E são. – confirmou a mulher. – Eu não entendo. – ela balançou a cabeça. – Na verdade, sei que é possível que eles sejam de sexos diferentes, mas as chances são tão poucas e tão mínimas que é praticamente desconsiderado. A biologia tem suas explicações, mas talvez o fato de ela ter engravidado sob magia, ou talvez, até mesmo o fato de ser bruxa tenha ajudado. Os casos de gêmeos idênticos de sexo diferentes só aconteceram com bruxos, até hoje. Talvez um trouxa, aqui ou ali, na história, mas é extremamente raro.

Hermione focou Voldemort imediatamente.

– Isso significa que não é necessário que mate nenhum dos bebês. – foi quase uma ideia e ela torceu para que fosse comprada.

Voldemort pareceu pensar por um tempo.

– Eu quero o menino. – ele disse.

– E quanta a garota? – Bellatrix se pronunciou. – Como faz para matar a garota?

– Não seria prudente acabar com nenhum dos bebês nesse ponto da gestação. Ela já está bem avançada. – explicou a medibruxa. – Isso afetaria o outro bebê, o menino.

– Eu quero o menino. – repetiu Voldemort. – Tem certeza de que é um menino?

A medibruxa assentiu e, receosamente, propôs que outros companheiros de serviço pudessem entrar para checar a veracidade daquela informação, como se estivesse com medo de estar cometendo algum erro. Voldemort concordou para que pudesse ter certeza e assim os minutos se passaram entre trocas de medibruxos que Hermione nunca sequer havia visto na vida, checando o monitor enquanto trabalhavam com a aparelhagem, soltando sempre as mesmas informações: Gêmeos idênticos, um menino e uma menina.

A maioria deles estava surpresa com o fato de estarem presenciando idênticos de sexos diferentes. Alguns explicavam como, biologicamente, isso era possível, outros apenas pareciam surpresos, como se nunca tivessem tido conhecimento de que algo parecido poderia existir.

Hermione foi se sentindo melhor à medida que começou a notar o interesse de Voldemort. Quando ganhou confiança de que o Lorde definitivamente não lançaria a ordem para matar nenhum de seus bebês, por enquanto, foi como se um banho de alívio a lavasse por completo.

Após a longa sessão, Hermione finalmente pôde se sentar. Voldemort deixou o local acompanhado de medibruxos que discutiam o caso, mas não antes de lançar um terrível olhar a Draco. Um que ficou implícito, para todo o resto de seres humanos presentes no momento que, definitivamente, ele estava em sérios problemas.

Narcisa adiantou-se para ajudá-la a descer da maca e Draco se aproximou em silêncio, oferecendo também sua mão para ajudá-la. Hermione travou por um segundo ao vê-lo com a mão estendida. Seu instinto imediato foi recusar, mas seu cérebro entrou em contradição no momento em que percebeu que apreciava o ato, principalmente depois que acabara de vê-lo estragar todos os anos em que tivera que fazer terríveis atos para provar sua lealdade a Voldemort com o fim de salvar os filhos.

Aceitou a ajuda e, assim que desceu da maca, encerrou o contato. Detestava que estivesse se sentindo ferida por causa dele. Era como voltar a seu segundo ano em Hogwarts. Era como sentir que havia regredido no escudo que criara contra Draco Malfoy. Detestava sentir que estava novamente desprotegida contra ele e que havia voltado a esse ponto.

Narcisa perguntou se ela precisava de ajuda para vestir novamente sua roupa e Hermione agradeceu a oferta dizendo que sim. Mesmo que não precisasse, não queria ficar sozinha. A mulher encarou o filho antes de acompanhar Hermione, repassou os olhos nervosamente pela sala para se certificar de quem estava ali e soltou num tom baixo para que somente Draco pudesse ouvir:

– Não deveria ter gritado. Seu pai vai ter que cuidar do problema que acabou de criar.

Os olhos de Draco ferveram ao escutar aquilo.

– Meu pai não é nenhum tipo de deus, mãe. Ninguém pode cuidar do problema que eu acabei de criar. Vá atrás de tia Bella e tente especular o que o mestre possa ter em mente. Eu fico com Hermione.

Hermione parou de tentar desamassar a camisola que usava no mesmo segundo em que escutou Draco proferir suas palavras finais. O olhou imediatamente.

– Não preciso de ajuda. Apenas queria a companhia de Narcisa.

– Precisamos conversar. – foi tudo que ele disse antes de dar as costas e seguir para a antessala da câmara em que estavam.

Hermione não teve com quem questionar quando Narcisa apenas lhe lançou um rápido olhar, antes de seguir seu caminho em direção a saída por onde Bellatrix havia ido embora. Suspirou quando viu que a única escolha que tinha era ir acompanhar Draco. Foi o que fez.

– Feche a porta. – ele ordenou assim que ela entrou.

Hermione obedeceu e a fechou devagar, como se ainda estivesse pensando se queria ou não ficar ali dentro com ele. Na verdade, por mais que não quisesse a companhia dele, ou por mais que temesse a seriedade que Draco carregava em sua expressão naquele momento, Hermione realmente queria escutar o que ele tinha a dizer a respeito do que eles haviam acabado de descobrir. Era algo deles. Haviam feito juntos e Draco parecia tão interessado em protegê-los quanto ela. Ele deveria ter algo a dizer.

Virou-se para encará-lo, enquanto limpava o suor que ainda restava na palma das mãos no tecido de algodão que a cobria. Draco cruzou os braços, encostando-se na parede oposta à Hermione e, sem encará-la, ele pareceu pensar por alguns longos segundos, como se estivesse decidindo em como começar aquilo, antes de finalmente abrir a boca:

– Eu acabei de enfrentar Lorde Voldemort. A partir de agora, nós estamos fadados à ruína ou a vitória e tudo isso vai depender do suporte e da influência que temos. Sei que havíamos concordado em fazer isso mais lentamente e que estávamos seguindo esse caminho, principalmente agora que o Conselho foi desfeito e as coisas em York estão indo bem. Tudo estava pronto para irmos para a próxima etapa, e de fato fazer as coisas caminharem dessa forma seria melhor, mais racional e menos estressante. – Ele soltou o ar, parecendo um tanto cansado. - Mas eu sabia que as coisas não poderiam ser adiadas se tudo ocorresse como aconteceu hoje, portanto, preciso que esteja preparada para jogar de verdade agora. Durante anos eu estive nesse jogo com Voldemort sem que ele notasse. Tentei ser o mais discreto possível e o Lorde não sabe a carta que venho preparando na manga, mas depois de hoje, ele definitivamente sabe que eu tenho uma porque nenhum ser humano com um cérebro, sendo um Comensal, o enfrentaria como eu o enfrentei sem uma. A única coisa que o impede de fazer com que eu apareça morto amanhã é a posição que eu ocupo, o poder que ele me dá, a influência e o fato dele saber que precisa de mim, querendo ou não. Não só pelos mitos que envolvem minha família e a pedra de proteção de Merlin e todas essas coisas. Ele sabe que eu sou bom e ele gosta dos bons. Conhece meus interesses e sabe que, de alguma forma, eu sou leal a ele até que algo melhor apareça e é com isso que precisamos trabalhar. Fazer com que ele entenda que eu posso não gostar de como as coisas funcionam, mas ele ainda é minha melhor opção. Isso pode nos dar tempo porque, querendo ou não, Hermione, em algum momento ele saberá que eu pretendo fazer com que exista uma opção melhor do que ele, se ele cair. Preciso ter apoio e influência quando esse momento chegar, portanto faça a sua parte. Faça com que a mídia te ame e rápido. Apareça mais, seja mais aberta. Não tenha medo de mostrar sua vida privada, as pessoas adoram isso.

– Minha falsa vida privada com você?

Draco soltou o ar impaciente, não gostando muito do tom que ela havia usado para dizer aquilo.

– Sim. E faça com que ela seja interessante. – foi sua grosseira resposta. - Quanto mais as pessoas estiverem do nosso lado e envolvidas conosco, mais Voldemort terá que pensar duas vezes antes de arriscar triscar o dedo em um Malfoy. Ande mais com Astoria, faça passeios com Elise, aceite pedidos de entrevista, não sei. Faça com que te amem e se interessem cada vez mais por você. – disso Hermione já sabia. Nas últimas semanas, tudo o que realmente fizera fora dar entrevistas e aparecer em público. – Preciso que o mestre te veja mais ativa na guerra. Ele parece ter apreciado o fato de você ter tomado iniciativa com York. Talvez ele pense que tudo o que quer é proteger nossos filhos, mas mostre-se útil. Enquanto provar ter boa utilidade o Lorde verá que não é viável te fazer mal. Vou te dar uma boa posição oficial com a Comissão e ver se posso transitá-la para dentro e fora de Brampton Fort com frequência, assim ele poderá vê-la bastante ativa com as atividades que envolvem meu departamento e perceber que apesar de sermos um pouco rebeldes, trabalhamos para ele.

Não trabalho para ele. Foi o que Hermione pensou quase que automaticamente, mas sabia que trabalhar daquele lado da guerra era um bem maior. Todo aquele teatro era para um bem maior.

– Mais alguma ordem? – queria que Draco entendesse a ironia quando ela jogou aquela indagação no ar logo que ele se calou.

Draco pareceu ponderar mais um pouco.

– Sei que é inconsistente ainda, mas não posso pensar em mais nada enquanto não tiver uma reação definitiva da parte dele sobre tê-lo enfrentado hoje. Fiz coisas pesadas todos esses últimos anos para provar minha lealdade ao mestre e destruí tudo isso em cinco minutos. Não por ter sido rude ou por ter exaltado a voz, sempre fui um tanto “mal educado” com o Lorde, mas por ter deixado claro que eu agora tenho um motivo que me faz enfrentar e contrariar as ordens dele com ameaças. Não fiz isso, nem quando ele me ordenou que eu casasse com você.

Eles ficaram em silêncio por um longo minuto. Hermione esperava que ele dissesse mais, mas não com relação ao fato dele ter enfrentado Voldemort ou como eles deveriam agir para tentar amenizar a situação em que Draco havia os colocado.

– Isso é tudo que tem pra dizer? – ela perguntou incerta.

Draco ergueu os olhos para ela pela primeira vez. Hermione criou esperança de que o marido pudesse comentar algo sobre os filhos, quando ela pensou tê-lo visto hesitar ou passar por um segundo de impasse.

– Sim. – ele acabou por decretar. – Fique atenta a toda a situação e seja inteligente para fazer sua parte. Inteligente eu sei que é. Teremos que tomar decisões muito rápidas agora. – ela continuou a apenas encará-lo e aquilo pareceu incomodá-lo. – Por que parece estar com raiva?

Será que Draco não era capaz de descobrir aquilo por ele mesmo?

– Acabamos de ver nossos filhos através de um monitor e isso é tudo que tem a dizer?

Ele uniu as sobrancelhas.

– O que quer que eu diga, Hermione?

Ela apenas suspirou frustrada. Não entendia como um ser humano conseguia ser como ele. Tão frio.

– Seu pai ainda é o extrato da perfeição aos olhos de Voldemort. Não existe servo mais fiel depois de Bellatrix e talvez isso ainda nos permita ficar intactos porque é ele quem toma posicionamento pelos Malfoy ainda. Você apenas será testado com mais frequência agora, para ter certeza de que Voldemort continua sendo sua melhor opção. Ele jamais desconfiaria do seu pai. Lúcio faz um excelente teatro para o mestre. Agora, se não tem mais nada a acrescentar, por favor, saia. – Hermione foi o mais direta e uniforme possível.

Não queria que Draco fosse. Mesmo que sentisse raiva e estivesse detestando qualquer coisa relacionada a ele nos últimos dias, tinha a mínima esperança de que o homem comentasse algo sobre os filhos. Queria poder conversar sobre os bebês com Draco, mesmo que tivesse que aturá-lo por isso. Hermione não havia feito aqueles filhos, sozinha, e Draco já mostrara interesse o suficiente neles. Se ela estava disposta a abrir mão da raiva que sentia para que os dois pudessem comentar sobre os próprios filhos, porque ele também não estaria? Será que era tão imaturo a esse ponto ou será que apenas era insensível o bastante para não ter o que falar? Pensar assim, a fazia imaginar que talvez houvesse algo de errado com ela por ter mil coisas que gostaria de compartilhar com ele, escutar os pontos de vista que ele tinha, conhecer como ele enxergava a situação.

Mas tudo que Draco fez foi apenas hesitar por alguns segundos, o que permitiu que Hermione aumentasse seu nível de esperança, para depois vê-lo então mover-se e deixar o local, destruindo toda e qualquer chance de poder escutar outra coisa da boca dele que não fosse ordens.

Seu sangue ferveu assim que o marido bateu a porta. Ela quis ir atrás dele e gritar sua fúria. Por quê? Por que ela queria cobrar tanto dele agora? Por que se sentia no direito de cobrar coisas de Draco que no inicio do casamento ela jamais teria se importado? Por que sentia que ele deveria agir de outra forma? Por quê? Era quase que vivenciar o inferno sempre quando a realidade de que a relação deles havia mudado batia em sua consciência. Mudara tanto ao ponto de que não conseguia deixar de se importar com coisas que ela jamais teria se importado antes? Como essa mudança havia sido tão sutil que sequer tivera noção do nível em que estavam atingindo?! Como havia permitido isso?! Será que era tão impossível voltar a ser o que eram antes?

Trocou sua roupa sentindo raiva dele, mas também sentindo raiva de si mesma. Precisava voltar a olhar Draco com indiferença. Mesmo que ele fosse agora pai dos filhos que gerava. Aquilo estava a cegando tanto que mal conseguia se lembrar de que há poucos minutos, estivera aliviada por descobrir que havia um menino em seu útero e isso salvaria a vida de sua menina por enquanto. Ter consciência de que aquela raiva a cegava era o bastante para ter noção do quanto Draco Malfoy a afetava e isso era ainda inaceitável. Hermione não queria estar presa a ele e se sentia ridícula por ver que estava vivendo isso sozinha. Por saber que o marido a afetava, mas ela não o afetava. Era absurdamente doloroso se ver naquele nível, se ver abaixo dele, perceber que ela agora era mais uma das que se envolvera com ele. Draco parecia fazer questão de, com frequência, deixar claro que ela pouco significava algo. Isso não a teria incomodado antes, sabia que não. Agora incomodava e não era só doloroso, era humilhante.

No momento em que deixou aquela sala e saiu da ala das enfermarias, Hermione se sentia decidida a deixar de ficar quieta em seu canto, apenas porque não se via agindo de outra forma ou não se via traindo quem ela pensava ser. Já havia torturado pessoas desde que se tornara uma Comensal, já havia lutado daquele lado da guerra e não fazia muitas semanas em que colocara os olhos sobre dezenas de membros da resistência e ajudara o exército de Voldemort a capturar todos eles. Já não era mais quem pensava ser e já havia traído uma lista das coisas que pensara acreditar.

Não se sentiu culpada quando pisou dentro da Seção da Cidade e seguiu em direção a ala do governador. Não houve nenhum problema de reconhecimento e ninguém a impediu de passar para o lado de dentro. No momento em que entrou na ala principal, deu primeiramente de cara com Theodoro e, logo depois, notou que ele estava seriamente entretido com a secretária na porta de sua sala.

Hermione se aproximou mantendo sua postura e determinação. Ele não demorou a notá-la e, assim que o fez, calou-se e apenas a observou até que ela parasse frente a ele, sem dar atenção à mulher ao seu lado.

– Está ocupado? – perguntou sem hesitar.

Nott parecia surpreso pela presença dela ali e até mesmo receoso pela atitude.

– Sim. – respondeu. - Mas isso não é um problema. – fez questão de deixá-la saber que tinha prioridade.

– Ótimo. – Hermione disse. – Temos que conversar.

Theodoro não escondeu o receio em seus olhos. Hermione entendia que poderia estar sendo intimidadora, mas precisava daquela determinação ou não seria capaz de fazer o que pretendia.

– Nos dê apenas um segundo. – Theodoro se dirigiu à secretária que o acompanhava e abriu espaço para que Hermione pudesse tomar o caminho até sua sala. Hermione entrou e ele a seguiu, fechando a porta e passando por ela. – Espero que não tenha vindo com nenhuma ameaça à minha posição. Ainda estou tendo que trabalhar duro para conseguir recuperar a confiança que você destruiu quando liberou arquivos confidenciais sobre as Casas de Justiça.

Ela sentiu a necessidade de protestar que havia feito o que era certo, mas teve que se focar. Não era para aquilo que havia ido até ali. Puxou o ar sem desfazer sua postura e disse com confiança:

– Faça o que quer fazer comigo. – Hermione seguiria o passo dele. Deixaria que Nott a guiasse.

Mas ele pareceu confuso por um segundo e só depois que alguns deles se passaram, pareceu entender o que ela queria dizer, mas, ainda assim, parecia receoso.

– Como disse? – ele optou por se mostrar ainda confuso.

Hermione soltou o ar, um tanto sem paciência, aproximou-se de modo mais significativo até ter os olhos dele próximos aos seus. Vacilou um segundo para a boca dele e o que conseguiu pensar foi em Draco. Seu sangue esquentou.

– Eu sei o que quer. – seu tom foi mais baixo pela proximidade. – Faça.

Theodoro pareceu em dúvida por um longo minuto em que seus olhos pularam dos dela para sua boca, com frequência. Ele parecia debater entre ir em frente ou ser cuidadoso, como se soubesse que agora Hermione tinha sangue Malfoy e muito provavelmente escondia algo na manga.

Essa pequena guerra, entretanto, foi breve porque logo ele deu um passo quebrando a distância entre eles. Segurou o rosto dela entre suas mãos parando sua boca a centímetros da dela, enquanto a arrastava até que suas costas batessem contra uma estante. Seus hálitos brigaram por espaço e Hermione se preparou para sentir o gosto dele quando Nott tomou ar duas vezes em sinal de que devoraria sua boca. Mas não aconteceu. Ela pensou em perguntar o que havia de errado, o porquê ele estava hesitando, mas no segundo em que tomou ar para perguntar, Theodoro tomou também o dele e avançou provando sua boca.

Beijar alguém novo era sempre como se estivesse beijando pela primeira vez. Hermione não era acostumada a ter alguém diferente toda noite ou fazer trocas com frequência. Sua vida inteira ela sempre fora bastante consistente com quem quer que estivesse se envolvendo. Causalmente ou não. Talvez esse tenha sido um dos motivos pelo qual sequer se passou pela cabeça dela, a ideia de ter outro quando começara a se envolver com Draco, mesmo que fosse casual, mesmo que estivessem cumprindo uma ordem, mesmo que tivessem um acordo silencioso de que eram livres por não significarem nada um para o outro.

Theodoro, porém, parecia ser capaz de fazer com que ela se sentisse confortável o suficiente para que se lembrasse que fizera aquilo milhões de vezes antes e sabia como fazer. Hermione não se privou, assim como também não se privara com Harry quando ele também a fizera se sentir tão confortável. Enfiou suas mãos pelos cabelos de Nott e sentiu que ele pressionou seu corpo contra o dela para poder senti-la por inteiro, mas se lembrar de Harry, naquele momento, não foi uma ajuda. Foi como se estivesse recebendo um aviso da Hermione do passado, a Hermione que crescera com seus pais, que conhecera seus melhores amigos em Hogwarts, que lutara contra todas as forças ruins de Voldemort. A Hermione leal, fiel, companheira, corajosa e guerreira. Ela era boa. Deveria ser. Como e porque havia se corrompido tanto?

A boca dele desceu pelo seu pescoço e ela se sentiu a pior pessoa do mundo quando seu cérebro a lembrou de que seus dois melhores amigos, que inclusive eram melhores amigos entre si, haviam se tornado seus amantes. Lembrou-se de ter ido atrás de Krum dezenas de vezes somente para poder ter alguma resposta de Rony quando era apaixonada por ele. Lembrou-se de impedir Harry, centenas de vezes, de ser honesto sobre o envolvimento que tinham com as pessoas que o cercavam. Agora, ela estava ali, grávida de um homem que passou a vida inteira odiando, pronta para se entregar para outro homem que fazia parte de um grupo de pessoas que detestava, pessoas que não sabiam o que significava humanidade, respeito, família ou amor. Grávida.

– Pare. – sua voz saiu fraca e Hermione tentou afastá-lo. – Pare! – foi mais firme. O que ela havia se tornado? Por que estava fazendo aquilo? Por que havia se permitido fazer aquilo por causa de Draco Malfoy? – PARE! – dessa vez, tentou empurrá-lo e Theodoro não pareceu gostar do ato. Segurou os pulsos dela com firmeza e os prendeu contra a estante, logo acima de sua cabeça. Ela se assustou quando ele não parou. – Eu estou grávida, Theodoro!

– Todo mundo sabe disso! Você veio até mim! – ele a olhou de modo irritado. – Não ouse me parar agora! – e tentou abrir caminho por sua boca novamente.

Hermione não conseguia ficar surpresa por ver que o fato de estar grávida não o incomodava. Nott era um comensal, não havia nele noção de respeito. Tentou desvencilhar-se, mas ele não permitiu e foi nesse momento em que ela se lembrou das poucas, porém produtivas, sessões que tivera com Draco nas manhãs e madrugadas das salas de simulação. Ela não era boa com a parte física, seu conhecimento em magia conseguia superar esse déficit, mas não ser boa não significava ser precária. Num segundo Hermione torceu os pulsos, usou os cotovelos para empurrar os braços dele para longe dela, enquanto mordia seus lábios para distraí-lo de sua força. Empurrou o corpo de Theodoro com o seu e usou um dos joelhos para impulsionar a distância que queria que ele tomasse. O homem cambaleou para longe dela, soltando um guincho de dor e usando os dedos para verificar o estado de seus lábios.

– Mas que inferno... – ele protestou furioso.

– Eu disse para parar! – ela ofegou.

– Quem a treinou? – Nott a olhou confuso e irritado. – Que tipo de jogo é esse, Hermione?! Você quem veio até mim! Você quem pediu para que eu fizesse com você o que eu queria! – havia uma linha fina de sangue que aparecia no canto de sua boca. Ele a limpou.

Hermione continuou tentando estabilizar sua respiração, enquanto procurava por uma reação justificável para aquela situação.

– Eu estou grávida! Acaso você não tem o mínimo de respeito? Deveria ter parado quando eu disse para parar!

– Respeito? – Theodoro soltou um riso de incredulidade. – Eu não sabia que respeito deveria ser aplicado aqui. Isso sequer se passou pela minha cabeça, mas se essa é a sua visão, então deveria ter consciência de que você quem se desrespeitou em primeiro lugar, vindo até aqui. – ele não estava mesmo contente.

Hermione teve que prender o ar ao escutar aquilo. Não podia contrariá-lo, não podia desmenti-lo, não podia sequer defender-se. Theodoro tinha razão e ela se sentiu coberta de vergonha. Quis tampar o próprio rosto, desculpar-se, dizer que sentia muito, mas... Por mais que a antiga Hermione lutasse por uma reação justa ali, seu novo eu bombardeou sua consciência de que era uma Malfoy e que a armadura que esse sobrenome a fizera construir, a vestia quase que no automático agora. Puxou o ar, deu as costas e se apressou até a porta. Tocou sua maçaneta e a girou, mas quando começou a abri-la, Theodoro apressou o passo, passou por ela e a fechou novamente.

Hermione o olhou novamente, como se estivesse pronta para sacar sua varinha se ele ousasse descontar a raiva que havia visto nos olhos dele, mas dessa vez, seu olhar estava limpo e sua expressão menos tensionada.

– Me desculpe, Hermione. – Nott pareceu verdadeiramente honesto. – Me desculpe, eu venho a desejando por tanto tempo. Você não faz ideia. Pensei que fosse tê-la e isso foi tudo o que me cegou minutos atrás.

Ela se lembrava de tê-lo escutado dizer, mais de uma vez, que a queria, que havia se apaixonado, que pensava nela e se importava com ela. Uniu as sobrancelhas.

– Se acaso se importasse comigo, e não com o desejo que tem por mim, teria parado. – foi tudo o que ela disse em retorno. A última vez que estivera com Draco na cama, ele também havia dito que não se importava com o que ela queria, mas parara quando vira nos olhos dela que ela não queria. Soltou o ar e tornou a tocar a maçaneta.

Theodoro colocou sua mão sobre a dela chamando sua atenção novamente.

– Eu sempre recebi mulheres que chegaram até mim do mesmo jeito que você chegou, com o coração quebrado por causa de Draco. – Meu coração não está quebrado por causa de Draco. Foi o primeiro pensamento de Hermione ao escutá-lo. – Você foi a única que me parou. – Theodoro finalizou e deixou que ela fosse.

Ela foi. Meu coração não está quebrado por causa de Draco. Ou estava? Não. Ele não tem esse poder. Ou tinha?



Draco Malfoy



A tampa do piano estava levantada, ele tinha o braço apoiado nela e a testa encostada no braço, enquanto uma garrafa quase vazia de whisky pendia em sua mão. Sentado desajeitadamente sobre uma perna no banco, com a gravata frouxa e os botões da camisa abertos, corria seus dedos pelas teclas bem preservadas do caro instrumento neoclássico produzindo um som não muito agradável. Não sabia tocar. Conhecia algumas notas, apesar disso, e pedaços de peças famosas, mas era absolutamente péssimo.

Na meia luz de uma das salas próximo a de jantar, Draco tentava se lembrar das teclas que deveria apertar para fazer soar algo parecido com uma famosa peça de um daqueles grandes artistas clássicos que todo mundo conhecia. Ele se lembrava de que conseguia fazer com uma mão, uma das melhores partes, mas sua memória não estava o ajudando. Continuava, entretanto, porque precisava de uma distração e o álcool já havia perdido aquele efeito há semanas.

Toda vez que virava um gole de whisky ou conhaque ou qualquer bebida forte que fosse, ele se lembrava de como havia ficado tanto tempo sem sentir falta delas nos últimos meses. Não tinha problemas com bebidas, seu pai sempre havia se preocupado em ensiná-lo a não ser um idiota com relação a isso, embora Lúcio mesmo não desse as melhores lições, mas de qualquer forma, Draco tivera tanto tempo em Hogwarts para passar mal com álcool que hoje e há muito tempo, já não havia mais graça. Aquela bebida só lhe servia para colocar sua cabeça em um tipo de nuvem quando ela parecia pesar o peso do mundo e, muitas vezes, falhava pela resistência que ele tinha a ela.

Errou a tecla seguinte e por frustração, fez questão de também errar a próxima. Esperou alguns rápidos segundos para tentar novamente e foi aí que conseguiu sentir a presença dela. Hermione havia seguido direto para o quarto assim que eles chegaram da Catedral. Ela parecia cansada e o número de vezes com que fechara os olhos durante a viagem da Catedral para casa, fez com que Draco desconfiasse de que estava com algum tipo de dor de cabeça severa.

– Você é realmente ruim ou está fazendo de propósito? – a voz de sua mulher soou cansada e rouca.

– Eu tinha que ter um defeito, não acha? – Draco foi irônico.

Ele não a escutou rir.

– Eu poderia citar uma centena de outros, antes desse. – a voz de Hermione foi séria e ele quase revirou os olhos, cansado, da língua afiada que ela usava com ele, em grande frequência agora. Draco quase não conseguiu escutar os passos dela descendo as escadas às suas costas e presumiu que ela estivesse descalça. – Moonlight Sonata. Conheço essa música. – a voz dela soou mais próxima dessa vez.

– Hum. Talvez eu não seja tão ruim assim. – se Hermione era capaz de identificar, talvez ele realmente não fosse.

– Acredite, você é, e a música é depressiva. – podia escutar o rancor incrustrado lá no fundo da voz dela sempre que se dirigia a ele.

– Eles usam para acalmar lobisomens em noite de lua cheia.

– Usamos com Lupin. Nunca funcionou. – Hermione comentou e ele escutou o som das cortinas se movendo. Conseguiu visualizar em sua cabeça a cena dela observando a noite do lado de fora. – Pensei que fosse voltar para York.

– Eu deveria, mas o Lorde já me mandou ordens para estar no gabinete dele amanhã pela manhã e não permitiu que eu usasse minha chave de portal de volta para York.

– Isso deve explicar as duas garrafas vazias e a que está segurando. – conseguiu ver os pés de sua mulher dando a volta no piado. – É uma pena que não tenha encontrado companhia para sua noite. – ela parou, apoiando-se no piano ao seu lado.

Ele sentiu um gosto amargo em sua garganta e teve que soltar o ar, buscando paciência. Ergueu os olhos para vê-la com os cabelos presos no topo da cabeça, o rosto limpo de maquiagem, os olhos pesados e um tanto vermelhos. Ainda vestia o vestido que usara durante todo o dia, mas tinha um tecido de lã que usava para se envolver protegendo os braços e as costas. Hermione parecia cansada, sem humor, sem vida.

– Com quantas mulheres você acha que eu me envolvo por dia, Hermione? Eu não sei o que se passa pela sua cabeça, mas eu tenho uma guerra para vencer, um imperador para derrubar, filhos para salvar e um teatro falso para expor ao mundo sobre uma linda e feliz vida que eu não vivo. Eu não tenho tempo para uma mulher por noite ou para mulheres em geral se quer saber. – mulheres sempre haviam sido uma diversão extra para Draco e agora deixaram de ser, justamente, por culpa de Hermione. Maldito jogo em que ele havia se deixado cair com ela. - Está criando uma imagem minha em sua cabeça apenas porque me viu com uma mulher, uma vez, trancado em minha sala. Não sabe nem o que estávamos fazendo lá, Hermione. Não viu nada, não estava lá. – ele levantou-se e virou um longo gole de bebida. Ela ficou em silêncio. Draco não queria dizer aquilo, não queria nunca ter tocado naquele assunto, mas talvez a quantidade de álcool que havia ingerido não o deixara segurar a língua e ter a paciência costumeira que tinha com a afiada de Hermione. – Eu não levo para cama qualquer mulher que aparece na minha frente e eu não quero levar mulheres para cama a todo segundo. Não quero que comentem sobre você principalmente. É minha esposa e vai ser mãe dos meus filhos. Não quero que olhem para você como olham para a minha mãe algumas vezes, por culpa do meu pai. Eu não sou como ele. – ou pelo menos tentava arduamente não ser, embora na maioria das vezes, se visse no impasse de ir a favor de Hermione para poder ir contra o seu pai ou ir a favor de seu pai para ir contra Hermione. Era sempre mais fácil ir a favor de Hermione e isso o surpreendia e o assustava muitas vezes, porque durante sua vida inteira, sempre fora mais fácil ir a favor de seu pai.

Virou novamente a garrafa. Precisava de mais álcool porque sempre quando ela estava por perto, havia um tipo de energia que o impulsionava a vacilar em seu alto controle. Draco a queria tanto que tudo dentro de si parecia querer entrar num tipo de vácuo que o levaria até ela por inércia. Ele lutava contra e precisava de concentração para isso, mas estava farto do quão cansativo era tudo aquilo. Jogou-se numa das poltronas e desviou o olhar da figura de Hermione, apenas para tornar mais fácil a tarefa de esquecer o quanto sua mulher era absolutamente encantadora, mesmo quando ele sentia raiva ou quando ela o olhava com rancor. Eles entraram em silêncio e Hermione moveu-se do piano até o banco onde ele estivera antes para sentar-se com cuidado. Draco não conseguiu ficar muito tempo com os olhos longe dela e logo se viu a observando correr os dedos sobre as teclas do instrumento distraidamente.

– Obrigada por dizer isso. – a voz dela soou baixa e sincera dessa vez. Merlin, como ele sentia falta daquele tom! Era calmo e pacífico. Fazia com que se lembrasse de quando conversavam no escuro da noite, antes de dormir, e de como aquilo tinha o poder de fazer sua cabeça flutuar num oceano de paz sem a ajuda de qualquer gota de álcool. – Seria tão mais fácil para nós se pudéssemos conversar. – Hermione apertou uma tecla como se estivesse curiosa para saber que som produziria. A nota aguda soou no silêncio que ela criou, mas logo a soltou.

A forma como viviam agora não era como antes. Abriam a boca um com o outro para serem ignorantes e rudes e isso só criava mais ódio e mais raiva. E o mais grave de tudo era que não era só insuportável como antes, agora também era doloroso.

Sentia falta de conversar com ela. Sabia que se eles conversassem, não seria como eram antes. Indiferentes um ao outro, como no começo. Tudo porque quanto mais eles conversavam, mais Draco a conhecia, e quanto mais ele a conhecia, mais a queria e quanto mais a queria, mais se assustava, mais hesitava, mais ele tinha medo e queria se afastar. O que havia conhecido de Hermione era irreal. Não podia existir nenhum ser humano no mundo mais altruísta, compreensivo, pacificador e justo do que ela. A forma como sua mulher enxergava a vida e as circunstâncias era algo que ele julgara utópico sua vida inteira. Ela havia o mostrado dezenas de vezes que não era utopia.

O silêncio que cresceu entre eles fez lembrá-lo de antes, quando a companhia dela não era incômoda, quando não havia nada de estranho entre eles e eram capazes de ficar em um mesmo ambiente sem trocar farpas. Sabia que não deveria se dar ao luxo de voltar a conversar com Hermione como antes, voltar a trocar ideias de modo casual, mas já havia guardado tantas palavras e pensamentos dentro dele que gostaria que existisse uma poção para aliviar a insanidade que isso lhe causava. Hoje mesmo, Draco havia contado as horas para chegar em casa, onde poderia se encharcar de álcool para tentar se livrar do peso de ter visto e tido informações sobre seus filhos, e dos pensamentos que borbulhavam em sua cabeça por causa disso. Sua boca inteira havia coçado quando Hermione o olhara, no vestiário, esperando que ele comentasse ao menos algo.

Era fácil para ela ser aberta e compartilhar essas coisas, como se não tivesse significado nenhum. Talvez fosse acostumada demais a essa fácil troca de informações de onde viera e não entendesse o real valor do que era ter alguém com quem pudesse ter confiança para compartilhar todo tipo de informação. Ele, sim, entendia o valor daquilo. Sempre havia guardado tudo para si. Nunca tivera alguém como Hermione. Se ela soubesse o valor que isso tinha para ele, certamente não o teria olhado com tanta raiva.

Soltou o ar e afundou mais em sua poltrona, passando a perna por um dos braços dela. Colocou a garrafa contra sua têmpora na esperança de que o material frio pudesse aliviar o calor da dor em sua cabeça, por guardar tanto para si depois que Hermione havia o mostrado que sabia escutá-lo. Sentia falta da opinião dela, da voz dela, dos pensamentos que ela também compartilhava. Estava tão louco para escutar os pensamentos dela sobre seus filhos quanto estava para compartilhar os seus.

– Hermione, o que sentiu hoje... – sua voz começou baixa. -... quando escutou o coração deles batendo? – talvez seu senso e racionalidade se aproximassem mais de sua razão quando estava sob efeito do álcool. Era como se estivesse sendo informado de que seu afastamento dela não tinha outro motivo que não fosse teimosia.

Hermione puxou o ar ao escutar aquilo e deslizou seus dedos para longe das teclas do piano.

– Como se minha alma tivesse o peso de uma pena e meu coração estivesse derretendo. – a voz dela foi tão baixa quanto à dele.

Céus, Draco queria que eles estivessem na cama, debaixo do cobertor, no escuro, sentindo o calor do corpo e a respiração um do outro, onde poderia tocá-la, sentir a pele dela, a barriga dela, a textura dos cabelos dela.

– Nós somos uma bagunça. Como conseguimos criar isso? – ele fechou os olhos tentando se lembrar do som. – Vida. – sussurrou.

Ele a escutou suspirar.

– Não estávamos sendo uma bagunça quando criamos isso. – Hermione disse.

E tinha razão. Não estavam sendo uma completa catástrofe quando geraram aquelas vidas. Se ela soubesse a falta que aqueles dias faziam a ele, será que lhe daria às costas? Será que ela diria que estava sendo ridículo? Será que ela o deixaria saber que só fazia falta a ele? Tentou afastar aqueles receios que o atormentavam com demasiada frequência e se concentrou em ficar satisfeito que, ao menos com relação aos filhos, eles sentiam o mesmo.

– Eu nunca pensei que fosse dar minha vida por nada nem ninguém até hoje. – Draco sequer era capaz de descrever. – Nunca tive tanta coragem para contrariar Voldemort. – ela talvez não fizesse ideia da dimensão que isso atingia. – Eu estava pronto para usar minha varinha se necessário, Hermione. Só a ideia de alguém tocando em você me faz ter calafrios.

Ela ficou em silêncio por um bom tempo. Ele apenas observou a figura dela de costas.

– Você deveria beber com mais frequência. – Hermione finalmente disse. – Queria que pudéssemos conversar mais como duas pessoas civilizadas ao invés de sermos tão insuportáveis um com o outro, por orgulho.

– Estamos apenas tentando voltar a ser o que éramos antes.

– Indiferentes? - ela suspirou cansada e cobriu o rosto por uns segundos, antes de passar os dedos pelos cabelos para soltá-los. – Será que em algum momento vamos perceber que isso que estamos fazendo não está nos levando a nada, além de mais ódio, mais rancor e mais raiva? – a voz dela foi fraca e sem vida. – Eu me lembro de ter pensado que nós podíamos ter alguma esperança, não faz muito tempo. É tão absurdo o modo como podemos voltar a fazer mal um ao outro com tanta facilidade. Eu não quero viver assim para o resto da vida. Eu não posso ser forte por tanto tempo, portanto não me julgue quando eu cansar e ceder. - Em momento como aquele Draco via que por mais forte, mais confiante, mais inteligente, orgulhosa e determinada que Hermione fosse, ela não deixava de ser sensível e que algumas coisas tinham o poder de destruir toda a vida que ela carregava dentro de si aos poucos. Ele sabia que era uma delas. – Ninguém nunca foi capaz de fazer com que eu me sentisse tão perdida, confusa e sozinha como você. – ela virou-se, o encarou, suspirou e levantou massageando um dos ombros, enquanto alongava o pescoço. – Ainda quer que eu prepare a mesa de jantar? Sei que já é tarde.

Mulheres haviam dito aquilo para ele a vida inteira. Mulheres com quem havia ido para cama uma ou duas vezes e que se apaixonavam enlouquecidamente. Vivera aquilo dezenas de vezes, principalmente quando era adolescente, porque garotas adolescentes se apaixonavam com uma facilidade assustadora e a forma como viviam suas paixões era sempre intensa e sufocante. Draco nunca havia se importando com nenhuma delas, com o choro de nenhuma, com as palavras de nenhuma, nunca havia dado esperanças a ninguém. Ele não assumia a culpa sobre aquilo que não tivera responsabilidade. Mas Hermione... Hermione não havia chorado um coração partido. Tudo que ela havia o feito enxergar com aquelas palavras era o quão incapaz ele sempre seria de completar qualquer pessoa, o quão incapaz ele seria de poder proporcionar felicidade, amor, companheirismo a qualquer um que fosse. Aquilo o incomodou de tal modo que fez a angústia lhe subir pelas veias e ficar entalada em sua garganta, simplesmente porque sabia que realmente era incapaz. Era incapaz e talvez por isso tivesse passado sua vida inteira sem dar esperanças a ninguém, talvez fosse por isso que jamais tivesse sido capaz de se apaixonar, talvez fosse por isso que aceitava e consentia com o infeliz futuro que seu sobrenome o condenava a ter, talvez fosse por isso que tivesse medo daquilo que Hermione o fazia sentir.

– Esqueça o jantar, Hermione. – desviou o olhar, simplesmente porque não queria ter seus olhos sobre sua mulher agora. O terrível sentimento de ter falhado com ela expunha demais o quanto Draco se importava, o quanto aquilo significava. Era assustador.

Escutou as solas dos pés dela contra o chão tomarem o rumo da escada, mas Hermione logo parou. Ele entendeu o porquê, quando ao mesmo tempo, conseguiu escutar de longe o som de uma carruagem estacionando no pátio externo da frente de sua casa. Só podia ser uma pessoa se a carruagem havia conseguido passar pelos portões de sua propriedade sem que ele fosse avisado. Não demorou e Tryn apareceu informando que a Sra. Narcisa Malfoy estava em sua porta. Draco desviou o olhar para Hermione e ela parecia tão confusa quanto ele.

– Acaso chamou minha mãe? – perguntou e ela somente negou com a cabeça.

Draco se levantou e atravessou os cômodos e corredores até chegar à sala principal. Era uma surpresa saber que sua mãe havia deixado a casa quando sabia que seu pai estava nela fazendo-a companhia. Logo encontrou sua mãe no vestíbulo, despindo-se do casaco e do fino tecido de seu cachecol. Narcisa o olhou e seus olhos estavam vermelhos, seu rosto inchado e suas bochechas molhadas. Draco não soube como reagir.

– Posso ficar aqui? – ela pediu numa voz que quase o fez desmoronar. Sua mãe era forte. Ele nunca havia a visto vacilar.

– O que aconteceu? – ele logo tratou de perguntar.

A boca dela tremeu e ela apertou os lábios como se estivesse contento a própria morte.

– Onde está Hermione? – ela perguntou e Draco sentiu o sangue fugir de suas veias quando todo e qualquer tipo de preocupação relacionado à sua mulher o atingiu. Por que Hermione? Por que ela? O que havia de errado com ela?

– Estou aqui. – a voz de Hermione soou logo às suas costas. Baixa e preocupada.

Sua mãe puxou o ar, numa tentativa não muito eficiente de retomar sua postura e focou-se apenas nela, como se aquilo fosse assunto das duas e exclusivamente delas.

– Eu estou o deixando. – a voz de sua mãe continuava trêmula. – Lúcio. – especificou. – Estou o deixando. – repetiu.


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Notas finais do capítulo

WHAT?! Gente... pq será que Narcisa largou o Lúcio??
E quem temeu aí pela vida dos gêmeos levanta a mããão!
hahahaha
Pobre Hermione. Toda confusa, toda perdida. Sei que alguns de vocês estavam do lado de dar o troco no Draco com o Theo e muitos de vocês tinham aversão só de pensar na ideia! Eu particularmente nunca vi a Hermione se entregando pro Theo, mas claro que ela está grávida e tudo que esta acontecendo, todos os hormonios, todas as decepções... ela foi lá tentar dar o troco, mas graças a Deus ela caiu em si do que estava fazendo e o Theo tbm se provou um verdadeiro imbecil. hahaha Eu acredito que o Draco precisa ter o ciúme dele, mas Theo não tem o poder de colocar ciúmes nele. Theo não significa nada para Hermione e se alguém for colocar ciúmes nele, esse alguém tem que ser alguém que tem um forte significado pra Hermione! O breve momento H/H do inicio do capítulo serve pra introduzir o drama dos próximos capítulos! haha
Até o dia 04!
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