CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

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2. Capítulo 2

Draco Malfoy



— Você é um projeto frustrado, Draco. – Voldemort disse.

Draco riu sentando-se na poltrona a frente da de seu mestre. Levou o copo de whisky a boca e ingeriu o líquido forte enquanto deslizava seus dedos pela camurça carmesim do braço da poltrona.

— Soa muito ingrato, mestre. - falou divertido.

— Se direciona a mim de maneira muito ousada. – repreendeu Voldemort.

— Está faltando a parte em que me chama de mimado no seu discurso. – tamborilou os dedos no copo fazendo com que o gelo tilintasse. – O que é uma grande verdade. – encarou o líquido e tornou a ingeri-lo. Sorriu e encarou o ofídico a sua frente. – Quer que eu o tema como todos os seus outros comensais, não quer? Por isso sou seu projeto frustrado?

Voldemort pareceu precisar de um momento de reflexão enquanto mordia o charuto e deixava Draco se intoxicar com a fumaça expirada.

— As pessoas me temem porque elas tem juízo o suficiente para tal. – suspirou – Agora você se acha inteligente o suficiente para pensar que pode ser como eu apenas porque lidera o meu exército. Aproveita-se por saber que nutro algum sentimento de apreço por você. É rebelde, abusado e mimado.

— Não me julgue um suserano ingrato, mestre, mas não é, de maneira nenhuma plausível para qualquer ser humano, que domine minha vida da forma como faz e ainda diga que nutre algum sentimento de apreço.

Foi a vez de Voldemort rir.

— Não enxerga os privilégios que tem, menino Malfoy? - Draco odiava quando Voldemort se referia a ele daquela forma, como se fosse seu tio querido que havia lhe dado os melhores presentes todos os natais de sua infância. – Eu te dei meu exército!

— Matei Dumbledore! O homem que mais temia! Eu me fiz merecer seu exército!

— Tem acesso direto a mim! Tem acesso a maioria dos meus planos, das minhas pretensões! Compartilha do meu conhecimento! Da minha sala! Da minha mesa de jantar!

— Ganhei suas guerras! Não julgue como um presente aquilo que eu conquistei!

— Controle sua maldita língua afiada e ponha-se no seu lugar, Draco! – Voldemort fez soar, mas não com a raiva que esperava de seu mestre, e sim com uma paciência contida. Ele tragou seu charuto e sorriu, o que Draco não esperava. – Gosto de você. Do orgulho que tem, da ousadia, e da coragem que seu cérebro te fez ganhar com os anos. Mas é mimado. Mimado demais para enxergar e para entender o apreço que tenho por você. – soltou a fumaça calmamente. – Seria meu herdeiro se Lúcio não o tivesse criado tão errado. Por isso é um plano frustrado. – Voldemort suspirou e deixou o charuto de lado passando a se levantar. – Mas ainda não deixo de admirar suas qualidades, Draco. Tem todas das quais eu gostaria que tivesse. Por isso me dará um herdeiro.

— Por isso me quer casado com uma sangue-ruim? – Draco perdeu o ânimo. Há uma semana que aturava aquele discurso e tudo que tinha direito a fazer era pronunciar-se sobre seu claro desagrado. Nada que realmente o isentasse da tarefa de ter Hermione Granger como esposa. – Está destruindo uma linhagem inteira de puros-sangue! Os Malfoy são uma família milenar! Fizeram muitos sacrifícios para manter a família como é.

— Poupe-me do seus textos cheios de orgulho!

Draco se levantou.

— Eu não quero uma sangue-ruim!

— Estou te dando a oportunidade de me dar um herdeiro!

— Trata isso como uma oportunidade? – indagou Draco fazendo uma careta.

— Me desagrada saber do seu pouco caso! Sou seu mestre, não sou?

— Sim! É meu mestre! Mas não sou Bellatrix Lestrange para lamber o chão que pisa! Sabe que sou seu comensal! Sou o mais sincero de todos. Devoto o suficiente para te fazer ganhar uma guerra!

— EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! – Voldemort voltou-se para ele. Draco soube que já havia provocado o suficiente com suas palavras sinceras demais. Sabia que nunca deveria ferir o ego de Voldemort, mas ele gostava de provocar. – VOCÊ NÃO PASSA DE UMA MÃO DE OBRA BARATA! FAZ O SERVIÇO QUE EU FARIA MELHOR DO QUE VOCÊ, MAS FAZ PARA QUE EU APENAS DESEMPENHE O MEU PAPEL DE MESTRE E DITADOR! NÃO SE ENXERGUE COMO ALGUÉM AO MEU NÍVEL! PONHA-SE NO SEU LUGAR.

Draco calou-se. Qualquer outro comensal teria se ajoelhado em milhares de “Perdão, mestre!”, mas era sabido que Voldemort conhecia o orgulho de Draco o suficiente para ter a plena consciência de que ele não se prestaria a esse papel. Era exatamente nessas horas, quando Voldemort não lhe apontava a varinha e o amaldiçoava, que Draco via o apreço ao qual ele se referia. Qualquer outro comensal estaria perdido por despertar a ira de seu mestre.

— SAIA! – berrou Voldemort.

Draco fez apenas uma reverência e deu as costas. Momentos como aquele, Draco guardava bem em sua memória. Nunca havia sido o tipo de se submetia a ordens e leis, mas aqueles momentos o fazia se questionar o porque havia sido comprado tão facilmente por ela.

**

Jogou-se em sua cadeira, puxou a pena sobre a mesa e a girou entre os dedos habilmente. Ponderou quando deixou sua cabeça pender sobre o encosto. Sua sala era numa das alas mais afastadas da catedral. Longe até mesmo da área do quartel, onde seu exército treinava. Seu exército. Podiam até lutar em nome de Voldemort, mas todos aqueles homens eram seus homens e se submetiam a suas ordens, que no caso eram as ordens de Voldemort. Por enquanto.

Por enquanto.

Soltou o ar.

Tinha orgulho por poder se mostrar tão competente em uma tarefa. Claramente Voldemort fora bem esperto em lhe passar a liderança visto que sua alegria sempre fora gritar ordens, mas de maneira tão igualmente esperta, Draco se aproveitara. Seus homens venciam uma guerra. Venciam em cima das estratégias que Draco varava noites para bolar e seus homens sabiam disso. Obviamente que quando havia sido mais novo, ele ficara maravilhado com suas vitórias e sim, lutava por Voldemort. Mas hoje, quando estava na frente de todo o seu exército, sabia que aquele homens acreditavam mais em sua causa do que na do ditador. Porque eles tinham história juntos. Voldemort não estava em campo de batalha com eles, tomando países, matando pessoas, proferindo maldições, derrubando outros ditadores e outros governos, contendo resistências nem domando Ministérios da Magia. Voldemort era só um nome pelo qual eles lutavam e há uns anos isso estava se tornando claro para Draco. Cada vez mais claro. E as vezes se perguntava se já havia passado pela cabeça de Voldemort que Draco poderia ser um perigo futuro. Será que Draco realmente poderia ser um perigo futuro?

Ponderar tais coisas lhe dava dor de cabeça. Mais do que tratar de estratégias de ataque.

Abriu os olhos quando escutou leves batidas na porta. Ajeitou-se desleixadamente sobre a cadeira atrás de sua mesa e agitou a varinha para dar passagem ao visitante.

Sua mãe se mostrou ao passar pela porta. Vinha elegante num dos seus vestidos escuros, com os cabelos loiros penteados e brilhosos, olhos azuis poderosos e postura intacta. Draco olhava para aquela mulher e tinha a certeza de que mesmo depois de todas as guerras que já estivera na frente, ainda não havia se tornado um monstro. Não havia, porque ele ainda sabia o que era amor. Sabia, porque amava aquela mulher.

Ela vinha com um envelope nas mãos e não disse nada quando se sentou numa das cadeiras a frente da mesa e o colocou sobre o colo. Os dois se encararam em silêncio por longos segundos. Cada um sabia sobre o que o outro lamentava.

Foi ela quem quebrou o silêncio, puxando o ar, engolindo a saliva e umedecendo os lábios.

— Sua tia me disse que esteve com o Lorde ontem pela manhã. – a voz era fria e firme. Sua mãe nunca fora calorosa nem nunca se mostrara emotiva. Draco sempre se lembrava dela de cabeça erguida, por mais que tivesse todos os motivos para nunca estar.

— Estive. – confirmou Draco.

Silêncio.

— Ele considerou o nome da família...

— É uma ordem, mãe. – Draco a cortou. – Uma ordem dada pelo meu mestre. A senhora sabe que não há como reverter as leis de Lorde Voldemort.

— Uma ordem absurda. – expôs a mãe. – Já leu os jornais da cidade? Estão colocando a sangue-ruim como um prêmio. Uma honra dada pelo mestre a nossa família! Mas não é isso que as pessoas comentam nas ruas! Dizem que estamos acolhendo uma sangue-ruim. E o pior! Dizem que você está apaixonado por ela! Pela beleza dela! Que foi você quem pediu ao mestre para tê-la como mulher!

Draco sentiu uma fúria repentina pela ingratidão do povo que ele lutava para manter em segurança, mas logo a engoliu.

— É uma ordem do meu mestre, mãe. – disse frio e seco, mais desejando vomitar do que ter que dizer aquilo.

Narcisa Malfoy fechou os olhos e baixou a cabeça soltando o ar e comprimindo os lábios numa reação de aborrecida.

— Disse que nunca se casaria. – sua mãe disse baixo.

— E além de me casar, terei que fazer um filho. – cuspiu Draco.

Sua mãe resfolegou sarcástica.

— Seu pai deve estar adorando tudo isso. – quase soava com nojo.

Draco fez uma careta.

— Por que não deveria afinal? Ser avô do herdeiro de Lorde Voldemort. Tem ideia de como isso irá parar nos livros de história dos próximos anos? Seremos a maior família que esteve ao lado do reinado do maior bruxo de todos os tempos. O herdeiro desse bruxo terá o nosso sobrenome.

Sua mãe ergueu os olhos extremamente azuis para ele. Sabia que sua mãe sofria por ele.

— Sinto muito Draco. – ela disse. Não havia sido caloroso, mas embora soara frio, sabia que sua mãe realmente sentia por ele.

— Quando foi que meu pai realmente considerou que eu estaria no meio desse interesse? Sou só um objeto para os objetivos dele. Isso não é novidade há muito tempo. – Draco se levantou. - Estou cansado. – deu as costas para a mãe indo até a abertura dos vitrais. – Cansado de seguir regras, de me ajoelhar diante das leis de Lorde Voldemort! Não quero me casar com aquela maldita sangue-ruim. Não quero fazer filho nenhum. Meu pai está me pondo nessa situação porque quer que eu não tenha alternativas a não ser a de ser como ele.

A sala jazeu em silêncio e Draco soube que fora além do que deveria ir em suas palavras. Pode quase sentir as vibrações da tristeza da mãe chegar até ele. Será que havia chegado a ofendê-la? Virou-se para ela e a encontrou intacta, sentada em sua perfeita postura sobre a cadeira, mas os olhos dela a denunciavam como sempre haviam denunciado. Ele suspirou. Foi até ela, encostou-se na mesa e segurou o rosto da mãe.

— Me desculpe, mãe. – disse.

Ela segurou a mão dele e levou-a aos lábios. Levantou-se e entregou para ele o envelope que havia trago. Segurou o rosto do filho e ficou na ponta dos pés para lhe estalar um beijo frio contra o maxilar.

— Seja obediente ao seu pai e ao seu mestre. – ela disse muito baixo, como se não quisesse dizer. Lançou a ele um último olhar, deu as costas e saiu da sala deixando Draco novamente sozinho.

Draco enfiou a mão dentro do envelope e tirou de dentro uma pequena caixa preta de couro. Girou-a levantando-a a altura dos olhos para analisar a linha de prata que a cercava e o brasão da família Malfoy cravado em relevo logo no topo. Sabia o que aquilo significava.

Abriu a pequena caixa e encontrou o anel de noivado da linhagem Malfoy. Aquilo certamente estivera no dedo de sua mãe quando ela havia sido noiva de seu pai, assim como também estivera antes no de sua avó, no de sua tataravó e assim por diante. A ideia o perturbava. Fechou a caixa e a pressionou contra a palma de sua mão fazendo uma careta. Maldita a hora que ele havia trago aquela sangue-ruim para dentro de Brampton Fort.

**

Ele não dormia bem fazia um bom tempo. Por algum motivo, a Ordem da Fênix estava se rebelando de uma forma nunca antes vista. Draco sabia que esse motivo tinha dois nomes bem específicos: Hermione Granger e Luna Lovegood. Mas tinha que estar agradecido por ter comensais muito bem infiltrados dentro da organização de resistência.

Levantou-se de sua cama. Ainda estava escuro. As velas foram se acendendo a medida que ele avançava em suas atividades matinais. Quando deixou seu quarto já estava perfeitamente alinhado em sua farda. Nada realmente pomposo. Para um general ele se vestia até que discreto. Ele só não dispensava nunca, o broche dourado de comensal que ele prendia na manga do braço direito. O broche que só ele tinha e só ele tinha permissão para usar.

Desceu para quebrar o jejum e encontrou a mesa posta. Fez sua refeição sem pressa enquanto lia cuidadosamente os artigo do Diário do Imperador, o jornal de Brampton Fort, onde não foi surpresa alguma encontrar Hermione Granger estampada na primeira matéria. Ela estava impressa em duas fotos, uma mostrava a última imagem que oProfeta Diário conseguira dela, num ataque a vila de Kingstone, enquanto os rebeldes mostravam-se em linha de frente para fechar algum feitiço protetor contra a cidade, e na outra imagem Hermione estava no pátio interno da catedral, com um feição séria e acompanhada de ninguém menos do que Narcisa Malfoy. A primeira foto que a imprensa de Brampton havia conseguido. Certamente Hermione ainda não havia dado um passeio pela cidade, senão eles já teriam milhares para esparramar pelas folhas do Quinzenário das Comensais e as demais revistas de fofoca.

Draco leu toda a matéria e ela toda se resumia a futilidade de apontar as melhoras que Hermione havia sofrido ao passar do lado da resistência para o lado de Voldemort, citando inclusive o preço do vestido que ela usava na foto com sua mãe. Havia apenas um último parágrafo que falara superficialmente sobre as feições de ambas as mulheres, que estavam juntas, mas pareciam querer estar a milhares de quilômetros de distância. Draco sorriu ao ver que sua mãe era uma mulher que não perdia tempo. Sabia que ela sondaria Hermione o máximo que pudesse.

Fechou o jornal, acabou com seu chá num gole apenas e levantou seguindo para o Hall, do Hall para a varanda, da varanda para as escadas, das escadas para dentro da cabine de sua carruagem.

O dia estava começando a amanhecer quando ele deixou a vila dos comensais. Amanhecia cinza como sempre. Brampton Fort nunca se vestia de dias ensolarados. A guerra acabara com eles. Era sempre nublado. Muito raramente eles tinham filetes de sol escapando por entre as nuvens, mas nunca eram bem recebidos pelo público residente da cidade. Os protegidos do mestre. Podiam ser tão pior ou tão cruéis quanto ele.

O caminho para a catedral era decorado. Sair da vila dos comensais era sempre deixar sua casa para trás e seguir para um longo dia de trabalho. O caminho que tomava todos os dias era mais longo, mas seguia um rumo pela muralha que o poupava de ter que se infiltrar no meio da cidade, entre os condomínios populares, o centro sempre movimentado e os olhares curiosos da imprensa. Era agradável, principalmente quando cortavam por dentro do parque do gelo, que só tinha movimento durante o inverno e ainda assim nas horas de maior claridade. E Draco tinha um tempo amais para rever seu discurso do dia. Portanto, para ele, aquela rotina nunca mudaria enquanto o satisfizesse.

Desceu na praça da catedral. Com certeza a imprensa teria oportunidade para fotos aquele dia, mas como comensais do ciclo mais importante de Voldemort e ainda líder do exército, ele era obrigado a estar se mostrando na mídia da cidade com uma frequência considerável. Era importante para que o povo se sentisse seguro enquanto ele se mostrasse passivo e como se tudo estivesse em perfeito controle para as câmeras doDiário do Imperador e as demais revistas locais.

Avançou para dentro da gigantesca edificação gótica e viu o saguão comumente vazio para aquele horário. Seu caminho para o pátio leste era longo, mas já o fizera tantas vezes que para ele era curto. Seguiu até encontrar os arcos da galeria externa. Entrou pelo lado contrário e desceu as escadas. O pátio estava vazio exceto pelos outros comandantes em suas posições. Olhou no relógio e contou cinco minutos enquanto caminhava até eles, os cumprimentava com um aceno de cabeça e se colocava em sua posição afrente deles.

Esperou.

Três minutos e então um enxame de homens surgiu das galerias externas e ocupou o pátio de maneira milimetricamente organizada. Todos bateram continência ao general e uniram as varinhas para o céu fazendo-se projetar uma única marca negra por entre as nuvens. Era a primeira imagem que qualquer um de Brampton Fort veria ao abrir sua janela pela manhã.

Ao completar os cinco minutos contados por Draco, ele ergueu a voz e começou a discursar. Podia estar passando agora para a segunda metade de sua terceira década de vida, mas quando estava exatamente naquele lugar, de frente a milhares de homens, fazendo sua voz soar com toda a autoridade de que era dotado, ele se sentia um homem velho, digno de completo respeito. Sentia como se não pudesse ser mais maduro, mais conhecido, mais vitorioso do que qualquer homem na terra. Esse ego o vivificava, lhe dava fôlego e o impulsionava.

As primeiras partes de seu discurso sempre se resumiam em glorificar o reinado de Voldemort sobre o mundo. A segunda em parabenizar o empenho de cada um e as recentes vitórias. A terceira em avisos recentes tomados pelo conselho privado do quartel. E finalmente a quarta parte (quando havia quarta parte), que consistia em dar algumas prévias sobre as futuras atividades. Terminado todas as partes, seus homens gritavam em uníssono a continência cantada e Draco os dispensava para a grade de tarefas de cada um.

Era sempre assim. Três vezes por semana.

Aquele dia em especial o surpreendeu quando seus homens foram dispensados e pela galeria externa ele viu Severo Snape se aproximar. Draco começou a sair de seu posto, mas foi abordado pelo homem.

— Belo discurso. – Snape começou secamente como sempre.

Draco trocou o peso de uma perna para a outra.

— Estou ocupado. – grunhiu Draco e seguiu seu caminho.

Snape o seguiu.

— Acostumou-se com isso, não foi? Alguns anos de estabilidade podem te fazer cair na rotina, Draco! Seria um perigo para a guerra. A guerra nunca vai acabar enquanto existir o Lorde.

— Não me diga como comandar um exército nem como proceder em uma guerra, Severo. Eu consegui a estabilidade da guerra e eu sei domá-la com muito cuidado. – dizia Draco enquanto tomava o caminho contrário da galeria para voltar a catedral. - Não preciso de seus conselhos. Tenho meu próprio grupo de conselheiros.

Severo resfolegou numa risada fraca e cuspida.

— Seu ego é realmente imutável.

— O que quer, Severo? – tentou adiantar Draco impaciente quando passou a subir as escadas para alcançar a ala da torre de sua sala.

— Só julguei pertinente avisar que tome cuidado com o rumo que pode tomar a administração da frente de batalha do mestre. Ele não gostaria de ter traidores que estampem sua marca no braço.

Draco processou as palavras do homens mais rápido do que gostaria. Sentiu o sangue fluir por suas veias e antes que pudesse pensar em sua ação, se viu voltando-se para Snape, segurando-o pela gole de sua capa e o prensando contra a parede.

— Está me julgando traidor ou capaz de criar traidores? – vociferou.

— Eu diria que os dois! – Snape respondeu calmamente, sem demonstrar surpresa alguma pela ação repentina do outro.

— Não me conhece para ficar fazendo seus julgamentos baseado em vinganças!

— Muito pelo contrário, Draco! Eu o conheço muito mais do que pensa que conheço. Eu estava lá quando nasceu. Te vi crescer. Fui seu professor, seu conselheiro, até que me tirou meu exército...

— Nunca foi seu exército! – Draco apertou o punho contra a garganta do homem.

— Nem nunca será o seu! – retrucou Snape – Sabe por quem todos esses homens lutam e não é por você, Draco!

— Se julga muito sábio, não é Severo? – Draco aproximou-se mais do nariz agudo de Snape e cuspiu baixo para ele – Dumbledore também era muito sábio. – soltou seu antigo professor. – Eu o matei.

Deu as costas. Severo não o seguiu dessa vez.

— Não irei tomar como uma ameaça. – escutou Snape erguer a voz as suas costas.

— Não fará muita diferença. – retrucou Draco e virou a esquina.

Ele carregou o peso das palavras de Snape até sua sala. Jogou-se em sua cadeira e fechou os olhos comprimindo a ponta dos dedos contra suas pálpebras enquanto inclinava o encosto e jogava os pés sobra sua mesa. Será possível que a maldita sombra de seu professor era tão bom assim em legilimência?

Não. Definitivamente não havia como Snape ser capaz de conseguir extrair informações que nem ele ainda havia digerido com clareza. Snape o conhecia tão bem assim?

Draco quis álcool, mas julgou cedo demais para a bebida forte que desejava. Soltou o ar pesadamente e deixou-se ficar quieto. Tinha que esvaziar a mente e foi isso que vez. Deixou-a vazia. Por minutos ele conseguiu sentir-se livre ao esquecer-se de tudo que o cercava. Foi quase como ser criança novamente, mas então ele escutou as batidas na sua porta. Lamentou por estar de volta ao seu mundo, agitou a varinha e deu passagem para o visitante.

Seu pai passou pela porta.

— Acordando cedo, pai! – surpreendeu-se Draco. – Isso sim é uma nova!

Lúcio avançou. Não tinha uma feição nada agradável.

— Sabe que eu entro e saio pelos portões oeste! – a raiva estava clara em sua voz – Com que autoridade manda seus homens me barrarem na entrada de Brampton Fort? Sabe que tenho que ir ao Ministério da Magia durante a semana e sempre volto na madrugada! Precisei esperar até que o seu exército fizesse a maldita marca nas nuvens para me liberarem a entrada! – Draco riu. – NÃO BRINQUE COMIGO, DRACO! NÃO VAI ME FAZER PAGAR POR TER PERMITIDO QUE O MESTRE A CASE COM A SANGUE-RUIM!

Draco considerou um julgamento bem fundamentado.

— Eu certamente deveria puni-lo por isso, mas não pai. Ainda não foi pela sangue-ruim que fiz meus homens te barrarem na entrada da cidade. - o pai pareceu confuso agora. – Eu disse para eles te deixarem passar só quando trouxer junto as mulheres que te fazem companhia em Londres. Até porque fica mais tempo com elas do que em casa e para o bem e a segurança da estabilidade da guerra, preciso conhecer bem de que lado essas mulheres jogam já que não são protegidas do mestre.

Seu pai se irou.

— COMO OUSAR FALAR ASSIM? SOU SEU PAI!

— E eu seu general. – Draco se levantou e foi se servir de whisky, não aguentaria aquilo sem uma boa dose de anestesia. – E não grite na minha sala.

Lúcio bateu o punho na mesa.

— O mestre tem um profundo respeito pela hierarquia familiar, Draco! – começou seu pai cuspindo as palavras de maneira rude. – Faça mais uma de suas brincadeiras e eu o faço perder seu cargo.

Draco riu sem receios dessa vez e virou-se para o pai balançando o copo na mão.

— Tente, pai. – ingeriu o líquido - Está sendo muito ingênuo para quem é Ministro da Magia. – seguiu para a porta. - Eu venço as guerras do mestre, você apenas lê discursos já escritos. Acha que mesmo que ele jogaria seu exército na mão de outro? – saiu – Tenho uma reunião com o conselho agora. Não esqueça as mulheres da próxima vez que quiser entrar na cidade. – e bateu a porta deixando seu pai só.

**

A ala norte sempre havia sido um caminho decorado, principalmente a torre que ele subia nesse exato momento. O fim da tarde estava chegando e Draco sabia dos compromissos que tinha para aquela noite. Se pudesse ir para sua casa na companhia de alguma mulher, beber um bom vinho, ler um livro e rir. Mas não. Ele não podia. E odiava que precisasse cumprir deveres impostos.

Chegou numa porta muito conhecida e sabia que ela estaria trancada para qualquer outra pessoa, menos para ele. Girou a maçaneta e entrou no quarto. Sorriu. Tinha cheiro de vinho de boa qualidade e charuto verdadeiro. Amortência. Seguiu por cima do carpete púrpura pelo quarto escurecido pelas cortinas pesadas até o lavatório e ao chegar no ambiente de mármore negro encontrou-a dentro da banheira, com os cabelos presos num amontoado no topo da cabeça. O cheiro de sabão vinha da espuma que cobria toda a água e misturava-se com a amortência e os perfumes caros de Pansy Parkinson.

Ela abriu um sorriso sedutor assim que o viu. Havia, no beiral da banheira, um par de taças de cristal e uma garrafa de vinho barato. Ela tomou na mão a taça cheia e ingeriu sem pressa o líquido escuro.

— Está atrasado. – ela fez a voz escoar pelo ambiente molhado. – Meus dedos já estão enrugando.

Draco encostou-se na bancada da pia e cruzou os braços.

— Não sou desocupado, Pansy.

— Não me dê essa desculpa. – ela encheu a taça vazia. – Aposto que estava com uma das filhas de Walder. Elas comentaram sobre suas investidas.

Draco soltou uma gargalhada.

— Ah, céus, Pansy! Você não sabe mesmo bancar uma ingênua. – riu novamente. – Como se eu fosse do tipo que lanço investidas. Por favor. Eu não quero seus teatros hoje.

Ela apertou os lábios para esconder um sorriso divertido. Pegou a taça que havia acabado de encher e se ergueu sobre as águas para sair da banheira. Draco cerrou os olhos no mesmo instante ao sentir um vento frio no abdômen e seu membro se agitar contra sua calça.

Pansy sabia do que ele gostava e nada como seu esguio corpo molhado para atrair a atenção daqueles olhos arrebatadoramente cinzas. Caminhou até Draco de maneira que ele tivesse tempo o suficiente para contemplá-la, passou um dos braços em torno do pescoço do loiro e ofereceu a taça.

— Não deu para conseguir um melhor na adega da catedral, mas é o suficiente para te fazer relaxar. Deve ter tido um dia muito cansativo no quartel e sei que tem um encontro com a sangue-ruim hoje a noite. – ela sorriu. – Um pouco de álcool te fará bem.

Ele aceitou a taça. Os olhos de Pansy brilhavam. Cheirou o vinho sem tirar seus olhos do dela e o virou dentro da pia.

— Não me faça de estúpido, Pansy. – ele soltou calmamente. – Nunca mais me fará tomar amortência e se continuar tentando vai se esquecer do que é me ter dentro de você.

Ela sorriu o mais sedutoramente que conseguia e colou seu corpo no dele quando desceu sua mão e sondou o terreno entre as penas do homem por cima da calça.

— Sinto falta de você dentro de mim. – sussurrou ao pé do ouvido dele. Draco sentiu a mão dela o apertar. Puxou o ar tentando se concentrar, mas aquela mulher sabia bem como deixá-lo louco. – Não me importa o quanto se aborrece comigo. Sempre volta pra mim. – ela soltou um riso rouco de deboche. – Amor.— concluiu e o beijou.

Draco se deixou saborear o gosto de Pansy. Sua boca quente e sua língua ágil. Sentiu que ela desatava o cinto de sua calça. Enfiou os dedos dentro dos fios negro e liso e aquele coque no topo cabeça se desfez. Apertou com força um seio dela sentindo a pele molhada e escorregadia. O conjunto inteiro o excitou. Pansy sabia do que ele gostava. Maldita mulher.

Ela desceu pelo pescoço dele. Desatou os botões com agilidade quando encontrou a gravata já frouxa. Beijou o peito nu do homem com cuidado e então abaixou-se para engolir o membro já pulsante do amante. Draco suspirou fechando os olhos e deixando Pansy fazer o serviço que ela sabia bem proceder.

Ele podia ter milhões de motivos para odiar Pansy Parkinson, mas ela tinha razão quando dizia que em algum momento ele voltaria para rasgar seu vestido e se enterrar fundo em sua toca quente e úmida até ouvi-la gritar. Porque Pansy fazia parte de sua existência. Ela era quase que um complemento dele. Haviam crescido juntos. Estudado juntos. Compartilhado segredos. Foram grandes amantes, grandes cumplices. Eles se conheciam genuinamente. Mas nada pode ser assim tão perfeito e tudo desanda a partir do momento real em que Pansy o deseja e o ama, e Draco apenas a deseja. Ele nunca poderia amá-la, porque amar era algo surreal que ele reservava apenas para sua mãe. Se amor existisse, a única pessoa digna de recebê-lo era sua mãe e fim.

Pansy deixou o membro de Draco quando ele estava vivo, pulsante, vermelho e grande. Sorriu muito satisfeita e muito excitada pelo desejo de ter aquilo dentro dela, levantou-se e fez menção de que se sentaria na bancada para que Draco pudesse penetrá-la, mas ele segurou-a pelos braços e a girou colando as costas dela contra seu peito. Apertou mais uma vez o seio dela, chupou seu pescoço e afundou seus dedos entre as pernas dela.

Pansy gemeu.

O gemido que ele gostava e não a gritaria escandalosa que ela muitas vezes o fazia presenciar. Aquele gemido sabia o deixar ainda mais duro. Encontrou-a tão molhada que quando imaginou seus pênis escorregando ali para dentro quase desistiu de deixá-la ainda mais úmida, mas continuou. Continuou a fazer ela gemer. Progressivamente. Brincava da maneira que ele sabia que o corpo dela funcionava. Ele soube que seu trabalho estava encaminhado quando ela ofegou, contorceu-se ao arquear e tremeu o corpo soltando dessa vez um longo gemido satisfeito. Ele a girou e colocou-a sobre a bancada.

— Agora, está pronta para mim. – ele sorriu safadamente enquanto abria as pernas dela.

Enterrou-se devagar para apreciar cada segundo o prazer. Muito concentrado ele foi com calma para que seu corpo nutrisse e se arrepiasse com o delicioso calor pulsante em seu membro. Pouco se importou com Pansy. Aquele era seu momento e sabia que o que quer que fizesse, ela gostaria, e a prova disso era que quando ele começou a enterrar fundo e aumentar o ritmo ela começou tão paralelamente, o seu escândalo. Pansy era uma amante exageradamente vocal. Era bom as vezes. Algumas era tolerável. E em outras era quase que desanimador.

Ele até havia gostado mais quando eram adolescentes, porque faziam sexo selvagem e ela sabia responder muito bem, mas aquela fase havia ficado para trás e reviviam dela agora, apenas quando necessitavam. As vezes ele só queria empurrar para dentro dela e ficar degustando do maravilhoso sabor do prazer o máximo que conseguisse e sempre que tentava ela estava lá pedindo sua pressa. Pansy gostava de sexo forte e objetivo. Por isso ele ia até ela sempre que precisava de sexo forte e objetivo.

Pansy gozou mais uma vez e ele não se importou ainda empurrando para dentro dela. Depois de continuar suas investidas, ela começou a gemer alto outra vez, mas ele já sentia que poderia facilmente chegar ao seu ápice. A abandonou e ela mesmo assim sorriu.

— Ainda temos muito tempo antes do seu encontro com a sangue-ruim, não é? – ela miou sobre a bancada. Draco foi para a banheira imergindo seu corpo na água morna. – Quer sair daqui e se encontrar com ela? – perguntou levando o dedo a intimidade para lambuzá-lo e chupá-lo segundos mais tarde. – Gosto disso. – e riu.

Draco divertiu-se com o comentário.

— Seus teatros as vezes funcionam, Pansy – ele pegou a garrafa de vinho. – Gostei da intenção de parecer esperar que eu fosse ter algum respeito.

Pansy riu alto descendo da bancada.

— Eu o conheço bem. – ela se uniu a ele na banheira. – Sei o canalha que é.

Ele inalou o cheiro de amortência que emanava da garrafa. Sentiu-se tentado em provar, mas colocou-a de lado quando Pansy cercou seus quadris com as pernas e beijou sua boca. A mão dela alcançou seu membro ainda vivo e tratou de massageá-lo.

Draco gostava quando ela fazia isso. Segurou os cabelos dela enquanto explorava sua boca e a deixava trabalhar, mas ela não deixou que ele apreciasse aquilo por muito tempo e logo se encaixou nele novamente passando a movimentar-se. A sorte é que era tão bom quanto a mão dela.

Pansy ia pra frente e para trás. Puxava o ar e o soltava entre sôfregos e gemidos. Aumentava o ritmo e com ele, o tom de voz. Draco segurou seus quadris e ela como uma boa entendedora rebolou e apertou suas paredes.

Ele enlouqueceu, ela percebeu e foi ainda mais rápido. Draco já ouvia seus grunhidos enquanto encarava a expressão que ele mais gostava em Pansy, a de puro prazer. Sentiu-se queimar por dentro e os movimentos dela já não eram suficiente. Girou-a prensando contra a borda da banheira e estocou forte. Tão forte que os seios dela pulavam a cada investida. Pansy gemia alto, sem intervalos e sem pudor. E então, em alguns segundos de pura glória, ele explodiu, mas ela ainda não havia chegado ao momento dela, portanto Draco tratou de usar as mãos assim que escorregou para fora dela, mas somente após tomar os segundos que precisou para apreciar seu ápice.

Pansy gritou arqueando-se contra o mármore molhado. Draco afastou-se para a outra ponta, encostou-se e ofegou com a água na altura do queixo. Ela também se limitava a ofegar do seu lado da banheira.

— Nós nunca perdemos o ritmo, não é Draco. – ela soltou deslizando para ter a água na altura do queixo assim como ele.

Draco sorriu. Fechou os olhos e pendeu a cabeça para trás esperando seu pulso voltar ao normal. A água o ajudou assim como o silêncio e o cheiro de charuto e vinho bom. Ele poderia ficar ali para o resto na noite, mas então se lembrou de que Pansy ainda estava lá. Silenciosa. Ele abriu os olhos e a encontrou o encarando com os azuis dela.

Focaram-se em silêncio por um minuto. Pansy vestia-se dela mesma com aquela expressão. Nada de teatros, nada de ser sedutora, nada ser esnobe. Era apenas ela, com seus olhos azuis, os cabelos pretos molhados e as bochechas rosadas. Lembrava-o de quando brincavam de afogar sapos no lago perto da mansão Malfoy nos verões de suas infâncias. Pansy havia sido uma criança sozinha e mesmo que ele não gostasse muito de meninas naquela época, havia se interessado pelas brincadeiras perversas que ela sempre tinha em mente e até que se divertia bastante com todas elas.

— Senti sua falta. – ela quebrou o silêncio.

— Notei. – ele apenas respondeu referindo-se ao fato dela ter tido o prazer de três clímax naquele pouco tempo que tiveram.

Ela abriu um sorriso ao compreendê-lo, mas logo o murchou.

— Não sente minha falta, não é?

Ele suspirou sabendo o jogo que ela colocaria entre eles. Draco já não tinha paciência.

— Não sinto falta de quem eu posso ter quando quiser. – respondeu.

— Canalha. – ela pronunciou calma e lentamente.

— Não sou seu tipo, Pansy. – disse – Já deveria ter desistido a muito tempo.

— Sabe que já desisti. – ela suspirou – Mas também sabe que precisamos de sexo. Nosso sexo! Ficamos com pessoas diferentes, nos divertimos com pessoas diferentes, mas sabe que precisamos voltar um ao outro.

Draco riu de como aquilo soava romântico.

— Não nos pertencemos só porque tivemos nossa primeira vez juntos. Pare com essa maldita mania que nos trazer pra essa conversa. – ele tornou a fechar os olhos descansando a cabeça sobre a borda da banheira.

Soube que Pansy estava engolindo qualquer onda de frustração que ele havia gerado, porque ela era assim. Orgulhosa. Ela nunca desistiria mesmo que dissesse que já havia.

A água denunciou quando ela saiu de seu canto e foi até ele. Draco sentiu as mãos dela subirem por seu abdômen e cercarem seu pescoço ao mesmo tempo que ela encaixava seu corpo no dele.

— Eu sou a única mulher capaz de te amar, Draco. – ela sussurrou no ouvido dele. – Porque todas as outras sempre acabam por descobrir o canalha que é.

— Eu não preciso de uma mulher que me ame. Tudo que uma mulher tem a me oferecer é sexo. – ele segurou Pansy pelo braço e a afastou levantando-se e saindo da banheira. Sabia que ela pretendia deixá-lo duro novamente para ela, mas ele temia por isso. Sabia o tipo de sexo que ela estava pedindo e ele não tinha qualquer intenção de alimentar as esperanças da mulher dando-o a ela.

— Não era isso que pensava quando éramos amigos e nunca havíamos feito sexo na vida. – ela disse enquanto o via cercar os quadris com uma toalha e puxar outra para se secar.

— Eu olhava para o sexo feminino de uma forma diferente aquela época e por merlin, Pansy! Pare com esse assunto de uma vez por todas.

Ela se calou, mas sua cara de descontentamento era visível por cima daquela máscara esnobe de Pansy Parkinson. Esnobe. Era tudo em que ela havia se tornado. Esnobe, rancorosa, cheia de si. Draco ainda se lembrava da criança que ela fora um dia. Não que ela já tivesse alguma vez sido amável e adorável, mas ela era verdadeira e não se escondia atrás de máscaras. Talvez ele gostasse mais daquela Pansy que ela fora, mas então ele se lembrava dos teatros que ela fazia quando iam transar e então ele escolhia que era bem mais divertido e prazeroso usufruir dela vestida de suas máscaras durante o sexo do que quando ela resolvia ser a criança que um dia havia sido.

— Vai se encontrar com a sangue-ruim? – ela quebrou o longo silêncio enquanto o assistia preparar-se para se vestir.

— Sim.

— Ainda está um pouco cedo.

— Não gosto de me atrasar.

Pansy revirou os olhos.

— Sim. Agora é um general muito pontual. – ela saiu da água e se cobriu com um roupão. – Isso é o que uma guerra faz a um homem. – ela soltou um risinho forçado enquanto pegava a calça dele no chão. - Gostava mais de quando se atrasava para as aulas e as reuniões de monitoria em Hogwarts, mas quando te vejo naquela farda, dando ordens a todos aqueles homens, falando com todo aquele domínio para os jornais, programas e audiências, me sobe um tesão.

Ele riu secando os cabelos.

— Me diga um homem do meu exército que não lhe dê tesão, Pansy. – ele tomou a calça da mão dela.

— É difícil não o ter quando os vejo treinando. – ela riu girando algo entre os dedos. - Lançando maldições, matando homens, manejando utensílios de luta, com todo aquele suor e aquelas expressões masculinas. E se todos aqueles peões me excitam, imagina o que o general deles não me faz? – ela mordeu os lábios. - Tem a sorte de eu não ter problemas com homens casados, Draco.

Draco riu.

— Vadia.

Ela riu.

— Canalha.

E por isso ele gostava de sua relação com Pansy. Se conheciam. Ele sabia quem era e ela também sabia quem era ela. Nada de garotas carentes, falsas, depressivas. Pansy tinha muita confiança em quem era.

Draco tratou de se alinhar novamente no terno caro. Colocou sua calça, sua regata, a camisa, a gravata e postou-se de frente ao espelho para ajeitar seus fios loiros. Encarou o reflexo de Pansy que esteve silenciosa e precisou parar. Ela tinha nas mãos a pequena caixa preta de couro dos Malfoy bem aberta na frente de seus olhos azuis.

Ela estava completamente concentrada no anel que via dentro da caixinha e uma de suas mãos estava fechada sobre o colar de pedra vermelha que nunca saia de seu pescoço. Passou a mão sobre o bolso de sua calça e o encontrou vazio no lugar onde deveria estar o que ela tinha agora nas mãos. Draco viu nos olhos dela e em toda sua expressão que ela havia se despido novamente das máscaras. Ali ela era novamente aquela criança verdadeira que ele conhecera. Suspirou e praguejou mentalmente por seu descuido.

— Pansy. – ele a chamou mas ela estava absorta demais no mundo que criara entre ela e aquele anel. – Me dê isso.

Ela não disse nada. Apenas soltou seu colar e alisou a peça dentro da caixa.

— Vai dar a ela, não vai? – ela disse baixo enquanto ainda mantinha seus olhos fixos ali.

Draco não queria passar por aquilo.

— Me dê isso, Pansy.

Ela o encarou dessa vez.

— Vai dar a ela, não vai? – ela repetiu com a voz mais consistente.

Draco soltou o ar impaciente.

— Sabe que vou.

Ela piscou e desviou o olhar novamente para a peça.

Olhar nos olhos dela era desconfortante. Eles refletiam dor e isso era muito incomum da parte da mulher.

— Pensei que um dia fosse tê-lo. – ela sussurrou.

— Sabe que sempre pretendi nunca dá-lo a ninguém, Pansy.

Ela soltou um riso fraco e desgostoso.

— E deixar a linhagem Malfoy morrer em você? Seu pai jamais permitiria isso! – ela fechou a caixa e a estendeu para Draco ainda com aquela dor explicita nos olhos. – Pensei que poderia ter sido eu a escolhida para ser sua mulher quando a hora de gerar um herdeiro chegasse.

Ele tomou o objeto da mão dela.

— Pare, Pansy. – ele não queria se irritar com ela. Não com a Pansy verdadeira de sua infância. A Pansy que ele realmente gostava. – Sabe que já lhe dei o colar.

— Para dizer que sou especial? – agora ela assumira sua máscara de rancor. – Só porque tem a pedra da sua família? Porque sou a mulher que conhece a mais tempo? Ou porque sou uma mulher que te conhece bem? Sou só uma mulher que te dá sexo assim como outras tantas. Apenas me considera. Por isso me deu esse colar.

Ele devolveu a caixa ao bolso em silêncio ainda encarando a dor dela. Ele queria poder fazer com que aquilo o afetasse, mas ser indiferente era um traço de sua personalidade.

— Você parece não ter coração, Draco. Mas eu sei que tem. – ela continuou. – Aquela noite. A nossa primeira. A forma como foi gentil, como teve cuidado, como esteve preocupado em fazer com que fosse bom. Aprendemos juntos. – ela suspirou e por um segundo Draco pensou que ela fosse chorar, mas sabia que Pansy era amarga e orgulhosa demais para isso. – Fez com que eu me apaixonasse. Mas então você nunca mais foi aquele homem novamente e só me restou amá-lo. – ela deu as costas. – Sozinha. – foi até o beiral da banheira, pegou a garrafa de vinho e ingeriu um longo gole. – Amortência tem o seu cheiro. – ela comentou mas pareceu ter sido mais com ela mesma do que com ele.

Draco apenas se limitou a pegar o terno e vesti-lo ainda a encarando quando ela voltou a falar.

— Não te afeta, não é? Saber tudo isso. – ele mostrou as mãos em resposta e ela riu fracamente. – Por isso parece que não tem um coração. – ela tomou mais um gole. – Mas saber que gostaria que te afetasse é o suficiente para mim.

Draco soltou o ar devagar. Sabia que uma hora teria que escutar algum discurso dela sobre seu casamento. Ele só não tinha que se justificar, não precisava e nem gastaria sua saliva arrumando justificativas para acalentar os sentimentos dela.

— E sei que não diz, mas deveria parar de me culpar em silêncio por não ser recíproco. Só não sinto muito por você, porque sempre conheceu o terreno em que pisava, Pansy. – foi até ela, tomou a garrafa de suas mãos e a colocou de volta no beiral da banheira – Deveria parar de tomar isso. - e deu as costas saindo do banheiro.

Raras as vezes Pansy se dava ao luxo de expor suas fragilidades e Draco não tinha paciência para lhe dar com isso. Sempre que ela se dava a esse luxo tinha que ser com ele ao seu lado. Como se esperasse que um dia ele fosse ter piedade, como se isso pudesse fazer com que ele a correspondesse. Pelo menos os comentários sobre seu casamento já haviam sido feitos e a próxima vez que ele quisesse o sexo dela, teria e iria embora sem precisar ouvir seus rancores sobre o assunto.

Desceu as escadas da torre, cruzou da ala norte para a sul e passou pelo o saguão. Sabia que ainda tinha um pouco de tempo, portanto tratou de passar em sua sala e guardar a sete chaves, alguns pergaminhos que certamente seu pai procuraria para especular. Ainda não era hora de compartilhar algumas estratégias.

Por fim, voltou a cruzar toda a catedral até o pátio leste. Quando tomou a galeria externa viu Hermione Granger e Tryn virem em sua direção. A elfa estalou os dedos e desapareceu assim que o viu. Hermione continuou a andar até ele.

Ela vinha muito bem vestida num vestido de um tom mostarda apagado. O modelo era bonito, simples e bastante elegante. Nada do gosto dele, embora o fizesse lembrar sua mãe. O decote não o satisfazia, mas mostrava que ela tinha um par de seios bonitos, uniformes e desejáveis por estarem muito bem acomodados no corte do busto do vestido. As pernas dela eram escondidas pela longa saia e apareciam ocasionalmente com seu andado devido a uma fenda, que por sinal, não era tão generosa quanto Draco gostaria que fosse. Ainda assim, ela estava apresentavelmente digna para receber um anel da família Malfoy.

Pararam um de frente para o outro na extensa galeria. A beleza de Hermione surpreendia até mesmo quem já estava acostumado.

— Pontual, Granger. Isso me lembra Hogwarts. – ele até queria ter feito soar debochado, mas acabou por sair tão frio quanto gelo.

— Continuo sendo Hermione Granger. – ela respondeu no mesmo tom.

— Uma infeliz notícia. – ele ofereceu o braço. Ela o olhou num misto de receio e surpresa. – Vamos sair por esse pátio leste. Haverá gente suficientemente escondida para publicar fotos no jornal de amanhã, portanto não pense que está isenta da tarefa de ser ao menos cordial.

Ela pressionou os lábios fazendo uma linha fina enquanto puxava o ar como se estivesse engolindo algum orgulho e então passou seu braço fino e descoberto pelo dele.

A proximidade quase o fez recuar, mas engolindo seu orgulho tal como ela havia feito. A guiou para saírem da galeria, atravessarem o pátio, sairem pelos arcos de limite e entrarem na cabine de sua carruagem que o esperava na estrada de saída.

Fizeram questão de sentar em bancos diferentes, mas não aliviou o fato de que estariam obrigados a desviarem o olhar constantemente por estarem um de frente para o outro.

Draco reparou no colar que ela usava. Havia comprado exclusivamente para ela e dado a Tryn para vesti-la para essa noite. Não que ele quisesse realmente dar um presente ao infortúnio de uma sangue-ruim, mas aos olhos de todos e principalmente de Voldemort, ela era sua noiva e ele tinha que cumprir obedientemente seu papel de bom noivo pois sabia que aqueles olhos de cobra estariam o vigiando dia e noite. Ele não havia imaginado que cairia tão bem sobre o busto dela, nem mesmo que combinaria tanto com os olhos âmbar que tinha. Os três fios de ouro em níveis diferente envolviam pequenas pedras safiras amarelas. O fio no nível mais próximo do pescoço afirmava a postura intacta e inabalável que ela mantinha e o fio do último nível havia se acomodado a curvatura da protuberância de seus seios. Então ele percebeu que ela não precisava estar vulgar para que ele a desejasse. Aquele colar assentando em seu seio fez com que ele encarasse Hermione e imaginasse qual seria a expressão que ela tinha quando gemia de prazer. O som da voz de Pansy o chamando de canalha ecoou em sua mente e ele quase riu. Quase.

Ela manteve os olhos na janela, mas ele havia a visto estudar a cabine em que estavam antes de fixar sua atenção no caminho que seguiam. Os dedos dela alisavam distraidamente o veludo vinho do assento que estava sentada. Por um segundo Draco se perguntou se uma mulher poderia possuir um ar tão singelo quanto o que ela tinha ali, com os olhos na janela sendo banhada pela luz da noite. No outro a palavra sangue-ruim ecoou em sua cabeça.

— Quantas cidades dessa existem pelo mundo? – ela perguntou a uma altura da viajem em que o silêncio já parecia quase cansativo.

Draco quase a agrediu com as palavras antes de se lembrar que não havia forma alguma de qualquer informação que ele desse a ela passasse para os ouvidos da Ordem.

— Uma para cada continente. – respondeu.

Foi esse o único dialogo que trocaram e a reação dela para a resposta dele havia sido de dar pena em qualquer ser humano que não fosse Draco Malfoy.

Pararam de frente a uma fachada bem iluminada. Havia tochas e a edificação era de pedras e de decoração muito rica. Queria levar Hermione em um lugar que a roupa que usasse parecesse tão casual quanto as de seus dia a dia.

Saltaram para fora da cabine e dessa vez ninguém estava se escondendo para tirar fotos. Hermione segurou o braço de Draco e os dois seguiram frios e sem direcionar qualquer olhar para as câmeras. Sabiam do papel que tinham que cumprir e assim o fizeram até entrarem no recinto.

Era acolhedor e ao mesmo tempo sombrio. A elite dos protegido de Voldemort ocupavam os lugares e davam vida a um dos restaurantes mais bem conceituados de Brampton Fort.

Draco não havia reservado mesa, mas já havia uma separada para eles. Aquilo deveria ter sido obra de seu pai, ou Voldemort. Ambos se acomodaram. Era uma mesa reservada, porém não tão escondida.

Draco pediu vinho de qualidade ainda se lembrando do cheiro que vinha da garrafa no banheiro de Pansy. Hermione muito educadamente informou que partilharia da escolha do companheiro e assim, foram deixados sós.

O silêncio que havia entre eles não era incomodo. Enquanto trocavam olhares, sabiam que poderiam facilmente fazer passar aquele jantar sem haver a necessidade de trocarem sequer uma palavra. Mas seria bom demais para ser verdade.

— Se continuar sendo obediente o mestre deixará que sua amiguinha Di Lua seja sua dama. – Draco quebrou o silêncio como se preferisse estar perdendo uma batalha a ter que passar por aquilo.

Os olhos de Hermione brilharam, mas ela manteve-se sem mover um músculo, ainda completamente inexpressiva.

— Ficarei satisfeita apenas quando a livrarem definitivamente do tratamento que está recebendo.

— Não se iluda, Granger. Lovegood sempre será a arma que o mestre terá para te domar. - O vinho chegou e foi servido no copo dos dois. Draco tomou o seu enquanto se acomodava mais confortavelmente em sua cadeira e apreciava o sabor da bebida. – Minha mãe a ajudará com os preparativos do casamento para garantir que tudo sairá conforme o mestre quer. – ele notou que toda vez que se referia a Voldemort daquela maneira, ela deixava transparecer um nojo silencioso e distante. – Pode pedir o que quiser. – ele se referiu ao cardápio dessa vez.

Ela abriu a pasta do menu como se não tivesse interesse. Passou rapidamente os olhos por ela e pediu qualquer coisa que se assemelhasse ao que costumava provar de Molly Weasley, ou seja, barato demais para o seu bolso. Draco apenas disse um número mostrando que conhecia o lugar muito bem.

— Haverá um festa de noivado. – Hermione disse sem ânimo, assim que foram deixados novamente a sós.

— Haverá? – ele não sabia.

— Narcisa Malfoy disse que é uma tradições de sua família e obviamente que isso também serviria de agrado para a débil futilidade da elite desse lugar. – ela pegou a taça e provou do vinho.

Draco saboreou as palavras dela. Por um segundo ele apreciou a mulher que estava a sua frente. Aparentemente ela pensava na futilidade da cidade tão igualmente quanto ele. Certamente ela já teria conhecido bem a parte feminina dos protegidos de Voldemort.

Mas aquele momento de apreciação durou apenas um segundo.

— Poupe-me dos seus desagrados. – ele foi frio e ignorou qualquer comentário anterior dela. – Terá o sobrenome Malfoy em pouco dias, por tanto não quero que fique se apresentando por aí como uma Granger prisioneira, frágil, desarmada e encurralada.

— Tenho orgulho suficiente para isso. – ela respondeu e ele soube que era verdade apenas pelas imagens que tinha dela andando pela catedral ou até mesmo pela foto que saíra no jornal com Narcisa.

— Por mais que esteja condenada a uma família destruída, a um homem que te odeia e um filho que não será seu. – ele se debruçou sobre a mesa encarando aqueles olhos brilhantes e âmbar mais de perto. – Não vou querer ouvir uma palavra de lamento. Será uma Malfoy e por mais que o mundo quebre ao seu redor manterá seu maldito orgulho de pé.

Ele afastou-se com um sorriso sarcástico nos lábios e bebeu mais um gole de seu vinho. Claro que ele tinha que se prevenir de uma vida ao lado de uma mulher choraminguenta, lamuriadora, depressiva e frágil. Pela primeira vez ele viu os olhos de Hermione arderem em ódio. Talvez tivesse sido tostado em fogo ali se os olhos dela tivessem o poder de projetar labaredas.

— Isso foi o que eles te ensinaram a vida inteira? – ela questionou. – Manter seu maldito orgulho de pé? Porque do seu orgulho depravado eu já tive uma excelente amostra em Hogwarts.

— Teremos uma vida inteira de convivência para que possa julgar isso mais profissionalmente. – ele assumira sua expressão divertida. Ela pode mergulhar ainda mais em seu ódio com a reposta dele e então Draco finalmente se lembrou de Hogwarts, da sensação maravilhosa que era desfrutar do ódio que ele era capaz de causar nela. Aquele jogo de gato e rato tão infantil, mas a sensação de ver os olhos dela ardendo em ódio naquele momento era a mesma sensação de vê-la no mesmo estado quando era adolescentes.

A comida chegou fazendo-a engolir a resposta que jogaria de volta a ele. Draco tratou de se interessar em seu prato quente e delicioso obrigando-a a fazer o mesmo. O jantar se seguiu em completo silêncio fazendo-os voltar ao estado frio e seco de antes.

Por alguma razão muito incomoda, Draco surpreendeu-se com suas palavras referentes a uma vida inteira com Hermione. Mesmo que seu cérebro tivesse o feito dizer de modo aparentemente tranquilo, agora revia o fato e isso quase o fazia se remexer inquieto em sua cadeira. Claro que casar-se com Hermione as ordens de Voldemort e ainda sobre as leis, costumes e história da família Malfoy era casar-se para permanecer casado até que definitivamente, a morte os livrasse do fardo, mas talvez seu cérebro ainda não tivesse processado o peso ou até mesmo a gravidade da questão da qual estava se submetendo. Quase preferiu ser exilado, morto, ou até mesmo passar o resto da vida nas masmorras da catedral, mas então ele se lembrou de que era apenas uma aliança selada, um anel no dedo e uma mulher em sua casa. Exilado ele não teria exército, ele não poderia ir para cama com a mulher que bem entendesse, nem poderia comer pratos como aquele que apreciava. Hermione era uma mulher, tinha um corpo bonito, boas tetas e um rosto exageradamente perfeito. Não seria difícil fazer um filho com ela, levá-la pra cama, nem cumprir seus deveres como marido presente quando bem quisesse. Aquilo serviu para acalmá-lo momentaneamente.

Terminaram suas refeições sem pressa. Draco notou que ela não seguia nenhuma regra de etiqueta, mas que trocava os talheres de mãos muito graciosamente para cortar a carne, que bebia do vinho sempre depois de comer uma garfada de salada e que suspirava com frequência quando engolia, como se o sabor lhe desse esse prazer. Ele se perguntou se ela também estaria reparando em como ele comia. Não achava que tivesse alguma mania. Ele apena comia segundo a educação que sempre haviam lhe ensinado.

Os pratos foram recolhidos e o vinho acabou na garrafa quando foi divido em ambas as taças pela última vez. Draco virou o pouco que havia ficado para ele, enfiou a mão no bolso de sua calça, tirou a pequena caixinha de couro dos Malfoy e a colocou em cima da mesa.

— Use-o sempre ou encontrarei um modo de torturar sua amiga lunática eu mesmo. – disse.

Hermione a pegou com cuidado e analisou a caixa antes de abri-la. Encarar o anel fez com que ela abrisse um sorriso muito vitorioso nos lábios. Draco não gostou da reação.

— Fico me perguntando o nível do ódio que domina o seu coração, se é que o tem, por me dar um anel como esse. – ela comentou e ele sentiu a raiva aflorar pelo sangue que corria em suas veias. – Está na sua família a mais de dois séculos, não é? – ela o tirou da caixinha e o girou entre os dedos. – O anel de noivado da família Malfoy. – resfolegou uma risada fraca. – Sabia que existem muitos livros de História da Magia que o mencionam? O famoso anel passado de geração para geração. Mulheres dos quais os primogênitos Malfoy foram abrigados a tomar como esposas para manter a linhagem pura. – Hermione o colocou no dedo anelar muito lentamente e então ergueu seus olhos âmbar para Draco. – Queria que eu tivesse um sangue para merecê-lo. – segurou sua taça fazendo o anel destacar em seu dedo. – Mas eu não tenho. – e bebeu seu último gole de vinho.

Draco sentiu a provocação dela atingi-lo como um punho forte contra seu estômago. Quis arrancar a mão de Hermione e fazer um colar para que ela a carregasse no pescoço e vivesse com um coto enfaixado para o resto da vida. Sem mão e sem anel. Maldita.

— Nós terminamos por aqui. – ele foi mais seco do que realmente pretendia. Pediu a conta enquanto remoía seu ódio e a via vitoriosa do outro lado da mesa. Tinha somente como conforto a esperança de revidar fazendo-a sofrer cada dia que estivesse dentro de sua casa quando aquele casamento finalmente tivesse acontecido. Ela sofreria. Sofreria muito. Queria vê-la sorrir por ter aquele anel no dedo quando estivesse dormindo em sua cama.

Deixaram o restaurante. Dessa vez havia flashes nem um pouco escondidos esperando-os a caminho do conforto da cabine de sua carruagem. Foi mais difícil cruzassem os braços dessa vez, mas o fizeram tentando não se mostrarem relutantes. Draco inclinou-se para ela e foi discreto ao dizer que ela deveria se posicionar para mostrar bem o anel, afinal Voldemort seria o primeiro a ver o jornal no dia seguinte. Ela ficou bem mais próxima e subiu sua mão pelo braço dele fazendo o anel destacar contra a cor escura de seu terno. A posição não era nada confortável para ambos, mas dava a visão mais perfeita possível da peça na mão branca de Hermione.

Ele abriu a porta e ofereceu sua mão como apoio para que ela entrasse. Ele entrou em seguida e sentou, claro, no banco contrário. Foram em silêncio todo o caminho de volta para a catedral. Hermione reservou-se novamente a vista da janela e Draco a encarar a mão dela que detinha o anel de sua família.

Teria que se acostumar a vê-la usando aquilo ou não iria conseguir dormir mais. Ele imaginou como seria ter uma mulher morando na mesma casa que ele. Dividindo a mesma cama. Jantando em sua mesa de jantar ou até mesmo carregando um filho seu. Parecia muito surreal. Ele não queria nada daquilo. Imaginou se seu pai também não queria quando havia sido obrigado a se casar com sua mãe. Certamente não. Nunca havia entendido porque seu pai nunca fizera esforços para serem ao menos uma família de fachada, mas agora sabia bem. Ele nunca se esforçaria para manter nem mesmo as aparências com Hermione. Precisaria de uma ameaça muito consistente para tal.

Mas seu pai era um caso diferente. Sua mãe nunca havia sido nenhuma sangue-ruim. Pelo contrário. Seus avós desempenharam um excelente papel seguindo as exigências históricas para encontrar a melhor família, a melhor mulher, a mais bonita. Seu pai nunca havia odiado sua mãe durante todo o período escolar nem tentado a matar durante todo o resto. Quantas vezes Draco soubera que era o seu cérebro contra o de Hermione naquela guerra. E sua mãe sempre havia amado seu pai também. Mas seu pai nunca sequer havia respeitado sua mãe. Moravam debaixo do mesmo teto e eram nada mais do que estranhos desempenhando uma obrigação ao carregar o sobrenome Malfoy.

Pararam de frente a entrada do pátio leste. Era próximo ao quarto de Hermione. Eles se encararam pela primeira vez desde que tinham tomado seus lugares, em silêncio e no escuro da cabine.

— Preciso saber se Tryn está servindo-a bem. – ele quebrou o silêncio. – O mestre quer que receba o melhor dos tratamentos.

— Ela é ótima. – ela se reservou a responder.

Ele assentiu satisfeito e empurrou a porta dando a passagem a ela.

— Não irá descer? – ela perguntou.

— Irei para casa. – ele respondeu.

Foi a vez dela assentir.

— O jantar estava bom...

— Não precisa fazer isso, Granger. – ele a cortou antes que ela continuasse com sua cordial educação fria, decorada e sem vida.

— Precisa aprender a como pronunciar meu primeiro nome. Não deve ser tão difícil. – foi a última coisa que ela disse antes de descer e tomar o rumo para a catedral.

Ele deixou-se encará-la em seu andado elegante, vestida em seu longo, com os cabelos abrindo em cachos muito uniformes, até que ela sumisse pelos arcos de entrada. Ficou ainda alguns segundos encarando o nada antes de dar o sinal para que seguisse o caminho de casa.

Ele nunca havia levado uma mulher para sair.


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Notas finais do capítulo

Ahh! Eu adoro o Draco dessa fic! Esse é o primeiro gostinho que vocês terão dele e ainda tem muito mais pela frente! Preciso falar também que os capítulos são um pouco grandes mesmo, e vai só aumentando de tamanho! haha :) Desculpem, mas sou incapaz de fazer capítulos pequenos! :(
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