CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Opa! Passando correndo aqui pra não esquecer do capítulo! Semana corrida e final de semana ainda mais corrido pela frente! Amei todos os comentários do capítulo passado! É ótimo ver que vocês entenderam bem a necessidade do capítulo 20 e a nova aliança entre o Draco e Hermione. Obrigada por todos os comentários e por toda a atenção com a história. Vcs são ótimos!



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24. Capítulo 24

Draco Malfoy

Acordou sentindo o corpo pesado e um sono arrebatador querer tragá-lo de volta à inconsciência. Abriu os olhos sabendo que se não se movesse, acabaria sendo vencido pelo sono e não tinha a menor intenção de atrasar suas responsabilidades.

Estava completamente descoberto e sem roupa. Hermione se encontrava mal enrolada em alguns lençóis, deitada de barriga para baixo. Draco se viu no mesmo estado por cima dela. Como havia chegado ali, não sabia, talvez o cheiro de lavanda que exalava dos cabelos dela o tivessem atraído, porque se lembrava bem de terem ido dormir em cantos separados da cama como sempre faziam.

A vontade de ficar ali o dominou. Cercou-a pela cintura e enterrou o rosto no emaranhado de cabelos castanhos. Hermione resmungou, o que o fez sorrir. Ela estava morta. Draco havia usado todas as energias dela e não esperava que a esposa fosse acordar ou se mover tão cedo. Afastou-se um pouco, tirou os cabelos do caminho e acomodou-se próximo ao ouvido dela. Cada extensão da pele de Hermione cheirava ao sexo que eles haviam passado a noite fazendo.

– Deveríamos dar outra rodada antes de eu ir à Catedral. – sua voz saiu baixa, rouca e ainda sonolenta.

Hermione resmungou algo em resposta, mais dormindo do que acordada, que se pareceu muito com um xingamento. Draco apenas riu e deixou seus lábios, junto com sua respiração quente, correrem pela pele macia do pescoço dela. Aquele gelado da pele dela contra o tecido de seus lábios estava lhe causando fascinação. Antes mesmo que pudesse medir seu ato, pressionou a boca contra uma marca que fizera nela na noite anterior em um beijo demorado apreciando cada sensação que o corpo de sua mulher provocava sobre ele, até mesmo quando ela estava inconsciente.

– Pelo amor de Merlin, Draco... – ela suspirou -... eu não tenho mais forças... – foi o que ele entendeu do sussurro quase inaudível dela.

Sua boca abriu um sorriso contra a pele dela. Ele também não tinha mais. Sentia todo o cansaço daquela noite inteira sobre ele, mas se sentia leve também, leve como nunca antes, não sabia que sexo tinha aquele poder também. A verdade era que não dava aquele crédito ao sexo, dava aquele crédito a ela. Hermione. Nunca havia imaginado que a ideia de tê-la ao seu lado, de poder usar o cérebro dela, de tê-la como cúmplice, o animasse tanto. Teria que contar seus segredos a ela, mas por incrível que parecesse, isso também não estava o incomodando. Ela teria que ser confiável, era sua mulher, sua esposa e seria a mãe de seu filho. Quem se não ela poderia se tornar mais confiável?

Beijou aquele pescoço mais uma vez, muito consciente do que estava fazendo dessa vez e a deixou, levantando-se para ir ao lavatório onde seguiu toda sua rotina diária. Draco não era o tipo de homem que beijava mulheres durante o sexo. Gostava de sentir o sabor delas, da pele delas, gostava de provar, de morder, de sentir língua com língua, mas beijar era algo que nunca tivera necessidade ou vontade com nenhuma delas. Noite passada, ele havia beijado Hermione mais do que sua vida inteira com mulheres. Vira-se preso na atmosfera diferente que os envolvera e sua boca o traiu tantas vezes que ele começou a apreciar e sentir necessidade de pressionar os lábios contra a pele dela. Fazia isso pela simples sensação de satisfação que descobrira naquele gesto que parecia tirar algo de dentro dele que não conhecia para externar na pele dela ou contra aqueles lábios macios e belamente cheios.

Seu corpo estava extremamente cansado e invejou Hermione quando voltou para o quarto já em sua farda e a encontrou da mesma forma, espalhada na cama com o lençol mal lhe cobrindo o corpo. Draco sorriu, estando satisfeito por saber que era o responsável pelo estado em que ela se encontrava e também por saber que a mulher mais sexy que já vira era sua. Céus, ele queria que seus olhos tirassem foto.

Desceu para o desjejum e seguiu o ritual de sempre. Chá preto, carboidrato e o Diário do Imperador. A falta da presença de Hermione começou a incomodá-lo quando já estava na metade do jornal. Tinha a sensação de que regredira algumas semanas e que ela não desceria para se alimentar porque estava ocupada demais em seu casulo chorando pela filha que haviam perdido.

Tentou se distrair com a matéria que lia sobre o bem estar da vida em alguns bairros próximos aos limites da muralha e sobre atividades a se praticar ao ar livre agora que o outono estava chegando ao fim. Nada muito interessante até Hermione aparecer, enrolada no lençol de sua cama, com os olhos fundos e os cabelos mal presos no topo da cabeça. Vê-la pareceu acender algo nele. Apenas a encarou, enquanto ela se arrastava descalça, se sentava em sua cadeira e enchia uma sua xícara de chá.

– Posso ter as primeiras páginas? – ela pediu se referindo ao jornal.

Draco estendeu as primeiras páginas a ela as pegou e começou a se entreter na leitura, enquanto enchia a mão de biscoitos e os enfiava de um em um na boca.

– A cada dia que se passa você se apresenta em um estado pior para o desjejum. – ele comentou e o que recebeu em resposta foi a visão dela revirando os olhos.

– Meu Deus! Será que pelo menos, hoje, eu poderia não ser julgada pelas suas regras de etiqueta?! Estou faminta! Isso aqui não é um castelo e nós não somos nenhuma família real! – Hermione respondeu e ele riu fracamente da indignação dela.

– Não são minhas regras de etiqueta, Hermione. – Draco disse e dobrou o jornal, colocando-o de lado. – A verdade é que pouco me importa, mas fui criado em torno de toda essa atmosfera sem noção, portanto não espere que eu a aplauda quando aparecer desse jeito para o café-da-manhã. Mesmo que seja extremamente sexy e excitante saber que por baixo desse lençol não está usando nada. – sabia que já tinha um sorriso tentador estampado nos lábios.

Hermione estreitou os olhos, mas dessa vez ela abriu um sorriso achando divertido.

– Você é um pervertido. – ela comentou.

Draco mostrou as mãos, dando de ombros.

– As mulheres me amam. – apenas disse e a viu revirar os olhos novamente.

– Será que seu amor próprio conhece algum tipo de fronteira? – ela disse e ele riu em resposta.

– Escute. – ele pontuou, mostrando que tinha algo diferente para falar. Terminou seu chá e se levantou. – Tem planos para ir à Catedral hoje?

– Sim. Jodie quer me ver. – Hermione respondeu, se ajustando confortavelmente em sua cadeira.

– Perfeito. Faça as coisas que deve fazer e me encontre em minha torre. Temos muito que conversar.

Hermione assentiu e pegou sua xícara de chá para segurá-la entre as duas mãos, enquanto trazia as pernas para o assento da cadeira. Será que ela tinha consciência de que ficava extremamente linda quando assumia aquele ar rebelde e confortável?

– Algum horário de preferência? – a voz dela soou quebrando o feitiço em que havia o prendido.

– Veja com Tina. – Draco pediu e ela assentiu confirmando. Deu as costas e tomou seu rumo para o pátio, onde sabia que sua carruagem o esperava.

Quando estava quase na altura da sala principal, escutou a voz alta de Hermione chegar até ele da sala de jantar:

– E o jantar? – ela perguntava.

Sorriu. Hermione gostava de ser totalmente imprudente sempre que via uma brecha com relação às regras de conduta que sua mãe, com certeza, havia passado a ela. Pensou em repreendê-la, mas tudo que fez na verdade foi responder.

– Mesmo horário de sempre. – usou do mesmo tom para fazer com que sua voz chegasse até ela, enquanto avançava para a porta principal.

**

Suas primeiras horas na Catedral aquela manhã seguiram a rotina normal. Seu discurso com o exército no pátio leste, reunião com o Conselho, seu treino diário, onde se viu tão distraído e cansado que acabou suando o dobro do normal, ministrou uma das aulas de agilidade, improviso e reflexo para o programa de treinamento que preparava comensais para seu exército e deu uma pausa na zona sete para finalizar as estratégias de ação em York. No meio de tudo isso, liberou uma chave de portal para o comensal do acampamento de Godric’s Hollow e o rebelde capturado que vinha com ele. Quando voltou para sua torre já era quase almoço. Sua mãe o esperava em sua sala e Draco a recebeu com um sorriso e um beijo na bochecha antes de sentar em sua mesa e abrir a pasta das programações da tarde que Tina havia lhe passado.

– Temos uma agenda cheia para o mês inteiro. – Narcisa começou - Na verdade temos uma agenda cheia até a Cerimônia de Inverno.

– Sim. Eu estava esperando ansiosamente por essa época do ano novamente. – ele foi irônico, folheando os papéis e marcando aquilo que deveria ser mudado.

– Sabe que essa é uma parte importante dentro do todo. – ela foi cuidadosa ao dizer aquilo.

– Sei que é. – ergueu os olhos para sua mãe e sorriu – Apenas me passe as diretrizes e eu serei todo seu. – a mulher sorriu em resposta. Draco se reclinou em sua cadeira se divertindo com as imagens criativas que sua cabeça criava ao imaginá-la na cozinha, enquanto analisava bem a figura dela ali, de pé, em sua postura elegante e clássica. – Me diga que aprendeu algo com Hermione ontem. – disse e a viu sorrir confusa.

– Não sei o que quer dizer. – ela retrucou.

– Não finja agora que não esteve na cozinha a tarde inteira ontem, com Hermione, Sra. Malfoy. – divertiu-se ele. – Não se envergonha disso?

Sua mãe riu e ao mesmo tempo pareceu sem graça.

– Foi uma experiência interessante devo confessar. – ela disse – Quero dizer, não que a cozinha seja um lugar apropriado para pessoas como nós, mas foram apenas algumas horas.

– Você gostou? – Draco se viu interessado.

Sua mãe deu de ombros.

– Não acho que tenho o mesmo dom que ela, nem acho que teria paciência para ficar em um local com tantos elfos domésticos por tanto tempo. Mas a companhia de Hermione é definitivamente prazerosa. – Narcisa disse e ele sorriu satisfeito. Sabia que se havia algo que sua mãe temia era a solidão e Hermione fora alguém que começara a ocupar o tempo dela, desde que havia chegado a Brampton Fort. O relacionamento das duas era no mínimo interessante, mas mesmo assim o agradava que, de alguma forma, uma tivesse se tornado a companhia da outra. – E o que houve com você? – sua mãe perguntou, depois de alguns segundos.

Ele ficou confuso com a pergunta.

– Nada que eu saiba... – respondeu, não sabendo se deveria perguntar o que ela queria dizer com aquilo.

– Está sorrindo. – ela o alertou.

Draco uniu as sobrancelhas reparando que sim, realmente estava.

– Sim, e o que há de errado com isso?

Sua mãe sorria com tudo aquilo e ele ficou curioso.

– Está sorrindo desde que te vi passar por aquela porta. Sorrindo de um modo verdadeiro. Sorrindo como costumava fazer quando era criança. – Narcisa comentou – Acho que a última vez que te vi sorrir assim, por tanto tempo, foi quando recebeu sua carta de Hogwarts quando fez onze anos.

Ele suspirou e desviou o olhar. Sim, ele se sentia leve. Desde que acordara aquela manhã se sentia leve e estivera a manhã inteira, distraído, enquanto as engrenagens do seu cérebro trabalhavam para encontrar uma justificativa para isso. Sentia-se diferente, definitivamente. A pena em seu dedo girou uma, duas, três vezes e Draco molhou os lábios.

– Mãe... – começou. Girou a pena mais uma vez e tornou a encará-la. – Acha que meu pai é grato por ter você? – ao menos grato, porque Draco sabia que seu pai não amava sua mãe.

Ela mordeu os lábios, não muito certa sobre o que se passava em sua cabeça. Draco nunca havia antes conversado com sua mãe sobre o relacionamento que ela tinha com seu pai. Ele já havia visto o suficiente para não ousar tocar no assunto.

– Acredito que sim. Da maneira dele, claro. – Narcisa respondeu.

Draco ponderou sobre aquilo, sério, e por alguns segundos.

– Sei que meu pai confia a vida a você. – disse – Você acha que é de confiança porque o ama ou porque partilham do mesmo sobrenome?

Foi a vez de sua mãe ponderar sobre aquilo. Ela cuidadosamente se aproximou e se sentou em uma das cadeiras a frente da mesa dele.

– Acredito que no começo mais porque o amava. Hoje porque entendo bem mais que estamos no mesmo barco. Se ele afundar eu vou junto. – ela disse e Draco assentiu. O silêncio os seguiu por alguns segundos. – Quer saber se Hermione é confiável? – ele não respondeu, mas não precisou. Sua mãe havia entendido. – Filho, sei que foi criado debaixo da regra de que não se deve confiar em ninguém. – Narcisa disse com cuidado - Seu pai sempre foi muito claro quanto a isso e nunca tive muito espaço para te ensinar as coisas que eu acredito. Confiança é algo que se constrói no escuro. É difícil para alguém como você querer jogar no incerto assim, depois de tudo que aprendeu com essa guerra e com o histórico de nossa família, mas... – ela sorriu - algumas conquistas são muito prazerosas quando apenas arriscamos. – Draco não respondeu nada. Continuou a encarando, enquanto ponderava sobre aquelas palavras. Sua mãe havia exposto um bom ponto, mas continuava sabendo que aquele tipo de discurso não o comprava, por isso, ela acabou suspirando e desfazendo o sorriso. – Mas se precisar de um argumento que lhe permita algum tipo de estatística: Hermione entende muito mais que está atada a você e ao sobrenome que tem depois que perdeu a filha do que antes, Draco. Ela tem mil motivos para estar do seu lado mais do que para ainda estar do lado da Ordem. Ela está presa a Marca Negra, está presa em um casamento com você, vocês dois terão um filho mais cedo ou mais tarde. Ela é racional e esperta o suficiente para saber que não dá mais para lutar pela vida antiga que tinha. Você é o único futuro que ela tem. – Narcisa disse sua última frase com um pesar que Draco sabia que vinha mais da visão dela do que propriamente da de Hermione. Talvez, era isso que sua mãe via, que seu pai era o único futuro que ela tinha. Seria ele o mesmo para Hermione? Será que ele também a via da mesma maneira?

– Eu a quero como uma aliada. – Draco disse – Hermione é inteligente, forte, racional, estratégica e esperta. Meu pai sempre esteve certo quando disse que a queria do nosso lado. Ela parece estar desprendendo dos laços que tinha com a Ordem, acho que se sente diferente agora, depois de todo esse tempo debaixo do ciclo do Lorde. Apenas não sei se seria prudente confiar a ela nossos segredos.

– Por que ela é uma Sangue-Ruim? – sua mãe perguntou de forma neutra e um pouco confusa. Ele apenas se surpreendeu por perceber que havia se esquecido daquele fato.

– Não. – respondeu com tanta certeza, que também tornou a se surpreender. Desde quando ele havia esquecido sobre o sangue de Hermione? - Por ela ter sacrificado tanto por tão pouco. Ela lutou pela Ordem por anos, mesmo sabendo que era uma causa perdida. Deixou-se ser capturada por eles. Se casou com alguém que odiava porque Luna Lovegood estava sob ameaça de morte. Luna Lovegood. – às vezes simplesmente não a entendia. – Ela superestima demais valores sentimentais. Isso a torna fraca.

Narcisa se mexeu inquieta em sua cadeira e o encarou da mesma forma que o encarava todas as vezes que ele expunha algum ideal que seu pai lhe ensinara que ela não concordava.

– Draco. – sua mãe falou com calma – Você é meu filho e eu o amo com tudo que há em mim. Faria tudo que fosse preciso, por mais estúpido que fosse, por você. Acha que isso me torna fraca?

Não desse ponto de vista exatamente. Pensou.

– Te torna definitivamente vulnerável em um ponto, fato. O que pode ser usado contra você. – ele respondeu.

– Mas acha que o fato de eu fazer tudo por você me torna uma pessoa fraca? – insistiu ela.

– Não. – respondeu. – Mas...

– Então não diga que Hermione é fraca. – sua mãe o cortou antes que ele pudesse continuar insistindo que a tornava vulnerável. - Ela estava disposta a entregar tudo o que sabia sobre as pessoas pelo qual havia dado a vida ao se deixar ser capturada. Ela daria tudo a Lúcio. Ela contaria tudo. Tudo pelo filho que carregava. Ela não estava sendo fraca, ela estava sendo forte pelo filho dela. Tenha certeza de quais são os interesses dela, de onde o coração dela está, e então saberá por quem ela facilmente daria a vida. Isso não é ser fraca. Hermione é altruísta, ela consegue pensar mais no outro no que nela mesma. Isso é algo que considera patético porque não entende, Draco. Seu pai conseguiu colocar muito dele em você.

Narcisa foi séria e Draco apenas engoliu as palavras dela. Sua mãe sempre havia criticado seu egoísmo o que era, no mínimo, irritante. Ela sempre tivera o discurso de que ele nunca saberia abrir mão de seu egoísmo até encontrar algo que amasse o suficiente e verdadeiramente para tal. Draco se lembrava de ter tentando entender isso na época de sua vida em que mais se confrontou, mas se viu incapaz. Egoísmo fazia parte de quem ele era, embora tivesse se visto a beira de alguma esperança quando descera do pódio de seu orgulho para implorar ao seu pai que arriscassem muito do que haviam construído até ali dentro do ciclo de Voldemort para poder salvar o futuro do filho que nem ao menos conhecia ainda.

Ele sorriu fracamente quando o silêncio os envolveu tempo o suficiente para que se visse perdido nos milhões de pensamentos e lembranças em sua mente, quando as palavras de sua mãe se dissolveram dentro dele.

– Quem diria que um dia eu a escutaria em defesa de Hermione. – ele comentou. – Logo Hermione.

Sua mãe riu suavemente.

– As coisas vêm mudando bastante desde que ela chegou.

Ele era obrigado a concordar.

– Inclusive a guerra. – acrescentou e embora devesse soar preocupado, apreciou o modo como estava conseguindo lidar com aquele tópico de uma maneira bem mais leve desde que o dia começara.

– Isso é algo que me preocupa. – Narcisa foi séria e Draco sorriu tentando tranquilizá-la.

– Me dê seis a nove meses para dar fim a essa guerra de uma vez por todas, mãe. – disse se lembrando do que ele e Hermione haviam conversado na noite anterior. Saber que Hermione estava disposta a se tornar uma aliada era, ao mesmo tempo, preocupante e excitante.

Narcisa cresceu as sobrancelhas surpresa pelo que havia escutado.

– Achei que as coisas não estavam muito boas para o nosso lado pelo que havia me contado, mas já que... – ela foi interrompida pelas batidas na porta de sua sala.

– Senhor. – Tina apareceu e deu espaço para alguém passar. – Sua esposa. – anunciou ela.

Hermione atravessou para o lado de dentro, agradecendo Tina por segurar a porta, entretida com a leitura de uma pasta que tinha a cor do departamento de Theodoro. Usava um daqueles vestidos soltos de tecido fino cheios de camada na saia que marcava sua cintura em um tom azul muito escuro, mas havia tomado o cuidado de colocar um blazer pequeno e abóbora que não lhe cobria todo o braço, para talvez equilibrar a cor e se proteger da estação que eles estavam, seus passos firmes sob o salto fazia os cachos castanhos largos e macios acompanharem seu ritmo e Draco não teve outra escolha a não ser deixar seus lábios se esticarem, sem medo. Vê-la o fazia se lembrar ainda mais claramente do que haviam combinado na noite anterior, da madrugada intensa que haviam passado, de como ela estava conseguindo superar um dia melhor do que o outro a perda da filha e de como era simplesmente a mulher mais linda que ele já havia colocado os olhos. O sorriso de surpresa e felicidade que Hermione abriu ao tirar os olhos da pasta em suas mãos e ver Narcisa era tão verdadeiro, que o encheu de satisfação por saber que sua mãe agora tinha alguém que não a bajulava porque ela era uma Malfoy ou porque tinha um filho general.

– Hei! – ela exclamou para Narcisa, fechando a pasta. – Espero que não tenha planos para o almoço. Recebi aquela agenda de compromissos que me passou e estive pensando se nós poderíamos discutir sobre ela com calma.

– Estou livre para que me use. – sorriu Narcisa. Draco sabia bem o quanto sua mãe dava pulos de alegria internamente sobre discussões de encontros sociais.

– Se estiver criando esperanças de se livrar de algum compromisso, já vou avisando que é um gasto de saliva desnecessário com minha mãe. – ele comentou quando Hermione parou ao lado de Narcisa e estendeu para ele a pasta que vinha carregando.

– Vou fazer o esforço valer algo. – Hermione disse sorrindo, enquanto ele pegava a pasta. Teve uma urgência de querer se levantar para recebê-la e beijá-la em algum lugar. Qualquer lugar. Queria apenas aquela sensação de satisfação que havia o preenchido na noite anterior todas as vezes que pressionava a boca contra a pele dela ou a boca. Queria, mesmo que não fossem fazer sexo, mesmo que ele não tivesse a menor intenção de tirar a roupa dela e tomá-la totalmente para si. Apenas um beijo. Totalmente incomum, mas ele queria. Não se moveu além de analisar a capa de couro de dragão tingida de um vinho púrpura, a cor da Sessão da Cidade e o símbolo do departamento.

– O que devo fazer com isso? – Draco perguntou.

– Abra e analise a primeira página. Já é o suficiente. – ela disse e ele obedeceu ao se deixar ser tomado pela curiosidade. As primeiras linhas foram o suficiente para fazê-lo entender que aquilo eram descrições de casos que foram julgados fora da normativa do novo caderno de leis. Draco sequer precisou perguntar o que ele tinha em comum com aquilo quando Hermione tornou a abrir a boca. – Esse não é o único caderno que não foi arquivado. Jodie acabou de me passar alguns deles, deve estar furiosa com Theodoro por algum motivo. Vou torná-los públicos, assim como minha saída do departamento também.

– Está pensando em fazer um discurso? – Narcisa interveio.

– Sim. Eu teria que me pronunciar de qualquer maneira, farei com que seja aberto.

– Theodoro ficaria louco. – comentou Draco e Hermione deu de ombros.

– Ele já está com você desde que o chantageou com o caso de sua ex-secretária, não acho que me incluir na lista mudaria alguma coisa. Além do mais, o Lorde está por trás da posição que eu ocupava e tenho um bom argumento para convencê-lo de que trabalharei a seu favor com bastante empenho, preciso apenas chamar a atenção o suficiente para que ele queira me ver.

Draco considerou as palavras dela e pensou por um tempo

– Você não acha, arriscado demais, se aventurar com o mestre assim? – foi Narcisa quem se pronunciou.

– Nós não teríamos nada a perder. – Draco disse no lugar de Hermione e ela sorriu para ele em resposta. – Tem certeza de que é um bom argumento? – perguntou a ela que assentiu. – Perfeito. – concluiu. – Acha que eu deveria confiar mesmo em deixar você fazer isso sozinha? – Hermione revirou os olhos e ele soltou um riso suave.

– Certo. – Narcisa se levantou. – Já que estão todos em muito bom humor hoje, posso apressar minha companhia para o almoço. Tenho pessoas para receber durante a tarde, não posso me atrasar e Hermione está adorável demais para não dar o ar da graça no centro. Quero que tirem fotos, assim irá chover propostas para que aprove as coleções de inverno das vitrines mais famosas...

– Mãe! – Draco a cortou sem paciência. – Por favor. – não tinha o menor interesse em ficar escutando aquele tipo de futilidade. Narcisa ergueu as mãos em sinal de desculpas. Ele voltou-se para Hermione. – Quero você de volta aqui.

Hermione assentiu e quando se juntou a sua mãe para tomarem o caminho da saída, a porta de sua sala foi aberta com tanta violência que ela recuou um passo pela surpresa inesperada. Pansy Parkinson passou para o lado de dentro com os olhos tão furiosos que Draco esperou até que ela fosse sacar a varinha, mas tudo que fez foi se inclinar sobre sua mesa, com os olhos bem fixos nele. Tina se desculpava, mas a voz de Pansy foi alta quando ela se pronunciou cheia de ódio:

– O QUE ELA ESTÁ FAZENDO AQUI?

Draco encarou a mulher, confuso. Desviou o olhar para Hermione, talvez pensando que Pansy pudesse estar se referindo a ela, mas mesmo assim não fazia sentido. O olhar de Hermione mostrava que ela talvez estivesse também tentando entender se Pansy se referia a ela.

– Seja mais específica, Pansy. – Draco tentou soar neutro tornando a encará-la.

– ASTORIA! – Pansy tornou a gritar cheia de fúria. – EU A VI SE MUDANDO DA CATEDRAL HOJE!

– Pare de gritar. – ordenou ele, não se importando em demonstrar que desaprovava a atitude. – Transferi Isaac Bennett porque quero que ele trabalhe para mim. Astoria vem com o pacote.

– VOCÊ VAI MANDÁ-LA DE VOLTA! – Pansy gritou novamente com toda a autoridade que achava que tinha.

– Não vou. – Draco apenas disse.

– VAI SIM! VOCÊ A QUER DE VOLTA! ISSO QUE QUER! JÁ NÃO ESTÁ SATISFEITO COM METADE DE BRAMPTON FORT NA SUA CAMA? EU NÃO A QUERO AQUI! NÃO ELA! NÃO ASTORIA! NÃO NOVAMENTE! VAI MANDÁ-LA DE...

– PARE DE GRITAR! – Draco se deixou rugir para que Pansy finalmente parasse de gritar. Funcionou, porque ela se recolheu e recuou, sentindo-se ameaçada pelo poder de sua voz. Ele se levantou. – Eu não discuto o que faço no meu trabalho com você e você não entra na minha sala assim e exige que eu cumpra suas vontades! Astoria não vai embora! Fim! – se viu com a mesma raiva que ela e talvez a fúria com o qual ele soara, fizera com que toda as expressões de Pansy mudassem.

Os olhos turquesa dela brilharam, se encheram d’água e Draco viu dor. Toda a expressão dela se converteu em dor. Aquilo foi o suficiente para que ele entendesse o que Pansy estava passando. Ele se viu suavizar diante da figura dela. Pansy era orgulhosa demais e tinha amor próprio além do limite para se permitir chegar naquele estado. Ela havia cortado os longos cabelos, usava as roupas mais provocantes que já a vira colocar, estava sempre tentando fazer com que seu caminho se cruzasse com o dele e, mesmo assim, Draco não havia dado a ela a atenção que pedia. Pansy havia estado debaixo da sombra por um ano inteiro e ele nem sequer a procurara, nem sequer sentira falta. Nunca havia ficado tanto tempo sem tê-la. Não que se lembrava.

– Por favor, Draco... – a voz dela saiu trêmula e baixa dessa vez. – Astoria não... Não de novo...

Ele deu a volta em sua mesa, muito ciente de que Hermione e sua mãe ainda estavam ali. Segurou-lhe pelo braço e se aproximou dela, deixando-se ficar perto o suficiente para esconder seu rosto dos demais daquela sala.

– Por que está agindo como se Astoria fosse a mulher da minha vida? – falou baixo para que apenas Pansy ouvisse. – Quero que você saia daqui agora, se acalme e nós iremos conversar sobre isso quando eu tiver tempo. – Draco não foi ríspido, mas ela continuou a encará-lo em silêncio com aquele olhar de que ele estava mexendo com os últimos restos que haviam sobrado do coração dela. – E pare de agir como alguém que eu sei que não é.

Ela continuou com seus turquesas brilhantes e molhados focados nele com uma intensidade diferente.

– Sinto a sua falta. – Pansy sussurrou e naquele olhar Draco percebeu que era verdade e que não havia nenhum pedaço de encenação naqueles olhos dela. A dor era verdadeira e, pela primeira vez, ele a machucara e ela estava o deixando ver que doía.

Draco abriu a boca para retrucar algo, mas nada saiu. Tornou a fechá-la, deixando que os olhos dela o consumissem. Viu-se sem reação diante de uma Pansy que parecia existir por culpa dele. Uma Pansy toda ferida. Por que ela estava fazendo aquilo? Aquela não era a Pansy que ele conhecia. A Pansy que ele conhecia o chamava de canalha com um sorriso safado na boca vermelha e inchada enquanto faziam sexo, mesmo sabendo que duas ou três horas antes ele estivera com outra.

– Pansy... – Draco tornou a dizer muito baixo, mas ela puxou seu braço para longe do toque dele, deu as costas e foi embora, deixando Hermione em seu campo de visão.

A energia do olhar de sua mulher havia se modificado. Hermione o olhava diferente agora, mas era um olhar que Draco já conhecia, nada perto do calor com o qual ela estava o olhando ultimamente. Dessa vez ele a sentia distante, distante como costumava a sentir logo quando haviam se casado, logo naqueles primeiros meses. Como nunca havia reparado que eles haviam se aproximado? Como haviam se aproximado? Quando? Naquele único olhar dela, ele sentiu que toda magia da forma como aquele dia havia começado fora quebrada. Sentiu uma imensa raiva de Hermione por saber que a reação dela havia o afetado daquela maneira.

– Isso foi completamente inapropriado. - Comentou Narcisa e Draco desviou seu olhar de Hermione para ela. – Eu não esperava nada parecido vindo de Pansy. Quer que eu fale com ela?

– Não há necessidade. – ele deu as costas e pegou as pastas em sua mesa. – Não é como se Pansy se importasse mais com você mãe. Eu já estou casado.

Draco sabia que aquele tipo de comentário feria Narcisa, mas somente reparou que deveria não ter dito aquilo quando a viu desviar o olhar. Hermione automaticamente tomou a atenção dela, dizendo que era melhor que se apressassem. O olhar que ela o lançou antes de deixar sua sala foi sério e ele recebeu mais uma confirmação que havia perdido a alegria daquele dia.

Nada bom para Draco durava por muito tempo, de qualquer forma. Estava acostumado. Chamou por Tina e discutiu com a secretária alguns segundos sobre como aconteceria a tarde deles. Lançou ordens e foi somente em um determinado momento, quando ela se debruçou sobre a mesa para fazer uma anotação em um pergaminho que havia lhe passado, que uma luz se acendeu em seu cérebro.

Tina sempre usava saias curtas e decote. Draco reparou que os cabelos dela estavam presos. Algo em toda aquela situação o incomodou. Ele nunca demorava a reparar em uma mulher. Nunca. Há quantos meses que Tina já trabalhava para ele mesmo? Tinha certeza que se alguém perguntasse qual era a cor do cabelo dela e ela não estivesse perto para que ele pudesse olhar, erraria. E quando mesmo ela havia prendido o cabelo? Ela estava de cabelos presos pela manhã, ou havia os prendido no meio do dia?

Tentou se lembrar da última mulher em que havia colocado realmente os olhos e, todas às vezes, a figura de Hermione lhe aparecia. Linda não importava como. Linda em sua camisola, linda enrolada na toalha de banho, linda durante um jantar, linda nua, linda quando gemia de puro prazer, linda suada, linda quando se arrumava, linda quando acordava, linda quando estudava, quando lia, ou até mesmo quando se atrapalhava para se apressar quando ele reclamava que estavam atrasados para algum evento. Draco precisou até mesmo se esforçar para se lembrar da última mulher que levara para cama que não fosse sua esposa. Hermione havia ocupado tanto seu mundo que ele nem sequer sentia falta ou necessidade de procurar outra, nem mesmo quando ficavam semanas sem sexo. Aquilo não lhe fazia nenhum sentindo. Ele adorava mulheres, todos os tipos delas. Como havia ficado tanto tempo sem sequer notar que elas existiam? Aquilo o preocupou seriamente.

Dispensou Tina antes que começasse a olhar nela tudo que não havia notado antes e seu corpo já estava cansado demais para que desse à secretária o que ele normalmente daria a qualquer mulher: o sexo de sua vida. Foi direto para o almoço que havia marcado com o coronel de cada zona e repassou a necessidade de se sentarem para discutirem um novo modo de coordenarem a guerra, agora que a Ordem estava ganhando força e queria que isso fosse feito de modo democrático, onde a ajuda e opinião deles fossem de extrema importância.

A verdade era que não tinha o menor interesse em escutar os coronéis de suas zonas. Draco fazia seu trabalho como queria e se um dia tivesse realmente escutado a voz daqueles que se intitulavam seus conselheiros, ele nunca teria conseguido alcançar a estabilidade da guerra. Ele sabia como proceder tudo aquilo, mas precisava que seus homens se sentissem parte do processo, então sacrifícios eram necessários.

Quando voltou do almoço, seguiu caminho direto até o primeiro andar das masmorras, onde um pequeno grupo de sua equipe já estava o esperando juntamente com Hermione que discutia com um deles de maneira séria e curiosa, tentando entender o que estava sendo lhe mostrado em um mapa que estava aberto. Certamente Tina já havia informado ao seu pessoal que Hermione estaria com eles porque ninguém questionou a presença dela quando eles entraram em um hall de pedras, desceram os degraus de uma escada helicoidal fechada e se depararam em uma câmara de reunião.

Três faziam parte de seu conselho, velhos insuportáveis que usariam das informações colhidas ali para tagarelarem na manhã seguinte sobre soluções inúteis. Os dois outros homens faziam parte da zona sete, homens que o acompanhavam de perto e que certamente o ajudariam mais que o conselho de velhos que Voldemort montara para lhe encher a paciência todas as manhãs.

Todos eles se sentaram tomando cuidado para deixar o lugar de Draco ao centro. Hermione se colocou ao seu lado quando um dos homens de sua zona, com quem mantinha uma conversa, lhe apontou o assento. Será que ela não percebia a forma como ele a olhava? Ele bem sabia que Fox tinha uma noiva não muito agradável e estaria se casando com ela no inicio do ano seguinte para salvar as dividas de sua família. Portanto tinha muita consciência do que o olhar sobre sua mulher significava. Muitas vezes se perguntava se Hermione tinha algum tipo de amante. Alguém que suprisse um pouco o seu lado sentimental, visto que ele não tinha a menor intenção ou interesse de preencher esse espaço na vida dela. Obviamente que se ela quisesse alguém atencioso, Fox era uma boa opção e ela não parecia estar excluindo isso, porque a conversa que estavam tento parecia bastante interessante para os dois.

O ranger da porta na outra extremidade da câmara chamou a atenção de todos assim que se sentaram. Um dos bruxos da Comissão de Estudos e Experimentos apareceu carregando uma pasta.

– Ele ainda está passando pelo último teste. O procedimento é mais demorado porque ele ficou muito tempo fora da cidade. – informou o bruxo, colocando a pasta na mesa e a empurrando para Draco que a pegou e logo a abriu.

– Traga-o o mais rápido possível assim que terminar. Ainda tenho que lidar com o prisioneiro. – Draco disse, enquanto folheava os resultados que tinha que conferir.

O bruxo saiu se desculpando pelo atraso. Fox pareceu se engajar em outra conversa, deixando Hermione finalmente, e um dos homens de seu conselho o cutucou para reclamar sobre a falta de profissionalismo dos bruxos da comissão. Draco apenas concordou, entretido com os números que lhe eram apresentados nas páginas que folheava.

– Quando Astoria se mudou para Brampton Fort? – Hermione falou baixo o suficiente para que somente ele ouvisse e usou um tom de voz displicente, como se estivesse apenas comentando sobre o fim do outono.

– Fox não lhe contou sobre isso? - Draco teve que voltar uma página para ter certeza de que não havia entendido nenhum número errado.

Hermione pareceu entender muito bem a provocação e voltou-se para ele cerrando os olhos.

– Não sabia que conseguia agir como um completo idiota. – ela parou e fez uma expressão de falsa surpresa. – Oh, não. Na verdade eu sabia sim. – e ficou extremamente séria no mesmo momento.

Draco a encarou durante os segundos que tomou para virar para a próxima página e tornou a ocupar sua atenção com os papéis.

– Lamento desapontá-la. – disse e parou a imitando. – Oh, não. Na verdade, não lamento.

Ela tornou a cerrar os olhos e aproximou-se mais. Os dentes estavam cerrados.

– Eu apenas fiz uma pergunta.

– Esse mês é a resposta para sua pergunta. – Draco foi seco e ergueu os olhos para ela. – Por que está interessada em Astoria?

– Parkinson deu a entender que ela significa algo para você.

– E acaso está preocupada com isso? – ele se aproximou igualmente para deixar aquela conversa apenas entre eles o máximo possível. Sentia seu maxilar travado. A última coisa que precisava era de outra Pansy em sua vida achando ruim que Astoria estivesse por perto. – A única mulher que significa algo para mim é minha mãe, Hermione, e depois de um ano inteiro comigo, eu esperava que já soubesse disso.

– Eu apenas queria conversar!

Draco riu fracamente, embora não conseguisse encontrar graça em lugar algum.

– Acha que eu sou idiota? – uniu as sobrancelhas.

Hermione puxou ar para retrucar, mas recolheu qualquer palavra ou justifica pronta para ser lançada e juntou os dentes. Estavam tão perto que Draco conseguia enxergar os pequenos poros de seu rosto.

– Do que você tem medo afinal, Draco? – foi o que ela sussurrou com os dentes cerrados. Apenas aquela pergunta o fez querer recuar. – Não consegue se lembrar que passei minha vida inteira, desde que te conheci, te odiando? Eu não poderia sequer pensar em te amar, ou tentar concorrer pelo seu coração junto com metade dessa cidade, enquanto carrego na memória todos os insultos que já me fez e toda a ameaça que representou para mim durante esses anos de guerra! Eu não o amo e não precisa se preocupar quanto a isso!

– E eu também não a amo, nem jamais poderia amá-la! Eu não sou desse tipo de material! Mas não se finja de estúpida e ignore o que temos passado, Hermione, nem o que ainda vamos passar! Sim, ficamos boa parte de nossas vidas odiando um ao outro, mas olhe para mim e me diga que continua me odiando. Diga que me odeia! – Draco esperou que ela dissesse. Ela não disse. Algo acendeu dentro de si quando o silêncio dela preencheu aquela frase que ele esperava dos lábios dela. – Eu me importo com você. – tornou a dizer. Dessa vez não sentia mais a tensão em seu maxilar. - Não é como se eu quisesse, mas eu me importo. Tenho que me importar. Você é uma parte de mim agora, certo? – ela era uma deles, era uma Malfoy. – Nossos futuros estão entrelaçados e pensei que havíamos deixado claro ontem que tentaríamos tornar isso mais fácil para nós dois.

– O que significa que não deveria ser rude comigo sem motivo!

– O que significa que você não deveria ter me dado aquele olhar quando Pansy saiu de minha sala!

E então, finalmente as coisas haviam sido esclarecidas ali e Hermione não parecia ter gostado nem um pouco de saber que era por causa de seu olhar que ele estava agindo daquela forma com ela.

– Escute, Draco! Lamento se a presença de Parkinson em qualquer lugar me provoque aquele tipo de reação!

– Você olhou bem para mim!

– Porque pensei que já fosse bem consciente que não gosto de saber que não sou a única mulher que anda tocando! Parkinson me faz lembrar isso! Eu não sou nenhum tipo de prostituta! Não espere que eu continue sorrindo quando lembro que o homem que me tocou ontem à noite, pode estar tocando da mesma forma qualquer outra mulher que eu inocentemente colocar os olhos sobre!

– Eu nunca... – foi cortado pela entrada de um dos bruxos da comissão acompanhando de sua testemunha logo quando estava pronto para replicar imprudentemente que nunca havia tocado nenhuma mulher do modo como havia a tocado ontem.

Chegou a ficar feliz por nunca ter realmente dito aquilo, na verdade. Não queria ser mal interpretado. Nem mesmo Draco sabia por que havia a tocado daquela forma ontem. Eles haviam entrado em uma atmosfera nova e completamente deliciosa que chamava por todos aqueles tipos de sensações e toques que ele não podia lutar contra e nem queria lutar contra. Eles haviam feito tantos tipos de sexo diferente, que talvez aquele tivesse sido apenas mais um deles. A única diferença é que aquele sexo não satisfazia apenas seu corpo, mas parecia quase ter renovado seu espírito.

Draco reparou a sua volta, que os homens na mesa, encaravam Hermione e ele com olhares curiosos. Talvez ele e ela tivessem vociferado aos sussurros de maneira pouco discreta. Contou até três, escondeu tudo que havia lhe aflorado durante aquele pequeno desentendimento entre ele e Hermione, e sua expressão profissional voltou assim que a testemunha se sentou a frente deles na outra extremidade da mesa.

– Olá, Casey. – começou com sua voz mais neutra, enquanto olhava os últimos números que não tivera a chance de terminar de ver. – Espero que não esteja irritado pelos procedimentos de reconhecimento.

– Entendo que são medidas de segurança. – respondeu o homem que se sentara. – Não volto ao forte faz dois anos.

Alan Casey. Ele era o chefe de acampamento em Godric’s Hollow. Chegara àquela manhã carregando um capturado da Ordem e todos os detalhes de como haviam perdido o vilarejo. Draco procedeu com todas as perguntas necessárias, enquanto todo o relato era feito por Casey. Uma pena corria um pergaminho registrando cada palavra que mais tarde deveriam ser enviadas ao Lorde.

Hermione Malfoy

Foram quase duas horas inteiras para que tudo fosse relatado sem perder nenhum detalhe. O ataque havia sido feito de uma maneira comum, como qualquer outro ataque da Ordem, mas segundo Casey, o homem sentado a frente deles, disse que feitiços e magias desconhecidas e aparentemente impenetráveis haviam sido usadas em momentos de surpresa, que foram de fator determinante para a perda das terras.

Draco terminou aquilo tudo passando diretrizes a serem levadas ao acampamento. Ele estava otimista em conseguir de volta Godric’s Hollow antes que a Ordem pudesse desfrutar a vitória como deveriam. As diretrizes haviam sido baseadas no que Hermione havia dito a ele ontem sobre esperar que eles derrubassem as fronteiras de proteção e trocassem pela deles, o que foi altamente questionado pelos homens do conselho, mas Draco se manteve firme defendendo o que eles haviam discutido na noite anterior. Hermione até mesmo se pronunciou calando a boca dos homens que queriam usar de uma experiência estratégica do século passado para encarar a nova força que a Ordem tinha tomado.

Claramente que o olhar de desgosto que recebeu de volta não foi nada educado, mas depois de sua óbvia constatação, ninguém mais ousou replicar sobre as ordens de ação de Draco que, visivelmente, estava dando a ela um voto de confiança. O que Hermione realmente apreciava. Não queria decepcioná-lo. Queria que o marido pudesse mesmo confiar nela, porque ela estava confiando nele e não queria ser decepcionada. Aquela guerra precisava de um fim. Voldemort precisava de um fim. E por mais que detestasse isso, a única esperança que via era em Draco.

Com o fim daquela sessão eles foram dispensados. Hermione sabia o que viria a seguir e temia pelo que quer que a esperasse. Mas estava pronta. Havia seriamente se preparado. Levantou-se e seguiu Fox quando ele a convidou. Aparentemente todos ali estavam bem conscientes e avisados sobre sua presença.

Fox avisou que não seria um caminho agradável. Hermione já havia o feito na verdade, quando Luna estava alojada nas masmorras, mas preferiu deixar que a imaginação de Fox a visse como uma donzela, já que estava vestida mesmo como uma. Será que ele não se lembrava dos campos de batalha onde ela se tornava poderosa com sua varinha e o cérebro que tinha? Aparentemente não, porque durante toda a caminhada ele foi agradável ao esclarecer novamente os procedimentos que Tina já havia lhe passado para ler.

Draco ficou para trás para resolver qualquer outro questionamento que seus conselheiros levantavam, enquanto Casey não ia embora. Ele apareceu somente depois de longos minutos quanto Hermione, Fox e o outro homem da zona sete o esperavam na porta de uma das celas nomeada “79”. Aquela era uma ala diferente da que Hermione estivera quando visitava Luna, mas a porta ainda era de aço fundido e muito pesada.

Draco veio ainda discutindo, dessa vez severamente, com um dos homens de seu conselho. Ele parecia realmente aborrecido por estar sendo seguido daquela maneira e quando se aproximou parou e excedeu sua voz imponentemente, calando definitivamente o homem. Ele retrucou algo realmente rude e o outro apenas fez uma careta, deu as costas e sumiu. Draco se virou para eles e seus olhos se encontraram com os dela imediatamente. Ele avançou e a puxou pela cintura a guiando para um canto reservado, sem pedir licença aos seus homens.

– Eu sei que queria você aqui. – ele começou com a voz baixa para que somente ela escutasse. Hermione sempre admirou como ele conseguia mudar suas expressões tão rapidamente. Segundos atrás, parecia querer engolir o homem de seu conselho, agora enquanto a olhava nos olhos, ele estava apenas neutro. – A queria aqui porque assim poderia enxergar como as coisas funcionam e eu não iria precisar lhe explicar sobre o que aconteceu em Godric’s Hollow, nem como estou agindo com relação a isso. Mas não acho que seria interessante continuar com isso...

– Está querendo que eu vá embora? – ela o cortou.

– Estou apenas dizendo que talvez não seja uma boa idéia...

– Fiz algo de errado?

– Não.

– Isso é por causa dos homens do seu conselho? Eles não me querem por...

– Silêncio, Hermione! – Draco a repreendeu. – Estou querendo tentar fazê-la se lembrar de que tem um homem da Ordem preso dentro daquela cela e nós não vamos ter uma sessão muito agradável de conversa!

Ela se calou. Sim, sabia daquilo e por mais que existissem muitas pessoas na Ordem, conhecia todos. Não tão bem quanto seu ciclo mais próximo, mas conhecia todos.

– Você sabe quem é? – Hermione finalmente perguntou, depois de alguns segundos em silêncio.

– Ainda não. – Draco respondeu.

Ela puxou o ar. Precisava mostrar que estava pronta. Ele ainda tinha aquele olhar de que não estava inteiramente convencido de que ela era capaz de realmente ser uma Malfoy ou de enfrentar aquele mundo junto com ele. Hermione precisava ser forte, precisava mostrar que era forte e que sabia como colocar sua máscara e jogar aquele jogo. Talvez tivesse usado vestidos e salto o suficiente para que o fizesse se esquecer de quem ela costumava ser.

– Eu estou pronta, Draco. – ela disse. Calma. Respiração estável.

Ele a encarou ainda com aquele olhar de dúvida sob sua máscara neutra, fria e dura.

– Eu a avisei. – Draco finalizou e quando deu as costas a ela, Hermione viu Tina sair de dentro da cela carregando uma pasta que estendeu a ele.

Ela informou que Veritasserum estava preparada e que o prisioneiro havia acordado dos sedativos, já fazia algumas horas. Hermione se lembrou de quando fora capturada. Eles a desacordaram, talvez para trazê-la para Brampton Fort sem que visse nada, e quando acordou já estava em uma cela escura acorrentada e longe de Luna. Somente a encontrou quando foi levada para a nave principal, onde encontrou Voldemort cara a cara pela primeira vez em sua vida. Não a interrogaram, nem a torturaram antes disso, o que ela havia ficado sabendo a algumas horas que era um procedimento padrão e comumente feito por Draco na maioria das vezes.

Mas aquilo parecia ter acontecido há no mínimo uma década atrás. Naquele momento, Hermione encarou Draco pegar a pasta de Tina e abri-la, tomando alguns segundos para analisar as páginas contidas ali, enquanto esperava os dois homens da zona sete passar para o lado de dentro. Hermione encheu o pulmão de oxigênio e se vestiu de sua melhor postura Malfoy enquanto estabilizava a respiração. Não deixaria que nada, simplesmente nada, tivesse poder o suficiente para transformar sua expressão fria, ao menos que se permitisse. Além do mais, sabia que ninguém ali dentro poderia ser Harry ou Rony. O ciclo interno da Ordem era bem protegido quando se tratava de capturas.

A grande surpresa foi quando se viu seguir Draco para o lado de dentro e finalmente encarar o dito prisioneiro em um péssimo estado. Seu coração parou. O homem se contorcia nas correntes presas ao chão, mas congelou os olhos sobre ela assim que a viu sair de trás de Draco, o que o fez erguer os olhos da pasta para entender a súbita quietude.

Draco parou com os olhos sobre ele. Ele com os olhos fixos em Hermione, Hermione com os olhos fixos nele. O silêncio. Hermione lutava para não deixar sua mascara cair. Lutava duramente. Lembranças começaram a atormentar sua mente quase que loucamente. Seu coração queria quase quebrar suas costelas com todos aqueles batimentos violentos.

O barulho da pasta se fechando nas mãos de Draco ecoou e ele virou-se para ela. Hermione sentiu o calor da mão dele em sua cintura e o encarou quando o marido fez com que ela desse alguns passos para trás, afastando-a o máximo possível. O lugar era pequeno e ele precisou encostar a boca bem próximo de seu ouvido para fazer com o que quer que dissesse, ficasse apenas entre eles.

– Eu disse que não era uma boa ideia...

– Draco. – ela o cortou e aproximou sua boca do ouvido dele, assim como ele fazia. O toque de seus rostos a fazia se lembrar de quando eles se tocavam na cama, principalmente das sensações da noite anterior. Fechou os olhos para lutar contra a vontade de encarar os olhos do homem acorrentado por cima dos ombros de Draco. – Confie em mim.

Ele se afastou e Hermione encarou seu olhos cinzas ainda muito próximos.

– Se lembra de quando lancei a ordem para que torturassem Lovegood porque levantou para ajudar aquele rebelde durante uma audiência aberta com o mestre? – a voz baixa dele sempre vibrava bem mais e sim, ela se lembrava bem de como o havia abominado aquele dia. Ela assentiu bem consciente de que lutava para não mostrar nada além de sua expressão fazia. – Você não pode me olhar como me olhou aquele dia. Não quero que torne a me encarar daquela forma, então seria melhor que realmente não participasse...

– Draco! – Hermione tornou a cortá-lo. Piscou calmamente. Respiração estável. Expressão fria. Tocou o pulso da mão que ele tinha em sua cintura, tentando transmitir pelo toque, que ela estava tentando e que precisava tentar. A diferença é que o toque apenas mandou um arrepio por sua espinha a lembrando de que eles não estavam na cama. Por mais que seu impulso racional quisesse fazer com que ela recuasse o toque, não recuou. – Aquela foi uma época diferente. As coisas mudaram agora.

Draco ainda a encarou por alguns segundos com aquele olhar de receio que talvez só Hermione conseguisse visualizar. Distanciou-se finalmente, entendendo que ela talvez precisasse mesmo. O olhar do prisioneiro ainda estava sobre ela, completamente imóvel. Hermione também notou que os demais da cela tinham suas atenções nela e em Draco. Não era a primeira vez que eles estavam aos cochichos naquele dia, o que obviamente levantava a curiosidade. Draco apenas retomou a atenção para a pasta, ficando de frente ao rebelde.

– Diga seu nome. – a voz dele soou forte, mas ao mesmo tempo Hermione percebeu que havia um ar de tédio em seu tom, como se estivesse repetindo aquilo pela milésima vez em sua vida.

Os cabelos ruivos do prisioneiro estavam tão sujos de sangue seco em algumas partes que haviam endurecido. O homem riu. Uma risada forçada e cheia de desgosto. Os olhos azuis ainda continuavam sobre ela.

– De tudo que tem para me perguntar vai escolher isso, Malfoy? – ele vociferou cheio de raiva nos olhos, olhos que continuavam travados sobre ela.

– Não é uma pergunta, é uma ordem. – Draco foi simples. Tornou a fechar a pasta e cruzou os braços. – Diga seu nome. – repetiu.

O ruivo cuspiu no chão cheio de raiva.

– Eu já pensei muitas coisas sobre você, Hermione! – disse ele. – Só não pensei que pudesse ser uma traidora! – sua boca foi calada quando Fox lhe enfiou a bota no rosto, fazendo-o exclamar de dor e cair no chão.

O coração de Hermione se remoeu inteiro e ela lutou contra todas as lágrimas que quiseram embaçar sua visão. Respiração estável. Era tudo que precisava. Piscou com frieza e indiferença. Ele não entendia... Não entendia que era para o bem de todos...

“... e você deveria fazer o mesmo, Hermione!” Rony incentivou naquele verão do sexto ano, enquanto pegava sua cerveja e subia as escadas do depósito da loja dos gêmeos no Beco Diagonal.

Ela riu.

“O que? Desistir de Hogwarts? Eu não poderia deixar esse fracasso estampado no meu currículo!” Hermione disse divertida, antes de ver Rony sumir.

“Assim você me ofende, querida Herms!” Se pronunciou Fred.

“Além do mais!” Ela se voltou para Fred. “Me pergunto com que dinheiro sujo vocês conseguiram montar essa estrutura!”

Fred Weasley riu sem medo.

“Você não sabe nem metade do quanto esses alunos investem quando querem pregar uma boa peça.” Ele mostrou as mãos “Não posso fazer muita coisa se Fred e George Weasley são sinônimos de qualidade no ramo há anos!” Ela riu e revirou os olhos, passando por caixas e mais caixas empilhadas. “Rony apenas está animado porque nos quer rico o suficiente para ajudarmos mamãe e papai. Assim eles terão dinheiro para lhe comprar a vassoura do ano.”

“Rony é um idiota.” Hermione disse e não era bem por causa do dinheiro que ele queria dos gêmeos. Sabia que a essa altura, ele deveria estar procurando algum lugar para se atracar com Lilá Brown.

“Sempre a admirei por suas sábias palavras, Hermione.” brincou Fred ao escutar aquilo e ela riu novamente. A energia dos gêmeos era sempre revigorante.

“Olha, devo confessar que vocês têm um futuro descente por aqui...” disse finalmente sorrindo e olhando para ele por cima dos ombros, enquanto avaliava o conteúdo de uma das caixas abertas.

“Decente?” Fred riu, encostando-se na estante ao lado dela e cruzando os braços. “Minha querida, você já viu meu apartamento?”

“Não é exatamente apenas seu!”

Ele revirou os olhos.

“Certo, George tem sua parcela de envolvimento nos negócios, mas...”

“50%?” Ela o cortou, divertida, voltando-se para encará-lo, enquanto cruzava os braços igualmente e erguia as sobrancelhas.

“50%, maaas...” Fred enfatizou. “Nós dois sabemos que eu sou o mais inteligente.” Ele abriu um sorriso largo. “E mais atraente.” Concluiu.

Hermione riu alto, revirou os olhos e quando se preparou para das às costas, o momento mais inusitado de sua vida, até então, aconteceu quando Fred simplesmente a puxou pelo pulso, segurou sua nuca e a beijou. Naquele segundo, assim, daquela maneira, ele se tornou o segundo homem que ela havia beijado em sua vida. E sua surpresa era tanta que nem consciência para se afastar ela conseguiu.

Quando finalmente ele desgrudou sua boca da dela, Hermione se viu encarando os dois oceanos azuis que ele tinha nos olhos de muito perto. Ela não sabia como reagir. Queria empurrá-lo, mas todos os seus músculos pareciam travados.

“Por que fez isso, Fred?” Se viu sussurrar incapaz de encontrar a própria voz.

“Meu Deus, Herms! Parece que você viu um fantasma! Beijo tão mal assim?”

Ela conseguiu finalmente se esquivar do toque dele. Parecia tão errado. Será que ele não sabia que ela gostava de Rony? Será que para ele ainda não parecia assim tão claro? Balançou a cabeça confusa. Por que ele havia a beijado?

“Você gosta de mim?” Perguntou incapaz de conceber a ideia de que Fred Weasley estivesse apaixonado por ela. “Está apaixonado por mim?”

Ele riu.

“Não! Merlin! É só um beijo, Herms!”

“Por que me beijou, então?!” Agora sim, ela estava completamente confusa.

“Porque você é bonita demais para não ser beijada.” Fred disse aquilo, como se não fosse óbvio demais para ela.

Aquilo foi a coisa mais ridícula que já tinha ouvido. Porque alguém a beijaria, apenas porque era bonita. Alias... Era bonita? Sentiu suas bochechas corarem. Virou para a caixa novamente encontrando qualquer coisa para olhar que não fossem os olhos dele.

“Eu gosto de Rony.” Disse finalmente. Baixo. Ainda com a esperança de que Fred não ouvisse.

“Sério mesmo?” Ele pareceu surpreso. “Quero dizer, eu já tinha uma ideia. Quero dizer, todo mundo já tem uma ideia. Mas tinha esperanças de que você não fosse tão estúpida assim. Acho que todo mundo também tinha.” Hermione cerrou os olhos e lançou contra ele a primeira peça perdida que conseguiu alcançar. Ele desviou rindo. “Não quebre nada, Herms, ou terei que fazê-la pagar pelo estra...”

“FRED! SUBA AQUI AGORA!” A voz de George veio do andar de cima.

Fred soltou o ar cansado.

“Veja só! Você o deixa cinco minutos, sozinho, e ele começa a gritar desesperadamente como minha mãe! Mas escute...” Fred deu um passo para se aproximar dela e Hermione recuou em resposta. Não deixaria que homens a beijassem apenas porque a achavam bonita. Fred limpou a garganta, recebendo a rejeição dela. “Ninguém precisa saber sobre isso, visto que claramente você não gostou.”

“Não, Fred.” Ela disse quase que imediatamente. “Não é que eu não tenha gostado... Eu só não esperava que... Não sei... Logo você... Eu... Nunca havia pensado que... Só acho que não é legal que tenha feito isso...” Ela se calou não encontrando nenhuma palavra adequada.

“Hermione.” Ele começou com uma voz séria e amorosa. Era a primeira vez que ela via Fred Weasley agir daquela forma. Longe de suas constantes piadas e sarcasmo. “Acho encantador que ainda seja muito ingênua com todo esse mundo.” Ele deu mais um passo se aproximando e dessa vez ela não recuou. “Sim, eu a acho bonita e atraente. Sim, eu a beijei. E não, eu não estou esperando nada disso, mas apenas entenda que relações começam de algum lugar.”

Ela entendia o que ele queria dizer. Entendia perfeitamente. Mas estava muito ocupada pensando em Rony o tempo inteiro para considerar nada que não fosse sua defesa de que grandes romances apenas surgiam de grandes paixões, mesmo que soubesse que paixões não eram eternas. Molhou os lábios, colocou os cabelos atrás de sua orelha e puxou o ar.

“Eu entendo seu ponto, Fred. Mas gosto de Rony.” Teimou.

Ele assentiu.

“Manterei seu segredo.” Fred foi sincero. “E o nosso beijo.” Concluiu com um sorriso.

Ela teve que desviar os olhos para não corar.

“FRED!” George berrou dessa vez.

“MEU MERLIN! QUE ESCÂNDALO! JÁ ESTOU INDO!” Berrou Fred de volta e tocou Hermione nos ombros de modo amigável, antes de dar as costas e seguir seu caminho. Hermione apreciou o toque por ter sido sem as intenções que temia que ele estivesse nutrindo por ela.

“Fred.” O chamou quando ele estava à beira da escada. “Você é um bom amigo.” Disse.

Ele riu e lançou por cima dos ombros:

“Claro que eu sei que sou!” E sumiu.

– Diga o seu nome, desgraçado! Não sabe seguir ordens? – chutou Fox novamente, mostrando que estava realmente irritado com a teimosia do homem.

– Eu não sigo ordens de crianças mimadas. – zombou o prisioneiro encarando Draco com nojo e recebeu um chute no estomago dessa vez o que o fez encurvar, soltando uma exclamação, embora lutasse para expressar a verdadeira dor. – Vejo que não sabe usar sua varinha para uma tortura de verdade! – implicou com Fox. – Que tipo de aborto é...

– Diga de uma vez, Fred! – Hermione o cortou impaciente, quando se cansou daquele show todo. Ele precisava cooperar, assim tudo acabaria rápido.

Ele a encarou, os olhos brilhando de ódio, talvez por ter escutado a voz dela ser direcionada a ele.

– Você parece saber bem meu nome, minha querida Hermione traidora. – vociferou ele, sem piedade. Hermione sentiu o nome traidora lhe cortar novamente. – Por que não informa isso a todos por você mesma, então? Aliás, não vejo o porquê de uma pergunta tão idiota, visto que todos aqui já sabem a resposta.

– É um procedimento. – Tina se manifestou mais preocupada com o que a pena registrava no pergaminho que tinha nas mãos, do que com o que realmente acontecia. Ela logo percebeu que havia cometido um erro quando Draco lançou a ela um olhar duro e questionador. Ela apenas engoliu em seco em resposta e recuou um passo, voltando sua atenção à pena.

A cela inteira ficou em silêncio. Draco puxou uma cadeira velha que estava encostada em uma das paredes, colocou-a bem de frente ao prisioneiro e se sentou cruzando as pernas, colocando a pasta em seu colo e as mãos unidas sobre ela.

– Me deixe te explicar sobre como as coisas funcionam. – ele começou sério, ainda com aquele distante ar de tédio. – Temos duas etapas para te fazer abrir a boca e tenha certeza de que conseguiremos. Nós vamos tirar qualquer tipo de informação de você. Querendo ou não querendo. Você não terá controle sobre isso. – puxou o ar mostrando novamente sue tédio. - Primeiro deixaremos que responda a um interrogatório sem qualquer tipo de magia, assim poderá inventar qualquer mentira estúpida para as perguntas que faremos. Essa parte você pode escolher se será dolorosa ou não. Pode querer ser difícil, o que tornará as coisas bem dolorosas e demoradas para você, obviamente. Gente como você gosta de passar por isso com honra, ou seja, escolhe um interrogatório trabalhoso. Mas não se preocupe, estamos muito acostumados com isso. Depois dessa etapa, usaremos Veritasserum e temos uma técnica muito eficiente e extremamente dolorosa que o impede de se concentrar o suficiente para lutar contra o efeito da poção ou usar qualquer truque para se tornar imune.

– Terá que me fazer bebê-la primeiro! – cuspiu o prisioneiro.

– Não se preocupe quanto a isso também. Temos anos de práticas com sucesso. Posso garantir que você mesmo a tomará até lá e não será sob a Maldição Imperius. – Draco piscou calmamente. – Agora, você pode escolher com sabedoria se fará com que a primeira etapa seja cansativa ou não. Preferimos que escolha ser difícil, assim estará exausto o suficiente para tornar o segundo processo ainda mais eficiente. Ou talvez, seja sábio em tentar guardar um pouco de energia para a segunda etapa. Assim, quem sabe consiga, de alguma forma bem miserável, ter forçar para lutar contra a poção. Mas não me importo realmente, qualquer decisão que tomar nos fará saber tudo que queremos de qualquer forma.

Draco se calou e muito pacientemente esperou pela reação do prisioneiro de joelhos a sua frente.

– Seu desgraçado... – foi a reação dele com os dentes cerrados e a expressão jorrando ódio e desgosto.

Draco havia o colocado contra a parede definitivamente e satisfeito, apenas suspirou em resposta e soltou:

– Vou lhe dar dez segundos para escolher que tipo de interrogatório quer ter, e então começaremos tudo isso novamente. – ele puxou o relógio de dentro do bolso e o abriu em sua frente. O silêncio acompanhou os segundos. Os ponteiros do relógio de Draco pareciam quase sonoros demais, enquanto corriam e durante todo o processo ele e o prisioneiro trocaram olhares. Draco calmo e desafiador, o prisioneiro furioso. Quando o relógio foi devolvido ao bolso, apenas puxou o ar se fez pronunciar: - Certo. – Quebrou o silêncio. Todos já sabiam de quem havia sido a vitória daquele confronto. – Diga seu nome. – ordenou.

O prisioneiro rangeu os dentes e com toda a relutância e ódio que poderia caber em uma pessoa, ele soltou:

– Fred Weasley.

**

De fato a segunda parte era a pior de todas. Eles usavam técnicas de tortura que Hermione sabia que pertenciam ao exército trouxa. Torturas que colocavam o prisioneiro debaixo de tanta dor ou tanta pressão psicológica que não restava nenhuma parte em seu cérebro consciente que poderia lutar contra o efeito da venenosa Veritasserum.

Aquilo durou horas. Hermione começou a se ver exausta na metade do processo. Talvez porque seus músculos estivessem tão tensos e travados com todo o esforço para não mudar sua expressão diante de tanto horror, que quando tudo acabou e Draco condenou Fred Weasley à condenação, dizendo que ele seria um bom petisco para a cerimônia de inverno, ela quis intervir. Chegou a dar um passo em direção a ele para intervir, mas travou novamente. Havia conseguido até ali. Não colocaria tudo a perder, trataria aquilo de outra maneira.

Fox e o outro homem da zona sete foram os primeiros a saírem carregando um Fred inconsciente com eles de maneira totalmente bruta e sem cuidado. Hermione saiu logo em seguida, deixando Draco e Tina discutirem sobre algo que não a interessou prestar atenção naquele momento. Do lado de fora, ela se permitiu relaxar os músculos e talvez aquele tenha sido um péssimo erro. Suas pernas bambearam e ela teve que se encostar-se à parede. Colocou uma mão sobre o estômago implorando para que ele se acalmasse e segurou os cabelos no topo da cabeça, impedindo que eles caíssem sobre seus olhos. Soltou o ar pela boca e se viu abaixar a guarda.

Toda a angústia, do que vivenciara aquelas últimas horas, lhe bateu duramente e Hermione sentiu nojo de si mesma. Fechou os olhos. Nojo por ter deixado que fizessem aquilo. Por ter ficado simplesmente parada. Fred havia a chamado de traidora uma dezena de vezes, a encarando com olhos cansados e cheios de ódio. Ela tinha certeza que o som daquelas palavras a atormentaria por dias e noites.

Quando tornou a abrir os olhos, Draco passava por ela com Tina logo atrás. Os olhos cinzas caíram sobre ela. Frios. Mas por apenas alguns segundos. Ele seguiu seu caminho deixando as masmorras e Hermione continuou exatamente onde estava. Cobriu a boca e quando se viu sozinha, se deixou chorar. Como podiam ser tão frios? Como Draco podia ser tão frio? Tão indiferente... Fred era tão humano quanto ele, quanto ela, quanto qualquer um naquela cela. Por que tratá-lo como se fosse algum tipo de animal?

Todos aqueles gritos de dor... Todas aquelas torturas que mal conseguia entender como havia conseguido encarar sem mudar sua expressão, sem se recolher, sem se manifestar. Será que ela estava mesmo se tornando um deles? Um comensal?

Sentiu que ficaria ali o resto do dia se não se recuperasse. Nunca deveria ter deixando seus músculos relaxarem. Nunca deveria ter se permitido sentir a fraqueza que, por tanto tempo, segurara ali dentro daquela cela. Contou até cinco e tentou se recuperar. Não conseguiu. Puxou o ar com força e tentou se recuperar mais uma vez, mas não conseguiu. Céus! Tinha que se concentrar. Tentou tomar o controle sobre sua própria respiração. Tentou esvaziar a mente.

Esvaziar a mente. Isso. Como se estivesse sob a ameaça de que pudesse ser lida. Afastou todos os seus pensamentos. Focou-se unicamente em sua respiração. Tentou estabilizá-la novamente e aos poucos conseguiu. Quando sentiu que finalmente estava em um estado domável, limpou o rosto e refez a postura. Sentiu a tensão voltar para todos os seus músculos. Dessa vez Hermione não os daria descanso. Alisou a própria roupa e fez o som de seus saltos ecoarem contra o piso novamente. Subiu até a torre de Draco ao invés de esperá-lo na saída sul, como Tina havia lhe dito.

– Sra. Malfoy! – Tina se manifestou assim que a viu apareceu. – Há algo errado?

– Sim. Preciso falar com meu marido, por favor. – informou.

A mulher pareceu um pouco desconcertada.

– Sra. Malfoy. Essa hora normalmente ele está trabalhando com muita coisa para fechar o dia...

– Eu sei o que ele está fazendo. – Hermione a cortou. – Poderia, por favor, ao menos dizer que estou aqui.

Tina hesitou por alguns segundos, mas então se levantou e foi até a porta de Draco, sem se importar em expressar que não estava muito feliz por estar fazendo um favor a Hermione.

Draco pediu para que ela entrasse quando foi informado de que Hermione estava ali. De alguma forma, ela se sentiu satisfeita por saber que ele não havia a dispensado, o que normalmente ele faria. Hermione entrou e recebeu apenas dois segundos do olhar de Draco sobre ela, antes que ele voltasse para os papéis em sua mesa. A porta foi fechada às suas costas e ela se aproximou.

– Está consciente do estado em que se apresentou para minha secretária? – Draco se manifestou, depois de alguns segundos.

Hermione não entendeu. Estava em sua postura, como deveria estar. Respiração estável. Máscara posta. Fria. Inexpressiva.

– O que quer dizer?

Ele subiu os olhos para ela apenas mais um segundo, enquanto corria sua pena por um livro aberto grande e pesado.

– Seus olhos estão vermelhos. Suas mãos tremem. – Draco comentou, molhou a pena no tinteiro e continuou.

– Eu... – Hermione tentava encontrar alguma forma de pedir desculpas pela fraqueza, mas sabia que como uma Malfoy, desculpar-se já era um sinal de fraqueza.

– Eu entendo, Hermione. – ele disse. Ela abriu a boca para retrucar, mas Draco falou antes dela. – Acredite. – A encarou. – Eu realmente entendo. – Ele assentou a pena e fechou o livro. – Não espero que se torne alguém como minha mãe, ou como eu mesmo, da noite para o dia. – usou um tom calmo e Hermione não pôde deixar de agradecer por não ser repreendida como sempre era por Draco. - Alguém a viu? – ele perguntou.

Não que ela soubesse. Até onde tinha consciência, estivera sozinha de frente para aquela cela. Negou com a cabeça.

– Creio que não. – respondeu.

– Bom. – ele disse. – Não precisa me esperar para voltar para casa, mas se quiser, não vejo necessidade de ficar plantada na saída sul esperando por mim. Pode se sentar se quiser. Já estou terminando com os...

– Draco. – ela o cortou. – Temos que tirar Fred de Brampton Fort.

Ele se calou a encarando, dessa vez suas sobrancelhas se uniram.

– Certamente que não. – foi o que ele disse.

Hermione deu mais um passo se aproximando.

– Eu não posso deixá-lo morrer, não posso deixar que ele vire um dos sacrifícios para a cerimônia de inverno. Você me ajudou com Luna. Podemos fazer o mesmo com...

– Certamente que não! – Draco a cortou com mais firmeza agora. – Hermione! Pense mais um pouco! Eu a ajudei com Lovegood porque tinha o interesse que ela levasse alguns dos segredos de Brampton Fort de volta para Ordem assim eu saberia, baseado nas ações deles, se possuíam ou não o véu. – ele falava baixo, mas ríspido o suficiente. - Não espere que eu vá me arriscar novamente por alguém que foi estúpido o suficiente para se deixar ser pego.

– Mas eu não posso...

– Hermione! – Draco a cortou novamente. – Você disse que queria isso.

Ela hesitou.

– Mas Fred...

– Você disse que queria isso! – ele tornou a repetir com mais clareza a cortando novamente. – Você disse que queria isso. Eu a avisei que seria um caminho escuro e sujo e mesmo assim você disse que queria, que estava pronta, que estava preparada. Eu até mesmo a avisei antes de entrarmos naquela cela e mesmo assim...

– Eu sei! – Hermione exclamou o fazendo se calar. Fechou os olhos e deu as costas. O silêncio acompanhou os segundos do relógio. Sua garganta queimou e ela lutou contra tudo aquilo. Por que infernos tinha que ser tão sensível?

– Weasley é um rebelde. Nós conseguimos todos os segredos que queríamos dele hoje. Uma hora ou outra ele terá que ser eliminado. As masmorras não é nenhum tipo de hotel e nem mesmo o Lorde permitiria que ele ficasse vivo à custa da catedral, sem justificativa. Ele é inútil agora, mas útil o suficiente para ser carregado para a cerimônia de inverno pelo nome que tem. Um rebelde do ciclo interno da Ordem daria uma morte com bastante entretenimento. Não há nenhum outro propósito para ele aqui, Hermione.

Ela soltou o ar e se viu à beira de um colapso novamente. Tentou limpar sua mente e manter a tensão em seus músculos. Não podia se colocar no estado do qual mal conseguira se recuperar novamente.

– A família dele nunca me perdoaria... – comentou mais para si mesma do que para Draco. Pensava em como a Sra. Weasley poderia estar reagindo agora, sabendo que um dos filhos dela havia sido capturado. Ela nunca nem mesmo havia se recuperado da traição de Percy em permanecer do lado do Ministério, mesmo depois que Voldemort dominou o poder.

– E por que você precisaria do perdão de uma família que está abaixo da cadeia alimentar? Uma família rebelde que não possui, nem nunca possuiu, o mínimo de influência no mundo bruxo?

Hermione sentiu uma fúria se misturar com sua angústia. Será que Draco não tinha o mínimo de percepção? Às vezes a convivência com ele dentro daquele mundo fazia com que ela esquecesse o caráter que o marido tinha.

– Porque eles abriram os braços para mim! – voltou-se para ele bem consciente de que havia subido o tom de sua voz. - Me receberam e me amaram quando pessoas como você me desprezaram e me menosprezaram por ter nascido com poderes que eu nunca pedi para ter! Eu nunca pedi para ser uma bruxa, Draco! Quando eu perdi minha família eles preencheram o espaço vazio que ficou em mim, sem que eu nem precisasse pedir! Eles sempre se preocuparam e cuidaram de mim, sem receber nada em troca além de amor! Você não entenderia isso! Nunca entenderia isso!

Enquanto Hermione o olhava com desgosto, Draco permanecia em silêncio a encarando. Não poderia ser possível que em um minuto ela pensasse que conseguiria nutrir afeto por ele e, num segundo apenas, tudo mudasse para rancor. Apenas porque ele havia demonstrado quem era. Não era possível que depois de tudo que eles haviam passado, da pouca história que haviam montado em um ano, as coisas entre eles ainda fossem tão frágeis. Que o passado que tinham ainda tivesse tanto peso. Mesmo depois de uma filha perdida.

– Você sabe o porquê eu nunca entenderia. – foi o que Draco pareceu resolver dizer depois de longos segundos de silêncio.

Hermione processou aquilo. Ele não parecia contente em ter que compartilhar aquilo. Ela sabia o motivo. Draco possuía a família mais infeliz que ela já havia conhecido. Ele nunca entenderia o que era fazer algo apenas por amor, sem esperar absolutamente nada em troca. Não havia sido criado dessa maneira. Hermione fechou os olhos e suspirou. Não era possível que o rancor que sentia agora, também mudasse tão rapidamente para um estado passível. Céus! O que ela sentia por ele, afinal? Hora achava que apenas o odiava, hora o considerava, hora queria fugir da presença dele, hora queria tocá-lo, hora o desprezava, hora sentia que apenas o calor do corpo dele bastava! Não era justo que não conseguisse se organizar, chegar a um acordo com ela mesma!

Quando abriu os olhos o viu se levantar, dar a volta na mesa e ficar bem a frente dela. Draco cruzou os braços a encarando profundamente. Os olhos dele já diziam o que ela sabia.

– Se lembra de ontem à noite? – ele começou sério e Hermione sabia que o marido não estava falando sobre a noite que haviam passado na cama. - Do acordo que fizemos em meu escritório? Dos planos que fizemos? – ela desviou o olhar. Lembrava-se muito bem. – Tudo aquilo é real. Existe sim, uma boa chance de conseguirmos o que nós dois queremos. Você certamente foi capaz de ver isso. – Draco falava baixo. – Mas eu acredito já ter me aberto com você sobre sacrifícios, Hermione.

– Draco, não é certo que eu tenha que...

– Sim. É certo, Hermione! – ele a cortou. – Nós já perdemos uma filha. Isso sim não é certo! E pense em nosso filho. Uma hora ou outra ele estará em jogo para nós. Você abriria mão dele por Fred Weasley? Acha que a Sra. Weasley iria abrir mão do dela por você? Esse é o mundo real. Você fugiu dele por muito tempo dentro da Ordem, vivendo em um mundo utópico, defendendo uma ideia utópica. – Draco tocou seu rosto. Havia hesitação no toque, mas ela apreciou e tornou a encará-lo. – Sei que é racional, Hermione. Sei que estava muito certa sobre suas decisões ontem. Encontre novamente os motivos que a fizeram aceitar a realidade.

Ela fechou os olhos, sentindo o calor da mão dele contra seu rosto. Mãos que há poucos minutos iam tão brutalmente contra Fred Weasley, mas mãos que haviam a tocado com tanto cuidado e desejo na noite anterior. Mãos que costumavam encontrar formas discretas de tocar sua barriga quando ainda gerava a filha dele. Mas mãos que já haviam torturado e matado homens. Mãos que também a tocavam agora, de um modo tão compreensivo quando ela sabia que ele poderia ser apenas rude. Mas mãos que, com certeza, já haviam ferido aqueles que ela amava. Segurou a mão dele e a tirou de seu rosto. Não porque era estranho que Draco a tocasse fora da cama, mas porque às vezes se lembrava muito do que ele sempre havia representado para ela.

– Posso pelo menos falar com ele? Deixá-lo ciente de que não estou do lado de Voldemort. Nem eu, nem você.

Draco pareceu tentar considerar aquilo de modo bastante relutante por alguns segundos. E Hermione até mesmo se surpreendeu por vê-lo se esforçar com aquilo. Ele estava diferente com ela e mesmo que soubesse que aquilo fosse temporário, porque assim que toda a dor da perda entre eles se acalmasse, as coisas voltariam a ser como antes, Hermione ainda apreciava o lado compreensivo dele.

– Seria loucura, Hermione. – Draco finalmente disse. Ela assentiu. Era racional o suficiente para saber que passar aquele tipo de informação a Fred era arriscado e ele poderia usá-la para se livrar da morte. – Deve aprender a não confiar nas pessoas tão facilmente e, embora o conheça, o caráter de qualquer ser humano se torna imprevisível quando ele encara a morte de tão perto. - Ele certamente parecia saber muito sobre aquilo. Draco deveria ter encarado mortes atrás de mortes sentado ao lado de Lord Voldemort e também como um bom Sonserino, conhecia bastante sobre o comportamento humano para usá-lo a seu favor. – Bem. – ele se manifestou dando as costas. – Acredito que se apenas nos concentrarmos no jantar que nos espera em casa e na noite que vamos ter para nos recuperar da passada, podemos ter a chance acreditar que tudo está bem. – ele forçou um sorriso e tornou a se sentar em sua cadeira. – Aliás, quero explicações sobre o poder que a Ordem detém. Acredito que não se importaria que eu deitasse no sofá com uma garrafa de vinho para escutá-la quando chegarmos em casa. Estou bem casado por não ter dormido ontem à noite.

Ela se viu rir suavemente, sem que pudesse conter. Não que Fred tivesse sido tirado de sua mente repentinamente, mas era a única reação que tinha para as palavras de Draco que a olhou confuso.

– É engraçado ver como o mundo bruxo parou no tempo. Sua família, com certeza, no final do século XIX. Às vezes você se comporta como um verdadeiro aristocrata. – Hermione soltou um riso fraco novamente maneando a cabeça. – Não acredito que você precise se preocupar com o que eu pensarei de suas maneiras se não se sentar propriamente em uma poltrona, vestido em seu terno fino, com uma boa taça de vinho para me escutar. É sua casa, Draco, e vamos ter que ficar debaixo do mesmo teto por tempo o suficiente para se ver preso a essas questões todas as vezes que estivermos compartilhando o mesmo cômodo.

Ele ergueu as sobrancelhas abrindo um sorriso divertido.

– Você deveria ter me dito isso faz um ano. – disse puxando um pergaminho. – Pelo menos esse favor o destino poderia ter me feito. Uma mulher que não me enche o saco quanto às boas maneiras como minha mãe costuma fazer, sempre que tem a chance.

Hermione sorriu, não esperando escutar aquilo de Draco Malfoy. O Draco que ela pensava conhecer estava sempre bem apresentado. Sabia se sentar perfeitamente e até mesmo o modo como segurava o jornal durante o café da manhã ou se curvava para responder algum correio era de uma postura impecável. Ela não esperava que ele fosse tão rebelde ao ponto de contrariar aquele modo de vida em que fora criado.

– Bem, talvez eu não o julgue sobre deitar no sofá, se não me julgar todas as vezes que desço em meu pijama para tomar o desjejum. – ela se aproveitou do momento.

Ele parou de arranhar a pena no pergaminho e a encarou.

– Nós estamos falando de uma das principais refeições do dia, Hermione. – Draco disse e ela sorriu. Claro, ele não poderia ser assim tão rebelde quanto ela estava imaginando.

Abriu a boca para retrucar, mas foi cortada pelos passos aditados que surgiram do outro lado da porta e, em menos de dois segundos, ela foi escancarada. Homens passaram para o lado de dentro com as respirações carregadas.

– Senhor! – um deles exclamou. – Estamos sob ataque!

Hermione sentiu seu coração querer sair pela boca no mesmo instante. Eles estavam se referindo a Brampton Fort? Encarou Draco e ele já estava perfeitamente intacto em sua postura de general enquanto se levantava. Não apresentava nenhum sinal de desespero, além da expressão neutra de sempre.

– Especifique. – foi o que ele disse. Calmo.

– Highshire, senhor! A província mais importante da Escócia! Estamos a perdendo!

Draco apertou os lábios, mas não disse nada por um momento. Todos pareciam ansiar por qualquer palavra sua, mas ninguém dizia uma palavra, nem mesmo Tina que aparecia silenciosamente por trás dos homens.

– É a Ordem? – ele perguntou.

– Sim! Eles parecem ter um grupo formado. Os mesmos que nos tiraram York, os mesmos que nos tiraram Godric’s Hollow.

Draco assentiu.

– Vamos ter que entrar em campo. – pronunciou ele. – Tina, prepare chaves de portal para toda a zona sete.

– Senhor, tem certeza de que irá mover a zona sete?

Draco ergueu as sobrancelhas, colocando seu olhar sobre o homem que dissera aquilo.

– Vai questionar minhas estratégias, Davies? – o homem se desculpou quase imediatamente. – Quero todos, absolutamente todos, em formação no pátio leste em cinco minutos. Tina! – exclamou e a mulher pisou novamente na sala no mesmo segundo, enquanto os homens corriam provavelmente para o pátio leste ou para passar a ordem dada. – Encontre uma forma de me colocar a parte do que aconteceu, dentro de um minuto! Prepare-se para montar um relatório para enviar aos homens do conselho e não se esqueça de abrir contato direto com o quartel. Talvez iremos precisar de mais reforço. – a mulher assentiu e saiu carregando consigo uma expressão intensa de preocupação e desespero.

Draco saiu de sua mesa, fechou a porta com vontade, soltou sua respiração e fechou os olhos. Hermione deu um passo em direção a ele.

– Draco...

– Me dê dez segundos, Hermione! – ele a cortou rispidamente, levantando uma das mãos em sinal de pare. Ela deu a ele os dez segundos em que ele parecia engolir alguma espécie de fúria que parecia querer tomar conta de si. O silêncio reinou pelos dez segundos, mas quando eles acabaram, Draco estava de volta em sua postura como se nada tivesse acontecido. – Eles estão se movendo rápido. Não faz nem vinte e quatro horas desde que tomaram Godric’s Hollow. – voltou-se para ela.

– Eles estão com um grupo fechado. – Hermione apressou-se a dizer. – O que quer dizer que apenas esse grupo é capaz de praticar as magias que tem...

– Superando meu exército. Sim. – Draco terminou para ela. – Entendi essa parte muito bem.

– O que é bom para você. – ela logo disse. – Esse grupo está ocupado com Highshire exatamente agora, o que deixa Godric’s Hollow ou York inteiramente livre.

Draco pareceu considerar aquilo. Um minuto e ele escancarava a porta de sua sala e pedia a Tina que exigisse a formação das zonas seis e cinco no pátio leste junto com a zona sete.

– Quando vai voltar para casa? – Hermione perguntou quando ele terminou de lançar todas as suas ordens.

– Não sei. – Draco respondeu, ocupado em guardar tudo que havia sobre sua mesa. – Você mesma sabe o quanto um campo de batalha é imprevisível. Nunca se sabe com que tipo de feitiço você vai cruzar no caminho e temo que regressamos para um estado de guerra onde as coisas não estão mais tão estáveis, assim. Se a Ordem continuar se movendo rápido dessa forma, acredito que não verei Brampton Fort tão cedo.

Hermione não gostou da ideia. Não gostou de saber que Draco estaria exposto a um campo de batalha. Não gostou de saber que ele não voltaria para casa tão cedo. Algo nela quis pedir para ir com ele, mesmo sabendo que era impossível que sua pobre alma tivesse mínimas chances de um dia pisar do lado de fora daquelas muralhas, enquanto Voldemort existisse. Algo dentro de si também queria pedir para que ele fosse cuidadoso. Mas ela se manteve calada.

Tina entrou às pressas, estendendo para Draco impressões de depoimentos feitos pelo que ela julgou ser algum contato direto que não tinha consciência que existia. Não seria possível que a secretária conseguisse aquelas informações tão rápido assim. Draco as colheu e levou consigo. Ele parou logo a porta. Hermione não esperava que o marido parasse. Draco certamente deveria seguir até o pátio leste porque os minutos estavam passando e seus homens já deviam estar a postos. Ele voltou seu olhar para ela fazendo-a afastar aqueles pensamentos para longe. Se aproximou.

– Lamento por não ter jantar, nem descanso para você essa noite. – Hermione disse. Baixo o suficiente para convidá-lo ao nível de intimidade.

Draco não pareceu estar muito interessado naquilo aquele momento. Aqueles olhos cinzas a encaravam como se tivesse algo a dizer, mas não sabia exatamente se deveria. A relutância era clara, mas não demorou muito para que ele vencesse mais a distância entre eles, tocasse sua cintura e aproximasse a boca de seu ouvido. Hermione sabia que ele fazia aquilo porque a porta estava aberta e Tina não estava muito distante o esperando.

– Encontre uma forma de ser meus olhos na Catedral, enquanto eu estiver ausente. – Draco sussurrou. A voz sempre grave e profunda o suficiente para fazer os pelos de sua nuca se mover. Hermione assentiu em resposta e ele afastou-se, mas não o suficiente. Seus olhos foram pegos pelos dele a uma proximidade muito íntima. Ela esperava que tudo desse certo. Por mais surpreendente que fosse, não queria que nada de ruim acontecesse com Draco. As palavras para que ele tomasse cuidado estavam presas em sua língua, prestes a serem cuspidas, mas ela hesitou. Hesitou e não as disse. Hesitou do mesmo modo como hesitou ao perceber que uma estranha vontade lhe crescia. Vontade que sua boca tocasse a dele. Os olhos dele desceram para sua boca, como se ele também estivesse com a mesma vontade, e ela fez o mesmo para a dele. A hesitação de ambos os prenderam num longo segundo, onde hora havia quase certeza que se beijariam, hora recuavam em relutância. Eles não iriam para cama. Não fariam sexo. Não poderiam se beijar. Não havia nenhum motivo para que fosse necessário. – Vá para casa. – ele soltou num sussurro quase inaudível. Subiu os olhos para os dela uma última vez, separou-se dela e sumiu com Tina.

Hermione puxou o ar que havia esquecido-se de inalar e o soltou com calma. Notou a frustração em si e lamentou que Draco tivesse ido embora. Que idiota pensar que iriam se despedir com um beijo como se eles fossem um casal. Balançou sua cabeça, apertando os lábios e se repreendendo por seu estúpido pensamento, voltando-se para o escritório a sua volta.

O clássico estilo vitoriano era típico inglês, mas chegava a ser um tanto obscuro. Ela já havia se acostumado com aquele estilo. Deu uma volta curiosa, tocando decorações, mexendo em pedaços de pergaminhos empilhados, lendo títulos de livros na estante. Suspirou. Não era tão diferente de como era na Ordem. A guerra era imprevisível. Não se podiam fazer planos para o jantar ou para a manhã do dia seguinte sem ter consciência de que a qualquer momento seria necessário sair correndo com a varinha em punho. A diferença agora era que se sentia uma mulher presa em seu castelo durante a Primeira Guerra Mundial. Teria que encontrar uma forma de ser mais útil do que aquilo.

E foi com esse pensamento que deixou a torre de Draco. Aproveitou que o quartel inteiro deveria estar sob aviso e que o tumulto estava bem longe das masmorras para descobrir a cela onde Fred havia sido colocado. Fez a ele uma visita, tomando cuidado extra para que ninguém a visse.

Ele estava acorrentado pelos braços, pendurado acima do chão, em um estado quase inconsciente. Depois do que havia passado, Hermione estava até surpresa por vê-lo ainda lutar. Ela se aproximou dele. Havia sangue e suor no homem. Várias partes de seu rosto estavam inchadas.

– Amigável de sua parte me fazer uma visita particular. – Fred se manifestou com desgosto, mas fraco o suficiente para quase não conseguir administrar a ordem das palavras. – Espero que tenha trazido chá.

– Não sou exatamente uma traidora, Fred. – Hermione respondeu, mas tomou cuidado para não desfazer sua postura.

Ele forçou um riso fraco que pareceu uma tosse, onde logo em seguida, veio acompanhada de um gemido de dor.

– Eu entendo perfeitamente. – ele disse, quase não dando conta de suas palavras. – Roupas caras, jóias, e não pense que não reparei que a aliança em seu dedo é a mesma que a de Draco Malfoy.

Ela não discutiria aquilo. Não com ele. Não no estado em que Fred se encontrava, nem porque não poderia. Qualquer palavra ali poderia ser arriscado demais. Mas se aproximou. Aproximou mais do que deveria, mas não se importou.

– Fred. – pediu ela com cuidado. – Olhe para mim. Olhe nos meus olhos. – Hermione não precisou pedir duas vezes. O silêncio os envolveu. Se ela pudesse contar tudo por um olhar... gostaria muito conseguisse. – Você não entenderia. – sussurrou.

Ele respondeu com o silêncio, mas não desviou o olhar do dela. Hermione queria muito poder estar sendo honesta com Fred por aquela simples troca de olhar e, talvez estivesse mesmo conseguindo, porque demorou, mas finalmente ela se viu observando um Fred frágil, com medo, e longe do olhar de desgosto que lançava a ela. Talvez ele estivesse a vendo como a Hermione que revirava os olhos com um sorriso no rosto quando ele fazia suas brincadeiras, agora.

– Herms... – ele sussurrou de volta cheio de dor e medo. – Eu vou morrer?

Ela sentiu seus olhos quererem embaçar. Não. Não era essa a Hermione que era agora. Recuou. Era uma Malfoy. Tinha a Marca Negra em seu braço e era bastante consciente da realidade cruel do mundo que os cercava agora.

Lembrou-se de sua filha, a filha que fora tirada dela com tanta brutalidade. Os motivos claramente iam além de pagar sua dívida pela fuga de Luna, mas o aviso era claro o suficiente e Hermione jogava um jogo diferente agora, tinha que jogar um jogo diferente, e por mais sujo que fosse, nele pelo menos havia esperança. Respirou fundo vestindo sua capa protetora, sua masca neutra, seu olhar frio e imparcial.

– Sim, você vai. – disse com calma, deu as costas e seguiu fazendo o som de seu salto ecoar até sair.


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Notas finais do capítulo

Tadinha da Hermione. Ser o que ela precisa ser agora não vai ser nada fácil. Ela finalmente está entendendo o mundo de sacrifícios do Draco, os sacrifícios que ele com tanta resistência teve que abrir mão para conseguir a confiança do Lorde. Ela está tendo que colocar a máscara dos Malfoy agora.
Espero que tenham gostado do capítulo! Até domingo!
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