CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Apertem o cintos e desfrutem da leitura! Não deixe de ler as notas finais do capítulo também! Capítulos novos todas as QUARTAS e DOMINGOS!



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1. Capítulo 1

Hermione Granger



Hermione foi arrastada por comensais para dentro de um cômodo qualquer e deixada lá. A porta foi fechada com força assustando-a pelo ato desnecessário e avisando-a de que estava só. Ou pelo menos parecia que estava só.

Com a mão segurando o pulso que ainda ardia ela analisou o lugar que estava. Era grande e muito bem iluminado. Tinha uma cama perfeitamente arrumada com dosséis e cortinas, uma estante de livros que cobria toda a extensão da parede da porta até onde o pé direito alcançava, um escrivaninha de mogno com tinteiros, pergaminhos e todos os tipos de penas imagináveis. Uma penseira jazia quieta mais para além da escrivaninha sobre um pórtico de granito barrocamente decorado e uma sequencia de caldeirões vazios pendurados em araras que desciam do teto em tirantes de aço logo próximo a lareira que estava cercada por poltronas neoclássicas forradas de estampas tipicamente inglesas. Tudo sobre um piso de mármore claro extremamente polido e uniforme.

As suas costas ela encontrou uma gloriosa fachada de janelas enormes cobertas por cortinas de pano claro e fino que anunciavam o dia do lado de fora cercando toda extensão e até além da maravilhosa e convidativa cama. Girando ainda extasiada com a maravilha decorativa que estava diante de seus olhos ela avistou um pouco para longe do fim da estante de livros um arco que abria para o próximo cômodo sugerindo a área de lavatórios. Ela teve curiosidade de ir até lá, mas permaneceu estática em seu lugar. Encarou a porta entre os milhares de livros ao redor e logo depois desceu para as correntes que ainda a prendiam.

Tornou a encarar a porta.

Movida por uma curiosidade muito maior ela avançou receosa até a porta. Segurou a maçaneta, a girou e puxou. A porta se abriu fazendo passar pela fresta a brisa gelada do corredor do outro lado. Ela havia decorado o caminho que havia percorrido até ali, mas dar novamente no salão não parecia uma ideia muito boa.

Fechou a porta quando o receio a dominou.

Estava errado. Estava tudo errado. Não era aquilo que deveria estar acontecendo! Onde estava todos os crucios que ela deveria suportar? Onde estava o interrogatório? Onde estava sua cela escura, sua fome, seu frio, seu choro? Onde estava seu sofrimento? Onde?

Hermione se afastou arrastando seus pés pelo piso polido e lustroso. Caminhou até a escrivaninha, mas parou a meio caminho dela. Olhou para as imensas cortinas que tampavam a extensão de janelas e questionou o que poderia ver através delas. Tomou um novo rumo mas teve que parar abruptamente e se virar num pulo de susto quando a porta foi escancarada.

Draco Malfoy surgiu em toda sua poderosa glória sendo seguido por um elfo de orelhas altas e pontas caídas com grandes olhos escuros sofredores. Vestia uma velha camisa escura surrada e rasgada que parecia ter três vezes o seu tamanho.

— Gostou do seu quarto, Granger? – Draco fez soar sua voz claramente masculina por todo o cômodo. Havia nela um tom de deboche. – Este é o whitehall, um dos quartos da ala leste da catedral. Pega o sol da manhã e tem vista para um dos maiores pátios. Pode trocar se preferir. Ninguém gosta do sol da manhã por aqui. – ele dizia como se tivesse decorado uma fala. – Essa é Tryn, a elfa que irá te atender. O jantar será servido dentro de uma hora, portanto esteja arrumada e de modo apresentável. Se sentará na primeira cadeira a direita ao lado da cabeceira e não fará soar sua voz por um segundo sequer ou pagará por isso. – ele estendeu a varinha para ela e Hermione sentiu as corrente a abandonares e voarem para a mão de Malfoy. Ele deu as costas e seguiu de volta para a porta. – Para que aprenda a se comportar como o mestre bem entender, seus ataques de rebeldia servirão de punição para sua amiga Lovegood, que depois da sessão de crucio no salão principal agora pouco não aguentará mais nada, por tanto, seja uma boa menina, para que sua amiga consiga se recuperar. – ele disse antes de sair.

— Malfoy! – exclamou Hermione surpreendendo-se com o som de sua própria voz que ela já não escutava fazia um tempo considerável. A porta bateu avisando que ele havia deixado o quarto. Ela prendeu o ar e correu para escancarar a porta e encontrá-lo no meio do corredor – Malfoy! – ela tornou a exclamar quando ele a ignorou. – MALFOY! – ela berrou dessa vez e seu tom continha uma raiva explícita pelo modo como ele a ignorava. Ele parou e se virou para ela. – Por que? Por que tudo isso? É errado! – era tudo que gritava em sua cabeça naquele momento e foi tudo que ela conseguiu perguntar.

— Não deve fazer essas pergunta para mim, Granger. Eu não sou seu mestre, você é apenas minha responsabilidade. Pertence a ele, não a mim. – ele mostrou as mãos como se tentasse convencê-la disso. – Não dou a mínima para o que farão ou deixarão de fazer com você, por mim poderiam tê-la matado hoje no salão principal. Foi para isso que eu a trouxe até aqui afinal, mas como não sou eu quem dito as ordens finais, cabe a todos apenas obedecer. Inclusive você, sangue-ruim. - e assim ele deu as costas e sumiu na primeira esquina que surgiu.

Hermione permaneceu estática no corredor ainda com a voz de Malfoy ecoando por todos os cantos de sua cabeça. Ela ainda se sentia atordoada o suficiente para que qualquer frase clara e objetiva lhe parecesse um anagrama. Seu olhar passou pelo corredor que se estendia a sua frente e as suas costas. Seu coração pulou quando sentiu estar livre para poder correr e encontrar uma saída mas o lugar lhe parecia tão extremamente enorme que ela sequer sabia que nível de labirinto aquilo podia ser. Ainda pensou em Luna. Não poderia fugir sem ela. Ela tinha que ser bem mais estratégica. Não era hora para que fosse impulsiva e estúpida. Respirou fundo com medo do que quer que estivessem planejando para ela ali dentro. Tinha que ser forte para aguentar o tempo que fosse até conseguir se libertar

Voltou para seu quarto encontrou Tryn a olhando receosamente. Hermione devolveu um olhar curioso. Sempre tivera muito apreço por elfos domésticos e por um motivo ela imaginava o quanto aquela deveria sofrer na mão de patrões comensais.

— Seu banho está pronto, Srta. sangue-ruim. – a elfa disse.

— Meu nome é Hermione Granger. – Hermione tentou ser gentil embora não tivesse gostado que a elfa houvesse se referido a ela como sangue-ruim.

— Tryn sabe sobre o nome da Srta. Sangue-ruim. – a elfa respondeu muito claramente – É melhor que tome logo seu banho porque Tryn precisa deixar a Srta. Sangue-ruim impecável para o jantar.

— Eu não estou indo a lugar nenhum. – Hermione disse antes que pudesse refletir sobre suas palavras.

— Se Tryn não obedecer as ordens do meu senhor, Tryn será castigada, e se a Srta. Sangue-ruim não obedecer as ordens do seu mestre, seu mestre castigará Luna Lovegood. – a elfa disse e Hermione se lembrou das palavras decoradas de Draco Malfoy. Ela ainda queria entender que jogo Voldemort estava forçando-a a jogar. – Tryn viu Luna Lovegood e Tryn afirma com toda certeza que Luna Lovegood não aguentaria ser castigada novamente.

Hermione engoliu em seco.

— Onde ela está? – sua voz saiu rouca.

— Junto com os outros prisioneiros. – respondeu a elfa. – Mas tem uma cela própria.

Hermione precisou fechar os olhos quando sentiu que sua garganta ardeu e sua visão embaçou. Havia tentado salvar a amiga assim que a viu ser capturada, mas a verdade é que não foi capaz de salvar nem mesmo a própria pele quando impulsivamente ela havia corrido atrás da amiga. A verdade, era que tudo ainda era muito mais complexo do que a desculpa de tentar salvar sua amiga quando se viu obrigada a se entregar. Talvez ninguém da Ordem fosse entender. Ou pelo menos Harry pudesse. Mas agora ela precisava ser inteligente. Ser estratégica para conseguir livrar as duas. Ela tinha que entrar no jogo de Voldemort. Tinha que conhecer onde estava pisando. Tornou a encarar a elfa que a olhava com os enormes olhos amendoados e então encarou o arco que separava seu quarto do lavatório. Soltou o ar frustrada e passou a se mover até ele.

Não se surpreendeu quando encontrou um ambiente surpreendentemente tão lindo que chegava até a ser assustador. Tudo era muito bem decorado com pedras, mármore polido e escuro, vasos de herbáceas em lugares estratégicos, luzes bem direcionadas e vitrais coloridos. O pé direito sempre exagerado dava o ar assustador. Estava úmido e ela logo notou o porque. Perto dos vitrais havia uma enorme banheira de pedra com água bem aquecida.

Hermione tirou o suéter que usava e passou a desabotoar sua camisa. Quando se livrou de toda a parte de cima e passou abrir os botões de sua calça, se virou e no mesmo segundo deu um pulo de susto passando a cobrir os seios com agilidade.

— Hei! – ela protestou alto ao encontrar a elfa de pé a observando com bastante atenção. – Esse é um momento particular, você pode esperar do lado de fora! – sequer media o tom que usava por estar realmente aborrecida.

— Tryn não tem ordens para acatar os pedidos da Srta. Sangue-ruim.

Hermione riu forçadamente de modo sarcástico recuando um passo.

— Vai me assistir tomar banho? – usou uma voz esganiçada como se tentasse mostrar a elfa o quanto aquilo soava insano.

— Tryn só precisa estudar o corpo da Srta. Sangue-ruim para encontrar a roupa perfeita para o jantar mais tarde. Tryn não pode decepcionar seu senhor. Deve se acostumar a ficar exposta. – Hermione precisou fazer uma careta ao ouvir as palavras da elfa. – Livre-se do restante de roupa que a Srta. Sangue-ruim ainda veste.

O pedido da elfa havia sido firme porém havia soado melodioso naquela vozinha arranhada e Hermione sabia que tudo que ela estava fazendo era apenas seguir ordens. Parecia que não era a primeira vez da elfa naquele serviço portanto, ainda relutando e sentido todo o seu rosto corar, ela começou a se livrar do restante de roupa. Precisou respirar fundo muitas vezes até conseguir endireitar-se sem tentar cobrir seu corpo. O olhar da elfa parecia muito curioso e Hermione precisou desviar o seu para bem longe do dela. Virou-se quando foi pedido e depois deu mais uma volta. Sem tornar a olhar a elfa.

— A Srta. Sangue-ruim deve subir ao closet quando terminar o banho. – a vozinha da elfa soou satisfeita.

Hermione finalmente teve coragem de descer o olhar para ela novamente, mas não a encontrou no lugar que ela deveria estar. Escutava os passinhos dela contra a pedra e a procurou pelo lavatório. Encontrou-a quando ela sumiu pela entrada de uma pequena câmara atrás dos nichos de pias. Suspirou interrogativa e presumiu que por ali deveria ser o closet enquanto ainda escutava os passinhos dela sumirem aos poucos como se estivesse subindo uma escada.

Voltou-se para água quente, subiu os degraus do mármore frio e se enfiou na água convidativa, quente e acolhedora. Fechou os olhos mas não conseguiu mantê-los fechados por muito tempo porque o medo a dominava. Medo daquele lugar, do que enfrentaria, das pessoas. Ela tinha medo do castigo. Medo de que Luna fosse morta. Medo de Malfoy. Voldemort. Medo de não conseguir escapar.

Escapar.

A palavra ecoou em sua cabeça.

Por um segundo ela perdeu a respiração e no outro ela emergiu seu braço para fora da água encarando a clara marca-negra agora em seu pulso. Ela apertou com força seu braço quando sentiu que a ficha caia rápido demais. Seu cérebro jogou milhões de informações simultâneas e então ela soube que o desespero tomou conta de si quando soluçou e ficou sem respirar.

Ela era dele. Enquanto ele vivesse ela seria de Lorde Voldemort. Ela sabia o que acontecia com comensais capturados. A própria marca estampada no braço deles os matava. Comensais fugidos eram mortos pela marca. Comensais arrependidos eram mortos pela marca. Comensais que trocavam de lado eram mortos pela marca. Todos eles eram produtos exclusivos de Voldemort e todos eram irrevogavelmente dele. Trabalhavam para ele ou estavam mortos. Mortos pelo sinal que os marcava. O símbolo que os tornava comensais. Agora ela era um deles. Agora ela não tinha escolha. Ela não tinha saída.

Hermione sentia seu coração bater contra suas costelas tão forte que pensou que uma delas fosse se quebrar. Puxou o ar com vontade e soltou o braço. Sua garganta queimou. Sua visão embaçou. Mas o medo não a deixou fechar os olhos. O medo a dominou por completo e as lágrimas rolaram por sua face. Ela soluçou vezes seguidas e seus soluços ecoaram junto o barulho do movimento da água contra todas as pedras daquele lugar lindo e ao mesmo tempo assustador.

— TRYN! – escutou sua voz berrar pela elfa num tom de desespero. – TRYN! – sua voz cortou novamente o eco e então um estalo ao seu lado a assustou e ela se afastou do barulho cortando a água da enorme banheira que estava. Encontrou a elfa de pé sobre o beiral de pedra.

— Tryn não é surda. – a elfa disse um tanto aborrecida.

— Tryn! Que lugar é esse? Onde eu estou? – Hermione podia escutar sua voz tremida perguntar gaguejante.

— Essa é a catedral do mestre Lorde Voldemort que o transformou em seu quartel...

— Onde fica? – Hermione cortou a elfa.

— Brampton Fort, Srta. Sangue-ruim. A cidade dos comensais. – concluiu a elfa.

Hermione se calou fazendo ecoar sua respiração ofegante. Não conseguia entender a dimensão das respostas que a elfa estava lhe dando mas a assustava ainda mais.

— Algum comensal já conseguiu fugir daqui? – perguntou deixando que o desespero a impedisse de ser discreta.

— Comensais entram e saem todos os dias de Brampton Fort, Srta. Sangue...

— Estou falando sobre fugir, Tryn! – Hermione a cortou novamente.

— A única informação que Tryn tem sobre isso é que muito possivelmente um comensal que foge do mestre não vive para contar história. – respondeu a elfa e então o silêncio dominou o lugar. – A marca o mataria. – concluiu.

Hermione afastou seus olhos do da elfa sentindo-se em choque. Ela já sabia sobre a marca antes mesmo da elfa fazer sua conclusão, mas escutar dela pareceu lhe atingir ainda mais grosseiramente. Seu coração doeu como se estivesse sendo esmagado. Pensou em Harry, Rony, Gina, todos os Weasley, sua mãe, seu pai, os membros da Ordem, sua vida fora daquele lugar. Ela nunca mais voltaria para eles. Não enquanto Voldemort vivesse. Se era esse o sofrimento que Voldemort estivesse esperando que ela vivesse então ali ela seria capaz de trocá-lo por uma vida inteira de maldições imperdoáveis que fizessem ela gritar e se contorcer contra o chão. Seria melhor do que conviver com a escravidão e o aprisionamento eterno. A sensação de pertencer a ele. A Voldemort. Era nojento. Era repugnante. Era assustador.

— A Srta. Sangue-ruim deve se apressar. – a voz da elfa soou e então num estalo ela sumiu novamente.

Hermione se encolheu em um canto da banheira. As lágrimas agora escorriam silenciosas. Ela ficou quieta encarando a marca cravada agora em seu braço. Se antes ela tinha a ilusória esperança de que pudesse ser inteligente e estratégica para conseguir escapar, agora ela se sentia condenada. Completamente condenada. A uma vida da qual ela não tinha escolhas. A uma vida da qual ela não poderia sair. Não, até que Harry matasse Voldemort.

**

A elfa precisou forçá-la a deixar seu banho. Precisou quase carregá-la até o closet e precisou ordenar vezes seguidas para que ela endireitasse a postura. Hermione fazia tudo como se algum programa em seu cérebro, bem longe do consciente, estivesse a guiando.

A sua frente no closet cercado por araras e espelhos ela viu três exagerados vestidos que a elfa havia separado.

— A Srta. Sangue-ruim pode escolher um deles. – fez soar Tryn.

Hermione os analisou sem interesse. Não se via vestida em nenhum deles apenas porque a deixariam quase desnuda e eram exagerados em linhas decorativas.

— Não usarei isso. – Embora Hermione não estivesse medindo qualquer palavra sua, dessa vez ela precisou se esforçar para fazer sair seu tom de repugnância.

— A Srta. Sangue-ruim tem o corpo que Tryn nunca viu em mulher alguma e precisa saber usá-lo para agradar meu senhor. Tryn sabe que seu senhor gosta de mulheres vulgares.

— Eu não vou me tornar alguém vulgar apenas para agradar seu senhor. Nada em que eu me transforme pode agradar o seu senhor. Ele me odeia. Sou nascida trouxa. – Hermione pegou um dos vestidos. O que mais aparentava ter pano. Estendeu-o a elfa. – Mude o corte!

— Tryn não tem ordens para acatar os pedidos da Srta. Sangue-ruim. – a elfa disse calmamente.

— É um elfo doméstico e eu estou pedindo para que mude o corte do vestido. – Hermione soltou o ar – Por favor.

— Tryn seria castigada...

— Eu também seria! – Hermione a cortou. – Ele lhe deu ordens para que eu estivesse apresentável, não desnuda...

— Mas Tryn sabe como o meu senhor gosta de ver uma mulher vestida!

— Eu não me importo com o que ele gosta ou deixa de gostar! – Hermione notou que havia elevado o tom de sua voz. – Mude o corte do vestido, Tryn! Mude! Por favor! Eu estarei apresentável. Assim como foi ordenado a mim estar, e a você me deixar! Por favor.

Tryn a olhou com receio. Sabia que não deveria acatar ordens da mulher, mas não eram ordens, eram pedidos quase suplicantes. Sabia das mulheres que ela mesma vestia como prostitutas para o seu senhor, sabia do que o agradava, sabia que quando seu senhor a ordenara que aprontasse Hermione Granger para o jantar ele estava se referindo a deixá-la como todas as mulheres que ela arrumava para ele. Mas as ordens não haviam sido claras e o pedido da mulher a sua frente agora encontrava todas as brechas necessárias para que Tryn pudesse escolher entre ajudá-la ou não.

Tryn estralou os dedos e Hermione percebeu que o vestido em suas mãos sofrera modificações. Ela o abriu frente ao seus olhos e o viu num tom azul camurça que enganava atingir o tom preto em suas curvas. O decote havia sido fechado para um quadrado e embora ainda lhe parecesse mostrar mais do que o devido com as mangas lhe caindo pelo braço o corte despojava de um elegante, vulgar e comportado ao mesmo tempo.

Hermione o vestiu. Apertou o cinto em sua cintura como o modelo sugeria e se sentiu confortável embora sentisse que seus seios haviam ganho um volume amais com o decote quadrado revelando partes dela que poucas vezes estiveram expostas ao sol. Olhou-se no espelho e embora seus cabelos estivessem molhados e embaraçados ela se sentia diferente com aquele vestido caro. Sentia-se bonita. Bem longe da mulher de jeans e camiseta que era. Ela se sentia como na realeza britânica, mas ainda se sentia ela mesma. Sorriu, mas ele logo morreu. Não conseguia sorrir.

— Obrigada, Tryn. – disse a elfa com a maior sinceridade que conseguiu tirar de dentro de seu coração.

Os olhos da elfa brilharam, mas ao invés de responder a mulher, apenas arrastou para ela um par de sapatos alto num tom marrom muito desbotado. Hermione os calçou. Admirou-se novamente no espelho e parabenizou mentalmente Tryn pelo excelente gosto.

A elfa ordenou que ela se sentasse em uma cadeira próximo a uma das araras que circulava um espelho mais reservado. Hermione se sentou e Tryn passou a trabalhar em seu cabelos. Segurava-o e soltava estalos com os dedos e aos poucos Hermione via a agilidade da pequena criatura em dominar com destreza suas madeixas.

Em poucos minutos a elfa deixou seus cachos com uma perfeição que Hermione nunca os viu antes ter. Nos que se seguiram ela conseguiu prender as mechas da frente em um lindo penteado no topo de sua cabeça. A pequena criatura girou sua cabeça e começou a trabalhar em seu rosto dessa vez. Foi um trabalho rápido e quando a elfa tornou a virá-la para o espelho Hermione pode ver que não houve muita modificação além de ter sido corada nas bochechas e delineada nos olhos muito discretamente. Ela se sentiu a mulher mais linda do mundo, mas isso não melhorava seu ânimo nem um pouco.

Acompanhou Tryn quando ela a carregou para fora do quarto. Hermione se sentiu grata por ter uma guia. Tentou decorar as esquinas que virava, mas eram muitas. Desceu uma colossal escada que antes ela havia subido para chegar ao seu quarto, deparou-se no saguão de entrada, viu a porta dupla pesada e gigantesca tipicamente gótica em seu topo e entendeu porque se referiam ao lugar como catedral. Avançou sem perder os passinhos rápidos da elfa e notou que por onde passava e cruzava com humanos, eles lhe lançavam olhares estranhos que variavam do desprezo para a admiração.

Passou por várias portas até chegar a um salão extenso e retangular que dispunha de uma mesa com cadeiras de encosto exageradamente altos feitas de uma madeira escura e envolta de estofados vinhos muito pouco chamativos.

Quase todas as cadeiras estavam ocupadas e todos os olhares se voltaram para ela assim que entrou. Hermione reconheceu os rostos dos comensais mais famosos do ciclo interno de Voldemort. Comensais da linha de frente de missões. Comensais que partilhavam dos segredos de seu metre. Comensais que sentavam a mesa de seu mestre.

Hermione se lembrou das palavras de Draco Malfoy que indicavam a cadeira que deveria se sentar, mas mesmo de longe ela viu seu lugar ocupado por ninguém menos que Bellatrix Lestrange. Procurou por Malfoy e não o encontrou. Respirou fundo e tentou não murchar a postura nem se deixar mostrar abalada. Parou de acompanhar a elfa porque ela havia parado. Todos os olhos estavam sobre Hermione e o silêncio era completamente desconfortável.

Deu um passo fazendo ecoar seu salto contra o piso de mármore pavão. Deu outro e mais outro e passou pela elfa parada. Os olhares continuavam fixos sobre ela enquanto avançava para a cadeira que se sentava a mais famosa das comensais. Parou quando chegou perto suficiente. Seus olhos âmbar estavam fixou nos negros de Bellatrix que a olhava com um desgosto incontido. Sentia todos os olhares sobre ela. Sentia que a qualquer momento ela cairia no chão sem vida por uma maldição jogada por algum deles.

Puxou o ar e abriu a boca para avisar que a outra estava ocupando seu lugar, mas precisou parar assim que uma porta a suas costas foi escancarada e por ela entrou Draco Malfoy.

— Está sentada no lugar da sangue-ruim, tia Bella. – a voz dele soou fazendo vibrar as taças de cristal da mesa posta.

Bellatrix fez uma cara engraçada e fuzilou Hermione com seus olhos medonhos.

— Esse é meu lugar! – ela disse pausadamente sem esconder o ar raivoso de sua voz.

— Não mais, Bella. – Voldemort escancarou outra porta ao fim do salão e entrou junto com Lúcio Malfoy.

— O que! – Bellatrix disse numa oitava acima do tom normal. – Esse sempre foi o meu lugar, mestre! A sua direita! Sentado ao seu lado! Está dando-o a sangue-imundo? – ela dizendo parecia um tremendo de um abuso.

— Sim. – Voldemort disse calmamente. – E por favor, Bella, sem escândalos.

Um murmúrio baixo e rápido percorreu por todos da mesa. Bellatrix se levantou quando seu mestre se aproximou e tocou o rosto da comensal. Hermione se afastou tanto quanto pode.

— Sinto-me ofendida depois de todos esses anos de completa devoção... – Bellatrix começou, mas seu mestre a cortou.

— Entenderá o porque das minhas decisões quando o tempo bem convir, minha querida Bella.

Bellatrix rosnou mas pareceu tão verdadeiramente fascinada pelas palavras de seu mestre que simplesmente cedeu dando a volta na cadeira e sentando-se na próxima encarando mortalmente Hermione quando o caminho que fez lhe permitiu.

Todos haviam tomado seus lugares. Inclusive Voldemort. Mas Hermione permanecia de pé. A presença daquele rosto ofídico enfraquecia qualquer membro seu.

— Sente-se, Granger. – a voz profunda de Malfoy a despertou.

Ela o encontrou sentado bem de frente a cadeira que Bellatrix havia abandonado, bem ao lado oposto da cabeceira onde Voldemort ocupava.

Hermione se sentou.

O silêncio.

Cada músculo dela estava tencionado por estar ao lado da figura mais temível do mundo naquele momento. Notou que o olhar de Malfoy nunca se encontrava com o dela e de certa forma ela agradeceu o modo com que estava sendo ignorada, mas sentada ali ela se sentia como parte deles e isso a incomodava ainda mais.

— Convoquei a todos para um anúncio muito importante, mas primeiramente gostaria que todos se servissem e aproveitassem o jantar. – Voldemort disse e embora parecessem palavras muito convidativas, a entonação que havia usado apresentava todo um ar entediado.

Assim surgiu o banquete e muito educadamente todos se serviram exceto Hermione que permaneceu sem mover um músculo sequer. Sentiu-se como um fantasma por ninguém estar realmente lhe dando atenção alguma.

— Mestre. – a voz de Walden Mcnair soou por toda a mesa chamando a atenção de Voldemort após ele ter limpado a garganta. Hermione reconheceu o comensal. – Todos nós temos nos questionados sobre algumas dúvidas que não nos puderam ser bem esclarecidas quanto a sangue-ruim. – começou ele muito cuidadosamente nas palavras. – Gostaríamos de saber se essas perguntas poderão ser feitas e respondidas ou devemos nos permanecer calados.

O silêncio e Hermione sentiu o olhar de Voldemort pular dela para seus comensais. Ela não ousaria olhar para ele. Apenas fixou seus olhos nos cinzas de Draco Malfoy que se ergueram para ela certificando-se de que ela não faria soar sua voz.

— Acredito que fui claro e transparente quando disse que agora ela é uma de nós...

— Mestre, ela é uma sangue-ruim! – interrompeu Selwyn.

— Vai questionar minhas decisões, Selwyn? – seu tom soara ameaçador. Selwyn engoliu suas palavras. – Sim, ela é uma sangue-ruim. – Voldemort direcionou-se agora para toda mesa. – Mas como comensais de confiança. Comensais do meu ciclo privado. Comensais que estão comigo desde o início. Todos sabem que ela não é apenas uma sangue-ruim! Todos sabem que ela não é apenas mais uma sangue-ruim nessa guerra! Todos sabemos o que ela significou e agora ela está conosco e todos sabem o que isso significa para guerra portanto sem comentários, sem perguntas, sem reclamações. Todos seguirão minhas ordens.

Voldemort concluiu e agora finalmente reinava o silêncio. Hermione permanecia com seu olhar colado no de Draco Malfoy que ainda se certificava de que ela estava bem calada. Segundos depois ele desviou para sua comida novamente passando a ignorar a presença dela. Hermione se sentiu desafiada com aquele olhar ameaçador dele. Foi como vê-lo ter novamente seus dezesseis anos lançando olhares para ela e seus amigos em Hogwarts. Foi como voltar aquela guerra infantil de gato e rato. Ela abriu a boca para revidar qualquer coisa irônica as palavras de Voldemort numa impulsiva loucura insana, mas em um segundo ela se lembrou de Luna e então a guerra infantil que eles tinham naquela época sumiu para um canto distante de suas lembranças dando lugar a seriedade do que eles viviam agora. O ápice da guerra. Tudo era tão intenso, tão assustador e tão minimamente sério que a fez recuar no seu espírito aventureiro.

Para Hermione, aquilo se estendeu por horas. O silêncio. O barulho dos garfos raspando no fundo do prato, os olhares desgostosos que recebia com frequência. Ela apenas permanecia calada e sem mover um músculo sequer. O cheiro da boa e cara comida inundava sua alma e a transportava para uma dimensão que fazia sua boca salivar mais do que o normal de qualquer ser humano. Ela tinha fome. Mas não ousava comer. Não junto com eles. Não podia se sentir mais parte de tudo aquilo do que já se sentia.

Num momento em que ela se questionava há quantos meses estavam presos ali a jantar, Voldemort fez soar um pigarreio e então ele se levantou com uma taça de prata nas mãos.

— Quero propor um brinde. – ele começou e Hermione viu Draco a sua frente soltar seus talheres e pegar sua taça num tédio explícito. Todos os outros comensais fizeram o mesmo. Hermione não ousava olhar para Voldemort, mas sabia que ele se demorava em continuar porque aquele olhar ofídico estava sobre ela. – Você também sangue-ruim. – Hermione precisou se focar em Luna para não ser agressiva, soltar qualquer palavra de rebeldia ou agir de modo descontrolado. Apenas estendeu sua mão e segurou a taça cheia e intocada a frente de seu prato. – Um brinde ao noivado de Draco Malfoy e Hermione Granger.

Silêncio.

Ninguém brindou.

Hermione sentiu todo o seu corpo queimar pelas palavras de Voldemort e quase derrubou a taça que havia acabado de pegar. Olhou para Draco e o viu com a mão em sua taça olhando para seu mestre como se ainda tentasse processar a moral da frase. Num segundo ele abriu um sorriso forçado e riu fracamente.

— É uma piada, não é? – a voz do loiro soou indecisa.

Voldemort puxou o ar tediosamente e abaixou sua taça quando ninguém o acompanhou em seu brinde. Foi a vez de Lúcio Malfoy intervir.

— Concordei com o mestre sabendo que essa decisão o faria compreender um pouco mais sobre eu e sua mãe...

— MAS QUE PORRA ESTÁ TENTANDO FAZER COM A MINHA VIDA? – berrou Draco se levantando dessa vez. Todos se assustaram com a voz poderosa que ele tinha. – MINHA VIDA! – frisou ele e Hermione precisou fechar os olhos puxando o ar e o prendendo ao sentir que a onda furiosa que o homem a sua frente emanava a atingia assustando-a. – ACHA QUE AINDA SOU UMA CRIANÇA? QUE PODE FAZER ESCOLHAS POR MIM? – ele ofegava furioso quando Hermione tornou a abrir os olhos desejando estar bem longe dali.

— Draco, - Lúcio continuou ainda numa voz calma. – o fará entender muitas coisas sobre nossa família...

— NÃO COLOQUE A DESGRAÇA DA NOSSA MALDITA FAMÍLIA NO MEIO DISSO! – Draco o cortou novamente. – VOCÊ ESTÁ SEMPRE QUERENDO ARRUMAR DESCULPAS! – voltou-se para Voldemort. – EU VENCI BATALHAS EM SEU NOME! TE ENTREGUEI PAÍSES INTEIROS E VOCÊ ME DÁ UMA SANGUE-RUIM? – ele jogou a taça de cristal contra a parede. – UMA MALDITA SANGUE-RUIM! – empurrou sua cadeira quase a levando ao chão e começou a pisar forte para a saída. – EU A TROUXE PARA QUE A MATASSE! – voltou-se novamente para Voldemort. – SE NÃO A MATAR EU O FAREI! – ele não media a irresponsabilidade de estar apontado o dedo para seu mestre.

— Se a matar eu o matarei em seguida. – Voldemort fez soar numa voz sem pressa e ao mesmo tempo ameaçadora. Draco não se importou, deu as costas e seguiu com seus passos pesados. – DRACO! – dessa vez a voz de Voldemort pareceu ter alcançado a alma de todo o continente europeu. Draco parou e se virou. Uma expressão fria, intocável e orgulhosa estava estampada em seu rosto. Nenhuma palavra que Voldemort pudesse soltar mudaria aquela expressão. – Você é meu comensal. Fiz de você o que é hoje. – terminou o ofídico sabendo que aquelas palavras bastariam para ele.

— Não. Sabe que não, – ele torceu o nariz numa careta. – mestre.— fez uma reverência irônica e sumiu batendo com força a porta pelo qual saíra.

Voldemort soltou um longo suspiro cansado. Encarou seus comensais a mesa e descansou sua taça sobre ela.

— Bem. O anúncio está dado. – dizendo isso o ofídico se retirou.

Todos os outros o seguiram em silêncio fazendo comentários baixos entre si. Hermione não ousou olhar para nenhum deles.

— Prepare-se para sofrer na minha mão, sangue-imundo. – ela escutou a voz arranhada de Bellatrix em seu ouvido e precisou segurar firme os braços de sua cadeira para não pular de susto.

Ousou olhar para a mulher enquanto ela tomava seu caminho de saída e a viu vestida num lindo e exagerado vestido vermelho, mais vulgar do que qualquer outro que Tryn havia a apresentado naquele closet. Desviou o olhar com pressa temendo ser pega em seu ato depravado.

Permaneceu ali quando todos se foram. Ignorando-a como se ela fosse algum tipo de fantasma sob alguma capa de invisibilidade. Permaneceu calada e sem mover um músculo como havia ficado durante todo o jantar. Encarou a comida a sua frente e teve vontade de atacá-la mas antes que ela pudesse tudo desapareceu. Ela fechou os olhos lamentando, mas logo teve que os abrir. Tudo por causa do medo. Não podia fechar os olhos. Não conseguia.

— Tryn. – ela sussurrou baixo incerta de que a elfa apareceria ou não. Tryn apareceu num estalo e Hermione soltou o ar aliviada. – Posso comer em meu quarto? – perguntou receosa.

Tryn a encarou com seus grandes olhos amendoados. Hermione quase podia escutá-la dizer que o jantar havia sido encerrado, mas logo a elfa abriu a boca e pronunciou bondosamente:

— Tryn pode providenciar isso para a Srta. Sangue-ruim.

Hermione tentou sorrir, mas não conseguiu.

— Obrigada. – disse quase num sussurro. A elfa assentiu e fez menção de que sumiria. – Tryn! – Hermione chamou sua atenção antes que a outra fosse embora. – Não sei voltar para o meu quarto.

Ela se sentiu envergonhada quando a elfa soltou um suspiro reprovador. Dessa vez conseguiu abrir um fino sorriso que logo sumiu sem deixar resquícios.

**

Ela sentia seu corpo vagar em uma realidade fora da do comum. Tudo parecia muito calmo, muito confortável e muito quieto enquanto uma voz masculina soava forte, distante e constante da nuvem que ela parecia planar. Estava ali fazia horas e aquele estado a satisfazia de maneira que não tinha vontade de sair nunca, mas quando ao longe o tempo pareceu fazer sentido, ela se questionou o que estava acontecendo. Foi quando seus olhos se abriram e ela sentou-se quase que num pulo ao acordar para a realidade.

O cenário se resumia ao whitehall, seu quarto. Por um segundo ela teve uma pontada de alívio percorrendo pelo corpo ao saber que não era uma cela escura e fria, mas no segundo seguinte ela se lembrou do dia anterior e todos os seus músculos tencionaram-se. Estava sentada na maravilhosa e confortável cama ao qual passara a noite. Tudo parecia mais claro do que no dia anterior naquele quarto e ela percebeu que isso era devido a luz de um dia nublado que se fazia passar pelas cortinas finas da fachada de janelas ao lado de sua cama.

A voz masculina constante que soava em seu sonho agora era mais clara e ela notou que vinha do lado de fora. Não do corredor, mas da janela. Hermione se arrastou para fora da cama sentindo o frio golpear seu corpo quando se viu vestida em nada menos do que a camisola fina que Tryn havia deixado disposta sobre sua cama quando ela voltou do jantar.

Caminhou até a fachada de janelas e afastou com cuidado a cortina. Teve de prender a respiração ao encontrar aquilo que seus olhos jamais haviam esperado encarar. Uma enorme praça se estendia dois andares abaixo do que ela se encontrada. Estava abarrotada de milhares de homens enfileirados em uma mesma posição. Estavam sérios enquanto ninguém menos que Draco Malfoy passeava entre eles fazendo soar de forma bruta, alta e imponente sua voz. Era o líder deles e isso estava claro para ela quando todos os milhares de homens urraram em uníssono uma concordância assustadora as palavras de Malfoy. Ao longe da praça, pela vista que ela tinha, pode ver uma muralha próxima de pedras cinzas justapostas. Podia ver pontos se mexendo no topo como se fossem guardar. A muralha sumia de vista e tudo que ela podia apreciar além dela e da praça eram os tetos em platibandas, lajes e telhas inclinadas de dezenas e mais dezenas de edificações que sumiam no horizonte. Ela suspirou. Brampton Fort. Hermione não imaginava que pudesse ser tão grande.

Afastou-se da janela e por um motivo que ela entendia e não entendia seu coração estava disparado. Tornou a sentar-se na cama e ali ficou por um tempo que não lhe fez questão alguma saber.

O sol não apareceu nunca. O dia ficou nublado. O exército da praça se dissipou e tudo entrou num silêncio consumidor e ela permaneceu ali, sentada em sua cama.

Whitehall

Parecia muito acolhedor. Apenas parecia. Não era.

Tryn apareceu num estalo que a assustou. Qualquer mínimo barulho a assustava. Hermione não fazia a mínima ideia de que horas eram quando a elfa veio até ela num estado afoito e um tanto furioso.

— A srta. Sangue-ruim perdeu o desjejum! – exclamou Tryn em sua vozinha esganiçada enquanto puxava de uma vez o espesso edredom que cobria as pernas da mulher sentada. – Tryn precisa garantir que a Srta. Sangue-ruim não perca os compromissos a qual deve comparecer! – ela tremia e parecia ter sofrido sérias agressões recentemente. – Se Tryn não cumprir com seus deveres, Tryn será punida severamente por seu senhor... – e a elfa sumiu para dentro do banheiro.

Hermione manteve-se quieta assim como havia permanecido toda manhã. A elfa reapareceu com seus passinhos apressados praguejando sobre algo muito baixo. Ela vinha dando ordens e por algum motivo isso fez Hermione se lembrar de Molly Weasley. Seu coração apertou dolorosamente enquanto ela se via arrastar-se para fora da cama e seguir para o banheiro despindo da fina camisola que usava para entrar no banho quente que Tryn havia preparado.

O processo foi o mesmo do dia anterior, seu banho, o closet, o pedido para que mudasse o corte do vestido, sapatos, cabelo, maquiagem e então finalmente ela estava de volta a realeza britânica quando se olhou no espelho no fim de todo o processo. Escutou as ordem ditadas por Tryn sobre o horário que deveria acordar, o horário que deveria comparecer ao desjejum, o horário que deveria comparecer para o jantar, o horário que deveria comparecer aos chás da tarde com as senhoras de comensais, o horário que deveria comparecer as leituras de atas da guerra, o horário que era permitido visitar a biblioteca, o horário que ela tinha permissão para visitar os centros de Brampton e finalmente o horário que ela tinha permissão para se retirar e dormir.

— Quero ver Luna. – foi o que Hermione disse após todo o discurso sobre os horários que deveria seguir.

— Não tem permissão. – a elfa respondeu.

— Tenho sido obediente. Seguirei todos os horários. Estou fazendo as vontades de Voldermort!

A elfa tremeu assim que o nome foi pronunciado.

— A Srta. Sangue-ruim não pode se referir ao mestre de maneira tão irreverente!

— Tenho feito as vontades dele! – ignorou Hermione. – Quero ver Luna!

— Tryn apenas segue ordens! A Srta. Sangue-ruim não tem permissão. – e aquilo pareceu um grande ponto final.

Hermione soltou o ar frustrada. Para uma prisioneira ela até que estava sendo muito inconveniente ao exigir encontrar com a amiga.

— O que devo fazer agora? – perguntou então sem se preocupar em esconder seu aborrecimento.

— Há um mês a elite das filhas de comensais fazem reuniões semanais sobre a festa de apresentação da Srta. Ellie Nott que está regressando de Hogwarts no final da primavera. – disse a elfa. Hermione não tinha idéia do que aquilo significava. – O mestre quer que compareça as reuniões e a próxima acontecerá em exatos dez minutos, portanto a Srta. Sangue-ruim deve me seguir.

— Tenho opção?

— Não.

E então ela apenas deixou que seu corpo fosse guiado pelos passos da elfa.

Deixar Whitehall era sempre desconfortante. Tinha a impressão de que não seria perturbada se estivesse segura ali dentro, mas quando começava a andar pelos labirintos da catedral de Voldemort era como se sentisse que estava sendo jogada á imensidão do universo onde a qualquer momento qualquer coisa ruim pudesse lhe acontecer.

O caminho foi mais longo do que o do dia anterior para a sala de jantar. As cores que compunham os ambientes sempre procuravam manter a escala cinzenta e os tons mais mortos que poderia existir dentro de uma paleta de cores. Não era de se admirar.

Foi deixada em um salão qualquer depois de ter subido e descido escadas, cruzados salas, salões e mais milhares de corredores. Esse era pequeno. O piso do mesmo mármore pavão, as paredes eram pedra aparente e o teto sempre muito alto. Havia vitrais numa das fachadas. Mas Hermione não teve muito tempo para analisar a decoração do salão. Não naquele momento. Haviam olhos em cima dela assim como no jantar da noite anterior.

Eram todas moças muito bem cuidadas. Tão bem vestidas como Hermione, mas não tão bem comportadas quanto ela. Quase todas usavam decotes que iam muito além do generoso e muitas delas não se importavam com a transparência do tecido. Mas ainda assim não eram todas. Hermione salvava algumas que tentavam não ser tão vulgar. A unanimidade que havia entre todas elas era o olhar. O olhar de desconforto e desprezo. Todos em cima de Hermione.

— Foi nos avisado que estaria aqui. – quem tomou a fala foi uma mulher. A voz não era estranha. – Hermione Granger. – então ela surgiu do meio das outras para a suas vistas.

Hermione sentiu seus dedos formigarem.

— Pansy Parkinson. – foi tudo que Hermione foi capaz de dizer ao encarar os longos cabelos pretos e lisos da mulher. Aqueles olhos azuis eram inconfundíveis. A postura também. Mas aquele vestido era muito diferente dos couros que Hermione já havia a visto usar. A mulher vestia um veludo azul petróleo que puxava uma fenda do fim de seu vestido nas coxas até a altura do quadril. Da cintura para cima nada mais era do que um tecido fino e transparente que voltava ao veludo apenas para lhe cobrir, quase que de maneira obrigada, a parte da frente dos seios. Seu colo estava exposto. Pálido. E chamava atenção para um colar dourado com uma pedra vermelha muito cara reluzindo de maneira imponente sobre todo o visual. Hermione não sabia se olhava para o colar, para os olhos, ou para as partes do corpo da outra que se mostravam livremente a curiosidade alheia.

— Quem diria. – Pansy andou até ela. – Nunca imaginei que estaríamos nessa situação um dia, sangue-ruim. – ela suspirou dramaticamente e balançou no ar a taça de espumante que tinha nas mãos. – Eu ainda esperava ter a chance de te matar, não de ter que te receber em uma reunião com minhas amigas. – ela sorriu. – Quer alguma bebida? – o tom foi ironicamente educado.

Hermione estreitou os olhos. Sentia a vibração desgostosa de todas elas. Queria fugir dali, mas para onde? Whitehall? Para que na outra semana ela fosse obrigada a estar exatamente ali novamente? Puxou o ar e manteve sua postura.

— Seria muita gentileza se não viesse acompanhada de algum tipo de veneno. – respondeu irônica.

Pansy riu.

— Bem que eu queria que realmente tivesse, sangue-ruim. – suspirou falsamente aborrecida. – Mas quem sou eu para tocar na nova pedrinha preciosa do mestre. – riu e deu as costas. – Sirva-se. – apontou para alguns elfos que estavam estáticos em um canto do salão carregando taças e garrafas de várias bebidas. – Depois sente-se porque hoje temos muito o que discutir, não é meninas?

Nenhuma delas respondeu, mas voltaram a conversar entre si tirando Hermione do foco de visão. O que trouxe a ela um certo alívio.

Foi até os elfos e se serviu daquilo de mais forte que eles tinham. Não era, na verdade, tão forte quanto ela gostaria que fosse mas na terceira golada já sentiu como se sua cabeça estivesse querendo flutuar. Foi o suficiente.

Sentou-se como Pansy havia dito e apenas esperou. O tempo passou devagar e a reunião havia sido o ápice de futilidade que ela já presenciara na vida. A garota Nott estava vindo formada de Hogwarts e a festa tinha a intenção de apresentá-la a Lorde Voldemort. Para Hermione era um grande pretexto para festa.

Como comensais podiam estar pensando em festa em meio a uma guerra? Será que aquelas mulheres conheciam o mundo como ele estava fora das muralhas de Brampton Fort? Pansy certamente conhecia e ainda assim se preocupava com preparativos para festas? Hermione não sabia o que significava genuinamente uma festa desde o fim de seu sexto ano e a verdade era que não sentia falta. Sentia falta mesmo era de paz, descanso e tranquilidade. Tudo que a guerra não permitia que ela tivesse.

No entanto, permaneceu ali. Invisível. Cumpriu seu papel para que ninguém viesse fazer mal a Luna. Sentiu-se tão inútil que seu mundo se fechou na taça que tinha em mãos e na cadeira que estava sentada. Poderia ter permanecido ali pelo resto de seus dias se num determinado momento ela não tivesse escutado seu nome. Sim, seu nome, e não o tão usado: “sangue-ruim”.

Ela tentou procurar quem havia dito enquanto ponderava a opção de estar alucinando, mas então ela viu a mulher da voz reafirmar a pergunta. Lembrava-se daquele rosto. Embora a maquiagem estivesse bastante carregada ela se lembrava muito claramente daquela mesma voz e das linhas daquele rosto. Já havia feito dupla com ela em uma das aulas de Runas Antigas em Hogwarts no terceiro ano. Era uma garota Corvinal. Ou talvez Hermione estivesse só em um estado louco de consciência.

— Quer mesmo minhas considerações? – respondeu quando a outra tornou a lhe perguntar sobre o que achava.

— Não. – ela respondeu muito sinceramente. Embora tivesse soado muito gentil o interesse da mulher sobre as opiniões de Hermione a expressão que ela tinha impressa no rosto não era de nada amigável ou simpático.

Hermione se limitou a dar de ombros.

— O que posso fazer senão concordar?

— Nada. – a mulher acrescentou e então seguiu-se a roda quando a mulher fez a mesma pergunta a outra que estava ao lado de Hermione.

Num instante Hermione sentiu que poderia explodir, correr até a mulher, segurar seu pescoço fino e sensível até vê-la ficar roxa, mas no outro ela simplesmente se perguntou de onde havia tirado tamanha agressividade de dentro de si. No instante subsequente ela pôs-se de pé. Sentiu os olhares sobre si. Ignorou-os e deu as costas. Ficou escutando o barulho de seu salto avançando pelo mármore do piso ecoando no salão para preencher o enorme silêncio que as mulheres faziam ao encará-la tomando o rumo da saída.

Quando bateu a porta do salão e se viu no corredor que Tryn a deixara ela percebeu que suas mãos tremiam contra a taça que segurava. Como podia ser tão invisível e em um segundo atrair tanta atenção?

Passou a andar. Deixou que seus pés a carregassem. O mármore do piso era sempre o mesmo e o labirinto de espaços tão igualmente repetitivos quanto o chão. Soube que largou sua taça vazia em algum lugar dos quais havia passado quando lhe surgiu a oportunidade de fazer. Continuou a andar até se ver perdida.

— Tryn. – sussurrou quando parecia estar tomando rumos escuros. A elfa apareceu num estalo. – Me leve para algum lugar onde eu possa ser sempre invisível.

A elfa pareceu olhar confusa para ela.

— Tryn não tem permissão para pegar capas da invisibilidade.

Hermione soltou o ar sem muita vontade de fazer algo.

— Posso ir ao meu quarto? – perguntou.

— A Srta. Sangue-ruim tem permissão para se retirar somente após o jantar. – disse a elfa muito categoricamente.

— Posso ir a biblioteca?

— No devido horário. – respondeu a elfa e Hermione se lembrou que ainda não era o horário devido.

Bufou. Será possível? Que maldito lugar aquele!

— Há algum lugar para onde eu possa ir com algum enxame de gente que não note a minha presença?

— Talvez o centro da cidade. – respondeu a outra – Mas muito dificilmente há algum lugar em que a Srta. Sangue-ruim não seja notada.

— Não quero ir a essa maldita cidade! – Hermione quase se viu gritar.

— Há uma audiência aberta sobre os rumos da guerra. – disse a elfa e finalmente Hermione prendeu a respiração, sentiu seus ouvidos se abrirem e sua mente clarear. Sim! Aquilo lhe interessava muito! Será?

— Tryn, me leve para esse lugar! – exclamou.

Então lá estava ela seguindo os passos apressados da elfa. Sentiu o efeito do álcool querendo abandoná-la. Seu espírito estava criando um ânimo enquanto ponderava sobre os benefícios que poderia ter estando tão perto daquele lado da guerra. Talvez ela pudesse conseguir algum tipo de informação. Talvez ela conseguisse levar isso até o conhecimento da Ordem. Talvez ela não precisasse ser agora somente a escrava eterna de Lorde Voldemort.

Seu coração quase parou quando Tryn a introduziu num auditório gigantesco e abarrotado de gente. A elfa sumiu como sempre fazia e lá ficou Hermione encarando a vastidão daquele lugar, a quantidade de pessoas e a acústica perfeita que fazia soar uma voz vinda de uma mesa redonda no centro de toda aquela arena. A mesa estava composta por alguns comensais muito conhecidos que Hermione reconheceu por estarem sempre em frete de batalhas e missões em nome de Voldemort. Entre eles estava sentado Draco Malfoy com o ar mais poderoso que alguém poderia ter. Sempre a surpreendia saber que ele não tentaria matá-la ou capturá-la caso viessem a se esbarrar. Ela se lembrava de Draco Malfoy apenas como o garoto insuportável que convivera com ela em Hogwarts. Depois disso ele era somente o distante comensal do outro lado da guerra, o líder do exército de Voldemort, nada mais do que um alvo de combate.

Abriu espaço por entre as pessoas tentando ter uma melhor visão da mesa redonda e quando a conseguiu, parou e tentou absorver o máximo de informações que conseguia.

Estavam discutindo questões sobre os últimos movimentos do exército contra as investida dos rebeldes. As perguntas pareciam públicas, como se tivessem sido tiradas daquela audiência presente ali e todas eram direcionadas a Draco Malfoy embora um ou outro comensal da mesa redonda intervisse algumas horas. Malfoy respondia a todas com muito domínico e conhecimento. Hermione estava se indignando com a forma como todos achavam muito correto a brutalidade com a qual a ditadura de Voldemort era implantada.

Seu coração parou dessa vez quando uma pergunta direcionada a mesa foi a respeito de Hermione Granger fazer parte do ciclo interno de comensais de Voldemort. A resposta de todos da mesa foram variações do que Lorde Voldemort dissera no jantar do dia anterior sobre não contestar suas vontades. Houve alguns acréscimos sobre a importância de não tratá-la como uma prisioneira comum, Hermione Granger havia representado demais o nome dos rebeldes para ser tratada como qualquer outro deles. E assim se seguiu os outros temas abordados pelas perguntas.

Ver tudo aquilo fez Hermione soluçar enquanto sentia sua boca perder a saliva a cada segundo que se passava. Não era possível que eles tivessem audiências abertas ao público de Brampton Fort, os protegidos de Voldemort, salões e catedrais, comida cara, vestidos pomposos e cidades fortificadas enquanto a Ordem se reunia na sala de jantar da casa de Harry para discutir os movimentos do exército de Draco Malfoy.

Antes que ela pudesse ser dominada completamente pela frustração e pelo sentimento de eminente derrota, sentiu duas mãos lhe apertarem os braços. Sentiu o calor do corpo por trás do seu e uma respiração úmida ao pé de um de seus ouvidos. Seus pelos todos se levantaram porque ela conhecida. Conhecia aquelas mãos, conhecia aquele calor e conhecia aquela respiração. Desvencilhou-se e se virou para encarar ninguém menos que Viktor Krum.

— Viktor! – ela exclamou. Por um segundo de perturbação emocional e informacional ela quis jogar-se nos braços dele como se tivesse encontrado um pedaço do conforto de casa. Mas seu cérebro soube organizar rapidamente a situação, então no segundo seguinte ela apenas se limitou a estar em choque e sem reação.

Ele tornou a se aproximar segurando-a novamente pelos braços e colando seu corpo no dela, voltando a fazê-la sentir sua respiração ao pé do ouvido.

— Fica bem sem jeans. – a voz dele soou estupidamente canalha.

— O que faz aqui? – ela balbuciou numa voz fraca. – O que diabos faz aqui?

— Surpresa por me ver sendo um comensal? – ele tinha um sorriso cínico quando se afastou para ter o rosto dela bem próximo ao dele. – Se eu fosse você não ficaria tanto assim. Seu amigo Ronald Weasley sempre desconfiou, não foi? Quantas vezes ele a alertou? Talvez você tenha perdido a conta.

— Por que? – foi tudo que sua voz fraca e em choque conseguiu pronunciar.

Ele riu e a soltou.

— Talvez se tivesse ido para cama com o ruivo e não comigo, você teria acreditado nele.

Hermione sentiu todas as lágrimas do universo se acumularem em seus olhos antes mesmo que ela pudesse processar e entender as palavras dele.

— Maldito seja você, Viktor! De que lado está jogando? – ela conseguiu dizer sem nem ter consciência de seu cérebro estar funcionando. Apenas se lembrava das milhares de vezes que Viktor Krum estivera entre eles naquela mesa de jantar na casa de Harry intervindo a favor da Ordem.

— Jogo do lado que vence, Hermione. – e foi embora sumindo por entre as pessoas.

Ela ficou estática. Apoiou-se no pilar ao seu lado para se certificar de que suas pernas estavam firmes sobre o salto. Olhou ao redor e ali ela pode ter a absoluta certeza do lado da guerra que estava vencendo. Sabia claramente que lado sempre vencera, mas estando ali ela chegou a convicção de que a mesa de jantar de Molly Weasley nunca teria poder suficiente para vencer o império de Lorde Voldemort.

Soluçou e as lágrimas escorreram.


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Notas finais do capítulo

CAPÍTULO NOVO TODAS AS QUARTAS E DOMINGOS! Isso mesmo, como a história já está bem avançada, não existe o porque de ficar enrolando com os capítulos! Ah, e não se deixe enganar, essa fic é uma long, ou seja: tem muito chão pela frente! Temos muito o que conhecer sobre o Draco e a Hermione dessa fic... e mais alguns outros personagens também. Os capítulos são nesse formato, terceira pessoa baseado no ponto de vista do personagem. As vezes um capítulo tem mais de um ponto de vista.
Espero que se envolvam com a história e também entrem nesse mesmo mundo denso que a Hermione está começando a ser inserida agora. E se gostou, me deixe saber nos comentários! Obrigada pelo apoio de todos desde já! :)

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