CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Capítulo de domingo! :)



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Capítulo 17

Narcisa Malfoy

O discurso de Hermione havia sido impecável. Ela tinha uma eloquência que assustava e uma entonação com um poder de convencimento que Narcisa jamais imaginara que ela pudesse ter. Realmente Hermione havia feito um excelente trabalho junto à equipe de Theodoro, mas sabia que o dedo de Draco estava ali, em algum lugar de maneira, sutil e bastante discreto. Gostava de saber que seu filho não ignorava Hermione por completo. Ele sabia que ter alguém da família em mais um lugar de poder dentro do ciclo de Voldemort era um ponto a mais para os Malfoy.

Narcisa desceu a escada principal do auditório parando para cumprimentar os maridos de suas amigas que trabalhavam no departamento de Theodoro durante o caminho. As frases prontas e repetidas que mais ouvia eram: ‘Hermione realmente fala bem!’, ‘Que grande gênio que entrou para família de vocês, hein?!’, ‘Aposto que Draco está bastante satisfeito com uma mulher como essa. ’, ‘Talvez as mudanças de Hermione façam os tribunais finalmente funcionarem como deveriam!’

Mas embora Narcisa soubesse que Hermione sabia suprir bem o lado profissional de sua família, para com os esposos de suas amigas, seu lado perante o ciclo social ao qual realmente deveria se preocupar estava desmoronando como se fosse uma colossal construção de areia debaixo da chuva.

Chegou ao palco onde Hermione estivera de pé há alguns minutos atrás e foi obrigada a apertar o passo para chegar à porta na lateral por onde ela estava passando. Fugiu da imprensa com a agilidade que havia adquirido com os anos e passou para o lado de dentro de um corredor cheio de funcionários do departamento de Theodoro com suas devidas identificações penduradas no pescoço. Falavam todos de uma vez, analisavam pranchetas e agendas, enquanto andavam como se não houvesse amanhã. Narcisa passou por eles sem nenhum problema e conseguiu chegar à porta onde um dos homens de seu filho estava parado.

A segurança da Catedral e de Brampton Fort inteira era serviço do departamento de Draco e Narcisa sabia bem que aquilo era o que menos lhe dava trabalho, e embora nenhum dos seguranças fizessem parte do número de zonas, todos eles sabiam reconhecer um Malfoy de longe. Talvez esse tenha sido o motivo para a reação do guarda na porta de Hermione.

– Ela está ocupada, Sra. Malfoy. – ele disse, parecendo confuso em se decidir quem deveria obedecer.

– Não me importo. – Narcisa foi neutra ao dizer aquilo, não havia sido rude, não havia sido gentil e talvez tenha sido por isso que ele temeu pelo que pudesse acontecer ao cargo que, muito provavelmente, provia algum tipo de status a sua família dentro de Brampton Fort e empurrou a porta para que ela passasse.

– ... e cancele a reunião da semana que vem. Preciso dar atenção à imprensa agora que... – a voz de Hermione morreu, assim que seus olhos dourados caíram sobre a figura de Narcisa entrando em sua suntuosa sala improvisada.

– A senhora não deveria estar aqui. – Jodie, que estava ao lado de Hermione anotando tudo que dizia levantou sua voz para a presença de Narcisa.

– Gostaria de trocar algumas palavras com Hermione e seria bom que você se retirasse por alguns minutos. – o tom que Narcisa usou para falar foi claro para Jodie de que não tinha outra opção.

– Tenho a autoridade para retirá-la daqui e não me importo quem seja ou o sobrenome que tem. – Jodie usou de um tom bastante profissional. Aquela mulher era sempre toda profissional. Narcisa não gostava daquilo.

– Jodie, por favor. Não há necessidade. – Hermione interviu e voltou-se para Narcisa. – Podemos adiar essa conversa para o jantar.

– Não podemos. – Narcisa foi firme o suficiente para mostrar que Hermione havia chegado a sua linha final.

O silêncio entre as duas durou pouco, enquanto a troca de olhares fez com que Narcisa notasse o quanto a outra Sra. Malfoy estava incomodada.

– Jodie, você poderia nos deixar a sós por um momento, por favor. – Hermione pediu com serenidade.

A morena não pareceu muito contente com isso.

– Sabe que tem compromissos, Hermione. – ela alertou.

– Ainda tenho vinte minutos antes da primeira reunião. – ela disse.

– Vinte minutos onde deveríamos discutir...

– Eu não sabia que dentro do departamento de Theodoro, os auxiliares podiam confrontar seus superiores. – Narcisa cortou a mulher.

– Narcisa, por favor. – pediu Hermione, com mais firmeza dessa vez. – Jodie, eu saberei me lembrar da minha própria agenda. Agora, por favor. – apontou para a porta.

Jodie lançou um último olhar significativo a Hermione e deixou a sala.

– Tem me evitado. – Narcisa não esperou pra dizer nada, assim que a porta foi novamente fechada.

– Eu não tenho tempo para isso. – ela deu as costas.

– Nunca tem tempo para nada, Hermione. Tem apenas tempo para o trabalho que presta a Theodoro!

– É o meu trabalho e não o faço por Theodoro! – pontuou Hermione, enquanto se sentava detrás de uma mesa e espalhava uma dúzia de pergaminhos por ela.

Narcisa soltou o ar impaciente. Não insistiria em uma nova discussão sobre as precauções que deveria tomar com Theodoro. Ela apertou os lábios numa linha fina e se aproximou colocando as duas mãos sobre a mesa.

– O jantar dos Martin será semana que vem e você está na lista. – Narcisa tentou começar por ali.

– Sim. Recebi o convite. – Hermione ergueu o olhar e forçou um sorriso rápido para ela, antes de voltar para os pergaminhos – Foi bastante gentil da sua parte se esforçar para me colocar na lista, mas não poderei ir.

Aquela mulher só poderia estar querendo acabar com sua paciência.

– Podendo ou não, você irá. – ela usou de um tom pausado e seco. – Se esqueceu de que tem um papel a cumprir como Malfoy? As mulheres dessa família...

– Já estudei sobre os Malfoy, Narcisa. – Hermione a cortou, folheando uma pasta – Não vou a esse jantar. Não preciso ser nenhuma intermediária de Draco dentro do ciclo social da família de vocês!

– Estou farta de vê-la achando que tem alguma escolha! – Sim, Narcisa já estava irritada – Eu venho fazendo o meu e o seu papel dentro dessa família, porque você simplesmente acha que pode se dedicar a carreira medíocre que lhe deram aqui! – ela estendeu a mão e fechou a pasta de Hermione sem se importar se estava sendo educada ou não – Draco mantém o vinculo profissional de nossas famílias e você mantém o vinculo afetivo. Isso é uma lei, Hermione! Nossa família funciona assim há anos e você já deveria estar sendo uma figura comum entre nós já faz um bom tempo, mas ainda não passa de uma curiosidade e um nome importante e pouco conhecido nos encontros, jantares e reuniões da elite de Brampton Fort. Vai desistir desse trabalho agora ou nunca saberá como tocar o nome dos Malfoy!

Hermione retribuía sua irritação com um olhar neutro, o olhar que Narcisa havia a ensinado a fazer, o olhar que mostrava que não se rebaixaria ao nível a que estava sendo submetida ali, com o tom que Narcisa usava.

– É isso que quer que eu faça? Que eu desista do meu trabalho? – ela usava uma voz suave, porém firme. – O que aconteceu com o lema ‘nunca se render’?

– Um Malfoy deve saber pesar os prós e os contras muito bem para tomar uma decisão, Hermione. E um Malfoy nunca trabalha sozinho. Está sendo egoísta mantendo esse trabalho apenas para benefício próprio.

– Draco já se aproveitou bastante do meu status para promover alguns de seus ideais de maneira bem sutil dentro dos meus discursos. – Hermione cruzou os dedos sobre a mesa. – Não acredito que ele estaria de acordo com o seu pensamento de me fazer desistir do meu cargo.

– Draco pode ser tão teimoso quanto você e ainda não entende que querer ser diferente pode levar nossa família a ruína. – ela suspirou – Às vezes ele arrisca demais, apenas para não seguir as palavras do pai.

– Bem, mas sou casada com ele, não é?! – Hermione se levantou. – Agora, sei que irá se importar, mas essa não é uma boa hora para discutirmos sobre qualquer coisa. Terei que pedir para se retirar. Veremos-nos no jantar.

Narcisa parou para observá-la por alguns segundos. Inclinou-se se apoiando na mesa.

– Você sabe o quanto isso é importante. Sabe o quanto nossas relações nos mantém no poder, Hermione! – cerrou os dentes – Por que está inventando de agir como se não se importasse? Nós caímos e você cai junto!

– Eu não posso ir. – sibilou ela.

– Eu disse que não é uma opção! – vociferou.

– Você não entende, eu não posso ir! – dessa vez, Hermione usou do mesmo tom para replicar.

– Eu trabalhei duro para devolver o seu nome para aquela lista e...

– Eu estou grávida! – o tom auto de Hermione a cortou.

A informação foi como um tapa em sua cara. Tentou se recuperar, enquanto observava Hermione olhar de um lado para o outro discretamente, como se estivesse arrependida de ter usado o tom que usara. Narcisa balançou a cabeça de um lado para o outro como se tentasse colocar em ordem as milhares de vozes e pensamentos distintos que gritavam em sua cabeça. Afastou-se da mesa.

– Mas... – sua voz saiu falha e ela precisou pigarrear. – Você não estava tomando poções? – até onde Narcisa sabia, ela estava.

– Céus! Será que eu o mundo inteiro sabia que eu estava tomando poções? – Hermione soltou, abrindo um olhar cheio de angústia.

– Pensei que estivesse!

– Eu estava! Até o seu filho dizer isso a Voldemort!

– O que? – Narcisa uniu as sobrancelhas, ouvindo mais vozes gritarem em sua cabeça. – Draco não faria isso!

– Ele fez.

Ela parou e desviou o olhar. Não era possível.

– Se ele fez, foi porque não teve outra escolha. – disse.

– Ele tinha outra escolha sim, a de se manter calado.

Narcisa tornou a olhá-la.

– Se ele fez, foi para nos livrar de problemas maiores no futuro.

Hermione revirou os olhos e encostou as costas no encontro de sua cadeira.

– De qualquer forma, - ela mostrou as mãos – não posso ir ao seu jantar. Não tenho roupa. Minha barriga está crescendo e está se tornando cada dia mais difícil escondê-la. Voldemort não quer que o público saiba, não por agora.

– Mestre. – a corrigiu, embora sua cabeça estivesse em outro lugar naquele momento. De repente o mundo pareceu pesar em suas costas. Levou uma das mãos até o pescoço e massageou um dos ombros. Sentou-se na cadeira a frente da mesa, sentindo-se cansada demais. – Quantos meses? – perguntou.

– Não estou contando. – Hermione respondeu.

– Eu sei que está. – Narcisa sabia bem o que era ser mãe.

Hermione suspirou e desviou o olhar. Precisou de alguns segundos antes de fechar os olhos, umedecer os lábios e responder:

– Acabei de chegar ao quarto.

– Quarto? – Narcisa se viu surpresa. Ela tinha uma barriga pequena. – Quando estava planejando me contar isso?

– Nem sequer pensei que deveria. – Hermione a olhou e Narcisa pôde ver que ela se debatia com questões muito mais sérias do que aquela.

– E Draco? – ela quis saber.

Hermione apertou os lábios discretamente e balançou a cabeça negativamente.

– Não falamos sobre isso. Ele disse que esse era um fardo meu.

Narcisa soltou um riso fraco pelo nariz.

– Ele não quer mesmo ser como o Lúcio. – disse, embora aquele comentário fosse mais para ela mesma do que para Hermione. Olhou nos olhos daquela pobre mulher a sua frente. Ela seria uma mãe. Uma mãe que não tocaria em seu filho, uma mãe que não o teria. Seria uma mãe que nunca escutaria seu filho chamá-la de mãe. Narcisa conseguia medir a dor daquilo. – Me lembro de quando disse a Lúcio que estava grávida de Draco. – Narcisa tentou se transportar para aquele dia. Sorriu. – Aquele homem ficou louco. – ela queria poder voltar no tempo – Às vezes penso que ele realmente me amou aquela época. Talvez tenha sido a única.

Hermione não replicou e elas entraram num silêncio profundo. Cada uma em seu mundo, como se aquela notícia tivesse o poder de sustentar uma lacuna de longas horas de silêncio.

– Meus pais tinham uma casa de campo ao sul da Inglaterra. – Hermione começou com a voz e olhos baixos - Era uma viagem longa de carro, mas valia à pena. – ela parecia estar falando mais com si mesmo do que com Narcisa. – Quando eu estava no sexto ano, meus pais passaram por uma crise no consultório e meu pai pensou em vender a casa, mas minha mãe insistiu que ela precisava de um lugar para levar seus netos para passar o verão e acho que esse foi um argumento de peso final. – soltou um riso fraco e infeliz. O silêncio durou por mais um tempo até que tornou a encarar Narcisa. Os olhos úmidos e a voz travada. – Quando eles foram assassinados... – sua voz morreu e Hermione engoliu a saliva, como se estivesse engolindo veneno. Soltou o ar e desviou o olhar novamente, como se tivesse vergonha do brilho que aumentava em seus olhos – Eu não pude nem mesmo ver o enterro deles. – havia tanta dor naquela voz – Nunca pude nem visitar o túmulo deles, nem passar perto, nem saber onde haviam sido enterrados. – Hermione puxou ar ajeitando a postura na cadeira como se tivesse consciência de que estava desmoronando na frente da mulher que a ensinara a manter seu orgulho de pé. – Seria como correr para uma emboscada. – concluiu e limpou o canto dos olhos. – Pensei que nunca no mundo inteiro eu pudesse sentir uma dor maior do que a que eu senti quando os perdi. Mas eu tinha amigos. Eles se tornaram minha família e eu pude ver o esforço de cada um deles para tomar a forma desse vazio que havia sido aberto em minha vida. – ela tornou a engolir a saliva de forma pesada. – Mas isso... – a mão de Hermione tomou o tecido fino e escuro sobre sua barriga. – Dói mais do que qualquer dor que já senti. – amassou o tecido entre os dedos e apertou os lábios como se tentasse superar o nó que lhe subia. – Eu estou criando vida. – ela usou o restante de voz que ainda tinha. – Cresce dentro de mim. – Narcisa sabia perfeitamente o que a nora sentia. – E não vai ser meu. – Hermione soluçou e dessa vez não foi possível impedir que uma lágrima grossa pulasse de seus olhos dourados.

Hermione precisou de seus minutos em silêncio, para lutar contra toda a emoção que queria externar. No final, ela puxou o ar refazendo toda a sua postura como se estivesse vestindo a mascara que havia deixado cair. Tornou a empilhar todas as pastas que havia bagunçado.

– O mestre lhe passou alguma informação? – foi tudo que Narcisa conseguiu dizer, ainda desconfortável com toda a dor de Hermione.

Ela puxou o ar e soltou com calma antes de responder:

– Ele me dará um ano quando nascer. Disse que a criança ainda precisará do meu corpo.

Narcisa sabia que aquilo não era de todo uma verdade. Voldemort queria apenas que Hermione se apegasse ao filho para poder tirá-lo dela. Assentiu, tentando mostrar que era uma decisão justa, embora não fosse.

– Bem. – Narcisa se levantou – Você sabia que não seria fácil desde o começo. – alisou sua roupa, colocando no lugar aquilo que talvez tenha saído dele – Encontrarei um vestido para você. – pigarreou – Ainda podemos esconder essa barriga. – deu as costas e seguiu seu caminho, sozinha, até a porta. Segurou a maçaneta ainda conseguindo calcular a dor que Hermione escondia por trás de sua máscara todos os dias. Voltou-se para ela. - Você precisa ser forte. – disse, embora soubesse que ela não iria ser. Nada poderia prepará-la para aquilo e sabia que o único sofrimento para o qual havia se preparado eram para sessões de maldições cruciatus e torturas medievais. Nada daquela preparação a ajudaria ali.

Hermione piscou calmamente em resposta. Narcisa apenas puxou o ar e saiu dali, sem saber ainda como lidar com a situação.

Draco Malfoy

A carruagem o levou direto do portão Sul até o pátio central da Catedral, onde desceu sentindo o calor do início do verão. Olhou para o céu e viu as nuvens brancas tampando o azul. Nunca havia sol em Brampton Fort. Atravessou toda a extensão do pátio e passou para o lado de dentro do saguão, onde logo pôde enxergar, por entre as poucas pessoas que atravessavam ali, a figura de Hermione vindo em sua direção acompanhada por Jodie, como sempre. As duas pareciam discutir sobre algo e foi quando os olhos dourados de Hermione caíram sobre ele, por apenas alguns segundos, enquanto falava antes de se voltarem novamente para Jodie, que fez Draco levantar uma nota mental sobre a evolução da beleza natural de Hermione. Não a via há quase uma semana e ela parecia ainda mais bonita que a última vez que colocara os olhos nela.

Usava um vestido estampado que não era inteiramente claro, mas era quase como se ela quisesse fazer com que o sol abrisse por entre as nuvens e ele percebeu que o modelo do tecido, fino e levemente marcado na cintura, disfarçava os quatro meses que carregava da gravidez. Lembrar-se de que Hermione estava grávida fez com que o verão parecesse se tornar final de outono.

A alguns passos de se encontrarem Jodie saiu pela tangente dela, seguindo outro rumo, e então, Hermione avançou para fazer com que seus passos se igualassem ao dele.

– Esperava te encontrar no Portão Sul. – Draco começou sem reduzir a velocidade de seu passo. Conseguia o acompanhar sem muita dificuldade.

– Não tenho tido tempo de deixar a Catedral com essa facilidade toda. – ela disse – Além do mais, não sabia que chegaria pelo portão sul. Desci assim que soube que sua carruagem já estava a caminho da Catedral.

– Como foi seu discurso de posse? – ele perguntou.

– As críticas têm sido bastante positivas. – respondeu Hermione. Ele notou que havia algo de diferente em sua voz, mas não conseguia classificar o que era. Parecia sem vida. – Deveria ler O Diário do Imperador.

– Não tenho tido tempo para jornais, ultimamente. – Draco disse.

– Como foi do outro lado da muralha? – ela perguntou, se referindo a sua estadia fora de Brampton Fort. A verdade é que queria saber se havia acontecido algum confronto com a Ordem ou não, apenas não queria ser tão direta.

– Perdemos. – foi tudo que ele respondeu.

Eles deram alguns passos em silêncio, antes que Hermione tornasse a abrir a boca.

– Sua mãe tem insistido para que eu desista do meu cargo. – ela trocou o assunto por completo, afinal, saberia sobre tudo que havia acontecido sobre a guerra no dia seguinte, quando comparecesse a reunião do conselho.

– Vai desistir? – Draco lançou um olhar rápido para sua mulher, assim que fizeram a curva para dentro de um dos corredores.

– Não. – ela respondeu.

– Sabe que como uma Malfoy você deveria, não sabe? – ele comentou.

– Sim. – Hermione respondeu. – Mas não irei.

– Bom. – foi tudo que Draco disse.

– Bom? – ela ergueu as sobrancelhas de um modo confuso.

– Sabe que sou interessado nos benefícios que seu cargo podem me trazer. E sei que você também tem bastante interesse neles. – o trânsito de pessoas se intensificava, à medida que se aproximavam do QG, e todas elas abriam caminho assim que os viam avançar. Um Malfoy nunca deveria desviar das pessoas. - Além do mais, não quero que minha mulher seja exatamente o que as pessoas esperam que ela seja. - Hermione não fez nenhum comentário com relação àquilo, mas sabia que muito provavelmente fizera uma nota mental cheia de críticas. – Que horas irá voltar para casa? – Draco mudou o assunto, assim que fizeram mais uma curva e foram jogados no hall de entrada do QG.

– Desde que deixou Brampton Fort, tenho ficado na catedral até mais tarde. Devo esperá-lo para o jantar hoje? – perguntou ela.

– Não sei. – ele realmente não sabia – Tenho muito assunto para discutir com o mestre antes da reunião com o conselho amanhã. – Draco puxou o relógio do bolso e o analisou por alguns segundos. – Ele não irá me chamar para o gabinete tão cedo, então prefiro que siga sua rotina dos últimos dias. – Hermione não contrariou nem contestou, mas também não assentiu nem concordou. Sabia que ela não gostava de depender da palavra dele. – Assim que tiver um tempo livre, vá até minha torre. Tina tem algo para passar a você.

Tina era sua mais nova secretária. Era apenas uma das mulheres que tão loucamente almejavam pelo cargo, mas se mostrava tão incompetente quanto qualquer uma das outras que não haviam levado a nomeação.

– Terei um tempo livre no final do dia. – Hermione lhe respondeu, embora ele soubesse que na verdade tudo que queria ter perguntado era sobre a procedência do que significava esse “algo” destinado a ela.

A objetividade dela foi suficiente para fazer com que Draco entendesse que ela tinha pressa em deixá-lo ou, que na realidade, nunca quis mesmo ter tido a necessidade de se encontrar com ele.

– Ótimo. – ele encerrou – E, por favor, não faça sua amiguinha lunática tentar invadir meu escritório novamente. Você pode ter tido a chance de vasculhar até mais do que eu acreditava que pudesse, mas Lovegood não é tão esperta quanto você. – Hermione não reagiu, apenas escutou como se já esperasse que ele fosse fazer aquele comentário a respeito da invasão de Luna em seu escritório na noite em que deixara Brampton Fort. Hermione certamente teria passado por todos os sistemas de segurança, mas ela era Hermione e Luna Lovegood cometera um erro bastante previsível, embora tivesse ido mais longe do que ele acreditava que conseguiria. – Por que confiou a Lovegood uma tarefa como aquela? Não é nada inteligente. Faz-me questionar se não há nada por trás disso.

– Pense o que quiser. – Hermione soltou cansada. Draco a olhou enquanto sua mulher reduzia a velocidade do passo e parava. Acompanhou-lhe, parando para ficar de frente a ela, enquanto percebia que o cérebro dele, automaticamente, se questionava o que havia dito de errado para que recebesse aquela reação.

Draco percebeu que ela tinha algo para dizer, mas ao mesmo tempo em que parecia não saber como dizer, ele também pôde notar que Hermione estava cansada e não se parecia muito com cansaço físico. Seus longos cílios fizeram sombra sobre a cor amendoada que tinham seus olhos quando não eles estavam expostos a claridade. Os braços dela se cruzaram, logo depois de ter umedecido os lábios, colocando as ondas de seus cabelos para trás das orelhas. Draco pôde notar a ondulação na parte mais baixa de sua barriga. Era muito pequena, mas estava lá. Existia.

– Eu não tenho todo o tempo do mundo, Hermione. – quebrou o silêncio estranho que havia entre seus corpos.

Hermione ainda continuou a manter o silêncio. Draco observou seu peito se mover ritmado com sua respiração. A pele dela o atraiu mais uma vez. Lembrou-se de quando a tocava com suas mãos, de quando sua boca percorria o macio do branco em sua pele, se lembrou da textura que ela tinha. Do sabor de sua saliva. Ele já havia passado por isso antes, encará-la quando não estavam fazendo sexo e, como ser humano racional, questionar-se como podiam ainda ser duas pessoas com um infinito inteiro de distância os separando quando seus corpos já haviam quase se fundido em um. Como conseguiam fazer com que a vida entre eles funcionasse assim? Seria a rivalidade que tinham um pelo outro, o grande mantedor dessa situação? Draco não conseguia medir o quanto era diferente tudo que envolvia sua relação com Hermione. Era tão confuso que não conseguia nem mesmo saber se gostava ou não, se era prazeroso ou não, se lhe servia de entretenimento ou não.

Deu um passo aproximando-se mais, talvez isso a intimidasse e ou fizesse com que ela se sentisse mais incomodada para finalmente abrir a boca e soltar o que quer que estivesse segurando. Funcionou, porque ainda com o olhar distante, sua mulher resolveu fazer com que a voz suave soasse despretensiosa:

– Quanto tempo ficará longe de Brampton Fort quando deixar a cidade novamente? – ela piscou e fez os olhos seguirem o caminho para focarem os seus. Draco odiou que ela quisesse dar a volta no assunto que tinha a tratar.

– Por que quer saber? – ele queria forçá-la a ser direta.

– Quanto tempo? – Hermione insistiu.

Certo, ela havia feito a pergunta antes e ele sabia que resistir era perda de tempo e energia. Deu de ombros.

– Isso depende dos rebeldes, depende do meu exército, depende da reunião do conselho e depende principalmente da discussão que terei com o mestre. – era a resposta que Draco tinha. – Agora, por quê? – era vez dela.

Ela puxou o ar e tornou a desviar o olhar.

– Tenho tomado poções e usado os feitiços que me foram passados pela equipe da enfermaria para mantê-los informados de que tudo está bem com o crescimento do feto. – Hermione quis parecer bastante profissional, mas era péssima em esconder as emoções que tinha e Draco percebeu que aquilo a afetava bastante. Ela trocou o peso de perna, piscou e o olhou novamente. – Recebi uma carta ontem. – puxou o ar – Do mestre. – acrescentou – Ele marcou minha sessão inicial na Seção de Enfermarias para o fim desse mês.

Draco continuou a encará-la, esperando que sua mulher concluísse o porquê da informação, mas não concluiu.

– E? – ele se viu perguntar.

Hermione piscou os olhos de uma forma mais demorada dessa vez, soltando o ar como se tivesse se frustrado com algo.

– Você irá? – o olhou, deixando transparecer novamente aquele cansaço de quem já havia se entediado em dar murro em ponta de faca, mas não conseguia parar.

– A carta era para mim? – Draco ergueu uma sobrancelha.

– Não. – ela respondeu.

– Então eu não tenho nada haver com isso. – concluiu ele.

Ela suspirou, já sabendo que escutaria aquilo e ele pôde perceber que não havia sequer uma simples réstia de esperança em seu olhar. Não esperança de que ele fosse se importar com a gravidez ou algo do tipo, mas Draco não conseguia entender aquele olhar. Hermione parecia quase derrotada, quase cansada, quase entediada. Ele não encontrava nenhum adjetivo que pudesse descrever toda a linguagem corporal que ela carregava.

– Certo. – a voz dela soou baixa e suave, e foi quando ele, finalmente conseguiu perceber, que o que faltava no som de sua voz era o tom melodioso que naturalmente tinha. Hermione tornou a umedecer os lábios. – Se caso for deixar a cidade ainda hoje, me deixe saber. – ela pediu e agora que ele havia notado o que faltava em sua voz, percebera que gostava bem mais do som natural de antes.

– Não dou informações aleatórias. – Draco disse de maneira bastante egoísta, embora o pedido de sua esposa não tivesse soado nada como uma ordem. Mas ele apenas não lhe queria fazer uma vontade.

– Eu apenas não quero me preocupar em estar perfeitamente pronta como uma Malfoy deve estar, sem necessidade, se caso não for aparecer em casa. – Hermione finalizou, deu as costas e seguiu a direção para entrar pelo corredor com o caminho mais curto para a Seção da Cidade.

Draco a observou ir, a bainha de seu vestido dançando no ritmo de seu andado firme e suave. Havia algo errado com ela. Queria não se importar e, na realidade, talvez não se importasse realmente. Talvez tudo fosse culpa da convivência que haviam construído e que eram obrigados a ter. A figura um do outro havia se tornado tão familiar e constante, que ele não pensar em Hermione como parte do seu dia, de sua semana ou de seu mês era quase impossível.

Deu as costas sabendo que deveria passar por cima daquilo, seu mundo girava em torno de preocupações muito maiores que Hermione. Passou pelo toten que indicava a entrada e avançou uma curta distância pelo foyer amplo e luxuoso de seu quartel, até chegar ao balcão único de informação. Bateu com o anel de sua aliança no mármore o que fez a mulher bem arrumada do outro lado levantar os olhos e ajeitar a postura no mesmo instante.

– Faça com que o mestre saiba que eu estou de volta a Brampton Fort. – Draco disse a mulher. Sim, gostava de fazer de qualquer um seu secretário, mesmo sabendo que já tinha uma.

Ela pareceu assustada por um instante, como se estivesse pensando em retrucar que jamais conseguiria ter contato com o mestre, mas Draco era uma figura bastante conhecida, e a secretária dele conseguiu entender o porquê ele usara as palavras “faça com que ele saiba” e não “avise”. A mulher assentiu recebendo o desafio que ele lançara. Ela não era burra. Por mais que estivesse em um balcão de informação em um foyer, era funcionária de seu departamento e isso já era o suficiente para saber que não era burra. Seu departamento não contratava pessoas estúpidas.

– Foi me deixado documentos que deveriam ser entregues em suas mãos. – ela pareceu se lembrar subitamente. – Me informaram para lhe passar mesmo que não chegasse a pedir por eles. – puxou de um dos nichos do balcão e lhe estendeu uma pasta de couro de dragão dura, a cor azul marinho indicava que vinha de sua torre.

Draco pegou-a e a abriu para se dar conta de que os pergaminhos do lado de dentro informavam sobre cada minuciosa atividade que havia ocorrido dentro de seu departamento durante sua ausência. Sorriu. Sua nova secretaria não era assim tão devagar quanto ele achava que fosse. Fechou a pasta e a estendeu para a mulher.

– Envie de volta. – disse. Draco sabia que deveria mandar uma nota de parabéns, elogiava bom serviço quando preciso, mas não queria paparicá-la com nenhum elogio, agora, no começo. – Tornarei a olhar quando tiver tempo. – isso era o suficiente para a mulher saber que ele havia apreciado o serviço. Como levantado, sua figura era bastante conhecida e se ele não tivesse gostado, com certeza teria o prazer de mandar uma nota bastante desagradável em resposta ao ato.

A verdade era que tinha tempo para rever uma pilha de pastas daquela, apenas não queria trabalhar. Havia passado por dias intensos do lado de fora da muralha e estava cansado de todo aquele ambiente. Quando deixou seus passos o conduzirem dentro da catedral, percebeu que estava indo em direção a torre de Pansy. Não fazia aquilo havia muito tempo, mas até que sentia falta do pedaço de conforto que existia dentro do inferno que era aquele edifício. Costumava frequentar o quarto de Pansy sempre quando sentia que precisava se desligar por um tempo ou por alguma razão. Tomar aquele caminho novamente o fez se sentir leve, como se as coisas estivessem finalmente se normalizando, depois de seu conturbado casamento com Hermione.

A porta do quarto de Pansy era sempre aberta para ele. Passar para o lado de dentro o fez se lembrar que a última vez que estivera ali, fora no dia em que entregara o anel de sua família para uma Sangue-Ruim. Tinha a impressão de que havia sido há mil anos. Tudo que Draco conhecia de Hermione naquela época era sua bravura e determinação em campo de batalha, assim como seu esperto cérebro que conduzia a Ordem. Agora o que conhecia dela se limitava ao modo como orquestrava os talheres em suas mãos durante o jantar, a forma como passava a folha durante a leitura de um jornal, o gemido que fazia quando sentia prazer, como seu corpo respondia a um orgasmo, o gosto de seu beijo intenso, o toque de sua mão macia, a textura de sua pele, o silêncio de seu sono, o suspiro de sua respiração quando trocava de posição durante a noite, a forma como se espreguiçava pela manhã. E no final, isso era todo o apenas que ele conhecia de Hermione e nada mais. Ela ainda era um mistério. Um mistério que Draco não tinha interesse em desvendar, embora ainda se lembrasse de algumas poucas situações que haviam vivido que o fizera se questionar se sua esposa não era um bom campo para se explorar.

A porta do quarto de Pansy estava sempre aberta para ele. Lembrou-se disso quando girou a maçaneta e viu que não estava trancada. Deixou seu passo o arrastar pelo carpete roxo. A mulher não estava lá. O quarto cheirava ao perfume forte que sempre usava. Não era o perfume que ela tinha quando eram crianças, mas Draco ainda conseguia se sentir bastante familiarizado com o ambiente. Familiarizado o suficiente para se sentir confortável. Sentiu o peso do cansaço, atingi-lo. Agradeceu, na realidade, por não ter encontrado Pansy ou ela iria loucamente o fazer querer sexo. Às vezes, Draco ainda ia ali ingenuamente esperando por uma boa conversa, as conversas que costumavam ter antes de ela ter se transformado na frustração que vivia todos os dias, por ele nunca ter se apaixonado por ela. A verdade era que Pansy deveria ficar agradecida, simplesmente, por ele ter consciência de que ela era o mais perto de amar uma mulher que acreditava que um dia poderia chegar.

Aproximou-se da arca onde Pansy deixava suas bebidas absurdamente caras. Pegou um copo do que ela tinha de mais forte e deixou o líquido queimar por sua garganta. Passou a mão pelos cabelos, abriu os botões de sua blusa, tirou os sapatos e afundou no colchão da cama. Voldemort muito provavelmente ainda demoraria a chamá-lo. Draco ficaria a espera, bem ali, sem mover um músculo. Colocou os braços como apoio para a cabeça e fechou os olhos, apenas para descansar a mente dos dias conturbados que tinha passado.

Combater as investidas da Ordem nos últimos dias havia sido uma tarefa mais difícil do que qualquer outra que já fizera. Hermione podia não estar mais com eles, mas definitivamente eles tinham alguma carta na manga que Draco não esperava que tivessem. O nome “Hermione” veio em sua mente novamente. Sempre vinha com uma frequência que ele depreciava intensamente. Lembrar-se do olhar vago que ela havia lhe dado hoje fora a última coisa que sua mente processou ainda em estado consciente.

No estado seguinte, Draco foi transportado para onde era verdadeiramente verão. Havia sol. Havia grama verde. Macieiras, arbustos, dentes-de-leão. Mas o vento era diferente, era forte e bastante presente, fazendo-o perceber que estava no topo de algum vale. Só podia estar do lado de fora da muralha e aquilo o fez se sentir imediatamente bem.

Passou seu olhar pelo local e a viu. O vento balançava seu vestido e o sol, finalmente, dava a Hermione a glória do verão que lhe era apagada nos dias cinzentos de Brampton Fort. Estava de costas e ele podia ver os lindos cachos de seu cabelo lhe descendo até a cintura, ao mesmo tempo que eram levados pelo vento. Só podia ser ela e para sua surpresa, ele queria que fosse. Aproximou-se e à medida que avançou, tomou a consciência de que se fosse mesmo Hermione, ele não poderia estar do lado de fora da muralha. Foi assim que as nuvens cobriram o sol e a única coisa que o fazia saber que era verão, era o vento úmido e quente, assim como em Brampton Fort.

Draco parou a poucos passos de distância dela. Queria tocá-la, sentia falta de tocá-la. Por tanto tempo pôde tocá-la e, embora todas às vezes aquilo parecesse errado, ele gostava. Tinha plena consciência de que estava em um sonho, portanto, apenas deu seu passo final e colocou suas mãos uma de cada lado da cintura de sua mulher. Ele conhecia todas as formas dela. Deslizou suas mãos devagar, alguns centímetros mais baixo, enquanto colava seu corpo no dela. O cheiro de Hermione o invadiu quando ele deixou o vapor de sua respiração passar pela orelha e encontrar o pescoço. Fez questão de inalar mais do seu cheiro. Draco gostava. Era embriagante, doce, floral e natural. Ela não reagiu de nenhuma forma e ele continuou ali, tocando-a, estando fisicamente próximo, mas com aquela distância universal entre eles.

“Quero pular.” a voz dela soou profundamente vaga. Exatamente como estava soando, quando ele percebeu que não havia melodia em seu tom.

Pular aonde? Olhou para frente e pôde enxergar um precipício sem fim, afundar a apenas um passo dela. Se Hermione pulasse certamente morreria. Draco queria que ela morresse, só assim ele estaria livre novamente, livre como antes fora, como antes de enfiar a droga de uma aliança em seu anelar esquerdo.

“Pule.” sussurrou em seu ouvido, como se pudesse ser alguma versão sedutora da morte.

Sua mão deslizou para longe dos quadris dela, quando ela deu seu passo. Pequenos pedaços de pedras e terra caíram precipício abaixo. Uma lufada de vento soprou seus cabelos e seu vestido mais uma vez, e Draco pôde sentir seu perfume pela última vez. Hermione se virou para ele. Seus olhos dourados, sua boca rosada, a linha de seu queixo, o desenho de suas sobrancelhas, tudo nela era perfeito demais. Tão perfeito que agora parecia até mesmo um desperdício que ela se jogasse dali. Mas Draco a queria morta. Mesmo que nunca mais fosse tocar seu corpo, mesmo que nunca mais fosse ouvir seu gemido, mesmo que nunca mais fosse escutar sua respiração dormindo, observá-la acordar, sentir seu perfume, nem escutar sua voz irritante e ao mesmo tempo suave, ele a queria morta. Sempre quisera. Havia a trazido para Voldemort para ter o prazer de assistir a sua morte dramática, lenta e dolorosa.

“Ainda quer que eu pule?” Hermione perguntou, usando aquela voz doce.

Aquela havia sido a pergunta de sua própria consciência, não dela. Em primeiro lugar, quem queria pular era ela! Ele também queria que ela pulasse.

Queria mesmo?

“MÃE!” escutou a voz fina de uma criança gritar longe.

Draco virou-se imediatamente em direção a voz, vendo-se com cinco - seis anos novamente, correndo na direção de onde estava. O menino parecia desesperado, como se estivesse suplicando por algo. À medida que ele se aproximou, Draco percebeu que não era realmente ele. Se parecia muito com ele quando criança, mas não era. Tinha cabelos castanhos, quase loiros, e ele não conseguia discernir exatamente se realmente se parecia com ele ou com Hermione.

“Draco.” sentiu uma mão em seu pulso. Virou de costas e viu Pansy Parkinson. “Eu sabia que voltaria para mim. Sempre volta.”

De onde Pansy havia aparecido? Draco não tinha tempo para ela, agora. Voltou-se para a figura do menino e ele tinha lágrima nos olhos enquanto ainda corria. Virou-se para o penhasco e o lugar de Hermione estava vazio. Seu coração pulsou ao mesmo tempo em que se desvencilhava da mão em seu pulso, avançava para o lugar onde Hermione deveria estar e o nome dela vinha como um vômito em sua garganta.

– Hermione! – ele abriu os olhos e tudo que viu foi o quarto escuro e arroxeado de Pansy Parkinson. Seu coração batia forte contra suas costelas e Draco ainda conseguia escutar em seu subconsciente o eco de sua própria voz. Virou o rosto e ainda conseguiu pegar Pansy ao seu lado, murchando o próprio sorriso.

O silêncio entre eles foi incômodo e Draco torceu para que tivesse dito o nome de Hermione apenas em seu sonho.

– Sonha com ela? – Pansy soltou com desgosto. Não parecia nada contente e foi aí que ele soube que havia mesmo aberto a boca para pronunciar o nome de sua mulher.

Draco soltou o ar e relaxou seus músculos. Se Pansy estava frustrada com ele, ele também tinha o direito de ficar frustrado com si mesmo. Ergueu as mãos e apertou os olhos com os dedos. Sentou-se pisando os pés no carpete, apoiando os cotovelos um em cada perna e tomando seu tempo para soltar um longo suspiro, enquanto sentia o próprio coração se acalmar. Foi apenas um sonho idiota.

– Draco. – a voz de Pansy o chamou de maneira séria, a suas costas. Ele não queria lidar com ela agora. Não respondeu. – Draco! – ela tornou a chamá-lo. Ele continuou mudo. Escutou-a se arrastar para fora da cama. Parou de braços cruzados a frente dele. – Há quanto tempo não faz sexo com ela?

Draco uniu as sobrancelhas, confuso, pela pergunta dela. Ergueu os olhos para encarar sua figura vestida num de seus vestidos justos e curtos de verão. Não entendeu o porquê da pergunta e considerando que Pansy sabia coisas sobre ele mesmo que nem ele sabia, apenas respondeu considerando entender qual a teoria que a mulher tinha, para ter feito aquela pergunta.

– Bastante tempo.

– Seja mais específico. – ela pediu ainda com os braços cruzados.

Draco puxou o ar.

– Quase um mês. – disse. Não sabia exatamente. Talvez não fosse realmente quase um mês, mas a verdade é que parecia quase um ano.

Pansy ergueu apenas uma sobrancelha, como se duvidasse da veracidade daquela resposta.

– Têm uma mulher na cama todos os dias e não a toca há quase um mês?

– Temos nos evitado. – foi tudo que ele respondeu, tornando a abaixar os olhos para o carpete. Não queria chegar ao tópico da gravidez, primeiro, porque Pansy não sabia nem deveria, segundo, porque não queria dar a entender que estava respeitando o espaço de Hermione, o que na verdade não estava. Pois apenas lhe faltava força de vontade e interesse para quebrar o muro que havia se erguido entre eles, já que sabiam que na verdade faziam sexo porque Hermione precisava engravidar. E agora que eles haviam cumprido com seus deveres e o peso do resultado os atormentava, fazer sexo não parecia tanto a solução de seus problemas, nem o mais atrativo dos entretenimentos.

– Esteve com outras mulheres, não esteve? – Pansy perguntou.

Claro que Draco estivera. Sam havia sido uma delas, mas essas mulheres se resumiam ao número mínimo de três, sendo que em tempos passados, ele teria duplicado esse número. E tudo bem que estava começando a se acostumar com a realidade de que ninguém lhe daria o sexo que ele tinha com Hermione, mas continuava a ser frustrante todas as vezes que se aventurava nesse campo e sexo nunca, em hipótese alguma, poderia ser frustrante.

– Sim. – ele respondeu.

– Mas você a quer, não é?

– Sim.

– Por isso sonha com ela?

– Não. – Draco soltou sem hesitar e aquilo foi tão esclarecedor para ele quanto para a mulher, ali. Ele não estava sonhando que tocava Hermione novamente, não sonhava que escutava seu gemido, nem sentia suas partes quentes, úmidas e apertadas o envolver. Sonhara apenas que ela dava fim a própria vida.

– Não gosto da forma como você tem demonstrado se importar com Hermione a esse ponto. – Pansy foi sincera, como sempre era.

– Nem mesmo eu. – ele findou, se levantando.

Passou por ela, pegou o copo que havia deixado em uma de suas estantes, foi em direção a arca, o encheu e o virou de uma vez. Puxou o relógio do bolso e viu que já era madrugada. Não tinha noção de que estava tão cansado. Olhou a marca em seu braço e ela continuava lá, mas não queimava, não ardia, nem mesmo formigava. Se o Lorde queria adiar a conversa que deveriam ter sobre a guerra, para Draco era apenas benefício. Poderia continuar a levando da forma como bem entendia. Recolocou o relógio no bolso e virou-se para um dos espelhos na parede. Ajeitou os cabelos da melhor forma possível e abotoou os botões que estavam abertos. Sua camisa estava amassada e ele usou a varinha para se colocar novamente de forma apresentável a qualquer público que pudesse o ver àquela hora.

– Está indo embora? – a voz de Pansy tornou a soar.

– Sim. – ele gostava de perguntas que poderia responder apenas com sim e não.

– Não vem ao meu quarto há quase um milênio e, simplesmente, vai embora assim? – Draco conseguiu ver o olhar de insatisfação dela pelo espelho, bem as suas costas.

– Eu apenas precisava de um lugar confortável que não fosse a casa infernal dos meus pais, a minha que é ocupada por uma esposa e meu escritório com aquelas pilhas de trabalho em cima da mesa.

Ela sorriu e Draco soube que para ela, aquilo havia soado como um coral de anjos e que o fato de ter dito o nome de Hermione enquanto dormia, não passava de mais um dos infortúnios relacionados à presença da Sangue-Ruim em suas vidas, agora.

– Sinto falta do nosso sexo. – Pansy disse, usando a voz que sabia que o seduzia. – Você não sente? – perguntou, enquanto se sentava na cama de uma forma muito provocadora.

Draco virou-se para ela. Na verdade, o único sexo que ele sentia falta era o de Hermione, mas disso Pansy já sabia e ele não gostaria de lembrá-la.

– Sabe que um dia irei sentir. – optou por dizer.

Ela incorporou o teatro de sempre e fez aquele bico de quem estava falsamente chateada.

– Sei, mas está demorando muito. – disse e Draco sorriu. Não gostava dos teatros dela, mas fazia bastante tempo que não a via em suas performances. – Estou me cansando de ser paciente. – Pansy deitou se apoiando nos cotovelos, exatamente da forma como sabia que iria provocá-lo e aquilo o fazia se lembrar de como o corpo dela também era bom. Era o corpo familiar de Pansy Parkinson e nunca deixava de ser sexy.

Draco se aproximou, deixou sua mão correr por uma de suas pernas, afastou-as, segurou Pansy pela cintura e a arrastou para o centro da cama, encaixando seu corpo no dela quando se deitaram.

– Paciência é algo que aprendeu a ter quando se apaixonou por mim, Pansy. – disse bem próximo de seu rosto.

– Não posso ir contra esse argumento. – a mulher disse e eles sorriram. Ela enfiou sua mão nos cabelos dele tornando a bagunçá-los. – Passe a noite aqui. – pediu.

Draco considerou, enquanto analisava todas as linhas do seu rosto de perto. Ela era bonita, muito bonita. Ele sabia bem apreciar a beleza de toda mulher. Foi quando percebeu que a boca dela estava um pouco inchada e sem batom. Fez seu dedo desenhar a linha do seu lábio inferior. Puxou um sorriso.

– Com quem estava, Pansy?

Ela sabia do que ele se referia.

– Com dois dos seus homens. – respondeu ela e Draco riu.

– Se divertiu?

– Sabe que sim. – Pansy usou daquele tom sedutor de novo. – Por quê? Está com ciúmes?

Draco riu mais alto. Não tinha ciúmes dela, nunca tivera, e ela também dizia que não tinha dele, mas sabia que Pansy tinha. Ela dizia que não tinha porque sabia que ele gostava daquele relacionamento aberto. O relacionamento que teriam se caso chegassem a se casar.

– Eu tenho que ir pra casa. – esse foi veredicto final de Draco, sobre considerar passar a noite ali. Deixou-a na cama e colocou seus sapatos.

– Mas você não quer ir. – Pansy argumentou, quase que em protesto.

– Hermione está me esperando e o assunto que eu e ela temos a tratar é do meu interesse. – Sim, Draco sabia que sua mulher estaria o esperando e já que Voldemort não havia o chamado, ele adiantaria seus serviços.

– São duas e meia da manhã. Eu tenho certeza de que Hermione não estará te esperando. – ela se sentou novamente.

– Eu tenho. – foi tudo que ele disse, antes de deixar o quarto.

Desceu as escadas da torre de Pansy e quando chegou ao pátio, sua carruagem estava lá o esperando, como sempre. Não teve nenhum problema durante sua viagem para a vila dos comensais. Ir para casa era apenas um problema no inverno com todo aquele gelo.

Quando olhou pela janela para ver a fachada de sua casa, enquanto fazia a volta no pátio para estacionar de frente à escadaria, Draco ficou surpreso por não ver nenhuma luz acessa em nenhum dos andares, nem mesmo a sombra de alguma luz. Desceu assim que parou e quando passou para o lado de dentro foi recebido pelo silêncio e pela penumbra.

Ele tinha certeza que se Hermione tivesse buscado o que pediu para que buscasse em seu escritório, ela não estaria dormindo. Passou os olhos pela enorme sala, fitou o lustre e as cortinas fechadas bem como gostava. Hermione ainda insistia em mantê-las abertas durante o dia. A verdade era que ela havia mudado bastante a rotina e a ordem daquela casa desde que chegara ali. De início, lutara bastante, mas agora apenas havia se cansado. Estalou os dedos e num segundo Tryn estava a sua frente com os olhos apertados.

– Onde Hermione está? – ele perguntou.

– A sra. Hermione Malfoy se retirou para os aposentos a quase três horas atrás. – a voz da elfa estava rouca de sono.

Ele desconfiou. Passou pela criatura e seguiu caminho adentrando mais a casa. Seu estômago protestava pela falta do jantar e Draco sabia que não deveria comer àquela hora, mas mesmo assim, passou pelo salão da sala de jantar e pelas câmaras chegando até a cozinha.

Ele a encontrou lá. Sabia que Hermione não teria dormido. Desceu três degraus para o chão de madeira maciça e envelhecia da cozinha. Era o lugar mais simples que havia na casa e quem o frequentava eram apenas elfos, mas Draco não se importava com as lições de sua mãe e, aparentemente, Hermione também não.

Ela estava sentada na bancada que havia bem no meio do ambiente e ergueu os olhos para ele, assim que apareceu. Eles estavam vermelhos e Draco soube que ela havia chorado. Sempre ficava grato por não presenciar quando Hermione fazia isso e ela também fazia questão de não deixá-lo ver.

– Não sabia que frequentava a cozinha. – ela usou uma voz baixa para se manifestar. Seu tom continuava sem aquela melodia que Draco conhecia. Vê-la, o fez se lembrar do sonho e de sua voz dizendo que gostaria de acabar com a própria vida.

– Venho quando tenho fome. – aquilo era uma mentira, mas sabia que Hermione apenas havia dito aquilo porque fora informada que a cozinha era local para elfos.

Ela não disse mais nada. Draco se aproximou e passou por ela, que não se preocupou em ajeitar a postura como havia sido ensinada. Ele viu um pote de alguma comida estranha bem ao lado da pasta que pedira para Hermione buscar em seu escritório na Catedral.

Ele puxou a tábua de um pão e trouxe para a bancada, buscou um queijo que havia num dos gabinetes e, de uma pequena adega embutida na parede, pegou um vinho. Quando foi buscar sua taça, pensou nela.

– Quer vinho?

– Não. – Hermione respondeu e eles voltaram para o silêncio.

Draco se sentou bem a sua frente, derramou vinho em sua taça, cortou uma fatia de pão e uma fatia de queijo, juntou os dois e comeu um pedaço. Bebeu quando sentiu sede. Apenas não desgrudou os olhos de Hermione e ela também fez o mesmo, colocando na boca uma colher do que quer que fosse aquilo em sua taça.

Draco sabia que Hermione tinha muitas perguntas. Tudo que ele tinha certeza, desde que ela entrara naquela casa, era que sua mulher tinha muitas perguntas e havia tentado resposta para algumas delas, mas a maioria ele não respondia por que não queria e o resto porque não poderia. Draco esperou que Hermione soltasse a pergunta, mas nunca vinha.

– O que é isso? – ele apontou com a cabeça para a taça dela.

– Sorvete. – ela respondeu com a voz muito uniforme.

Draco precisou de alguns segundos para se lembrar que aquela era uma comida trouxa.

– Onde conseguiu isso aqui?

– Fiz. – Hermione respondeu sem muito caso – Algumas vezes, apenas não consigo superar o fato de não comer algo que quero.

Ele sabia que aquilo era culpa da gravidez e novamente se lembrar da gravidez o fez se lembrar daquele garotinho em seu sonho, correndo cheio de desespero. Draco não conseguia mais se lembrar do rosto que a criança tinha.

Eles ficaram em silêncio. Um silêncio eterno. Draco estava começando a desconfiar de algo muito estranho. Ele sabia jogar com Hermione. Jogava com ela desde que assumira a posição de líder do exército. Conhecia-lhe e ali, vendo-a calada com aquela pasta na mão, era como não reconhecer a mulher com a qual esteve lutando uma guerra por anos.

– Não vai fazer suas perguntas? – Draco teve que se manifestar, depois de muito se perguntar o que havia de errado com ela.

Hermione apenas piscou com calma, seu olhar vazio, como nunca antes. O mesmo olhar que usara para olhá-lo naquele sonho. Sua boca pressionou a comida garganta abaixo e ela entreabriu os lábios.

– Não. – ela disse, com a voz cansada e pesarosa.

Draco continuou a observá-la, naquela troca de olhares que eles mantinham parecia fazer horas. Aquela não estava sendo a Hermione que ele esperava que fosse.

– O que há de errado? – perguntou sem pensar, se arrependendo no mesmo segundo em que se calou. Nunca, nunca fazia nada sem pensar! Maldita hora em que se sentia familiar demais com a presença de Hermione.

A pergunta fez com que ela piscasse os olhos, ainda com calma, e deixasse uma linha de dúvida surgir em sua expressão.

– Você não quis fazer essa pergunta. – Hermione soltou. A voz suave.

Draco ocupou sua boca com vinho, apreciou o sabor antes de engolir.

– Tenho como voltar no tempo? – disse, tirando as dúvidas dela.

Hermione suspirou e desviou o olhar para a pasta. Seus dedos correram a capa e ela a abriu. Mais uma colher de sorvete foi para sua boca. Ele teve curiosidade de experimentar aquilo. Santo Deus! Será que Hermione tinha consciência de como cada milímetro de seu rosto, em cada movimento singular, principalmente sua boca, fazia com que ele tivesse vontade de sumir com aquele balcão entre eles? Levou outro pedaço de pão a boca, enquanto checava se sua expressão continuava neutra.

Os olhos dela passaram pela folha tempo o suficiente para que o fizesse saber que ela lia. Talvez, pela milésima vez. Quando Hermione tornou a erguer os olhos, havia mais sorvete dançando em sua boca. Draco teve inveja daquela comida maldita. Sustentaram aquela troca de olhar em silêncio, mais uma vez, por infinitos minutos.

– Uma saca de galeões pelos seus pensamentos. – Ele se viu quebrar o silêncio.

– Dez pelos seus. – ela retrucou.

Sentiu o canto de seus lábios se esticarem num sorriso. Tomou um gole de seu vinho. Estava odiando o rumo que tudo aquilo estava tomando. Ele estivera esperado por um comportamento muito diferente daquele.

– Acho interessante o conceito de sermos tão próximos, e ao mesmo tempo, tão distantes. – cortou um pedaço de queijo. – Algumas vezes acho que te conheço, em outras, acho que tudo sobre você é um grande mistério. – colocou-o na boca.

Hermione piscou com calma.

– Não minta. Sabe que estou sendo bastante previsível.

– E deve estar se odiando por isso.

– Eu não me importo mais. – ela deu de ombros.

Draco sorriu.

– Você não quer se importar. Isso é muito diferente de não se importar. – o olhar dela mostrou que aquilo era uma verdade bastante dolorosa. Ele simplesmente odiava a forma como Hermione mostrava sua alma inteira por aqueles malditos olhos.

Hermione suspirou fechando e abrindo os olhos lentamente, num ato completamente frustrado. Fechou a pasta e a pegou, usou a varinha para limpar a própria taça e se levantou. Quando ela deu a volta no balcão, foi quase impossível fazer com que seus olhos não caíssem para a quase imperceptível ondulação que havia na parte mais inferior de sua barriga. Desviou o olhar o mais rápido que pôde. Embora o tamanho fosse mínimo, para Draco parecia estar quase em evidência, pela forma como Hermione amarrara seu robe na cintura. Não era nada como o vestido que ela havia usado na Catedral.

O pedido para que ela disfarçasse mais aquela barriga quando estivesse em casa, também ficou entalado em sua garganta, quando Hermione colocou a pasta sobre a bancada bem a frente dele.

– Eu não sei quais os planos que tem me passando isso, Draco, mas farei o que quer que eu faça. – ela deu o seu ultimato sobre o assunto, em seu tom sem vida.

– O quão horrível é saber que está confiando em mim? – ele perguntou com aquele sorriso irritante, quando voltou seu olhar para ela.

– Eu tenho motivos demais para me martirizar, ainda é confuso saber qual deles mais me atormenta. – Hermione respondeu, embora soubesse que o marido nada mais fazia do que implicar.

Draco franziu o cenho, nada contente, com aquela resposta. Não era o tipo de resposta que Hermione daria para uma implicância estúpida dele. Ela nunca se rendia as ignorâncias que ele gostava de lançar-lhe no ar. Segurou-a pelo pulso quando fez menção de tomar seu caminho. Puxou Hermione para si, abrindo seu corpo para ela. Cercou sua cintura e fez com que seus rostos ficassem a centímetros de distância.

– Eu não sei qual tem sido o seu problema, Hermione, mas é melhor tratar de resolvê-lo. Isso tudo é um jogo muito perigoso e se escolher desistir de jogá-lo, vão te carregar para o fundo do poço. – Draco começou baixo, porém firme o suficiente. - Malfoys nunca vão para o fundo do poço. – Sibilou. Sentiu o hálito dela contra ele. Estava gelado. Tinha aroma de baunilha. – Não tem mais amiguinhos babacas para amarrar o cadarço dos seus sapatos quando se sentir fraca demais para isso. Aprenda a sobreviver sozinha. Use o cérebro que tem. Conseguiu ser brilhante para me fazer demitir minha ex-secretária e ter minha torre toda para você, mas mandar Lovegood invadir meu escritório? Aquilo não foi nada inteligente! Não pode deixar que o seu miserável estado de espírito desligue o cérebro que tem! – ele estava começando a ter raiva do quanto queria devorá-la por inteiro. Seu cheiro, sua respiração, seus olhos e a boca. A boca! – Eu não te quero no fundo do poço, porque se for parar lá, eu também irei e se eu souber que fui para o fundo do poço por sua culpa, juro que saberá o que é ter um péssimo marido. – havia aprendido bem com seu pai.

– Não é como se você fosse um bom. – Hermione continuava com aquele maldito tom.

– Escute! – seus dentes cerraram e Draco soltou o pulso dela para lhe segurar pela mandíbula. Conseguia ver cada detalhe de sua íris de tão próximo, e céus, como ele queria aquela boca. – Considere o recesso que estou dando para a relação física que temos. Um ato de extrema compreensão ao seu estado atual.

Ela se desvencilhou dos dedos dele.

– Não é como se eu não gozasse todas as vezes que me toca, Draco. – ela usou um tom ríspido – Sim, eu odeio saber que me dá prazer, mas isso só faz você se sentir bem, não é? Saber que eu tenho que conviver com o peso de gostar do sexo que temos. – como se Draco também não tivesse que carregar esse peso. - Você não me toca porque quer fugir do estado em que eu me encontro. Não quer ver, não quer se lembrar, não quer tocar. – ela se afastou, desvencilhando-se dos braços dele. – Ao menos pode fugir disso. Queria eu ser você.

Hermione deu as costas e saiu, deixando aquele tom infernal ficar ecoando pelas paredes. Draco voltou-se para sua comida, sentindo o desconforto das palavras dela. Maldita hora em que se vira encurralado para dizer a Voldemort que ela tomava poções. Se a loira lunática ao menos tivesse encontrado uma forma de ocupar os espaços vazios que deixava nas gavetas da enfermaria, talvez ele ainda estivesse tentando enrolar com o caso do maldito herdeiro.

Lançou o pedaço de pão que estava a meio caminho de sua boca, em uma tentativa frustrada de externar a raiva que seus pensamentos lhe provocavam. Puxou a pasta que mandara entregar para Hermione disfarçada de memorandos para o departamento de Theodoro. A abriu e viu a lista de agendamentos para saída do portão norte do dia de amanhã. Ela havia marcado dois nomes. Os dois primeiros e os dois que ela sabia pelos históricos, que havia colocado a mão, que eram os que deixavam Brampton Fort diariamente.

Fechou a pasta e a empurrou para longe. Girou a varinha e ela se consumiu em fogo até virar cinzas sobre a mesa. Tryn daria um jeito naquela bagunça, assim que o sol aparecesse e clareasse o dia. O que Draco precisava era de Luna Lovegood de volta na Ordem, carregando tudo que sabia que Hermione faria carregar para fora daquelas muralhas.


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Notas finais do capítulo

Ahhh eu adoro a forma como o Draco pressiona a Hermione para ser forte de um jeito totalmente único. Ele tem uma outra visão de vida e adoro como as duas visões deles entram em conflito com tanta facilidade simplesmente por causa da péssima comunicação que tem um com o outro. Essa familiaridade também que eles tem desenvolvido é uma delícia, porque nenhum dos dois quer ser o primeiro a abaixar a guarda e simplesmente agir naturalmente. haha Quero só ver até onde isso vai levar os dois. haha :) Definitivamente o Draco não consegue parar de pensar na Hermione e isso ta fazendo ele ir a loucuraaaa hahaha
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