The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 6
Hello NY




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Assim que pegamos o táxi e saímos daquele caos de aeroporto o cenário mudou da água para o vinho, foi a prova concreta de que eu estava em um outro universo quando vi todas aquelas pessoas nas ruas, entrando e saindo de vitrines, os telões e arranha céus que eu só via na televisão agora ali ao vivo e à cores. Até o trânsito foi uma parte boa por que eu pude observar melhor tudo ao meu redor, abaixei o vidro do táxi e inalei aquele cheiro de fumaça de automóvel e poluição. O barulho de buzinas e máquinas perfurando o asfalto em alguma obra perto típicos de Nova York era um contraste com o silêncio perturbador de Lexington, tudo aqui era diferente, mais vivo e de um brilho inexplicável.

A casa da tia Joyce ficava na melhor parte do Brooklyn, era pequena e modesta, as paredes cor salmão desbotadas em contraposição com os móveis novos. Meu quarto era dono dimensões claustrofóbicas, metade do espaço do que eu tinha em Lexington, porém confortável. Minha tia me deixou ali para que eu pudesse me familiarizar com o lugar mas assim que a porta fechou fui nocauteada pelo cansaço e despenquei na cama.

–--

— Boa tarde, bela adormecida — cumprimentou o tio Roger sentado na mesa da cozinha com seu jornal.

— Hã... boa tarde — respondi por educação.

Assim que a tia Joyce voltou do fogão trazendo uma frigideira cheia de comida, me sentei à mesa e comecei a devorar o banquete.

— Minha nossa, você está com fome — o tio Roger reparou quando eu atacava os ovos com bacon ferozmente.

— Já faz horas que ela não come, Roger. — explicou tia Joyce — Viajou até aqui sem comer nada no avião e ainda por cima dormiu até agora sem nada no estômago.

— Já são duas da tarde — lembrou ele.

— Eu sei. Daqui a pouco vou passear com ela pela cidade.

— Então forre bem esse estômago, Aurora — meu tio soltou uma risadinha — Por que se depender da sua tia vão ficar fora por um bom tempo, acho melhor pôr sapatos confortáveis também e recarregar sua cota de paciência.

— Roger! — tia Joyce deu uma tapa de leve no ombro dele.

Comecei a rir quase sem querer daquela cena hilária, não vejo um casal se comportando assim desde que meu pai faleceu.

–--

— Ali tem uma loja de grife daquelas que você vê em desfiles na televisão, vamos vou lhe mostrar — falou tia Joyce pegando no meu pulso e me puxando para a quinquagésima loja da tarde.

Nunca andei tanto em toda a minha vida e passei a adorar ainda mais o tio Roger, graças a ele me mantive de pé. Tudo aquilo estava sendo incrível mas eu não queria estragar o brilho de NY visitando mais e mais lojas que não tinham nada a ver comigo.

— Tia Joyce, por aqui tem alguma livraria ou biblioteca?

— Sim, que eu saiba — ela parecia decepcionada — Acho que é por ali, vou deixá-la lá.

— Não. — impedi — Eu posso ir sozinha.

— Tudo bem, me encontre depois na Coffee’s Mary.

Andei até a biblioteca mais perto, assim que entrei um cheiro delicioso de café inundou meu olfato. O lugar era enorme e silencioso, embora enquanto eu andasse entre as prateleiras ainda escutasse alguns murmúrios. Livros, livros e mais livros, aquilo era o paraíso. Por entre aquelas estantes haviam brechas que davam para ver a outra seção, em uma delas vi um rosto, era um rapaz de cabelo castanho-claro e olhos cuja tonalidade não consegui identificar de imediato até eles pousarem em mim. Mel, puxado para o chocolate. Senti meu rosto virar um tomate à medida que os segundos se passavam e aquele par de olhos continuavam a me fitar. Desviei antes que aquilo ficasse constrangedor demais, escolhi um livro de revestimento vermelho desbotado e volumoso cuja capa tinha o título em letras douradas: O mistério de Jokins.

Sentei em uma mesa de dois lugares desocupada bem ao lado da janela da biblioteca — onde se tinha uma vista privilegiada da rua movimentada — e abri o volume. Minutos depois ouvi o barulho da cadeira à minha frente rangendo suavemente no chão e parando logo em seguida. Abaixei o livro e vi o rapaz de segundos atrás sentado no assento agora não desocupado.

— Ou é sina ou você está me perseguindo — disparei irritada.

— Em qual das duas opções prefere acreditar? — ele perguntou com um sorriso torto.

— A segunda me parece mais convincente. Você tem cara de assassino psicótico.

— Bom, então acho que devo me apresentar, meu nome é Dean, Dean O’Conner, assassino psicótico disfarçado. — Arregalei os olhos e Dean começou a rir, um pouco alto demais para uma biblioteca e ele recebeu vários “Shhhhhh” até calar a boca. — Qual o seu nome?

— Hã... Aurora Hopper — apertamos as mãos.

— Sabe quando você olha para uma pessoa desconhecida de semblante sério e imagina como deve ser quando ela sorri? — perguntou ele com os cotovelos apoiados na mesa e os olhos fissurados nos meus — Às vezes nos surpreendemos outras nos decepcionamos, mas no seu caso... É uma incógnita. Um mistério, um enigma.

Ponderei sobre aquilo por alguns segundos bem longos, já havia ouvido isso um monte de vezes e acabei me lembrando do meu pai, de como todo mundo, até minha mãe, o julgava enigmático e retraído quando para mim ele era a pessoa mais maravilhosa do mundo. Se Dean disse aquilo de modo ruim eu não sabia, ou talvez aquele sorriso que se arrastou nos lábios dele fosse uma pista de que era um elogio.

— Você é daqui mesmo? — perguntei indiferente.

— Sim, quer dizer, me considero daqui já que moro em Nova York desde os três anos. E você?

— Sou de Lexington, Ohio.

— Está aqui desde quando, Aurora?

— Ontem. — respondi achando que ele já havia feito perguntas demais.

— Está gostando?

— Bom… — faisquei os olhos pela vitrine — Nunca vi nada igual.

Ele fez uma pausa, seguiu meu olhar e depois pousou em mim, rua, mim, rua, mim. Passou a mão pelos cabelos e olhava para a mesa quando perguntou:

— Eu não sei se estou sendo precipitado, mas você quer sair comigo amanhã? — seus olhos levantaram na minha direção, apreensivos.

— Não é de mim sair com assassino psicótico. E por que eu aceitaria? Só conheço você a minutos.

— Tudo bem, então vou ter que sequestrar você — ele sorriu maliciosamente.

— Estas são as minhas opções?

— A morte não vale. — Dean balançou a cabeça negativamente.

— Hmm — semicerrei os olhos — Amanhã às sete.


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