The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 22
Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas aqui está! :)



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Quando eu e Dean chegamos em casa, surpreendentemente mamãe e Grace ainda estavam acordadas na sala. Não durou muito tempo até que o programa acabasse e elas fossem dormir, ou pelo menos Rachel pois Grace tem o costume de ficar até tarde mandando mensagens pelo celular. Fui para meu quarto e O'Conner seguiu a nova regra da casa que o obriga a dormir no sofá.

Não consegui fechar as pálpebras, minha mente se encontrava perturbada e inquieta demais, isto se transformou em um irônico contraste com a atmosfera do lugar onde eu estava. Abri a janela e uma brisa fria cortou meu rosto, pus uma parte do corpo para fora e contemplei as casas com seus moradores anônimos fazendo sei-lá-o-quê. Janelas iluminadas, algum lampejo de vida aqui e ali, a escuridão celeste e nada mais. O silêncio mortal foi como um descanso aos meus ouvidos, mesmo assim Nova York ainda me parecia um bom lugar com tanto barulho e agitação impedindo que pensamentos negativos emergissem.

Algumas batidas suaves soaram da porta. Descartei a possibilidade de ser Rachel, entre as duas outras opções que sobraram achei que seria mais provável ser Grace. Atravessei o quarto e girei a maçaneta.

– Dean?

– Shhh - ele entrou pela mínima brecha entre eu e a parede.

Olhei pelo corredor como precaução e depois fechei a porta.

– Louco, se minha mãe não te ver no sofá ela mata você.

– Ela está desmaiada na cama - ele garantiu. - Eu só quero passar um tempo com você sem o olhar de coruja da sua mãe por perto.

– Tudo bem - consenti - Mas não amanheça aqui.

– Combinado.

Ele se acomodou ao meu lado na cama e dividimos o mesmo travesseiro, por sorte Dean não era tão largo para tomar tanto espaço. O frio aos poucos tomou conta do quarto, o que me obrigou a fechar a janela e nos cobrir com o edredom. Apoiei a cabeça no peito de O'Conner e essa acompanhava o movimento respiratório de sua caixa torácica. Minha falta de sono quase se esvaiu enquanto ele enterrava os dedos em meu cabelo e o afagava.

– Aqui é tão calmo - ele murmurou. - Eu queria poder viver aqui.

– Senti falta dessa calmaria, antes de Nova York esse silêncio me torturava. Agora serve de consolo aos meus pensamentos.

Ele sugou uma grande quantidade de ar e expirou lentamente.

– Você não está bem.

– Você é muito observador.

– Sabe, naquela hora que eu fiz você recusar o cigarro, entenda. Desde que eu vi seu estado quando soube da morte de sua vó não consigo mais esquecer. Na ponte do Brooklyn... - sua voz soou distante - E eu sei que você já teve um passado rodeado disso, dessas drogas. Mas Aurora, há inúmeros meios de contornar os problemas ou simplesmente trespassá-los.

– Dean, eu saí de Lexington justamente para fugir dos meus problemas. No entanto quando chego aqui... Olha, o que eu vou fazer agora?

O'Conner suspirou.

– Você continua escrevendo?

– Não - parei desde que soube da notícia.

– Eu lembro de que quando você começou se sentia mais leve. Antes você fazia das drogas seu refúgio, escreva e seja livre.

– Como assim?

– Quando pomos nossos medos, angústias ou alegrias em um papel é como se... estivéssemos compartilhando nossos segredos mais profundos com algo que não vai usar isso contra nós mesmos. Um papel não te julga, só absorve suas palavras e no fim, quando você as relê acaba encontrando respostas.

"Um papel não te dá conselhos", ele continuou "mas é por isso que estamos aqui, eu, sua família e seus amigos".

Era algo a se pensar, mas eu não estava com cabeça para isso ainda. Havia um tumor no meu coração que aumentava e doía cada vez que eu pensava em Edith, mas o que me deixava mais irritada era no quanto eu chorava agora. Quer dizer, eu nunca achei que passaria por esta dor de novo depois da morte do meu pai e agora essa droga de sentimento volta com vigor.

– Vou ter que voltar para casa - Dean interrompeu meus pensamentos.

– O quê? - sentei-me rapidamente e o encarei descrente.

– Eu queria poder ficar mais, Aurora, mas não posso.

Foi como um baque. Fui atingida por um onda enorme, gigantesca e intimidadora de realidade. Havia Lisa, Dean precisava cuidar dela e continuar a vida... longe de mim.

– E-Eu sei.

Ele se sentou ao meu lado e varreu uma mecha de cabelo do meu rosto.

– Eu tenho que cuidar de Lisa e de algumas coisas. Não sei se ainda vou trabalhar na biblioteca, quem sabe eu procure algo melhor, não é?

– Sim, é claro. Ótimo - respondi automaticamente.

– Por favor, prometa que não vai se aproveitar da minha ausência para fazer coisas que não deve.

– Não gosto de promessas - falei sem olhar para ele. - Aliás, por que as pessoas prometem? Que sentindo há nisso? Idiotice dizer "eu nunca" ou "eu sempre" quando não se tem certeza de que nunca ou sempre o fará. Desculpa, isso não tem nada a ver. Mas você concorda comigo, não é?

– Sim, acho até que você está cada dia mais pensando como eu.

– Quer dizer, mais insana e completamente perturbada?

– Isso - ele se inclinou e beijou minha bochecha.

Por um momento me perguntei o que fiz para merecer um namorado como O'Conner, justo eu que depois de Brad deixei de acreditar que ainda existissem caras como ele. Eu já me acostumei com sua presença, as coisas com minha família melhoraram, mas como vai ser quando Dean se for? Uma máquina funciona perfeitamente com todas as peças juntas, mas quando se tira uma, nem que seja supérflua, diminui significativamente sua garantia de ausência de falhas.

– Eu detesto e sou péssima com despedidas, mas... - Levantei e fui até o guarda-roupa, onde por entre as diversas roupas desarrumadas e entulhadas guardo uma caixa de objetos variados, entre eles estava o broche prateado em forma de pena. Ganhei do meu pai quando tinha 5 anos, não seria uma erro passá-lo para alguém que significa tanto para mim quanto ele. - É a forma que sei definir uma despedida, alguém levando uma parte de mim. Por favor, só aceite.


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