The place that never sleeps escrita por Elizabeth


Capítulo 19
Lar




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Quando Jamine parou o carro em frente à casa respirei fundo. As luzes acesas das janelas formavam poças de luz retangulares no gramado ao crepúsculo. O que antes era meu pesadelo agora se tornara realidade: o simples fato de voltar. O lugar onde nasci, de onde já saí e retornei tantas vezes continuava não me trazendo pensamentos felizes.

— Pronta? — perguntou Jasmine.

— Não. — Respondi sem emoção. — Mas vamos lá. Obrigada por tudo Jasmine.

— Não precisa agradecer — ela disse dando um meio sorriso — Vamos nos ver de novo. Eu acho.

— É claro que sim — garanti.

Eu e Dean descemos do carro, Jasmine arrancou e observei o veículo dobrando a rua. O’Conner entrelaçou a mão na minha e puxei ar dos pulmões novamente. Andamos até a porta e toquei a campainha, depois de algum tempo de silêncio ouvi rumores de passos vindo em nossa direção, quem abriu foi Rachel, sua expressão era como se já estivesse consciente há muito tempo da minha chegada.

— Aurora — ela disse com um tom esquisito de alívio.

— Mãe — repliquei.

— Dean — falou ele mesmo.

❧ ❧ ❧

— Não houveram muitas mudanças como pode ver, na verdade tudo ainda está no mesmo lugar — mamãe disse.

Tirei a prova do que ela disse quando notei que nenhum móvel fora arrastado ou uma cadeira havia sido tirada do lugar. Estávamos jantando, todos reunidos, eu, Rachel, Grace e Dean. A comida estava péssima, na verdade eu não sabia bem o que era mas colocava goela abaixo sem tomar gosto reprimindo uma careta.

— Ela tentou cozinhar — revelou Grace — Mas não saiu como esperava.

Mamãe pareceu meio envergonhada, remexeu-se na cadeira e se virou para O’Conner.

— E você, rapaz? Edith havia me contado que minha filha estava namorando — ela tentou ser complacente, mas o termo “minha filha” não era bem uma colocação que ela costumava usar.

— Bom, sim. E é um prazer conhecê-la pessoalmente. Sinto muito por sua perda. — Dean disse antes de enfiar uma garfada na boca e em seguida tomar goles generosos de água.

— Tudo bem, nós somos sobreviventes, não é a primeira grande perda que sofremos. — Ela parou de remexer na comida no prato. — É como uma guerra, você vence uma e quando outra vem se acha um pouco melhor preparado. No fim das contas, tem que lutar para se manter de pé e vencer o inimigo.

— Que inimigo? — Dean perguntou.

— O medo. — Rachel respondeu absorta em pensamentos — E ele deixa cicatrizes permanentes gravadas na nossa pele.

Minha fome, que já não era muita, desapareceu por completo. Meus olhos inevitavelmente vagavam para o acento que era usado por Edith, agora ocupado por Grace. Ela encontrou meu olhar e desviou logo em seguida para O’Conner.

— Bom, o jantar estava maravilhoso — ele deu um falso elogio.

— Não precisa mentir, Dean — para a surpresa de todos, mamãe falou — Eu sei que está uma porcaria, na verdade não cozinho há anos, perdi meus dotes culinários. Quem cozinhava aqui era Edith, sua comida vai ser uma das coisas das quais sentiremos saudade. Ultimamente tenho pedido comida de fora, mas quando Joyce ligou para avisar que vocês vinham eu quis arriscar preparar algo.

— Ideia pavorosa — resmungou Grace.

Rachel lançou-lhe um olhar de esguelha.

— Jonh adorava minha comida. Claro, quando eu ainda sabia fazer uma gororoba melhor — ela sorriu.

— Vai começar — sussurrei.

— O que disse? — ela perguntou, mais como querendo que eu repetisse do que não tivesse ouvido direito.

— Nada. — eu não estava a fim de começar uma discussão.

❧ ❧ ❧

Subi para meu quarto, estava tudo igual, até a bagunça na minha escrivaninha. Dean olhou para a minha cama e soltou um suspiro indecifrável, quando olhei para ele parecia meio desconfiado.

— Quantos caras já dormiram aqui?

— O quê? — franzi a cara.

— Calma, estou brincando — ele sorriu.

Eu o conhecia o suficiente para saber que falara a verdade.

— Se quer mesmo saber, nenhum.

— Nem o Brad?

Brad e eu só dormíamos juntos quando viajávamos, eram raras as vezes. Sempre nos hotéis onde os pais dele se hospedavam ficávamos em uma suíte separada do casal Furrer. A cama de casal e o clima de privacidade deixava Brad excitado, mas minhas desculpas e invenções propositais o deixavam menos pretensioso.

Uma vez fiz uma proposta, se ele conseguisse assistir a um dos filmes de O Senhor dos Anéis naquela noite eu concederia alguma liberdade no nosso momento à sós. Brad, convencido, pôs As Duas Torres para vermos na TV da suíte. Eu tinha dois fatores a meu favor. Um: ele não dormia desde que saímos de Lexington, ou seja, mais ou menos umas doze horas. E dois: ele detesta sagas, trilogias e qualquer outra coisa que exija um conhecimento de sequência de fatos (este é o motivo pelo qual ele nunca entendeu Harry Potter depois de assistir a Ordem da Fenix).

O filme começou às 21:49, vinte minutos depois olhei para Brad e o encontrei roncando ao meu lado.

— Não, você será o primeiro, sinta-se honrado — assegurei a Dean.

Ouvi a voz de Rachel falando com Grace ao subirem as escadas, elas passaram pela porta do meu quarto mas minha mãe voltou e parou na soleira.

— Por que suas coisas estão aqui, Dean? — ela sinalizou para as malas no chão.

— Ele vai dormir aqui — respondi.

— Como? — ela engasgou — Não, eu não vou admitir isso.

— O quê? Mas como assim, qual é o problema? — indaguei.

— Aurora, não vou aceitar esta pouca vergonha na minha casa. — Cuspiu, como se ela tivesse flagrado eu e O’Conner “consumado o ato” na frente dela.

— Senhora Hopper, eu vou dormir no sofá se preferir, não é certo, afinal, estou na sua casa — ele apaziguou.

— Que merda, isso não é justo — grunhi.

O’Conner pegou as malas e desceu para a sala, Rachel mantinha um sorriso satisfeito nos lábios.

— É justo para mim — replicou ela.


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